quinta-feira, dezembro 16, 2010

AUGUSTO NUNES

A mulher que se dizia filha de Getúlio e o homem que se acha pai do Brasil Maravilha
AUGUSTO NUNES
VEJA ON-LINE


“Vim buscar a chave do Banco do Brasil”, comunicava a mulher negra e miserável que aparecia de vez em quando na minha casa em Taquaritinga. Eu tinha menos de 10 anos e era filho do prefeito. Ela tinha pouco mais de 40 e descobrira que era filha de Getúlio Vargas, de quem herdara o banco estatal. Só fiquei intrigado na primeira visita. Nas seguintes, até tentei esticar a conversa com a doce maluca antes de fazer o que minha mãe ordenara: devia recomendar-lhe que resolvesse o problema com meu irmão mais velho, funcionário da agência local. Pacientemente, Flávio explicava que não podia entregar a chave sem conferir a certidão de nascimento. A filha do presidente prometia buscá-la no cartório. Três ou quatro meses mais tarde, lá estava ela no portão para a reprise do ritual.
Lembrei-me da doida mansa da minha infância ao saber que o presidente Lula registrou em cartório um Brasil que não há. É uma Pasargada retocada por Oscar Niemeyer. Tem trem-bala, aviões pontuais como a rainha da Inglaterra, rodovias federais de humilhar alemão, casa e luz para todos, três refeições por dia para a nova classe média, que reúne os pobres de antigamente. Quem quiser ver mendigo de perto deve voar até Paris e sair à caça de algum clochard. A transposição das águas do São Francisco erradicou a seca e transformou o Nordeste numa formidável constelação de lagos, represas e piscinas. Os morros do Rio vivem em paz e quem mora nas favelas do Alemão não troca o barraco por nenhum apartamento de cobertura no Leblon.
No país do cartório, o governo não rouba nem deixa roubar, o mensalão foi coisa de Fernando Henrique Cardoso, os delinquentes engravatados foram presos pela Polícia Federal, os ministros são honestos, os parlamentares servem à nação em tempo integral e o presidente da República cumpre e manda cumprir cada um dos Dez Mandamentos. Lula fez em oito anos o que os demais governantes não fizeram em 500.  A superexecutiva Dilma Rousseff precisa ser cautelosa para não ser eficiente demais: se melhorar, estraga.
Daqui a alguns anos, é possível que um filho do prefeito de São Bernardo do Campo tenha de lidar com um homem gordo, de barba grisalha, voz roufenha e o olhar brilhante dos doidos de pedra, querendo que a paisagem real seja substituída pela maravilha registrada no cartório. A cobrança da filha de Getúlio tropeçava na falta da certidão de nascimento que o pai do novo Brasil acaba de providenciar. Ele vai avisar que governou a República e reclamar o que lhe pertence sobraçando um calhamaço cheio de selos, carimbos, rubricas e assinaturas.
“Nada é impossível”, disse Lula nesta quarta-feira. Nada mesmo. É possível até imaginar-se um ex-presidente, empoleirado num caixote na praça principal de São Bernardo, exigindo aos berros a existência de um Brasil que inventou.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Zona de incerteza 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 16/12/2010

Quem conhece os bastidores da Câmara avalia que, se Aldo Rebelo (PC do B-SP) suar a camisa, poderá dar trabalho ao Planalto e ao gaúcho Marco Maia, escolhido anteontem candidato do PT à presidência da Casa.
Relator do Código Florestal, Aldo conta com a simpatia da bancada ruralista. Pode atrair ainda deputados do "bloquinho" e da oposição. O PMDB, embora oficialmente comprometido com o petista, tem hoje uma ala bem insatisfeita com a liderança da bancada.
A favor de Maia contam a fragilidade da oposição no início do mandato de Dilma Rousseff e o fato de que PT agirá para conter qualquer "fogo amigo".

Palmômetro O dia era de Lula, mas, quando o presidente chegou ao evento de balanço de seu governo, Dilma, que caminhava a seu lado, foi mais aplaudida.

A grande família O terno azul claro listrado que Antonio Palocci vestia ontem no Planalto lhe rendeu, entre antigos colegas, o apelido instantâneo de "Agostinho", em referência ao personagem do seriado da Globo.

Fui ali Chamou a atenção a ausência de Tarso Genro, ministro durante quase os oito anos de Lula. O governador eleito estava num seminário no Rio Grande do Sul.

Fazer o quê? A contragosto, Dilma selou a ida do deputado Mário Negromonte (PP-BA) para as Cidades. O atual ministro, Márcio Fortes, poderá ser aproveitado em outro cargo no governo.

Mulheres A futura ministra Helena Chagas decidiu promover Yole Mendonça, subsecretária de Comunicação Integrada da Secom, à secretaria executiva da pasta. Ela cuidará da distribuição da verba publicitária da Presidência, hoje nas mãos de Ottoni Fernandes Júnior.

Nem aí Parte significativa dos que votaram contra o pedido de urgência na votação do aumento salarial dos deputados não se reelegeu.

Inovação Sérgio Cabral não fará evento em palácio no 1º de janeiro. Seu segundo mandato no Rio de Janeiro será inaugurado apenas com a cerimônia protocolar na Assembleia Legislativa.

Refundação Aécio Neves assegurou ontem, em telefonema a Geraldo Alckmin, o apoio dos tucanos de Minas ao nome de Duarte Nogueira (SP) para a liderança do partido na Câmara em 2011.

Assim não 1 Jutahy Júnior (PSDB-BA), aliado fiel de José Serra, reclama do comportamento de correligionários: "Candidato da oposição que está mais preocupado em abrir canal com o governo se desqualifica".

Assim não 2 Continua Jutahy: "Tem gente querendo discutir 2014 sem antes cumprir o devido papel de oposição. A questão é que a sociedade não está cobrando de nós um candidato. Está cobrando uma postura".

Visitas à Folha Sérgio Cabral (PMDB), governador reeleito do Rio, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Luiz Fernando Pezão (PMDB), vice, Regis Fichtner (PMDB), senador, Ricardo Cota, subsecretário Comunicação, e Valéria Blanc, assessora de imprensa.

Paulo Pedrosa, presidente-Executivo da Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres), visitou ontem a Folha. Estava com Eduardo Carlos Spalding, vice-presidente do conselho diretor, e Clara Barufi, assessora de comunicação.

tiroteiro

"Para ter problemas com o Orçamento, o governo nem precisou esperar que a oposição tomasse qualquer iniciativa."

DO DEPUTADO EDUARDO GOMES (PSDB-TO), sobre a sucessão de denúncias envolvendo relatores da peça orçamentária de 2011 indicados pelo Planalto.

contraponto

Celebridade parlamentar


Rodrigo Maia (DEM-RJ), ACM Neto (DEM-BA), Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Marco Maia (PT-RS), este último recém-escolhido candidato a presidente da Câmara, saíam juntos ontem do elevador da Casa quando se depararam com um batalhão de repórteres.
-O Marco mal foi anunciado e já está todo mundo atrás dele- comentou, espantado, um dos colegas.
Mas outro logo corrigiu:
-Não é isso! Eles estão correndo atrás do Tiririca!
O campeão de votos foi conhecer a Câmara.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Custo da energia pode ser reduzido para todos, diz entidadeMaria Cristina Frias 
Folha de S.Paulo - 16/12/2010


A Abrace (associação que reúne grandes consumidores de energia) afirma que defenderá redução do custo de energia para todos os consumidores na Aneel (agência nacional do setor).
A agência realiza hoje audiência pública do terceiro ciclo de revisão tarifária das empresas distribuidoras de energia. As tarifas são reavaliadas a cada quatro anos.
Entre 2013 e 2015, vencerão contratos de concessão de usinas como Furnas, Chesf, Cemig e Copel. Cerca de 30% do parque gerador que hoje está com certas empresas não poderia ter concessões renovadas, pela regra atual segundo a Abrace.
O presidente-executivo da entidade, Paulo Pedrosa, afirma que a Abrace aceitaria a renovação das concessões para distribuidoras, desde que em condições mais adequadas para quem consome.
"Queremos que haja um benefício para todos os consumidores. As usinas já foram pagas. O preço da energia deverá refletir a redução de custos operacionais", diz.
"Pagamos, inclusive com empréstimo compulsório, pela construção das usinas", acrescenta Eduardo Carlos Spalding, vice-presidente do conselho diretor da entidade.
"Cada real a menos no custo representa ganho de R$ 8,60 em valor do PIB, com taxa de retorno de 7.600%, segundo estudo da FGV. O governo seria o maior ganhador", diz Pedrosa.

ELETROELETRÔNICO PARA UE E AL
A América Latina e a União Europeia serão o destino de 70% das exportações de eletroeletrônicos brasileiros neste ano. O valor das vendas será de US$ 5,4 bilhões.
A estimativa é da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
Em 2009, as duas regiões compraram 64,3% das exportações de eletroeletrônicos brasileiros.
A participação dos EUA passou de 17% para 14,8%.
O deficit do comércio brasileiro no setor será de US$ 27,5 bilhões em 2010.

Cresce contratação de altos executivos no mercado financeiro

O crescimento da economia em 2010 movimentou as contratações de altos executivos no mercado financeiro.
O número de processos de contratação de profissionais para essa área cresceu 104% neste ano na comparação com 2009, segundo a Fesa, empresa de recrutamento.
Uma das áreas mais demandadas foi a de seguros, previdência e fundos de pensão, que teve alta de 143%.
"É reflexo dos anos de recessão na construção, que não demandava tanta especialização do mercado segurador", diz Thayanie Ujino, diretora da empresa.
O mercado de corretoras e bancos de investimento apresentou alta de 100%, impulsionado pela entrada de novos bancos estrangeiros no Brasil, segundo a Fesa.
"O mercado deverá continuar aquecido no próximo ano. Novas empresas estão se preparando para, em breve, listar suas ações na Bolsa", afirma Ricardo Amatto, da Fesa.

MAPA DA HOTELARIA
A rede de hotéis Pullman, nova marca da Accor cuja chegada ao Brasil foi anunciada há um mês, decidiu a localização de sua segunda unidade no país.
Em Belo Horizonte será construído um empreendimento que, ao lado de outro da marca ibis, soma R$ 150 milhões de investimento, pelo Grupo Maio/Paranasa.
Será inaugurado em 2014 e terá 280 quartos. A primeira unidade será em São Paulo, com investimento inicial de R$ 10 milhões para transformação de bandeira.
A Pullman atende clientes corporativos de alto padrão.

FUSÃO AUDITADA
A empresa de auditoria e consultoria Crowe Horwath RCS assinou ontem um contrato de fusão com a Person Consultoria.
O negócio aponta uma tendência de consolidação das empresas de menor porte no setor, segundo Raul Corrêa da Silva, sócio-fundador e presidente da empresa.
"Somos a sexta deste mercado, que tem as "big four" [quatro grandes: PricewaterhouseCoopers, Ernst & Young, Deloitte e KPMG]", afirma Silva, que estuda novos negócios.
"Para operar neste setor, é preciso ser uma grande ou uma butique", diz.
Esta não é a primeira operação realizada pela empresa no caminho da consolidação. No ano passado, a RCS Brasil se uniu à Tufani, Reis & Soares Auditores Independentes.
Com mais cem profissionais a partir desta fusão, a empresa eleva para 350 pessoas sua equipe no mercado. O faturamento ficará em cerca de R$ 36 milhões e a previsão de crescimento é de 15% para o próximo ano.

Falências e... O número de falências decretadas caiu 33% em novembro em relação ao mesmo mês de 2009, segundo pesquisa da Equifax. Na comparação com outubro, porém, houve alta de 11%.

...recuperação judicial
Já o número de recuperações judiciais deferidas cresceu 10% no mês passado na comparação com novembro de 2009. O volume de pedidos, entretanto, caiu 19%.

PARA POUCOS
A Halls escolheu uma cidade de 805 habitantes para o lançamento de um produto. Todos os moradores do município de Borá, a 490 km de São Paulo, ganharão amostra do novo dropes da marca em eventos na cidade.
Segundo a empresa, a decisão foi tomada pela similaridade do novo dropes com o tamanho do município, considerado o menor do Brasil.

MÍRIAM LEITÃO

Em causa própria 
Miriam Leitão 

O Globo - 16/12/2010

Um Congresso que não consegue ter um relator para o Orçamento aprova um aumento salarial de 62% para os parlamentares e de 130% para ministros e presidente da República. Este é o resumo desse final de legislatura. O Orçamento está no terceiro relator e os três enfrentam o mesmo tipo de dúvidas: emendas que beneficiam entidades às quais estão ligados seus parentes ou assessores.

Qualquer aumento de salário de parlamentar vai sempre provocar reações na opinião pública, mesmo quando forem justificáveis. Mas, no caso, o Brasil desconhece reajustes de preços em percentuais tão altos desde que derrubou a hiperinflação. Nenhum trabalhador conseguiria seu objetivo se pedisse reajuste de 60% a 130%.

Os deputados e senadores brasileiros têm vários outros benefícios dos quais a imprensa tem falado com frequência. Auxílios para transporte, para correspondência, verba de representação, benefícios frequentemente usufruídos de forma ilegítima. Tantas notícias sobre os desvios no uso dessas verbas, e os escândalos, foram esgarçando a confiança dos eleitores nos deputados e senadores. Aí, no final de uma legislatura tumultuada, quando não se sabe se haverá relatoria para o Orçamento, os deputados aprovam um decreto legislativo legislando em causa própria, dos ministros, da próxima presidente e, indiretamente, para deputados estaduais do país todo. No mesmo dia, numa agilidade desconhecida em outras matérias, o Senado também aprova o projeto. Fazem neste 15 de dezembro por truque, e não por falta de tempo. Logo virá o recesso e, no ano que vem, assumirá novo Congresso. Esse, que está velho, ficará com o desgaste. A aposta geral é que a reclamação não virá porque será esquecida nas festas de fim de ano.

Melhor é que o Congresso tivesse argumentos para defender o reajuste dos seus salários no início da Legislatura. Pior é a maneira como se faz: a 15 dias do fim do ano, vota-se que o tema é “urgente” e, em seguida, aprovase o mérito em votações simbólicas, porque assim não se sabe quem votou ou deixou de votar. A tese para justificar o aumento também não faz sentido algum: a de que é para que todos tenham “isonomia” em relação aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Eles, por sua vez, estão com novos pedidos de aumentos para o Judiciário também na casa dos 50%, num país em que 5% é inflação alta. O risco de um reajuste com esse motivo é de novo consagrar aquela corrida do passado. Na hiperinflação, os funcionários do Banco do Brasil pediam aumento alegando que era para ter isonomia com os funcionários do Banco Central. Aí os funcionários do Banco Central conseguiam outro aumento e começava de novo a rodada.

O Orçamento chegou ao Congresso inchado e com receitas superestimadas, o Congresso está elevando ainda mais os gastos, criando novas receitas fictícias para cobrir emendas de parlamentares. O presidente Lula avisou que o governo terá que cortar despesas. Em parte por culpa do presidente que deixa o cargo em duas semanas, que permitiu uma gastança espantosa neste último ano em que pagou qualquer preço — com o dinheiro dos contribuintes — para garantir a eleição da sua candidata. O novo governo tomará posse com um orçamento de faz de conta, isso se houver tempo de aprovação da peça orçamentária.

O Congresso passou o ano inteiro com mais sessões suspensas do que realizadas, por causa da campanha, e ontem aprovou com uma rapidez impressionante um aumento salarial para si mesmo. Fatos assim estão minando a relação com os representados. Ao contrário do que os políticos gostam de dizer, esse desgaste não é causado pela ausência de uma reforma política e sim pelo mau comportamento dos parlamentares. Que tivessem a coragem de explicar e justificar o reajuste, que votassem no tempo regulamentar, que convencessem a sociedade da necessidade do aumento e que cada congressista votasse com seu rosto e nome. O inaceitável é que os políticos tomem uma decisão polêmica em votação simbólica, em regime de urgência, na penúltima semana da Legislatura. Votam como se estivessem prontos para, em seguida, fugir do flagrante.

Um sinal assustador ronda essa Legislatura, nesta queda em dominó de relatores do Orçamento: o da suspeita de estarmos diante de um novo escândalo como o dos anões do Orçamento. Em 1993, descobriu-se um esquema de fraudes em emendas parlamentares que beneficiavam uma sucessão de deputados e foi o início de uma CPI que terminou em cassação de mandatos. Desta vez, o senador sem voto — mas com amigos — Gim Argello foi o primeiro a renunciar ao ser atingido pela suspeita de ter apresentado emendas ao orçamento para beneficiar empresa de um filho. Em seguida, diante da primeira suspeita sobre a senadora Ideli Salvatti, ela também renunciou ao cargo. A senadora Serys Slhessarenko foi atingida quando se descobriu que sua assessora Liane Muhlenberg é diretora de uma ONG beneficiada por uma emenda. A senadora disse que nada sabia, que foi traída pela assessora, mas ontem a “Folha de S.Paulo” lembrou que há oito meses em entrevista ao jornal a senadora demonstrou conhecer os vínculos de sua assessora com a ONG.

O presidente Lula disse que na democracia é assim mesmo: escolhe-se um parlamentar, depois se houver algum problema, é só tirar e procurar outro. Banaliza mais uma vez o mau comportamento . Após três problemas sequenciais, o que será que se deve fazer com o Orçamento? Provavelmente deixar a aprovação para o ano que vem, porque os parlamentares têm algo mais relevante: aumentar os próprios salários.

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Quinta, a feira 13 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 16/12/2010

Discretamente, sem alarde, a Secretaria da Fazenda paulista, aliada à PF, deflagrou ontem, pela manhã, operação batizada de Treze Listas. Contra sonegação no setor de alumínio em todo Estado, conforme adiantou ontem esta coluna em seu blog.

Entraram em 52 empresas com 130 fiscais, apoiados por 20 policiais civis do setor de crimes contra a Fazenda. Fizeram o quê? Apreensão de livros, documentos fiscais e arquivos digitais. Além de conferirem estoques, máquinas e equipamentos em operação.

Quinta 2

Tudo por causa da persistente sonegação no setor do alumínio, principalmente na área de sucata. Durante três meses, a secretaria mapeou empresas, chegando a conferir algumas no Rio, onde encontrou estabelecimentos de "fachada".

Coincidência: 13 é o número atômico do alumínio.

Triste, o enredo Caso raro, diretora do Teatro Oficina perdeu a guarda do filho de três anos, passou mal e está internada na UTI. Oficial de Justiça chegou a apreender 30 horas de gravações da companhia de Zé Celso para tentar provar que a criança convivia com cenas de sexo.

Desconfia-se de influência da tia-procuradora e de político ligado ao pai. Paula Casalderrey, advogada do lado paterno, rejeita a tese de favorecimento. "Só posso garantir que existem provas contundentes no processo", afirmou.

Home is here

Clifford Sobel, ex-embaixador americano no Brasil, se uniu a Angra Partners, com Pedro Paulo Campos e Ricardo K. Vão montar e administrar fundo de investimento.

Home, sweet

Tem nome a operação anunciada anteontem, dando à Petrobrás, novamente, 100% do controle da Refab: Odisseu. O nome grego de Ulysses, quando estava voltando para casa.

Gaiola

Alexandre Nardoni segue firme sua rotina de trabalho na Penitenciária de Tremembé. Ele não terá direito a indulto de Natal.

Dupla dinâmica

Lula deve descer a rampa do Planalto ao lado de José Alencar. A equipe do Sírio-Libanês programa alta do vice para a semana que vem.

Camisa 10

Além de Adriano, o Corinthians tem um "segundo" sonho de consumo: Carlitos Tevez. Negociações em andamento.

Arte on-line

Acontece em janeiro a primeira edição da Feira de Arte VIP -sigla para "Viewing in Private". Já conta com 139 galerias inscritas que pretendem comercializar obras.... na internet.

Amigos nada secretos

O jantar do PC do B, anteontem, em Brasília, foi marcado por apoios a Orlando Silva. Passaram por lá, dentre outros nomes, Fernando Haddad, Alexandre Padilha, Zé Dirceu e José Eduardo Cardozo.


Na frente


O Real Madrid não liberou Kaká. Portanto, ele e Caroline Celico não vêm mais ao Brasil para as festas de fim de ano. O que obriga os pais do jogador, "grávido" de uma menina, a terem que se deslocar até a Espanha.

A Conectas declarou apoio à decisão da OEA de condenar o Brasil no caso Araguaia.

Paulo Borges decidiu: fará documentário dos 15 anos da SPFW. Será exibido na GNT.

Acontece hoje o Natal do Bem, organizado por João Doria. Com direito a show de Victor e Leo, no Hyatt.

Isay Weinfeld foi incumbido de fazer o projeto de mais uma Livraria da Vila. Desta vez, de uma nova unidade no Pátio Higienópolis.

Ante a gafe sobre aborto essa semana, Sérgio Cabral provavelmente adotará nas próximas eleições a linha "esqueça o que eu disse". Dilma, na campanha, fez isto.

MÔNICA BERGAMO

ATAQUE EM GRUPO 
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/12/10

A Defensoria Pública de SP vai entrar com processo administrativo contra Jonathan Lauton Domingues, 19, e os quatro adolescentes acusados de agredir cinco pessoas na avenida Paulista, em novembro. Eles serão denunciados na Secretaria da Justiça, com base na lei estadual que pune a homofobia. A Defensoria pedirá multa máxima, de R$ 16,4 mil, para cada um dos envolvidos. O caso correrá paralelamente ao processo criminal. 

NÃO FOI HOMOFOBIA 
Davi Gebara Neto, advogado de um dos menores, diz que "não houve homofobia, no nosso entendimento, mas faremos a defesa quando formos intimados". Os defensores dos outros acusados não foram encontrados até o fechamento da coluna. 

À MESA COM HEBE 
Amílcare Dallevo, presidente da Rede TV!, jantou anteontem na casa de Hebe Camargo, com quem a emissora negocia. Cláudio Pessutti, sobrinho e empresário de Hebe, diz que Dallevo "é nosso amigo pessoal. Jantamos juntos toda semana. E se fosse para tratar desse assunto [ida para a Rede TV!], não seria com ele". 

GRUPO FECHADO 
O Club Set, de Miami, ganha filial na avenida Faria Lima em 2011. A balada, que tem entre os sócios Marcus Buaiz, do Royal, e Rubens Zogbi, da Kiss & Fly, dará cartões de acesso a 300 clientes preferenciais. 

OS DOUTORES FALAM, O GOVERNADOR ANOTA 

Há alguns dias, o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, embarcou num helicóptero com Giovanni Cerri, futuro secretário da Saúde, e com o cardiologista Roberto Kalil Filho rumo à casa do urologista Miguel Srougi, num condomínio perto de Bragança Paulista (SP). Lá ele se encontrou com um grupo de 30 médicos -a maioria da Faculdade de Medicina da USP -para ouvir críticas e sugestões sobre a área da saúde. 
Sentado numa lareira, Alckmin anotou, num caderno universitário, cada uma das intervenções -ele faz isso até com seus auxiliares mais próximos, "sempre que leva a conversa a sério", diz um deles. 
O primeiro a falar foi Srougi. Ele comparou os gastos de outros países com os do Brasil. "Nos EUA, são US$ 6.400 anuais por habitante. No Canadá, US$ 4.500. E, no Brasil, US$ 270. Se nossos governantes não se convencerem de que é preciso investir mais, vamos viver sempre nessa situação indigente." Ele citou também uma pesquisa sobre o atendimento no SUS que mostrava que a primeira reclamação dos pacientes é a de que não conseguem conversar com os médicos. "As pessoas simples não chegam a eles." 
Srougi disse ainda que, "se as pessoas pobres não conseguem falar com os médicos, os programas de saúde da família têm esse papel. Eles chegam às casas das pessoas". Ele criticou as AMEs, ambulatórios médicos de especialidades que viraram vitrine do governo de SP. "Eu estou decepcionado. Elas são muito onerosas. As pessoas não chegam bem nas AMEs." Para ele, se o governo combinar políticas de consórcios intermunicipais de saúde, em que uma cidade vira a sede para atender pacientes de municípios vizinhos, com programa da família, "podemos fazer uma revolução".

"O SUS é fantástico, idealmente muito bom, admirado em fóruns internacionais", disse o infectologista Marcos Boulos. "Só falta funcionar." Hoje as pessoas demoram "até quatro meses" para serem atendidas. Ele diz que é possível melhorar a organização e o fluxo do sistema se o médico do SUS que atende o paciente na primeira vez marcar para ele as consultas especializadas e os exames necessários (sangue, tomografias) para o tratamento da doença diagnosticada. O professor Milton de Arruda Martins endossou: "Todos, ricos e pobres, têm que ter o seu médico". 
Um dos últimos a falar, Kalil, médico do presiente Lula e de Dilma Rousseff, disse que a presidente eleita está disposta a ser "seu próprio ministro da saúde". "Ela tem uma ótima relação com o senhor e quer fazer." Alckmin mais uma vez anotou no caderninho.

RODÍZIO CONTINENTAL 
A TV Globo vai reativar seu escritório em Paris em 2011. Marcos Uchôa assumirá o posto. Delis Ortiz, de Brasília, irá para Buenos Aires, Carlos de Lannoy trocará a Argentina pelo Oriente Médio, e Elaine Bast irá para Nova York. Ari Peixoto, que passou quatro anos no exterior, ficará na capital federal. 

MARATONA 
A Cruz Vermelha está leiloando objetos de atletas, como uma touca do nadador César Cielo, uma camiseta do tenista Gustavo Kuerten e luvas do goleiro são-paulino Rogério Ceni. Eles serão vendidos até segunda no site Mercado Livre. 

FIGURINHA REPETIDA 
Separado da atriz Scarlett Johansson após dois anos de casamento, o ator Ryan Reynolds está "procurado conforto" em uma ex-namorada, segundo a revista americana "US Weekly". 

CURTO-CIRCUITO

Rodolfo Konder autografa hoje, às 10h, "Nosso Rio Barrento e Torturado", livro com artigos sobre a ditadura militar, na sede da ABI-SP. 

Zeca Baleiro comanda hoje, às 22h, o Baile do Baleiro, com participação de Luiz Ayrão, no Estúdio Emme. Classificação: 18 anos. 

Roberto Muylaert será reeleito hoje presidente da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas). 

O Núcleo Cinematográfico de Dança estreia hoje, às 20h, o espetáculo "O Que Resta de Quatro", na sala Paissandu da galeria Olido. 12 anos. 

com DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Hebe trocou de Silvio!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/12/10
E apelidaram a fofoqueira daqui do meu prédio de WikiLeaks, porque só causa constrangimento


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do País da Piada Pronta: "Geisy Arruda faz tratamento de bumbum na Clínica FACIALL". Rarará. E ela vai sair como? Com facial de bumbum?!
E um amigo chegou ao aeroporto para fazer o check-in, e a moça do atendimento perguntou: "Que poltrona o senhor quer?". A POLTRONA DE CASA! Rarará!
E socuerro! A Hebe trocou de Silvio. Parece que vai para a RedeTV!. Fazer par com o Silvio do "Pânico"! Rarará. Ou então apresentar o "Dr. Hollywood"!
A Hebe me contou que botou silicone nos peitos porque, toda vez que ia pular corda, ficava com o olho roxo. Rarará!
Aliás, ela esticou tanto que a perereca foi parar no queixo, virou cavanhaque! Rarará! E o Silvio Santos não parece de cera? Parece. Parece uma vela de sete dias de gravata! Rarará!
E o WikiLeaks? Apelidaram a fofoqueira daqui do prédio de WikiLeaks. Causa constrangimento no elevador! E a Suécia tá querendo ferrar com o Assange, o criador do WikiLeaks! E sabe como se chama o museu mais famoso da Suécia? MUSEU VASA! E aí o Assange vazou. Isso que é piada pronta! Rarará.
E o WikiLeaks revela que os Estados Unidos são o país mais religioso do mundo: "Todo santo dia joga bomba num país esquisito. RELIGIOSAMENTE".
E mais um predestinado. Sabe como se chama o goleiro do Mazembe? Aquele time do Congo que gongou o Inter? KIDIABA! Goleiro Kidiaba!
Sabe como se chama o presidente da Câmara de Belo Horizonte, que é do PSDB? Léo BURGUÊS. Quando ele nasceu, a mãe disse: "Meu filho, você vai se chamar Léo Burguês e vai entrar para o PSDB". Rarará!
E a Globo pergunta: "Afinal, o que Querem as Mulheres?". As mulheres querem que a Globo retire essa porcaria do ar. Rarará!
O brasileiro é cordial! A volta do Gervásio. Mais um cartaz que o Gervásio colocou na empresa em São Bernardo: "Se por acaso eu pegar o estupor que usou o ar comprimido para limpar marmita, vou fazer o cabra comer o resto de comida com cavaco de torno para moer as tripas. Conto com todos. Assinado: Gervásio". E o Lula ainda pretende voltar para São Bernardo? Para encarar o Gervásio? Rarará!
A situação está ficando psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ILIMAR FRANCO

Negromonte 
 Ilimar Franco 

 O Globo - 16/12/2010

Depois de ter feito escolhas que desagradaram às bancadas do PMDB e do PT, ontem a presidente eleita, Dilma Rousseff, atendeu a bancada do PP e definiu que o deputado Mário Negromonte (BA) será o ministro das Cidades. Sua decisão foi comunicada ao presidente do partido, senador Francisco Dornelles (RJ), e o convite a Negromonte será feito nos próximos dias. O atual ministro, Márcio Fortes, será aproveitado em outra função.

Maomé vai à montanha
Está elevada a autoestima da Polícia Federal. Ontem de manhã, numa atitude incomum, o futuro ministro José Eduardo Cardozo foi à sede da PF e por três horas reuniuse com o diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, e demais diretores. Cardozo queria conhecer a distribuição dos efetivos da polícia e os projetos de cada uma das diretorias. À tarde, recebeu da Federação dos Delegados uma lista de indicações obtida pelo voto da categoria. Na transição, diz-se que o nome mais forte é o do superintendente no RS, Ildo Gasparetto. Na cúpula da PF, a torcida é pelo diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Troncon.

Depois da posse
A criação efetiva do Ministério das Micro e Pequenas Empresas e a escolha do futuro ministro deve ficar para depois da posse, em janeiro. A presidente eleita, Dilma Rousseff, só vai fechar seu Ministério na próxima terça-feira (21).

Sondagem
O deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que não se reelegeu, está para ocupar um cargo no Ministério da Justiça. Ontem à tarde, ele participou de uma longa reunião com o futuro ministro José Eduardo Cardozo. Depois disso sumiu.

A candidatura Aldo Rebelo
O Bloquinho, formado por PSB-PDT-PCdoB, vai se reunir na terça-feira para decidir se disputará as eleições para a presidência da Câmara. O DEM e o PRB têm simpatia pelo lançamento do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o cargo. Até lá, o PSDB, que decidiu reexaminar sua posição diante da escolha de Marco Maia pelo PT, anuncia se apóia ou não uma segunda candidatura dos partidos da base do governo Dilma.

Dilma: entre dois nomes na Saúde
O nome do futuro ministro da Saúde ainda não foi definido pela presidente eleita, Dilma Rousseff. Ontem, seus auxiliares diretos diziam que os nomes mais fortes para o cargo eram: o superintendente do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, Gonzalo Vecina; e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Vecina tem o aval da senadora Marta Suplicy (PT-SP). Padilha tem apoio no Congresso e dos funcionários da pasta. Ele é servidor de carreira da Funasa.

DERROTADO oculto na disputa interna do PT: o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) também viu fecharem a porta à sua pretensão de voltar a comandar a Casa.

O FUTURO ministro da Previdência, Garibaldi Alves, convidou, ontem, e o atual ministro, Carlos Eduardo Gabas, vai voltar para a Secretaria-Executiva da pasta.

POMPOSO. Ontem, na solenidade dos oito anos do governo Lula, o ex-ministro José Dirceu respondeu para um repórter: “Eu não vou falar nada, porque tudo que eu falo vira manchete.”

COTA

MERVAL PEREIRA

Mundo novo 
 Merval Pereira 

O Globo - 16/12/2010

Nada mais característico dos tempos atuais do que o criador do Facebook, Mark Zuckerberger, ter sido escolhido, aos 25 anos, a personalidade do ano pela revista “Time”. E, mais significativo ainda, a opção era Julian Paul Assange, 39 anos, criador do WikiLeaks, blog que vem provocando uma revolução no mundo dos governos e do jornalismo ao divulgar correspondências sigilosas de autoridades americanas em redor do mundo.

Os dois têm uma característica comum: são originalmente hackers, jovens especialistas em computadores que têm capacidade técnica de alterar ou aperfeiçoar programas e até mesmo invadir sistemas por mais sofisticados que sejam.

Zuckerberger foi o escolhido por “conectar mais de meio bilhão de pessoas e mapear as relações sociais entre elas; por criar um novo sistema de troca de informações e por mudar a maneira como todos nós vivemos.” Informação, e como ela circula pela internet, parece ser a chave dessa revolução.

O sociólogo Manuel Castels, um dos maiores estudiosos desse novo mundo tecnológico, afirma em seu novo livro, “Comunicação e poder”, que o poder se baseia no controle da comunicação, e em recente artigo no jornal espanhol “La Vanguardia” diz que “a reação histérica dos Estados Unidos e outros governos contra o Wiki- Leaks confirma isso”.

Para ele, “entramos em nova fase da comunicação política”. Da mesma maneira, alguns governos temem o grande arquivo de dados do Facebook e a facilidade com que ele pode ser usado para formar redes e espalhar informações.

A China bloqueou o site desde 2009, Irã, Paquistão e Arábia Saudita proibiram o Facebook em diversas ocasiões.

Castels diz que a reação à ação do WikiLeaks não se dá “tanto porque se revelem segredos ou fofocas”, mas porque eles se espalham “por um canal que escapa aos aparatos de poder”.

A Revolução Digital, diz Rosental Calmon Alves, professor brasileiro da Universidade do Texas, tem como impacto mais importante a repartição de poder dos meios de comunicação de massa com os indivíduos.

É o que Castels chama de “a sociedade civil global”, que tem agora os meios tecnológicos para existir independentemente das instituições políticas e do sistema de comunicação de massa.

O sociólogo, professor da Universidade Southern California, ressalta que ninguém contesta a veracidade dos documentos vazados, e o vazamento de confidências “é a fonte do jornalismo de investigação com que sonha qualquer meio de comunicação em busca de furos, desde Bob Woodward e sua G a r g a n t a P r o f u n d a n o “Washington Post”. A difusão da informação supostamente secreta é prática usual protegida pela liberdade de imprensa”.

Para ele, a diferença é que “os meios de comunicação estão inscritos num contexto empresarial e político suscetível a pressões quando as informações resultam comprometedoras”.

Para o jurista Joaquim Falcão, diretor da faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas no Rio, a questão está definida na primeira emenda da Constituição americana, que distingue a “liberdade de expressão” da “liberdade de imprensa”, sendo a primeira um conceito mais amplo.

Para Falcão, liberdade de expressão é o gênero, e a liberdade de imprensa é a espécie, mas esta depende da primeira.

“O novo nisso é saber se os padrões, os hábitos, a cultura do jornalismo tradicional se aplicam a esse novo mundo da internet”, comenta Falcão. Para ele, o vazamento de informações da forma que é feita pelo WikiLeaks obedece a padrões diferentes, disponibiliza tudo e retira do jornalista a capacidade de selecionar informações.

Rosental Calmon Alves reconhece que, além do desafio de governos e instituições para proteger seus documentos sensíveis, há outro desafio criado para os jornalistas, que estão fazendo de tudo para se capacitar a lidar não só com vazamentos, mas com a análise e a narrativa de enormes volumes de dados que encontram pela frente.

Uma nova disciplina está se criando no jornalismo para lidar com isso: em inglês, database journalism ou data-driven storytelling. Ou seja, como tirar boas histórias ou reportagens dos arquivos.

Rosental destaca que o Wiki- Leaks foi fundado na melhor das tradições do alerta da sociedade, aquele informante que, geralmente indignado com algo criminoso ou imoral, decide vazar uma informação, como forma de denunciar o erro e tentar com que os culpados sejam punidos, cujo exemplo emblemático é o caso Watergate.

O problema dos últimos megavazamentos, diz ele, é que se trata de algo “tão volumoso que parece indiscriminado”. Uma coisa, diz Rosental, é o vazamento do vídeo mostrando um ataque contra civis no Iraque, a conversa insensível dos militares etc., ou seja, um caso concreto a denunciar.

“Outra coisa é expor milhares e milhares de telegramas confidenciais das embaixadas ou informes de campo de soldados.” Mas ele ressalta também que “o maior mito deste episodio é dizer que o WikiLeaks divulgou todos os telegramas, indiscriminadamente”.

Segundo Rosental, os 250 mil documentos não foram publicados na internet, mas entregues a jornalistas responsáveis que se comprometeram a filtrálos e publicá-los de maneira condizente com seus princípios éticos e profissionais.

“Nem o WikiLeaks publicou tudo o que recebeu nem a imprensa publicou indiscriminadamente”, define.

O papel da imprensa não é guardar segredos do governo, mas ela faz bem ao fazer concessões e não publicar certas informações que ponham em risco a vida de pessoas citadas, ressalta Rosental — concordo com ele, este é um ponto fundamental na discussão.

O fato é que a ciberguerra começou, como define Manuel Castels, guerra entre os Estados e a sociedade civil internauta.

Para alguns, como o crítico Christopher Hitchens, Julian Assenge não passa de um “megalomaníaco inescrupuloso com uma agenda política”.

Para a revista inglesa “The Economist”, ele tem que ser processado. Já o WikiLeaks em seu editorial se propõe a difundir documentos classificados (reservados, confidenciais ou secretos), em nome da “transparência e da prestação de contas”.

Eu acho que ele tem mais de anarquista do que de jornalista. Mas o fato de ter escolhido sete jornais pelo mundo, entre eles O GLOBO, para divulgar os documentos, mostra que o jornalismo tradicional é instrumento de credibilidade nesse novo mundo da informação.

DORA KRAMER

Autocombustão
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 16/12/10
Há alguns meses o ex-deputado e dirigente petista José Dirceu foi repreendido pelo comando da campanha da então candidata Dilma Rousseff, por ter dito numa reunião de petroleiros em Salvador que o PT pós-Lula na Presidência da República iria finalmente chegar de fato ao poder.


A declaração foi considerada contraproducente do ponto de vista eleitoral: poderia desestimular o eleitorado ainda arisco por causa das peripécias de mensaleiros e aloprados, além de irritar os partidos aliados, notadamente o PMDB, que alimentavam a esperança de herdar capitanias mais substanciais na Esplanada dos Ministérios.

Pela conformação inicial da equipe de Dilma vê-se que Dirceu na época relatara a verdade aos companheiros. O PT ficou com a parte do leão e mais um pouco. Ao ponto de deixar o PMDB com o sapo engasgado para ser expelido em ocasião propícia.

Não obstante os privilégios concedidos, o partido continuou insatisfeito. Achou que há paulistas demais no ministério, que há espaço de menos para essa ou aquela tendência, que o PT de Minas tão sacrificado merecia mais que apenas abrigar Fernando Pimentel.

Achou também que deveria descontar na disputa pela presidência da Câmara, de onde a bancada implodiu as candidaturas de Cândido Vaccarezza e Arlindo Chinaglia em favor do gaúcho Marco Maia.

Quem? Pois é. Pouca gente sabe até mesmo se terá votos suficientes para se eleger.

Problema dos deputados e do PT, dirão os leitores. Mais ou menos: da última vez que o PT resolveu misturar suas brigas internas com a presidência da Câmara, foi eleito Severino Cavalcanti.

O partido quis agradar à esquerda, amuada desde que Lula resolvera governar com a política econômica do antecessor, e lançou Luiz Eduardo Greenhalgh sem levar em conta suas chances eleitorais. Era favorito, por ser apoiado pelo governo, mas perdeu.

Agora a lógica da briga interna prevalece outra vez. Queira o bom senso que não resulte no mesmo tipo de desastre.

Come cru. A pressa foi realmente inimiga da perfeição para os deputados favoráveis à aprovação do projeto de legalização dos bingos. Contrariando todas as expectativas, a Câmara rejeitou por expressivos 212 votos a 144.

Quiseram atropelar o processo, votar em regime de urgência aproveitando a distração geral com a formação do ministério, mas a atuação das áreas técnicas dos Ministérios da Fazenda e da Justiça junto à Receita e à Caixa Econômica Federal esclarecendo os malefícios do projeto foi fundamental para a derrota.

O lobby do jogo fica informado de que é preciso mais que uma aliança com a barra pesada do Parlamento para conseguir seu intento. É preciso, sobretudo, apresentar uma proposta decente a ser negociada com a sociedade e todas as instâncias de fiscalização da atividade em si e de prevenção à criminalidade.

Seria ponto a favor da Câmara se no dia seguinte os deputados não tivessem se reunido para aprovar um imerecido aumento de salário, considerando o desempenho de suas excelências na última legislatura, que começou com a farra das passagens e termina com a farra das emendas ao Orçamento.

Uma de duas. É verdade que o Exército resiste - e com razão - à transformação de seus batalhões em tropas de ocupação dos morros do Rio. Os militares alegam que a função deles não é essa e que há o receio de soldados terminarem sendo cooptados pelo crime.

Mas é verdade também que o efetivo das Polícias Civil e Militar, cujo trabalho inclui a cobertura do Estado todo, não é suficiente para assegurar a vigilância necessária aos territórios recentemente retomados pelo poder público na cidade do Rio de Janeiro. Até porque o cronograma da Secretaria de Segurança previa essa ação mais à frente.

Logo, ou se aumenta o efetivo policial em proporção inexequível em curto prazo ou não há jeito: o Exército precisa ficar. Só que as autoridades, estaduais e federais, têm a obrigação de assegurar a prevenção dos danos da referida contaminação.

GOSTOSA

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Equação de segundo grau para todos!
Carlos Alberto Sardenberg
O GLOBO - 16/12/10

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), que avalia estudantes de 15 anos de 65 países, consiste de três provas: leitura, matemática e ciências. Os testes são preparados de modo a driblar os decorebas. Medem se o aluno entendeu o que estudou. Não apenas se sabe ler, mas se consegue interpretar um texto e tirar conclusões. Idem para matemática: partir de fórmulas e resolver problemas, situações.

Por que essas três disciplinas? Porque se entende, mundo afora, que todo o resto vem a partir dessa base. Na vida profissional, por exemplo, trata-se do conhecimento e do aprendizado necessário para operar uma máquina ou instrumento eletrônico a partir do seu manual. Mas também é a base para que o cidadão possa entender, interpretar e julgar o discurso, digamos, do presidente da República.

Os alunos brasileiros, embora tenham avançado, apareceram nos últimos lugares no Pisa de 2009. Como é talvez o mais respeitado teste de avaliação no mundo, o governo brasileiro, via Ministério da Educação, tem metas ali. Conforme o projeto do Plano Nacional de Educação 2011-2020, lançado ontem pelo presidente Lula e pelo ministro Fernando Haddad, o objetivo é que os alunos brasileiros saltem da média de 395 pontos, obtida em 2009, para 473 em 2021 (o teste é feito a cada três anos).

Logo, todo o esforço deveria se concentrar nas três disciplinas essenciais do ensino fundamental, português, matemática e ciências, certo? Errado. Tem ocorrido exatamente o contrário. Há movimentos, via votação de projetos de lei no Congresso, para acrescentar mais matérias ao currículo, sem aumentar o número de dias letivos ou o número de horas de aula/dia.

Filosofia, sociologia, música, psicologia, cultura indígenas e africanas ? essas são matérias já incorporadas ou a caminho disso. O argumento: a escola não deve formar apenas bons alunos ou bons profissionais, mas cidadãos responsáveis.

Uma primeira observação: se fossem formados "apenas" bons alunos, já seria um enorme êxito, não é mesmo?

Outra: se o objetivo faz sentido, formar cidadãos, o acúmulo de matérias não resolve nada. E dá perfeitamente para formá-los sem essas matérias. Humanidades, por exemplo: nas aulas de português, os alunos podem ler textos de filosofia, sociologia, psicologia etc. Muitas vezes nem precisa: há muita psicologia, por exemplo, num conto de Machado de Assis bem lido e compreendido.

Agora, consideram a música. Qual a melhor maneira de ensinar ou, antes disso, estimular o interesse das crianças? Tocar instrumentos, na verdade, apresentá-los aos meninos e meninas para que comecem brincando com eles. Com o tempo, formam-se bandas, conjuntos, orquestras. Ora, eis uma excelente atividade para os fins de semana nas escolas.

Qual a melhor e mais atraente maneira de conhecer a cultura indígena? Visitando as aldeias, estando com os povos. Outra excelente atividade para feriados e mesmo para uma parte das férias, por que não?

O problema, reconhecemos, é que isso dá trabalho e toma tempo. Também custa algum dinheiro. Vai daí que, podem apostar, essas boas intenções terminam em desastres. Colocam na grade curricular uma aula de música por semana, pura falação, sem instrumentos, outra de sociologia e culturas antigas, sem sequer boas fotos em Power Point, e acabou.

Torra a paciência dos alunos, rouba tempo do ensino de português, matemática e ciências, para quê? Vamos falar francamente: além de dar emprego a formados nessas matérias, não serve para nada.

Assim, o ensino, que já é precário nas três disciplinas essenciais, torna-se também ruim em humanidades, artes e cidadania. (E por falar nisso, também nas escolas para povos indígenas é preciso ensinar as mesmas três disciplinas. Equação de segundo grau é igual para todos).

O Plano Nacional de Educação foi bem recebido entre educadores, especialmente pelo foco. Em vez das 295 (!) metas do plano anterior, desta vez foram definidas "apenas" 20, efetivamente prioritárias. Foco ? eis o caminho correto.

Problema: o projeto tem de ser aprovado pelo Congresso, onde é grande a chance de aparecerem mais algumas centenas de metas que interessam a lobbies e corporações. Seria mais uma pena.

A educação brasileira tem avançado, mas, como partiu lá de trás, os progressos são claramente insuficientes. A nossa escola pública não corresponde a um país com a oitava economia do mundo. Isso exige mais do que avanços burocráticos, requer envolvimento nacional, além, é claro, de mais dinheiro e mais competência no uso dos recursos. E tudo pelo bom professor.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG é jornalista.

CELSO MING

Eficácia duvidosa
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 16/12/10

Afinal, saiu ontem o tão prometido pacote de estímulos a investimentos de longo prazo. Ainda vai ser necessário conferir os detalhes, lá mesmo onde mora o diabo, mas a novidade vem com problemas a enfrentar.


A questão de fundo é conhecida. Não há no Brasil recursos de longo prazo que possam financiar investimentos de muitos anos de maturação. O BNDES fez alguns milagres e alguma mandracaria para desembolsos de R$ 137 bilhões em 2009 e de R$ 146 bilhões em 2010. Embora seja um volume bastante alto, mesmo para padrões internacionais, esses recursos são de longe insuficientes para as necessidades de cobertura para os projetos de infraestrutura que o País tem de enfrentar nos próximos quatro anos.

As aplicações de longo prazo ontem anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, serão beneficiadas com isenção de Imposto de Renda, extensiva também a estrangeiros, desde que mantenham esses títulos em carteira pelo prazo mínimo de dois anos.

A maior dificuldade é o fato de que esses ativos estarão competindo com os títulos do Tesouro Nacional, que, além de proporcionar garantia praticamente total, no momento estão pagando juros de 10,75% ao ano. Em princípio, para atrair interesse, mesmo com isenção tributária, as debêntures devem pagar alguma coisa mais do que isso. As Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito Agrário (LCA) também são isentas de Imposto de Renda e pagam até mais do que a DI e não são lá grande sucesso de volume no mercado.

Não está claro até que ponto os investidores serão atraídos pelos novos títulos. Se forem sedutores e tiverem uma remuneração compensatória, o custo do financiamento de longo prazo também poderá ficar mais alto e, assim, encarecer os projetos de infraestrutura.

Até agora, fracassaram todas as tentativas anteriores de se criar um mercado de títulos de longo prazo no Brasil. E o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, acaba de reconhecer que nem mesmo um esquema de financiamento das exportações, com garantia em dólares, tão prometido e tão aguardado, não conseguiu decolar. Será um portento se esse novo pacote tiver boa aceitação.

Hoje, as condições da economia já são mais previsíveis e é possível fazer apostas com horizontes mais largos. Mas, decididamente, quatro anos de prazo para títulos que, em princípio, deverão pagar remuneração prefixada ainda parece condição desvantajosa em relação às outras opções existentes do mercado.

E, agora, uma incoerência do governo. É, de um lado, cobrar um IOF de 6% para aplicações de estrangeiros em renda fixa e, de outro, dar isenção do Imposto de Renda para as aplicações de estrangeiros em debêntures. Se tiverem sucesso, essas debêntures e as letras do BNDES atrairão os capitais que até então o governo pretendia afugentar para evitar que afundassem a cotação do dólar no câmbio interno.

O BNDES está sendo empurrado para captar recursos no mercado financeiro interno. É o começo do fim do abastecimento de recursos oficiais. É também o reconhecimento de que o Tesouro é vaca leiteira excessivamente ordenhada e que a feroz disposição do governo comandado pelo PT, de incentivar a estatização e afastar o interesse privado da infraestrutura, também já deu o que tinha de dar.


CONFIRA

Renúncia tributária
Ontem, analistas do mercado financeiro argumentavam que, para despertar interesse, os novos títulos teriam de conter uma renúncia fiscal tão forte que passariam o sinal de que a disposição de dar tratamento austero às finanças públicas não deveria ser levada tão a sério.

Vão atrair mercado?
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, avisa que, no primeiro ano, a desoneração tributária não deverá passar de R$ 60 milhões, o que dá cerca de 10% do que o Tesouro deverá arrecadar num único mês. Se for só isso, os títulos podem não ser tão atraentes quanto se espera.

Fatia de R$ 15 bilhões
Para Coutinho, o mercado interno para a colocação de debêntures e de letras financeiras de longo prazo chegará a R$ 15 bilhões no primeiro ano e a R$ 70 bilhões no quarto. Tomara que as previsões do governo estejam corretas. E mais do que isso, tomara que, depois de quatro meses de preparação, o governo federal tenha feito a coisa certa.

O ABILOLADO

JOSEF BARAT

O desafio das infraestruturas 
Josef Barat 
O Estado de S.Paulo - 16/12/10

A presidente Dilma herdará um bom momento da economia, que poderá ter continuidade com mais oportunidades para investimentos, produção e emprego. Até agora, o céu esteve límpido e o vento soprando de popa. Já são perceptíveis, todavia, nuvens escuras no horizonte, sinalizando cautela: ambiente internacional instável, recrudescimento da inflação, câmbio desfavorável, gastos públicos fora de controle, enfim, as conhecidas mazelas que, de forma recorrente, sucedem os nossos períodos de euforia e ufanismo. Sabemos que os desequilíbrios nas variáveis macroeconômicas cobram um tributo elevado da sociedade, transformando a euforia em abatimento e amargura.

Com certeza, a presidente tem uma visão objetiva das oportunidades para o País e dos riscos inerentes a uma gestão desarticulada e, sobretudo, sem uma clara estratégia de longo prazo. Ela sabe que, em diversos momentos, países desenvolvidos utilizaram os investimentos em infraestrutura como fator de articulação, indução e suporte ao desenvolvimento e aos avanços dos segmentos de ponta da indústria, agricultura e serviços. Se os desequilíbrios macroeconômicos forem bem equacionados, o novo governo poderá utilizar o bom momento a seu favor - se tiver, obviamente, um projeto de desenvolvimento e priorizá-lo - em vez de insistir em objetivos de curto prazo, "obras" desconjuntadas ou patrocinar projetos irrealizáveis.

O momento é o de atrair o capital privado para investir maciçamente nas infraestruturas, por meio de concessões, parcerias e empreendimentos conjuntos, para superar os gargalos que atravancam o desenvolvimento. Trata-se de retornar ao que se chamou depreciativamente, na campanha eleitoral, de "privatizações" dos serviços públicos. Para isso, vale sempre insistir: é preciso consolidar um ambiente de confiança e segurança jurídica, traduzido na existência de políticas de longo prazo, no funcionamento mais técnico e profissional das agências reguladoras, no enquadramento do Judiciário no mundo contemporâneo, enfim, na credibilidade das instituições de Estado. Há, na verdade, uma enorme massa de recursos - no País e no exterior - proveniente de ampla gama de fundos (participações, seguradoras, pensões de profissionais, etc.) dispostos a investir em empreendimentos com rentabilidade no longo prazo, desde que se sintam seguros por um ambiente de estabilidade econômica, institucional, jurídica e política.

O Plano Real e as reformas que garantiram a estabilidade econômica propiciaram um ímpeto sem precedentes ao setor privado. Empresas brasileiras alcançaram: diversificação de atividades; novos nichos de mercado e especializações; consolidação por meio de fusões, incorporações e alianças; iniciativas de inovação tecnológica; formação de parcerias para concessões; mudanças nas formas de relacionamento com o governo; e novos modelos de negócios e parcerias estratégicas. Ou seja, o setor privado fez a sua parte. Portanto, esse é o Brasil empresarial que Dilma vai gerir. Ela tem duas opções: ou o governo se coloca ao lado do mundo empresarial, modernizando e ampliando as infraestruturas e removendo os gargalos institucionais, burocráticos e tributários que tolhem a iniciativa privada, ou se coloca como fator de contenção, atraso e frustração, atendendo apenas à expectativa de alguns (os de sempre).

A enormidade dos gargalos a serem superados nas infraestruturas - em razão do sucateamento e da insuficiência de capacidade - mostra oportunidades para concessões, parcerias e empreendimentos conjuntos nos portos, aeroportos, estradas, sistemas elétricos, saneamento, etc. Novas oportunidades surgirão com a banda larga, as energias alternativas e as plataformas de apoio ao pré-sal. O grande atraso no planejamento e implementação de novos projetos, bem como a persistente falta de políticas públicas mais abrangentes e coordenação dos agentes envolvidos, estão à espera de soluções técnicas, e não de acomodações político-partidárias. Boa sorte, presidente Dilma!

PRESIDENTE DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES DA FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇOS E TURISMO DE SÃO PAULO, FOI DIRETOR DA ANAC

ELIANE CANTANHÊDE

O enterro da nova CPMF? 
Eliane Cantanhêde
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/12/10


BRASÍLIA - Pronto, está feito. Em votação supersônica, deputados e senadores aumentaram os salários de deputados e senadores em 62%. De quebra, deram 134% a mais para o presidente e o vice e 149% para os ministros do Executivo.

Apesar da óbvia gritaria da opinião pública nos próximos dias, era preciso mesmo equiparar os salários dessa gente toda com a realidade. Não faz sentido os ministros ganharem R$ 10,7 mil, o presidente, R$ 11,4 mil, nem os parlamentares, R$ 16,5 mil, como é hoje.

Esses salários irreais, fictícios -e sem reajuste há três anos-, têm sido geradores de "jeitinhos" e "verbas especiais" que são fonte permanente de escândalos.

Mas há dois problemas na decisão de ontem. Um: por que o Congresso demora oito anos para discutir uma lei sobre transplante de órgãos e dias para se autoconceder aumentos salariais? Outro: se os congressistas passam a ter uma remuneração decente, vão acabar com os penduricalhos que levam o valor básico à estratosfera?

É um tal de 14º, 15º salário, jeton para sessões extraordinárias, auxílio-moradia, passagens, correspondência, carros... Sem contar saúde de graça e plano de aposentadoria, apesar dos mandatos de quatro anos para deputado e de oito para senador.

É evidente que o aumento veio, mas os penduricalhos não vão embora. E o pior é a vinculação dos salários das Câmaras e das Assembleias aos do Congresso, causando um frisson e um efeito cascata nos Legislativos do país inteiro -enquanto Executivo, Judiciário e os próprios funcionários do Congresso também querem a sua parte.

Tudo isso, evidentemente, contraria o discurso de ajuste fiscal do futuro governo e enterra -ou deveria enterrar- o debate da volta da CPMF. Aumentar o salário público e garfar mais o privado fica esquisito. Vai ter troco.

PS - E o "mensalão"? O gato comeu, e Lula apagou da história.

GOSTOSA

GUSTAVO ROMANO

Menos reforma, mais inteligência 
Gustavo Romano
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/12/10

O primeiro passo para que fortaleçamos a democracia não é criar mais projetos, mas enxugar os já moribundos em nosso Poder Legislativo



Encerradas as eleições, o grande vencedor foi o clamor por reformas.

Tributárias, eleitorais, trabalhistas, e assim vai. Estando descontentes com nosso mundo, queremos mudanças. Ou melhor: queremos escapar de nossa realidade. E qualquer promessa nos basta. Pior do que está não pode ficar, certo? Nem tanto.

Foi usando o refrão das reformas, no caso, para a criação de um imposto único, que criamos mais um tributo: o IPMF, que depois virou CPMF e que amanhã será CSS (e lá se foi o "P" de provisório).

Modificamos a lei dos crimes hediondos em 94, e hoje vivemos a violência resultante de lei que não incentivava a recuperação do criminoso, que em breve voltaria às ruas. Fundimos os crimes de atentado violento ao pudor e estupro em um só, em 2009, e passamos a liberar centenas de criminosos antes apenados pelos dois crimes, pois "esquecemos" de regulamentar o que aconteceria com eles.

E criamos neste ano a Lei da Ficha Limpa, modificada depois de apagadas as luzes, que transformou o processo eleitoral em uma roleta-russa que nem o STF conseguiu resolver.

Durante as eleições, vimos propostas de pequenos partidos para conseguir mais tempo de propaganda gratuita, mas sem que percebessem que o que propunham geraria resultado oposto ao desejado.

Há pouco, ouvimos uma campeã de votos defendendo o voto distrital sem sequer saber diferenciá-lo do voto em lista fechada, que dirá entender seus prós e contras.

Quando finalmente entendê-los, proporá o distrital misto, esse mantra da política brasileira. Aprovado, não resolverá um problema e criará um ainda maior, diluindo a representatividade das minorias sem aumentar a dos distritos.

Reformas são essenciais. Mas reformas inteligentes, pensadas.

Poucas e que gerem os efeitos desejados. Precisamos de legisladores que compreendam suas próprias propostas e suas consequências (inclusive as negativas, que sempre existem). De boas intenções, o Congresso está cheio.

E mais: precisamos de projetos íntegros, e não arremedos feitos com os retalhos de propostas antagônicas apresentadas ao longo dos anos, apenas para que finalmente saiam do papel.

Por fim, precisamos entender e acompanhar tais projetos. Propostas precisam ser analisadas e entendidas antes de serem aprovadas, e não remediadas pelos tribunais e criticadas por todos depois de se tornarem fatos consumados.

Mas, com milhares de projetos circulando em cada Casa, isso é impossível. Ninguém consegue analisar tantas leis.

Não há democracia com Legislativos nas três esferas aprovando dezenas de projetos em uma tarde.

O primeiro passo para fortalecer nossa democracia não é criar mais projetos, mas enxugar os já moribundos em nosso Legislativo.

Só assim legisladores e cidadãos poderão acompanhar, entender e debater os projetos antes que eles sejam aprovados.

Países como o Reino Unido encontraram solução simples para focar o debate: todo projeto não aprovado até o fim do ano legislativo é automaticamente arquivado.

Talvez esteja aí uma boa reforma.

*GUSTAVO ROMANO, 36, professor de direito da Folha há 11 anos e fundador do projeto Para Entender Direito (www.ParaEntenderDireito.org), é mestre em direito por Harvard (EUA), em ciências políticas pela UFMG e em administração pela London Business School.

EUGÊNIO BUCCI

WikiLeaks ou a vingança do mundo vigiado
Eugênio Bucci 


O Estado de S.Paulo - 16/12/10
Sorria, você está sendo filmado. Ou chore, você está sendo filmado.
A propósito, não é improvável que você esteja sendo filmado enquanto lê este artigo. Os seus hábitos de consumo estão catalogados em bancos de dados que são vendidos por aí. A marca de papel higiênico que você compra no supermercado faz parte da sua ficha pessoal em algum arquivo de marketing. Os exames do seu check-up, realizados naquele laboratório todo informatizado, bem, eles podem cair na rede. As chamadas do seu celular são rastreáveis, todas elas. A que horas você ligou para quem e de que lugar você chamou, tudo se sabe. Pelas pesquisas que você faz no Google, os administradores podem levantar o seu rol de preferências, mesmo aquelas que você não gostaria de declarar em público. Os radares da cidade registram por onde você passeia de automóvel. As consultas que você faz na Amazon fazem parte do seu perfil, devidamente armazenado. Pelo seu cartão de crédito, podem saber os restaurantes em que você anda almoçando, os vinhos que você pede, a dieta que você segue. As portarias de prédios que você cruzou, as catracas que atravessou, os elevadores em que subiu ou desceu, tudo isso é sabido.
E aqui não estamos falando de vírus espiões instalados em seu computador, das escutas encomendadas pelos rivais (amorosos, religiosos, políticos ou econômicos), mas apenas dos mecanismos supostamente lícitos pelos quais, como já foi dito, você está sendo filmado. Não é bem que a privacidade tenha diminuído de uns tempos para cá. A privacidade, nos moldes em que costumávamos imaginá-la, virou uma categoria impossível, irrealizável. A privacidade foi extinta pela História.
Mais ainda: no nosso tempo a vigilância se massificou. Todos da massa são potencialmente vigiados, o que, em lugar de incomodar, parece excitar o público. A bisbilhotice ganhou status de um gênero lucrativo da indústria do entretenimento, com os reality shows se disseminando como epidemia. Quanto à massa, além de usufruir a vigilância indiscreta, pratica alegremente o esporte de espionar os semelhantes. Câmeras instaladas em celulares fizeram de cada cidadão um agente voluntário a serviço da grande rede de vigilância global. O "Grande Irmão" não é mais o ditador imaginado por George Orwell, aquele que tudo via, protegido em seu bunker supertecnológico. Hoje, o "Grande Irmão" é a massa. Todo mundo bisbilhota todo mundo.
Para chegar a esse estado passamos por duas grandes inversões. A primeira delas transformou o controle de presidiários numa forma de controle dos cidadãos. Há séculos o inglês Jeremy Bentham (1748-1832) imaginou uma prisão que permitiria aos carcereiros verificar a qualquer instante os movimentos de cada um dos prisioneiros. As celas seriam dispostas numa linha circular, alinhadas e empilhadas num imenso edifício arredondado. A parede externa desse edifício, aquela voltada para o lado de fora da circunferência, seria opaca, mas, e aí vem o detalhe perverso, a parede interna do edifício seria transparente, de tal modo que quem se postasse no miolo da prisão poderia ver, ao mesmo tempo, o interior de todas as celas. Por uma fresta em seu escritório central, o carcereiro veria todos, mas não seria visto pelos presidiários, que também não poderiam ver uns aos outros. Muitos anos depois, como se sabe, o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) refletiu caudalosamente sobre esse sistema, identificando nele uma forma de dominação que extrapolaria em muito a penitenciária de Jeremy Bentham. O panóptico estaria presente em todos os campos sociais e, ao saber-se visível o tempo todo, o sujeito, solto ou encarcerado, não importa, estaria intimidado, controlado, perderia a sua privacidade, a sua liberdade, a sua espontaneidade.
A segunda inversão tem um sabor de anedota: os vigiados, longe de se lamentar, entraram com tudo na brincadeira. Nas redes sociais, intimidades as mais improváveis roubam a cena; as pessoas encenam e vazam suas próprias privacidades. O exibicionismo e o voyeurismo digitais são a marca por excelência do século 21. Foi então que o voyeurismo, cansado de obscenidades da extinta vida privada, começou a explorar os segredos mais valiosos dos que bisbilhotam o planeta em nome dos governos mais poderosos da atualidade. Era inevitável: mais cedo ou mais tarde, a indústria da vigilância total cairia na rede ela também.
Dentro disso, qual a grande surpresa do WikiLeaks? Ora, ora, nenhuma.
Pelo WikiLeaks, a espionagem oficial, antes guardada pelos carimbos de "secreto" ou "confidencial" nos gabinetes diplomáticos, vai-se convertendo em divertimento planetário. A profusão dos documentos vazados e a irrelevância da imensa maioria das informações conferem ao circo um certo ar de banalidade, como se segredos de Estado não fossem lá grande coisa. E talvez não sejam mesmo. O WikiLeaks sobrevém, assim, como a vingança dos que não têm mais privacidade contra os que ainda se imaginavam controladores das privacidades dos comuns. Não há mais segredos bem guardados, nem mesmo na Casa Branca. O panóptico estilhaçou-se, caiu como a velha Bastilha. Reis e rainhas trafegam nus. Os esconderijos esfacelam-se.
Nesse meio tempo, as reações do poder - econômico e político - contra o WikiLeaks revelam uma mentalidade pateticamente totalitária. Num jogo combinado, típico de coalizões militares, as instituições financeiras internacionais fecham o cerco. Governos agem de modo análogo. Será que esse pessoal acreditava que controlava a sociedade de modo tão absoluto?
Quem acreditou nisso errou. O WikiLeaks não é um site, mas uma possibilidade da era digital que se materializou num site. Outros virão. O vazamento indiscriminado vai continuar. Outras caixas de Pandora estão para cair. Que caiam.
JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM