terça-feira, dezembro 14, 2010

MÔNICA BERGAMO

TIRIRICA NA TELA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO  - 14/12/10

Tiririca pode virar filme. O diretor André Klotzel ("A Marvada Carne", "Reflexões de um Liquidificador") já engatilhou conversa com a equipe do deputado eleito para que a vida dele seja retratada na tela grande. A ideia é contar a trajetória do palhaço e também acompanhá-lo em sua estreia no Congresso. Tiririca já disse que não sabe o que os parlamentares fazem. Klotzel quer participar da investigação e relatar as descobertas num documentário ou num longa-metragem.

CAPÍTULOS 
"O Klotzel teve uma ideia brilhante e eu quero me associar a ela", diz o produtor Luiz Carlos Barreto, que desembarca hoje em SP para reuniões com o diretor. "Queremos mostrar esse fenômeno fantástico de superação e investigar esse cearense que veio das profundidades do sertão." Barreto acha que, além de filme, a vida de Tiririca pode virar uma minissérie. 

BEM FAMÍLIA 
E Cacá Diegues e Renata Magalhães querem montar um "mini-Projac" na Cidade de Deus, no Rio. Eles vão começar a fazer os pilotos de um seriado para o Multishow com os diretores do filme "Cinco Vezes Favela". Se tudo der certo, o enredo será exibido em 13 episódios. "Vai ser uma espécie de "A Grande Família" na favela", diz Renata. Vários nomes estão surgindo para a eventual série -entre outros, "Mais Favela" ou "100% de Chance". 

TUDO CERTO 
O governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB-SP) endossa as negociações para que o novo estádio do Corinthians seja a sede das partidas da Copa de 2014 em São Paulo. "O projeto já tem financiamento, lugar, empresa para realizar", diz ele. 

NOS TRILHOS 
Alckmin afirma ainda que, apesar de o Morumbi ter sido descartado como sede, manterá o compromisso de construir um monotrilho perto do estádio do São Paulo. 

ENTRE TAPAS E VINHO 
Um restaurante de tapas, típicas da Espanha, será inaugurado no começo do ano na rua Oscar Freire, em frente ao hotel Emiliano. O empreendimento é de um grupo espanhol.

MELHOR AMIGO 
Oscar Niemeyer explica, em crônica na próxima edição da revista "Nosso Caminho", por que batizou o cachorro de sua mulher, Vera, de Alfredo: era o nome de um amigo de juventude. "Ah, como nos divertíamos naquela época! O Café Lamas era o nosso ponto de encontro. E nesse lugar tão especial ficávamos a tomar um chope, o bilhar a nos ocupar a noite inteira." Iam também à zona do meretrício, "um dos nossos passeios preferidos. Ah, como Laurinha Tinguaçu era engraçada!". Anos depois, Niemeyer tentou saber se Alfredo estava em boa situação financeira. Nunca mais conseguiu encontrá-lo. 

PÃO DE QUEIJO 
A dinamarquesa Freja Beha Erichsen (pronuncia-se Frêa), top número dois do mundo no ranking do site Models.com, desembarca em SP amanhã para fotografar a campanha de uma marca de sapatos. Freja já pediu para experimentar pão de queijo. Ela é amiga de tops brasileiras como Raquel Zimmermann, que sempre falam do salgado brasileiro. 

SENTIDO BAIRRO 
A faculdade Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), instalada no centro, vai investir R$ 10 milhões para abrir uma unidade em Pinheiros. Comprou um prédio na rua Artur de Azevedo, que adaptou para receber, a partir de março, 12 cursos de pós-graduação.

MÚLTIPLOS TALENTOS O evento "Design for Humanity", no hotel Unique, teve desfile de moda, show da banda britânica White Lies e exposição de obras das galerias Emma Thomas, Baró e Choque Cultural, em prol da Plataforma de Centros Urbanos, do Unicef. A apresentadora Erika Mader, o ator Raphael Viana e a skatista Karen Jones estiveram lá.

JUSTA CAUSA A festa de 15 anos do escritório de advocacia Sergio Bermudes, na Casa Fasano, contou com a presença do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e de sua mulher, Guiomar Mendes.

CURTO-CIRCUITO
A cantora Céu encerra a temporada do projeto "Davene Quartas Musicais" com show amanhã, às 21h, no Teatro Bradesco. Livre. 

O músico francês General Elektriks faz show no domingo, às 21h30, no Na Mata Café. Classificação: 18 anos. 

O fotógrafo Marcelo Lerner lança hoje, às 19h30, o livro "São Paulo, Pontes e Vistas", na galeria Concreta. 

Antônia Adnet se apresenta hoje, às 21h, na choperia do Sesc Pompeia. 18 anos. 

com DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GOSTOSA

ARNALDO JABOR

O prazer deixa muito a desejar
ARNALDO JABOR
O GLOBO - 14/12/10



Amigos me perguntam: você fez "A Suprema Felicidade", mas, o que é o prazer para você? Penso, penso e respondo: "Sei lá...".

Mas, como insistem, vamos tentar.

O prazer pode nos dar culpa e a culpa pode dar prazer. Os masoquistas sabem disso: todo prazer será castigado. Por isso, muitos preferem o doce sentimento de culpa, porque, se somos castigados antes, podemos ruminar sem medo o nosso vazio.

O prazer deixa muito a desejar, o prazer nos deixa insatisfeitos porque acaba logo. O problema do prazer é que ele sempre demanda mais prazer, orgias mais perversas, drogas mais alucinantes. O prazer não quer ter fim. "Ah... e a felicidade?" - perguntam-me. (Se bobear, viro conselheiro sentimental...). Bem, a felicidade seria um prazer mais duradouro, comedido. Mas a felicidade está fora de moda em tempos tão velozes.

A felicidade é analógica e o prazer digital. A felicidade ficou chata, tem de ser administrada, dosada e é feita também de dores, sofrimentos e dúvidas. O prazer não; pega, mata e come. Todos fingem ter prazer - é mais comercial. As caras das revistas ostentam uma gargalhada eterna. Prazer é voraz; quer botar o mundo para dentro, sugar, comer o mundo como um pudim, pela boca, por todos os buracos. Prazer é "cool". Felicidade é careta.

Mas, vamos nos deter no capítulo do orgasmo, este retumbante final de sinfonias. O problema do orgasmo é a memória e a esperança. É bem fácil se lembrar de um grande gozo no passado (mesmo ilusório) ou imaginar um grande uivo no futuro que ainda não chegou. Já o orgasmo no presente é assaltado por muitos estorvos: uma sirene de polícia, o medo de falhar, a campainha do vizinho.

Há-os de vários tipos: o básico, o decepcionante e o apoteótico. De cinco estrelinhas a pontinho preto.

O apoteótico é raríssimo, é uma utopia que desqualifica os básicos tremores. Conheço um sujeito que na hora H pensou num gol de placa do Ronaldinho e quase subiu aos céus (apoteose). Um outro, que tinha ejaculação precoce, gozou ao apertar o botão do elevador da casa da mulher que tanto ambicionava. Fora isso, temos o básico, o arroz com feijão: "Pronto, meu bem, agora vamos jantar".

Mas, você só pensa em sexo, dirão vocês. É... fazer o que, se o sexo está tomando o lugar de todos os outros desejos? A verdade é que o prazer anda de cabeça baixa, deprimido, apesar do eufórico exibicionismo em revistas de celebridades. O prazer é obrigatório no mercado. O que nos falta, então? Falta o pecado. Todos podem tudo: "Sim, eu gosto de atacar nos mictórios das rodoviárias e me orgulho de minha tara!" - diz o perverso sorrindo na TV. A permissividade total esvai a tesão. O prazer precisa da proibição. "Sem lei, não há gozo", diria Lacan se masturbando.

Aliás, o vício solitário é bem seguro. A punheta é metafísica. Ela é onisciente e gira em todas as direções, é um caleidoscópio de mulheres ou de homens. Um dos sintomas desse mundo louco é a masturbação. Não me refiro à mera "coça na miúda", nem no "estrangulamento do pele-vermelha", mas à masturbação na alma de vidas autorreferentes, ao narcisismo de seres perdidos num deserto de possibilidades sem fim. Em meio a tanta liberdade, nunca fomos tão solitários. Tínhamos pecados e proibições perfumando os prazeres, mas hoje ficou tudo referido ao sexo, para substituir frustrações políticas e sociais. A masturbação existe até no grande amor romântico, em que os dois narcisismos se tocam, se beijam, se arranham, mas não se comunicam.

