quinta-feira, janeiro 13, 2011

JANIO DE FREITAS

Caminhos das drogas
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/01/11

Por que nunca são presos os donos das engrenagens imensas que movimentam todo esse negócio?


O "DEBATE PÚBLICO" sobre problemas policiais e judiciais ligados às drogas, pretendido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e compartilhado pelo novo secretário de políticas antidrogas, Pedro Abramovay, é uma velha ideia que vem à tona pela enésima vez, sem que jamais encontrasse interesse em efetivá-la. Quando muito, provocou uma ou outra opinião sobre a venda legal, em farmácias, de algumas daquelas substâncias. Aí está nova oportunidade.
As possíveis portas para levar ao debate são numerosas, o que torna indispensável a escolha de um ou de poucos temas para iniciá-lo, sem perder-se na balbúrdia. Mas, enquanto se encaminham preliminares assim, é necessária a procura da resposta para uma incógnita fundamental: por que são presos tantos traficantes miúdos, vez ou outra são presos chefes de bandos, e nunca são presos os donos das engrenagens imensas que movimentam todo esse negócio?
Nem respostas preparatórias são oferecidas pelas tantas instâncias oficiais que lidam com os problemas ligados às drogas. Sabe-se que graças a informações de investigadores americanos instalados no Brasil, volta e meia são apreendidas cargas grandes de cocaína e de pasta para sua produção.
Se foi possível acompanhar essa matéria a ponto de saber qual veículo a leva, sua rota e horários, é óbvio que etapas anteriores foram conhecidas. Etapas que, sucessivas, compõem uma rota para chegar ou, no mínimo, aproximar-se do controle de cordéis do negócio. Esse movimento retroativo não se dá, porém. A busca é, quando há, aos destinatários que fariam distribuição e varejo. Os traficantes das favelas.
Sem um esforço bem-sucedido para emperrar a eficiência da engrenagem, em seus níveis de controle, todo dano na corrente é logo suprido. E ficam muito reduzidas as possibilidades de êxito real sobre os problemas sociais, policiais e judiciais ligados às drogas.
Há polícia capaz de fazer, apesar talvez da polícia, o que até hoje não foi feito? Essa deve ser a pergunta de resposta mais fácil. O que a situa como conveniente ponto de partida para o planejamento e as medidas básicas, no Ministério da Justiça, que deem sentido e consequência à intenção do novo ministro e do novo secretário.

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