terça-feira, dezembro 28, 2010

J. R. GUZZO

A vitória da aparência sobre a realidade
J.R Guzzo

Revista Veja - 27/12/2010


O registro em cartório de cerca de 2200 paginas contendo todas as obras, realizações e triunfos atribuídos por Lula a si mesmo é uma inutilidade, mas fecha a perfeição um governo em que as versões valeram mais que os fatos
Pouco antes de completar o último dia de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou imprimir de uma vez só seis livros de formato extragrande, com cerca de 2200 páginas no total, para deixar anotadas todas as obras, realizações e triunfos que, segundo ele próprio. seu governo deixará para o Brasil. Mandou até registrar em cartório o que está escrito ali, fiel à antiga tradição dos políticos brasileiros de colar estampilha e reconhecer firma em declarações ou promessas que fazem, na esperança de que um carimbo no tabelionato de notas possa lhes dar uma cara mais verdadeira aos olhos do público em geral. E mais perda de tempo do que qualquer outra coisa. Quem é que vai ter coragem de ler uma montoeira de papel desse tamanho? O próprio Lula, com certeza, não vai algo que combina muito bem, aliás, com a despedida de um governo que representou com perfeição a vitória da aparência sobre a realidade. De nada serve, além disso, encarar esse tratado em seis volumes para ser informado, por exemplo, de que Lula fez o "trem-bala" e outras maravilhas; nem o trem-bala nem as maravilhas passam a existir só porque os livros dizem que existem. Mais que tudo, a obra 6 inútil porque não mostra o que houve de melhor, realmente, no governo que agora se encerra. E o melhor do governo Lula foi o que ele não fez. O lado positivo de seus oito anos na Presidência começa e termina aí -no mal que poderia ter feito e acabou não fazendo. Não 6 mais que isso. Também não 6 menos.

Naturalmente, um governo como o de Lula, que acaba com mais de 80% de aprovação popular segundo os institutos de pesquisa, leva a um julgamento quase automático: só pode ter sido muito bom, com números desse porte. Como seria possível haver qualquer opinião diferente? De fato, 80% da população brasileira, ou até mais, 6 uma multidão. Ao mesmo tempo, 6 igualmente verdadeiro que não existe nada de bom, em si, numa multidão o fato de juntar muitos, ou quase todos, não a torna mais virtuosa nem quer dizer que esteja certa. Maiorias servem para escolher quem vai governar; não 6 sua função definir o que 6 bom e o que 6 ruim, nem tornar obrigatório que se concorde com elas. A população brasileira, em massa, acha que Lula fez um grande governo? Tudo bem, e melhor para ele. Talvez seja essa mesmo, por sinal, a maneira mais prática ou eficaz de julgar um presidente e sua obra. Nada disso, por6m, tem força para mudar os fatos. Os fatos são o que são, não aquilo que parecem ou aquilo que se acha deles; o que aconteceu 6 aquilo que foi possível observar, não aquilo que se conta ou se imagina. No caso de Lula, 6 um fato da vida real que seu governo não fez muitas coisas que poderia ter feito, ou se esperava que fizesse, ou foi pressionado a fazer. E nisso, ao final das contas, que está o seu principal mérito.

Lula, para começar, não desmanchou a política econômica do seu antecessor do combate à inflação aos aumentos reais do salário mínimo, da formação de superávit nas contas públicas à estratégia de juros, foi mais fiel ao roteiro que recebeu de Fernando Henrique do que seria, talvez, um sucessor vindo do mesmo partido do ex-presidente. Não demitiu o presidente que nomeou para o Banco Central, Henrique Meirelles, embora o PT e suas vizinhanças tivessem feito todo tipo de pressão para conseguir isso, nem cedeu à tentação de fazer demagogia com a taxa de juro. Não fez o "programa econômico da esquerda", como exigiam à sua volta. Não experimentou nenhum dos truques de circo que, até o Plano Real, marcaram a condução da economia brasileira durante anos a fio. Não fez a "reforma agrária" fez exatamente o contrário, o que foi decisivo para o Brasil mais do que dobrar a produtividade rural entre 1988 e 2008. Não estatizou nada do que fora privatizado nos governos anteriores, embora falasse o tempo todo contra as privatizações. Não sustentou para valer no Congresso nenhuma proposta para reduzir a liberdade de imprensa embora, também aí, tenha passado quase todo o seu mandato dizendo que o Brasil precisava colocar os meios de comunicação "sob o controle da sociedade", ou das "organizações sociais"

Lula não tocou no direito de propriedade, na liberdade de iniciativa nem no respeito ao cumprimento de contratos, apesar de toda a sua discurseira contra "os ricos" e "as elites". Não hostilizou o capital estrangeiro, que bateu recordes de investimento no Brasil durante o seu governo, apesar de todas as pragas que rogou contra o "imperialismo" e as "grandes potências". Não socializou nada; foi de esquerda no microfone e neoliberal com a caneta de presidente na mão, ou, como observou o ex-ministro Delfim Netto, deveria ser festejado como um dos heróis do capitalismo brasileiro. Não mexeu nas normas e nos programas montados no governo anterior para fortalecer o sistema bancário, o que muito ajudou o Brasil a superar as crises financeiras internacionais dos últimos anos. Não transformou o Brasil numa Cuba ou Venezuela, países que tanto diz admirar; talvez não conseguisse, mas o fato 6 que não tentou. Não levou adiante a aventura de tentar um terceiro mandato, e vai sair do Palácio do Planalto no dia marcado. Não fez, em suma, o governo que o seu partido queria, ou dizia querer a ponto de o grão-cacique José Dirceu afirmar que só agora, quando ele sair e Dilma Rousseff entrar, o PT vai chegar de fato ao poder. E talvez o maior de todos os elogios que Lula poderia receber.

Isso é o que se vê de bom, e isso 6 o que se tem. No mais, os oito anos de governo Lula são quase sempre uma caminhada por um mundo escuro. Não há, no conhecimento público, um único ato de generosidade em sua conduta durante esse tempo todo. Comportou-se desde o começo, e cada vez mais, com uma combinação de soberba, arrogância e mania de grandeza que provavelmente não encontra paralelo em nenhum outro presidente brasileiro. Passou o governo inteiro dizendo que ninguém, em 500 anos, fez mais pelo Brasil do que ele. Atribuiu a si obras imaginárias, ou realizações que vêm sendo construídas há anos. Disse, mais de uma vez, que os outros países do mundo, sobretudo os desenvolvidos, deveriam aprender com ele como se deve governar; em diversas oportunidades, comparou-se a Deus. Foi uma marca sombria de sua passagem pela Presidência, ao mesmo tempo, o rancor declarado aos adversários, gente que, em seu modo de ver a vida política, deveria ser "exterminada", e em relação à qual queria "vingança". Nunca deixou de mostrar um grau muito baixo de tolerância com qualquer opinião diferente das suas; num de seus momentos de maior excitação, acusou um repórter que lhe havia desagradado de "doente mental" e recomendou que ele se submetesse a "tratamento psiquiátrico". A mensagem, aí, parece ser bem clara: "Quem discorda de mim só pode ser louco"

Lula, pelo demonstrado em sua conduta, fez questão de aproveitar ao máximo as oportunidades que teve para utilizar mal a popularidade serviu-se dela, dia após dia, como uma autorização para dizer e fazer qualquer coisa que lhe passasse pela cabeça, como na ocasião em que se colocou contra os presos poIíticos cubanos que faziam greve de fome e a favor dos seus carcereiros ou quando disse que era preciso respeitar a legislação do Irã, que condenou à morte por apedrejamento uma mulher acusada de adultério. Lula também promoveu, como ninguém fez antes dele no Brasil, um culto sistemático à ignorância. Podia, mas não quis, ter curado a sua, através do esforço para aprender: preferiu o caminho mais comodo de transformar a ignorância em virtude e o conhecimento em defeito. Do primeiro ao último dia de governo, insistiu em dizer que não precisou de mais que o 4° ano primário para chegar à Presidência da República, enquanto tanta gente que estudou não conseguiu nada. Mais: sempre deixou transparecer o seu desprezo por quem sabe mais do que ele, e a sua hostilidade a quem estudou; na sua opinião. é tudo gente suspeita de ser "antipovo". Não parou de dizer que foi preciso "um operário", ou "um menino sem estudo" do Nordeste, para fazer "a transposição das águas" do Rio São Francisco ou armar a maior "negociação de paz" jamais conseguida até agora no Oriente Médio. para encontrar petróleo no pré-sal ou construir "mais universidades" que qualquer outro presidente brasileiro.

Um jogador que está com boas cartas na mão, dizia Oscar Wilde, deveria ter a obrigação de jogar limpo. Não foi o que Lula fez. Como presidente da República, recebeu uma maravilha de jogo ajuda do Congresso, apoio popular, situação favorável na economia mundial, uma oposição que nunca chegou a incomodar de verdade. Mas Lula não se contentou com os favores que recebeu da sorte. Desde o início, preferiu embaralhar os fatos para criar uma realidade da qual só tirou proveiro. O problema é que a realidade criada por ele é uma falsificação maciça dos acontecimento e nada deixa isso mais claro do que a sua decisão de transformar o mensalão, um dos casos de corrupção mais comprovados e grosseiros da história política do Brasil. numa "tentativa de golpe" na qual se coloca, ao mesmo tempo, nos papéis de vítima e de herói o campeão da causa popular que "eles" não conseguiram derrubar. Ao vencedor, as batatas, claro, e Lula recebeu um batatal inteiro. Mas nem ele nem seu governo podem dar existência ao que não existiu nem podem levar, na hora da partida, mais crédito do que merecem.

