segunda-feira, fevereiro 28, 2011

ANDRÉ MACHADO

Vale-tudo na internet
ANDRÉ MACHADO
O GLOBO - 28/02/11
A briga pela rede é protagonizada por Google, Apple, Facebook, Microsoft e Nokia


Cinco gigantes da tecnologia travam hoje um embate por nossas almas. De um lado, Google e Facebook, destinos certos de quem leva uma vida on-line. Do outro, Apple e o novo duo Nokia/Microsoft, em busca da dominação nas tecnologias móveis. Mas mesmo essa definição de lados é relativa, já que todos os cinco adversários estão se metendo nas searas uns dos outros, tentando abocanhar um mercado que mistura hardware, software, redes sem fio, aplicativos, informação, comunicação e entretenimento. É uma era de feroz convergência, e talvez por isso mesmo haja divergências não menos ferozes. Como define bem o pesquisador Luiz Felipe de Moraes, professor de Sistemas e Computação da Coppe/UFRJ:

- A Google invadiu a área da Microsoft. O Google Docs já lê até o formato .docx, que algumas versões do próprio visualizador do Word não abrem... A Apple tirou a primazia dos smartphones da Nokia com o iPhone e incrementou a mobilidade dos aplicativos com o iPad - comenta. - E, enquanto o Google lançava o Android, sistema móvel aberto, embolando tudo, o Facebook provocou a gigante das buscas concorrendo com o Orkut. E o advento do Facebook se mistura com o do Twitter, pois a chave de ambos é a comunicação rápida, o que seduz a conectada geração Y.

As últimas do tecnorringue são a remoção pela Google da sincronização de contatos do Facebook no Android. A gigante acusa Mark Zuckerberg, diretor-executivo da rede social, de fazer um casamento de mentirinha dos contatos do Facebook com os do telefone. Zuckerberg, por sua vez, vai tirar os anúncios on-line do Google do Facebook, alegando que eles desrespeitam as regras da rede. E o duelo se estende ao Brasil, com a saída de Alexandre Hohagen da direção do Google para o Facebook. A rede social, aliás, ultrapassou o Google em número de acessos em 2010 - 8,9% contra 7,2%. E o próprio Google vive uma pequena tensão interna, já que em abril sai da presidência-executiva mundial a raposa Eric Schmidt para a entrada de Larry Page, um dos fundadores, tido pelo mercado como mais interessado em tecnologia do que administração.

A Apple, embora tenha se reinventado ao revolucionar o mundo da computação, das tecnologias móveis e dos aplicativos com iPod, iPhone e iPad, vive uma crise bem mais dramática. Steve Jobs, presidente-executivo e grande guru da empresa, saiu em licença médica (suspeita-se que seu câncer de outrora tenha voltado, já que ele foi flagrado entrando numa clínica especializada este mês), e os executivos não chegam a um acordo sobre a sua sucessão. Eles devem se lembrar de que a empresa comeu o pão que o diabo amassou nos anos 90, quando Jobs esteve ausente e Gil Amelio a presidia.

O bonde perdido por Microsoft e Nokia

Mesmo com a crise interna, o sucesso que a Apple obteve com o iPad e o iPhone levou a Nokia a se unir à Microsoft no começo do ano, num acordo muito criticado por especialistas. Aliás, não só por eles, mas pelos empregados da finlandesa que trabalhavam com o sistema Symbian.

- A Nokia foi vanguarda durante bom tempo, com aparelhos robustos e baratos - diz o Paulo César Diniz, professor de Engenharia Elétrica da Coppe/UFRJ, que já colaborou com o Instituto Nokia. - Eles não perceberam que poderiam sofrer concorrência de outros players do mercado além dos fabricantes de celulares. E se atrasaram na questão dos aplicativos, primeiro em relação à RIM (Blackberry) e depois em relação à Apple. Finalmente, a Google apareceu com o Android e atropelou o mercado.

