sexta-feira, novembro 26, 2010

NELSON MOTTA

 A lógica dos raios
NELSON MOTTA
O Globo - 26/11/10

Incrível, fantástico ou extraordinário? Apenas coisas da vida: no ano passado, 131 brasileiros morreram fulminados por raios em diversas regiões do país. É mais gente do que as vitimas de desastres aéreos no período, que têm muito mais chances de acontecer, por dependerem de fatores humanos e mecânicos, além dos meteorológicos. Os raios, não: desabam dos céus aleatoriamente para fulminar um ser humano inocente, de qualquer sexo, idade ou classe social, que estava no lugar errado, na hora errada.

Pelo número de mortos no Brasil, imagina-se quanta gente do mundo inteiro voltou ao pó por uma descarga de milhões de volts disparada dos céus. A vida é mesmo assim, está sempre por um fio, absolutamente fora de qualquer controle humano. E pode acabar num raio, ou num infarto, a qualquer momento. Até para o mais poderoso dos mortais.

Desde Zeus e Iansã, os raios são a simbologia ancestral do poder da divindade e representam a força do acaso, da fatalidade e do destino. Eles fulminam a onipotência humana e revelam a nossa fragilidade e desimportância. Além dos acidentes, das tragédias, das doenças terminais e aleatórias, das balas perdidas e das dores crônicas que, como raios, fulminam a existência de alguém, não existem dinheiro ou poder no mundo que resistam a um simples cálculo renal, um apêndice supurado ou a um dente com o nervo exposto.

É duro admitir, mas não há justiça na natureza, nem no cosmos, nem nos deuses. É melhor aceitar que o conceito de justiça é uma invenção humana, com suas imprecisões e precariedades, para possibilitar uma vida civilizada em comunidade.

Dizem que os raios não caem duas vezes no mesmo lugar, mas há controvérsias: pelo menos metaforicamente, a história vem desmentindo esta crença. Senão Sarney não teria sido tantas vezes presidente do Senado. Brizola não teria governado o Rio de Janeiro duas vezes. Rosinha não teria sucedido a Garotinho.

Poucos ainda usam a velha expressão de origem portuguesa "vá para o raio que o parta". Mas, se for usar, diante das estatísticas brasileiras, cuidado com os seus desejos, porque eles podem se realizar.

RACIONAMENTO

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Trem-bala perdida no Alemão
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/11/10

O leilão do trem-bala pode ser adiado; se um dia sair, o trem vai passar no tiroteio das favelas do Rio e de SP? 


ESTÁ DIFÍCIL de sair o leilão do trem-bala. Mesmo com subsídios, taxas de juros de pai para filho, abatimento de juros e um sócio estatal, quase mais ninguém quer participar da concorrência, que seria fechada no próximo dia 29. Na prática, sobraram apenas empresas privadas e estatais da Coreia do Sul. Os chineses, que poderiam liderar outro consórcio, batem o pé, reclamam do prazo e das condições do negócio.
"Corta", como dizem nos filmes os diretores de cinema. Corta para as balas. Durante a tarde, o jornalista ouve mais queixas sobre o projeto do trem-bala e rumores do governo sobre o adiamento do leilão. Enquanto isso, passa na TV que o Rio de Janeiro vive dias da São Paulo dos tempos do PCC, a ONG ou "holding" do crime paulista. O trem-bala vai passar por ali, pela faixa de Gaza carioca, pelos subúrbios. Talvez perto de um daqueles caminhos de terra batida pelos quais os traficantes retiram-se diante do ataque da polícia e dos blindados da Marinha.
Um bangue-bangue de meia dúzia de bandidos basta para bloquear as Linhas Vermelha e Amarela, avenidas expressas que cortam os subúrbios conflagrados do Rio. Imaginem a diversão que seria estourar a tiros as janelas de um trem-bala novinho em folha. Não, claro que esse não é um argumento contra a construção do trem-bala. Mas dá o contexto.
Menos dramático, pelo menos no que diz respeito ao risco de perder a vida, a gente pode imaginar também os passageiros espremidos nos trens metropolitanos que saem da zona leste de São Paulo para despejar trabalhadores no centro da cidade. Da janela, talvez possam ver um trem-bala meio vazio zunindo na direção contrária, para o Rio.
Seria espírito de porco dizer que o Brasil não melhorou nos últimos 5, 10 ou 15 anos. Mas considerem os dados. Em qualquer um desses rankings de renda média, desenvolvimento humano e similares, o Brasil costuma aparecer lá pelo meio da lista de uns 150 países. Ainda somos muito pobrinhos, desiguais, cruéis, mal-educados, doentes, ignorantes, burocratizados, corruptos etc. Nossos sonhos de suprema elegância e grandeza ainda são uma pilhéria.
Parte da nosso surto recente de mania de grandeza deve-se à alegria de financistas, que fazem muito dinheiro por aqui. Temos uma Bolsa grande, uma economia razoavelmente grande e estável. Os povos dos mercados e seus porta-vozes ficam felizes e nos contagiam. Na febre, temos delírios de grandeza.
Inventamos que temos poder e dinheiro bastante para intervir em conflitos geopolíticos; que há uma "nova classe média" (trabalhadores pobres algo remediados e sem instrução); que podemos virar uma terra civilizada quando ainda a povoamos com tanta gente ignorante. Sim, fala-se muito de educação, mas a maioria detestamos discutir instrução a sério, porque não gostamos nem de escola nem de ler.
Sorte que os nossos bandidos sejam também pés de chinelo, ignorantes desorganizados dados a terrorismos amadores -lembre-se do profissionalismo bandido no México. Mas ainda podemos chegar lá.
Basta continuarmos dando atenção a futricas do PMDB, a juros que sobem num dia por causa de futricas sobre o BC, firulas sobre o Enem, sobre o analfabetismo do Tiririca etc. Enquanto isso, a taxa de juros ferve na chapa do Alemão.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Rio 400 Graus!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/11/10

E diz que, em "Tropa de Elite 3", o Capitão Nascimento entra pro Corpo de Bombeiros!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República!
RIO 400 GRAUS! São João fora de época! Manchete do Comentando: "Bandidagem do Rio adere ao Bilhete Único: 2 ônibus incendiados em menos de 2 horas!". Manchete do Sensacionalista: "Bandidos incendeiam Corcel 72 e dono agradece!". Rarará!
E diz que, em "Tropa de Elite 3", o Capitão Nascimento deixa o Bope e entra pro Corpo de Bombeiros! Rarará! Tão queimando tudo, mas não pode queimar o filme da cidade junto ao COI!
E olha o aviso duma empresa em Bonsucesso: "Caro colaborador, se você é morador da comunidade no morro e tem algum parente, amigo ou conhecido que seja traficante, avise-os para que nunca nos visite, pois temos pessoas que sofrem do coração e podem morrer ao ver uma arma. Nosso coração agradece". Aí picharam em cima do aviso: "XAMA O CAPITÃO NASCIMENTO! BUNDÃO! TÁ COM MEDO, MERMÃO?!".
E um leitor me disse que esse negócio de incendiar carro no Rio começou depois da passagem do Stallone! Rarará! E eu já falei que o Cabral vai combater os bandidos com três caravelas: Santa Maria, Pinta e Nina! Rarará!
E por cúmulo da ironia o prefeito se chama Paes! Tem que peitar esses bandidos mesmo. Se não, as UPPs vão virar EPA: Entrega pro Altíssimo! Rarará!
E o Palmeiras? E o Roubrasileirão? Diz que o Palmeiras tá melhor que o Sedex: entregou na quarta o que era para entregar só no domingo. Rarará!
"Papa admite camisinha em alguns casos." Quer dizer que a gente pode ter alguns casos? Efeito camisinha do papa: "Marido traído filma esposa na cama com padre". Onde? No Peru! Rarará! No Peru do Padre!
Nesse caso pode usar camisinha? E sabe o que fizeram com a mulher? Demitiram da paróquia. Rarará! Continua a sacranagem!
A situação está ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

LUIZ GARCIA

A coisa certa
Luiz Garcia
O Globo - 26/11/2010

Uma boa pergunta: como é que um chefão do tráfico, cumprindo pena numa penitenciária supostamente de segurança máxima, consegue comandar seus negócios como se estivesse na rua? A pergunta fica melhor ainda - ou mais preocupante - quando se sabe que foi feita esta semana pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.

Ela explica a transferência, quarta-feira, de oito traficantes de penitenciárias de Bangu para a de Catanduva, no Paraná. E também o oferecimento, pelo governo federal, de até 50 vagas nas suas prisões para bandidos cariocas. O que equivale a uma confissão de que a segurança, em Bangu, não é tão máxima quanto se poderia imaginar ou desejar.

O problema não é de hoje. Sempre foi assim, o que sugere não se tratar de um problema de falta de recursos ou incompetência administrativa. É verdade que o sistema penal brasileiro parece confiar demais na sua capacidade de regenerar os bandidos que recebe. Não são poucos aqueles que, por bom comportamento, são premiados com licenças para visitar a família e nunca mais voltam.

Mas esse é outro problema. A questão do momento não é a fuga, mas a comunicação entre os chefes de quadrilhas presos com seus cúmplices do lado de fora. Como não é possível desinventar o telefone celular, nem, pelo visto, impedir que ele seja contrabandeado para as celas, a única saída parece ser mesmo mandar para longe os chefes de quadrilhas. É o que está acontecendo agora: oito hóspedes de Bangu já foram mandados para Catanduvas, no Paraná. E de lá embarcaram para Porto Velho dois nossos conhecidos: Elias Maluco e Marcinho VP.

O que parece faltar é uma política preventiva: bandidão condenado no Rio começar a cumprir pena longe daqui. É assim em outros países. Chefes do tráfico em Nova York são despachados de saída para prisões no interior do estado, como Sing Sing. E não se cogita de instalar complexos penitenciários perto de grandes cidades.

Por aqui, as transferências agora anunciadas não deveriam ser vistas como a reação, adequada, sem dúvida, a uma crise. E, sim, como o início de uma nova política: criminosos profissionais de alta periculosidade devem começar a cumprir suas penas longe de casa, longe de seus cúmplices. Não é boa política esperar por momentos críticos para fazer a coisa certa.

BAR ZIL - O PUTEIRO

MERVAL PEREIRA

Capitão Nascimento 
Merval Pereira 

O Globo - 26/11/2010

Ontem foi dia de a realidade imitar a arte. Foi dia de torcer pelo Capitão Nascimento de Tropa de Elite, que todos nós vimos em ação, ao vivo e a cores, nas reportagens das emissoras de televisão. Que o personagem de Wagner Moura tenha se tornado o novo herói nacional é um sinal dos tempos, não necessariamente um bom sinal.

Ontem entraram em ação centenas de capitães Nascimento encarnados em cada um dos soldados do BOPE, que o personagem do filme de José Padilha se orgulha de ter transformado em “uma máquina de guerra”.

E quando essa máquina de guerra conseguiu colocar em disparada várias dezenas de bandidos em fuga pela mata, em direção ao Morro do Alemão, houve comemoração do cidadão comum que assistia à TV Globo como se acompanhasse um filme de aventura em que os mocinhos eram os policiais.

Ou como se aquelas imagens em tempo real fizessem parte de um game em que o telespectador poderia interferir manejando os comandos.

Mas foi também dia de a população como um todo tomar consciência da gravidade da situação, que muitas vezes só é sentida na carne pelas comunidades mais carentes.

A ação de terrorismo distribuída por toda a cidade, que já vinha sendo revelada com os arrastões na Zona Sul nos últimos dias, evidenciou que essas facções criminosas continuam ativas e bem armadas, com capacidade de levar o pânico a qualquer ponto.

O ponto positivo foi ver a reação policial, que deu a sensação de ter sido bem coordenada e comandada com extrema cautela para não colocar em risco a população. E mesmo assim eficiente.

É claro que a realidade lá fora mostrava uma cidade apavorada, quase deserta, com as pessoas escondidas dentro de casa.

Nas localidades envolvidas diretamente na guerra, era possível ver vez por outra lençóis brancos sendo acenados em pedidos desesperados de paz, enquanto as ações de guerrilha continuavam na Vila Cruzeiro, que acabou sendo dominada pelas forças públicas.

Essa verdadeira operação de guerra que se desenvolveu durante todo o dia na região da Penha mostrou uma grande ofensiva policial feita por 150 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e 30 fuzileiros navais com rostos pintados, colocando várias dezenas de bandidos em fuga, permitindo que a polícia ocupasse o alto da Vila Cruzeiro, aonde não conseguiam chegar há anos.

E tudo mostrado ao vivo pelos helicópteros das televisões, que deixaram os telespectadores espantados com o poder de fogo dos bandidos, e a quantidade de pessoas envolvidas nessa guerra.

Foi um reality show em tempo real que, ao mesmo tempo em que colocou em cada um de nós um sentimento de horror com a constatação da dimensão do problema que a cidade enfrenta, deu-nos também a certeza de que é preciso apoiar a ação do governo, que não há mais volta nesse combate contra o tráfico de drogas.

O fato de que pela primeira vez no combate aos traficantes foram usados Urutus da Marinha de Guerra. É “histórico”, como definiu o secretário de segurança José Mariano Beltrame, ao mesmo tempo em que todos ficamos espantados com a insinuação do secretário de que o Exército não parece disposto a colaborar.

A participação dos Urutus da Marinha e de Fuzileiros Navais na operação foi mais um elemento emocional positivo para a ação da polícia.

A cada barreira que um Urutu ultrapassava parecia uma vitória da sociedade sobre a bandidagem.

Mesmo que a Secretaria de Segurança não planejasse a ocupação da Vila Cruzeiro, ela se tornou inevitável depois que a TV Globo mostrou aquelas imagens, na quarta-feira, de bandidos chegando aos magotes de tudo quanto é lado, para se esconderem na favela que se transformou no bunker da direção da maior facção criminosa do Rio, que comanda as ações terroristas dos últimos dias.

A sensação dos especialistas é de que os policiais montaram uma operação dentro da lógica antiga de responder com uma ação direta no núcleo da bandidagem, para mostrar força, mas para entrar e sair da favela.

E a reação política da sociedade está mostrando que o avanço da polícia foi sentido de maneira tão positiva pela população que vale mais pelo lado intangível do sentimento de vitória do que propriamente pela ação em si.

As forças públicas não poderão sair tão cedo da Vila Cruzeiro, mesmo que não venha a ser instalada lá pelo momento uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), como chegou a ser anunciado.

Essas unidades pacificadoras estão se revelando um ativo político import a n t í s s i m o , c o m a m p l a aceitação pela população, mesmo que falte a essa política uma imprescindível ação de planejamento par a c o m b a t e r a s c o n s equências da retirada dos bandidos dos territórios que dominavam.

Está se produzindo um fenômeno político que é a reação da sociedade de unidade em torno da ação do governo.

Se as forças públicas saírem da Vila Cruzeiro, ficará a sensação de que foram derrotados.

A reação dos bandidos de tocar o terror na cidade foi extremamente negativa para eles, por que conseguiram provocar uma grande unidade na sociedade, e não entenderam que em certas circunstâncias o Estado não pode recuar.

O sinal de que estão descontrolados foi o ataque até a uma ambulância, com doente dentro, que conseguiu sair antes que o veículo pegasse fogo.

DORA KRAMER

Agora é guerra 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 26/11/2010

A situação por que passa a cidade do Rio de Janeiro, alvo de ataques terroristas do tráfico de drogas, já aconteceu outras vezes e aconteceu também em São Paulo há poucos anos.

Mas, desta vez, no Rio há algo de diferente no ambiente: nunca se viu tanta mobilização de recursos, tanta motivação por parte do aparelho de Estado, tanta confiança num desfecho positivo, tanta torcida no restante do País e tanto apoio da população e da imprensa ao trabalho da polícia.

Agora é a guerra instalada mesmo. Até então o que havia eram ações episódicas, com o Estado sendo derrotado permanentemente e, com isso, a crescente ameaça à segurança e à soberania nacionais.

O que mudou? Há o esgotamento geral com essa questão, mas há um dado novo: a maneira como as pessoas enxergam o poder público. Ou melhor, a forma como o poder público se mostrou à população nos últimos dois anos no que concerne ao trato da segurança pública na cidade brasileira onde o problema é mais agudo e mais difícil de ser enfrentado.

Pela primeira vez em 40 anos de um processo de ocupação gradativa de territórios pelo tráfico de drogas e de compadrio as autoridades e do sistema político, o governo do Estado resolveu agir com firmeza, começando pelo que estava ao seu alcance: a retomada paulatina desses territórios com o plano das Unidades de Polícia Pacificadora e o combate às milícias.

Para isso foi essencial a escolha de um profissional sério e que se fez respeitado junto à sociedade, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e, claro, uma relação de cooperação e confiança entre os governos estadual e federal.

Isso resolve? Não, mas contribui sobremaneira o fato de não se ter um comando comprometido com o crime (o ex-chefe da Polícia Civil Álvaro Lins está preso); de governos estadual e federal não perderem tempo com aquelas brigas que a todos enoja; a união (na prática) das Polícias Civil e Militar. Junto a isso, a existência de política de segurança, de ações de inteligência e de estratégia para reação.

Contribui também a concentração de traficantes em regiões ainda não ocupadas pelas UPPs, justamente porque foram expulsos daquelas áreas que já somam duas dezenas nas zonas sul, norte e oeste do Rio.

As unidades não foram concebidas para eliminar o tráfico de drogas. A ideia foi estabelecer como prioridade libertar as pessoas residentes dos territórios controlados do domínio do tráfico. Hoje são 150 mil os moradores beneficiados, mas o plano até 2014 é instalar 40 UPPs para alcançar 500 mil pessoas.

"Meu objetivo é tirar a arma pesada da mão do bandido que escraviza comunidades. Enquanto houver doentes haverá drogas. O que não é admissível é um sujeito com arma na mão determinar aonde uma pessoa vai ou deixa de ir", disse ele em entrevista há seis meses.

Nessa conversa, Beltrame explicou que o Rio é o lugar mais complexo em termos de criminalidade. "Aqui a polícia trabalha contra o crime na rua, contra três facções criminosas e ainda trabalha contra as milícias. Nos outros Estados não há essa diversidade".

O plano dele é ir tirando as condições de o tráfico trabalhar por causa da perda dos territórios. Na época, falava em "uma segunda etapa" que seria o cerco aos marginais abrigados em outros locais não ocupados pela polícia.

"Ou vamos prendê-los, ou vão fugir ou podem perder a vida num confronto", dizia.

Sobre tentativas de contra-ataques assegurava ter homens suficientes para pôr os bandidos "para correr". E por "correr" aí entenda-se até o extremo. "A polícia não quer matar, mas o Estado precisa se colocar porque para o bandido não existe Constituição, vale a lei deles e é contra isso que o País precisa se posicionar, entendendo que o Estado tem o monopólio da força".

Como se resolve o problema? "Com o envolvimento efetivo da União, dos Estados e municípios, de todos. Sem discussões sobre episódios, mas com uma ideologia de segurança, de muito investimento em estrutura, tecnologia, treinamento e principalmente capacidade de decisão".

Quer dizer, algo se moveu no Rio, mas a solução está longe de ser alcançada.

GOSTOSA

MIRIAM LEITÃO

No ar e na terra 
Miriam Leitão 

O Globo - 26/11/2010 

Da janela do avião, o Rio aparece em toda a sua beleza. Nos últimos dois dias, entrei e saí do Rio duas vezes. Na terra, o clima está pesado, emergencial, não se vê a paisagem. O motorista que me levou ao aeroporto ontem errou o caminho porque dirigia mais atento ao que o secretário José Mariano Beltrame dizia no rádio. A passageira ao lado, antes da decolagem, faz uma ligação aflita.

- Já chegou? Graças a Deus. Mas cuidado, saia mais cedo, na hora que você sai é quando eles mais atacam - diz a passageira para alguém querido.

As pessoas amadas passaram os últimos dias no Rio se telefonando o dia inteiro, informando e pedindo localização. Querendo proteção divina e dando graças.

Ana, camareira na TV, mora em frente à Vila Cruzeiro. Sai normalmente de casa faltando quinze minutos para as cinco. Ontem, perdeu a hora:

- Foi tiro à noite inteira, esperei clarear para sair de casa. O motorista que me busca cedo fala rápido com a mulher, enquanto entro no carro, às 5h50m:

- Está tudo bem, fique tranquila. Claro, vou continuar ligando.

A maquiadora divide a atenção entre o meu rosto e a televisão.

- Vi uma cena de um menininho correndo com uma mochila de escola. Chorei. Pensei no meu filho e pensei na mãe dessa criança que pode estar trabalhando como eu e vendo a cena do filho - me diz, se emocionando de novo.

Minha sobrinha, que acaba de chegar de Minas, avisa que está em Ipanema. Quarenta minutos depois, ela não havia chegado à Gávea, e aí sou eu a me preocupar. Outra sobrinha ligou. É jornalista. Avisa que está voltando da Penha, onde foi fazer uma reportagem. Me informa que está bem e avisa que se tiver plantão mandará o filho pequeno ficar na minha casa. Isso foi na quarta-feira. Ontem, o recado da sobrinha jornalista foi mais breve:

- Oi. Estou na Vila Cruzeiro. Estou bem. Não posso falar agora.

Na terça-feira, eu tinha um jantar. Foi só comentar que ouvi o recado costumeiro:

- Como? Você vai sair de casa? Dizem que vai ter confusão aí perto.

Fui. O taxista me recebe perguntando:

- Sabe da última? Tem um caminhão cheio de explosivo em algum lugar.

O jantar era de muitos amigos. Dois colegas subiram no elevador contando que a PUC tinha suspendido as aulas. Achavam meio exagero. Os paulistas chegavam no jantar olhando com cara de consternação para os moradores do Rio.

O motorista de taxi, que eu pego na volta, mal fala comigo. Ouvido grudado no rádio. Quando o noticiário muda de assunto, ele procura outra estação. Quer obsessivamente ouvir as mesmas notícias.

- Onde está havendo problemas? - Ele pergunta à central.

Ontem, no caminho ao aeroporto, Beltrame estava sendo entrevistado por Lúcia Hippolito, na CBN. O motorista vibrava com cada resposta dada pelo secretário:

- É isso mesmo. É isso mesmo!

Beltrame, com seu inequívoco sotaque gaúcho, fala que o Rio tem que ir até o fim, que não se pode recuar agora e que o governo do Rio sabe para onde está indo. O taxista aprova. Beltrame elogia a Marinha, que cedeu equipamentos e deu apoio operacional. O taxista aprova.

- Esse cara é bom, olhaí, esse cara é assim. Tem peito - aprova de novo o motorista e gosta ainda mais quando Beltrame diz que só se discute esse assunto da segurança no Rio nas crises, depois, o tema é esquecido.

Um torpedo, no sentido telefônico da palavra, chega ao meu celular avisando que minha sobrinha de Minas está voltando para casa: o workshop na Uerj, motivo que a trouxe ao Rio, está suspenso, pelo menos na quinta-feira.

Assim se vive estes dias na bela cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, jóia da coroa brasileira, porta de entrada e saída do Brasil, nosso cartão-postal. Assunto único, conversa dominante, rotinas subvertidas. Os diálogos podem começar de qualquer ponto, porque o interlocutor sempre sabe do que se fala. Só se fala disso. Boatos se misturam aos fatos e não há como separá-los porque os fatos parecem irreais. A menina de 14 anos em frente ao computador na sua casa leva um tiro no peito e morre. A economia conseguiu oferecer à família dela, mesmo morando numa área pobre da cidade, a possibilidade de ter um computador em casa, mas a segurança não protegeu sua vida.

Ontem, no ápice da tensão, as cenas da fuga de bandidos da Vila Cruzeiro para o mar de favelas que é o Alemão dá ao mesmo tempo medo e esperança. Vistos assim do alto, do helicóptero, eles são o que são: um grupo em desordem. A chance da vitória existe. Ao mesmo tempo, dói ver como alguns são tão jovens.

O Rio tenta se proteger da sequência dos fatos e vive dias de tensão e pânico, mas ninguém está exatamente surpreso. É uma aflição esperada: expulsos de favelas menores, perdendo território e dinheiro, o tráfico permanece encastelado nas grandes favelas, como o Complexo do Alemão e a Rocinha. Eles reagiriam, isso estava escrito nas estrelas.

Há as UPPs e o PAC. As UPPs entraram nas favelas tirando o tráfico de drogas, retomando territórios. O PAC pede licença. São obras de melhoria inclusive nas favelas ocupadas pelo tráfico. No Alemão, por exemplo, os trabalhadores passam entre bancas de cocaína e adolescentes armados. Quem já visitou o Complexo sabe que ele é uma gigantesca cidadela. Nada será fácil lá, como não será na Rocinha. Nada será fácil em toda essa longa tragédia do Rio. Mas era isso ou ficar de braços abertos para o inaceitável.

Visto de perto, o Rio é complexo. Mas só tem uma saída: ter a presença do Estado em todo o seu território. Do contrário, será uma bela paisagem para ser vista de longe.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Horário de verão reduz consumo industrial de energia
 Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 26/11/2010

As indústrias diminuíram o consumo de energia no país em outubro devido ao início do horário de verão.
O Índice Setorial Comerc, gestora de energia elétrica, registrou redução de 0,63% no mês passado, ante a alta de 2,22% em setembro.
"O começo do horário de verão [em 17 de outubro] e a temperatura mais amena foram os fatores responsáveis pela queda do consumo", diz Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc.
O setor de alimentos apresentou retração de 2,1% e o comércio varejista, de 0,34%, devido à menor necessidade do uso de ar-condicionado nos estabelecimentos comerciais.
O consumo de energia industrial representa cerca de 46% do total utilizado pelo país, seguido pelas residências, com 25%.
Na comparação com outubro de 2009, o consumo subiu 4,82%, ante 7,80% em setembro -o que mostra desaceleração do ritmo de alta.
Isso porque, no final de 2009, a produção industrial já mostrava recuperação.
"Estamos fazendo comparação com meses em que a economia já havia apresentado recuperação da crise", diz Vlavianos.
Em novembro, entretanto, a tendência é de alta, por conta de decorações natalinas e do aumento da potência dos aparelhos de ar-condicionado, devido à alta temperatura, segundo a Comerc.

Leilão terá eletricidade com valor de piso e teto

A Compass, que comercializa energia elétrica para grandes consumidores, faz seu primeiro leilão inspirado no mercado financeiro.
O objetivo é criar uma tarifa máxima e mínima para a energia de curto prazo (mensal), que pode variar muito de valor entre os meses.
Serão ofertados 20 megawatts. O piso será prefixado em R$ 100,00/MWh e o teto em R$ 150,00/MWh.
O contrato é para todo o ano de 2011. A receita esperada pela Compass no leilão é de cerca de R$ 22 milhões.
Se for bem-sucedido, o modelo de negócio deve se repetir para prazos mais curtos, como um trimestre, diz o CEO do Grupo Compass, Marcelo Parodi. "É o primeiro desse tipo no país", diz.

NOVAMENTE EM CARTAZ

Na entrevista coletiva anteontem com os três comandantes da economia do governo Dilma Rousseff -Guido Mantega (Fazenda), Miriam Belchior (Planejamento) e Alexandre Tombini (BC)-, a afirmação da nova ministra do Planejamento de que fará "mais com menos" provocou cochichos na plateia. "Já vi esse filme antes, só que não virou realidade", brincou um assessor da equipe econômica atual, nome sempre lembrado para a futura gestão.

JOGADA ALCOÓLICA

Mano Menezes estreia hoje em a sua primeira campanha para a TV. O técnico da seleção brasileira foi filmado em sua cidade natal, Passo do Sobrado (RS), onde lembra do aprendizado no time amador do qual fazia parte. A campanha, da cervejaria Kaiser, está prevista para todo o próximo ano e há possibilidades de que seja transmitida na Europa. Vem do continente a notícia que Mano contará: a Kaiser ganhou o prêmio Superior Taste Award do International Taste and Quality Institute, da Bélgica. Para a cervejaria, não há conflito entre o Mano Menezes da Kaiser e a seleção que é patrocinada pela AmBev, do Guaraná Antártica e marcas de cerveja como a Brahma. "Escolhemos ele pelo seu exemplo de vida", diz o diretor Nuno Teles.

POR TRÁS DOS SHOPPINGS

O negócio por trás de um negócio promissor. Os shopping centers devem crescer em média 22% neste ano e, com eles, outras áreas são impulsionadas.
Criada há cinco anos, a Lumine Soluções em Shopping Centers já tem um total de 465.203,50 m2 de área bruta locável em sua carteira de empreendimentos. O número se compara ao da área de locação dos maiores grupos do setor.
Além de administrar centros de compras, a empresa comercializa lojas e projeta áreas.
"Considerando o crescimento médio de 4,2% do número de shoppings nos últimos 10 anos, ainda há espaço para 20 novos centros por ano, a grande maioria para a classe C", diz o sócio Marcelo Sallum. A questão é onde. "Todos olham para os mesmos pontos, mas cada empreendimento tem suas características. Envolve estudo e ideias novas", afirma o sócio Claudio Sallum.
"Estamos fazendo shoppings para as classes B e C, bonitos, porém, menores, alguns deles horizontais e abertos."

De olho... Com o objetivo de fomentar negócios de petróleo e gás, uma missão empresarial chefiada pelo Ciesp viaja dia 30 para Mendoza (Argentina), onde fica a segundo maior refinaria do país.

...no pré-sal A delegação participará da 1ª edição da Expo Mendoza - Pura Energia, de petróleo e gás, mineração e fontes renováveis. O objetivo do Ciesp é abrir oportunidades para a indústria e buscar associações com empresas para transferência de tecnologia.

Glitter... Para construir as vitrines de Natal das 260 lojas da Arezzo espalhadas por todos os Estados do Brasil, a empresa usou mais de 1,5 tonelada de glitter vermelho, 2 toneladas de material de flocagem e 17 mil sapatos.

...natalino Foram investidos nesse projeto da rede aproximadamente R$ 2 milhões. Para o Natal deste ano, a empresa projeta crescimento das vendas de 20% na comparação com o mesmo período do ano passado.

ESTA É A SUA VIDA

A TAM organizou um treinamento sobre carreiras.
Mais de 8.000 funcionários, de bases nacionais e internacionais, participaram de 150 palestras sobre temas variados, simultaneamente em 23 cidades. Além de convidados como Marcos Quintela, da Y&R, o presidente da TAM, Líbero Barroso, e executivos da empresa contaram a trajetória pessoal deles aos participantes.

O ESGOTO DO BRAZIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIL

CELSO MING

Mais controle dos cartões 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 26/11/2010 

O Banco Central está assumindo maior controle sobre os cartões de crédito, um segmento que vinha escapando de sua supervisão. Ontem, obteve autorização para isso do Conselho Monetário Nacional (CMN), a instância que cuida desses assuntos.

Para entender o que está acontecendo é preciso levar em consideração que há uma parcela da conta dos cartões de crédito que não passa e não tem de passar pela fiscalização do Banco Central. É o negócio entre as administradoras dos cartões (que em geral são os bancos) e os titulares (clientes) ou, então, entre as administradoras e as lojas ou prestadores de serviços. Trata-se de uma operação puramente comercial que não envolve função específica de instituição financeira.

Em setembro, os cartões de crédito tiveram um movimento total de R$ 89,1 bilhões. A parcela correspondente a operações entre administradora e cliente foi de cerca de 68% ou R$ 60,6 bilhões.

Mas há um pedaço da conta total cobrada pelos cartões de crédito que em geral não é paga no vencimento. Em setembro ela era de 32% (ou de R$ 28,5 bilhões) e ficou pendurada para ser rolada e quitada nos meses seguintes.

Essa parcela se transforma automaticamente em crédito pelo banco que, por disposição contratual, mantém uma linha aberta para esses consumidores. É com ele que outro braço da administradora do cartão (o adquirente) vai fazer o repasse do pagamento para as lojas, postos de gasolina, supermercados, etc. É essa parte da conta que tem de ser objeto de fiscalização e supervisão do Banco Central, porque corresponde a operações de risco de crédito feitos pela rede bancária.

O problema é que até agora o Banco Central não vinha tendo controle total sobre esse crédito. Essa omissão é uma das explicações para o fato de ter sido surpreendido com o rombo do cartão de crédito do Banco Panamericano, da ordem de R$ 400 milhões.

O controle do crédito não é a única razão pela qual o Banco Central tem de se envolver mais profundamente com esse assunto. Os cartões de crédito vêm assumindo funções importantes nas relações econômicas que estão sob o guarda-chuva do Banco Central. Estão, por exemplo, substituindo meios de pagamento. Ou seja, as pessoas hoje precisam de cada vez menos dinheiro no bolso para as despesas do dia a dia: é o cartão de crédito sendo usado no lugar do dinheiro vivo. E, junto com os meios eletrônicos, eles estão aposentando o cheque e os custosos procedimentos diários de compensação interbancária.

As decisões anunciadas ontem aumentam gradativamente a parcela da conta do cartão que tem de ser paga à vista pelo consumidor. Com isso, o pedaço do crédito repassado para os bancos fica também progressivamente mais baixo.

O Banco Central tem dois objetivos. O primeiro deles é desestimular o endividamento familiar excessivo. O segundo é calibrar melhor essa fatia do crédito para o nível de risco assumido pelos bancos.

O Banco Central aproveitou a oportunidade para regular e uniformizar mais as tarifas cobradas pelos cartões. Por enquanto deu para ver que haverá mais transparência. Mas falta saber até que ponto as mudanças acabarão com o cartão armadilha, aquele que cobra juros tão altos que leva o consumidor a se endividar cada vez mais apenas para pagar a conta dos meses anteriores.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Conta outra 
 Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 26/11/2010

A definição dos contornos do ministério de Dilma Rousseff vai mostrando, além da marca da continuidade, o engano em que incorreram aqueles que, especialmente no PT, apostaram num cenário no qual Antonio Palocci não teria papel central na equipe.
Até dias atrás, a despeito da presença quase permanente do ex-ministro da Fazenda ao lado da presidente eleita, vários de seus correligionários procuravam transmitir a certeza de que Palocci assumiria função bastante delimitada no palácio ou mesmo fora deste. No novo desenho, a Casa Civil, seu destino provável, perde algumas de suas atribuições gerenciais, mas se consolida como principal posto político do governo.

Experiência Defensores da transferência de Paulo Bernardo do Planejamento para as Comunicações lembram que coube ao ministro, por decisão de Lula, fazer o raio X da crise nos Correios.

A ou B Empenhada em instalar José de Filippi Jr. no ministério de Dilma, a bancada do PT na Câmara reconhece que, se o senador Aloizio Mercadante for escolhido para uma pasta, caem drasticamente as chances do tesoureiro da campanha.

Hortifrúti Osmar Dias (PDT), que deu palanque a Dilma e perdeu a eleição no Paraná, é cotado para assumir a presidência da Conab.

Procura-se Descartada a ideia de mover Alexandre Padilha das Relações Institucionais para a Saúde, o nome do sanitarista Paulo Buss, ex-presidente de Fiocruz e representante do Brasil no Conselho Executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), passou a circular como opção para o cargo.

