sexta-feira, novembro 12, 2010

RUY CASTRO

Nada inocentes
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/10

RIO DE JANEIRO - Fess Parker, o ator que interpretou o caçador Davy Crockett numa série produzida por Walt Disney para a TV americana nos anos 50, morreu em março último, e seus obituários ressaltaram o assombroso sucesso dos filmes: 40 milhões de telespectadores por semana, de 1954 a 1956, e um gigantesco merchandising em torno do personagem.
Durante anos, os garotos americanos obrigaram seus pais a comprar-lhes um chapéu de guaxinim, com rabicho e tudo, como o usado por Davy. Além dos mocassins, jaquetas de franjas e calças (tudo de couro), mochilas, rifles de brinquedo, machadinhas, quebra-cabeças, gibis, o disco com "The Ballad of Davy Crockett" e toda quinquilharia que se referisse ao herói.
Hoje, o herói já não o é tanto. Descobriu-se que Crockett, vivendo na floresta, não matava animais apenas para comer, mas esfolava-os -coatis, gambás, castores, alces, gamos e até ursos- às centenas, e vendia seus couros e peles para os intermediários que abasteciam os empórios. Vivia disso. E, de couro dos pés à cabeça, ele já era um comercial de si próprio.
Sem saber que incidia em pecado, a série também mostrava Crockett como matador de índios e feroz perseguidor dos mexicanos que ousavam conspurcar o solo dos EUA. Enfim, agora descobrimos que, aos olhos do politicamente correto, não podia haver personagem pior.
Até morrer, em 1966, Walt Disney (o Monteiro Lobato americano, só que ao cubo em matéria de negócios) nunca se preocupou com isso. Os meninos que idolatravam a série também não reparavam nas maldades de Davy. Da mesma forma, os milhões de brasileiros inocentes que lemos Lobato em criança nunca nos demos conta de que Tia Nastácia vivia sendo humilhada pelo autor. Tivemos de esperar 50 anos para que adultos de hoje, mais perspicazes e nada inocentes, finalmente nos informassem disso.

JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL

Em defesa da estudante Mayara 
 JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/10

Não parece justo que Mayara seja demonizada como paulista racista, quando o mote da campanha eleitoral foi o da oposição entre as regiões
Sou neta de nordestinos, que vieram para São Paulo e trabalharam muito para que, hoje, eu e outros familiares da mesma geração sejamos profissionais felizes com sua vida neste grande Estado brasileiro.
É muito triste ler a frase da estudante de direito Mayara Petruso, supostamente convocando paulistas a afogar nordestinos.
Também é bastante triste constatar a reação de alguns nordestinos, que generalizam a frase de Mayara a todos os paulistas.
Igualmente triste a rejeição sofrida pelo candidato da oposição à Presidência da República, muito em função de ele ser paulista. Todos ouvimos manifestações no sentido de que, tivesse sido Aécio Neves o candidato, Dilma teria tido mais trabalho para se eleger.
Independentemente da tristeza que as manifestações ofensivas suscitam, e mais do que tentar verificar se a frase da jovem se "enquadraria" em qualquer crime, parece ser urgente denunciar que Mayara é um resultado da política separatista há anos incentivada pelo governo federal.
É o nosso presidente quem faz questão de separar o Brasil em Norte e Sul. É ele quem faz questão de cindir o povo brasileiro em pobres e ricos. Infelizmente, é o líder máximo da nação que continua utilizando o factoide elite, devendo-se destacar que faz parte da estigmatizada elite apenas quem está contra o governo.
Ultrapassado o processo eleitoral, que, infelizmente, aceitou todo tipo de promessas, muitas das quais, pelo que já se anuncia, não serão cumpridas, é hora de chamar o Brasil para uma reflexão.
Talvez o caso Mayara seja o catalisador para tanto.
O Brasil sempre foi exemplo de união. Apesar das dimensões continentais, falamos a mesma língua.
Por mais popular que seja um líder político, não é possível permitir que essa união, que a União, seja maculada sob o pretexto de se criarem falsos inimigos, falsas elites, pretensos descontentes com as benesses conferidas aos pobres e aos necessitados.
São Paulo, é fato, é fonte de grande parte dos benefícios distribuídos no restante do país. São Paulo, é fato, revela-se o Estado mais nordestino da Federação.
Nós, brasileiros, não podemos permitir que a desunião impere. Tal desunião finda por fomentar o populismo, tão deletério às instituições no país.
Não há que se falar em governo para pobres ou para ricos. Pouco após a eleição, a futura presidente já anunciou o antes negado retorno da CPMF e adiou o prometido aumento no salário mínimo. Não é exagero lembrar que Getulio Vargas era conhecido como pai dos pobres e mãe dos ricos.
Não precisamos de pais ou mães. Não precisamos de mais vitimização. Precisamos apenas de governantes com responsabilidade.
Se, para garantir a permanência no poder, foi necessário fomentar a cisão, é preciso ter a decência de governar pela e para a União.
Quanto a Mayara, entendo que errou, mas não parece justo que seja demonizada como paulista racista, quando o mote dado na campanha eleitoral foi justamente o da oposição entre as regiões.
Se não dermos um basta a esse estratagema para manutenção no poder, várias Mayaras surgirão, em São Paulo, em Pernambuco, por todo o Brasil, e corremos o risco de perder o que temos de mais característico, a tolerância. Em nome de meu saudoso avô pernambucano, peço aos brasileiros que se mantenham unidos e fortes!

JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, advogada, é professora associada de direito penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

NELSON MOTTA

Perdas e danos
Nelson Motta 
O Estado de S.Paulo - 12/11/10

Há alguns anos, um personagem secundário da Jovem Guarda me processou por ter sido citado em meu livro Noites tropicais como envolvido, junto com outros artistas, em um escândalo com fãs "de menor" em 1965.
Sem me ouvir nem ler o livro, o juiz lhe deu ganho de causa e arbitrou uma indenização que levaria à falência a Editora Objetiva, uma das maiores do país. Foi marcado novo julgamento para que o acusado fosse ouvido.
Com os advogados da editora, apresentamos como provas inúmeros jornais e revistas da época registrando os fatos. Expliquei que na cultura da música jovem os envolvimentos com fãs são um clichê recorrente, que esses escândalos são corriqueiros. Contei que muito do que havia no livro me fora narrado por Erasmo Carlos, um dos envolvidos no caso, e que isto em nada havia diminuído a sua biografia de pai de família e grande artista brasileiro.
O escandalozinho banal passou batido pela história e ninguém foi condenado, dizia o livro. Pelas provas apresentadas e o desânimo do advogado adversário, achamos que era caso encerrado.
Surpresa: o meritíssimo manteve sua sentença, argumentando que, mesmo sendo verdadeiro e provado o fato, a história de cada um pertence a cada um, exclusivamente, e mesmo sendo verdade pública o que ele fez ou não fez, só ele tem direito de contá-lo em um livro. Ponto final.

Seria o fim da história. Todas as biografias deveriam ser escritas ou autorizadas pelos biografados, os crimes de Fernandinho Beira Mar só poderiam ser contados por ele, ou com sua concordância. Seria só obtusidade judicial? Ou pior: seria uma aplicação do tal "direito achado na rua", em que as leis - supostamente feita pelas classes dominantes - podem ser ignoradas pelo magistrado - em favor dos "oprimidos"?

Recorremos ao tribunal superior, ganhamos por 3 a 0 e a sentença absurda foi anulada. Mas é inquietante que em todo o País estejam ocorrendo descalabros semelhantes, provocados por visões voluntaristas e esquerdoides da Justiça. O pior é que eles pensam que estão sendo corretos.

Poucas forças podem causar tantos danos como a burrice bem intencionada no poder.

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Uau! Seu Silvio lança Teletombo!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/10

Socuerro! O Silvio Santos ficou quebrado! Dizem que agora ele vai pedir ajuda aos universitários. Rarará
!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Socuerro! Todos para o abrigo! Salve-se quem puder! 2012 é HOJE!
O Silvio Santos tá quebrado! Diz que ele vai pedir ajuda aos universitários. O Banco PanAmericano do Silvio tá devendo R$ 2,5 bilhões! E ele vai dar como garantia o SBT e o Baú. E o Jaça, a menina Maisa e o Bozo. E se ele não pagar, o governo fica com o Celso Portiolli. Rarará!
E um leitor me disse que pra salvar o SBT o Silvio Santos devia lançar o "TELETOMBO"! Rarará!
Claro que ia quebrar. Uma hora o dinheiro acaba. De tanto ele gritar: "Quem quer dinheiro? Quem quer dinheiro?". "EU! EU!", gritou o Silvio Santos.
E já resolvi: hoje eu vou comprar uma telesena pra ajudar o Silvio Santos! Gente, eu adoro o Silvio Santos! Verdade verdadeira. Principalmente quando ele combina a cor do cinto com a cor do cabelo. Rarará! E diz que ele maquiava o balanço do banco com produtos Jequiti. Só podia dar nisso! Rarará!
Ele vai pagar tudo com aviãozinho de dinheiro! Pega aquelas notas de R$ 50 e "vuuum"! Direto pro Banco Central! E pra compensar a falta de fundos: as popozudas do "Roda a Roda Jequiti"!
Chegou 2012! O Silvio Santos quebrou! Eu preferia que o Silvio Santos tivesse quebrado a dentadura. Seria menos apocalíptico. Deu um golpe de baú panamericano! Rarará!
E mais uma piada pronta: "Rejeitado, inglês publica fotos sexuais de ex-namorada no Facebook". Como é o nome da ex-namorada? Vicky BOWKETT! Rarará!
E a manchete do Sensacionalista: "Dilma confirma Mayara Petruso para Integração Regional". Rarará!
E essa: "Mantega propõe substituir dólar por moeda do FMI". Que tal MOERDA? Um cesto de moerdas! Rarará!
E, sobre o rombo do banco PanAmericano, o Silvio Santos tem que falar como o Chaves: "Foi sem querer querendo". Por que ele não chama o Chapolin Colorado?
O Silvio Santos vai acabar vestindo o barril do Chaves! Só vai sobrar o barril do Chaves!
Apocalipse Now! O Silvio Santos é um "stand-up comedy"! E mais uma do Pintos Shopping de Teresina. Eles têm outra loja: Pintos Calçados. Pra quem pisa em ovos! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

DORA KRAMER

Negócio milionário 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 12/11/2010 

Dos dez partidos que integram a aliança que elegeu e a coligação que governará com Dilma Rousseff nenhum até agora se interessou por outro assunto que não fosse a defesa de seus próprios interesses.

Todos aguardam a volta da presidente eleita de Seul para tratar dos cargos federais com mais objetividade. Nenhum deles apresentou ideia alguma sobre como gerenciar esse ou aquele setor de maneira a assegurar mais bem estar à coletividade.

O PMDB quer saber de manter a parte que lhe cabe no latifúndio e o PT pretende recuperar espaços perdidos para os parceiros. Essa é a discussão em pauta.

Uma, mas não a única demonstração de que a política é um negócio. Muito rentável e não raro milionário.

Nos financiamentos de campanha, por exemplo, a conversa em geral é feita na casa dos milhões. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) fez um levantamento junto à Justiça Eleitoral e chegou ao custo médio de R$ 1,1 milhão para a campanha de cada um dos 513 deputados federais eleitos em 3 de outubro.

"Em quatro anos de mandato cada um receberá de salário um total de R$ 792 mil", informa, querendo mostrar que boa parte dos parlamentares (54%) terá algum tipo de "dívida de gratidão" para com pessoas físicas ou jurídicas que financiaram suas campanhas.

Na bancada de 46 deputados fluminenses, de acordo com os dados de Alencar, 16 extrapolaram a média nacional, sendo a campanha mais cara a de Eduardo Cunha, do PMDB: R$ 4,7 milhões. O ex-governador Anthony Garotinho gastou R$ 2,5 milhões, o líder do PT na Câmara, Luiz Sérgio, R$ 2,3 milhões e o presidente do DEM, Rodrigo Maia, R$ 1,9 milhão.

E assim deve ter acontecido Brasil afora com esse sistema eleitoral que mantém o Legislativo dependente e, portanto, reverente aos grandes financiadores.

Também, mas não só por isso a reforma urge.

No padrão. Com a mesma facilidade com que avaliou o Enem como "um sucesso total" enquanto eram contabilizados os erros ocorridos no exame, o presidente Luiz Inácio da Silva diz que se for necessário serão feitas novas provas e que a Polícia Federal vai investigar "o que efetivamente aconteceu".

Sobre as investigações efetivas da PF em assuntos que rendam embaraço para o governo quem dá notícias é a ausência de resultados dos inquéritos abertos nos últimos anos.

Roda e avisa. Está tudo muito bem no caso do Banco Panamericano: o empréstimo do fundo garantidor ao grupo Silvio Santos é legal, o dinheiro é privado, SS apresentou garantias, o presidente Lula esteve há um mês com o empresário (ocasião da descoberta da fraude pelo Banco Central), mas eles não tocaram no assunto e, como diz o presidente do BC, Henrique Meirelles, não recebeu dinheiro público.

De fato, se desconsiderados os R$ 739,2 milhões pagos pela Caixa Econômica Federal em dezembro de 2009 - quando as fraudes já estavam em execução - para comprar 49% das ações do banco.

Queira o bom andamento dos trabalhos do encerramento do governo Lula que a decisão da CEF de que esse era um ótimo negócio não tenha guardado relação alguma com o apoio do SBT à candidata Dilma Rousseff.

Apoio este materializado durante a campanha do segundo turno, quando o SBT exibiu uma versão da agressão de militantes petistas a uma passeata do candidato do PSDB no Rio, com imagens selecionadas e que serviram de base a um discurso do presidente Lula "denunciando" que o adversário havia montado uma farsa.

A TV de Silvio Santos mostrou o candidato José Serra recebendo uma pequena bola de papel na cabeça e ignorou nova agressão ocorrida oito minutos depois.

Na ocasião, muitos se perguntaram o que levaria o SBT a se prestar àquele um papel.

Intensivão. O deputado mais votado foi aprovado no teste. Mas quem demoraria 40 dias para se provar alfabetizado senão alguém não alfabetizado?

BRAZIU: O PUTEIRO

MERVAL PEREIRA

Restos da campanha 
Merval Pereira 

O Globo - 12/11/2010 

Reza a lenda que José Serra, o candidato tucano derrotado nas eleições presidenciais de outubro, não perdoa o governador de São Paulo, Alberto Goldman, por ter anunciado o resultado da licitação de um trecho do metrô na semana final da campanha do segundo turno. Assuntos delicados como esse deveriam ficar para depois das eleições, para evitar ruídos políticos.

Uma denúncia de manipulação da licitação foi feita pela “Folha de S.Paulo”, que soubera do resultado muito antes da abertura das propostas e registrou o fato em cartório, e a licitação foi anulada, trazendo evidentes prejuízos políticos para Serra.

Se não é verdade, é bem verossímil.

O governo, por sua vez, está revelando nos últimos dias como pensou em tudo para ganhar a eleição.

Não tratou de assuntos delicados na campanha, como as reformas estruturais, e, quando o fez, foi para prometer reduzir a carga tributária.

Mal se fecharam as urnas, nós os cidadãos ficamos sabendo que havia um movimento de governadores para ressuscitar a famigerada CPMF, e a presidente eleita, embora seja contra, dispõese a estudar as “necessidades” dos estados.

Estourou também o escândalo de inépcia do Enem, um outro tipo de trapalhada, diferente da ocorrida em 2009, mas sempre prejudicando os alunos.

Sorte do governo que o Enem foi realizado em novembro, depois das eleições.

Sorte, não, precaução.

O Enem foi realizado em setembro em 2008 e em outubro em 2009, e este ano, alegadamente por causa das eleições, o calendário teve de ser alterado para novembro.

Como se sabia que as eleições, tanto no primeiro como no segundo turno, tinham dias marcados (3 e 31 de outubro), não havia impedimento para que o Enem fosse realizado em qualquer outro dia ou mesmo em setembro.

Mas, como gato escaldado tem medo de água fria, o governo se precaveu e jogou para novembro a crise que realmente aconteceu.

Como sempre, o presidente Lula começou falando grosso, com elogios à organização do exame, e foi cedendo à opinião pública até admitir que novas provas poderão ser realizadas.

E tem ainda a medida provisória dando, através do BNDES, R$ 25 bilhões para financiar o trem-bala entre Rio e São Paulo, dando como garantia as ações de uma companhia privada que ainda não foi constituída e mais um provisionamento de R$ 5 bilhões para o caso de necessidade.

Isso depois de a presidente eleita ficar a campanha inteira afirmando que o trem-bala era importantíssimo, mas não receberia dinheiro público.

O caso mais grave, no entanto, foi o do Banco PanAmericano, que o governo sabia que estava quebrado pelo menos desde agosto, devido a uma auditoria rotineira do Banco Central.

O fato de ter havido uma solução de mercado, com a utilização do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para cobrir o rombo de R$ 2,5 bilhões, é louvável, mas não é exatamente correto o governo dizer que não houve dinheiro público na transação.

Quando a Caixa Econômica Federal assumiu 49% do Banco PanAmericano em 2009, ele já estava quebrado, sabe-se hoje.

É estranho que a Caixa tenha investido em um banco que há quatro anos maquiava seus resultados sem perceber o que agora aparece como “indícios de crime do colarinho-branco”, na definição do Banco Central.

Mesmo que o empresário Silvio Santos perca todo o seu patrimônio, o erário público terá sofrido um baque com a queda das ações de um banco de que a Caixa Econômica não deveria ter comprado uma participação tão efetiva.

Ou houve uma inépcia muito grande das auditorias independentes e da própria direção da Caixa ou muita vontade de ajudar uma empresa em dificuldades, de um empresário muito influente nos meios de telecomunicação.

O Banco Central identificou em agosto que havia fraude nos balanços do Banco PanAmericano, e o assunto ficou sendo negociado em segredo até recentemente, com a peculiaridade de que a reta final deu-se justamente entre o primeiro e o segundo turno das eleições.

A sequência do caso é muito sintomática: a fraude foi detectada em agosto; no dia 20 de setembro o empresário Silvio Santos esteve no Palácio do Planalto com o presidente Lula; e em 11 de outubro começou a negociação.

Este timing da negociação, misturado ao timing político, não diz coisas boas sobre a atuação dos envolvidos nela, e nem mesmo é verossímil que a audiência com Lula tenha sido para tratar do Teleton.

Lula diz que não é papel do presidente da República tratar de negócios de bancos privados.

E tratar do Teleton é? No dia 20 de outubro, o candidato oposicionista José Serra foi agredido por um bando de petistas em Campo Grande, no Rio, quando fazia uma caminhada com seus correligionários.

A certa altura do tumulto, foi atingido na cabeça por algo pesado, que lhe provocou fortes dores.

Mais tarde, o artefato que atingiu Serra foi identificado como um rolo de fita.

O telejornal matinal da rede de TV SBT, no dia seguinte, exibiu uma filmagem que pretendia reproduzir a sequência dos fatos ocorridos em Campo Grande no dia anterior, mostrando que Serra fora atingido apenas por uma bolinha de papel e só colocara as mãos à cabeça 20 minutos depois, após conversar com alguém pelo telefone.

A denúncia de que o candidato da oposição armara uma farsa para tentar tirar proveito político de um tumulto insignificante foi prontamente adotada por ninguém menos que o próprio presidente da República, que passou a divulgar a versão do SBT como a verdade dos fatos.

No mesmo dia à noite, o “Jornal Nacional” demonstrou, com base em uma perícia de Molina, que o momento em que a bolina de papel atingiu Serra é completamente distinto do outro, em que ele foi atingido pelo rolo de fita.

Mas a versão da bolinha de papel foi usada até mesmo na propaganda eleitoral gratuita da campanha petista e serviu para neutralizar o provável prejuízo político que a campanha petista sofreria.

REGINA ALVAREZ

Cada um por si 
Regina Alvarez

O Globo - 12/11/2010 

Os resultados da cúpula do G-20 serão conhecidos hoje, mas não há expectativa de grandes avanços na pauta mais importante, que é a guerra cambial. Um comunicado com recomendações genéricas para que os países caminhem na direção de uma taxa de câmbio determinada pelo mercado, sem deixar claro como se reverte o atual quadro de desequilíbrio, é o mais provável.

Em nome da soberania, Estados Unidos e China — as duas potências que estão no centro do problema cambial — evitam sancionar compromissos que interfiram nas suas políticas internas.

A China resiste a qualquer imposição de fora para a valorização do yuan, e os Estados Unidos continuam a sustentar que o derrame de liquidez na economia americana é a receita adequada para reanimá-la.

Ao contrário de 2008, quando a ação coordenada do G-20 teve importante papel no esforço para sair da crise global, agora o que prevalece é o “cada um por si”, e o Brasil está no meio do tiroteio.

— O grande problema é decidir essa governança.

Que país se disporia a abrir mão de sua soberania na condução da política monetária? — pergunta o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.

Neste momento, apesar dos discursos que condenam a guerra cambial no mundo e alertam para os riscos de “desequilíbrios externos insustentáveis”, os países estão olhando para dentro de suas economias, inclusive o Brasil, embora o presidente Lula tenha dito o contrário em Seul, ao declarar que estava mais preocupado com a desvalorização do dólar do que com a valorização do real.

Os discursos duros de Lula e do ministro Mantega, com críticas aos EUA e à China, não interferiram nos rumos da cúpula do G-20, mas contribuíram para marcar a posição do Brasil favorável ao câmbio flutuante e a uma postura mais ética no comércio internacional.

Conhecido o resultado da cúpula e frustradas as expectativas de um comando efetivo do G-20 para frear a guerra cambial, o Brasil pode ficar mais à vontade para adotar medidas prudenciais capazes de frear o fluxo excessivo de dólares na nossa economia ou mesmo a entrada de produtos chineses barateados artificialmente.

Se os grandes só estão olhando para o seu umbigo, por que não faríamos o mesmo?

FMI do B

Avançam na Europa as negociações para a criação de um “Fundo Monetário Europeu”.

A iniciativa está sendo liderada pela Alemanha.

Por ser o país mais rico da região, a potência sabe que pagará a conta em caso de moratória de algum membro da Zona do Euro. A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, chama a iniciativa de “pequena revolução”, porque, pela primeira vez, será criado um órgão com poder efetivo para forçar a reestruturação das dívidas desses países.

— O FMI não tem jurisdição legal para exigir que um país reestruture suas dívidas. Isso é bem mais fácil de contornar na Zona do Euro, onde existe uma Corte de Justiça Europeia, que pode funcionar como uma corte de falências soberanas — explica Mônica.

Enxurrada

O balanço da Anbima sobre oferta de ações na Bovespa mostra como aumentou o apetite dos americanos por esses investimentos. Eles continuam sendo os estrangeiros com maior participação nessas aplicações e ainda ampliaram a sua fatia. Do total de ofertas até setembro, 50,6% das ações foram parar nas mãos de estrangeiros. Entre eles, 73,9% são americanos, e 20,5%, europeus. Em 2009, a participação dos americanos era de 68,4%; enquanto a dos europeus era de 27,2%. A liquidez de dólares a juros zero estimula a vinda dos americanos para o Brasil. E ajuda a derrubar o câmbio.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Tropa de choque 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 12/11/2010

Desejo de Silvio Santos: quer a Polícia Federal no caso.


Para entender
Na crise da Lehman Brothers, boa parte dos bancos que operam com crédito consignado usaram sistema de contabilidade parecido com o que acabou gerando buraco de R$ 2,5 bilhões no Panamericano. Isto é, vendiam suas carteiras de crédito e não registravam o fato corretamente.
Simplesmente porque não sabiam como fazê-lo.

Para entender 2
Um deles, cujas contas eram auditadas pela KPMG, corrigiu o erro rapidamente, depois de quatro meses.
Dúvida cruel. Pode não ter sido a mesma equipe da consultoria a responsável pela auditoria no Panamericano. Mas será que a empresa não absorve aprendizados? Isto, no mínimo, é negligência.

Origem
Foi em reunião do conselho fiscal do Panamericano, não se sabe exatamente quando, que os conselheiros tomaram conhecimento do buraco. Ao questionarem o contador-chefe, ele desabafou: "Graças a Deus alguém fez a pergunta certa". E despejou tudo que fez e sabia.

Origem 2
Corre forte pelo mercado que José Dirceu estaria por trás da costura da compra de parte do Panamericano pela CEF.

Cruzes
Quem é Rafael Palladino, ex-presidente do Panamericano, além de primo da mulher de Silvio Santos?
Um ex-boxeador que até hoje luta de maneira amadora. Inclusive com SS.
Mangalô...
O Citibank fez uma oferta de R$ 1,5 bilhão, em 2007, pela compra da totalidade das ações do Panamericano. Silvio Santos recusou. Fonte da coluna afirma que o apresentador não quis vender porque envolveria demissão de boa parte dos 5 mil funcionários. Outra fonte, porém, dá outro motivo: garante que o apresentador justificou sua decisão dizendo que o banco era o ativo mais lucrativo entre todos que possuía. Portanto, não via razão para se desfazer dele.

Qualquer que tenha sido a razão, o Citi teve sorte desta vez. É que o banco americano tenta, tenta, tenta há anos comprar instituição financeira brasileira e não consegue.


Velho mundo
Serra continua na Europa com o filho, Luciano. Depois de Biarritz, passou por Paris e curtiu Madri.
Consta que o tucano volta depois do feriado.

Em casa
Com Goldman em viagem, José Antônio Barros Munhoz se organizou e marcou três encontros na condição de governador do Estado.
Recebe, a partir de hoje, para almoçar ou jantar, prefeitos e autoridades da região de... Itapira.

Self-made woman
Celso Kamura está empenhado. Quer convencer Dilma a carregar um pouco mais na maquiagem na sua posse, dia 1º de janeiro.
E mais: "Queria dar um curso de "auto-arrumação"para ela aprender a se produzir sozinha", antecipa o cabeleireiro da presidente.

Help
Não passou despercebida a roupa de Dilma no primeiro jantar do G20: a mesma usada em programa eleitoral.

Vampiros de Paraty
Robert Pattinson e Kristen Stewart, do elenco da saga Crepúsculo, estão hospedados na casa de Fernando Alterio, no Saco do Mamanguá.
É a Time For Fun entrando no mundo do cinema?


Na frente

Maílson da Nóbrega lança sua autobiografia Além do Feijão com Arroz. Quarta, na Cultura do Conjunto Nacional.

Cássia Ávila é a nova editora de beleza da RG.

Monica Rizzolli abre a mostra Queda. Amanhã, na Central Galeria de Arte Contemporânea.

Confusão no Pacaembu, anteontem, no jogo do Palmeiras. Poucos respeitavam a numeração das cadeiras. E assim, lotou a escada de acesso. Que deveria ficar desobstruída por questão de segurança.

GOSTOSA

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK

Dilma e Cristina
ROGÉRIO FURQUIM WERNECK
O GLOBO - 12/11/10



O primeiro grande desafio da política macroeconômica da presidente Dilma Rousseff será a restauração da credibilidade da política fiscal.

Não se trata apenas de reverter o quadro de deterioração fiscal que se instalou nos últimos dois anos. É especialmente importante que o governo se comprometa a não recorrer mais a truques contábeis que têm trazido descrédito às contas públicas, solapando uma reputação de confiabilidade duramente construída ao longo de mais de 20 anos. Não há como levar a sério a política macroeconômica, se as contas públicas oficiais já não espelham a real evolução do quadro fiscal do País.

Em meio a uma transição de governo que deverá transcorrer sob o signo da mais tranquila continuidade administrativa, lidar com esse desafio pode ser um problema mais complexo do que parece, pois o que se faz necessário, na área fiscal, é uma quebra marcada e inequívoca com o que vem sendo observado no segundo mandato do presidente Lula.

O desafio traz à mente uma situação similar que ajuda a lançar luz sobre as dificuldades que poderão estar envolvidas. Ao longo de 2006, o governo Néstor Kirchner tentou de todas as formas pressionar a instituição responsável pelo cômputo da taxa oficial de inflação na Argentina a adulterar os cálculos. As pressões culminaram na intervenção do governo no INDEC (Instituto Nacional de Estadística y Censos) no início de 2007. Meses depois, em dezembro de 2007, Cristina Fernández de Kirchner, eleita sucessora de Néstor Kirchner, tomou posse como presidente da Argentina.

No período que antecedeu à sua posse, discutiu-se a possibilidade de que a presidente eleita aproveitasse a transição de governo para restaurar a credibilidade do índice oficial de inflação. A verdade, no entanto, é que, pesados os prós e contras, no seu intrincado cálculo político, Cristina Kirchner preferiu deixar passar a oportunidade. E, em pouco tempo, à medida que seu próprio governo também se envolveu na adulteração dos índices de preços, os custos políticos do abandono dessa prática se tornaram proibitivos.

A Argentina permanece até hoje com a condução de sua política macroeconômica comprometida pela completa falta de credibilidade dos dados oficiais de inflação.

O episódio é altamente instrutivo.

O que prevaleceu na decisão de Cristina Kirchner foi a resistência a uma mudança brusca e ostensiva que pudesse expor e desgastar o antecessor.

Mas há diferenças importantes entre as duas situações. Na decisão com que agora se depara Dilma Rousseff, há espaço para uma mudança mais sutil, que seja inequivocamente convincente, mas menos ostensiva do que a que Cristina Kirchner teria de fazer em 2007. A Dilma Rousseff, bastaria agora entregar a condução

da política fiscal do novo governo a um ministro que sabidamente não compactue com os padrões de gestão que prevaleceram nas finanças públicas nos últimos dois anos.

Teria de ser alguém, claro, que não pudesse ser associado às iniciativas que redundaram, de um lado, na rápida deterioração do regime fiscal no segundo mandato de Lula e, de outro, nas patéticas tentativas de escamotear tal deterioração. E não há como tapar o sol com a peneira.

Na escolha do novo ministro da Fa-zenda, teriam de ser evitados nomes do eixo Fazenda-BNDES, diretamente envolvidos na concepção e implementação das medidas que trouxeram inegável descrédito à política fiscal nos últimos anos.

Tais nomes padecem de limitações básicas. Por razões óbvias, nem mesmo reconhecem que esteja havendo deterioração do quadro fiscal. E insistem que não há nada de errado, nem nas colossais transferências do Tesouro ao BNDES, nem nos truques contábeis que transformam emissão de dívida bruta em melhora de superávit primário. Não têm, portanto, condições de comandar o esforço de restauração de credibilidade que se faz necessário.

Com a escolha de seu ministro da Fazenda, Dilma Rousseff vai demarcar a importância efetiva que afinal decidiu dar a esse esforço. Não precisa incorrer no mesmo erro de Cristina.



ROGÉRIO FURQUIM WERNECK é economista e professor da PUC-Rio.

ANCELMO GÓIS

Hollywood é aqui 
Ancelmo Góis 
Globo - 12/11/2010

Eduardo Paes anuncia para janeiro um edital de apoio exclusivo ao cinema do Rio.

O Facc (Fundo de Apoio ao Cinema Carioca) vai selecionar, via Riofilme, projetos a partir de sua importância cultural para a cidade.

Sem nomes

Sérgio Cabral, apesar de a toda entrega e todo o envolvimento na campanha de Dilma, decidiu não pedir por nenhum nome na montagem do Ministério.

Avisa aos navegantes que já até marcou audiência com a presidente eleita — mas, diz, para tratar de outros assuntos.

Na audiência...

Cabral vai a Dilma com seu secretário de Segurança, José Beltrame: — Vou pedir verbas e parcerias para o Rio e apresentar, com Beltrame, nossa proposta de iniciativas do governo federal para a área da segurança pública

‘Dolce far niente’

Quem está hospedado no hotel mais caro de Buenos Aires, o Alvear Palace Hotel, é o vicepresidente eleito Michel Temer

O mais querido

Veja o poder do Flamengotorcida, apesar dos tropeços do Flamengo-time.

Só no primeiro dia da campanha Rubro-Negro para Sempre, que permitirá aos torcedores, por R$ 250, gravarem seus nomes nos tijolos do futuro centro de treinamentos do clube, foram arrecadados, acredite, R$ 500 mil — meio milhão de reais!

O samba do Rei

Roberto Carlos vai gravar e cantar em seu show de fim de ano o samba-enredo eliminado da disputa na Beija-Flor, inscrito por Erasmo Carlos, Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle.

Será a primeira vez, na era moderna do carnaval, que uma composição não escolhida sobreviverá ao concurso. Por contrato, todas são descartadas.

Bokova e Rousseff

A búlgara Irina Bokova, diretorageral da Unesco, mandou a Dilma uma singela cartinha, manuscrita, felicitandoa por sua eleição no Brasil.

Nela, recorda as origens da família da presidente eleita na Bulgária e diz: “Como búlgara, tenho orgulho de você.”

Johnny Alf eterno

Johnny Alf, o saudoso músico, autor de clássicos como “Ilusão à toa”, será o homenageado, em 2011, do Prêmio da Música Brasileira, de José Maurício Machline. Merece.

Suplicy é fofo

Outro dia, Eduardo Suplicy, o senador boa-praça, desculpouse por deixar um debate com os humoristas Cláudio Manoel e Marcelo Tas, em São Paulo, para falar a uma rádio sobre a CPMF.

No que o casseta Cláudio bradou: “Senador, diga que o senhor só aceita debater... aborto!!!” Todo mundo caiu na risada.

Cadeia aberta

A juíza Andréa Fortuna Teixeira mandou soltar ontem 14 suspeitos de envolvimento com tráfico presos em maio no Morro do Pavão-Pavãozinho, no Rio.

As prisões haviam sido feitas após a chegada da UPP à favela.

É que a própria Justiça não teria cumprido o prazo de 180 dias para citar réus e advogados.

Agora...

O temor é que os 14 voltem para a favela.

Central do Brasil

A 29aVara Cível do Rio mandou a Supervia indenizar em R$ 140 mil a família de um menor morto em 2005, aos 14 anos, ao cair de um trem que trafegava com as portas abertas

Buraco quente

Começou na Mangueira, prematuramente, o processo de sucessão do presidente Ivo Meirelles, cujo mandato vai até 2012.

Crime e castigo

A 16aCâmara Cível do Rio condenou a casa de espetáculos Via Show a indenizar em R$ 765 mil a família de Geraldo Sant’anna de Azevedo Jr., que teria sido morto ali por seguranças, segundo o advogado João Tancredo, em dezembro de 2004.

Beijo de língua

A Parada do Orgulho LGBT, em Copacabana, é só domingo, mas, amanhã, às 10h, 50 gays já vão promover um beijaço na Cinelândia, Centro do Rio.

É o lançamento da ONG Movimento Beijaço. A ideia é criar um calendário de beijaços em toda a cidade.

AS ANIMADAS da foto são nossas atrizes Cláudia Ohana e Vanessa Giácomo, em cena no filme “A novela das oito”, que é rodado no Rio. A história se passa no fim dos anos 1970, quando a novela “Dancin’Days” ditava moda.

O MUNDO SEM HUMANOS

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Farmácia estuda modelo de venda diversificada na Europa 
Maria Cristina Frias 
 Folha de S.Paulo - 12/11/2010 

Um grupo de empresários e executivos do varejo farmacêutico viaja hoje para a Europa com o interesse de aprofundar seus conhecimentos sobre modelos de venda de produtos além de remédios em farmácias.
Organizado pela Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias) o grupo fará visitas técnicas às maiores redes de farmácias e drogarias da França e da Inglaterra.
"Optamos pela Inglaterra pois é um país que conta com ampla cobertura do governo em medicamentos e em cujas farmácias são vendidos pequenos eletrônicos, brinquedos e outros produtos", diz o presidente-executivo da entidade, Sérgio Mena Barreto.
O setor viveu neste ano uma batalha com a Anvisa, que tentou restringir a venda de produtos de conveniência, que não são diretamente ligados à saúde.
Grande parte dos estabelecimentos ficou autorizada por meio de liminar a vender itens como barras de cereal, doces, sucos, refrigerantes e alimentos matinais.
Recentemente o STJ confirmou a liberação para a venda dos produtos.
A passagem pela França será útil para observar um mercado que passa por momento parecido, de acordo com Barreto.
"Na França, o governo estuda a liberação de medicamentos isentos de prescrição nas gôndolas", diz.

MEU CRÉDITO, MINHA CASA
O banco Santander e a Century 21, de franquias imobiliárias, assinaram parceria para concessão de crédito imobiliário no país.
O acordo, que faz parte da estratégia de crescimento do Santander no setor, visa facilitar o acesso a crédito a clientes da imobiliária. A área de negócios imobiliários do banco cresceu 30,7% de janeiro a setembro. "O segmento ainda tem baixa penetração e proporciona relacionamentos de longo prazo", diz José Roberto Machado, diretor de negócios imobiliários do banco.
Presente em 72 países, a Century tem 64 unidades franqueadas no Brasil. Dessas, 35 entram em operação no ano que vem. A empresa projeta chegar a 600 franquias até 2014, com presença nas cidades com mais de 50 mil habitantes.
"Para facilitar a venda de franquias, vamos reduzir as taxas sobre o faturamento. No futuro, devemos ter um valor fixo", diz Ernani Assis, diretor da Century 21 para o Brasil.

Humor Durante seminário promovido pelo grupo Economist, com o apoio da Folha, na última terça-feira, em São Paulo, uma enquete com os cerca de 250 participantes sobre as perspectivas para o governo de Dilma Rousseff deu empate técnico: 51% dos presentes disseram estar otimistas enquanto 49% se mostraram pessimistas.

COSAN FINALIZA CENTRO DE APOIO
O Grupo Cosan finaliza a construção do Centro de Apoio ao Negócio, em Piracicaba, em São Paulo.
Com investimentos de R$ 75 milhões, a unidade vai centralizar todas as atividades de apoio, como os serviços de atendimento a fornecedores e clientes e contratação de pessoal.
O prédio ficará pronto em dezembro e deve entrar em operação já no mês seguinte.
Com 9.500 m2 de área construída em três andares, o edifício vai acomodar cerca de 900 colaboradores.
O prédio foi construído de acordo com o conceito "green building", que busca o aumento de eficiência no uso de água e energia.
O edifício terá economia de 30% na utilização de recursos, segundo a empresa.

BOLSA DE CARBONO
Apesar de não possuir marco regulatório das regras contábeis para a compra e venda de créditos de carbono, o Brasil tem condições de implantar um mercado de Bolsa ou balcão para o setor.
A conclusão é do estudo "Regulamentação dos Ativos Ambientais no Brasil", elaborado pelo Leoni Siqueira Advogados, sob coordenação da BM&FBovespa.
Os créditos negociados à vista não são regulados pela CVM (órgão que dirige e fiscaliza o setor), pois não são valores mobiliários, segundo Flávio Leoni, sócio do escritório. Já os créditos negociados no futuro, seguem a norma dos derivativos.
"Não há impedimentos. Só é preciso definir como o mercado de carbono será tributado pela Receita", diz.

EM BALANÇO
A incorporadora JHSF encerrou o terceiro trimestre com lucro líquido ajustado de R$ 27,1 milhões, de acordo com o balanço que será anunciado hoje. A alta foi de 152% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os projetos da incorporadora lançados no trimestre alcançaram 83% de vendas.

Conselheiros... Há 17 Tribunais de Contas no país com processos judiciais envolvendo seus conselheiros, segundo a Fenastc (federação nacional de servidores dos tribunais de contas). Dentre eles, Rio, Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul, Maranhão e Mato Grosso.

...com processos Propostas para melhorar o sistema e corrigir atos de corrupção em tribunais de contas no país serão apresentadas no 20º congresso da Fenastc. O evento acontece em Curitiba, no Paraná, entre os dias 17 e 21 deste mês.

Luz A Secretaria de Saneamento e Energia de São Paulo contratou a consultoria Andrade & Canellas e a empresa de serviços de conservação de energia Vitalux para fazer o levantamento do potencial de eficiência energética do Estado, previsto para 2011.

DEVER DE CASA
Durante o período de recuperação da crise e de maior regulação dos mercados, o principal desafio dos bancos é reunir informações precisas que auxiliem o gerenciamento de risco, um dos principais focos das empresas, segundo Hank Prybylski, sócio global da Ernst & Young de consultoria para o setor financeiro.
"A regulação impacta o modelo de negócio adotado pelos bancos. Algumas práticas podem ficar de fora do ambiente bancário regulado", diz o executivo, que veio ao Brasil nesta semana encontrar clientes locais.
O ajuste por parte das instituições financeiras pode levar de dois a três anos, segundo Prybylski.

Investimento... A Locar, uma das maiores do mundo em movimentação de cargas por meio de guindastes, investe R$ 28 milhões na aquisição de equipamentos de transporte especial e de gruas para construção civil.

...intermodal A empresa recebe, neste mês, 35 novos eixos hidráulicos, ampliando a frota para 154 equipamentos. Para atender o mercado de construção, refinarias, petroquímicas e mineradoras, a empresa comprou 16 guindastes.

Remessa marítima A Vinícola Perini acaba de embarcar um contêiner com 600 caixas de vinhos para os Estados Unidos. As bebidas serão servidas nas 25 unidades da churrascaria Texas Brazil e nas 16 da Fogo de Chão.

CELSO MING

O ajuste em discussão 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 12/11/2010

Lá estão eles, os 20 chefes de Estado mais importantes do mundo, reunidos em Seul, na Coreia do Sul, em busca de um mínimo de governança para uma economia cada vez mais globalizada e cada vez mais desequilibrada.

A maioria desses desequilíbrios se manifesta como rombos nas contas externas. São países que têm sobras nas suas relações com outros países (superávits em conta corrente) e que têm como contrapartida rombos externos (déficits em conta corrente). Os com mais sobras são China, Alemanha e Japão. O mais deficitário são, de longe, os Estados Unidos.

Cavoucando um pouco mais, vê-se que tais déficits são causados por forte consumo, que puxa importações e despesas no exterior. Estas, por sua vez, são acionadas pelo aumento da renda e do poder aquisitivo causado por enormes despesas públicas. Ou seja, por trás dos rombos externos geralmente estão os rombos orçamentários (veja tabela).

Os rombos orçamentários são cobertos com dívidas (emissão de títulos públicos). Não por coincidência, os maiores compradores dos títulos das economias ricas são países com forte superávit externo (China e Japão), que amontoam reservas com os dólares que têm em excesso.

Nesses termos, o ajuste adequado teria de ser feito por meio de contenção das despesas públicas e da redução das dívidas dos países ricos. Como isso exige sacrifício, recessão, desemprego e tanta coisa de difícil execução, os Estados Unidos estão recorrendo a mecanismos de expansão monetária que implicam desvalorização do dólar e do yuan, atrelado ao dólar.

Esses mecanismos de efeito mais contundente estão sendo acionados pelo Fed (o banco central dos Estados Unidos). Depois de ter expandido o volume de moeda na economia a níveis tão elevados a ponto de seu preço (juros) ficar próximo de zero por cento ao ano, o Fed está recorrendo a um instrumento extremo, o afrouxamento quantitativo, que é a recompra de títulos públicos com emissão de dólares.

O objetivo declarado é produzir pontes de safena que desbloqueiem o crédito, o consumo, a produção e o emprego. É a execução de política monetária por outros meios para tentar o ajuste que deveria ser produzido pela política fiscal.

Se haverá o resultado desejado é o que ainda se vai ver. O problema é que essa gambiarra produz grave efeito secundário, que é a inundação de dólares nos demais países e desvalorização cambial. Assim formatado, o ajuste transfere para o resto do mundo a conta da crise, que é fundamentalmente dos Estados Unidos.

Em nenhum momento, os chefes de Estado do G-20 tentaram discutir em Seul consertos na área fiscal, tecnicamente os mais apropriados, mas politicamente quase inviáveis. O principal conflito de interesses do momento é, de um lado, a defesa dessa política monetária dos Estados Unidos pelos seus dirigentes e, de outro, os ataques a ela por parte da China, Alemanha, França e Brasil. O presidente americano, Barack Obama, lembrou que "o que é bom para os Estados Unidos é bom para o mundo". É uma variação da velha frase do secretário da Defesa dos Estados Unidos nos anos 50, Charles Wilson, para quem "o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos".

Obama quer dizer que os Estados Unidos ainda são a locomotiva do mundo. Se continuarem estagnados, todos os demais vagões também permanecerão. O Japão e a Inglaterra estão de acordo com isso. Ontem, quando disse que "sem demanda dos países ricos, o mundo vai à falência", Lula também pareceu ter abraçado a tese de Obama.

A tendência é a de que nada conseguirá deter o Fed de prosseguir na sua política monetária expansionista. O governo americano não nega os efeitos perversos sobre o câmbio dos países emergentes, mas parece dizer: "Aguentem um pouco, que depois melhora."

A cúpula de Seul tem mais um dia. É esperar para ver o que sai daí.

FUNDO FALSO

ELIANE CANTANHÊDE

PS
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/10



BRASÍLIA - Sinceramente, dá para até para desconfiar que o deputado Paulo Bornhausen (SC), eleito líder do DEM na Câmara, tem algum assessor infiltrado no campo governista, que não para de produzir munição para ele resistir na frágil trincheira oposicionista.
Apesar dos dez governadores que terá em 2011, inclusive em São Paulo e Minas, a oposição vai comer o pão que o diabo amassou para sobreviver no Congresso. Numa estimativa (porque depende de decisões judiciais e porque há dissidentes nos partidos), o governo Dilma terá 400 dos 513 deputados e 50 dos 81 senadores -cerca de 80% da Câmara e 60% do Senado.
Dilma, portanto, terá poder para, por exemplo, mudar a Constituição e criar impostos. Assim, Bornhausen não sabe se a sucessão de erros e irregularidades pós-eleição é para rir ou para chorar.
Como o espaço é curto, só deu para relacionar ontem aqui a ressurreição da CPMF (Bornhausen foi um dos líderes da derrota do imposto no Congresso), o Enem sem licitação, a turbina rachada de Itaipu, os aumentos salariais em tramitação e a suspeita de desequilíbrio fiscal em 2011. Além, claro, dessa história de a Caixa Econômica Federal comprar 49% de um banco com contas maquiadas e controlado justamente por Silvio Santos, o que sempre "vem aí".
Mas há muito mais munição para DEM, PSDB e PPS, como a recomendação do Tribunal de Contas da União para paralisar 32 obras, 18 delas do PAC. Ou a lista da equipe de transição de Lula para Dilma (ou seria de Lula para Lula?), que inclui uma advogada envolvida no escândalo dos sanguessugas e até a cabeleireira gaúcha que a presidente eleita herda da candidata.
Lula reage ao TCU como reagiu à Justiça Eleitoral: não deu a menor bola. E a equipe de transição remete à governadora Ana Júlia Carepa (PA), que nomeou para o gabinete a cabeleireira e a esteticista. Ah! E acabou não sendo reeleita.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Tudo junto e misturado
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/10

O acirramento da tensão entre PT e PMDB não resulta apenas da disputa por posições no futuro governo de Dilma Rousseff e no Congresso. Reflete também o desconforto dos petistas diante dos esforços da sigla aliada para tentar incorporar o DEM. 
O PT, sobretudo em seu núcleo paulista, atribui à cúpula do partido do vice-presidente eleito, Michel Temer, a iniciativa das negociações com Gilberto Kassab. O objetivo seria forçar uma espécie de ‘terceiro turno’, buscando no balcão pós-eleitoral um expediente para compensar o resultado das urnas, das quais saiu com nove deputados menos do que os petistas. Isso além de se cacifar para 2012.

Porta de saída 1 - Diante da oposição de Rodrigo Maia à fusão, Kassab e seus aliados no DEM tentam apear o deputado da presidência do partido. Maia, que tem mandato até o final de 2011, arregimenta apoio dentro e fora da sigla para resistir. 

Porta de saída 2 - Se concretizada, a fusão ajudaria a resolver a vida de Kassab, órfão do serrismo num território agora controlado por Geraldo Alckmin. No cenário da migração pura e simples, o prefeito poderia ser punido pela regra da fidelidade partidária. 

Geopolítica - De um observador atento às turbulências entre PT e PMDB na Câmara, enquanto Dilma se dedica à reunião do G20 em Seul: ‘É bom ela começar a se preocupar com o G513‘. 

Aprovado - A presidente eleita recomenda o uso do hape (rapé, na pronúncia coreana), que ganhou de presente ao chegar a Seul para a cúpula. É recomendado para combater o edema pulmonar de altitudes elevadas, um risco em voos longos. 

Tabuleiro - Surgiu uma nova ideia na prancheta de simulações sobre o ministério de Dilma: transferir Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, para a Secom, hoje ocupada por Franklin Martins. Ex-secretário de Comunicação e Governo de Santo André na gestão Celso Daniel, ele ficaria no núcleo do governo e participaria da rotina da presidente eleita. 

Os meus - Apesar das afirmações em contrário, Lula tem dado mais do que pitacos sobre o futuro de Carvalho, Guido Mantega, Antonio Palocci e Paulo Okamotto. 

Blindada - Ainda que a esta altura multipliquem-se as dúvidas sobre o que levou a CEF a adquirir generosa fatia do micado PanAmericano, a oposição não tem muita esperança de balançar a roseira da presidente do banco oficial, Maria Fernanda Coelho. Avalia que a decisão foi da cúpula do governo, e que portanto ela está protegida.

Sem cafezinho - Não bastassem os frequentes apagões de energia no Planalto reformado, ministros e assessores foram surpreendidos anteontem por uma espécie de greve dos garçons. Eles interromperam por algumas horas o serviço no palácio para levar adiante as reivindicações da categoria. 

Assim não - Embora considere a possibilidade de manter Antonio Ferreira Pinto no comando da Segurança de São Paulo, Geraldo Alckmin está para lá de incomodado com a interpretação, a seu ver alimentada pelo próprio secretário, de que a escolha de qualquer outro nome seria sinal de leniência com a corrupção policial. 

Festa no interior - Na estreia como governador em exercício, Barros Munhoz (PSDB) cumpre hoje um ‘roteiro dos sonhos’. Empossado às 9h, o presidente da Assembleia vai à tarde a Itapira, onde foi prefeito, para assinar convênios e entregar obras em estradas vicinais. 



Tiroteio

É positivo que Dilma tenha mulheres no ministério, mas não acho que este deva ser o critério de escolha. Quero crer que ela encontrará mulheres competentes. 
DA DEPUTADA LUCIANA GENRO (PSOL-RS), sobre a intenção da presidente eleita de ampliar bastante a participação feminina no primeiro escalão.

Contraponto

Entre os grandes 

Durante entrevista coletiva realizada na tarde de ontem em Seul, um dos jornalistas presentes quis saber se Lula, depois de entregar a faixa a Dilma Rousseff em 1º de janeiro, sentirá falta da ribalta proporcionada por encontros internacionais como o do G20. O presidente respondeu com outra questão: 
- Você então pensa que esta aqui é a minha última reunião entre os grandes? 
Antes que alguém se manifestasse, Lula emendou: 
- E quando eu for no sindicato fazer uma reunião?

GOSTOSA

JOSÉ PEDRO DE OLIVEIRA COSTA

O equilíbrio da Terra em Nagoya
José Pedro de Oliveira Costa 
O Estado de S.Paulo


A Conferência de Nagoya, dos Estados parte signatários da Convenção da Biodiversidade, encerrada há dias, constituiu-se num marco histórico. Nela foi aprovado um "protocolo" que, entre outras disposições, propugna por pelo menos 17% da superfície terrestre dos continentes e 10% dos ecossistemas marinhos como áreas protegidas. É um salto e tanto, mas não é tudo. A meta anterior, indicada genericamente, referia-se a 10% da superfície terrestre e não se manifestava quanto à marinha. Durante a própria reunião de Nagoya, num dos muitos eventos paralelos, a Conservation International, uma das mais prestigiosas ONGs ambientalistas do mundo, defendeu a proteção de pelo menos 25% dos ecossistemas terrestres e 15% dos marinhos. Hoje temos cerca de 10% da superfície terrestre com alguma forma de proteção, e mesmo isso sem estar proporcionalmente distribuído por diferentes formações ecológicas. Alcançar 17% e 10% de proteção de cada ecossistema continental e marinho, respectivamente, exigirá, portanto, um esforço considerável, com benefícios decorrentes expressivos. E essas disposições já servem como balizamento a ser observado pelos novos dirigentes eleitos no Brasil nos níveis estadual e federal. Servem também como indicador de como estão equivocadas as discussões sobre o Código Florestal Brasileiro, em tramitação no Congresso Nacional.

Além dessas metas, o "Protocolo de Nagoya" também determinou regras com respeito ao acesso e repartição de benefícios decorrentes da utilização da biodiversidade. Essa resolução, que favorece os países mais biodiversos, como o Brasil, é um incentivo importante para a proteção das multivariadas formas de vida assumidas pela natureza. Assim, se um produto farmacêutico novo ou um cosmético a ser desenvolvido usar uma planta de determinada região, esta deverá receber parte dos benefícios decorrentes desse uso. Da mesma forma, ao utilizar o conhecimento tradicional de determinado grupo social, este deverá compartilhar os lucros financeiros desse uso. Parece óbvio, mas foram necessários quase 20 anos de negociações, desde a assinatura da Convenção da Biodiversidade na Rio-92, para que se chegasse formalmente a esse acordo.

Depois de muito estudar essa questão e tendo trabalhado nas últimas quatro décadas observando seu desenvolvimento, em especial no Brasil, entreguei recentemente à USP estudo aprofundado sobre o tema. Nesse trabalho reitero que no cômputo derradeiro para se alcançar um equilíbrio sustentável em nossa permanência na Terra será necessário que preservemos pelo menos 33% da superfície do planeta como Áreas de Proteção Integral e outros 33% como Áreas de Uso Sustentável, ficando os demais 33% para usos extensivos. É mais ou menos o que temos como situação de uso atual na Amazônia brasileira. Esses porcentuais, com ajustes para cada situação, devem ser a meta de longo prazo para todo o planeta, para todos os ecossistemas, tanto terrestres como marinhos, se nos quisermos manter em equilíbrio confortável com o planeta.

Apresentei essa ideia durante a reunião promovida pela Conservation International em Nagoya, onde foi bem recebida. Sem dúvida, não será uma equação fácil de alcançar e uma questão dessa magnitude vai depender do desenvolvimento de novas tecnologias, controle e redução da população humana, compensações ambientais e muitas outras variáveis. Principalmente de um novo entendimento da relação do homem com a natureza. Ao mesmo tempo, as secas amazônicas e as mudanças climáticas que já ocorrem e, infelizmente, ao que tudo indica, se intensificarão devem servir para que a humanidade se convença da necessidade e das imensas vantagens psicológicas, econômicas e sociais de viver em equilíbrio com a natureza.

Necessária se faz uma menção ao trabalho desenvolvido nessa conferência pelo Brasil para que alcançássemos tantos sucessos. O Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente desempenharam papel crucial, universalmente reconhecido, nesse processo. E isso reforça nossa posição de líder ambiental no fórum mundial, papel esse a nós destinado como nação detentora da maior biodiversidade do planeta. Apesar das discussões menores sobre o tema que ainda prevalecem em âmbito interno, no setor externo o Brasil atingiu um brilho nunca alcançado, que foi reforçado pela notícia divulgada durante a conferência da expressiva votação recebida por Marina Silva. Será uma incongruência que o País, tendo avançado tanto nessa matéria no cenário internacional, permita a paralisia ou o retrocesso do tema no cenário interno. Também se aprovou em Nagoya um significativo plano de ação para os governos subnacionais, o que dará impulso aos trabalhos de conservação da biodiversidade desenvolvidos por Estados e municípios.

Por tudo isso, e para que se implementem essas metas, há muito o que fazer. No Brasil, precisamos aumentar consideravelmente o número e a qualidade da gestão de nossas áreas protegidas, garantindo de fato a proteção da biodiversidade, assim como os rendimentos e os benefícios sociais decorrentes de sua implantação. Principalmente, será necessário envolver outros setores da sociedade nesse processo, e não ficarmos somente com os ecologistas e órgãos governamentais correspondentes respondendo pelo equilíbrio ambiental. O setor privado já contribui por meio de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, mas isso ainda é pouco e as empresas podem e devem fazer muito mais. Com o setor agrário, o maior beneficiário de um ambiente e um sistema de águas equilibrados, é preciso transformar em colaboração o que hoje é antagonismo. E o setor público precisa transformar em realidade a introjeção da proteção da biodiversidade em todos os segmentos de sua atuação. Por enquanto, festejamos Nagoya, que deu um primeiro e importante passo nessa direção.

ARQUITETO, ECOLOGISTA, PROFESSOR DA FAU-USP, FOI O PRIMEIRO SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO E SECRETÁRIO NACIONAL DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS DO GOVERNO FEDERAL

WASHINGTON NOVAES

O problema de saber quantos já somos
Washington Novaes 
O Estado de S.Paulo


Um dos temas mais discutidos na reunião da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) em Nagoya foi o do aumento da população mundial e consequente pressão por mais recursos e serviços naturais, quando vários relatórios já acusam a insustentabilidade do panorama - alguns chegam a situar em 50% o excesso de consumo, comparado com a capacidade de reposição do planeta, e em 30% a perda da biodiversidade global registrada em 40 anos. Soluções propostas não escaparam dos caminhos que até aqui têm ficado no terreno das boas intenções - reduzir o consumo global, baixar o consumo nos países industrializados (os maiores consumidores), baixar as taxas de crescimento da população.

Os números sobre população ali discutidos são, de fato, inquietantes: dos quase 7 bilhões de pessoas que já somos no mundo, chegaremos a 7,67 bilhões em 2020, a 8,3 bilhões uma década mais tarde, a 8,8 bilhões em 2040 e a 9,15 bilhões na metade do século - e tudo isso com as taxas de fertilidade (número de filhos por mulher em idade fértil) em declínio no mundo todo, já abaixo da taxa de reposição, de dois filhos (que substituem pai e mãe, sem aumentar a população). Embora essa taxa de fertilidade continue em declínio, o "estoque" de mulheres em idade fértil ainda é alto, por causa da alta natalidade nas últimas décadas do século 20 e início deste.

Mas quando se entra no terreno das propostas a discussão é complicada. Há quase 20 anos o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) vem mostrando que os países industrializados, com menos de 20% da população mundial, consomem quase 80% dos recursos, com sua produção e as importações. Se todos os países consumissem como eles, diz o Pnud, seriam desnecessários mais dois ou três planetas. Por isso, quando se discute, como em Nagoya, a necessidade de países como a China e a Índia reduzirem a pressão sobre os recursos naturais, ambos respondem que sua taxa média de consumo de recursos ou de energia por habitante (a China tem perto de 1,4 bilhão de pessoas; a Índia, cerca de 1,1 bilhão) é muitas vezes menor que a da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. Na média, o que se mostrou na CDB no Japão é que os 33 países mais desenvolvidos têm uma "pegada de carbono" cinco vezes mais alta que a dos países mais pobres.

Nesse quadro, suscita curiosidade a notícia deste jornal (4/11) de que 6 milhões de pesquisadores (mais que a população de muitos países) começaram a visitar 400 milhões de residências para realizar em dez dias o censo demográfico na China, que tem cerca de 20% da população mundial. E um dos obstáculos será a população flutuante, perto de 200 milhões de "migrantes rurais" (mais que toda a população brasileira), que vagam pelo país, sem residência fixa, em busca de emprego. Mas não é só. Ninguém sabe quantas são as crianças "clandestinas", não registradas para não violar a lei do filho único (perde o equivalente a um ano de rendimentos e outros benefícios sociais quem tenha mais de um filho e não o registre; funcionários públicos podem perder o emprego; agora as penalidades estão sendo reduzidas, até para facilitar o censo).

Por aqui, o primeiro levantamento divulgado pelo IBGE sobre nosso censo aponta 185 milhões de pessoas. Mas ainda faltam números (o autor destas linhas, em mais de 70 anos de vida, só em um censo teve sua residência visitada - e não foi neste). De qualquer forma, há dados relevantes. A taxa de fertilidade continua em baixa, inferior à taxa de reposição. Também caiu a média de pessoas por domicílio (de 3,79 para 3,37). E a projeção é de que cheguemos a 216,4 milhões de pessoas em 2030, quando a população começará a declinar, para chegar a 215,3 milhões em 2050. Números um pouco mais altos que os da análise feita pelo Ipea em outubro, de estatísticas da Pnad e do IBGE (Agência Brasil, 14/10), que apontou 206,8 milhões para 2030 e 204,7 milhões para 2040.

Relacionada com esses números, há uma interpretação curiosa do ex-ministro Pedro Malan, que atribui a elevação da produtividade e da renda no País à redução do número de dependentes por pessoa produtiva, que em uma década caiu de oito para cinco (Correio Braziliense, 22/8).

Sempre que o tema demográfico entra em discussão, emerge a questão dos custos previdenciários, já que tende a crescer a proporção de pessoas idosas (mais de 60 anos) na população. Elas eram 9,1% em 1999 e chegaram a 11,3% em 2009. As pessoas com mais de 70 anos eram 6,4 milhões (3,9%) e passaram a 9,7 milhões (5,1%). A esperança média de vida subiu para 73,1 anos. As análises pessimistas têm enfatizado que haverá um número cada vez maior de pessoas que dependerão, em suas aposentadorias, de uma quantidade menor de contribuintes. E sugerem revisões imediatas nos critérios de rendimentos de aposentados, para não agravar o "déficit da Previdência" - esquecendo-se de vários fatores, como o de que a maior parte do déficit da Previdência se deve ao pagamento de aposentadorias no setor público, muito mais altas, e não ao custo da aposentadoria no setor privado, em que os pagamentos de valor acima do salário mínimo têm declinado (em termos reais), por serem os reajustes inferiores aos índices do salário mínimo, que reajustam as aposentadorias até o valor máximo destes. É preciso lembrar ainda que os aposentados do setor privado contribuíram durante parte de sua vida sobre o máximo de 20 salários mínimos (para terem direito a aposentadorias de até 18 salários mínimos) e, do dia para a noite, viram o teto cair para 10 salários mínimos. Além de a aposentadoria inicial ser calculada sobre a média das contribuições nos últimos 36 meses, sem correção monetária - o que levou o valor a cair brutalmente nos tempos de inflação acentuada.

O censo é muito útil, revela muitas coisas. Mas é preciso que seja interpretado corretamente por quem legisla e/ou administra. E gere consequências justas.

CLÁUDIO HUMBERTO

Sem votos nem mandato, Lupi pede para ficar

O presidente do PDT e ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que não se candidatou a deputado no Rio temendo uma derrota humilhante, pediu para ficar no cargo durante o governo Dilma. Quer tanto que entrou em rota de colisão com o líder do PDT na Câmara, Paulo Pereira da Silva, que ele imagina seu rival na luta pelo cargo. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, reuniu os dois e impressionou o clima de beligerância.

LÍDER DELE MESMO
Paulinho disse a Dutra que não briga por cargos, mas deixou claro que Carlos Lupi não representaria o PDT no ministério, e sim ele próprio.

VADE RETRO
Carlos Lupi é tão pouco ligado à presidente Dilma que nem sequer foi aceito na coordenação da campanha dela, apesar de sua insistência.

O SEM-VOTOS
Além de evitar as urnas, às quais jamais se submeteu, Carlos Lupi não conseguiu eleger qualquer candidato da sua turma, em outubro.

REI DOS SUPLENTES
O governador do Rio, Sérgio Cabral, cogita nomear três deputados no secretariado, só para manter na Câmara aliados como Nelson Bornier.

BRASIL AJUDA CIA AÉREA ITALIANA A SAIR DA CRISE
A Agência Nacional de Aviação Civil autorizou a aérea Cargolux Italia S.P.A. a operar transporte regular de carga no Brasil. Com capital destacado (bens imóveis) de US$10 mil, enfrentou a turbulência do setor em 2009, perdendo 26% em carga transportada e 9,3% em quilometragem voada. A crise afetou todos os destinos da empresa, obrigando-a a fechar quatro rotas que mantinha na Europa, África e Ásia.

VOLARE
Uma injeção de capital de US$100 milhões e agora a entrada no Brasil – ainda depende de outorga da Anac – prometem céu azul em 2011.

MAIS UMA
O Ministério Público potiguar exigiu a suspensão da licitação do estádio que abrigará a Copa 2014, em Natal. Há suspeita de irregularidades.

MAIOR INTERESSADO
O empresário Eike Batista não esconde mais o interesse de comprar o SBT. Quer assumir a rede e entrar na briga contra a Globo e Record.

SEM CHANCE
Silvio Santos avisou à diretoria do SBT que não vai vender a rede de tevê, a terceira maior do País, para cobrir o rombo no Panamericano. Prefere vender sua parte no próprio banco a se desfazer do canal.

EXIGÊNCIAS
Os presidentes do PRTB e do PRP enviaram ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, um comunicado informando a formação de um bloco parlamentar formado pelos dois partidos, o PTC e o PSL. Eles pedem também “espaço físico” e “pessoal” para o bloco na Casa.

CADÊ MEU RETRATO?
O senador Efraim Moraes (DEM-PB), que não se reelegeu, azedou a inauguração da galeria de ex-presidentes da Câmara (do Império à República), insistindo para que sua gestão relâmpago (novembro de 2002 a janeiro de 2003, com um recesso no meio) fosse eternizada.

‘ENHEIN?’
Tweet ontem do secretário nacional de Comunicação do PT, deputado federal André Vargas: “os problemas do Enem era (sic)... (...) dimuni (sic) para cerca 2 mil e já está (sic) chegando em 400”. Tsc, tsc, tsc...

AGU PARA QUÊ?
Não é a primeira vez: o governo dispensou a Advocacia Geral da União e contratou uma firma estrangeira, por US$ 2 milhões, para defendê-lo em disputas na Organização Mundial do Comércio (OMC).

MUNDO ZEN
Uma advogada, denunciada por envolvimento com os “sanguessugas”, se exonerou da equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff. Quem sabe, no futuro, criam novo ministério: das Terapias Alternativas.

HADDAD E O ENEM...
Especialista em Educação desmente o ministro Haddad (Educação): as provas não podem ser “sempre comparáveis”, permitindo reaplicação para dois mil ou 20 mil candidatos pela “Teoria de Resposta ao Item”.

...PELO MÉTODO CONFUSO
Explica que os espaços amostrais “são gigantescamente distintos”: na prova oficial foram milhões de candidatos. Nova prova para 2 ou 20 mil muda a ordem de grandeza amostral e embola os escores. “É injusto.”

OLHA ESSA, LOMBARDI
Quem diria: famoso pela cabeleira ruiva, Silvio Santos agora também será conhecido pelo “colarinho branco”.

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“Não tenho mais idade para brigar”
PRESIDENTE LULA, NA REUNIÃO DO G20, ONDE ADMITIU QUE SÓ NEGOCIA E NÃO BRIGA MAIS

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PODER SEM PUDOR
SEM QUÓRUM
Quando foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral, durante as eleições municipais de 2000, o ministro Sepúlveda Pertence não perdeu a piada ao constatar, certa vez, que havia poucos jornalistas interessados na sua entrevista coletiva. E ironizou o esvaziamento:
– Vejo com satisfação que caiu o quórum dessa reunião de cobrança...

BRAZIU: O PUTEIRO

SEXTA NOS JORNAIS

Globo: Farmácia Popular vende remédio até para mortos

Folha: Quem pagar leva a rede SBT, diz Silvio Santos

Estadão: Dilma diz que real valorizado é ruim e vai mexer no câmbio

JB: Depois dos arrastões, tráfico queima carros na rua

Correio: A feira da máfia chinesa

Valor: G-20 deve adiar solução para conflitos cambiais

Zero Hora: Estados começam a definir IPVA com redução em 2011