sexta-feira, dezembro 17, 2010

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

Que presente de Natal o meu! 

Ignácio de Loyola Brandão


O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/12/10


Meu presente de Natal chegou adiantado. Semana passada o e-mail de uma senhora de 78 anos entrou em meu computador. No mesmo instante, 40 anos se evaporaram e me vi na redação da revista Claudia, então na Marginal, Freguesia do Ó. Anos 70. Uma tarde, Thomaz Souto Correa, diretor, passou pela minha mesa: "Estamos recebendo um número enorme de cartas com leitoras enviando contos. Precisamos responder. Fique com essa incumbência. Responda todas!" Havia essa preocupação, a interação com as leitoras. Não havia e-mails, fax, computadores, era máquina de escrever, papel timbrado, selo, cola, correio. Não achei uma tarefa desagradável, sou curioso, lia besteiras aterrorizantes, mas lia coisas razoáveis, curiosas, boas.

Via a imaginação das leitoras desfilando pela minha mesa, sonhos, fantasias, queixas, projetos. Um dia, apanhei um conto bom, apenas mal estruturado. A mulher do interior (qual cidade?) sabia o que queria dizer, elaborava personagens, tinha noção da condição feminina. Respondi, elogiei, fiz sugestões. A resposta demorou, o conto voltou reescrito. A demora, ah, a demora. Vocês nem imaginam por que demorava.
Minha resposta tinha ido para a casa de uma amiga da leitora que a entregava em momento propício, quando o marido da contista não estava em casa. Ele, como homem, dono da casa e talvez pensando que mandasse na mulher e nos sonhos dela, a tinha proibido de escrever. Encontrara uns escritos, rasgara, indagara: qual é? O que ela pensava?

No entanto, a leitora continuou a escrever. Refez o conto, mandou, fiz novas anotações, ela estava a um passo do muito bom. Nova demora, meses passaram. Outra carta. Então, fiquei sabendo as condições em que ela escrevia. Era à noite. Quando a casa se aquietava, ela esperava o marido ir para a cama, ia junto, dava um tempo. Quando percebia que ele dormia pesado, saía, trancava a porta do quarto, ia para a cozinha, fechava a porta, cuidava para que ruídos não vazassem. Cobria a mesa com um cobertor grosso (medo do barulho), levava o abajur para baixo da mesa, ajeitava-se e escrevia. Já vi na minha vida todo tipo de refúgios para escrever, mas este bateu tudo, ganhou. Porque era a escritura sob repressão. Mas ela desafiava o totalitarismo, a rudeza, e escrevia até a madrugada. Com fita-crepe escondia tudo embaixo da mesa.

Ela deixou aquele conto de lado, mas tentei novos contatos, queríamos que ela nos deixasse contar a história dela na revista, num número especial dedicado à condição feminina. Teria junto o comentário de Carmen da Silva, uma das jornalistas que desbravaram o mundo feminino, carregando bandeiras que a tornaram querida pelas mulheres, odiada pela ditadura, mal vista, visada. Carmen foi uma brava - morreu de câncer, nova ainda - e doce figura! Mas a leitora disse não, complicaria demais a vida dela, que não era fácil. Uma de minhas últimas cartas foi: "Pelo amor de Deus, não pare de escrever! Nunca." Depois, o silêncio.

Passaram-se 40 anos. Deixei Claudia, fui para Planeta, Ciência & Vida, Vogue, escrevi meus livros. Nós, escritores, sempre nos perguntamos: quem é atingido por aquilo que escrevemos? A quem chegam nossas palavras, escritos? Em quem repercute o que dizemos em palestras, conversas, bate-papos? É um dos mistérios deste ofício. De maneira que, quando temos uma resposta, é preciso se alegrar. É o que faço agora com o e-mail de Maria Olimpia, chegado semana passada. A melhor coisa deste ano, dos últimos anos. Ela escreveu:

"É provável que você não se lembre de mim, pois tivemos um contato há cerca de 40 anos atrás, quando você trabalhava na revista Claudia. Esta revista oferecia uma oportunidade a escritores novos e mandei um conto para ela. Junto foram algumas informações sobre mim e expliquei que escrevia na "calada da noite" escondida do meu marido. Ele não me "permitia" ser uma escritora. E, para minha surpresa e alegria, recebi de você, a sugestão de contar na Claudia a minha história. Isto não aconteceu, mas, dentro de mim, você, colocou a semente da coragem para continuar tentando.

Hoje, dia 10/12, ganhei de presente o livro Ruth Cardoso, Fragmentos de Uma Vida, escrito por você. Fiquei emocionada. Estou com 78 anos e, hoje, viúva, morando em Visconde de Mauá, sou uma escritora e me dedico à literatura. Já vendi 600 exemplares de meu livro A Cozinheira e o Visconde. Sou "Chef de cozinha", mas, jurei a mim mesma que, ao fazer 80 anos, deixarei a cozinha e trocarei, definitivamente, a colher de pau pela caneta(ainda uso, digito muito mal no computador). Fico feliz, em poder agradecer a você, o bem que me fez com seu apoio e estímulo, embora esteja fazendo isto 40 anos depois. Carinhosamente, Maria Olimpia."

NELSON MOTTA

Os novos anões e o velho gigante
Nelson Motta
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/12/10

É simples, prático e eficiente: o deputado aprova uma emenda destinando uma verba ao Ministério do Turismo para uma ONG fazer um show ou um evento. A ONG de araque repassa a bolada para uma produtora, que não precisa fazer o evento, porque não há fiscalização. E o dinheiro some em contas de laranjas. Era o golpe da moda, na alta ralé e no baixo clero de Brasília não se falava de outra coisa, era o sucesso da atual legislatura, a criatividade de nossos parlamentares não tem limites. Pena que a Polícia Federal, o Tribunal de Contas e a imprensa acabaram com a festa.
É inútil gritar que é roubo e formação de quadrilha, que deveria ser proibido. Pelo seu alto potencial de desvios, as emendas para shows e eventos já são proibidas por lei votada pelos próprios parlamentares. Mas mesmo assim eles continuam fazendo o que sempre fizeram, começando pelo próprio relator do Orçamento, Gim Argello, suplente e discípulo de Joaquim Roriz, que foi pilhado com emendas para ONGs fantasmas e renunciou. Para não cair, Zero-Gim pediu pra sair.
Mas nossos problemas acabaram: o novo ministro do Turismo vai ser o deputado maranhense Pedro Novais, 80 anos de idade e seis mandatos, escolhido a dedo por Sarney por sua vasta experiência em viagens por conta da Câmara. Lobistas, traficantes de influência e atravessadores do ministério estão em polvorosa, eles sabem que onde há dedo de Sarney a decência, o mérito e a eficiência imperam. Como no Maranhão e no Senado.
Com sua argúcia e o rigor de seus critérios, Sarney é um mestre em escolher os melhores e mais capazes. Capazes de tudo, como o conterrâneo Edison Lobão, que continua energizando o Ministério de Minas e Energia com sua presença.
Como ensinou Lula a um jornalista, aos gritos: falar que Sarney é um oligarca atrasado é puro preconceito. Talvez da elite inconformada com suas indicações de auxiliares dessa qualidade para os governos de Lula e de Dilma.
Diante da disputa selvagem por cargos no novo governo, perguntar não ofende: se Dilma peitar o fisiologismo do PMDB, eles vão fazer o quê: apoiar a oposição ou sabotar o governo?

