quinta-feira, março 31, 2011

ELIANE CANTANHÊDE

Solidários na dor
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/03/11

BRASÍLIA - O velório de José Alencar no Palácio do Planalto produziu ontem para o país uma bela imagem do político mineiro.
Alencar e Itamar Franco tiveram uma relação de altos e baixos desde a dobradinha nas eleições de 1998 em Minas, um para o Senado, outro para o governo. Alencar abriu os cofres, emprestou o avião e atraiu o empresariado. Itamar entrou com a força política.
Os problemas vieram com a vitória, quando o governador não cumpriu os tratos nem fez as nomeações esperadas pelo senador, e azedaram de vez quando Alencar apontou Itamar como um dos motivos da sua saída do PMDB.
Sempre cauteloso ao falar de quem quer que seja, Alencar foi duro com Itamar num dos longos depoimentos que me deu para a sua biografia, "José Alencar, Amor à vida", editora Sextante, 364 páginas.
"O problema do Itamar (...) é que ele é um péssimo caráter." Antes da publicação, Itamar disse que não entraria em bate-boca e limitou-se a dizer vagamente: "O Alencar não foi correto comigo". Depois, ficou uma fera, mas manteve-se elegante: "As declarações causaram-me indignação, mas o único sentimento que me toma diante das circunstâncias é o da compaixão".
Assim como Alencar foi um político, um empresário e um homem suprapartidário e elegante, Itamar Franco demonstrou grandeza na hora final. Foi um dos primeiros na fila de cumprimentos no velório e deu depoimentos justos e corretos sobre o ex-vice-presidente.
Isso comprova o quanto os políticos mineiros são especiais. Aliás, poucas mortes mobilizaram tanto Brasília quanto as de Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e José Alencar, todos eles mineiros (apesar de Itamar ter nascido na Bahia).
A diferença é que, para Alencar, as portas do Planalto foram abertas não só aos poderosos, mas também aos milhares de brasileiros comuns. Sinal dos tempos, tempos que Alencar ajudou a construir.

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