Vem cá Os peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM) tiveram longa conversa. O segundo quer virar ministro na cota do PMDB do Senado. O primeiro resistia à ideia.

Gesto Aliados de Dilma no Rio acreditam que ela anunciará no início do mandato aumento no volume de repasses federais ao Estado, que assim poderia aumentar seu efetivo policial.

Flashback Em discurso de campanha para moradores dos morros do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho, em 25 de setembro, a então candidata Dilma exaltou "a paz dada pelas UPPs" ao Rio.

Mix 1 Depois de indicar quatro secretários com o selo da continuidade da gestão de José Serra, Geraldo Alckmin pretende anunciar hoje nomes de sua cota. A lista é encabeçada pelo deputado federal Emanuel Fernandes (PSDB), ex-secretário de Habitação. Transportes é seu destino provável.

Mix 2 Outro a ser confirmado é o vice-governador eleito, Guilherme Afif (DEM), que deve acumular a Secretaria do Desenvolvimento.

Cartela Depois de propor que a criação de um novo imposto para financiar a saúde seja substituída pela legalização de jogos de azar, Paulinho da Força (PDT-SP) sugeriu agora que a Câmara vote um "combo" de projetos de interesse dos governadores, além do que trata dos bingos. Em troca, seria fechado um acordo para apreciar apenas em fevereiro a PEC 300.

Visita à Folha José Renato Nalini, presidente da Academia Paulista de Letras, e os acadêmicos Anna Maria Martins, Antonio Penteado Mendonça, d. Fernando Antonio Figueiredo, Gabriel Chalita, Ives Gandra Martins, José Pastore, Lygia Fagundes Telles, Paulo Bomfim, Paulo Nathanael Pereira de Souza, Tércio Sampaio Ferraz e Walcyr Carrasco visitaram ontem a Folha, onde foram recebidos em almoço.

tiroteio

"É fácil para o prefeito, permanentemente cercado de seguranças, recomendar aos moradores do Rio que não se acovardem."

DO DEPUTADO FEDERAL MARCELO ITAGIBA (PSDB-RJ), a respeito da atitude sugerida por Eduardo Paes (PMDB) à população da capital fluminense diante da ofensiva dos "terroristas", segundo ele mesmo disse.
Contraponto

Falou comigo?

Depois de se reunir em Brasília, na terça-feira, com a bancada paulista da Câmara, Geraldo Alckmin concedeu entrevista coletiva cercado por tucanos.
Liquidado o assunto, o deputado federal Ricardo Trípoli falava ao celular quando pronunciou a palavra "secretário". Imediatamente, Silvio Torres e Emanuel Fernandes, cotados para compor o futuro secretariado estadual, viraram-se para o colega, que brincou:
-Está vendo só? Vocês dois já estão intuitivamente escolhidos pelo governador eleito...

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

O Nordeste 
Ilimar Franco 

O Globo - 26/11/2010

Os governadores Jaques Wagner (BA), Eduardo Campos (PE) e Marcelo Déda (SE) vão se reunir amanhã, em Aracaju, para fazer uma proposta de partilha dos cargos federais no Nordeste. O PSB deve retomar o Ministério da Integração e o nome defendido por Eduardo Campos é o de Fernando Bezerra Coelho, que precisa do aval dos petistas. Também vão analisar opções para Chesf e BNB.

O convite para Palocci e Gilberto
A presidente eleita, Dilma Rousseff, convidou Antonio Palocci para assumir a Casa Civil na semana passada. A pasta será esvaziada, ficando apenas com suas funções clássicas: coordenação e integração das ações de governo, e revisão e controle da constitucionalidade e legalidade dos atos da Presidência. Neste formato, a pasta fica sem o PAC, o Minha Casa, Minha Vida e o Sipam. Essas atribuições tinham ido para lá para turbinar a então pré-candidata. Na mesma época, Dilma fechou com Gilberto Carvalho sua ida para a Secretaria- Geral da Presidência. Ela só não falou ainda com Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

Barraco
O candidato derrotado José Serra e o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, tiveram um bate-boca na terça-feira, com direito a elevação da voz e dedo na cara. Serra acusou Guerra de espalhar que ele vai para a presidência do Instituto Teotônio Vilela, como forma de tirá-lo da disputa pela presidência do partido. Guerra retrucou que Serra pode ser o que achar melhor, mas não tinha o direito de falar com ele naquele tom.

Noveleiro
Acima do peso, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, diz que não consegue acordar cedo para fazer exercício por causa da reprise da novela Vale Tudo, que o impediria de dormir cedo. A meta era retomar depois da campanha.

Balaio de gato
Diante do imbróglio para definir os gabinetes para a próxima legislatura, o Senado criou uma comissão para arbitrar as disputas. O último problema é com o senador eleito Blairo Maggi (PR-MT), que exige um espaço “à sua altura”.

Os bancos federais ficam para depois
À exceção do BNDES, onde já foi decidido manter Luciano Coutinho na presidência, o comando do BB, da CEF, do BNB e do BASA só será definido depois da posse. Foi assim em 2002, quando o presidente Lula assumiu seu primeiro mandato. No final de janeiro de 2003, foram anunciados Jorge Mattoso para a CEF e Cássio Casseb para o BB; em fevereiro, Roberto Smith para o BNB; e, em abril, Mâncio Cordeiro para o BASA.

Cidades está caindo no colo do PMDB
A decisão política de ficar neutro nas eleições presidenciais vai custar caro para o PP. O partido vai perder o cobiçado Ministério das Cidades. Um integrante da equipe de transição revelou ontem que a pasta será oferecida ao PMDB. O nome mais forte para ocupar a pasta é do ex-diretor da Caixa, Moreira Franco, que é uma indicação pessoal do vice-presidente eleito Michel Temer. O ministério é um dos mais disputados pelos partidos por causa de seu orçamento para obras.

A SENADORA Ideli Salvatti (PT-SC) vai ser ministra. A presidente eleita só não decidiu a pasta. As alternativas são Mulheres e Pesca.

APESAR DO ENEM e da oposição da bancada do PT no Congresso, a tendência é que o ministro Fernando Haddad seja mantido na Educação, a pedido do presidente Lula.

HOJE em São Paulo acontece a 47a- Caravana da Anistia, quando será homenageado o bispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, e apreciado requerimento de anistia do padre Joseph Comblim.

WASHINGTON NOVAES

O lixo, afinal, no rumo certo
Washington Novaes 


O Estado de S.Paulo - 26/11/10
Anuncia-se decreto com base no qual, cumprindo uma lei de 2002, a Prefeitura de São Paulo afinal vai cassar os alvarás de bares, restaurantes, lojas e outros estabelecimentos que deixarem de contratar empresas privadas para recolher seu lixo, se produzirem mais de 200 quilos (equivalentes a três sacos) por dia. Não há outra solução para as 4.147 empresas cadastradas como "grandes geradoras", diz a Prefeitura, embora já haja mais de 5 mil com cadastro vencido e se estime que o total de grandes geradoras seja de mais de 100 mil (entre 1 milhão de empresas). Também órgãos públicos (com exceção de escolas) terão de se enquadrar. A decisão tem forte apoio das empresas que hoje coletam todo o lixo, já que, por receberem valores fixos (e não por tonelada), terão seu trabalho reduzido. E a Prefeitura acaba de prorrogar por um ano o contrato de varrição com cinco empresas, por R$ 437 milhões.
Também não há outra solução para a área de resíduos a não ser cobrar de quem os gera os custos de coleta e destinação. É assim em todos os lugares do mundo onde melhores soluções foram encontradas. São Paulo chegou a ensaiar um projeto nessa direção há alguns anos, criando uma taxa na administração Marta Suplicy - que acabou voltando atrás e dizendo que fora um grave erro político. Por essa e outras, a cidade continua sem solução para as 17 mil toneladas diárias de lixo que gera, com seus aterros esgotados e passando por usinas de triagem apenas 5% do lixo total, que tem algum aproveitamento. Mas a cidade, segundo a Sabesp, chega a despejar 400 toneladas de lixo por dia na Represa Billings.
Na verdade, é uma situação comum na maior parte das grandes cidades brasileiras, todas com seus aterros esgotados, sem novas soluções, pagando fortunas para transportar e depositar seu lixo a grandes distâncias. É assim em Belo Horizonte, em Curitiba, no Rio, no Recife (que paga R$ 1,2 milhão por mês por 1.700 toneladas diárias). Brasília não tem solução para o seu lixo, que em grande parte continua a ser depositado num lixão. Em Goiás, esgotou-se o prazo dado pelo Ministério Público para que 132 de seus 246 municípios apresentassem alternativas para os lixões onde depõem os seus resíduos.
Em São Paulo, restaurantes, bares e outros estabelecimentos comerciais já anunciam que vão cobrar de seus clientes os custos da contratação de empresas transportadoras do lixo. É justo que seja assim: o ônus, o custo, deve caber a quem o gera; não deve ser transferido para toda a sociedade, indiscriminadamente, em impostos ou taxas genéricos. E em quase todo o mundo o princípio é esse. Um dos países onde o sistema deu mais certo - inclusive porque vai até mais além - é a Alemanha, que criou o sistema Green Dot (Ponto Verde). Ele estabelece que os custos com os resíduos cabem a quem os gera, desde a indústria até o gerador domiciliar. Com base nele, implantou-se no país um sistema de coleta dupla: o poder público recolhe nas residências e nos estabelecimentos comerciais o chamado lixo orgânico e dá-lhe destinação (compostagem ou incineração); o gerador domiciliar ou comercial de lixo paga uma taxa proporcional ao volume da lata ou contêiner que utilize (10 litros, 20 litros, etc.). O chamado lixo seco (papel, papelão, latas, vidros, etc.) é separado à parte e recolhido pelo sistema Green Dot, que também lhe dá destinação (reutilização, reciclagem ou incineração). Grandes volumes exigem coletas especiais, pagas separadamente das taxas.
Com a introdução desse sistema, os produtores industriais daquilo que se pode transformar em lixo tiveram interesse em reduzir suas dimensões, seu peso e número - já que pagam ao Green Dot proporcionalmente. E com isso o volume de lixo seco na Alemanha se havia reduzido em 15% em oito anos, quando o autor destas linhas lá esteve documentando o sistema para uma série na TV brasileira. Não é pouco.
Em todos os países da Escandinávia vigoram sistemas semelhantes, sempre com o mesmo princípio: os custos da coleta e destinação cabem a quem os gera. Em alguns deles, entretanto, as regras são mais fortes, chegam a proibir a utilização de determinados materiais, para evitar o aumento do lixo. Mas as pressões industriais são sempre muito fortes, há avanços e recuos.
Onde as regras são mais consolidadas e avançadas, como na Suécia, há sistemas sofisticados de reciclagem até de veículos. Ali, o comprador de um veículo novo paga, nesse momento, uma taxa de reciclagem, pela qual recebe um certificado - que passa adiante no momento em que se desfaz do veículo. A taxa vai de mão em mão até o último proprietário, que julga não ter o veículo mais condições. Leva-o, então, a uma empresa de reciclagem autorizada e dela recebe o valor da taxa que acompanhou o veículo. A empresa recicladora, primeiro, recolhe todos os fluidos do veículo, destina-os a sistemas especiais de reciclagem. Em seguida, retira tudo o que ainda pode ser utilizado - vidros, pneus e outros materiais -, que revende, dando certificados de garantia.
A carcaça restante é recolhida por outra empresa, que a submete a prensagem e encaminha a uma terceira, que a pica e destina os materiais resultantes a siderúrgicas (para serem queimados em altos fornos) ou à substituição de brita, quando é o caso. A Suécia espera que no final desta década já esteja reciclando 100% dos veículos.
Soluções existem. Mas em quase todos os lugares no Brasil os administradores públicos fogem delas, por temerem a impopularidade com a cobrança de taxas específicas. Pensam eles que, diluído o custo por todos os contribuintes, sem identificá-lo, não haverá protesto. Mas é muito injusto. Favorece quem já pode mais e gera mais lixo - e ainda vai pagar menos impostos. Dificulta o controle das contas. E estimula a geração de mais resíduos, que não terão onde ser dispostos. Estimula a degradação urbana.

LICENÇA PARA COMER

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK

O significado da manutenção de Mantega
Rogério L. F. Werneck 

O Estado de S.Paulo 26/11/10


A confirmação de Guido Mantega como ministro da Fazenda da presidente Dilma Rousseff é um fato de grande importância, pelo muito que deixa entrever dos rumos e possibilidades da política econômica no próximo governo.


Ainda que com pouco embasamento em fatos concretos, tem ganho destaque na mídia a ideia de que haveria uma reorientação significativa na política econômica a partir de janeiro, seja em resposta à evolução da economia mundial, seja para fazer face a dificuldades que se avolumam no front interno. Muito papel e muita tinta têm sido gastos com especulações sobre a possível reorientação da política fiscal.


Essa presunção generalizada de que o novo governo pretende corrigir a política econômica em curso vem impedindo percepção mais nítida do real significado da manutenção de Mantega na Fazenda. Não é claro, em absoluto, que o ministro tenha sido mantido para comandar a correção de rumo que hoje se faz necessária na política econômica. Embora não falte quem queira acreditar nisso, há outra hipótese muito mais plausível: o ministro foi mantido simplesmente porque não há, de fato, qualquer intenção de corrigir o rumo da política econômica. E não se pode descartar uma terceira hipótese: embora haja intenção de alterar a política econômica, a mudança de rumo que caberá ao ministro gerir será numa linha bem diferente da que hoje se faz necessária.


Mesmo que essa terceira hipótese seja deixada de lado, a segunda já dá razões de sobra para apreensão. De fato, não há por que pressupor que a simples transição de governo terá de implicar mudanças pronunciadas no rumo da política econômica. Muito menos uma transição tão peculiar como à que agora se assiste. Basta olhar para trás e fazer constatações muito fáceis. A política econômica dos últimos anos não foi só de Mantega. Isso é óbvio. Nem mesmo foi só de Lula. Foi, em boa medida, a política de Dilma Rousseff.


Ainda que como preposta de Lula, Dilma teve papel fundamental nas duas inflexões cruciais da política econômica observadas nos últimos cinco anos. Em 2005, no embate com Palocci sobre a necessidade de um ajuste fiscal. E em 2008-2009, quando o governo decidiu que aproveitaria a justificativa momentânea para medidas contracíclicas, ensejada pela crise mundial, para afrouxar de vez as peias da restrição fiscal, mesmo que, para isso, tivesse de passar a maquiar os indicadores de desempenho fiscal com a adoção de critérios contábeis indefensáveis.


Ao decidir manter Mantega na Fazenda, Dilma Rousseff deixou passar a oportunidade de aproveitar a transição para tentar manter encapsulado, no governo de seu antecessor, o alarmante descrédito que essa maquiagem vem trazendo à condução da política fiscal. Na verdade fez bem mais que isso. Deixou perfeitamente claro que não atribui maior importância à restauração da credibilidade da política fiscal. O que configura erro grave de avaliação.


Vem sendo noticiado que, para viabilizar uma redução da taxa real de juros para 2% ao ano, o novo governo anunciaria uma meta de rápida redução da dívida líquida do setor público para 30% do PIB. O que não está sendo devidamente percebido, contudo, é que, mantido o vale-tudo dos critérios contábeis que agora pautam o cômputo dos indicadores de desempenho fiscal, é pouco provável que o anúncio dessa meta ajudasse a dar credibilidade ao suposto compromisso do governo com o controle fiscal. Pois nada impediria que a meta fosse atingida pela via fácil dos truques contábeis. Bastaria, por exemplo, uma sequência "bem concebida" de novos empréstimos do Tesouro ao BNDES, financiados com emissão de dívida bruta, acoplados a operações de venda de ativos da União ao banco, na linha já testada na operação de capitalização da Petrobrás.


O ajuste fiscal que se faz necessário é bem diferente. E não será feito sob o comando de Mantega. Disso sabemos todos, com base no seu histórico dos últimos oito anos. O resto é autoengano.


ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDADE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Bola dividida 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 26/11/2010

O Ministério Público, que apura supostas irregularidades na doação do terreno do Estádio do Morumbi, na década de 50 ao SPFC, quer mais. Pede agora ao Departamento de Patrimônio Histórico documentos atualizados do imóvel.
Os que foram enviados anteriormente pela Prefeitura ao MPE não batem com a atual construção. O inquérito é conduzido por Raul de Godoy.

Bom exemplo
A renúncia do prefeito de São Lourenço da Serra, Capitão Lener do Nascimento, anteontem, foi aplaudida por empresários paulistanos de peso que têm propriedade lá. Atribuem o gesto à ação persistente de Fernando Seme Amed, presidente da Câmara.
Foram 14 meses de denúncias até que a situação ficou insustentável. "Mandamos fatos ao Ministério Público, que verificou coisas como contratos de transporte escolar e saúde sem licitação. Além de casos de nepotismo", contou Amed à coluna ontem.

40 graus
O caos no Rio chegou às principais ONGs que combatem o conflito nos morros. Anteontem, duas balas atingiram a sede da CUFA - fundada por Celso Athayde e MV Bill -, no morro do Alemão.
Já o AfroReggae, cujo prédio é em Vigário Geral, teve que cancelar o prêmio Orilaxé, que conta com apoio da Natura. A organização repensa novo local e data para o evento que aconteceria terça-feira.

O mundo roda
Se André Esteves avançar no seu propósito de comprar parte ou o todo do Panamericano, estará resgatando um dos motivos pelo qual se desentendeu com Luiz Cesar Fernandes, fundador do Pactual.
Fernandes queria que o banco se transformasse em uma instituição de varejo. Esteves foi contra.

Ibope alvinegro
A TV Corinthians já tem data de estreia: 5 de janeiro. Começa com a transmissão do primeiro jogo do Timão na Copa São Paulo de Juniores.

Ataque ligeiro
Ronaldo e Marcus Buaiz, que vão semanalmente à Ogilvy planejar a nova empresa, Nine, foram esta semana acompanhados por... Kaká. O novo negócio prestará serviços a jogadores e eventos esportivos.


Chip acelerado
Eike Batista não sossega. Negocia, discretamente com a GE e o BNDES, a implantação de uma fábrica de chips em Porto do Açu, no Rio. Se o modelo tripartite andar, terá conseguido colocar de pé um sonho de décadas.

Depois de uma série de tentativas de outros empresários, todas fracassadas, o Brasil teria sua primeira unidade do produto.

Na vizinhança
Geraldo Alckmin foi visto esta semana saindo em um Vectra preto da casa de Paulo Maluf. Negociação com o PP?

The doors
Por questões de segurança, prédios de Higienópolis estão adaptando seus portões automáticos de carros. Problema: muitos abrem para fora, atingindo pedestres na calçada.

Regime Corleone
Francis Ford Coppola desembarca, segunda, na Pauliceia. Chega com a mulher, Eleanor, em clima ultralight: exigiu alimentação leve. Com exceção, claro, da caipirinha, que faz questão de provar.

Bye, bye
A família de Louise Bourgeois pediu e Denise Stoklos precisará devolver o cenário de Louise Bourgeois: Faço, Desfaço, Refaço. "Com a morte da Louise, os parentes estão inventariando tudo. Inclusive a nossa cenografia, criada e executada pela própria", explica Denise. A peça fica em cartaz no Centro Cultural São Paulo até domingo antes de voltar para NY.


Na frente

O livro 50 Anos em Seis - Brasília, Prosa e Poesia tem noite de lançamento sábado. Na Livraria da Vila da Fradique.

Ana Cury arma, segunda, a 3ª edição do Cine Fashion Day. No Cinemark do Cidade Jardim.

A Sociedade Brasileira de Psicanálise comemora, com palestras, o centenário de nascimento de Virgínia Leone Bicudo. Amanhã, em sua sede.

Felipe Branco Cruz autografa Vida e Palco Cecilia Kerche. Segunda, no Studio 3.

A Tiffany Holiday Celebration, ação social da joalheria e do Shopping Iguatemi, é hoje e amanhã. Em prol da Unicef.

Acontece, domingo, nova edição dos Cantores do Bem. Pilotado por Silvio Bentes, em prol da Aquarela, que atende jovens de baixa renda. Cantam, entre outros, Betina Samaia Ferreira, Lygia Pereira e Silvana Tinelli. Novidade do ano: o show dançante com apoio da Anacã Corpo e Movimento. Convites a R$ 200, no Trivento.

Mesmo não sendo parecidas, Miriam Belchior foi confundida com Helena Chagas, anteontem, no gabinete de transição. Até parabéns a assessora ganhou no lugar da futura ministra.

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

Guerra do Rio 1
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 26/11/10

Nem nos dias mais agitados se tinha visto, como ontem, número tão grande de helicópteros subindo e descendo no heliponto do condomínio Golden Green, o dos ricaços na Barra. Um moradora fez uma conta por alto:
– Acho que os endinheirados só andaram de helicóptero. Foi impressionante. Pelo menos um a cada hora, nunca vi isso.

LUÍS INÁCIO NO STF
Ontem, era dada como certa no STF a nomeação do atual advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, como novo ministro da Casa. A conferir.

GUERRA DO RIO 2
Quarta, por volta de 21 horas, um som de tiro causou alvoroço no QG da PM do Rio. Sentinelas chegaram a achar que a onda de terror havia atingido o quartel.
Um oficial, ao mexer numa arma, deu um tiro acidental que teria atingido sua própria perna.

AI, MEU BOLSO
Os mais de 20 funcionários da Fifa que se mudaram para cá para a preparação da Copa de 2014 têm reclamado do Rio. A queixa não é da violência, mas do custo de vida, sobretudo o aluguel.
São mais caros, por exemplo, que em Johannesburgo, onde a maioria deles esteve na organização da Copa passada.

GUERRA DO RIO 3
Ontem, o motorista de um ônibus 524 (Botafogo-Alvorada) parou perto de uma banca de jornal, desceu e deixou os passageiros nervosos pelo atraso.
Na volta, explicou: “Fui comprar uma raspadinha. Se eu ganhar, sumo dessa cidade. Cansei de sentir medo”. Calma, gente.

GUERRA DO RIO 4
Pelo menos nove escolas de samba do Rio (Salgueiro, Beija-Flor, Vila Isabel, Império Serrano, Viradouro, Renascer, Rocinha, Caprichosos e Alegria da Zona Sul) cancelaram suas atividades no fim de semana, por causa da onda de violência.

TERRA DO CHIMARRÃO
O Inca divulga hoje números do câncer no País. Para cada 100 mil homens, por ano, Porto Alegre apresenta taxa de 66,6 de câncer de pulmão, enquanto São Paulo, por exemplo, de 29,1.
Porto Alegre também tem as maiores taxas de câncer de pulmão entre mulheres: 23,3 para cada grupo de 100 mil.

SEGUE
Segundo o relatório, as menores taxas de câncer de pulmão estão em João Pessoa: 14,3 nos homens e 5,4 nas mulheres.

GUERRA DO RIO 5
Moradores da Vila da Penha, vizinha da Vila Cruzeiro, farão ato pela paz, amanhã, às 10 horas. Vão abraçar a Igreja de Bom Jesus da Penha.
– Vamos pedir paz para criar nossos filhos fora da barbaridade, mostrar a cara – diz Joel Lima, organizador do evento.

SHOW DE ROBERTO
O especial de fim de ano de Roberto Carlos na TVGlobo terá participações do grupo Exalta Samba e da dupla sertaneja Bruno e Marrone.

A GUERRA DO RIO 6
Uma multidão na calçada em frente ao edifício 580 da Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, ontem, por volta de 15h30m, assustou quem passava.
Mas o prédio só tinha ficado sem luz, e todos os funcionários e clientes tiveram de sair.

A GUERRA DA EMPADA
De José Temporão, 88 anos, do restaurante Mosteiro, o da empada mais famosa do Rio, sobre a crise gerada pela tentativa frustrada da Casa da Empada de tirar a azeitona no petisco:
– Nossa empada não tem azeitona. Se pusermos, cabe menos recheio. E é perigoso. A azeitona leva o caroço. A pessoa pode até quebrar o dente...

EDUARDO GRAEFF

Um caminho suave para a reforma
Eduardo Graeff 

O Estado de S.Paulo - 26/11/10

Se eu pudesse tirar uma reforma política da cartola, trocaria o nosso sistema eleitoral proporcional por um sistema distrital majoritário, com um deputado por distrito. Se isso não for possível, minha segunda opção é manter o sistema proporcional, mas subdividindo os Estados em distritos eleitorais com quatro, cinco ou seis deputados cada um. Hoje o Estado inteiro é um distritão que elege um mínimo de oito e um máximo de 70 deputados.

Nos países que adotam o voto distrital, o eleitor pode não morrer de amores pela instituição do Parlamento. Assisti nos Estados Unidos a um filme de ficção científica, Independence Day. Quando um disco voador desintegrou o Capitólio, a plateia aplaudiu. Mas o eleitor americano em geral conhece e confia no deputado do seu distrito. A taxa de reeleição dos deputados lá é de 90% ou mais.

Uma plateia brasileira também gostaria de ver o prédio do Congresso Nacional virar fumaça. E o eleitor brasileiro, ao contrário do americano, dificilmente sentiria falta de algum deputado. A maioria nem sequer tem um deputado que possa chamar de seu. Em 2010, os 70 deputados federais eleitos por São Paulo somaram menos de 12 milhões de votos, de um total de 21 milhões de votos válidos e 30 milhões de eleitores. Pouco mais de um terço dos eleitores efetivamente elegeu um deputado. Os demais não votaram, anularam o voto ou votaram num candidato que não se elegeu. Como confiar em quem você não escolheu nem sabe quem é?

A recíproca é verdadeira: como um deputado pode representar bem as dezenas de milhares de eleitores desconhecidos, em grande parte espalhados pelo Estado? Não é por preguiça que os deputados voam de Brasília na quinta-feira à tarde e só reaparecem na terça-feira. Os outros quatro dias da semana eles passam correndo atrás desses eleitores evanescentes no seu Estado. Correria inútil, em larga medida. A taxa de reeleição dos deputados brasileiros gira em torno dos 50% - uma tremenda rotatividade que não se traduz em renovação nem melhora de qualidade da representação.

O sistema distrital também tem defeitos, mas tem esta grande virtude: dá uma âncora geográfica para a representação eleitoral e assim aproxima representantes e representados.

De quebra, ele resolveria outro grande problema: como nosso sistema proporcional é de "lista aberta", ou seja, é a votação individual que determina a ordem em que os candidatos ocuparão as vagas ganhas pelo partido, a eleição vira uma competição de vida ou morte entre candidatos do mesmo partido. Isso tende a encarecer cada vez mais as campanhas e a enfraquecer a fidelidade partidária, o que, por sua vez, obriga os governos a (re)negociar com deputado por deputado para terem maioria. E o eleitor, principalmente nos Estados maiores, fica como cego em tiroteio entre centenas de candidatos de uma dúzia de partidos.

Acontece que o sistema proporcional funciona continuamente no Brasil desde 1934. Bem ou mal, enraizou-se nas instituições e nos hábitos dos políticos e eleitores. Muitos deputados receiam, com ou sem razão, que trocá-lo por algo muito diferente dificulte ainda mais sua reeleição. Desconfio que poucos param realmente para pensar no assunto. Para complicar, o princípio do voto proporcional está na Constituição. Mudá-lo dependeria de uma emenda aprovada por três quintos dos deputados federais e senadores.

Uma mudança mais profunda do sistema eleitoral pode sair no tranco de uma crise política aguda, que não se deve esperar nem desejar. Sendo assim, é melhor pensar em alternativas de reforma que representem, como aquela velha cartilha de alfabetização, um "caminho suave", gradual e sem ruptura.

Minha segunda opção atende a esse requisito. Primeiro, porque contorna a barreira do quórum qualificado para aprovação de emenda constitucional. Subdividir os Estados em distritos com quatro a seis deputados, mantendo o princípio proporcional, pode ser feito por projeto de lei ordinária, aprovado por maioria simples.

Segundo, ela não afronta hábitos cristalizados dos políticos e eleitores. Nesta legislatura, o Senado aprovou e a Câmara quase referendou um projeto de voto proporcional em lista fechada, em que a colocação dos candidatos na lista seria predefinida pelo partido, e não pelo eleitor. Duvido que essa mudança fosse bem aceita pelos eleitores, acostumados a votar em pessoas, mais do que em partidos. Ainda haveria o risco de institucionalizar o "efeito Tiririca". Um, dois ou três puxadores de votos elegeriam a si mesmos e alguns ilustres desconhecidos estrategicamente colocados perto do topo da lista. Prato cheio para corrupção e/ou manipulação pelas direções partidárias. Não parece uma boa opção para aumentar a confiança nas instituições.

Menos impactante do que o voto distrital, a alternativa do voto proporcional em distritos com um número limitado de deputados faria diferença, ainda assim, para encurtar a distância e ancorar a confiança entre representantes e representados.

Para o eleitor, parece muito mais fácil conhecer os quatro, cinco ou seis deputados de seu distrito do que identificar algum entre os 70 deputados de São Paulo, 53 de Minas Gerais, 46 do Rio de Janeiro, e por aí vai.

Para o candidato, concorrer num distrito com outros três, quatro ou cinco do mesmo partido poderá não ser tão fácil, mas com certeza será muito mais barato do que se acotovelar com dezenas de candidatos atrás de voto por todo o Estado.

Claro que isso não é uma panaceia para todos os males da nossa política. Mas seria um primeiro passo importante no caminho da reforma. Passo que pode levar a outros, se não tropeçarmos na tentativa de fazer todas as mudanças de uma vez só.

Torço para que o começo da próxima legislatura dê mais uma chance a essa discussão.

CIENTISTA POLÍTICO, FOI SECRETÁRIO-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (GOVERNO FHC) 

CLÁUDIO HUMBERTO

“Está nas mãos do presidente Lula aceitar este serviço”
FERNANDO LUGO, PRESIDENTE DO PARAGUAI, DEFENDENDO LULA NO COMANDO DA UNASUL 

CABRAL QUASE “DETONA” AÇÃO DA MARINHA NO RIO 
O governador Sérgio Cabral não se conteve e revelou, logo no Jornal Nacional, quarta à noite, o que era um “segredo militar”: a entrada da Marinha na guerra contra o tráfico no Rio de Janeiro. O anúncio de Cabral acabou com o efeito surpresa, muito importante para o êxito de uma operação militar. Após a entrevista, a Marinha reforçou a segurança de suas unidades no Rio, temendo represália dos bandidos.

FINALMENTE NAS RUAS 
O deslocamento dos blindados da Marinha, para enfrentar os criminosos, foi acompanhado do aplauso emocionado dos cariocas.

É GUERRA CIVIL 
Após a imagem do exército de bandidos fortemente armados, na TV, talvez o governo federal perceba que o Rio vive uma guerra civil.

HAVIA UM ACORDO 
Fonte militar diz que o tráfico rompeu o acordo para evitar a zona sul do Rio, atacando aquele hotel em São Conrado. E a guerra começou.

DUAS POLÍCIAS 
Avaliação de especialista: a polícia séria do Rio está perdida, sem saber como enfrentar o terrorismo, e a banda podre faz corpo mole.

GOVERNO IGNORA ASSASSÍNIO DE POLICIAIS FEDERAIS 
Portais oficiais do governo e até o site da Polícia Federal ignoraram o assassinato, dia 17, e o sepultamento dos policiais federais Mario Lobo e Leonardo Matzunaga, por traficantes, no Amazonas. Nem sequer noticiam o estado de saúde do policial Charles Nascimento, ferido no confronto. A única manifestação do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Correia, foi enviada apenas pelo e-mail institucional dos servidores. Já a Procuradoria da República (AM) divulgou nota pública de pesar.

HERÓIS ESQUECIDOS 
No site da Polícia Federal foram publicadas, desde o dia 17, 16 notícias sobre prisões e apreensões, mas nada sobre a morte dos heróis da PF.

EXEMPLO DE FORA 
Na França e nos EUA, por exemplo, os presidentes reverenciam policiais mortos em serviço, comparecendo ao sepultamento.

MINISTRO NEM AÍ 
No dia seguinte à morte dos policiais, no programa Bom dia, ministro Luiz Paulo Barreto (Justiça) só tratou de moradores de rua de Maceió.

DILMA ESQUECE MINEIROS 
Dilma saiu há tanto tempo de Minas, onde nasceu, que parece ignorar os fundamentos de política, tão caros aos mineiros. Ela simplesmente não dá a menor pelota aos aliados que a ajudaram a somar mais de 58% dos votos no Estado, que é liderado pelo tucano Aécio Neves.

CHUMBO NELES 
O Exército está atento. Ontem, no começo da noite, desembarcou no Rio, de um voo de Brasília, o general de brigada Flávio Murillo Barbosa do Nascimento, do Comando de Operações Terrestres do Exército.

CPI DAS FRONTEIRAS 
O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) recolhe assinaturas para criar a CPI das Fronteiras. Ele acha que a criminalidade no Rio é decorre da cocaína e das armas que entram à vontade no País.

OS FINANCIADORES 
Enquanto o Estado finalmente resolveu agir, no Rio, com a decisiva e heroica participação da Marinha, a rapaziada do “asfalto”, cliente dos traficantes, poderia colaborar diminuindo o consumo de drogas.

HÉLIO, O REPÓRTER 
O ex-ministro das Comunicações Hélio Costa, que perdeu a eleição para o governo de Minas, tem dito a amigos que retomará a carreira de jornalista que o consagrou, com ênfase especial na área investigativa.

ATRASO DE CONVENIÊNCIA 
Esta semana, o governador Sérgio Cabral chegou atrasado à abertura da Socerex, Feira Internacional de Futebol, cujos organizadores, ingleses, apreciam a pontualidade britânica. Cabral evitou discursar (e explicar o caos no Rio), mas voltou depois, sem imprensa por perto.

TIETAGEM 
Presente à Soccerex, o ministro Orlando Silva (Esporte) tietou o craque Neymar, do Santos. Disse-lhe que no Maracanã está sendo reformado só para que ele faça gols, na final da Copa do Mundo de 2014.

CAIXA INEFICIENTE 
Continuam as reclamações sobre os problemas com o internet banking da ineficiente Caixa, que atrapalha a vida dos correntistas há cerca de vinte dias. O problema foi resolvido apenas parcialmente.
ESPELHO MEU 
A indicação do presidente Lula para a secretaria-geral da Unasul, em substituição a Néstor Kirchner, foi antecipada nesta coluna no dia 4 deste mês. 

PODER SEM PUDOR
ROSINHA NA CADEIA 
Certa vez, durante uma reunião do PMDB em Brasília, a então governadora do Rio Rosinha Matheus proporcionou um momento de descontração do senador José Sarney. Ela contou como acabou na cadeia, nos anos 80:
– Eu era “fiscal do Sarney”. Briguei no supermercado por causa do preço de um sabonete e fui parar na delegacia. O Garotinho teve de ir lá me tirar.
Sarney adorou.