LEANDRO MAZZINI

Vazio de ética faz do MPF o corregedor do Senado 
Leandro Mazzini
JORNAL DO BRASIL - 17/12/10

Há um vácuo de ética no Senado. A Comissão de Ética da Casa não existe mais. O conselho foi dissolvido há mais de ano, quando DEM e PSDB, aliados a Senadores da base governista, deixaram o grupo, indignados com a impunidade do caso Renan Calheiros. Para piorar, morreu Romeu Tuma, o corregedor linha- -dura. E o presidente da comissão, Leomar Quintanilha, deixou o Senado há meses. As denúncias sobre a remessa de emendas parlamentares de Senadores para instituições suspeitas foi parar no Ministério Público Federal. Não só por indicação do Senador Gim Argello (PTB-DF), que pediu investigação sobre si mesmo. A oposição promete também provocar o órgão no próximo ano. 

"Não quero comer a rosquinha do deputado, agora, não" Tiririca (PR-SP), eleito federal, em visita a Sandro Mabel, o líder do PR, sobre as rosquinhas que ele servia 

Já foi melhor Para os que gritam contra o grande reajuste salarial dos parlamentares e do Executivo, vejam esta: a situação já foi melhor para eles. Há pouco mais de 20 anos, lembrou um deputado na tribuna, o salário do federal era de US$ 20 mil! Dólares parlamentares 
Ou seja, em valores de hoje, na conversão, o salário dos deputados alcançaria cerca de R$ 37 mil " R$ 11 mil a mais que os R$ 26.700 que receberão agora. O padrinho 
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), costurou a permanência do atual ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, no futuro ministério de Garibaldi Alves (PMDB-RN). 

Tudo em casa Depois, Henrique telefonou para ele na quarta-feira e o avisou da boa-nova. Gabas provavelmente voltará à Secretaria Executiva. Em tempo, o deputado é primo de Garibaldi. 

Canal aberto É festa!" O Senado realizou ontem sessão comemorativa pelos 100 anos de nascimentos de Adoniran Barbosa e Noel Rosa. Um coral cantou em plenário, puxado pelos Senadores Eduardo Suplicy e Ignácio Arruda. 

Casa de emendas De um opositor atento aos últimos escândalos das emendas de parlamentares: "Com R$ 150 milhões em verbas suspeitas em questão, construiríamos 3 mil casas no PAC". 

Nos anais De Roberto Freire, presidente do PPS, sobre o balanço de governo dos dois mandatos do presidente: "Lula pode até omitir escândalos, mas a História não vai esquecer". 

Movimento do Fica A cúpula do PCdoB foi ontem à presidente eleita Dilma Rousseff e fez dois pedidos. Que ela mantenha o Ministério do Esporte com o partido, e que preserve Orlando Silva à frente do pasta. 

Mas... A próximos, Dilma tem dito que gostaria de ter uma mulher ali. 

Gol contra Macapá (AP) vai sediar jogos da Copa de 2014, certo? Obviamente que não. Por isso, oMinistério Público Federal quer proibir a construção de um megaestádio na capital, avaliado em R$ 257 milhões. Só de emendas do Orçamento 2011, parlamentares já indicaram R$ 160 milhões para a construção. 

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

O nó do PSB 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 17/12/10

Ciro Gomes aceitou o convite da presidente eleita, Dilma Rousseff, para assumir a Integração. Fernando Bezerra Coelho, indicado pelo governador Eduardo Campos (PE), foi deslocado para Portos e Aeroportos. A bancada socialista no Congresso ficou chupando o dedo. Na noite de anteontem, integrantes da cúpula do partido, num encontro com Antonio Palocci, reivindicaram uma terceira pasta para a bancada. Pediram mas não levaram. 

Maia se reuniu com a oposição Logo após ter vencido a batalha do PT, o deputado Marco Maia (RS) reuniu-se, na terça-feira à noite, com os líderes do PSDB, João Almeida (BA), e do DEM, Paulo Bornhausen (SC). O encontro foi articulado pelo líder do PMDB, Henrique Alves (RN), e foi realizado na presidência da Câmara. Maia assumiu o compromisso de democratizar as relatorias e defendeu o respeito à proporcionalidade partidária na composição da Mesa e das comissões. A oposição não se definiu ainda oficialmente. Mas, na conversa, demonstraram disposição de apoiar a candidatura do maior partido, o PT, e, inclusive, respeitar o rodízio com o PMDB. 

Na surdina Os deputados federais de todos os partidos, mas principalmente os aliados, estão perdendo a paciência com o governo. Até agora só foram liberadas 60% das emendas individuais ao Orçamento. Dizem que nunca foram tão maltratados. 

Recado Anteontem, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente), mantida, fez um duro discurso no Instituto Chico Mendes: "Instituição técnica tem que ter excelência técnica. Diminuam a fofoca. Instituição que vive de ruído não sobrevive." 

O PT segura o anúncio do Ministério A Democracia Socialista e o grupo do deputado Patrus Ananias (MG) pressionam a presidente eleita, Dilma Rousseff, a não nomear Tereza Campello para o Desenvolvimento Social e Lúcia Falcón para o Desenvolvimento Agrário. A DS quer um de seus dirigentes, Joaquim Soriano, no setor agrário. E a ala de Patrus apresentou o nome do deputado estadual André Quintão (MG) para comandar a área social. 

Na garupa do Gabas O futuro secretário-executivo da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, está tentando emplacar Elisete Berchiol, superintendente do INSS em São Paulo, na direção-geral do instituto. Num dia destes, ele chegou a apresentá-la ao futuro ministro, o Senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), sugerindo que naquela hora eles conversassem para ser feito um convite. 
Garibaldi ouviu, olhou para Gabas e, com aquele carregado sotaque potiguar, desconversou: "Calma! Calma!" 

INVENTÁRIO. Os petistas continuam debruçados sobre as razões que levaram à derrota do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), na disputa pela presidência da Câmara. Avaliam que Vaccarezza perdeu votos ao criticar o movimento sindical numa entrevista à revista "Veja". O presidente da CUT, Artur Henrique (foto), da tendência Construindo um Novo Brasil, criticou-o em seu blog, com um artigo cujo título era: "Vaccarezza amarelou". 

Não há matéria proibida de ir a voto. Todas são passíveis de diálogo e acordo. Isso vale para as 40 horas, o Código Florestal e a reforma política" - Marco Maia, candidato do PT à presidência da Câmara 

O PPS não vai se submeter ao futuro líder da minoria, deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). O presidente do PPS, o deputado eleito Roberto Freire (SP), protesta: "Custo a acreditar que o PSDB escolheu o líder da minoria sem ouvir as minorias". 

A JUSTIÇA eleitoral decidiu dar posse aos deputados Pedro Henry (MT), Beto Mansur (SP) e Paulo Maluf (SP). Com isso, o PP passou o DEM e é a quarta maior bancada na Câmara, com 44 deputados. 

A DEPUTADA eleita Luciana Santos (PCdoB-PE) será ministra dos Esportes. O atual ministro, Orlando Silva, vai para o Ministério dos Jogos Olímpicos. 