Para Diniz, o acordo Nokia/Microsoft é fruto de um certo desespero, pois ambos estão com dificuldade de competir e resolveram tomar o atalho de seu duplo conhecimento adquirido para ver se conseguem inovar.

- A Microsoft ficou meio perdida após o iPad, porque ela nunca se interessou em desenvolver hardware, só o sistema operacional e programas - opina Diniz. - Daí o acordo, em busca de novas estratégias.

Segundo o professor Renato Cerqueira, do CTC/Departamento de Informática da PUC-Rio, a Apple demonstrou maestria ao reinventar a ideia do tablet. Sim, porque ela já existia antes, mas não dava certo.

- Durante anos a Microsoft mostrou seu conceito de tablet, que não pegou - diz Cerqueira. - Mas o problema com o Windows Mobile (antecessor do Windows Phone) é que ele sempre teve o DNA do Windows do PC por baixo, enquanto a Apple reorganizou a interface do seu sistema para fazer o iPhone e o iPad. Eles são muito bem adaptados para o usuário móvel conectado. E outro segredo é seu sistema fechado, com seus aplicativos rodando só em seus gadgets.

Já a Google dominou o mundo de TI ao longo da década passada, bolando novos serviços e levando os programas outrora locais em nossas máquinas de casa para a internet. Hoje é possível fazer tudo na rede, como bem apontou Luiz Felipe de Moraes com o exemplo do Google Docs. E, depois do Android, que já é o sistema móvel mais popular (levando-se em conta que o iOS só roda no iPhone), a gigante das buscas cutucou a Microsoft ao anunciar um filtro para abrir e editar em esquema colaborativo na rede qualquer documento Word, Excel ou Powerpoint, marcos da Microsoft. O recurso foi batizado como Google Cloud Connect para Microsoft Office.

- Enquanto a Apple representa a inovação, a Google se foca nas aplicações - reflete Moraes. - E a Nokia se aliou à Microsoft porque foi o que sobrou para ela.

Mas a Google tem um calcanhar de Aquiles. Ela lançou o Android e tem muitos aplicativos populares on-line: Blogger, YouTube, Picasa, Docs, Gmail... entretanto, não conseguiu criar uma rede social de sucesso. O Orkut deu certo no Brasil, mas o Facebook é a maior rede social do mundo, com 600 milhões de usuários. E incomoda.

- O segredo do Facebook é que a geração Y se comunica de uma forma totalmente diferente, interage de forma nova, e ele se integra a isso perfeitamente - diz Renato Cerqueira. - Vejo pelos meus alunos. O modo de se relacionar, de se estudar, muda.

Para Karin Breitman, professora de Engenharia da Computação do CTC/Departamento de Informática da PUC-Rio, que acabou de chegar de dois meses como pesquisadora convidada da Microsoft Research, nos EUA, a dona do Windows está muito longe de ter perdido sua pegada em tecnologia.

- O Windows Phone 7 é muito bem feito, com uma interface redonda, reformulada e que não entope o usuário de aplicativos como o iPhone já está entupindo - diz Karin, que tem e usa um Blackberry, um iPhone, um smartphone Samsung com Android e outro Samsung com Windows Phone. - A era dos computadores acabou, agora a vez é dos celulares inteligentes.

Para os experts, não é possível dizer quem vai ganhar essa briga de titãs. A única certeza é que nada será como antes em nossas vidas digitais.

- A universidade Georgia Tech, nos EUA, tem uma casa-laboratório em que se testa como a computação ubíqua afeta o dia a dia de uma família - diz Cerqueira. - Esse impacto é estudado por engenheiros, psicólogos, antropólogos. E essa multidisciplinaridade é necessária, porque, embora estejamos cercados de facilidades ao alcance da mão, nunca parece haver tempo suficiente para nada, e as pessoas vivem uma correria infindável.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ándre, esse mundo virtual é incrível e imprevisível, mas podemos destacar uma dessas empresas em seus empreendimentos?