Neste mundo solitário, temos o "hype" da masturbação feminina, com o vibrador, o consolador de viúvas e solteironas. O vibrador tem vida própria, sem o incômodo inconsciente, sem diálogos constrangedores. O vibrador não é um pedaço - está inteiro; o homem, o "outro", é que foi amputado dali. O consolador, o vibrador é um amante delicado sempre pronto a satisfazer sua dama. E ela pode imaginar o homem perfeito ali, entre suas mãos.

Os homens também gostariam de ter sua autonomia: serem livres e soltos como um pênis voador, comendo todo mundo com movimentos giratórios e beleza aerodinâmica.

O mercado e a tecnociência provocam mutações em nós. Não queremos amar, queremos consumir alguém. Queremos ter o ritmo das coisas e, na progressiva digitalização do sexo, os corpos tendem a ser o campo de provas da eficiência dos mecanismos de prazer.

Queremos o prazer das máquinas. E, cada vez mais, somos isso. Somos movidos por seus desejos que nos contaminam, somos movidos pela secreta vontade de existir, pois, assim como as bombas desejam explodir, os robôs também querem amar. E já somos suas cobaias inconscientes.

Mas aí, dirá o leitor mais reflexivo, mais estoico, menos epicurista, mas sábio e, talvez, mais velho: "Sim, mas e a contemplação calma da natureza, os lagos dourados, as flores e as crianças correndo, e as auroras, os céus estrelados? E a arte? Isso não é prazer?".

Sim, sim, mas, por trás dessa calma contemplação de auroras e belezas, florestas e oceanos, há um ensaio para o fim, há o preparo para o maior prazer de todos, há a saudade oculta de algo que está além da vida, ou antes dela. Entre flores e lagos dourados contemplamos nosso fim. É uma saudade não sabemos de quê...

É um prazer além do prazer (Freud), é o prazer da matéria. A matéria quer paz. Nós somos um transtorno para a matéria que quer voltar a seu silêncio. A vida e o prazer enchem o saco da matéria que é obrigada a nos suportar. A matéria olha nossos arroubos de vida e espera pacientemente que acabe a valentia para voltarmos ao prado, à grama, à terra, ao sossego da tumba.

Mais além do princípio do prazer, está a invencível vontade de morrer. A matéria sonha com a paz. Somos sonhados pela matéria da qual somos apenas um tremor, um despautério, uma agitação banal. A matéria nos sonha com tanta perfeição que pensamos que temos espírito.

O prazer da matéria é paciente. Nós não sabemos ainda, mas nosso grande prazer será sentido quando não estivermos presentes.

JOSÉ SIMÃO

Uau! Silvio Santos é de borracha! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/12/10

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E os 80 anos de Silvio Santos? O Silvio Santos fez 80 anos quebrado, porém inteiro! Ele diz que é devoto da Nossa Senhora das Plásticas! Claro, ele se esticou tanto que já está fazendo xixi pelo sovaco! Eu acho que o Silvio Santos é de borracha. Ele não parece o Homem-Borracha?
Um amigo disse que sempre encontra o Silvio no trânsito e ele está sempre rindo. Ele não tá rindo, tá freando! É tanta plástica que, toda vez que bota o pé no freio, a boca dá risada! Rarará!
E um outro disse que o Silvio parece o Robocop: se espirrar, vão ter de chamar a perícia policial para remontar! Rarará! E a Hebe, hein? No dia do aniversário do Silvio Santos, ela disse que quer ir para a Globo. Rarará. Muy amiga!
E ele comemorou em Miami! Eu só vejo o Silvio Santos feliz mesmo em dois lugares: no "Roda a Roda Jequiti" e em Miami.
O Silvio Santos em Miami parece aqueles animais em extinção que são devolvidos pro habitat. Sabe aqueles programas do Discovery? Que eles abrem a jaula e o bicho corre para o mato todo feliz? É o Silvio Santos em Miami! É o habitat dele. Ele foi devolvido pra Miami. Rarará!
E tem uma simpatia chamada simpatia Silvio Santos: diz que, se você repetir "Silvio Santos" três vezes diante do espelho, um aviãozinho feito com nota de R$ 100 voará para dentro da sua casa. OBA!
E um amigo meu quer saber se o Silvio Santos também vai entrar em liquidação: "Eu quero dar de presente para minha avó". Rarará! O Silvio Santos não existe. Mito não tem idade. O Silvio Santos caiu em domínio público! Rarará!
E o Corinthians? O Eramos6 revela que, depois do 100 Graça, eles vão fazer contratações bombásticas: um pai de santo para melhorar o passe, um goleiro vegetariano para evitar frango e um advogado para melhorar a defesa! Rarará!
E, como dizia Jack, o Estripador: Vamos por partes. "Polícia prende braço direito de traficante". E quando eles vão pegar um traficante inteiro? Primeiro pegaram o Pezão. Depois o Mãozinha, o Dedinho e procuram o Polegar do Alemão! E no sábado pegaram o Bochecha! Do Pezão ao Bochecha! O tráfico aos pedaços!
E adoro a Miriam Porcão: "A economia em 2011 foi pior do que em 2010, como eu disse ontem". Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Olho no cronômetro 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 14/12/2010

Um adversário resume a situação de Gilberto Kassab na véspera da eleição para a presidência da Câmara paulistana: "O prefeito está como o Fluminense na última rodada. Só depende dele". Pelos cálculos da oposição, José Police Neto (PSDB), apoiado por Kassab, tem 28 dos 55 votos. O campo que reúne "Centrão" e PT trocou ontem a candidatura de Milton Leite (DEM) pela do petista Chico Macena, na tentativa de atrair os dois vereadores do PC do B e virar o placar. Não funcionou, e horas depois Leite era novamente candidato. Como não há prazo para inscrição, o bloco segue à procura de uma alternativa "que agregue".

Camarote Segunda corrente petista, a Mensagem ao Partido assiste à disputa entre Cândido Vaccarezza (SP) e Marco Maia (RS) pela presidência da Câmara dos Deputados concentrada num só objetivo: eleger Paulo Teixeira (SP) líder da bancada.

Mais um Com a bancada do PT, que se reúne hoje, em ponto de fervura, além de candidaturas avulsas em fase de "teste", também Júlio Delgado (PSB-MG) resolveu sondar colegas sobre a possibilidade de se lançar à presidência da Câmara.

Vespeiro Em privado, Lula tem opinado que também o Senado deveria adotar um rodízio entre PMDB e PT no comando da Mesa.

Deixa comigo Ao escalar sua equipe econômica com Andrea Calabi (Fazenda) e Emanuel Fernandes (Planejamento), Geraldo Alckmin sinaliza que, ao contrário de José Serra, assumirá a interlocução com o setor produtivo. O tucano diz a aliados que considerou o antecessor "duro" com o empresariado, em particular na substituição tributária.

Cabo eleitoral Em campanha para permanecer na presidência nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE) acompanhou o anúncio dos secretários de Alckmin e foi saudado efusivamente pelo governador eleito ontem no escritório de transição.

Não, obrigado Favorito para a pasta do Meio Ambiente, Fábio Feldmann avisou à equipe de Alckmin que não gostaria de virar secretário em razão de compromissos já assumidos com palestras e eventos internacionais.

Dúvidas Perguntas ouvidas no QG peemedebista: Se Ciro Gomes (PSB) for para a Integração, com quem ficará a direção do Departamento Nacional de Obras contra a Seca, que o PMDB esperava abocanhar? Se Ciro assumir a Saúde, como ficará a Funasa, reduto histórico do partido de Michel Temer?

Deixa disso Não faz muito tempo, Temer manifestou a intenção de recorrer à Justiça contra Ciro pelos xingamentos deste ao PMDB. O entorno de Dilma Rousseff convenceu-o a desistir.

Só pensa naquilo Um aliado avalia a preferência de Ciro pela Saúde, que Dilma não quer lhe dar: "É a eterna competição com o Serra".

Pires... Queixa dos deputados do PSB: se tudo sair como deseja Dilma, Ciro terá um ministério, e o presidente do partido, Eduardo Campos, indicará Fernando Bezerra Coelho para outro. Para a bancada, nada.

