quinta-feira, fevereiro 03, 2011

MARIO GARNERO

Riscos e oportunidades da retomada em V
MARIO GARNERO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/02/11


Recentes sinais dos Estados Unidos e da Europa indicam que o mercado global está se recuperando do grande choque de 2008. Instante em que gigantes como Bear Sterns ou Lehman Brothers desapareceram do mapa. É, ainda, motivo de questionamento da sustentabilidade monetária e política do euro, elemento da integração sonhada por Jean Monnet nos anos 50. Viga de sustentação, em moeda comum, de uma Europa pacífica e próspera.

É um erro apostar no esfriamento prolongado dos mercados americano e europeu. O índice Dow Jones já se encontra no nível mais alto dos últimos dois anos. Uma crise soberana, mesmo de economias de menor porte no âmbito da União Europeia, parece mais distante do que há alguns meses.

Se medidas postas em práticas pelo Fed e o banco central europeu sacrificaram o "risco moral" e levaram alguns a argumentar que os Estados Unidos estariam "socializando" sua indústria automobilística ou imobiliária, o fato é que a recuperação vem por aí.

O cenário em L (recessão seguida de estagnação de longo prazo) está descartado. O W (recessão, retomada e posterior recessão), também distante. A retomada global é em V - recessão seguida de crescimento global sustentado, embora em velocidade e "tempo" mais atenuados ao que o prêmio Nobel Joseph Stiglitz chamou de "exuberantes anos 90".

Nesse período, o Brasil foi um grande diferencial no panorama econômico global. Austeridade e competência macroeconômica não apenas fizeram com que o Brasil recebesse o "grau de investimento" em 2008, mas que efeitos recessivos fossem suavizados no mercado brasileiro. Assim, o País foi o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela.

O fato é que a crise teve elementos positivos para o Brasil, que acentuaram suas características como destino "contracíclico" de portfólio, investimentos estrangeiros diretos (IEDs) e mesmo o perfil de suas exportações.

No que toca a capitais de curto e médio prazos, as taxas de juros brasileiras, embora em patamares históricos baixos, ainda permanecem acima do que praticam bancos centrais e comerciais das praças internacionais de liquidez. Praticamente todos os bancos centrais da Europa, dos Estados Unidos e do Japão avizinharam suas taxas a zero para incentivar suas economias.

Quanto aos IEDs, se é bem verdade que a atratibilidade da onda que tem chegado ao País nos últimos oito anos centra-se em nosso potencial agroenergético, em igual medida, as taxas de importação brasileiras ainda são bastante superiores à media mundial.

A depender do setor, empresas estrangeiras preferem montar suas plantas industriais no País não como parte de uma rede global de logística seriada, mas como forma de acessar o potencial de um mercado ainda muito protegido por barreiras de importação. Como esse processo tem sido acompanhado de supervalorização do real, em alguns setores, como brinquedos, eletroeletrônicos e automóveis, mesmo com barreiras elevadas a produtos estrangeiros, as matrizes optam pela exportação pura e simples ao mercado brasileiro - e ainda assim chegam competitivos à apreciação dos consumidores no Brasil.

A retomada em V da economia global traz riscos e oportunidades para o Brasil. O gradual reaquecimento da economia global pode diminuir os diferenciais temporariamente atrativos do País. Nossas vantagens competitivas na agroenergia têm de ser realçadas, ao longo dessa retomada em V, pelas reformas trabalhista, previdenciária e tributária, áreas em que tanto nos afastamos das melhores práticas em nível mundial. E ainda retomar negociações para acesso aos grandes mercados compradores de Estados Unidos, Europa e Ásia de modo a reforçar a competitividade exportadora de nossos bens de maior valor agregado.

Quanto mais rápido fizermos isso, mais cedo garantiremos o lugar de destaque que o Brasil merece ocupar dentre as maiores economias do mundo.

PRESIDENTE DO GRUPO BRASILINVEST, FÓRUM DAS AMÉRICAS E ASSOCIAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - BRASIL

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