ALON FEUERWERKER

Mistificações 
ALON FEUERWERKER 
CORREIO BRAZILIENSE - 17/12/10

É razoável que a participação de Dilma Rousseff na luta armada contra a ditadura tenha sido objeto de atenção na campanha eleitoral, e é democrático que ela, como presidente eleita para governar o Brasil, sofra a iluminação dos holofotes sobre a biografia. 
Quem se candidata a dirigir o país tem certas regalias, mas abre mão de outras. Ou deveria abrir. 
Um subproduto indesejado, porém, é a luta política contaminar excessivamente a observação histórica. É inevitável, mas as taxas andam acima do recomendado pela razoabilidade. 
O que não é razoável? A insistência em caracterizar as ações da oposição armada de quatro décadas atrás como "terrorismo". 
Se terrorismo houve no Brasil naquelas épocas, foi esporádico e praticado durante a abertura dos anos 1970 e 1980, exatamente por quem se opunha à redemocratização. O Riocentro ficou como símbolo dos espasmos. 
O que a esquerda armada fez aqui foi guerrilha, urbana e rural. Pode-se definir guerrilha e terrorismo como mais convém. Mas se as palavras são distintas é por significarem coisas diferentes. 
Guerrilha é uma guerra com certas características, irregulares. Travada portanto entre contingentes militares. Terrorismo é o uso de violência maciça contra a população civil, ainda que com propósitos políticos. 
Se a mitologia da direita alimenta o espectro do "terrorismo" supostamente praticado por organizações políticas da esquerda, esta última adquiriu a mania de responder à mistificação com outra: de que a luta armada foi o único recurso restante a quem desejava combater então a ditadura. 
Seria, então, ou a guerrilha ou a passividade. 
Bonito, mas completamente furado. A luta armada foi integralmente derrotada no início dos anos 1970. Seu último suspiro foi o Araguaia. Mesmo assim, 10 anos depois a ditadura caiu, culminando uma longa agonia, iniciada na eleição de 1974. 
Se o único meio de luta possível era o militar, e se as atividades militares da oposição haviam cessado há mais de uma década, quem e o que derrubaram o regime? Seria um mistério e tanto. 
A escapatória mítica da "ausência de opção" exibe esse buraco lógico. 
A luta armada naquela época não foi resultado da ausência de alternativas, mas uma opção política. 
Parte da esquerda considerou que o golpe de 1964 contra João Goulart havia comprovado o esgotamento da chamada "democracia burguesa", e portanto da possibilidade de transformações progressistas por meios pacíficos. Era descrito na época como o "colapso do populismo". 
Juntaram a isso o entusiasmo com as revoluções chinesa e cubana e arremataram a receita. 
Deu errado, como se sabe. O que deu certo foi outro caminho, de participação nos espaços políticos remanescentes para a oposição, de engajamento firme no processo eleitoral, de reorganização da resistência social, a começar do movimento estudantil. A luta pela redemocratização como é bem conhecida dos historiadores. 
Deu tão certo que relativamente pouco tempo depois o regime foi obrigado a revogar o discricionário Ato Institucional número 5, abrindo ainda mais espaço para a ação política pacífica. Não foi coincidência o movimento operário do ABC ter emergido depois da revogação do AI-5. E não antes. 
As grandes mobilizações que desfecharam os golpes finais no autoritarismo foram principalmente consequência dos espaços arrancados pela resistência democrática, não causa. 
Outra mistificação é dizer que quem enfrentou o regime de armas na mão fê-lo por ter mais coragem. Coragem é atributo difícil de medir, ou de comparar, mas enfrentar uma ditadura desarmado costuma ser ato de enorme coragem. 

Coragem Por falar em coragem, oportuna e corajosa a manifestação do ministro da Defesa, reafirmando a Anistia brasileira. 
A Lei de Anistia de 1979 foi uma grande conquista da luta democrática do povo brasileiro, e fechou de maneira inteligente e generosa toda uma etapa complicada da História do Brasil. Merece ser defendida. 
O país tem o direito a conhecer sua memória. As famílias dos combatentes caídos na luta contra o regime militar têm total direito de saber o que se passou com seus entes queridos. 
A Anistia não é impedimento para nenhuma das duas coisas. É apenas, como sempre foi na nossa trajetória nacional, um instrumento para impedir que o passado seja oportunisticamente transformado em obstáculo à construção do futuro. 

GOSTOSA

LUIZ GARCIA

Uma vaia só
Luiz Garcia


O Globo - 17/12/2010

Senadores e deputados, faltando pouco mais de uma semana para o Natal, trabalharam para fazer melhor a festa de cada um deles. A ideia é equiparar os seus vencimentos, e mais os do presidente da República, aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. No Legislativo, o aumento é de 61,8%. No Executivo, o presidente ganhará mais 134%; os ministros, um pouquinho menos.

Para ocorrer a equiparação, o pessoal do Judiciário ficará sem aumento. Os ministros do Supremo ainda não reclamaram nem concordaram, mas parece que continuarão recebendo R$26.700,00. Não tem jeito: qualquer aumentinho que tenham eliminaria a equiparação. Parece os dois outros poderes se esqueceram de combinar tudo com o terceiro. O que explica, por exemplo, que o Judiciário mandou para o Congresso, há pouco tempo, um projeto aumentando a remuneração dos membros do STF em quase 15%.

A discussão inevitável que vem por aí certamente incluirá uma questão curiosa: o que justifica o teto igual para todos? Por acaso senadores, deputados, presidente da República e ministros do STF têm a mesma carga horária, semanal ou mensal? É certo que representam o último escalão de cada um dos três Poderes, os quais são igualmente importantes, mas isso não implica, necessariamente, um padrão de vencimentos igual para todos. A diversidade de funções e responsabilidades - e até do dia a dia de cada poder - é extraordinária.

Só para citar uma diferença, senadores e deputados só trabalham para o Estado durante as sessões legislativas. É legítimo que tenham tempo para cuidar de seus redutos eleitorais - mas a Viúva não tem nada a ver com isso. Como acha, por exemplo o senador Álvaro Dias, do PSDB: para ele o reajuste só seria correto se fossem extintos o auxílio moradia e a verba indenizatória pagos aos parlamentares.

E algum espírito de porco sempre pode lembrar que o presidente da República mora e come de graça.

No Congresso, houve até uma discussão curiosa. Um deputado do PSOL, Ivan Valente, sugeriu que a equiparação de vencimentos fosse feita aos poucos, para abrandar o impacto na opinião pública. Foi derrotado por um argumento de políticos mais experientes: segundo eles, cada etapa do reajuste enfrentaria uma reação negativa. Era melhor fazer de uma vez só - e levar uma surra só.

Portanto, vocês da arquibancada, preparem-se para dar uma vaia só diante do aumento de 134% para dona Dilma, e de um pouquinho menos para todas as suas ministras e seus ministros.

RUY CASTRO

Política suicida

RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/10

RIO DE JANEIRO - O desenho já se insinuava desde os anos 90. Se você tivesse uma loja de discos, pequena ou média -daquelas de rua, com clientes fiéis, não importava o sotaque musical da loja-, as dificuldades para trabalhar, mesmo que com lucros modestos, ficaram enormes. O problema não era vender. Era comprar.
Uma gravadora soltava o novo CD de um artista de venda certa, nacional ou estrangeiro. Se o disco custasse R$ 20 ao varejista, este teria de vendê-lo por R$ 30, para pagar os custos do ponto, os impostos, o contador, o empregado, a luz e ainda embolsar algum. O problema é que, por comprar quantidades menores de cada título, esse varejista seria um dos últimos a ser visitado pelo vendedor da gravadora.
Enquanto o disco do dito artista era procurado em vão na loja por seus clientes fiéis -e, quando finalmente aparecia, saía por R$ 30-, outro cliente não tão fiel vinha relatar que fora ao supermercado X ou à loja de departamentos Y, em busca de outra coisa, e deparara com pilhas do tal CD -por R$ 20. Claro, comprara-o. Com isto, o lojista perdia uma venda e, pior, perdia o cliente, que passava a chamá-lo de ladrão para todo mundo.
Essa política suicida, imposta pelas gravadoras, fechou milhares de lojas de discos no Brasil nos últimos 15 anos. Supermercados e grandes magazines trabalham com imensa variedade de produtos, dos quais o disco é apenas um, e nem de longe o mais importante. Mesmo assim, com sua clientela de milhares, podem comprar maciças quantidades de qualquer CD (o que baixa o preço de custo para cerca de R$ 15) e vendê-lo a R$ 20, ainda com lucro. É possível competir?
Este é um dos motivos do fim da loja Modern Sound, aqui no Rio, no próximo dia 31. O outro é a internet. Era talvez a última e melhor loja de discos de seu tamanho no mundo. Mundo este que, sem ela, fica menos suave e mais surdo.

DORA KRAMER

Como quem rouba 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 17/12/2010

Não é coincidência. Uma é consequência da outra, causa e efeito da desmoralização: a foto do palhaço de 1 milhão de votos em visita ao seu novo local de trabalho dividindo espaço nas primeiras páginas dos jornais de ontem com o noticiário sobre o aumento de até 149% aprovado pelo Congresso para os parlamentares, ministros e presidente da República.

O problema não é o aumento em si. Salários precisam ser reajustados. Principalmente os de ministros de Estado estavam mesmo defasados: cerca de R$ 10 mil.

A questão é a total ausência de bom senso quanto à forma de aprovar - lembrando o dito "rápido como quem rouba" - os porcentuais exorbitantes ante os índices da inflação e a necessidade de contenção de gastos públicos, a indiferença quanto ao resultado disso tudo na relação do Congresso com a sociedade.

Ademais, há sempre a desfaçatez. Suas excelências realmente se lixam para a opinião do público.

O último reajuste salarial do Congresso ocorreu em 2007.

De lá para cá ocorreram situações que tornam injustificável o aumento de 61,8% para os parlamentares, sendo a mais objetiva a inflação acumulada em menos de 20%. Um terço do porcentual autoconcedido.

Em matéria de privilégio não há nada igual: qualquer pessoa normal recebe aumento por ato de outrem e, em geral, por merecimento ou fruto de negociação.

Com o Congresso basta a decisão dos beneficiados, a articulação à sorrelfa e a escolha da data aos sussurros de maneira a pegar todos de surpresa. Em menos de meia hora. "Como quem rouba", reza o dito.

E fizeram assim justamente porque sabiam que haveria reação. Que, se comunicassem antes à sociedade, a pressão contrária deitaria o plano por terra.

E por que será? Por pura implicância é que não haveria de ser. Na condição de contratante desse pessoal, o público não tem visto razões de merecimento para dar de bom grado não esse exorbitante, mas qualquer reajuste.

À exceção da aprovação da Lei da Ficha Limpa, o que mais fez o Congresso Nacional nesta última legislatura para atender ao clamor social em prol da melhoria dos costumes na política?

Da farra das passagens aéreas à farra das emendas ao Orçamento, o que se viu foi o aprofundamento do fosso em que o Parlamento brasileiro insiste em chafurdar até que um curto-circuito qualquer dê por si um jeito na situação, com o risco de não ser o melhor jeito.

No primeiro escândalo da legislatura, o presidente da Câmara e o presidente do Senado, ambos do PMDB hoje com assento na Vice-Presidência da República, prometeram medidas saneadoras.

Não cumpriram - e aí sempre existe a desculpa de que fazem o que "a Casa" quer. Como se tivessem sido eleitos para se comportar como Marias que vão com as outras.

Pior: abandonaram o compromisso de acabar com verbas extras assim que houvesse reajuste salarial.

Assim, parlamentares ficam com salários reajustados ao teto do funcionalismo, equiparados aos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, mais as verbas de gabinete, despesas pagas com passagens, telefone, correio, auxílio-moradia, serviço médico do melhor e semana de três dias úteis.

Isso para dar um vexame atrás do outro e ainda contar com o entusiasmo do palhaço de 1 milhão de votos - "cheguei com sorte!" - e a complacência debochada do presidente da República lamentando que "o Lulinha aqui ó..." tenha ficado de fora da farra.

Pior o soneto. Não poderia ser mais inadequada a abordagem que o governador do Rio, Sérgio Cabral, escolheu para voltar ao tema do aborto repudiado por Deus e o diabo nesta terra de muito sol durante a campanha eleitoral.

"Quem aqui não teve uma namoradinha que precisou abortar?", perguntou em tom de cumplicidade a uma plateia de maioria masculina num viés machista, superficial e rasteiro da questão.

Essa visão marota das coisas - na qual se inclui chamar de "otário" um rapaz que reclamava melhorias em favela visitada por ele e por Lula - pode impedir Cabral de alçar voo federal, ficando restrito à política na dimensão regional.

O CÉU PODE ESPERAR

MÍRIAM LEITÃO

Aviso prévio
Míriam Leitão


O GLOBO - 17/12/10

A última ata do Copom do governo Lula informa que terá de haver aumento da taxa de juros no começo do governo Dilma. Nada é dito claramente em documentos do Banco Central, tudo tem que ser entendido nas entrelinhas e escolhas de palavras. Mas, noves fora todo o jargão, o que o BC quis dizer é que sim, os juros terão que subir porque a inflação está sensivelmente acima da meta.

Se os juros vão subir ou não, depende do governo Dilma, mas na ata há sinais de que a alta é necessária. Quando o Banco Central diz que no "cenário de referência" a inflação está acima do centro da meta, ele quer dizer que se tudo for mantido como está, a taxa ficará num nível que, pelas regras do regime de metas de inflação, os juros terão que subir. É o mesmo recado que está no trecho em que diz que no cenário de mercado a inflação convergirá para a meta. E qual é o cenário de mercado? O de uma alta de juros de no mínimo um ponto percentual e meio. Quando diz que "não há equivalência perfeita entre medidas macroprudenciais" e taxas de juros, ele quer dizer que o fato de ter elevado o recolhimento compulsório e de ter adotado exigências para as instituições financeiras na concessão de crédito não quer dizer que isso substituirá uma elevação dos juros.

As medidas adotadas reduzem a oferta de crédito e podem indiretamente afetar favoravelmente a inflação, mas a medida clássica de política monetária continua sendo a elevação da taxa de juros.

Essa espécie de aviso prévio de elevação dos juros no começo do governo Dilma deve ficar mais claro no último relatório de inflação do mandato de Henrique Meirelles, que sairá na semana que vem.

Este ano, a comunicação do Banco Central foi muito criticada no mercado, porque na avaliação dos economistas ele demonstrou ter uma interpretação de que a inflação cairia naturalmente, e ela, na verdade, subiu. O entendimento de muitos economistas é o de que o Banco Central cedeu ao calendário político parando de subir os juros antes da hora. E isso teria ficado ainda mais comprovado nas medidas de aperto de crédito e liquidez que o BC tomou uma semana antes da reunião do Copom, demonstrando temer o risco de bolha. Ora, se ele vinha dizendo que o cenário era "benigno", e ainda que havia aumentando a potência da política monetária - ou seja, com menos elevação de taxas de juros se teria mais efeito de redução da inflação -, por que então teve que tomar medidas de aperto, falar em risco de bolhas, e divulgar uma ata em que fala de aumento dos riscos de inflação acima do centro da meta? E se a situação é de risco por que então não subiu juros, deixando para o ano que vem?

Quem defende o Banco Central argumenta que, no início, a inflação parecia só concentrada em alimentos, tanto que ainda hoje, se não for considerada a elevação de preços de alimentos, a inflação está no centro da meta. Depois, ficou claro que o aumento dos preços de alimentos não era da modalidade tradicional provocada pelos ciclos naturais de safras e entressafras, mas decorrente de variados fatores. Um deles é a elevação dos preços das commodities no mercado internacional derivada da crise econômica.

A crise internacional tem efeitos diferenciados na economia. Por um lado, o excesso de liquidez provocou uma série de altas no mercado de commodities, por outro, houve deflação em produtos manufaturados exportáveis. Esses produtos tiveram queda de preços em dólar porque, diante da fraca demanda internacional, alguns países diminuíram seus preços para continuar vendendo. Esse efeito deflacionário da crise estaria terminando e sendo substituído pelo impacto oposto da elevação da inflação pela alta de commodities.

Além disso, o que era efeito primário, a elevação da inflação de alimentos, acabou virando um efeito secundário: o aumento das expectativas em relação à inflação, o que se combate com elevação dos juros.

A sinuca de bico é como subir os juros num mundo de juros baixíssimos, como são as taxas atuais? Outra dúvida é se o Banco Central da presidente Dilma começará subindo os juros como fez Lula. O presidente Lula vinha de 20 anos dizendo que reduziria os juros e, naquele momento, teve que provar que não serie leniente com a inflação. A presidente eleita, Dilma Rousseff, pode achar que nada tem a provar, pode ter suas próprias ideias sobre política monetária, já que é economista, nomeou auxiliares que sempre defenderam a ideia de que é preciso fazer o oposto do que recomenda o regime de metas de inflação. Muitos economistas acharam que a ata foi dúbia. Por tudo isso, a dúvida sobre o que acontecerá a partir de janeiro continua.

Por outro lado, o presidente Lula estava no início de um longo ciclo de expansão da economia internacional, um período sem crises, e cercado de otimismo. A presidente Dilma assumirá no meio das dúvidas sobre como será o ano que vem, como se desenrolará a crise europeia, se haverá ou não uma reestruturação da dívida soberana espanhola. Se houver, os tremores podem ser sensíveis, porque a Espanha é uma das grandes economias da Europa e não um país da periferia do sistema europeu. O melhor seria a cautela, mas pouco se sabe do real comprometimento do governo Dilma com o combate à inflação. É esperar para ver.

MERVAL PEREIRA

PT pós-Lula
MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 17/12/10 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dito a amigos que está na hora de revermos uma antiga certeza na hora de analisarmos nosso sistema político, a de que o país não tem partidos organizados, e por isso as negociações são feitas pontualmente, de acordo com interesses fisiológicos ou de grupos. 
Segundo ele, o país já tem um partido organizado organicamente, e esse partido é o PT. Essa constatação de Fernando Henrique fica mais confirmada ainda quando se lê que os oito governadores do PSDB, seu partido, decidiram que não farão oposição à gestão Dilma, atrás das verbas que o governo federal pode distribuir aos estados. 
Um dos feitos do PSDB na recente eleição, em que foi derrotado pela terceira vez consecutiva para a Presidência da República, foi justamente ter sido o partido que mais governadores elegeu, especialmente mantendo o comando dos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais, o que demonstraria sua força política. 
Ora, se esses oito governadores abrem mão de fazer oposição, numa estratégia orquestrada pela direção nacional do partido, o que esperar? 
Essa estratégia de neutralidade, aliás, já foi tentada durante os oito anos do governo Lula e deu no que deu. 
Os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, passaram seus mandatos tendo uma atuação generosa com o governo central, num cálculo de aproveitar um bom relacionamento para obter favores federais que beneficiassem suas gestões estaduais. 
Desse ponto de vista, deu certo: os dois fizeram governos muito bem avaliados. Mas não se identificaram junto ao eleitorado como políticos de oposição. 
Ambos apareciam ao lado de Lula como se fossem seus correligionários, e Serra tentou até mesmo confundir o eleitorado mostrando-se com Lula no programa de propaganda eleitoral da televisão, querendo passar a ideia de que Lula não se incomodaria com sua vitória. 
Ambos, em momentos distintos da disputa eleitoral, sentiram a mão pesada de Lula e do PT. 
O ex-governador de Minas sentiu também a objetividade do PT como partido, ao ver vetado a nível nacional o acordo regional que fizera com o então prefeito Fernando Pimentel. 
Nem Lula nem o PT, quando foi preciso, fingiram neutralidade ou tentaram aparentar generosidade com os adversários políticos. 
É disso que trata Fernando Henrique quando diz que o único partido organizado que temos no país é o PT. 
O comando de Lula sobre o partido sempre foi exercido com mão de ferro, com o auxílio direto de José Dirceu, e foi devido a essa liderança incontrastável que o partido permaneceu unido durante as três derrotas consecutivas, mantendo-o como candidato mesmo quando parecia que não tinha mais chance de vencer. 
E o partido manteve-se na oposição mesmo quando a unanimidade do país apoiava o Plano Real. 
Quem se colocou no seu caminho foi mantido à parte, como os Senadores Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque, que ousaram questionar se ainda valia a pena manter Lula como o candidato do partido à Presidência após três derrotas. 
No governo, à medida que sua popularidade foi aumentando, Lula se impôs ao partido de maneira tal que os poucos dissidentes acabaram sendo forçados a abandoná-lo e formaram o PSOL. 
No seu segundo mandato, a influência de Lula sobre o PT foi tamanha que ele conseguiu a unidade em torno de Dilma Rousseff à sua sucessão, uma candidata improvável e sem tradição partidária. 
Mais uma vez mostrou que estava certo ao impedir que setores do partido apresentassem candidatos em estados em que o PMDB tinha interesses divergentes, tudo para garantir o apoio do maior partido à sua candidata. 
Ao mesmo tempo em que sufocava politicamente as diversas facções partidárias, Lula dava a elas pedaços do poder e proteção política. 
O partido superou a crise do mensalão sem se desintegrar e continua sendo o preferido do eleitorado brasileiro. 
Seu teste de fogo será a saída de Lula do poder, e uma amostra do que pode acontecer estamos vendo agora, na disputa para a presidência da Câmara e na montagem do primeiro Ministério de Dilma Rousseff. 
As diversas facções em que se divide o partido estão em disputa como sempre estiveram, só que agora não têm uma liderança que organize essa disputa e a subordine aos interesses maiores do partido. 
A tendência Construindo um Novo Brasil, que é majoritária no partido, estava dividida entre Cândido Vaccarezza e Marco Maia, o que indicava que o candidato oficial poderia ser derrotado na disputa. 
O ex-deputado federal e candidato ao Senado pelo PSOL Milton Temer acha que é "excelente para a democracia brasileira que o PT saia do sufoco que lhe foi imposto pelo pragmatismo lulista e retome a energia interna que marcou suas duas primeiras décadas de existência como o principal partido brasileiro, nascido das bases sociais". 
Para Temer, o partido encontrava sua energia exatamente na disputa de caminhos políticos distintos que suas diversas tendências, e lideranças independentes, disputavam em cada reunião das instâncias. 
Ele se recorda da disputa com José Dirceu pela presidência do partido, no Congresso do Glória, em 1997. Na ocasião, representando o Campo de Esquerda, ele obteve votos de 47% dos delegados, enquanto Dirceu obteve a vitória com apenas 49%, "tendo ao seu lado, na boca de urna, nada menos que Lula e o então presidente da CUT, João Felício".
Para Temer, mesmo com esse resultado apertado, a unidade partidária só não foi conseguida pela "falta de generosidade e fraternidade do campo majoritário, que, já no ano seguinte, promovia a arbitrária intervenção no diretório do Rio de Janeiro, por conta de vitória legítima que Vladimir Palmeira obtivera nas prévias que indicariam o candidato próprio ao governo do estado". 
Essa "falta de generosidade e fraternidade" era a marca da liderança de mão de ferro de Lula e Dirceu, que hoje já não existe. 
Lula tem dito que pretende continuar atuando dentro do partido, mas é difícil que encontre tempo para isso. 
Temer acha que o PT pode ter agora "sua última oportunidade de ressuscitar a identidade que a sigla tinha até chegar aos tapetes do Planalto", abandonando a lógica de ocupação de cargos no aparelho do Estado para voltar à discussão programática. 
Ou então o partido pode se transformar num outro PMDB. 

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Reengenharia olímpica
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/10 

Na tentativa de resolver o impasse com o PC do B, que reivindica a permanência de Orlando Silva no Esporte -na contramão do desejo de Dilma Rousseff de indicar uma mulher para o posto-, a equipe de transição ofereceu ao partido um desenho alternativo. Nele, Esporte ficaria com Luciana Santos, deputada federal e ex-prefeita de Olinda, mas Orlando continuaria ministro, só que deslocado para uma nova pasta, voltada exclusivamente aos Jogos de 2016.
A ideia original de Dilma era colocar Orlando na APO (Autoridade Pública Olímpica). O PC do B, porém, teme o fato de que o cargo ainda nem existe e já é bombardeado, por exemplo, pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Ministério é outra conversa.

Distensão Marco Maia (PT-RS) chamou Arlindo Chinaglia (SP), Cândido Vaccarezza (SP) e João Paulo Cunha (SP) para comandarem sua campanha à presidência da Câmara. Os três disputaram a indicação com ele. 

Currículo O aumento do salário dos deputados, articulado desde o início por Marco Maia, credenciou o petista com o chamado "baixo clero" da Câmara. 

Para valer Na avaliação do atual governo e da equipe transição, há gente se colocando no páreo para disputar com Maia com o objetivo real de valorizar o passe em outras negociações. 

Perspectiva Em conversa em Foz do Iguaçu com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, Lula opinou que, sob Dilma, a aprovação da revisão do Tratado de Itaipu tende a ser facilitada, dada a confortável maioria de que sua sucessora desfrutará no Congresso Nacional. 

Também quero Após a aprovação do salário dos congressistas, servidores do Judiciário planejam mobilização na próxima semana em prol do próprio reajuste. 

Caderninho Para refutar o registro dos feitos de Lula em cartório, o PSDB vai elaborar um novo balanço dos oitos de governo petista. O documento, dizem tucanos, incluirá "tudo o que foi esquecido e manipulado". 

Longa distância O diplomata Carlos Villanova, secretário-adjunto de imprensa da Presidência, responsável pela área internacional, comandará a comunicação da empresa Rio 2016.

Ao vivo Eduardo Suplicy (PT-SP) cantou ontem na homenagem a Noel Rosa e Adoniran Barbosa no Senado. Colegas brincaram: o grave é que a plateia pediu bis. 

Múltipla escolha A bancada do PV ofereceu três nomes a Geraldo Alckmin: Feliciano Filho, opção para o Meio Ambiente, Chico Sardelli, para Esportes, e Afonso Lobato, para a pasta do Desenvolvimento Social. 

Mais uma A principal atribuição da pasta do Turismo, a ser desmembrada de Esportes, será estruturar a nova empresa paulista do setor, que deverá funcionar nos moldes da Embratur. 

Prévia Luiz Marinho (PT) amargou surpreendente derrota na Câmara de São Bernardo: o tucano Hiroyuki Minami, apoiado por Orlando Morando (PSDB), provável rival de Marinho na disputa pela prefeitura em 2012, conquistou a presidência da Casa por 13 votos contra 8 do petista Tião Mateus. 

Visita à Folha Amos Genish, presidente da GVT, empresa de banda larga e telefonia, visitou anteontem a Folha. Estava com Alcides Troller Pinto, vice-presidente de Marketing, Tatiana Weinheber, gerente de Comunicação, e Diva Gonçalves, assessora de imprensa. 
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Na eleição da Câmara Municipal, o prefeito avançou o sinal vermelho. Nesses casos, a multa costuma chegar em 60 dias."
DO VEREADOR ANTONIO DONATO (PT), prevendo dias difíceis para Gilberto Kassab (DEM), que atuou pesadamente para eleger José Police Neto (PSDB); os petistas estavam com Milton Leite (DEM), do "Centrão".

Contraponto

Duro na queda 

Na cerimônia do balanço dos oito anos de Lula, anteontem no Palácio do Planalto, Antonio Palocci brincou ao cumprimentar José Gomes Temporão:
-Olha aí o ministro mais poderoso do governo!
Diante do semblante intrigado de Temporão, há muito ciente de que, diferentemente de alguns colegas, não sobreviverá no cargo em 2011, o futuro chefe da Casa Civil cuidou de completar:
-O senhor vem sendo o mais difícil de substituir...
O novo titular da pasta ainda não foi definido.

JOSÉ SIMÃO

Uau! Aeroporto vira aeroparto!

JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/10
Este Natal vai ser uma barra. Uma barra de cereal. E o peru? Aí você pega do comissário mais próximo

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do site Sensacionalista: "Com a aprovação do novo salário, Tiririca aprende a contar até 26 mil". E sabe como o Papai Noel dá risada em Brasília? HO-HO-HOUBAMOS MUITO!
E o WikiLeaks: "Documento vazado afirma que Fidel Castro quase morreu em 2006". Não entendi o "quase". Rarará. El Coma Andante!
E socuerro! Começou a guerrilha aérea! "Aeroportos têm 19,6% dos voos atrasados, Rio tem 39%."
Com esses atrasos, a melhor invenção de Santos Dumont não foi o avião, foi o relógio. Visionário!
E uma amiga escreveu um bilhete para o marido: "Fui para o aeroporto, não sei quando volto".
E os aeroviários prometendo greve? Para 23 de dezembro! Passar o Natal no aeroporto. Este Natal vai ser uma barra. Uma barra de cereal. Ceia de Natal no aeroporto: barra de cereal. E o peru? Ah, o peru você pega do comissário mais próximo!
Vai todo mundo viajar de ônibus! "Senhores passageiros do voo 4362, dirijam-se à rodoviária mais próxima". Rarará! Eu vou para a Bahia de ônibus, de jegue. Jegue Airlines! E se der overbooking? Vai todo mundo na capota do avião, que nem trio elétrico! Eu vou para a Bahia de trio elétrico! Infraero no aeroporto: "Atenção, senhores passageiros, arranjem um canto para dormir e seja o que Deus quiser". Aeropartos. Embarcar é um parto.
E a Amy Winehouse? Vocês viram as exigências do camarim? Cerveja, vinho, vodca e champanhe. E crack! Rarará! E 15 pedrinhas de crack!
Eu comprei o ingresso para o show da Amy. Investimento de alto risco. Primeiro, a gente tem de torcer para ela ficar viva até a data do show. Depois, para ela vir para o Brasil. Depois, para ela vir para o show. Depois, para dar o show. E, depois, para conseguir cantar. Isso é que é o verdadeiro show da Amy!
O Palófi foi para o oculista! E o oculista mostrou um S: "Que letra é essa?". E o Palófi: "F!". "Não, é um S." "E não FOI IFO QUE EU DIFE?"
O brasileiro é cordial. Mais um cartaz do Gervásio na empresa de São Bernardo: "Se vierem me reclamar ou eu ouvir algum cabra porco arrotando ou peidando aqui no refeitório, vou fazer o suíno engolir dez comprimidos de Lacto Purga antes de ir embora para casa. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Rarará.
E o Lula ainda quer voltar para São Bernardo? Para encarar o Gervásio? Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! 

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

O pemedebismo na Esplanada de Dilma 
Maria Cristina Frias 

 Folha de S.Paulo - 17/12/2010

A montagem ainda está no meio do caminho, mas define-se, até aqui, pelo que não é. O ministério da presidente eleita, Dilma Rousseff¸ não tem empresário e banqueiro bem-sucedidos, jurista de renome, cantor popular ou ambientalista de trânsito internacional.

O fato de ter sido eleita por um dos brasileiros mais populares da história talvez tenha respaldado a decisão de não buscar fora da política tradicional nomes que dessem verniz ao seu governo.

Oito anos atrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva surpreenderia petistas ao convidar um banqueiro tucano (Henrique Meirelles) e duas lideranças empresariais (Roberto Rodrigues e Luiz Fernando Furlan) para a Esplanada.

Enquanto o presidente operário buscava ampliar sua legitimidade eleitoral, sua sucessora, igualmente eleita em segundo turno, optaria por um funcionário de carreira para o Banco Central (Alexandre Tombini), manteria um deputado pemedebista (Wagner Rossi) na Agricultura e seu amigo petista de mais longa data para o Desenvolvimento (Fernando Pimentel).

A relação de confiança também parece ter sido o mote na Justiça. O deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT) não tem uma fração do trânsito de Márcio Thomaz Bastos junto à toga ou aos escritórios de advocacia, mas conquistou, ao longo da campanha, relação de cumplicidade com Dilma.

Ainda não há definição para a Cultura ou o Meio Ambiente, mas as cogitações não vão pela rota da fama que levou Lula a Gilberto Gil e Marina Silva.

Os novatos da Esplanada de Dilma ainda precisarão mostrar serviço para que se possa julgar se ofendem a meritocracia, mas certamente não foi este o critério que presidiu a escolha do deputado pemedebista Pedro Novais para o Turismo ou Moreira Franco para a Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Das 37 pastas com status ministerial, 23 estão escolhidas. Onze delas estão com o PT, outras seis com o PMDB, uma com o PR, mais uma com o PDT e quatro com titulares sem partido.

Ao levar personalidades com trânsito na oposição para seu governo e adotar as políticas respaldadas pelo mercado desde o Real, Lula começava a operação desmonte da polarização entre PT e PSDB. Essa operação foi completada com o ingresso em bloco do PMDB no segundo mandato.

Em ensaio publicado no último número da revista "Piauí", Marcos Nobre mostrou como a genealogia do pemedebismo minou as bases dessa polarização. Foi pela atração do centro pemedebista que Lula deu base política a uma ordem econômica que não desafia o mercado, controla a dívida pública e mantém o juro alto.

O pemedebismo, chave com que Nobre explica a era Lula, permitiu que o país se arranjasse ao que chamou de novo pacto de desigualdade do Real - com políticas distributivas incrementais e o adiamento de soluções definitivas.

Seu motor é um partido que se move pela lógica do veto a tudo que ameace seus postos de poder. São interesses espraiados por Estados cuja autonomia foi comprometida pelo acordo das dívidas e a Lei de Responsabilidade fiscal. Das urnas de 2010 saiu em terceiro lugar com cinco Estados periféricos à exceção do Rio.

Os seis ministérios que terá servirão de contrapeso à presença desidratada na Federação. Perdeu a Integração Nacional e as Comunicações, mas ganhou o Turismo, cuja rubrica de investimentos, além de ter sido uma das que mais cresceram sob Lula também abriga pontes, praças e centros culturais e esportivos que fazem a festa das emendas parlamentares.

Na Agricultura, o PMDB mais ligado ao vice-presidente Michel Temer também estará aparelhado para acomodar seus interesses encastelados nas fronteiras agrícolas. Com uma Previdência arrumada mais pela administração do que pela numeralha atuarial, pode dar lustre à imagem de um partido disposto a encarar o bônus e o ônus de ser governo.

Mas nenhum ministério é tão representativo do eixo ocupado pelo PMDB na era Lula quanto o de Energia. Dilma só virou ministra quando o acordo com o partido no início do primeiro mandato fracassou. Ao deixar a Pasta rumo à escalada que a levaria à Presidência, o partido dela se assenhorou para não mais largá-la. Ao gerir o setor em sintonia com Dilma, a banda sarneysista do PMDB assegura sua reprodução no poder.

É com base nessas sentinelas da Esplanada que devem ser acomodados os irrequietos interesses das bancadas parlamentares pemedebistas.

O PMDB vai ser decisivo à disputa que já se inicia tumultuada pela presidência da Câmara e que reflete, mais uma vez, falta de sintonia entre o crescimento do PT e seu amadurecimento parlamentar. É dessa disputa que o PMDB deve tirar, mais uma vez, o combustível dos próximos quatro anos - temporada, diz Marcos Nobre, que será de bonança, desigualdade e pequena política.

Omandato de Dilma se inicia sob delicada injunção militar. Ao imbróglio dos caças, que se arrasta desde FHC, soma-se a presença por tempo indeterminado das Forças Armadas nos morros do Rio e a decisão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que confronta o entendimento do Supremo sobre a Lei da Anistia.

Ao condenar o Brasil pelas mortes no Araguaia, a OEA deixará Dilma numa encruzilhada: se negar o cumprimento da decisão, pode levar o país a sofrer sanções; se acatá-la, pode ser vista na caserna como revanchista.

Esse embate ocorrerá no momento em que Dilma terá que decidir sobre o futuro dos militares nos morros antes que a corrupção do tráfico os dizime.

Professor da Universidade Federal de São Carlos e diretor da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, João Roberto Martins Filho diz que a situação desrespeita a Constituição pelo tempo indeterminado e pela subordinação de militares a civis.

A entidade que também é composta por militares reformados da Marinha e da Aeronáutica, divulgou nota em que contesta a atuação no Haiti como inspiração à presença das Forças Armadas nas favelas cariocas e alerta para o risco à democracia. "O governo Lula cedeu à pressão da opinião pública e termina com um erro muito grave", diz Martins.

VINICIUS TORRES FREIRE

Dilma e os porões do Congresso
 VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/10

Começa a fermentar um escândalo do Orçamento e há parlamentares "sentidos" com a divisão do ministério 


DILMA ROUSSEFF em tese dispõe de maioria folgada no Congresso: 60% da Câmara e 62% do Senado. Começará o governo com a boa vontade de 62% da população, segundo pesquisa CNI-Ibope. Terá a retaguarda de Lula. A economia está relativamente em ordem; mesmo que o governo Dilma se passe a besteiras, por ação ou omissão, terá gordura para queimar.
Ainda assim, seria bom o "governo de transição" passar uma fita isolante nuns fios que começam a desencapar numas tubulações sombrias do Congresso.
Há um risco evidente de curto-circuito nos fios que levam dinheiro do Orçamento para "entidades do terceiro setor". O senador Gim Argello (PTB-DF) caiu na semana passada do cargo de relator do Orçamento por ter chancelado emendas que enviavam dinheiro a instituições de fantasia ou fantasmagóricas. Argel- lo surgiu das profundas do entorno de Joaquim Roriz, de quem foi suplente no Senado; além do mais, durante um tempo o senador se fazia de "próximo" de Dilma, a ministra.
Bastou uma verificada rápida nos convênios para descobrir mais desvio de dinheiro para entidades-fantasma ou apenas para desperdícios picaretas. Havia dinheiro para a festa da "mulata de ouro" de uma escola de samba capixaba, para a promoção da prática de surfe com paraquedas, shows, micaretas etc. O dinheiro para convênios desse tipo passa de R$ 300 milhões.
Há um escândalo evidente no Orçamento, que ainda não se tornou "escândalo" midiático talvez porque falte gente interessada em colocar documentos no ventilador. Tal interesse surge quando há bastante gente contrariada. Um escândalo puxa outro. O grupo parlamentar pilhado numa bandalha logo pode revelar a lama da bancada vizinha.
Difícil saber quando haverá massa crítica de gente interessada em ligar o ventilador, mas a barganha do ministério pode azedar e fermentar.
O PMDB está quieto demais depois de ter levado uma carraspana de Dilma. Quando virá o troco? O PSB tem acessos de estrelismo político e achaques de peemedebismo, cobrando três ministérios. Se não levar, que birra fará no Congresso?
Como não bastasse, os petistas se esfaqueiam pelas costas e vazam denúncias sobre seus inimigos de bancada, de outras facções do partido. A "vendetta" entre petistas se deve também a disputas por cargos e pela marginalização política de pessoas que estiveram no governo Lula 1, algumas ligadas a José Dirceu. A briga deve envolver a eleição da presidência da Câmara, ocasião propícia para catástrofes como a eleição de inimputáveis. É verdade que ainda há "cargo bom" em outros escalões, bastantes para calar pencas de parlamentares. É uma solução funcional, mas ainda assim um serviço porco e arriscado no médio prazo, pois esse tipo de nomeação espalha picaretas em nichos quase invisíveis do governo. Uma reforma administrativa séria poderia atenuar o problema, mas essa é outra história.
O resumo da ópera é que condescender com bandalhas no Orçamento ou com chantagismo fisiológico não afasta o risco de tumulto no Congresso, além de adiar sine die a racionalização do Estado. O novo governo precisa fazer uma declaração de princípios, falar grosso com a bandalha e propor ações práticas para ao menos atenuar o sequestro da administração por chantagistas.

O BATUQUEIRO

MÔNICA BERGAMO

RAGAZZO AFINADO
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/10

O compositor Paolo apresentou, anteontem, no Estúdio Emme, sucessos como "Malafemmena", tema de Tony Ramos e Mariana Ximenes na novela "Passione", e uma versão de reggae em italiano de "Sozinho" 

SEMPRE ALERTA A operação da Polícia Federal na casa de ex-diretores do banco PanAmericano, ontem, vazou antes de ser realizada. Para garantir a sua eficácia, iniciativas como esta têm que ser sigilosas e dar publicidade a elas é crime. Na noite anterior, no entanto, a coluna recebeu a informação de que ela ocorreria na manhã seguinte. Pelo menos três pessoas de fora das instituições responsáveis pela blitz (Justiça, Ministério Público e PF) tinham recebido relatos sobre ela. 

RISCO Informado sobre o vazamento depois das buscas, o juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de SP, que deu autorização para que elas fossem realizadas, se disse "indignado". "É crime de violação de sigilo e uma irresponsabilidade que coloca em risco toda a operação", diz. O Ministério Público Federal afirma, por meio da assessoria, que a informação não saiu da instituição. A Polícia Federal diz que não teve informações sobre vazamentos e que a operação foi satisfatória. 

ESTRAGA PRAZERES O presidente Lula arrancou gargalhadas de Aécio Neves (PSDB-MG) anteontem ao cochichar no ouvido dele na cerimônia de premiação da revista "IstoÉ". Quem estava perto escutou a piada: "Aécio, conta comigo para ir atrás dos 7% que não aprovam você lá em Minas Gerais. Vamos encontrar esses caras e dar umas porradas neles!". Como Lula, Aécio deixou o governo de Minas com aprovação recorde. 

ENDEREÇO E o governador do Rio, Sérgio Cabral, quer providenciar imóvel para que Lula também tenha uma sede de seu instituto no Estado. Assessores do presidente acham que, se a ideia vingar, seria um bom local para que ele guardasse os documentos de seu período de governo. 

TORCIDA A TV Record vai mudar de slogan em 2011. Saem "Uma TV de primeira" e "A caminho da liderança". Entra "Agora é a vez da Record". 

CURVA E a Record deve fechar o ano com faturamento de R$ 2,7 bilhões -25% acima do que realizou no ano passado. 

CAMAROTE EM RECESSO O camarote Brahma na Sapucaí, no Rio, que completa 21 anos em 2011, "será o melhor de todos os tempos", diz José Victor Oliva, organizador do espaço. A tradicional área VIP será desativada em 2012 por conta da reforma no sambódromo. Oliva diz que a lista de convidados terá celebridades "do tipo Angelina Jolie e Brad Pitt". 

UM SHOW À PARTE A cantora e artista Laurie Anderson já avisou que pretende fazer um show em março, no Rio, quando estiver na cidade para inaugurar sua exposição no CCBB.

QUADRO O cineasta André Klotzel desembarca hoje em Brasília para filmar a diplomação do deputado eleito Tiririca (PR-SP). Ele negocia para fazer um longa-metragem sobre a vida do humorista e a sua estreia no Congresso.

ORGULHO E o humorista Tom Cavalcante dará uma gravata da Hermès, comprada na Harrods de Londres, para Tiririca usar na posse. "Criaram esse monstro para ele e esqueceram de falar do cara centrado que é o Tiririca, do ser humano generoso e humilde que ele é", afirma Cavalcante. "A gente lutou tanto pela democracia e quando uma pessoa do povo, mais simples, logra êxito, há uma reação contrária. Falaram demais. Ele nunca foi analfabeto. Lê normalmente, decora textos como ninguém", diz. 

OS ELEITOSLula, a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) e seu vice, Michel Temer (PMDB), e o senador eleito Aécio Neves (PSDB) participaram da festa de premiação Os Brasileiros do Ano, da Editora Três, anteontem, no clube Monte Líbano. Entre os convidados e homenageados, o futuro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, Luiz Trabuco, do Bradesco, o empresário Eike Batista e a apresentadora Angélica.

CARINHO E CARIDADE O Natal do Bem arrecadou R$ 4,2 milhões para nove instituições de caridade, anteontem, no hotel Hyatt. Daniela Zurita, herdeira da Nestlé, gastou R$ 25 mil em rifas em nome da filha, de um ano e meio.

CURTO-CIRCUITOO Instituto Nina Rosa, de proteção animal, fará hoje, às 19h, exibição do curta de animação "Vegana", no Belas Artes. 12 anos. 

Mario Garnero promove conferência do governador do Rio, Sérgio Cabral, hoje, às 12h30, no Harvard Club, em Nova York. 

Termina hoje o bazar de Natal do projeto Abrace seu Bairro, no saguão do hospital Sírio-Libanês. 

Acontece amanhã, no teatro Vivo, o último encontro do seminário "A Sociedade em Rede e o Teatro", com curadoria de Expedito Araujo. 

O museu A Casa, de Pinheiros, dedicado ao design, fará até março exposição e venda de louça morena do povoado de Poxica (Sergipe). 

A Câmara Espanhola de Comércio no Brasil realiza hoje uma paella para empresários em sua sede. 

A designer Renata Massicano lança linha de capas artesanais para iPad, com materiais recicláveis e cortiça. 

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY