segunda-feira, janeiro 17, 2011

PAULO MOREIRA LEITE


O preço da pós-tragédia
Paulo Moreira Leite 
Revista Época - 17/01/2011

Os diversos dilúvios ocorridos em escala planetária já levaram economistas do Banco Mundial, em Washington, a discutir possíveis linhas de financiamento para o trabalho de reconstrução e prevenção de desastres em todo o planeta. O problema é o preço. Os primeiros cálculos mostram que seria necessário um esforço equivalente a 2% do PIB mundial, durante dez anos, para que a humanidade pudesse ficar protegida. Esse dinheiro corresponde a US$ 1 trilhão, mais ou menos o PIB do Brasil, a oitava economia do mundo.
O ministro só pensa nele? A imensa dedicação do ministro Luiz Sérgio, de Relações Institucionais, para emplacar seus protegidos políticos em postos federais causa mal-estar nos colegas do PT. Eles acham que Luiz Sérgio se empenha demais em agradar à própria base aliada no Rio de Janeiro, seu berço político, em vez de defender as reivindicações dos congressistas no governo federal, missão original da pasta. Com receio de um diálogo difícil entre parlamentares para negociar o novo salário mínimo, Luiz Sérgio pediu ajuda a Antonio Palocci, da Casa Civil. A presidenta Dilma Rousseff vetou. “Ele tem de mostrar a que veio”, disse. Os adversários calculam que Luiz Sérgio já sonha com uma campanha para disputar o governo do Rio de Janeiro.
Petistas querem Dilma mais falante 
Aliados da presidenta temem que ela desperdice a chance de falar ao eleitorado Amigos da presidenta Dilma Rousseff não deixam de elogiar seu preparo em reuniões privadas, mas se queixam de sua postura em público. Eles consideram que Dilma tem desperdiçado uma chance que só aparece no início de um governo – de estabelecer canais de diálogo com os eleitores, aproveitando cada oportunidade que surge para dizer o que pensa sobre temas do momento. Eles lembram que nem é preciso dar entrevistas para isso. Lula usava até cerimônias de inauguração de postos do INSS para falar à população. Reconhecendo o abismo entre o talento comunicador de ambos, eles consideram que Dilma não pode cair no extremo oposto e governar em silêncio.
Teotônio quer paz com o Planalto A segurança pública pode mesmo tornar-se uma área de trabalho produtivo entre Brasília e governadores de oposição. Geraldo Alckmin, de São Paulo, não é o único interessado. O governador de Alagoas, o tucano Teotônio Vilela Filho, pediu ajuda ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para indicar o secretário de Segurança, repetindo um ritual que havia cumprido há quatro anos. Num Estado que é um dos campeões nacionais de criminalidade, o gesto é uma bandeira de paz. E também uma forma de dividir responsabilidades e acalmar críticas em caso de fracasso.
Brasília pensa em Barbosa na Vale
Presidente do Santander, Fábio Barbosa frequenta os sonhos do governo para ocupar a presidência da Vale, em abril, quando terminará o contrato de Roger Agnelli à frente da empresa. A dificuldade maior é anterior, porém. O afastamento de Agnelli poderá produzir um solavanco na área econômica, já que ele está irremediavelmente associado ao crescimento recente da Vale, responsável por uma fatia imensa das exportações brasileiras.
A curiosa compra no Piauí
O primeiro investimento imobiliário da Defensoria-Geral da União, uma das repartições mais pobres do país, que até hoje funciona em salas emprestadas pela administração federal, ocorreu em Teresina, capital do Piauí. Em 29 de dezembro o Diário Oficial publicou a decisão do governo federal de pagar R$ 3 milhões por um imóvel com pouco mais de 1.000 metros quadrados na cidade. José Rômulo Plácido Sales, o defensor público, tem um programa de comprar prédios em vários pontos do Brasil. O curioso é que tenha começado pelo Piauí, Estado do ex-governador Wellington Dias, eleito para o Senado, seu padrinho para o cargo. Outra curiosidade é que o defensor gastou R$ 3 milhões sem licitação.
McCain veio jogar para sua torcida
John Mccain fez bonito para o eleitorado americano ao louvar as virtudes do caça F-18 na audiência com Dilma Rousseff. Embora a presidenta tenha desarmado o ambiente de já ganhou a favor dos caças Rafale, franceses, até agora o Planalto não deu sinal de que pretende mudar o jogo. Brasília continua fiel à ideia de que o Brasil tem mais a ganhar do que a perder quando mantém uma distância relativa de Washington – e isso exclui uma parceria militar tão profunda como entregar os principais caças da FAB a uma empresa monitorada pelo governo americano.
Mantendo a forma Aos 70 anos, com um filho de 2 e uma mulher de 27, o vice-presidente Michel Temer procura manter a saúde. Quem acordar cedo, em Brasília, vai encontrá-lo em longas caminhadas pelo Parque Cidade, acompanhado por uma equipe de seguranças.
Homem-chave em 2012O futuro político de José Serra é um mistério, mas um de seus piores inimigos aposta que terá um papel-chave em 2012. Se ficar em casa, deixará Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab livres para uma guerra pela prefeitura de São Paulo. Se decidir candidatar-se, terá o apoio de ambos. Até agora, Serra não disse nem aos mais próximos o que fará.
Serviços prestados
Juiz federal aposentado, o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, fez justa fama como carrasco do servidor público corrupto. Em oito anos na pasta que funciona como a polícia dos funcionários da União, Hage investigou, abriu processos administrativos e expulsou do serviço público quase 3 mil pessoas acusadas de corrupção. Confirmado no cargo, prepara uma nova onda de investigações.
Risco no segundo escalão O maior receio do Planalto em relação à candidatura de Marco Maia (PT-RS) à presidência da Câmara dos Deputados reside na disputa por cargos de segundo escalão em ministérios e estatais. A maioria dos parlamentares usa esses postos para manter relacionamentos de grande utilidade na hora de buscar contribuições de campanha. Temendo uma guerra civil, o governo suspendeu as nomeações até a votação do novo presidente, mas ainda tem medo de perder o controle, o que ajudaria uma candidatura adversária.
Paulo Moreira Leite Com Leonel Rocha e Isabel Clemente, em Brasília, e Keila Cândido, em São Paulo

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