...na mão O PSB chegou a sugerir que Dilma mantivesse Portos e Aeroportos em estruturas diferentes, para que um deputado do partido viesse a ocupar uma das pastas. As chances de sucesso da proposta são remotas.

Tenaz Apesar dos esforços de Dilma para manter Márcio Fortes nas Cidades, tudo caminha para que o PP vença a resistência da presidente eleita e instale no cargo Mario Negromonte (BA).

Por que não eu? A longa lista de insatisfeitos inclui o PSC, que segue à míngua. O partido elegeu 17 deputados, contra 15 do PC do B, com espaço cativo na Esplanada.

tiroteio

"Imagine se um WikiLeaks da vida revelasse o que os partidos aliados estão falando uns dos outros na disputa para compor o primeiro escalão de Dilma."

DO DEPUTADO EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), sobre a malcontida insatisfação das muitas legendas à procura de espaço no ministério da petista.

contraponto

Desidratação


Lula se dirigia ontem ao microfone, na cerimônia de entrega do Prêmio Nacional de Direitos Humanos, quando notou o que o aguardava no púlpito e resolveu fazer piada:
-Acho que pensaram que eu passei a noite bebendo, porque tem três copos de água aqui para mim...
E ainda completou:
-Eu acho que é água benta...

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

Gol contra 
Ilimar Franco 

O Globo - 14/12/2010

O PSB foi pego de surpresa e ficou vendido com a mudança de posição de Ciro Gomes, que aceitou considerar a possibilidade de assumir o Ministério da Integração. Já estava acertado que a pasta ficaria com Fernando Coelho, indicado pelo governador Eduardo Campos (PE). Por deferência, na noite de quinta-feira, Campos sugeriu que Dilma ligasse para Ciro. Ela ligou, e Ciro gostou da conversa. Campos saiu da Granja do Torto aturdido.

O constrangimento foi geral

Irmão de Ciro, o governador Cid Gomes (CE) tinha dito ao partido que ele não queria nenhum cargo. Presente na reunião com Dilma, Cid ficou sem graça quando o irmão pediu até amanhã para dar uma resposta. Cid chegou a sugerir à presidente eleita que nomeasse o irmão para o Ministério da Saúde, mas Dilma afirmou que já tem um outro nome para o cargo. Com a reviravolta, Fernando Coelho terá que ser deslocado para a Secretaria de Portos, que não tem o mesmo peso. Esse cargo seria ocupado pelo deputado federal Beto Albuquerque (RS), que já estava em Brasília na expectativa de ser ministro. Ele está furioso.

Valorização
A meta do ministro Fernando Haddad (Educação) é aumentar o salário médio dos professores de R$ 1.500 para R$ 2.500 em dez anos. Esse será um dos eixos do novo Plano Nacional de Educação, a ser enviado ao Congresso amanhã.

Na fila
O subsecretário de Cooperação e Promoção Comercial do Itamaraty, Rui Nogueira, é o nome mais forte para ocupar a Secretaria- Geral na gestão do futuro ministro Antônio Patriota. Ele é o embaixador mais antigo da hierarquia.

A briga corre solta no PT
Os petistas mineiros decidiram apoiar o deputado Marco Maia (RS) contra Cândido Vaccarezza (SP) na disputa pela presidência da Câmara. Reagem contra a predominância de paulistas no Ministério de Dilma Rousseff, que estaria sendo construído com o aval da direção nacional petista. Eles ainda não engoliram o fato de terem sido constrangidos a fazer uma aliança para o governo com o senador Hélio Costa (PMDB).

Doença holandesa
O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse ao embaixador americano, Thomas Shannon, em fevereiro, que a Venezuela enfrentava problemas econômicos e que o presidente Lula aconselhou Hugo Chávez a fugir da armadilha do petróleo e diversificar suas opções. O Brasil ofereceu assistência e ajuda para aumentar a capacidade de geração de energia hidrelétrica. Chávez seguiu o conselho e criou um programa de industrialização.

ASSESSOR de Gilberto Carvalho no Palácio do Planalto, Cezar Alvarez está sendo sugerido pelo PT para ocupar uma vaga que está aberta na Anatel.

ALGUNS tucanos estão começando a ficar envergonhados com a abordagem que a campanha presidencial do partido fez da questão do aborto.

NO PSDB paulista, agora sob a liderança do governador eleito, Geraldo Alckmin, é cada vez maior a aversão ao prefeito Gilberto Kassab (DEM). Ele só goza de alguma simpatia hoje entre os vereadores tucanos da capital.

MERVAL PEREIRA

Disputa de geração 
Merval Pereira 

O Globo - 14/12/2010

O PT é o primeiro partido que tem condições de realizar o sonho de consumo de todos os partidos brasileiros: ficar no poder por no mínimo 20 anos. O grupo do presidente cassado Fernando Collor tinha essa pretensão, vocalizada pelo seu braço-direito PC Farias. Também o PSDB planejava essa permanência estendida quando aprovou a reeleição presidencial, estratégia montada pelo “trator” tucano, o falecido Sérgio Motta.

Depois de 8 anos de governo Lula, e tendo conseguido eleger Dilma Rousseff para pelo menos mais 4 anos, o PT pode alcançar essa meta se a hipótese de Lula se candidatar em 2014 se confirmar.

E essa permanência pode ser ainda maior se a presidente Dilma se reeleger em 2014 e Lula voltar à presidência em 2018. Nesse caso poderão ser nada menos que 26 anos de poder petista seguidos.

Lula terá dentro de quatro anos os mesmos 69 anos com que Serra disputou pela segunda vez a Presidência da República este ano. E estará com 73 anos se se candidatar em 2018, a mesma idade que Serra terá em 2014, quando pretende se candidatar pela terceira vez, a valer a disposição atual. Quase a mesma idade com que Tancredo Neves foi eleito em 1985.

Tudo isso somado, fica demonstrado que não será nada fácil ao PT realizar seu sonho de consumo, pois ele implicaria relegar a um segundo plano políticos de diversas tendências que, tendo uma perspectiva nacional, seriam condenados a viver à sombra do PT toda a sua carreira. Todos eles têm hoje entre 45 e 50 anos, e compreensivelmente não gostam muito da ideia de o PT ficar no poder mais 12, 16 anos.

Ao fim da saga petista, estarão perto dos 60 anos e terão passado a vida inteira como coadjuvantes do PT, quando não na oposição. Congelados politicamente. No PSB, o próprio governador Eduardo Campos (45), Ciro Gomes (53), o governador do Ceará, Cid Gomes (47), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (50); no PMDB, o governador do Rio, Sérgio Cabral (47), e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (41); no PSDB o senador eleito Aécio Neves (50), o governador do Paraná, Beto Richa (45); no DEM, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (50).

O convite feito pela presidente eleita, Dilma Rousseff, para que Ciro Gomes retorne ao Ministério na mesma posição anterior, no comando da pasta da Integração Nacional, está neste contexto. Ciro tende a não aceitar, seria mais do mesmo, depois de ter sido impedido de concorrer à Presidência da República por uma decisão autocrática do presidente Lula.

Mas interessa também a Ciro Gomes manter-se em evidência para futuros movimentos políticos. A Secretaria de Portos, com status de ministério, se for agregada a ela a tarefa de cuidar dos aeroportos, poderia ser um bom desafio.

Resolver o apagão aéreo, viabilizar a Copa do Mundo de futebol e as Olimpíadas, colocaria Ciro em posição destacada especialmente junto à classe média, que é quem mais está usando aviões hoje.

O interessante disso tudo é que o PSB, embora tenha crescido na eleição, seja um partido que tem maior perspectiva de poder, tendo Eduardo Campos reeleito governador em Pernambuco como exemplo de liderança ascendente, não foi beneficiado nessa divisão de forças no Ministério.

O partido cresceu na sua representação legislativa tanto na Câmara, onde passou de 27 deputados federais para 34, quanto no Senado, onde elegeu três novos senadores.

Mas foi nos governos estaduais que o PSB aumentou mais seu cacife. Depois do PSDB, foi o partido que mais elegeu governadores, seis ao todo, sendo quatro deles no Nordeste: Ceará, Pernambuco (reeleitos), Paraíba e Piauí, além de Amapá e Espírito Santo, representando quase 15% do eleitorado.

A posição do PSB no momento é a seguinte: compreende as dificuldades da presidente Dilma para contentar seus aliados, entende que o PT é um partido muito difícil, dividido em facções que precisam ser agradadas, mas não está muito satisfeito.

Esse estado de espírito pode gerar negociações paralelas mais adiante no PSB, que tem uma ligação estreita com o ex-governador de Minas Aécio Neves, eleito agora senador. Tanto que o governador do Ceará, Cid Gomes, já havia lançado o nome dele como um candidato de consenso à presidência do Senado.

Ciro Gomes já havia dito, durante a campanha, que, se Aécio fosse o candidato do PSDB à Presidência, o PSB poderia apoiá-lo. E o governador Eduardo Campos avisara o governo de que, se essa hipótese se confirmasse, dificilmente as bases partidárias ficariam ao lado de Dilma. Uma aliança entre o PSB e o PSDB, superados os obstáculos paulistas, não seria uma ação trivial.

O PSDB, com a força eleitoral que tem no Sudeste e no Sul, e o PSB, no Nordeste, fariam uma dobradinha importante para a próxima eleição de 2014. Ciro Gomes deve estar avaliando as vantagens de vir a ser ministro novamente, o que o colocaria em posição política melhor do que se não estiver em cargo algum.

O PSB, que foi o partido da base que mais cresceu proporcionalmente nas últimas eleições, não se conforma mais em ser apenas um apêndice do PT. O que dificulta os entendimentos é a língua ferina de Ciro Gomes, que, magoado com as manobras que inviabilizaram sua candidatura à Presidência da Repúb l i c a , s a i u a t i r a n d o n a a l i a n ç a p o l í t i c a c o m o PMDB, que classificou certa ocasião de “um ajuntamento de assaltantes”.

E disse que o vice-presidente eleito, Michel Temer, era “o chefe dessa turma de pouco escrúpulo”. Temer, pragmático, não está satisfeito com o convite, mas está tranquilo. Afinal, foi eleito, e Ciro deverá obediência a ele.

Os líderes do PMDB é que não estão nada satisfeitos. Se o ministro Ciro Gomes precisar de apoio no Congresso, não vai contar com o maior partido.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

MRS baixa tarifa para ajudar Vale, diz investidor 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 14/12/2010 

O Clube de Investimento dos Ferroviários Sudfer, acionista minoritário da MRS Logística, controlada pela Vale, obteve liminar contra a decisão da CVM relativa à denúncia de minoritários de que a ferrovia baixou tarifa para beneficiar a mineradora.
O colegiado da CVM havia julgado improcedente a queixa de suposto abuso de poder de controle da Vale.
O Sudfer acusa a mineradora e outros acionistas menores (usinas siderúrgicas) de pressionarem a MRS para manter tarifas de transporte artificialmente baixas.
As maiores acionistas da ferrovia são justamente os seus principais clientes. Juntas, Vale e siderúrgicas controlam 90% do tráfego da ferrovia. A mineradora tem uma participação direta e indireta de 40% na MRS.
Relatório do Sudfer apresentado no processo da CVM e, depois, anexado à argumentação na Justiça, afirma que a redução artificial de receita da empresa ao promover tarifárias baixas pós-privatização geraram perda de R$ 7 bilhões à companhia. A empresa virou só um "centro de custo" para as controladoras, diz a entidade.
"Fizeram um crime com a MRS e os minoritários", afirma João Braga, do Sudfer.
O represamento tarifário fez com que a companhia ficasse de 1997 a 2003 sem distribuir dividendos, com prejuízo dos minoritários.
Depois da privatização, a MRS registrou perdas por sete anos seguidos. Operou no azul nos últimos anos, mas, quando era estatal, a antiga malha da Rede Ferroviária Federal herdada pela MRS tinha lucro anual de cerca de US$ 100 milhões, diz.

Justiça suspendeu decisão da CVM

Em maio, a Justiça suspendeu a decisão da CVM com o entendimento de que o relator do processo, Eli Lória, diretor da autarquia, deveria ter se declarado impedido de julgar o caso.
O filho de Lória trabalhava no escritório de advocacia que defendia acionistas da MRS no processo da xerife do mercado de ações.
Na semana passada, o TRF da 2ª Região, no Rio, suspendeu a decisão da primeira instância da Justiça Federal.
Com isso, a 22ª Vara Federal, que havia suspenso o processo da CVM, deverá julgar o mérito, aguarda o Clube de Investimento dos Ferroviários Sudfer.
Procurada, a MRS diz que a decisão da Justiça não envolve a companhia -e, sim, a CVM. Diz que a "jamais" houve decisão da CVM ou da Justiça que "considerasse abusiva" a "política tarifária e de distribuição de dividendos".
A Vale não quis se pronunciar. A CVM disse apenas que conseguiu na Justiça derrubar a decisão da primeira instância e manter válida a decisão de seu colegiado.

SEGURANÇA NO NORDESTE

O Grupo GR expande a sua atuação na área de segurança para o Nordeste. Neste mês, a empresa vai inaugurar uma filial na Bahia e, no início de 2011, outra em Pernambuco.
"As empresas estão se expandindo pelo país e nós estamos indo atrás dos nossos clientes", diz Maurice Braunstein, presidente da companhia.
O porto de Suape, em Pernambuco, e as áreas industriais da Bahia são vistas como grandes oportunidades de expansão e de atração de investimento, segundo Braunstein.
A demanda pelo serviço de segurança está crescendo. "Não é só pelo índice de criminalidade, mas pela tendência de maior prevenção das corporações."
Os setores que mais crescem são o imobiliário, de segurança em condomínios, e o hospitalar, segundo Braunstein.
A grupo projeta faturamento de R$ 250 milhões para este ano. Para 2011, a expectativa é crescer 30% e expandir a atuação nas cidades do interior do Estado de São Paulo.

Brasil é melhor país para fazer investimento na AL, diz estudo

O Brasil é o país mais atrativo da América Latina para a realização de novos investimentos, na opinião de 71% das empresas espanholas que operam na região.
A informação é da agência Kreab & Gavin Anderson e da IE Business School, de Madri.
Além do Brasil, outros três países latino-americanos devem aumentar a quantidade de investimentos recebidos a partir da Espanha no ano que vem: México, Peru e Colômbia. Já na Argentina, apenas 38% dos empresários pretendem aumentar os negócios no país, enquanto 50% querem diminuir.
De acordo com o levantamento, São Paulo passou Santiago do Chile e é vista como a cidade com mais condições para abrigar filiais de empresas no continente.
O tipo de câmbio e a falta de infraestrutura ainda são vistos como os principais problemas do Brasil para as 24 empresas ouvidas pelo trabalho. A Telefônica, a seguradora Mapfre e o banco BBVA estão entre os que participaram do estudo.

Crédito no... A Vivo fechou com o Banco do Brasil um pacote de incentivo para os correntistas que utilizam celular pré-pago. O pagamento da manutenção da conta-corrente vai virar crédito mensal no telefone. Serão oferecidas três opções de pacotes: R$ 10, R$ 15 e R$ 25.

...telefone Além do BB, o Bradesco também oferece o benefício. O banco tem parceria com Vivo, Claro e TIM. O acordo com a Vivo começou em maio e, desde então, 70 mil clientes aderiram.

Consenso Empresas precisam de uma ferramenta mais avançada para entender seus consumidores, segundo a consultoria Bain & Company. Pesquisa da consultoria com 362 empresas mostrou que 77% delas acreditavam que ofereciam uma "experiência superior" aos clientes. Mas só 8% dos clientes concordavam.

Distribuidor de TI O mercado de distribuição de produtos de informática e tecnologia vai faturar R$ 12,4 bilhões em 2010, afirma a Abradisti (associação do setor).

Decoração Em novembro e dezembro são vendidas na Ceagesp 140 mil tuias, as árvores de Natal. Os pinheirinhos geram movimento de R$ 4,5 milhões aos comerciantes.

Mão de obra A consultoria LCA reforçou a equipe de investimentos e finanças corporativas com a contratação do economista Marcelo Lopes.

INTERIOR EM OBRA

A incorporadora João Miranda Negócios Imobiliários vai investir R$ 400 milhões em Campinas (SP) até 2014.
Ex-diretor de desenvolvimento do grupo Sonae, que fez shopping na cidade, Miranda tem dois empreendimentos em vista: um "multiuso", com centro comercial, torre de escritórios e hotel, no Cambuí, e o Due, com 38 apartamentos e 142 salas comerciais, no bairro Pedreira do Chapadão.
Com previsão de lançamento em 2012 e inauguração em 2014, o shopping será voltado para as classes A e B terá 25 mil m2 de área bruta locável e investimento de R$ 250 milhões.
Para os 300 "flats", irão R$ 60 milhões, e a torre com 400 salas comerciais receberá R$ 50 milhões.
"Faltam shopping e um multiuso como esse na região central de Campinas", diz. Segundo ele, 70% dos recursos virão de investidores do mercado imobiliário.

NA FONTE

DORA KRAMER

Razões outras 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 14/12/2010 

Quase metade do ministério que toma posse com a presidente Dilma Rousseff no próximo dia 1º de janeiro já foi anunciada e até agora não se ouviu coisa alguma sobre a excelência profissional dos indicados para as respectivas pastas.

Uma exceção para confirmar a regra: Alexandre Tombini, do Banco Central, um funcionário de carreira reconhecido e respeitado.

Não que não existam competências entre os ministros escolhidos. Existem e até comprovadas, como é o caso de Antonio Palocci para a Casa Civil, não obstante o toque de impropriedade que o episódio da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa confere à presença dele em tão estratégico posto.

Não pôde continuar à frente do Ministério da Fazenda, mas pode assumir um lugar que do ponto de vista do cotidiano de governo é o segundo depois da Presidência. Mas, como vivemos tempo de irrelevâncias no tocante ao conceito do ser e também parecer irretocável para se ocupar um cargo público, relevemos.

Ainda que o mérito tenha deixado de ser critério há muito tempo na escolha de auxiliares presidenciais, impossível não notar, e registrar, a arbitragem à deriva vigente na composição do Ministério Dilma em particular.

Tão exorbitante que é vista com a maior naturalidade a reserva de "cotas" à presidente dona da prerrogativa, conferida pela eleição, de nomear quem queira. E por conta desse exotismo não se pode perceber o que Dilma Rousseff realmente quer para o governo a ser iniciado em 18 dias.

Entretanto, já soubemos o que o presidente Luiz Inácio da Silva quis e a cada dia tomamos conhecimento de um novo desejo dele a ser satisfeito. Soubemos também que há ministros nomeados porque se mostraram "confiáveis" durante a campanha, bem como tivemos notícia de que o ministro da Agricultura continua porque o vice Michel Temer quer.

Pelo mesmo motivo Moreira Franco comandará a Secretaria de Assuntos Estratégicos para, entre outras funções, comandar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e seu conhecido cardápio de sugestões solenemente ignoradas.

Fernando Pimentel irá para o Desenvolvimento porque é amigo de longa data de Dilma e perdeu a eleição em Minas; a escolha de Ideli Salvatti para a Pesca guarda relação com a reserva de mercado para o grupo petista de Santa Catarina.

Alfredo Nascimento continua nos Transportes não pela excelência (?) demonstrada à frente da pasta, mas porque assim quis o PR. Edison Lobão, cujo desastre na condução da última crise de energia dispensa apresentações, volta porque José Sarney quer.

O maranhense Pedro Novais vai para o Turismo - a pasta que libera emendas parlamentares a mancheias para entidades fantasmas - porque o PMDB da Câmara se articulou com Sarney.

Ciro Gomes está cotado para a Integração Nacional. Ciro, ou alguém de sua confiança, ganha uma pasta na cota do critério de prevenção de danos.

Para o Desenvolvimento Agrário, a indicação resultou do trabalho da ''cooperativa'' formada pelos governadores do PT no Nordeste para obter uma representação na equipe.

Antonio Carlos Valadares foi convidado para a pasta a ser criada das Micro e Pequenas Empresas, mas quer coisa melhor por causa da motivação de sua escolha: a necessidade de abrir vaga para José Eduardo Dutra no Senado.

O baile segue nessa toada onde sobram homens e mulheres, mas faltam ideias e todo mundo faz de conta que é assim mesmo. A exceção foi o senador eleito Eduardo Braga que deu uma entrevista ao Estado dizendo ter recusado a Previdência por falta de projeto para a área.

Pena que não era verdade. Não foi ministro porque Renan Calheiros vetou: precisava do cargo para acomodar Garibaldi Alves, pois era necessário afastá-lo da disputa pela presidência do Senado.

Da mesma forma, a disputa pela presidência da Câmara pautará a escolha de outro ministro do PT, partido campeão na ocupação de espaços na Esplanada a partir do critério da divisão de cargos entre as tendências internas do aparelho.

É bonito tudo isso? Feio de doer, mas é assim que a banda toca no retrógrado e viciado modo brasileiro de fazer política e governar o País.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Primeiro contrato não se esquece 
Sonia Racy

O Estado de S.Paulo - 14/12/2010

Alckmin acaba de acertar financiamento internacional de US$ 600 milhões antes mesmo da sua posse em janeiro. Na sexta-feira, o governador eleito selou acordo com técnicos da Japan International Cooperation Agency (Jica) de dois contratos mediante contrapartida do Estado.

O primeiro se refere à saúde das praias paulistas e será viabilizado por meio da Sabesp. Valor? R$ 200 milhões. O segundo, de R$ 400 milhões, tem como destino o combate à perda de água no sistema de saneamento básico. "O padrão internacional é de 13%. São Paulo, que apresenta média melhor que outros estados do País, ainda perde 26% do fluxo", lamenta Alckmin.

Moço da Bic

Quem assinará com o governador será Andrea Calabi, futuro secretário da Fazenda de São Paulo. "Aceitei o convite domingo, no fim do dia", conta Calabi, tucano-técnico que já foi presidente do BNDES, secretário executivo do Planejamento, e outras mais. Trabalhará para o Estado tendo feito uma promessa para sua mulher, Marta: a de que estará livre, em casa, às 20h.

Pena que não vai cumprir.

Cuidado, Batman

Ozzy Osbourne vai voltar para fazer mais um show no Brasil

Seu primeiro, promovido por Roberto Medina, quase foi cancelado. No dia do embarque, uma ONG de proteção de animais silvestres entrou com mandato de segurança impedindo a entrada de Ozzy no Brasil. Motivo: ele tem o hábito de comer morcegos.

O empresário negociou contrato com a ONG e avisou que o cantor se comprometeria a não comer os mamíferos durante sua estada no País. Antes de aceitar, porém, a ONG exigiu incluir na papelada, o item "morcegos e... Derivados".


No caderninho

Em vias de aceitar trabalhar com Dilma, Ciro Gomes terá que assumir linha "esqueça o que eu disse" em reuniões ministeriais.

Parte do PMBD ligado a Temer anotou algumas de suas declarações este ano. "Quem manda no PMDB não tem o menor escrúpulo: nem ético, nem republicano, nem compromisso público", é uma delas. Além do "é um ajuntamento de assaltantes, metralhando: "Michel Temer é hoje o chefe dessa turma". Nossa!

Suspense

Tudo indica que a Petrobrás não pode, neste momento, prescindir da liderança de José Sérgio Gabrielli. Dilma, no entanto, pelo que se apurou, ainda não conversou com o presidente da estatal. Seu time justifica: ela o fará depois que acabar de pensar na composição ministerial.

Nada de imagens

Quem entra no perfil do criador do Facebook, Mark Zuckerberg, tem uma surpresa. O empresário possui 2 milhões de amigos e pouquíssimas fotos. Dentre elas, há uma imagem dele com... Cazé Peçanha. Na entrevista, em julho, o VJ pediu que o bilionário cantasse sua música favorita da banda Green Day. Mas ele, tímido, se recusou.

Zoropa

Fernando Meirelles busca na Europa locações para seu novo longa. Não volta antes de fevereiro.


Na frente


Sérgio Cabral fala na sexta para convidados de Mario Garnero em evento da Brasilinvest, Fórum das Américas e Associação das Nações Unidas-Brasil. No Harvard Club, em Nova York.

Barrichello, Lucas Di Grassi, Max Wilson e Simoninha estão no Encontro de Craques. Hoje, na Volkswagen Haus.

Adriana Barra estreará nas passarelas, hoje, ao lado do stylist Felipe Veloso.

Andrea Matarazzo e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo preparam homenagem para FHC, presidente da Fundação Osesp. Sábado, na Sala São Paulo.

A O2 Filmes comemora hoje seu novo prédio.

O novo e-commerce de moda NetLet inaugura suas operações em todo o Brasil. Hoje.

Rita Lobo autografa Panelinha. Hoje, na Cultura do Conjunto Nacional.

Eudóxia de Barros se apresenta domingo no Hebraica.

Correção: o jantar de Nizan Guanaes para Arianna Huffington é dia 21. E não hoje.

Conforme antecipado anteontem no blog da coluna, a Amil comprou o Hospital Samaritano no Rio.

Vanessa da Mata cantou, sexta, em São Paulo, com crise de hérnia de disco. Mesmo assim, ela rodopiou. E muito.

MÍRIAM LEITÃO

Disputa de geração 
Miriam Leitão 

O Globo - 14/12/2010

O PT é o primeiro partido que tem condições de realizar o sonho de consumo de todos os partidos brasileiros: ficar no poder por no mínimo 20 anos. O grupo do presidente cassado Fernando Collor tinha essa pretensão, vocalizada pelo seu braço-direito PC Farias. Também o PSDB planejava essa permanência estendida quando aprovou a reeleição presidencial, estratégia montada pelo “trator” tucano, o falecido Sérgio Motta.

Depois de 8 anos de governo Lula, e tendo conseguido eleger Dilma Rousseff para pelo menos mais 4 anos, o PT pode alcançar essa meta se a hipótese de Lula se candidatar em 2014 se confirmar.

E essa permanência pode ser ainda maior se a presidente Dilma se reeleger em 2014 e Lula voltar à presidência em 2018. Nesse caso poderão ser nada menos que 26 anos de poder petista seguidos.

Lula terá dentro de quatro anos os mesmos 69 anos com que Serra disputou pela segunda vez a Presidência da República este ano. E estará com 73 anos se se candidatar em 2018, a mesma idade que Serra terá em 2014, quando pretende se candidatar pela terceira vez, a valer a disposição atual. Quase a mesma idade com que Tancredo Neves foi eleito em 1985.

Tudo isso somado, fica demonstrado que não será nada fácil ao PT realizar seu sonho de consumo, pois ele implicaria relegar a um segundo plano políticos de diversas tendências que, tendo uma perspectiva nacional, seriam condenados a viver à sombra do PT toda a sua carreira. Todos eles têm hoje entre 45 e 50 anos, e compreensivelmente não gostam muito da ideia de o PT ficar no poder mais 12, 16 anos.

Ao fim da saga petista, estarão perto dos 60 anos e terão passado a vida inteira como coadjuvantes do PT, quando não na oposição. Congelados politicamente. No PSB, o próprio governador Eduardo Campos (45), Ciro Gomes (53), o governador do Ceará, Cid Gomes (47), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (50); no PMDB, o governador do Rio, Sérgio Cabral (47), e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (41); no PSDB o senador eleito Aécio Neves (50), o governador do Paraná, Beto Richa (45); no DEM, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (50).

O convite feito pela presidente eleita, Dilma Rousseff, para que Ciro Gomes retorne ao Ministério na mesma posição anterior, no comando da pasta da Integração Nacional, está neste contexto. Ciro tende a não aceitar, seria mais do mesmo, depois de ter sido impedido de concorrer à Presidência da República por uma decisão autocrática do presidente Lula.

Mas interessa também a Ciro Gomes manter-se em evidência para futuros movimentos políticos. A Secretaria de Portos, com status de ministério, se for agregada a ela a tarefa de cuidar dos aeroportos, poderia ser um bom desafio.

Resolver o apagão aéreo, viabilizar a Copa do Mundo de futebol e as Olimpíadas, colocaria Ciro em posição destacada especialmente junto à classe média, que é quem mais está usando aviões hoje.

O interessante disso tudo é que o PSB, embora tenha crescido na eleição, seja um partido que tem maior perspectiva de poder, tendo Eduardo Campos reeleito governador em Pernambuco como exemplo de liderança ascendente, não foi beneficiado nessa divisão de forças no Ministério.

O partido cresceu na sua representação legislativa tanto na Câmara, onde passou de 27 deputados federais para 34, quanto no Senado, onde elegeu três novos senadores.

Mas foi nos governos estaduais que o PSB aumentou mais seu cacife. Depois do PSDB, foi o partido que mais elegeu governadores, seis ao todo, sendo quatro deles no Nordeste: Ceará, Pernambuco (reeleitos), Paraíba e Piauí, além de Amapá e Espírito Santo, representando quase 15% do eleitorado.

A posição do PSB no momento é a seguinte: compreende as dificuldades da presidente Dilma para contentar seus aliados, entende que o PT é um partido muito difícil, dividido em facções que precisam ser agradadas, mas não está muito satisfeito.

Esse estado de espírito pode gerar negociações paralelas mais adiante no PSB, que tem uma ligação estreita com o ex-governador de Minas Aécio Neves, eleito agora senador. Tanto que o governador do Ceará, Cid Gomes, já havia lançado o nome dele como um candidato de consenso à presidência do Senado.

Ciro Gomes já havia dito, durante a campanha, que, se Aécio fosse o candidato do PSDB à Presidência, o PSB poderia apoiá-lo. E o governador Eduardo Campos avisara o governo de que, se essa hipótese se confirmasse, dificilmente as bases partidárias ficariam ao lado de Dilma. Uma aliança entre o PSB e o PSDB, superados os obstáculos paulistas, não seria uma ação trivial.

O PSDB, com a força eleitoral que tem no Sudeste e no Sul, e o PSB, no Nordeste, fariam uma dobradinha importante para a próxima eleição de 2014. Ciro Gomes deve estar avaliando as vantagens de vir a ser ministro novamente, o que o colocaria em posição política melhor do que se não estiver em cargo algum.

O PSB, que foi o partido da base que mais cresceu proporcionalmente nas últimas eleições, não se conforma mais em ser apenas um apêndice do PT. O que dificulta os entendimentos é a língua ferina de Ciro Gomes, que, magoado com as manobras que inviabilizaram sua candidatura à Presidência da República, saiu atirando na aliança po lítica com o PMDB, que classificou certa ocasião de “um ajuntamento de assaltantes”.

E disse que o vice-presidente eleito, Michel Temer, era “o chefe dessa turma de pouco escrúpulo”. Temer, pragmático, não está satisfeito com o convite, mas está tranquilo. Afinal, foi eleito, e Ciro deverá obediência a ele.

Os líderes do PMDB é que não estão nada satisfeitos. Se o ministro Ciro Gomes precisar de apoio no Congresso, não vai contar com o maior partido.

GOSTOSAS

CELSO MING

Mais Europa. E não menos 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 14/12/2010

Os problemas na área do euro são tão graves que o primeiro impulso que ocorre aos políticos é abandonar de uma vez a moeda encrencada e voltar às moedas nacionais. Isso ocorre tanto aos alemães, que têm saudades do velho e forte marco, como aos gregos, irlandeses, portugueses e espanhóis, que hoje não podem recorrer ao antigo recurso de provocar a alentada desvalorização cambial, que garantisse maior competitividade da produção interna e, portanto, uma saída da encalacrada atual pelo crescimento das exportações.

É por isso que, nas últimas semanas, se falou tanto em fim do euro, em desmembramento em pelo menos duas ou três moedas comuns; ou então, à saída do bloco de um ou mais países, inclusive da Alemanha. A própria chanceler alemã, Angela Merkel, chegou a avisar que o fim do euro não era mais uma hipótese inadmissível.

Mas esta é uma falsa solução, que implica menos Europa. Tende a trazer mais problemas que soluções. Para o país quebrado, por exemplo, sair do euro significaria voltar à moeda própria em níveis fortemente desvalorizados, decretar o calote da dívida, renunciar a qualquer ajuda financeira a partir do bloco, permanecer anos e anos no limbo do mercado de títulos e, talvez pior que tudo, enfrentar uma inflação dramática produzida pela desvalorização cambial.

Para os países centrais, abandonar o euro significaria voltar à sua nacional insignificância, dizer não a uma moeda internacional de reserva, adiar por tempo indeterminado a condição de liderar a Europa e, last but not least, enfrentar um clima de negócios dentro da Europa (para onde vai a maioria das suas exportações) num ambiente de dramática volatilidade cambial, que tira previsibilidade aos contratos.

Por isso, a cada surto de volta ao passado se reforçam as propostas de soluções de "mais Europa". Ontem, o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, avisou que o governo da Alemanha está disposto a discutir propostas de coordenação de políticas fiscais dentro da área do euro.

O maior problema do bloco não é a divisão em países ricos e pobres; ou em países centrais e países de periferia. Nos Estados Unidos, por exemplo, também há Estados ricos, como Nova York, Flórida e Illinois. Mas há também a eternamente falida Califórnia e os remotos Alasca ou Havaí. E, no entanto, não há dificuldade em manter a moeda comum, o dólar, porque a política fiscal é a mesma, as leis são as mesmas e há uma transferência de recursos organizada.

A União Europeia não é assim. Cada país tem sua política fiscal, com seu orçamento e seu sistema de impostos; cada um tem regime próprio de previdência social e de subsídios e medidas assistenciais. A principal fragilidade do euro é a baixa consistência fiscal, cuja solução exige um mínimo de unidade.

O que Schäuble está dizendo é que a saída consiste em costurar uma unidade fiscal, que, por sua vez, exigirá um amplo acordo político para constituí-la e para administrá-la.

O problema é que a solução "mais Europa" implica influência e maior poder dos países centrais, especialmente Alemanha e França, sobre os demais. Até agora, essa união fiscal e política não foi possível. Mas são tantas as encrencas que afligem a área que esta talvez seja a única saída que evite a desagregação.


CONFIRA

A forte aceleração do calote em novembro (veja gráfico), ontem divulgada pela Serasa, a empresa que faz esses levantamentos, já havia sido detectada pelo Banco Central. E foi o que motivou as restrições ao crédito tomadas juntamente com o Conselho Monetário Nacional no dia 3.

Tem cara de bolha
O objetivo das medidas foi impedir, na origem, o desenvolvimento de uma bolha do crédito que poderia colocar em risco a saúde de toda a rede bancária. O Banco Central conta com uma reversão desse movimento já nos próximos dois meses.

RUBENS BARBOSA

Mercosul - retórica e realidade
Rubens Barbosa 

O Estado de S.Paulo - 14/12/10
Neste semestre, pela última vez no governo Lula, o Brasil assumiu a coordenação do Mercosul.
O ministro Celso Amorim, em recente discurso em Montevidéu, no Parlamento do Mercosul, reafirmou que a integração da América do Sul é a prioridade número um da política externa brasileira e que o fortalecimento do bloco é uma questão de honra do governo Lula.
Num exercício positivo de transparência para com a opinião pública nacional, nesse pronunciamento e em entrevista recente, Amorim delineou as intenções brasileiras para a reunião presidencial desta semana em Foz do Iguaçu. Disse que é preciso pensar grande e dar um salto qualitativo, com a aprovação de uma série de medidas que venham a definir metas para avançar na conformação plena da união aduaneira, visando à criação de um ainda distante mercado comum.
Foram alinhadas mais de 15 propostas que serão discutidas pelos presidentes dos quatro países membros. O amplo programa repete algumas das propostas apresentadas em dezembro de 2004, quando o governo brasileiro delineou um ambicioso projeto de revitalização do Mercosul - Objetivo 2006 -, aprovado dois anos depois como Programa de Trabalho 2004-2006, com pouco ou nenhum resultado desde então.
Dentre as medidas propostas pelo governo brasileiro caberia mencionar, pelo significado para a consolidação da união aduaneira, a discussão das exceções à Tarifa Externa Comum (TEC) e a definição de metas para sua eliminação gradual, sempre levando em conta as sensibilidades de todos os sócios. Cabe também lembrar o apoio à expansão do comércio de serviços, à negociação de acordo de garantia de investimentos, à adaptação do protocolo de compras governamentais do Mercosul, à necessidade de ser dado tratamento mais favorável aos sócios do que aquele que, isolada ou coletivamente, está sendo conferidos a terceiros países.
Adicionalmente, há uma ampla agenda visando ao aprofundamento dos aspectos sociais, a ser examinada pelo recém-criado Instituto Social do Mercosul, que começará a funcionar em breve em Assunção (Paraguai).
As propostas apresentadas por Amorim são coerentes com a retórica da prioridade que o Brasil atribui ao Mercosul, mas, mesmo aprovadas pelos presidentes na próxima reunião do conselho, parecem estar fadadas a ter destino idêntico ao do programa de 2006. Dificilmente haverá disposição política para levá-las adiante, entre outras razões, porque mudaram as circunstâncias em que o processo de integração hoje se desenvolve na América do Sul e no âmbito do Mercosul.
As realidades políticas e comerciais são muito diferentes das existentes quando da criação do Mercosul, em 1991. Em 1992, quando exerci a função de coordenador nacional, o Brasil fez proposta semelhante para a execução de uma série de medidas no que ficou conhecido como o cronograma de Las Leñas, com resultados insuficientes.
As divergências e diferenças políticas que surgiram com o aparecimento do movimento bolivariano, liderado por Hugo Chávez, e, nos últimos anos, a emergência da China como o primeiro parceiro comercial de muitos países da região, o Brasil incluído, tornaram o exercício de negociação no âmbito do Mercosul mais difícil e com poucas chances de sucesso. O bloco perdeu espaço político para outras instituições, como a Unasul. A crescente projeção externa do Brasil, por outro lado, está tornando o Mercosul e a América do Sul pequenos para os interesses brasileiros.
Das propostas anunciadas, talvez a mais discutível seja a introdução na estrutura do Mercosul de uma figura política que dê um rosto ao grupo. Essa personalidade, na visão do governo brasileiro, deveria ter funções substantivas, com atribuições para propor iniciativas sobre matérias relacionadas ao processo de integração e para articular consensos entre os Estados sobre temas relevantes para o bloco.
Do ponto de vista brasileiro, a proposta de criar uma figura política como presidente do Mercosul ou seu secretário-geral deveria ser mais bem examinada, por ser claramente inconveniente. Não convém ao Brasil, no atual estágio de integração do bloco, cogitar da criação de uma instância com poder de iniciativa. A menos que o cargo esteja sendo pensado para o presidente Lula ou para o ministro Celso Amorim, para atender a interesses políticos de curto prazo, o que parece pouco provável. Só em pensar que o cargo possa ser preenchido por personalidades de outros países membros ou que essa figura possa ser um político venezuelano, depois de completado o processo de adesão de Hugo Chávez ao Mercosul, podemos avaliar o potencial de risco para o Brasil. Como as decisões continuarão a ser tomadas por consenso, não se prevendo nem a discussão e muito menos a instituição do voto ponderado, a tendência será o Brasil ficar isolado nas matérias de real importância para nós.
Penso que o processo de integração regional e sua negociação no âmbito do Mercosul têm de ser revistos à luz das transformações que estão ocorrendo com grande impacto na região. Do ponto de vista do Brasil, o que nos interessa agora é ampliar os acordos comerciais e abrir corredores de exportação no Pacífico para as exportações brasileiras serem mais competitivas no mercado asiático, em particular no chinês. O comércio intra-Mercosul e intrarregional continuará a crescer com ou sem o bloco. O Mercosul político e social terá mais visibilidade do que o comercial. A integração física não apresenta controvérsias nem disputas e poderá avançar com mais rapidez.
O futuro governo poderá continuar a apontar o Mercosul como prioridade máxima na retórica oficial. Na prática, porém, se o Brasil realmente se interessar, os resultados concretos virão da integração física.
EX-EMBAIXADOR EM WASHINGTON (1999-2004), É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

O ABILOLADO

XICO GRAZIANO

Uma flor de pessoa
Xico Graziano 


O Estado de S.Paulo 14/12/10
Muita gente confunde as orquídeas com parasitas. Mas não tem nada que ver. As parasitas vivem à custa de seus hospedeiros, neles introduzindo suas raízes para lhes sugar a seiva. Esse fenômeno, próprio das chamadas ervas más, não ocorre com as orquídeas. Elas simplesmente "moram" sobre as árvores.
Epífita: assim se denomina botanicamente a sua situação. Embora existam espécies terrestres, normalmente as orquídeas se apresentam longe do chão, estabelecendo uma associação sadia com as árvores, agarrando-se aos galhos com suas grossas raízes, sem prejudicar ninguém. Lá em cima, buscam luz sombreada e aproveitam-se da água e dos nutrientes que encontram nas cascas da parceira, cheias de materiais em decomposição, enriquecidos com a poeira trazida pelos ventos. Vivem numa boa, sem atrapalhar ninguém.
As flores de orquídeas encantam a humanidade há milênios. Surgidas há 84 milhões de anos, as orquídeas espalharam-se pelo mundo, inexistindo apenas na Antártida. Dizem que Confúcio, o grande filósofo oriental, por elas se interessou, indicando que foram os chineses os primeiros a destacá-las em sua cultura ornamental. Na Europa, os gregos primeiro a admiraram, curiosamente denominando-a orchis, palavra que significa "testículos". Supõe-se a estranha denominação pela semelhança de uma espécie de orquídea, descrita na época por Teofrasto de Lesbos, como ostentando dois pequenos tubérculos subterrâneos. Acabou confundida, simbolicamente, com a virilidade.
Colecionadores e aficionados sempre zelaram pelas orquídeas de forma amadora, pouco comercial. Seu cultivo exige estufas adequadas, nas quais se busca reproduzir o microclima - umidade e luz - das matas onde se escondem. Outra razão é seu restrito florescimento, verificado apenas uma vez ao ano. Lindas e raras, assim sempre foram consideradas as orquídeas.
Há muitas décadas, porém, essa história começou a mudar. Tudo se iniciou com a descoberta do processo de hibridação vegetal, por meio do qual se realiza, em laboratório, o cruzamento de duas espécies nativas de orquídeas, gerando um descendente inusitado. No Brasil, somente por volta de 1950 a técnica começou a ser pioneiramente aplicada por um médico mineiro, o dr Alberto Carlos Pereira Junior, de Guaxupé.
Professor de Biologia e apaixonado por essas maravilhosas flores, após anos de tentativas e erros promovendo a germinação das minúsculas sementinhas das orquídeas cruzadas no laboratório doméstico, onde aprimorava sua docência em Biologia, a hibridação ganhou seu lado comercial nos viveiros Rinaldi, destacado floricultor paulista de então. Quem testemunhou a história foi Tonico Pereira, seu filho jornalista.
O aprimoramento das variedades ganhou impulso decidido quando, mais tarde, os pesquisadores descobriram o uso da clonagem na reprodução das plantas. Isso foi fundamental porque normalmente os híbridos são estéreis, ou seja, não se reproduzem sexuadamente. Então, por meio da clonagem, consegue-se produzir milhares de idênticos descendentes da planta escolhida. Eles surgem a partir do meristema, ou gema de crescimento, aquela bolotinha que se observa na base dos bulbos das orquídeas. Dê uma olhada.
Estima-se que atualmente se cultivem 100 mil híbridos de orquídeas no mundo, inscritos obrigatoriamente na Royal Horticultural Society, em Londres. É para lá que acaba de ser enviada a solicitação do registro da Rhynchosophrocattleya Ruth Cardoso, uma deslumbrante orquídea desenvolvida pelo desembargador e orquidófilo paulista Damásio de Jesus.
Com flores amarelas e um pequeno detalhe vermelho no labelo, a nova orquídea foi apresentada na inauguração do Orquidário Ruth Cardoso, situado ali no Parque Villa Lobos, na capital paulista. Obra dos arquitetos Décio Tozzi e André Graziano, o caprichado orquidário é único no mundo.
Única e especial também foi Ruth Vilaça Corrêa Leite, nascida em Araraquara, no interior de São Paulo, no início da primavera de 1930. O Brasil jamais se esquecerá da simpática primeira-dama que odiava bajulação, preferindo ostentar sapiência.
Antropóloga, professora universitária (na USP), sua trajetória de vida combinou ensino e pesquisa com liderança na sociedade civil. A defesa dos direitos das mulheres e dos jovens, o fortalecimento da democracia, a construção de uma ordem mundial mais justa foram os principais campos de atuação de Ruth Cardoso em prol do desenvolvimento e da paz social.
Durante o mandato presidencial de seu marido, Fernando Henrique Cardoso, Ruth fundou e presidiu o Conselho da Comunidade Solidária. A iniciativa mobilizou parcerias entre ONGs, universidades, empresas e governos para a construção e a difusão de programas sociais inovadores. Contra o clientelismo político, a favor da emancipação humana.
Intelectual famosa, jamais perdeu o jeito simples de viver. Gostava de cozinhar, adorava quitutes, colecionava vidraria, fazia amizades, adorava plantas e flores. Ruth Cardoso foi, realmente, exemplar.
Para ela escrevi um singelo poema, tristemente inspirado no dia de seu falecimento, quando me ocorreu homenageá-la sugerindo ao governo construir o orquidário que hoje leva seu nome, um local de exposição das mais belas flores que existem.
"Sobre sua lápide repousava uma enorme flor de cattleya. Quem ali a colocou para espantar a tristeza da morte sabia de seu gosto pela vida. Meiga, singela, cultivava o hábito das pessoas simples do interior. Intelectual, professora, curtia a existência com graça e ternura, sempre acompanhada pelas flores, as orquídeas em especial. Era o que eu mais pensava naquele momento dolorido: Ruth Cardoso era uma flor de pessoa."
AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. 

ANCELMO GÓIS

DEVE SER TERRÍVEL
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 14/12/10
 
O empresário José Luiz Alquéres, presidente da Associação Comercial do Rio, foi assaltado no fim de semana em... Paris. Um gatuno jogou uma espécie de tinta em sua roupa, fingiu se aproximar para limpar e furtou sua carteira.

SEGUE... 
Aliás, Alquéres, ao falar do assalto com um amigo, ainda fez graça:
— O Complexo do Alemão está mais seguro que o Marais (o bairro parisiense).
É. Pode ser.

DIREITA, VOLVER 
Dilma deseja incluir no Mercosul, até 2014, Chile, Colômbia e Peru. Os três países têm hoje governos, digamos, mais à direita.

RESPALDO A ISABELA 
A ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, deve continuar no cargo. O ex-ministro Carlos Minc articulou para que o PT fechasse apoio ao nome de sua sucessora.

NÃO SAIU AO PAI 
O filho adolescente de um conhecido ex-jogador de futebol (atenção, não é Romário!) que sempre carregou as famas de mulherengo, machão e “bad boy” assumiu a sua homossexualidade. O machão não aceita a condição do filho. É pena.

CONTAGEM REGRESSIVA 
Faltam 17 dias para o fim da Era Lula.

THALITA FENÔMENO 
Thalita Rebouças, a escritora cada vez mais idolatrada pela garotada, já vendeu, acredite, todos os 30 mil exemplares de seu novo livro, “Ela disse, ele disse”, que a Rocco pôs nas livrarias. A editora corre para pôr mais 10 mil nos próximos dias. 

SAÚDE NO NORDESTE 
O Nordeste, veja só, foi a região do País com maior queda da mortalidade infantil nas últimas décadas. Uma redução de 65% entre 1990 e 2008.
No período, a taxa na região caiu de 87,3 por mil nascidos vivos para 32,8. Os dados fazem parte da publicação anual Saúde Brasil, que será lançada hoje pelo Ministério da Saúde.

MAS... 
As taxas de mortalidade infantil no Nordeste ainda permanecem acima da média nacional.

NA FARMÁCIA 
Diz a rádio corredor das farmácias que agora vai. A Eurofarma, gigante paulista da indústria de remédios, negocia sua fusão com o Laboratório Cristália. A conferir.

COMPLEXO DO ALEMÃO 
O arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, vai celebrar a missa de Natal da Igreja da Penha, com transmissão da TV Globo.

FUSCA VERDE 
Helmut Batista, irmão de Eike, foi visto em Santa Teresa, no Rio, dirigindo um fusquinha verde com um vidro quebrado.

PONTO SEM CULTURA 
Uma fiscal do MinC foi conferir o funcionamento de um Ponto de Cultura na Favela de Antares, em Santa Cruz, semana passada, e foi recebida por... dois meninos com fuzis.
Com medo, pediu para visitar o endereço onde estaria o ponto. Os dois a escoltaram, então, até um bar, que deveria ser uma sala de informática com aulas para moradores.

CONVIDADOS DA FESTA 
Confirmados, por enquanto, estão os presidentes da Colômbia. da Guatemala, do Peru, do Uruguai e, claro, da Venezuela de Chávez. Os primeiros-ministros da Coreia do Sul e do Haiti também confirmaram. E só.

GOSTOSA