REINALDO AZEVEDO

A oposição se deixou massacrar

Reinaldo Azevedo

Revista Veja - 27/12/2010


O ódio à divergência marcou os oito anos de Lula no poder, em que os radicais se sentiram oferecer alternativa ao regime de intolerância


O ódio à divergência marcou os oito anos de Lula no poder, em que os radicais se sentiram oferecer alternativa ao regime de intolerância

"Em nosso país, queremos substituir o egoísmo pela moral (...) os costumes pelos princípios: as conveniências pelos deveres: a tirania da moda pelo império da razão: o desprezo à desgraça pelo despreza ao vício: a insolência pelo orgulho: a vaidade pela grandeza d"alma: o amor ao dinheiro pelo amor à glória (...): a intriga pelo mérito (...): o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade: a pequenez dos grandes pela grandeza do homem: um povo cordial frívolo e miserável por um povo generoso, forte e feliz: ou seja. todos os vícios e ridicularias da Monarquia por todos os milagres da República".

As palavras acima são pane de um discurso feito por Robespierre, um dos líderes jacobinos, a corrente mais radical da primeira safra dos revolucionários franceses, e foram pronunciadas no dia 5 de fevereiro de 1794. É grande o risco de o leitor ter ouvido de um professor, em algum momento de sua vida escolar, que ali estava um cara batuta. que queria "liberdade, igualdade e fraternidade". Quem de nós pode ser contra o horizonte que ele propõe? No dia 28 de julho daquele mesmo ano, Robespierre perdeu a cabeça na guilhotina. Ainda retornarei à França no fim do século XVII, depois de passar pelo Brasil do começo do século XXI.

De volta para o futuro, pois.

Quem contesta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva odeia o país. Quem manifesta contrariedade com a concessão de um prêmio literário a uma celebridade, em um jogo de canas marcadas, está com inveja. Quem enfrenta a patrulha politicamente correta quer fazer a história marchar para trás. Os dias andam hostis a crítica a qualquer uma e em qualquer área. Não é a voz do povo que expressa intolerância, mas a dos que se querem seus intérpretes privilegiada As urnas demonstraram que a massa de eleitores é bem mais plural do que os donos do "Complexo do Alemão" mental da política, da ideologia, da cultura e até de setores da imprensa, que tentam satanizar o dissenso.

Nesse ambiente, fazer oposição ao governo liderado pelo PT, partido que atribui a si mesmo a missão de depurar a história, é tarefa das mais difíceis, especialmente quando a minoria parlamentar será minoria como nunca antes na democracia deste país. Ao longo de oito anos. é preciso convir. os adversários de Lula não conseguiram encontrar o tom e se deixaram tragar pela voragem retórica que fez tábula rasa do passado e monopolizou o futuro. O PT passa a impressão de já ter visitado o porvir e estar entre nós para dar notícias do amanhã.

A pergunta óbvia é: com que discurso articular o dissenso. sem o qual a democracia se transforma na ditadura do consentimento?

Não existem receitas prontas. Mas me parece óbvio que o primeiro passo consiste em libertar a história do cativeiro onde o PT a prendeu. Isso significa mostrar. e não esconder, os feitos e conquistas institucionais que se devem aos atuais oposicionistas e que se tornaram realidade. apesar da mobilização contrária bruta e ignorante do PT. Ajuda também falar a outro Brasil profundo. que não aquele saído dos manuais da esquerda. sempre a espera de reparações e compensações promovidas pelo pai-patrão dadivoso ou pela mãe severa e generosa. à espera da "grande virada". que nunca virá.

Temos já um Brasil de adultos contribuintes, com uma classe média que trabalha e estuda, que dá duro, que pretende subir na vida, que paga impostos escorchantes, diretos e indiretos, a um estado insaciável e ineficiente. Milhões de brasileiros serão mais autônomos, mais senhores de si e menos suscetíveis a respostas simples e erradas para problemas difíceis quando souberem que são eles a pagar a conta da vanglória dos governos E inútil as oposições disputar a paternidade do maná estatal que ceva megacurrais eleitorais. Os órfãos da política, hoje em dia, não são os que recebem os benefícios e nem - entro no mérito, não agora, se acertados ou não - mas os que financiam a operação. Entre esses, encontram-se milhões de trabalhadores, todos pagadores de impostos, muitos deles também pobres.

Esse Brasil profundo também tem valores - e valores se transformam em política. O que pensa esse outro país? O debate sobre a descriminalização do abono, que marcou a reta final da disputa de 2010, alarmou a direção do PT e certa imprensa "progressista". Descobriu-se, o que não deixou menos espantados setores da oposição. que amplas parcelas da sociedade brasileira, a provável maioria. cultivam valores que. mundo afora, são chamados "conservadores embora essas convicções, por aqui, não encontrem eco na política institucional - quando muito, oportunistas caricatos os vocalizam. prestando um desserviço ao conservadorismo.

Terão as oposições a coragem de defender seu próprio legado, de apelar ao cidadão que financia a farra do estado e de falar ao Brasil que desalia os manuais da "sociologia progressista"? Terão as oposições a clareza de deixar para seus adversários o discurso do "redistributivismo". enquanto elas se ocupam das virtudes do "produtivismo"? Terão as oposições a ousadia de não disputar com os seus adversários as glórias do "mudancismo", preferindo falar aos que querem conservar conquistas da civilização? Lembro, a título de provocação, que o apoio maciço à ocupação do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas demonstrou que quem tem medo de ordem é certo tipo de intelectual; povo gosta de soldado fazendo valer a lei. Ora, não pode haver equilíbrio democrático onde não há palandade de ideias. Apontem-me uma só democracia moderna que não conte com um partido conservador forte, e eu me desminto.

Antes de saber quem vai liderar um dos polos, é preciso fazer certas escolhas. O Congresso aprovou há pouco. por exemplo. o sistema de partilha para o pré-sal. Não se ouviu a voz da oposição, à exceção da senadora Kátia Abreu (DEM-TO). O PT inventou a farsa, amplamente divulgada na campanha eleitoral de que não passava de "privatização" o sistema de concessão que conduziu o país à quase autossuficiência e que fez dobrar a produção de petróleo no governo FHC. Mentiu. mas venceu o embate. Podem vir por aí as reformas. Quais setores da sociedade a oposição pretende ter como interlocutores? Continuarão órfãos de representação milhões de eleitores que não se reconhecem na ladainha pastosa do "progressismo"? A oposição tem de perder o receio de falar abertamente ao povo que trabalha e estuda. Que estuda e trabalha. Em vez de tentar dividir os louros da caridade, tem de ser porta-voz do progresso.

Essa oposição, em suma, de enfrentar uma esquerda que, se morreu há muito tempo na economia, exerce inquestionável hegemonia na cultura e na política, em que se esforça para aplicar o seu programa, cuja marca é ódio à divergência que ela entende ser expressão da á consciência. Não houve um só teórico esquerdista relevante cujo objetivo não fosse a superação dos "limites" da democracia. Sem esse horizonte escatológico, inexiste esquerdismo.

Esses libertadores não veem a si mesmos como expressão de um conjunto de valores em meio a tantos outros, com os quais teriam de competir. mas como a evolução do pensamento, o seu desdobramento superior. Assim. ou se está com eles ou se está com o atraso, com o retrocesso, com a reação. Ora, se o "outro", o que pensa diferente, não é um adversário, mas um inimigo da civilização, então não merece respeito e tem de ser eliminado.

nado. Em um comício em Santa Catarina, Lula defendeu, por exemplo, que o DEM fosse "extirpado" da política, como se um governo não se legitimasse pela oposição, sem a qual ou se tem uma ditadura, ainda que de maioria, ou se tem um concerto de políticos contra a população. Não se enganem: em um regime em que todas as forças estivessem unidas em um grande pacto, sobraria apenas o povo como adversário.

Em uma anedota trágica, a aversão de Lula à oposição é tai que ele combate até a do Irã. Referindo-se aos protestos contra a reeleição fraudulenta de Mahmoud Ahmadinejad, comparou-os à reação de uma torcida de futebol que visse seu time perder. O apedrejamento da democracia é considerado "variante cultural" pelo petismo. Lula tomaria pau no Enem do nos. E não está só. Nesse ambiente, a crítica virou ou sabotagem ou expressão do isolamento ressentido de quem não pertence ao grupo dos "vitoriosos", em que se encontram políticos, ideólogos, autores, pensadores e até jornalistas. Quem não fala como um deles o faria só por não ser um deles, como se a essência de um regime de liberdades não estivesse justamente no direito de... não ser um deles! Nas ditaduras também é possível dizer "sim". O que caracteriza a democracia é a possibilidade de dizer "não". Quando forças vitoriosas, covertidas em falanges do oficialismo, já não se diz, mas o direito de dizê-lo - e , eventualmente, "quem" diz - instala-se um regime de intolerância dos tolerantes". Como chegamos a isso?

Valores autoritários, considerados hoje em dia não alcançaram essa condição apenas por força da militância de seus prosélitos. Seus adversários políticos e intelectuais também recuaram intimidados. Há pelo menos três eleições de uma luta velha). Na contramão de todas as evidências da história, o partido assegura as qualidades do primeiro contra os vícios do segundo, embora as melhores virtudes da moderna economia brasileira tenham nascido de escolhas feitas por Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula, que tirou um pouco de estado da sociedade e pôs um pouco mais de sociedade no estado. As atuais oposições. e fato, têm sido fracas na defesa de suas conquistas e de seu legado. Recuaram diante da guerra promovida pelo PT.

Esse comportamento vexado, assustadiço, produziu outro fenômeno. Os setores da imprensa que não abrem mão abrem mão de fazer o seu trabalho - e um deles é a crítica ao poder, a qualquer um - são, então, identificados pelos petistas como o "verdadeiro partido" a ser combatido

Por isso, os poderosos da hora se esforçam para criar mecanismos de censura e se declaram em guerra contra o que chamam de "mídia". No dia 19 de novembro, o Diretório Nacional do PT se reuniu para saudar a vitória de Dilma Rousseff e estabeleceu, numa resolução nacional , quatro objetivos estratégicos: erradicar a pobreza absoluta: reagir à guerra cambial; fazer a reforma política: e democratizar os meios de comunicação. No caso desse último intento, pregou a necessidade de um "debate qualificado acerca do conservadorismo que se incrustou em setores da sociedade e os meios de comunicação". Ainda que tal "conservadorismo existisse nos meios de comunicação - o que, infelizmente, é mentira - caberia indagar: seria ele ilegítimo, um mal a ser eliminado uma excrescência a ser extirpada. um atraso a ser vencido? Em uma sociedade em que não houvesse "conservadores", quem se encarregaria de institucionalizar os eventuais benefícios oriundos das "revoluções"?

A intolerância, que é primariamente política, a identificar no adversário não alguém com ideias eventualmente erradas, mas um sabotador, migra para o jornalismo. a cultura, para os costumes - para a vida, enfim. Equipara-se então o de ideias a um conflito típico de uma etapa anterior da civilização política, superada pela chegada ao poder daqueles que seriam os reais representantes do povo, do qual Lula se disse a própria "encarnação em um "comício" realizado no último dia 30 de novembro. quatro anos antes das eleições de 2014. A fórmula consagrada pelo presidente - "nunca antes na história deste pais" , torna toda a historia deste país "nada mais do que pré-história", mero rascunho daquilo que, agora, seria realização efetiva. A chegada do PT ao poder teria sido o "fiat lux, o advento, o "Ano I da Civilização Brasileira".

Em uma manifestação ilegal na Universidade de São Paulo (USP)em favor da então candidata Dilma Rousseff, a petista Marilena Chaui, que ali leciona filosofia, comentando a vitória do oposicionista José Serra em oito estados no primeiro turno, lançou a teoria de que ele só triunfara nos locais onde predomina o latifúndio. Ora. o latifúndio, que tanta literatura esquerdista de baixa qualidade produziu no Brasil, nem existe mais. Para essa senhora, os votos dados à candidata de seu partido expressam uma vontade legítima do povo, que ela identifica com a dos oprimidos; já o oposicionista teria sido o escolhido ou por opressores ou por eleitores sob o seu jugo e representaria, portanto, uma vontade deformada, que tem de ser corrigida. Um dos blogueiros de Lula - o Planalto criou uma incubadora deles, alimentados com ração oficial paga pelo brasileiro trabalhador -já estimulou os jornalistas a identificar quem são os 3% que consideram, segundo as pesquisas, o governo "ruim ou péssimo". Só faltou sugerir que os descontentes sejam identificados por alguns sinal denunciador de sua condição de minoria ou usem uma tornozeleira eletrônica. A interferência é que o real tamanho da divergência no Brasil não passa de um gueto. Será mesmo?

Estavam habilitados a votar 135 803 366 pessoas; desse total, 29 197 152 decidiram não se apresentar às urnas; 46 89428 anularam o seu voto: 2452597 houveram por bem não escolher ninguém; 43 711 388 preferiram Serra: e 55752529 ficaram com Dilma. A petista é a legítima presidente eleita, com 56,05% dos votos válidos, o que corresponde a 41% do eleitorado. Lula empenhou a sua popularidade no triunfo de sua criatura eleitoral. Seus 80% de aceitação. segundo as pesquisas ao menos, nito foram suficientes para mover a vontade de quase 60% do eleitorado.

Especular sobre as virtudes e riscos de uma sociedade cindida é inútil aqui, até porque não existe cisão nenhuma. Isso é bobagem. O que remos, felizmente. é um país unido pelo pluralismo, que, à sua maneira, resiste às tentações do partido que se quer "único". Legendas identificadas com a oposição fizeram o governo em dez estados, onde estão 52% da população e quase 60% do PIB. É a sociedade brasileira, mais do que as oposições organizadas, que diz "não" à mexicanização da política, alusão ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México por sete décadas, abrigando correntes que iam da direita à extrema esquerda. Dado o quadro, estamos diante de uma óbvia dificuldade. Ela se define pelo fato de as oposições, um tanto acovardadas, frentar os monopolistas da esperança.

Vem a a presidente Dilma Rousseff. Será melhor ou pior? Não sei. Mais do que pessoas, o petismo é um sistema. De todo modo, estou convicto de que ninguém consegue. nem Dilma, emular com Lula nas manhas do autoelogio; na satanização do"outro"porque outro; na diluição do sentido das palavras: na impressionante capacidade de submeter a história a uma torção tal que seus piores vícios acabam sendo saudados como suas melhores virtudes. O Brasil deixa de ser governado por um mito uspiano e cujas ações serão avaliadas segundo a sua eficiência, não segundo as auroras que anuncia.

É chegada, então, a hora de voltar à França de Robespierre.

Suas ambições não eram pequenas. Na sequência da exortação que abre este texto, ele antevê um país que cumpra "os desejos da natureza. o destino da humanidade e as promessas da filosofia, absolvendo a providência do reinado do crime e da tirania". Queria um país que fosse "o terror dos opressores e a consolação dos oprimidos"; esperava ver brilhar a "aurora da felicidade universal". O governo que ele liderou de 1792 até a sua morte ficou conhecido como a fase do "Terror". Para realizar todos os seus sonhos de justiça, começou por mandar à guilhotina os adversários. até que chegou a hora de liquidar os aliados, destino fatal de toda revolução. O marxismo chinfrim que domina os livros de história, especialmente no Brasil, ensina que uma grande conspiração de reacionários concorreu para separar o corpo de Robespierre de sua cabeça. Falso. Ele próprio havia doutrinado o povo sobre as "virtudes" de um modelo no qual a eliminação física do outro é uma forma de superar os entraves da história, colocando-a em um novo patamar de racionalidade.

Lenin, o líder da Revolução Russa. assassino meticuloso, levou a lição ao pé da letra. Antes do terror revolucionário de Robespierre, a morte do inimigo ou era consequência óbvia do confronto dos litigantes ou evidência de que a sociedade precisava de um contrato ou de um estado tirano para controlar os apetites individuais. Robespierre deixou uma herança perversa, abraçada com entusiasmo por Karl Marx e pelos marxistas: a noção de que a eliminação do adversário é uma forma de humanismo e uma expessão do progresso social e da história. Esse princípio é parte do DNA das esquerdas. Ele pode se manifestar com mais ou menos virulência ainda hoje, movendo-se, muitas vezes, no molde institucional de regimes democráticos, mas sempre empenhado em mudar a sua natureza da felicidade universal".

Um país que não precisa de oposição porque seu programa é necessariamente melhor do que o do governo de turno. Um país precisa de oposição porque ela políticas não acabarão sendo resolvidas pela guilhotina - ainda que uma guilhotina moral. No fim das contas, no Brasil de hoje, é preciso saber onde está o conservadorismo para que ele possa, se preciso, proteger de si mesmos até os "progressistas". A lâmina começou a descer sobre o pescoço de Robespierre quando ele mandou cortar a cabeça do primeiro "reacionário".

MAÍLSON DA NÓBREGA

Uma ex-comunista na Presidência

MAÍLSON DA NOBREGA

Revista Veja - 27/12/2010

Vem ai a primeira presidente que acreditava no comunismo e teve participação na luta armada contra o regime militar. Outro exguerrilheiro comunista, Jose Mujica, tomou posse como presidente do Uruguai em 1º de março deste ano.


A Utopia comunista encantou muitos jovens, inclusive este escriba, entre os anos 1950 e 1960. Prometia a sociedade sem classes e a todos atender segundo suas necessidades. Na época, o comunismo da União Soviética parecia superar o capitalismo. Nikita Kruschev, o líder soviético, foi levado a serio quando em 1960 bateu o sapato na tribuna da ONU e depois anunciou que seu país suplantaria os Estados Unidos em 1980 o Sputnik, o primeiro satélite, fora lançado em 1957. Em 1961 o russo Yuri Gagarin tornou-se o primeiro a ir ao espaço, ampliando o otimismo comunista. Acreditava-se que os paises em desenvimento e até mesmo alguns desenvolvidos adotariam o socialismo soviético. Seria uma questão de tempo.

A coisa não era tão rósea assim. O governo soviético privilegiava a industria pesada, em detrimento da industria leve e da agricultura. Dizia que mais tarde o sacrifício seria recompensado por sólida base industrial e pelo acesso a bens de consumo. Como a promessa não se cumpria, sinais de insarisfação apareceram já em 1953, nos distúrbios de Berlim. Em 1956 foi a vez da Hungria e da Polônia. Todos foram reprimidos. Novas· promessas de mudança e melhoria não se concretizaram. O descontentamento aumentava a medida que a prosperidade se firmava nas sociedades capitalistas. No radio e na TV, os paises vizinhos da Europa Ocidental viam que ficavam para trás. Ate os cidadãos soviéticos, mais distantes, começavam a notar o fosso.

Os dois problemas estruturais do mundo comunista ficaram evidentes: a supercentralização e a ausência de incentivos, particularmente de recompensas pelo esforço individual. Inibiam-se a inovação e os ganhos de produtividade, que são centrais no processo de desenvolvimento.

O crescimento comunista vinha do impulso da industria pesada, que se esgotava. A União Soviética chegou a superar os Estados Unidos na produção de alto, mas isso resultava de ineficiências. Um trator soviético pesava oito vezes mais do que o americano. A agricultura se atrasava. A eletrônica virou de vez o jogo em favor do capitalismo. O transistor e o laser transformaram produtos de consumo, processos industriais, os transportes e as telecomunicações. O computador se tornou dominante. O comunismo perdeu a corrida tecnológica por causa das falhas sistêmicas do planejamento central.

A esquerda européia percebeu a realidade. Aceitou a economia de mercado e a democracia como valores fundamentais, sobretudo depois da queda do Muro de Berlim. Entendeu que o capitalismo era também superior no respeito às liberdades individuais inerentes aos regimes democráticos. Na América Latina, o aggiornamento começou no Chile. Aos poucos, em distintas velocidades, se espraiou por outros paises. A madura esquerda chilena evitou o retorno da velha tradição intervencionista. O mesmo ocorreu no Uruguai. No discurso de posse, sem rodeios, Mujica prometeu uma política econômica ortodoxa. Institucionalmente, esses dois paises são os mais avançados da região.

No Brasil, o governo de FHC foi exemplo dessa mudança. Reverteu retrocessos estatistas da Constituição de 1988 e laçou as bases de um novo período de desenvolvimento. Lula manteve a política econ6mica, mas não continuou as mudanças nem evitou que em seu governo sobressaísse um vetusto anticapitalismo. o anticapitalismo, alias, e a marca de muitos que abandonaram a utopia do socialismo real soviético. Sua conversão foi parcial. Defendem vigorosamente a democracia, mas desconfiam da economia de mercado. Recentemente, a preferência pelo estatismo se nutriu de um equívoco, o de que a crise financeira teria devolvido o prestigio a ampla intervenção na economia.

Espera-se que a nova presidente, na linha de seu colega uruguaio, dispa-se dos últimos vestígios do anticapitalismo que professava. Isso não significaria abraçar o absoluto livre mercado, outra utopia, mas liderar o país para livrá-lo de conhecidas ineficiências do estado.

MAÍLSON DA NOBREGA e economista

GOSTOSA

LUIZ GARCIA


Efeito cascata
 Luiz Garcia
O Globo - 28/12/2010

Os jornais, todos eles, erram quando noticiam que senadores, deputados ou vereadores terão reajuste salarial. Não porque nossos operosos representantes deixarão de levar mais dinheiro para casa no fim do mês. E sim porque mandato parlamentar não é emprego e não paga salário: o nome correto é subsídio.

Faz diferença? Deveria fazer. O salário representa a remuneração justa - isto é, correspondente à produtividade - de um trabalhador. É assim na iniciativa privada, obrigatoriamente, pelo menos em tese: a operosidade do funcionário produz os recursos que, descontado o lucro do patrão, alimentarão a folha de pagamentos. E o patrão esperto premia a diligência e a competência do trabalhador porque o seu lucro será maior no fim de cada mês.

Já os subsídios - e não salários - do vereador, do deputado e do senador, lamentavelmente, não mantêm qualquer relação de causa e consequência com a sua operosidade. Este mês, deputados e senadores aumentaram seus subsídios em 62%. Isso não aconteceu porque sua dedicação e sua produtividade aumentaram em qualquer proporção. Aumentaram porque podiam aumentar - e porque o eleitor tem memória curta. Na verdade, nem por isso: ele não teria a opção de votar num deputado ou senador que tivesse recusado os 62% com o argumento, que seria recebido com vaia estrondosa pelo plenário, de que a legislação em causa própria exige, pelo menos, comedimento. Essa vaia, pelo visto e sabido, nunca será ouvida.

A farra federal será também estadual e municipal a partir de 2013, num efeito cascata que varia de estado para estado: os deputados estaduais ganham uma porcentagem que pode ser de até 75%, dos vencimentos dos federais, e os vereadores podem ganhar igual fatia do que recebem os estaduais. É assim porque é assim: não existe fórmula que equipare remuneração com produtividade. De certa maneira, antes isso: dá para se imaginar o festival nacional de projetos de lei municipais e estaduais, se disso dependesse o contracheque de deputados e vereadores.

Em tese, faz algum sentido que a remuneração do trabalho legislativo em estados e municípios tenha como parâmetro os vencimentos dos representantes federais. E que estes se inspirem, por assim dizer, na remuneração do presidente da República. Mas este, ou esta, que não pagam casa, comida e avião, com certeza não precisavam ganhar o que ganham. O efeito cascata é assustador.

MÔNICA BERGAMO

PUXADÃO NA MIRA 
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/12/10

O Ministério Público quer que a prefeitura interdite a nova ala do shopping Pátio Higienópolis, inaugurada em novembro. A promotora Mabel Tucunduva, da Habitação, está pedindo à Justiça que determine o fechamento ao prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP). Ela processa o estabelecimento por considerar que ele funciona há mais de dez anos de forma irregular e obteve, em setembro, liminar determinando que a ampliação não fosse liberada. A prefeitura, no entanto, teria se omitido, diz ela. 

DENTRO DA LEI 
O shopping diz que "toma todas as medidas para assegurar o respeito à legislação vigente". Afirma também que a área de expansão foi inaugurada "cumprindo todas as determinações legais". A prefeitura diz que já prestou os esclarecimentos ao Tribunal de Justiça. 

ANTES DO CARNAVAL 
A futura ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) quer fazer da campanha de combate à exploração sexual de menores no Carnaval a marca inaugural de sua gestão. Para isso, pretende antecipar seu início para janeiro e incluir escolas de samba e artistas na mobilização. A mensagem é a de sempre: violentar crianças e adolescentes não é normal e deve ser denunciado. Rosário tem mestrado na área de educação e violência infantil. 

EFEITO CLEO 
A "Playboy" deve terminar o ano com 40% de aumento nas vendas. A principal responsável pelo resultado foi a edição de agosto, com Cleo Pires na capa. 
O ensaio nu da atriz vendeu 480 mil exemplares, recorde da revista em cinco anos. Foram 380 mil em bancas e 100 mil assinaturas. 

TRILHA DE NOVELA 
Maria Rita fará um show com repertório de trilhas de novelas e minisséries na festa de "Insensato Coração", de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. A próxima trama das 20h da Globo estreia no dia 17. O lançamento acontecerá no dia 8, no Copacabana Palace, no Rio. Na decoração haverá um jardim suspenso formado por rosas colombianas e velas flutuantes. 

ASSOPRANDO VELAS 
Vanda Jacintho ofereceu jantar em sua casa para comemorar o aniversário do arquiteto Jorge Elias, que neste ano resolveu não dar sua tradicional "Festa do Branco". Os filhos Manuela e Eduardo, que estava com a mulher, Marcela, festejaram com o pai. Na hora do bolo, Lucila Elias se vestiu de gueixa para cantar parabéns ao marido.

O DE SEMPRE 
Celso Kamura diz que fará "a maquiagem e o cabelo de sempre" em Dilma Rousseff (PT) no sábado, para a posse da presidente eleita. 
O cabeleireiro escreveu na revista de seu salão sobre o primeiro encontro com Dilma e o trabalho com ela na campanha: "Dilma me recebeu em sua casa: alegre, simpática e muito mais magra e bonita pessoalmente do que em fotos -aliás, foi uma das primeiras coisas que comentei ao vê-la, que ela não era fotogênica". 

INDEPENDÊNCIA 
E Kamura conta sobre o último conselho que deu a Dilma: "Eu disse a ela que só falta uma coisa para se tornar uma mulher realmente independente: aprender a se automaquiar!". 

INVERNO DE PRAGA
Depois de passar o Natal em Praga, o ator José de Abreu voltará ao Brasil na quinta-feira já com outra viagem marcada. No sábado, ele embarca para Brasília, onde acompanhará a posse de Dilma Rousseff. 

CURTO CIRCUITO

O guitarrista Slash, ex-Guns N" Roses, fará turnê no Brasil em abril. O show em São Paulo será no dia 7, no HSBC Brasil. Classificação: 14 anos. 

O projeto "Resta Pouco a Dizer - Peças Curtas de Samuel Beckett" terá início no dia 7 de janeiro, no Sesc Consolação. Classificação etária: 14 anos. 

A 2ª Mostra São Paulo de Fotografia, com curadoria de Fernando Costa Neto, Bob Wolfenson e Armando Prado, ocupará 20 locais na Vila Madalena a partir do dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo. 

A grife Uma promove até sexta venda de peças de coleções anteriores, nas lojas da Vila Madalena e dos Jardins. 

com DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

TUTTY VASQUES

Tenham dó dos jornalistas!
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 28/12/10

Já fui repórter, sei muito bem o que é viver na redação de um grande jornal este intervalo de tempo interminável que separa o Natal do réveillon. Pior ainda quando está tudo como agora, calmo demais - escuta só! Tem editor experiente tentando ouvir no silêncio da falta de notícia os primeiros ruídos tenebrosos de terremoto ou tsunami, temporal, soterramento, naufrágio, explosão, essas coisas que sempre pegam o ser humano de surpresa nesta época do ano.
Nem o mais foca dos jornalistas acredita que o caos nos transportes do Hemisfério Norte ou a elevação da estimativa de inflação no Brasil é má notícia suficiente para fechar a tampa de 2010 em grande estilo. Nas rondas da reportagem, a expectativa é de uma última apresentação apoteótica da turnê planetária do fim do mundo, ainda sem local e data definidos.
O leitor, naturalmente, torce para que nada aconteça, mas esta também não deixa de ser uma situação trágica para o jornalista de plantão. A manchete de amanhã não pode ser "Faltam 3 dias para o ano-novo!" Pense no drama dessa gente antes de sair por aí culpando a imprensa por tudo.

Dublê da presidenteAinda bem que chegaram ao fim os ensaios abertos da cerimônia de posse de Dilma Rousseff. No papel da presidente, a secretária de Relações Públicas do Senado, Juliana Rebelo, já começava a tomar gosto pela personagem. 
Viu o jeito como ela acenava no Rolls Royce? 

Tá chegando a hora"FELIZ ANO-VELHO, ADEUS ANO-NOVO...!"
Lula, cantarolando no chuveiro.

Joelho realComo se não bastasse o do Kaká e o do Ronaldo Fenômeno, o brasileiro está agora também preocupado com o joelho do cantor Roberto Carlos. O Rei ficou no banco durante todo o show de Natal em Copacabana.

Solto no mundoAmigos de Lula estão preocupados com seu destino depois que deixar a Presidência no próximo sábado. Ninguém ainda teve coragem de puxar o assunto da tornozeleira eletrônica com ele.

Na janela do quintalGilberto Kassab passou o domingo brincando com seus presentes de Natal. Papai Noel deixou três novos pontos de alagamento no sapatinho do prefeito.

"Vou te catar!"A maneira como Hebe Camargo deu em cima do jovem galã Caio Castro no Domingão do Faustão, francamente, nem o Renato Gaúcho em seus tempos de caçador ia tão direto ao assunto com as meninas.

VidãoQuantas férias os Obama tiram por ano? Só se fala disso no Havaí, onde a família descansa desde a semana passada. Tem surfista por lá com inveja da boa vida do presidente americano! 

Calma!Falta só uma semana para o colunista sair de férias! Tem coisa mais feliz pra se começar o ano?

MORFADO

ILIMAR FRANCO

Perde e ganha 
Ilimar Franco 

O Globo - 28/12/2010

A ida do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), para o PMDB enfraquecerá o grupo de Jorge Bornhausen na briga interna que trava com o presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ). Em outra frente, porém, Bornhausen fincará um pé no PMDB, ou seja, na base do governo da presidente eleita, Dilma Rousseff. Kassab e Bornhausen jogam juntos.

DEM x DEM

Em um sinal dessa afinação com o PMDB, o líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen (SC), anunciou na semana passada apoio à candidatura do deputado Marco Maia (PT-RS) à presidência da Câmara depois de se reunir com o líder peemedebista Henrique Alves (RN). O grupo de Rodrigo Maia reclama que não foi consultado sobre a decisão. Na briga interna, o grupo de Bornhausen aposta na radicalização e se articula para lançar a candidatura da senadora Kátia Abreu (TO) para a presidência do partido. O grupo de Maia apoia o senador José Agripino (RN), mas ele tem afirmado que só disputará se for candidato de consenso.

Saúde
Médica sanitarista e professora da Unicamp, Márcia Amaral assumirá a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde na gestão de Alexandre Padilha. Também já foi definido o nome de Helvécio Magalhães na Secretaria de Atenção à Saúde.

Persona non grata
O presidente de Honduras, Porfirio Lobo, foi o único chefe de Estado não convidado para a posse da presidente eleita, Dilma Rousseff. O Brasil não reconhece as eleições realizadas naquele país, após a deposição de Manuel Zelaya.

Tucanos devem apoiar Marco Maia
Apesar da insatisfação com o anúncio feito pelo líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), de apoio à candidatura de Marco Maia (PT-RS) à presidência da Câmara, e das conversas com Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a tendência dos tucanos é mesmo apoiar o petista. “O respeito à proporcionalidade gera estabilidade”, disse o futuro líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP). A atitude de Almeida foi considerada precipitada.

Cai um mito
Depois da disputa na base aliada por ministérios e agora por cargos no segundo escalão do governo Dilma Rousseff, o futuro ministro das Relações Institucionais, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), comentou: “Desfezse um mito criado por (Leonel) Brizola, que dizia que o melhor momento de um político é entre a eleição e a posse”. Ele tentou minimizar as insatisfações: “Em um primeiro momento de composição de governo é natural não atender todas as expectativas”.

DNIT. Em conversa com o senador eleito Blairo Maggi (PR-MT), Dilma Rousseff confirmou a permanência de Luiz Antonio Pagot na direção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

RATEIO. Na divisão de cargos acordada pelos governadores do Nordeste, a Codevasf ficará na cota do governador do Piauí, Wilson Martins (PSB).

O PT montará seis barracas na Esplanada dos Ministérios, na posse de Dilma Rousseff, para orientar seus militantes e distribuir 100 mil bandanas e bandeirinhas do partido.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

SOS por SMS 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 28/12/2010

Moradores que vivem em morros ou encostas na cidade de São Paulo serão cadastrados a partir do ano que vem. Eles receberão aviso de risco de desmoronamento via mensagem de texto em seus celulares, segundo Amauri Pastorello, do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado.

Pastorello, aliás, negocia com a Prefeitura uma parceria para criar uma fila especial no CDHU para pessoas que moram em área de risco.

Palácio encantado

O último jantar na Alvorada, semana passada, oferecido por Lula e Dona Marisa, está dando o que falar até hoje. O terraço do Palácio foi decorado por Marlene Araújo, nora do presidente, com cestas de rosas vermelhas e enfeites de Natal nas pilastras.

Convidados como ministros e ex-ministros circulavam pelo salão. Para sentar, apenas bancos altos. Dilma, bem à vontade, usou calça e escarpin pretos e um blazer dourado fosco.

No vizinho

A ceia de Natal do futuro governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi... no RJ. Mais precisamente em Búzios.

Plano de voo

Enquanto por aqui os preparativos para a Copa continuam encruados, o Catar já corre atrás das prévias do mundial de 2022. Organiza em Doha, no mês que vem, uma série de conferências sobre esporte e cultura.[ ] Aníbal Massaini estará lá para apresentar seu longa Pelé Eterno.

Solução

Na tentativa de estancar a queda da audiência matinal, a TV Globo aposta em um novo programa diário de variedades de olho nas donas de casa e nos jovens.

Com duração de 30 minutos, os pilotos foram comandados por Carla Vilhena, mas quem apresentará o novo jornalístico será Mariana Ferrão.

Lembrança

A classe artística se mobiliza para que Ruth Escobar seja escolhida "Destaque da Cultura" no próximo Prêmio Governador do Estado. A atriz luta há cinco anos contra doença degenerativa.

Sei lá, Mangueira

Elza Soares não sabe se fica. Mocidade Independente de Padre Miguel desde o século passado, recebeu novas propostas para desfilar na Sapucaí.

Controlado

Apesar dos casos isolados de presos que romperam a tornozeleira eletrônica na saída temporária de Natal, Alckmin parece empolgado com a medida. Nem assumiu o governo e já pediu para Eloisa Arruda, sua nova Secretária de Justiça, intensificar as conversas com o Judiciário para adquirir mais aparelhos e aumentar as audiências de detentos por videoconferência.

Cerca de 4.600 presos de São Paulo usaram a tornozeleira no indulto de Natal.

Aluga-se

Estudantes do Emei Patrícia Galvão estão sem notícias de onde estudarão no ano que vem. É que por conta da reforma da Praça Roosevelt, a escola foi realocada para o prédio do Hotel Ca"d"Oro. Só que a empresa está pedindo o imóvel de volta.

A Secretaria Municipal da Educação diz que assinará um contrato de aluguel temporário em outro edifício, a poucas quadras dali.

Legado

Dmitri Nabokov, filho de Vladimir Nabokov, autor de Lolita, promete publicar, no ano que vem, em língua inglesa, mais de 300 cartas de amor escritas pelo pai durante meio século. A seleção acaba de ser divulgada na revista russa Snob.

Maomé

A população muçulmana do Brasil ganha holofote de maneira inusitada. O documentário Muçulmanos, de Didado Azambuja, mapeará a influência da religião entre os jovens de periferia.

Pechincha

Celso Amorim se dedicará a palestras quando deixar o Ministério das Relações Exteriores. E anda sinalizando a pessoas próximas: "Tô custando barato. Só passagem e hotel e estou aceitando".

O ainda chanceler doará livros, fotos e documentos para a Biblioteca do Itamaraty. Em retribuição, uma ala será batizada com seu nome.

Na frente

Clarisse Abujamra estreia sua comédia Mambo Italiano no Teatro Nair Bello. Dia 7.

As lojas Armani da Bela Cintra e do Shopping Cidade Jardim estão com venda especial.

Nana Caymmi sobe ao palco do SESC Vila Mariana. Nos dias 7, 8 e 9.

Stella McCartney assina a coleção inverno 2011 da C&A.

A pulseira Together, de Antonio Bernardo, receberá o prêmio iF Design Award 2011. Em março.

GOSTOSA

ALON FEUERWERKER

Dúvidas sobre a agenda 
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 28/12/10


O controle "social" da mídia tem paralelismos com a capacidade nuclear. A possibilidade de usar a arma é útil para efeito de dissuasão, mas uma vez disparado o primeiro míssil a coisa muda completamente de figura


Na reta final do presidente que vai para casa sobressai o desagrado dele com a imprensa. É verdade que nesses oito anos o chefe do governo foi alvo de artilharia. Era previsível. Mas mesmo assim reelegeu-se, elegeu a sucessora e sai otimamente bem avaliado. 
Ou seja, ele venceu a guerra e a liberdade de imprensa foi preservada. Qual o motivo de tanto incômodo? 
Talvez porque para sua excelência certas guerras ainda não tenham terminado. 
O quase ex-presidente parece ter a pretensão de dominar a narrativa atual e vindoura sobre si próprio. Seria sem dúvida uma fonte de poder futuro, e estes dias assistem a uma notável exibição de músculos, a um esforço imenso para reger os elementos. 
Que entretanto são mais fortes. 
Há também a preocupação com os quatro anos até 2014. Na teoria, Dilma Rousseff não domina tão bem as artes de vitimizar-se e demonizar os críticos, e deverá enfrentar mais dificuldades. 
Ela seria mais vulnerável a pressões, mais arrastável a vir combater na planície. Daí o bombardeio preventivo. 
Mas a suposta fragilidade de Dilma na comunicação é por enquanto teoria. Ela aprendeu outras artes da política, pode muito bem aprender também aqui. 
Ou talvez já tenha aprendido, com a expertise apenas encoberta pela ubiquidade do mestre. 
Dilma ofereceu na Casa Civil demonstrações de apetite e frieza para lidar com o poder. Foi contemporânea da consagração da linha de que a melhor defesa contra qualquer crítica é o ataque, a desqualificação do crítico. 
O governo que sai operou espertamente um elo imaginário entre o "controle social da mídia" e a "democratização da comunicação". Como esse "social" significa também "estatal", o elo fica algo prejudicado. Uma contradição insolúvel na vida prática. 
O quase ex-presidente deixa para a sucessora pelo menos uma herança maldita. 
Como Dilma administrará a ameaça de interferência estatal mais direta no conteúdo produzido pelas empresas e pessoas que vivem de se comunicar? 
O bom senso recomendaria zerar o jogo e não trazer automaticamente para si os contenciosos do antecessor, até por ela própria não ter maiores contenciosos na área. 
Mas isso exigiria um grau de independência que a presidente eleita ainda precisa exibir. E como o ex-presidente reagiria à inflexão? Bem ele, que já conclamou o PT a desencadear a guerra em 2011. 
O controle "social" da mídia tem paralelismos com a capacidade nuclear. A possibilidade de usar a arma é útil para efeito de dissuasão, mas uma vez disparado o primeiro míssil a coisa muda completamente de figura 
Uma curiosidade sobre esta largada de governo Dilma Rousseff é saber se virá dela o primeiro tiro, saber se interessa ao novo governo que o tema da guerra particular do PT contra a imprensa (e vice-versa) domine o primeiro ano de mandato. 
O assunto tem tudo para empurrar a administração ao atoleiro, mas vai saber? Já o jornalismo teria matéria prima de primeira. Notícia não iria faltar. 
Ainda mais se a coisa viesse junto com a reforma política dos sonhos do presidente que sai, que tentou mas não teve força para abolir a eleição direta dos representantes do povo na Câmara dos Deputados, nas assembleias estaduais e câmaras municipais. 
Tentou impor o voto em lista fechada, a eleição indireta de deputados e vereadores em listas partidárias preordenadas (pelos caciques das legendas). 
Claro que com o simpático chamariz do "financiamento exclusivamente público". 
Se essa for mesmo a agenda de 2011, vai ter diversão garantida. 

Lá como aquiComo diria Mark Twain, parecem ter sido algo exageradas as notícias sobre a morte política de Barack Obama após a surra aplicada pelos republicanos nos democratas na eleição intermediária de novembro último. 
A reta final deste Congresso americano, pato manco no jargão deles, foi ineditamente produtiva, aprovando a prorrogação do corte de impostos, ratificando o tratado militar com a Rússia e outras medidas de interesse do governo. 
O detalhe é que em todas as votações ou houve acordo ou Obama rachou o campo adversário. Os republicanos parecem querer evitar que Obama os acuse de investir indefinidamente em impasses prejudiciais aos eleitores. 
O desafio da oposição a Obama é ser destrutiva e construtiva na combinação certa. 
Mais ou menos como aqui. 

JANIO DE FREITAS

Em tempo 
JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/12/10

Quando não se esperava mais esclarecimentos, PF diz que não houve grampo ilegal em telefones de Gilmar Mendes 


TARDOU, SEM que seja o caso de pensar-se em dificuldades técnicas, o esclarecimento ao menos preliminar de um episódio tão grave à sua época quanto, por isso mesmo, depois cercado de conveniências para fazê-lo esquecido. Nem era esperado que emitisse ainda um sinal, o que só se deu e se explica pela circunstância propícia de que o governo apaga suas luzes, e o silêncio do caso ficaria pesando sobre os comandos da Polícia Federal que se retiram também.
O episódio originário está na memória recente, embora amortecida. Em confronto aberto com o juiz Fausto De Sanctis, que acompanhava judicialmente as ações da Operação Satiagraha e do delegado Protógenes Queiroz, o ministro Gilmar Mendes, então presidente do Supremo Tribunal Federal, acusou com retumbância um "Estado policial" no Brasil.
Não era sua primeira entrada no tema, mas daquela vez instalou-o sobre um alicerce factual: o seu telefone, o telefone do próprio presidente do STF, estava grampeado, o que dizia haver constatado por uma gravação de telefonema recebido do senador Demóstenes Torres.
A Polícia Federal ficava aí em situação péssima, pela óbvia dedução da Satiagraha como autora do grampo e por ser o próprio cerne do "Estado policial". Por extensão, comprometeram-se a Abin e seus dirigentes. Mas as varreduras no STF e no Senado, e testes no sistema de telefonia, não encontraram indício algum de grampeamento. Diante disso, surgiu do STF a explicação alternativa de que as gravações teriam sido no exterior do prédio, dirigidas ao gabinete de Mendes.
Para não faltar o toque brasileiramente gaiato, Nelson Jobim, ministro da Defesa, fez na Câmara dos Deputados a revelação de que a Abin comprara, por intermédio da comissão de compras do Exército em Washington, aparelhos capazes de gravações externas, à distância. E entregou até uma cópia do respectivo prospecto. Bem, logo se constatou que o prospecto era apenas um anúncio copiado da internet. Jobim voltou com outras informações, até que não deu para continuar, quando especialistas do seu ministério desmentiram que o equipamento comprado pela Abin fizesse gravações à distância.
O assunto sumiu. Até sábado, o distraído Natal, quando uma notinha no "Globo", simples e objetiva, informava: "A Polícia Federal concluiu que não houve grampo ilegal nos telefones do então presidente do STF, Gilmar Mendes, no episódio em que foi divulgado diálogo com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO)".
Grampo legal, por sua vez, seria passível de constatação no processo, em que Gilmar Mendes interveio com duas decisões. Não cabe no episódio, portanto, grampo algum. Gravação externa só poderia captar a voz de Mendes falando ao telefone em sua sala, se dirigida ao STF, ou a de Demóstenes, se voltada para o Senado.
A voz do fone de ouvido, em um ou em outro prédio, não seria alcançada por captação externa. Poderia haver, isso sim, gravação feita por um dos interlocutores, em seu próprio telefone. Ou, se apenas para citar depois o que foi dito, nem haver gravação.
Não fosse já sua conduta capaz de desacreditar expedientes escusos, o pasmo do senador Demóstenes Torres, ao ouvir sobre a alegada gravação de seu telefone, valeu como álibi inquestionado. Já na ocasião e nas investigações em seu gabinete e suas comunicações. E ele não participava das elucubrações de "Estado policial" de Gilmar Mendes e Nelson Jobim, nem dos conflitos do primeiro com a Polícia Federal, com o juiz De Sanctis e com Protógenes; nem da investida do segundo contra os dirigentes da Abin, cuja demissão sumária sugeriu a Lula e viu atendida.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Lupa na Saúde Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 28/12/2010


O empresário Jorge Gerdau acertou sua primeira participação no governo de Dilma Rousseff: o Movimento Brasil Competitivo, entidade fundada por ele, traçará um diagnóstico do funcionamento da Funasa e do Ministério da Saúde. O convite foi feito por Alexandre Padilha, que assumirá a pasta na segunda-feira. Na mesma data será assinado o termo de compromisso que formalizará o início da consultoria.
A princípio, a presidente eleita desejava ver Gerdau no primeiro escalão. Após conversa no início do mês, ficou acertado que ele integraria um "núcleo de gestão" do próximo mandato, em formato a ser definido.


Roteiro Assim que descer a rampa do Planalto no dia 1º, Lula embarcará diretamente para São Bernardo do Campo, onde será recebido com festa. Aconselhado por assessores, o presidente não irá ao coquetel oferecido por Dilma Rousseff no Itamaraty na sequência da posse.

Comício Luiz Marinho, prefeito da cidade do ABC paulista, mandou fechar o trecho da avenida Prestes Maia em frente ao apartamento do presidente, no bairro Santa Terezinha. Convocou moradores para recepcionar o petista a partir das 20h, com direito a palco e estrutura de som.

Pingos nos "is" A demora de Lula em colocar ponto final no caso de Cesare Battisti se dá porque o governo adota zelo redobrado na redação do parecer que deve garantir refúgio político ao terrorista no Brasil. Tudo para evitar constrangimentos com o governo italiano.

#prontofalei De Aldo Rebelo (PCdoB-SP), cotado para entrar na briga pela presidência da Câmara, sobre o processo de escolha do candidato do PT, Marco Maia (RS): "Há entre nós muito desconforto. O regimento prevê uma eleição na Casa, e não uma nomeação. Agora, a insatisfação não necessariamente resulta em candidatura alternativa. Só faz sentido se tivermos força".

Aviso prévio Lula, Dilma e Antonio Palocci foram devidamente alertados, no jantar oferecido pelo presidente aos seus ex-ministros na quarta passada no Alvorada, das dificuldades de os partidos aliados saírem unidos na disputa pela Mesa.

Jabá O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), foi elogiado ontem por repórteres pela performance no show de Roberto Carlos, patrocinado pela prefeitura no sábado. O peemedebista, que subiu ao palco com a bateria da Beija Flor, emendou: "Os caras da Globo queriam que eu saísse, mas pensei: que nada, tô pagando!".

Vida real Depois de esticar por um dia o descanso em Pindamonhangaba, Geraldo Alckmin retorna hoje ao QG de transição com duas missões indigestas: fechar a cota partidária do secretariado e definir a acomodação de tucanos graúdos no governo.

Partilha A divisão dos cargos entre os aliados está quase pronta: o PTB manterá o controle da pasta de Esportes, e o PMDB ficará com a Agricultura. Falta definir as fatias do PV e do PSC.

Ninho Em outra rodada de reuniões, Alckmin decidirá os destinos do governador Alberto Goldman, cotado para o Saneamento, e de deputados de seu círculo íntimo.

À prova d'água No Bandeirantes, a previsão de chuva acelerou as obras de coberturas externas para acomodar o público e autoridades no dia da posse. Ontem, segurança e cerimonial fizeram ensaio oficial.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Dilma não deveria conhecer a opinião da ministra ao convidá-la. Todos sabem o que ela pensa. É diametralmente oposto a isso."
DO DEPUTADO EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), sobre a futura ministra Iriny Lopes (Políticas para as Mulheres) ter feito defesa pessoal do aborto ao dizer que não vê "como obrigar alguém a ter um filho que ela não sente condições de ter".

contraponto

Som na caixa

Em jantar oferecido pelo PMDB a Lula no início deste mês, o presidente estava cercado por líderes como José Sarney, Renan Calheiros, Eunício Oliveira e Michel Temer quando este último começou a discursar.
O volume do som era elevado, a ponto de permitir aos jornalistas, do lado de fora, ouvir perfeitamente o que dizia o vice de Dilma. Ao terminar, Temer passou o microfone a Lula, que começou brincando:
-Me informaram que a imprensa está escutando tudo. Agora é que eu vou falar mesmo...

PATETA

MÍRIAM LEITÃO

Não, obrigada 
Miriam Leitão 

O Globo - 28/12/2010

Não faz sentido agradecer a um governante pelo respeito às regras democráticas. É obrigação. Portanto, não estou entre os que exaltam o presidente Lula pelo fato de ele não ter tentado permanecer. Até ele vê assim. “Se você pede o terceiro mandato, quer o quarto, se pode pedir o quarto e por que não o quinto? Aí você está criando uma ditadurazinha”, disse ontem Lula aos jornalistas.

Houve artigos nesses dias de balanço que ressaltaram, como um dos grandes méritos do presidente Lula, o de ter respeitado as regras democráticas e de não ter pleiteado um terceiro mandato. Como se tivesse dependido unicamente de sua vontade. Teria que ser feita uma emenda à constituição e isso, certamente, detonaria uma reação forte da sociedade.

O Brasil não é a Venezuela. Passamos por caminhos diferentes. Com todos os defeitos que tem o sistema político brasileiro, a democracia aqui foi uma dolorosa conquista. Minha convicção é que mesmo sendo um governante popular, ao fim do mandato, Lula poderia ter sido derrotado em sua tentativa de mais um mandato.

Uma reeleição é comum em inúmeras democracias, um terceiro mandato já é um continuísmo intolerável. O presidente Hugo Chávez manipulou as instituições e minou a democracia, por isso tem conseguido a reeleição perpétua, a “ditadurazinha”.

Outro mérito de Lula teria sido o de ter mantido a política econômica do governo anterior. Foi de fato importante: para o país, para a estabilidade econômica, mas principalmente para ele mesmo. Dificilmente Lula teria conseguido mais um mandato em 2006 se a inflação tivesse voltado a subir. Se o escândalo do Mensalão tivesse encontrado o país com patamares altos de inflação, certamente a história teria sido outra.

As tentativas de confundir o que foi o caso de corrupção foram tantas, que é preciso lembrar. O Mensalão não foi o único escândalo no governo do partido que, durante 20 anos, se apresentou como sendo o guardião da ética na política, mas sem dúvida foi o pior. A corrupção foi confirmada na CPI, na investigação do Ministério Público, no voto do ministro Joaquim Barbosa e na aceitação do voto pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.

Dinheiro sem origem comprovada era distribuído a deputados da base governamental, num esquema alimentado por um publicitário que prestava serviços ao governo, e o denunciante foi um deputado da base parlamentar. Até o publicitário da campanha de Lula em 2002, Duda Mendonça, admitiu no Congresso ter recebido em dinheiro vivo ou em contas no exterior. Lula se debate contra os fatos mudando as versões há cinco anos. Primeiro, disse que foi um fato banal. Depois, se disse traído. Distanciou- se do PT. Mais recentemente, alegou que foi uma tentativa de golpe da oposição, e depois, que foi um caso de erro da imprensa como o da Escola Base.

A verdade é que foi um caso espantosamente grave de corrupção. Se ele tivesse explodido no meio de uma economia desorganizada pela volta da inflação, certamente, Lula não teria tido condições políticas de conquistar mais um mandato.

Não ter apoiado emenda constitucional por mais um mandato presidencial fortalece a sua biografia, mas ao mesmo tempo foi o que o permitiu eleger sua sucessora, e agora estar pensando em voltar em 2014, ou reeleger Dilma. Com um ou outro será a realização de um projeto de poder de 16 anos, dentro das regras democráticas. Muito cedo para pensar em 2014, mas até agora, o PT já colocou dois candidatos. O secretário Gilberto Carvalho falou no próprio Lula, e o Lula falou em reeleição de Dilma. Provavelmente, um projeto de trieleição teria provocado convulsão no Parlamento e reação da sociedade. É fazer pouco do Brasil e da sua consciência democrática agradecer a Lula por não ter sido o Chávez. Estou convencida de que o Brasil não aceitaria ter um Chávez, nem na política, nem na economia.

A Venezuela está encerrando o segundo ano recessivo, e a expectativa dos empresários, numa pesquisa feita recentemente, é de um crescimento de menos de meio por cento em 2011 e de uma inflação de 35%. Chávez perdeu a eleição, mas ficou com uma maioria no Congresso pela mudança de regras de contagens de votos que introduziu. No entanto, não terá no ano que vem o número de votos necessário para mudanças constitucionais. Seu último golpe foi o de aproveitar as enchentes e pedir ao congresso moribundo o direito de governar por decreto.

O Brasil não aceitaria uma situação assim, não por ser superior à Venezuela, mas por ter tido uma história diferente. Enquanto as elites dos velhos AD e Copei desmoralizavam a democracia representativa com eleições diretas fajutas, os brasileiros lutavam contra a ditadura escancarada no Brasil. Na economia, o Brasil foi profundamente marcado pela luta contra a hiperinflação. Um presidente — ou uma presidente — que deixar a inflação subir pagará um alto preço em queda de popularidade.

A alternância de poder e a manutenção da estabilidade foram boas para o país, e boas para o grupo que está no poder. Não foram concessões de Lula. Foram as escolhas certas. Lula não colheria os louros que colhe hoje se tivesse escolhido outros caminhos na economia e na política.

CELSO MING

Muito chão pela frente 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 28/12/2010 

O Papai Noel foi generoso este ano. E esse bom momento do comércio não se restringiu ao mundo das lojas e dos shoppings. O volume de vendas no mundo virtual também foi recorde.

Pelos cálculos da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, este foi o melhor Natal do e-commerce no Brasil. E já havia sido o melhor Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia da Criança e por aí vai.

O faturamento em 2010 do varejo online deverá superar os R$ 15 bilhões, o que corresponde a uma expansão de mais de 40% em relação ao obtido em 2009. O número de compradores pela internet também ficará maior. Deverá passar de 17 milhões em 2009 para 23 milhões ao final deste ano.

Esse avanço está relacionado a dois fatores principais: aumento da penetração da internet e crescimento do poder aquisitivo do brasileiro. O País tem hoje quase 70 milhões de internautas e as classes C e D, ávidas por mais consumo, começam a descobrir o sistema.

Outro fator que impulsiona o comércio eletrônico passa pela percepção das pessoas: elas se sentem cada vez mais seguras para fornecer os dados do cartão de crédito em endereços online. Alexandre Umberti, diretor de Marketing da consultoria E-bit, entende que essa sensação de segurança vem sendo conquistada principalmente porque as grandes marcas do varejo - como Casas Bahia, Magazine Luiza e Pão de Açúcar - vêm emprestando a credibilidade delas para o ambiente virtual.

Não é preciso ser entendido no assunto para saber que, até bem pouco tempo atrás, garantir a segurança e a privacidade das pessoas que se aventuravam a fazer transações online era a maior preocupação das empresas. Hoje, outras prioridades apareceram. O coordenador do Núcleo de Tecnologia da Informação e Comércio Eletrônico da FGV-SP, Alberto Luiz Albertin, aponta, por exemplo, para a necessidade de melhorar o relacionamento com o cliente.

Umberti é mais específico: o maior desafio será investir em logística para que o produto chegue sem atrasos à casa de quem o comprou. "Há um sério gargalo nessa área", alerta.

Apesar do cenário positivo, é evidente que o Brasil ainda tem muito o que avançar quando o assunto é e-commerce. Em 2009, por exemplo, as vendas virtuais nos Estados Unidos alcançaram cerca de US$ 135 bilhões (R$ 230 bilhões) de faturamento e as do Reino Unido, ? 100 bilhões (R$ 225 bilhões). Os especialistas da área garantem que esse é o tipo de comparação que não assusta. Ao contrário: mostra o quanto o comércio eletrônico ainda pode crescer por aqui.

Sem querer dar um banho de água fria no otimismo de ninguém, é preciso relembrar que boa parte do sucesso futuro vai depender da implantação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que tem avançado em marcha muito lenta. O plano inicial, que previa a chegada da banda larga popular a 100 cidades das Regiões Sudeste e Nordeste até o final do ano, foi adiado para abril, mas sabe-se lá quando será de fato colocado em prática.

CONFIRA

Domingo, esta Coluna argumentou que não faz sentido sustentar que há desindustrialização no Brasil, como muita gente tem dito por aí. A seguir, duas opiniões sobre o assunto que chegaram por e-mail:

Chega de protecionismo
"Tomara que parte do empresariado deixe de culpar a China e o câmbio pelas incompetências governamentais (infraestrutura precária e tributos acima do aceitável). Basta de gente fazendo lobby por protecionismos e medidas paliativas..."
(André Dias)

Calvário

"Sou professor da FGV e consultor de empresas. Acompanho o calvário das empresas e seu gargalo: falta de pessoas capacitadas para ajudá-las na tarefa de empreender no Brasil. Enquanto o bloco asiático (Japão, Coreia e China) forma mais de 800 mil engenheiros por ano, o Brasil forma menos de 30 mil. Isso não se reverte em uma década. A empresa é uma organização de indivíduos. A desindustrialização será inevitável." (Miguel Sacramento)

RUBENS BARBOSA



Que País queremos?
Rubens Barbosa 


O Estado de S.Paulo 28/12/10
Um novo governo estará dando seus primeiros passos a partir de 1.º de janeiro, com novos desafios e novas esperanças.
O Brasil transformou-se profundamente nos últimos 16 anos. Se pudéssemos sintetizar em poucas palavras o ocorrido, o País modernizou-se com FHC e foi iniciado o processo de redução das desigualdades regionais e individuais com Lula.
O mundo igualmente passa por grandes mudanças. A Ásia emerge como o centro dinâmico das atividades econômicas e comerciais. O Pacífico substitui o Atlântico como polo dinâmico de crescimento e os países emergentes, nos próximos cinco anos, serão responsáveis por mais de 50% do PIB global.
Dados os positivos indicadores econômicos, políticos e sociais, a presidente Dilma Rousseff assumirá o comando do País em situação relativamente confortável. Essa condição, contudo, esconde problemas sérios, que vão requerer ações rápidas e enérgicas para serem corrigidos. A maior presença do Estado, base da visão nacional-desenvolvimentista, poderá facilitar a mudança de atitude, o fortalecimento das empresas e a expansão do emprego.
Em recente estudo, o National Intelligence Council, vinculado ao governo dos EUA, coloca o Brasil como uma das superpotências econômicas globais em 2025. A percepção externa é de que nosso país reúne as condições básicas de território, população e produção interna agrícola, industrial e de serviços (PIB) para desempenhar papel de realce no concerto internacional. O Brasil, durante o próximo governo, deve ultrapassar Itália, Espanha, Franca e Inglaterra, para assumir a posição de quinta economia mundial.
Apesar das consequências desses grandes avanços internos, com as exceções de praxe, nem os líderes políticos de todos os partidos, nem a burocracia estatal, nem os sindicatos, nem mesmo o setor privado se dão conta de que será necessária uma urgente e drástica mudança de atitude para enfrentar os desafios criados por essas transformações internas e externas.
O processo decisório governamental não está levando em conta que a agenda dos anos 90, que tornou possível o País que temos hoje, está esgotada e devemos partir para responder aos desafios do futuro.
Qual é a nossa visão do futuro? Vamos continuar como estamos ou vamos querer transformar o País para alcançar o lugar de destaque que o mundo espera que o Brasil ocupe?
Para atingir esse estágio de desenvolvimento e influência mundial, além de contar com condições externas positivas, o Brasil terá de fazer seu dever de casa para manter a estabilidade econômica, tornar o governo mais eficiente e crescer de maneira sustentável a taxas significativamente mais elevadas.
Com esse pano de fundo, chegou a hora de os partidos políticos, os sindicatos e o setor empresarial, sob a liderança da presidente Dilma, somarem esforços, numa parceria real, para pensar mais no Brasil e menos nos interesses pessoais e partidários. Essa mudança de atitude passa pelo incentivo à inovação e pelo aumento da competitividade, a fim de gerar mais de 150 milhões de empregos em 2030.
Conhecimento, inovação, educação, ciência e tecnologia, competitividade, rumos da globalização e inserção externa deveriam ser discutidos em profundidade, da mesma forma que se dá destaque a assuntos como violência, crime, MST, juros, câmbio e dança de cadeiras para o Ministério. O Ministério do Desenvolvimento deveria ser tão importante quanto o da Fazenda nesse desenho de nosso futuro.
Devemos estar conscientes da necessidade de olhar para a frente e estar atentos às tendências para os próximos anos, sobretudo com o aparecimento da China e da Índia como potências globais econômicas, comerciais e políticas que vão competir com o Brasil.
A dura realidade é que as mudanças, sendo tão rápidas e constantes, fazem o mundo avançar célere e sem esperar que consigamos entender o que está acontecendo ou nos ajustemos aos novos tempos e às transformações em curso.
Sem ameaçar a estabilidade econômica e política, novas políticas terão de ser aprovadas, com o objetivo de criar incentivos para aumentar a poupança e o investimento, reverter a tendência das taxas de câmbio e de juros, promover a redução dos gastos públicos e reduzir a carga tributária. A geração de empregos dependerá do aumento da competitividade do setor produtivo, com medidas concretas para reduzir ou eliminar o custo Brasil, responsável por mais de 35% nos preços finais da produção nacional. O comércio exterior deveria ser colocado num nível decisório mais elevado para que seja tratado com a prioridade que merece, eis que é uma das variáveis mais importantes do crescimento econômico.
Estamos de acordo em transformar o Brasil num país exportador de matérias-primas e produtos agrícolas? Com a perda de espaço dos manufaturados, mais de 50% de nossas exportações são de produtos primários, situação que poderá agravar-se com a entrada, nos próximos anos, da produção dos campos de petróleo do pré-sal.
Vamos deixar o setor industrial desaparecer, a exemplo do que ocorreu na Argentina? A indústria, que já representou mais de 20% do PIB, viu sua participação reduzir-se a 15%. O consumo doméstico, que era atendido pela produção nacional, hoje depende em mais de20% das importações. As empresas brasileiras, sem capacidade de competir nem interna nem externamente, ou estão fechando suas portas, transformando-se em montadoras e importadoras, ou passaram a produzir no exterior. As importadoras representam o dobro das exportadoras. É isso que queremos?
Chegou a hora de focalizar os temas que possam colocar o Brasil em bases sólidas, e não ilusórias, entre os países de relevo na economia e na política mundiais.
PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP