quinta-feira, fevereiro 03, 2011

JANIO DE FREITAS

 Na contramão
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/02/11

O novo presidente da Câmara estreia com a informação de que iniciará a construção de dois anexos


CEDO AINDA para saber se a nova formação da Câmara dos Deputados melhora em alguma coisa a anterior, nada menos do que lamentável, já se tem um sinal de continuidade do seu desencontro com a opinião pública e com outras realidades.
Nesta altura em que o país retoma o crescimento, o emprego, melhorias sociais e, para mantê-los, precisa de maiores rigores, o novo presidente da Câmara estreia sua retórica com a comunicação de que logo iniciará a construção de mais dois anexos.
Foi a bandeira lançada por seu concorrente à presidência, em seguida adotada pelo afinal vitorioso. São anexos para abrigar gabinetes que substituam, com o conforto próprio da Casa, a alegada insuficiência da última leva construída.
Se adotada a providência inversa, de redução do número de gabinetes existentes, seria muito improvável qualquer efeito perceptível no funcionamento da Câmara.
Com a chegada a Brasília nas terças-feiras, algumas horas em plenário nas quartas, as refeições, o longo tempo livre, e o avião de volta já na quinta, o uso dos gabinetes pela grande maioria dos deputados deve ser o menor dos seus tempos na capital. Ou muito perto disso. As mesas sociais ganham com facilidade.
O novo presidente, o petista gaúcho Marco Maia, sabe que a opinião pública anseia por uma Câmara com menos motivos de desprezo e mais respeito pelo interesse público.
Tal percepção se comprova no acréscimo feito por Marco Maia, com ênfase, ao falar da obra de custo brasiliense: "A verba já está no Orçamento, então não haverá gasto para o Tesouro". Além de falso, o argumento, em instante assim inicial, pode valer também como prenúncio. Esteja ou não no Orçamento, a verba que saia do Tesouro é gasto do dinheiro dos contribuintes recolhido, à revelia, aos cofres públicos.
Sem mais obras, a Câmara já custa ao país muito mais do que lhe oferece.

O TALENTO
O Reynaldo Jardim morto ontem foi um dos jornalistas mais injustiçados do Brasil. Sua criatividade sem limite e incessante deixou legados que não lhe foram reconhecidos na medida própria, quando o foram em alguma medida.
Caso do Suplemento Dominical do "Jornal do Brasil", o célebre e celebrado SDJB, vanguarda em todos os sentidos, criado e sempre editado por Reynaldo (em associação com Ferreira Gullar), mas só nos últimos tempos retirado, por uma ou outra pesquisa, de falsos criadores.
Muitas das criações de Reynaldo Jardim nem são citadas, como a revolução que fez no rádio de estúdio, quando dirigiu a Rádio JB, e hoje tem traços marcantes em toda a radiofonia brasileira.
Poeta original, Reynaldo Jardim fez há pouco, como se pressentindo a urgência, uma espécie de vasta antologia de sua obra poética, sob o título característico de "Sangradas Escrituras". Escultor, cronista, gráfico, Reynaldo Jardim foi amigo generoso e afetuoso. Talento mais do que iluminado.

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