sábado, outubro 23, 2010

REVISTA VEJA - Dilma e Gilberto Carvalho pediam dossiês




VEJA - Dilma e Gilberto Carvalho pediam dossiês

O Globo
Gravações feitas no gabinete do ex-secretário Nacional de Justiça Romeu Tuma Júnior, de conversas com altos funcionários do Ministério da Justiça, revelam o desconforto de Pedro Abramovay, que sucedeu a Tuma no cargo, com supostos pedidos do Palácio do Planalto para a confecção de dossiês.
As informações são de reportagem de capa da revista "Veja" desta semana. Numa conversa com Tuma Júnior, Abramovay teria feito a seguinte queixa:
"Não aguento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho (chefe de Gabinete da Presidência da República) pra fazer dossiês. (...) Eu quase fui preso como um dos aloprados."
"Veja" informa que os registros foram "gravados legalmente e periciados", sem dar detalhes sobre quem fez as gravações nem quem teria autorizado o grampo.
Sobre a referência aos "aloprados", a reportagem explica que Abramovay trabalhava na liderança do PT no Senado e com o senador petista Aloizio Mercadante em 2006, quando petistas foram presos em um hotel de São Paulo ao tentar comprar um suposto dossiê contra José Serra.
Segundo a "Veja", na conversa com Tuma Júnior, Abramovay "sugere ter participado do episódio e se arrependido". Conta que quase teria sido preso na época e até teve de se esconder para evitar problemas. "Deu 'bolo' a história do dossiê", teria afirmado ele.
Abramovay, que era secretário de Assuntos Legislativos do Ministério, assumiu a Secretaria Nacional de Justiça em junho, depois que Tuma Júnior foi afastado do cargo em meio a denúncias de manter relacionamento com integrantes da máfia chinesa, em São Paulo. Procurado pela "Veja", ele negou o teor das fitas.
"Nunca recebi pedido algum para fazer dossiê, nunca participei de nenhum suposto grupo de inteligência da campanha da candidata Dilma Rousseff e nunca tive de me esconder - ao contrário, desde 2003 sempre exerci funções públicas", disse.
Tuma Júnior confirmou à revista os diálogos:
"O Pedro reclamou várias vezes que estava preocupado com as missões que recebia do Planalto. Ele me disse que recebia pedidos de Dilma e do Gilberto para levantar coisas contra quem atravessava o caminho do governo", replicou, acrescentando: "Há um jogo pesado de interesses escusos. Para atingir determinados alvos, lança-se mão, inclusive, de métodos ilegais de investigação. Ou você faz o que lhe é pedido sem questionar ou passa a ser perseguido. Foi o que aconteceu comigo".
Sem revelar nomes, Tuma Júnior segue: "Posso assegurar que está tudo bem documentado", diz o ex-secretário Nacional de Justiça.
Em passeata ontem em Diadema, no ABC paulista, Grande São Paulo, ao lado da candidata à Presidência Dilma Roussef (PT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula não comentou a reportagem da "Veja". Lula disse não ter lido a reportagem.
- Não vi a (Veja) de hoje nem a de ontem.

PELÉ É SETENTA


SETENTA VEZES

O MAIOR DA HISTÓRIA

RUY CASTRO

Estrela a jato
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/10/10

RIO DE JANEIRO - Ainda sobre Pelé, no dia de seus 70 anos. Quando se atenta para certos aspectos de sua biografia, conclui-se que ele não tinha alternativa. Pelo menos no começo, as coisas precisariam ter sido exatamente como foram para que ele se tornasse quem foi.
Quando chegou ao Santos, por exemplo, com pouco mais de 15 anos, Pelé estava estreando suas primeiras calças compridas. Foi morar na pensão de uma senhora conhecida de seus pais e ia de bonde para o trabalho. Dois anos depois, já campeão do mundo pela seleção e cobiçado pela Europa, podia comprar quantos apartamentos e carros quisesse, mas continuou morando na pensão e andando de bonde.
Pelé tinha voz grossa, mas ainda era muito infantil. Na seleção, os mais velhos lhe perguntavam o nome de uma fruta que começasse com M, apenas para ouvi-lo dizer "Minduim". Ou se ele já tinha se acostumado a viajar de avião, para que respondesse: "Não, eu não me adapito". Aliás, Pelé não poderia nem ser jogador profissional, por ainda não ter o documento militar -serviço este que ele, já o maior jogador do mundo, teve de prestar em 1959, sem contemplação.
Em 1958, na seleção que disputou a Copa da Suécia, Pelé ainda não completara 18 anos. Tinha idade para ser a revelação da Copa, mas não para entrar num cinema brasileiro e assistir a "E Deus... Criou a Mulher", filme com Brigitte Bardot impróprio para menores, lançado naquela época. Ou numa boate do Rio ou de São Paulo para dançar e ouvir o ídolo Agostinho dos Santos. Ou para sentar-se num botequim e pedir uma Caracu.
Ironicamente, pouco depois da Copa e já de maior, Pelé poderia entrar em qualquer boate do planeta sem pagar, dar autógrafo para seu admirador Agostinho e, se as circunstâncias ajudassem, numa das excursões do Santos a Paris, ter namorado a própria Brigitte Bardot.

CLAUDIO WEBER ABRAMO

Vítimas e culpados
CLAUDIO WEBER ABRAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/10/10

Eleitorado sem perspectiva econômica não pode ter consciência de direitos, ou interesses, que desconhece


FAZ MUITO TEMPO que o anúncio dos resultados de eleições no Brasil é acompanhado da constatação de que os eleitos, em particular para o Legislativo, formam um contingente de baixa qualidade.
Não são poucos aqueles que (como este que escreve) julgam que a qualidade esteja decrescendo. A isso costumam seguir-se considerações a respeito da responsabilidade de quem leva políticos desclassificados ao Legislativo, a saber, os eleitores.
Daí a se engatarem lamentações a respeito da consciência (ou falta dela) do eleitor é um passo, acompanhado sempre de um rol de soluções que incluem pelo menos uma providência: a reforma política.
Dois elementos aparecem quase sempre nas reformas políticas que se costumam propor ultimamente: a proibição de financiamentos privados a candidatos e a implantação do voto distrital.
Financiar eleições exclusivamente com dinheiro público traz como consequência material a adoção do voto em listas. O eleitor deixaria de votar em candidatos, passando a fazê-lo em listas definidas pelas legendas partidárias.
Sem entrar nos vários deméritos dessa proposição, permanece inexplicado qual seria o efeito que a providência causaria na consciência do eleitorado.
Quanto ao voto distrital, pelo menos há um argumento relacionado à consciência: o de que os eleitos, tendo sido ungidos pelo voto em distritos delimitados, seriam mais vigiados pelos respectivos eleitores.
A proposta tem atrativos, mas também tem defeitos, alguns gravíssimos, que tampouco serão abordados neste momento.
Acontece que, em grande parte do país, o voto já é distritalizado, na forma de redutos eleitorais. Se os eleitores de bairros ou cidades vota "inconscientemente" nos candidatos que se apresentam ali, qual seria o motivo pelo qual passariam a exercer esse voto com mais consciência se a distritalização passasse a ser formal?
O que acontece com as discussões baseadas na consciência do eleitor é que transformam a vítima em culpado.
O eleitor é vítima por vários lados.
Há o lado da informação. Para votar direito, o sujeito precisa ter informação adequada a respeito da política e dos políticos. Isso não está presente para a vasta maioria do eleitorado, por responsabilidade de uma imprensa que é dominada pelos mesmos interesses que controlam a política (não apenas Collor, Sarney etc. etc., mas políticos locais às centenas).
Outros responsáveis são as ONGs brasileiras, que existem para defender certos pontos de vista ou interesses, mas que não geram informação necessária para fazer suas posições conhecidas, inteligíveis e capazes de mobilizar os pretensos beneficiários.
No fundo de tudo, culpadas são a má distribuição de renda e a falta de desenvolvimento econômico real.
Um eleitorado sem perspectivas econômicas não pode ter consciência de direitos, ou mesmo interesses, que desconhece.
CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil

GOSTOSA

SERGIO AUGUSTO

Somos todos mentirosos
Sergio Augusto 
O Estado de S.Paulo - 23/10/10


Se ainda vivo, o escritor argentino Alejandro Bevilacqua teria hoje 72 anos. Beirava os quarenta quando morreu misteriosamente em Madri, esfacelado na calçada do prédio onde morava o então inédito ensaísta Alberto Manguel, conterrâneo da vítima. Falou-se em acidente, suicídio e assassinato, hipóteses simultaneamente levantadas pela polícia e pelos que conviveram com o escritor, um dos muitos exilados pela ditadura militar argentina em meados da década de 1970.

Pobre Alejandro. Acabara de se consagrar com um marco literário, El Elogio de la Mentira, misto de comédia, tragédia lírica e feroz sátira política, alçado ao mesmo patamar de Unamuno e Thomas Mann, "o mais sagaz retrato de nossa época e suas paixões", segundo Manguel, seu amigo e confidente. Apesar do frisson que causou, a única obra deixada por Bevilacqua jamais foi traduzida para qualquer língua. Por quê?

Porque El Elogio de la Mentira jamais existiu; assim como Bevilacqua, é uma invenção de Manguel, um livro-fantasma. Maiores detalhes no romance Todos os Homens São Mentirosos (Companhia das Letras, tradução de Josely Vianna Baptista, 177 págs., R$ 42).

Há quase 80 anos Borges resenhou um livro indiano, A Aproximação a Almotásim, supostamente editado em Bombaim e cuja inexistência frustrou, mas também divertiu, um bom número de leitores. A brincadeira fez escola, de onde saíram Pierre Menard, Bustos Domecq, borgianos da gema, e todas aquelas metaficções de Paul Auster, Rubem Fonseca e Enrique Vila-Matas. Ex-bagrinho de Borges na adolescência, Manguel bebeu direto na fonte, pode-se assim dizer.

Ao chegar em Madri, em pleno crepúsculo do franquismo, mas não fugido da ditadura argentina, somente em busca de calma para escrever, Manguel já remoía um romance protagonizado por um artista cuja vida tivesse sido frustrada, quiçá destruída, por uma única mentira. Seu enredo, que em princípio teria como pano de fundo Buenos Aires, levou anos para germinar. Ao ouvir do marido da escritora Margaret Atwood a história de um dissidente cubano que fugira com os originais do romance de um colega de cela em Havana e o editara como sendo de sua autoria, em Miami, Manguel montou seu quebra-cabeças. Ao ver, na casa de outro amigo canadense, a foto de um jovem anônimo, de olhar nostálgico, materializou-se em sua mente a figura de Alejandro Bevilacqua.

Um Cyrano portenho com traços do stendhaliano Fabrice del Dongo, do Molina de O Beijo da Mulher-Aranha e da versão que Vila-Matas deu ao Bartleby de Herman Melville: eis, em essência, Alejando Bevilacqua. Mais não posso adiantar sobre Bevilacqua (salvo que vivia de escrever roteiros para fotonovelas e era muito magro, alto e triste, movia-se com a lentidão de uma girafa, tinha ar sonolento, uma elegância simples, a voz rouca e dedos finos amarelos de nicotina, algo de Camus e Boris Vian), para não estragar o prazer proporcionado pela leitura de Todos os Homens São Mentirosos, um engenhoso romance policial literário cuja estrutura narrativa muito deve aos filmes Rashomon e Cidadão Kane.

Seu título, extraído dos Salmos, já teve outros corolários: "a verdade de cada um", "assim é se lhe parece", etc. Todos os homens são mentirosos porque a verdade absoluta é uma ilusão, uma impossibilidade - como seu oposto, a mentira absoluta. Não a mentira deliberada, mas a mentira da qual não somos culpados, a mentira que simplesmente se deve aos nossos próprios limites de ver o mundo. Não conhecemos a realidade, somente fragmentos dela. De outra perspectiva, o que acreditávamos verdadeiro pode revelar-se falso ou, no mínimo, discutível, e vice-versa.

É dessa limitação que trata o romance de Manguel. E também das questões do exílio, das ditaduras, da vaidade intelectual, da impostura, da inveja e da traição.

Um jornalista francês de origem espanhola, Jean-Louis Terradillos, por sinal baseado no vilarejo da região de Poitiers onde há anos Manguel fixou residência, tenta desvendar o rosebud de Bevilacqua a partir de quatro depoimentos. O primeiro a falar é o próprio Manguel; em seguida, Andrea, a amante madrilenha de Alejandro, para quem, aliás, Manguel "não passa de um imbecil" antolhado por uma visão livresca do mundo e das pessoas; depois, por carta, "El Chancho" Olivares, um cerebral cubano que dividira uma cela com o escritor em Buenos Aires, e, por fim, outro exilado argentino, chamado Tito Gorostiza.

No quinto capítulo, Terradillos entrega os pontos. Dispunha apenas de retalhos e episódios inconclusos da vida breve porém agitada de Alejandro Bevilacqua; tinha sua silhueta perfeitamente sombreada na imaginação, mas os dados para cobri-la ou eram de mais ou de menos. E o jornalista se recolhe à sua insignificância, à condição de "esperançoso cronista" de uma existência lacunar.

Aqui e ali um personagem real se intromete, passivamente, na narrativa: o crítico e poeta espanhol Pere Giamferrer, a poeta espanhola Ana María Moix, a romancista Carmen Laforet, o crítico argentino Noé Jitrik-que, sem exceção, adoraram El Elogio de la Mentira - e, com especial e merecido destaque, Vila-Matas, pois, afinal de contas, segundo Manguel, Bevilacqua o havia inspirado a escrever Bartleby e Companhia. Abusando da licença poética, Manguel inventa um encontro fortuito de Vila-Matas com o "pseudo-Bartleby" argentino e também uma carta de condolências e especulação policial do escritor catalão ao autor de Todos os Homens São Mentirosos. Borges teria adorado.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Bolinha x Fita Crepe!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/10/10


Eu também fui atingido por bolinha de papel, fita crepe, balão d'água! E não fiz tomografia!



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Eu sei o que atingiu a careca do Serra: uma bala Juquinha!
Rarará! Jogaram bolinha de papel e durex no Serra e balão d'água na Dilma. Chama a Supernanny! Como disse um cara no Twitter: tem de chamar a Supernanny!
E eu sou solidário aos dois! Na oitava série, eu também fui atingido por bolinha de papel, fita crepe, balão d'água, régua, chiclete, tapa, dantop e nhá benta! E não fiz tomografia! Polêmica Nacional: BOLINHA DE PAPEL X FITA CREPE!
O Serra foi atingido por uma bolinha de papel ou foi atingido por uma bolinha de papel e por uma fita crepe?! A bolinha de papel tem imagem. Ela vai posar para a "Playboy"! Totalmente desembrulhada! Bolinha mostra tudo! Rarará!
O outro objeto não tem imagem direito. É um OVNI. O Serra foi atingido por um OVNI! Rarará! O "Jornal Nacional" ressuscitou até o perito do PC Farias: "O evento bolinha não é o mesmo do evento fita crepe". Rarará!
E a Fátima Bernardes tava com cara de que o Kennedy foi assassinado pela segunda vez! E a bolinha de papel não gostou de ser relegada a segundo plano. Vai interpelar a fita crepe na Justiça.
E sabe o que a fita crepe falou pra bolinha de papel? É NÓIS NA FITA! Rarará! Desabafo da Bolinha de Papel: "Fita crepe o caralho, meu nome é bolinha de papel, porra!". Quero terceiro turno! Pra decidir: bolinha de papel ou fita crepe?!
E o balão d'água na cabeça da Dilma. Erraram. Já imaginou se o balão estoura na cabeça da Dilma? Naquele cabelo ninho de jaburu? De mãe do Chuck, o Brinquedo Assassino ia ser promovida a mãe do Capitão Caverna. Rarará! Mas a Dilma é mais prevenida que o Serra: ela tá sempre com aquele capacete da Petrobras! Rarará! Pelo sim pelo não: foi a bolinha de papel que matou a Odete Roitman. Rarará. Palhaçada! NONSENSE! E sabe porque os petistas tem mais pontaria que os tucanos? Porque o cabeção do Serra é maior que a cabeçona da Dilma!
E o show do Paul McCartney? Um amigo comprou ingresso pra assistir 1/4 de Beatles. Outra polêmica: o mauricinho Paul McCartney tá parecendo o João Doria Junior ou o Quico do Chaves?. Terceiro turno! Rarará! E um leitor me mandou uma fórmula para pacificar Dilma, Serra e Marina: a mulher que fizer aborto será apedrejada por bolinhas de papel recicláveis. Ah, e a bolinha de papel e a fita crepe são gays. Rarará. Ainda bem que nóis sofre mas nóis goza.

SERRA PRESIDENTE

MAURO CHAVES

O valor da confiança
Mauro Chaves 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/10/10


Quem garante que o policial que prendeu um cidadão, dizendo que este guiava na contramão, com notórios sinais de embriaguez, estivesse dizendo a verdade? Não poderia ele ter abordado qualquer um - que não tivesse cometido infração alguma - apenas com a finalidade de lhe extorquir dinheiro? Quem garante que um parlamentar que apresentou um projeto de lei com notórios benefícios para a coletividade não estivesse disfarçando o desvio de recursos públicos para algum privilegiado grupo - pois sempre não houve jeito de se praticarem falcatruas por meio de textos legais tecnicamente primorosos? E quem garante que um administrador público, fechado em seu gabinete em reuniões com empresários, líderes sindicais ou representantes de entidades aparentemente respeitáveis, não esteja respaldando, com conversas genéricas, as bandalheiras específicas praticadas no gabinete ao lado, por pessoas que lhe são subordinadas - e de sua máxima confiança?

Em qualquer organização, pública ou privada, todos os controles são possíveis. Mas isso tem como limite um mínimo razoável de confiança, já que é impraticável controlarem-se controladores - ou fiscalizarem-se fiscais - ad infinitum. Então, é necessário que haja um mínimo de confiança no agente policial que flagrou um bêbado dirigindo criminosamente - mesmo que este tenha exercido o seu direito de não se incriminar, recusando-se a soprar o bafômetro; é necessário que haja um mínimo de confiança no detentor de mandato parlamentar - e não a convicção de que ele só esteja lá para roubar; é necessário que haja o mínimo de confiança na capacidade de escalões da administração deixarem de escolher bandidos ou bandidas - e as respectivas famílias - para seus principais auxiliares.

Em artigo anterior, sobre a principal qualidade que deveria ter quem chefiará o Estado e o governo do Brasil a partir do dia 1.º de janeiro próximo, referi-me à recuperação do mérito, pelo fato de o mérito ter sido um dos valores mais destroçados na sociedade brasileira nos últimos anos - substituído que tem sido pelo compadrio, pelo companheirismo partidário, pelo nepotismo e pelo espírito de corpo desenvolvido por grupos com expertise maior no campo do desvio de dinheiro público (para uso político-eleitoral ou simples enriquecimento pessoal, mesmo). Mas, tanto quanto o valor do mérito, há um outro valor - o da confiança - que tem sido inteiramente despedaçado em território nacional.

O cidadão que paga impostos e cumpre a sua obrigação de prestar esclarecimentos à entidade oficial incumbida de arrecadá-los, pela primeira vez - na História deste país -, passou a desconfiar (com carradas de razão) do uso indevido de seus dados sigilosos. O jovem que se esforça para entrar numa faculdade, com o justo objetivo de ter uma boa profissão e subir na vida, passou a desconfiar (com carradas de razão) dos exames oficiais do ensino médio, por saber que seus dados pessoais ficaram expostos à divulgação geral e ao uso criminoso de quaisquer quadrilhas.

Desenvolveu-se no País, nos últimos anos, um potencial avassalador de desconfianças, resultante do acumulo de cenas e episódios não explicados: montanhas de dinheiro vivo (nas mesas de escritórios ou escondido em cuecas, bolsas e meias), mostrado na televisão, cuja origem nunca se esclareceu; investigações que permanecem sempre inconclusivas - e estrategicamente prorrogadas - sobre dossiês, gravações clandestinas, quebras de sigilo criminosas acopladas à proteção do sigilo de criminosos; CPIs feitas com estardalhaço que não produzem resultado algum; reportagens consistentes da mídia sobre tráfico de influência, recebimentos de propina, falsificação de documentos e outros crimes de servidores púbicos, que geram apenas uma epidemia de cegueira de altos escalões da República - que jamais "enxergam" as notórias pilhagens de patrimônio púbico perpetradas por seus subordinados de íntima confiança. É claro que com tudo isso todos passaram a desconfiar de todos e ninguém mais confia em ninguém, no Brasil. Do espaço público ao relacionamento dos cidadãos, na sociedade, o valor da confiança dissolveu-se neste país.

Um policial uniformizado sempre pôde ser um bandido disfarçado - mas nunca antes houve tão grande desconfiança de que o seja. Um médico que dá consultas e faz cirurgias sempre pôde ser um impostor, sem qualificação técnica ou habilitação profissional - mas hoje é muito mais fácil desconfiar de sua identidade. Alguém que vende produtos numa pequena loja sempre pôde ser um receptador de mercadorias roubadas - mas hoje despertará muito mais suspeitas.

Como parecem ter-se tornado muito mais flexíveis e frouxos os padrões éticos da República, muitos podem achar que a sociedade brasileira pode desenvolver-se em meio à plena desconfiança coletiva. Mas isso não é possível, porque esgarça o tecido social. Não nos esqueçamos de que uma das características do totalitarismo é, justamente, a desconfiança levada ao relacionamento das pessoas nas comunidades e até dentro de sua própria família - com jovens instruídos a delatar os próprios pais, se estes tivessem atividades ou ideias contrárias às diretrizes do Partido ou do Líder.

Eis por que a sociedade brasileira deve escolher, no próximo dia 31, quem achar que tem as melhores condições tanto de recuperar o destroçado valor do mérito quanto de empreender, no País, um esforço de recuperação do valor da confiança. É preciso considerar que estará mais preparado para tais empreendimentos quem demonstre mais transparência em sua trajetória e capacidade de trazer para a vida político-administrativa convicções próprias, a serviço de toda a coletividade - e não de partidos ou grupos.

JORNALISTA, ADVOGADO, ESCRITOR, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E PINTOR.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Longe daqui
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/10/10
O Ministério Público Eleitoral pediu, anteontem, abertura de inquérito policial para apurar se houve crime eleitoral na Universidade de São Paulo.
Questiona manifestação feita dia 8, dentro da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, pró-candidata do presidente Lula. O "Ato por Dilma Presidente" aconteceu em prédio público. E propaganda eleitoral, segundo a legislação, veta ações políticas em edifícios públicos.
Sob as ondas
Entrou areia nas negociações da Amil em sua tentativa de comprar o Hospital Samaritano no Rio. Mais precisamente, um "castelo" construído por médicos, Previ e Funcef.
Não se sabe se a maré da Amil vai levar o negócio.
Sal a gosto
O sonhado parque linear sobre o prolongamento da Av. Jornalista Roberto Marinho deve ficar salgado para os cofres públicos.
Só para desenvolver o plano e projetar a urbanização do novo trecho de avenida, o consórcio vencedor cobrará mais de R$ 21,8 milhões.
Cetro e coroa
Para comemorar os 70 anos de Pelé, o Santos anuncia hoje pela manhã a construção de uma praça, em frente ao estádio da Vila Belmiro.
No espaço serão erguidas esculturas, em tamanho natural, de todos jogadores que participaram do time de 62, responsável pelo primeiro título mundial do clube. No domingo, Neymar jogará contra o Grêmio Prudente com a camisa 70.
Enquanto isso, o Rei prefere ficar recluso com a família no seu sítio em Juquiá, SP.
Paraíso da música
As gravações do reality A Casa de Davi Moraes (nome provisório)terminaram. Com alguns resultados: Arnaldo Antunes compôs canção nova durante o programa, Frejat arrepiou nas dunas de triciclo motorizado e Maria Rita cantou ao pôr-do-sol.
Os moradores da praia de Jericoacoara agradecem.
Caso raro
Marcelino Freire esteve na casa do recluso Augusto de Campos essa semana. Foi convidá-lo para participar da quinta edição da Balada Literária, que acontece entre 18 e 21 de novembro. Surpresa: o poeta topou.
E ainda prometeu dar uma canja, durante o mesmo evento, durante show de seu filho Cid Campos.
De fora
Em meio a críticas, Heitor Martins recebeu carta algo confortadora de Glenn D Lowry, diretor do MoMa. Entre elogios, a frase "a Bienal de SP é um triunfo...".
A mão no bolso?
Lázaro Ramos apresenta o Prêmio BRAVO! de Cultura...de peito aberto. Sem camisa, receberá no palco da Sala São Paulo, segunda-feira, o premiado da categoria literatura Ferreira Gullar.
E ante seu eterno medo de avião, Gullar optou vir a São Paulo de carro. Tudo pelo mimo.
Equilíbriocambial
Armínio Fraga não espera grandes avanços durante o encontro de ministros e presidentes de banco centrais iniciado ontem na Coreia. A ideia de transformar o SDR (moeda virtual criada pelo FMI, composta de cesta de moedas diversas) em algo que possa vir a "substituir" o dólar como principal moeda de reserva no mundo deve ter fôlego curto. "Este tipo de coordenação é difícil. Veja o caso da Rodada de Doha, do Protocolo de Kyoto e mais recentemente, da regulação financeira internacional pós-crise", exemplifica o economista.
Adotar uma moeda virtual como o SDR e limitar o crescimento das reservas significaria que países aceitassem abrir mão de parte da sua soberania. " Essa proposta ressurgiu há dois anos por meio da China. Ela sugeriu trocar reservas por SDRs. Ninguém quis..."
Na visão do titular da Gavea Investimentos, os países continuarão a competir entre si, preservando cada qual, a sua moeda. "O mundo tem uma tendência a dar certo", brinca o reconhecido eterno otimista. Hoje, a China, do alto dos seus trilhões de reservas em dólares, se encontra no centro do furacão cambial internacional A China, é fato, avançou um pouco esta semana desvalorizando o yuan, o que tende a acalmar os mercados por um tempo. Para o ex-presidente do BC, se os países de primeiro mundo abrirem um pouco mais de espaço para os chineses na governança econômica global, eles poderiam, na outra mão, topar outros passos que restituam o equilíbrio cambial.
Para lembrar: Arminio Fraga é único brasileiro integrante do Group of Thirty, liderado por Paul Volcker, que discute questões ligadas ao sistema financeiro internacional.

Na frente

Mais compromisso na agenda de Tony Blair. Terça, toma café da manhã com Luís Álvaro, presidente do Santos, em SP.
A Claro faz festa terça, no Clube A. Para comemorar o sucesso do iPhone 4.
Tofer Chin foi convidado pela Brookfield para lançar o projeto Urban Gallery, que transforma tapumes em obras de arte. Segunda, na Avenida Faria Lima.
Mona Dorf autografa seu primeiro livro Autores e Ideias, Segunda, na Saraiva do Shopping Higienópolis
Ciro Lilla promove degustação com o produtor de vinhos Carlos Campolargo. Segunda, no Charlô.
Roberto Tibiriçá, da Sinfônica de Heliópolis, e Maria Bonomi estão entre os agraciados com a Ordem do Ipiranga. Segunda, no Palácio dos Bandeirantes.
A galeria Nara Roesler recebe, a partir de hoje, exposição da dupla Nelson Soares e Marcos Moreira.
Heinz Beck, Massimo Bottura e Yoshihiro Narisawa estão entre os que participam do Jantar da Terra, dentro da Semana Mesa São Paulo. Segunda-feira, no restaurante Dalva e Dito. 

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Pouca margem 
Merval Pereira
O GLOBO - 23/10/10


Desta vez, os institutos de pesquisa têm que estar errados duplamente para que haja uma surpresa no dia 31 e Serra se eleja presidente da República. Ou então acontecer o que os especialistas chamam de "terceira onda", o que nem sempre acontece, mas aconteceu no primeiro turno, com o crescimento de Marina Silva nos últimos dias, mas também de Serra, que pegou os institutos de calça na mão.

As pesquisas mostram, unanimemente, uma diferença de 12 pontos nos votos válidos a favor de Dilma Rousseff, e apenas o Instituto Sensus coloca essa diferença em 5 pontos, praticamente na margem de erro para um empate técnico.

O erro duplo das pesquisas tem que acontecer no desvio da metodologia, que no primeiro turno fez com que eles dessem até 8 pontos a mais para Dilma, e na curva de tendência, que foi a alegação dos pesquisadores para reduzir os danos causados pelo vexame dos resultados errados muito além da margem de erro.

Apanhados errando até na boca de urna - caso do Ibope -, os pesquisadores alegaram que as pesquisas não são ciência exata e que o que apontam é a tendência. Nesse caso, teriam acertado porque mostraram Dilma perdendo força na última semana, Marina crescendo e Serra em tendência de alta.

Hoje, as pesquisas mostram uma tendência contrária, com Dilma em ascensão um pouco além da margem de erro e Serra em queda, dentro da margem de erro.

O PSDB contesta esses resultados e garante ter levantamentos que mostram que a disputa está no mínimo empatada, quando não favorável a Serra na margem de erro. A favor da assessoria de Serra o fato de que esse mesmo acompanhamento, no primeiro turno, acertou na mosca, contra tudo o que diziam os institutos de pesquisa, que mostravam a vitória de Dilma no primeiro turno.

O problema maior para Serra é que seu esforço para vencer tem de ser muito superior ao de Dilma, e não comporta erros, por menores que sejam. A margem de manobra da candidata oficial é muito maior, além do fato de que o governo está usando toda a força de sua máquina para alavancar Dilma.

O caso de Minas é emblemático.

O ex-governador Aécio Neves deu uma demonstração de força elegendo seu candidato Antonio Anastasia e o senador Itamar Franco, do PPS. Mesmo assim, Dilma venceu em Minas com cerca de 1,5 milhão de votos de diferença. O empenho de Aécio nesse 2oturno é inegável, e pesquisas mostram que ele já conseguiu virar o resultado na capital, onde Marina venceu e Dilma ficou em segundo.

Mas no restante do estado ainda não há resultados concretos da mobilização do exgovernador, pelo menos que se traduzam em índices suficientes para virar a disputa.

Da mesma maneira em SP, onde o PSDB venceu e tem a máquina trabalhando para Serra, a diferença de 700 mil votos no 1oturno ainda não foi ampliada de maneira a compensar as vitórias de Dilma em Minas e no Rio. Em 2006, o hoje governador eleito Geraldo Alckmin venceu a eleição em SP por 3,8 milhões de votos, e com isso venceu no Sudeste, apesar de ter sido derrotado em Minas, no Rio e no Espírito Santo.

Como as pesquisas mostram que hoje os dois candidatos estão em empate técnico no Sudeste, isso sinaliza que até o momento não houve a ampliação da vantagem de Serra para 3 milhões ou 4 milhões de votos em São Paulo. Ou então a diferença em favor de Dilma se ampliou no Rio ou em Minas.

Toda a estratégia do PSDB neste segundo turno se baseia na ampliação da vantagem em São Paulo e na reversão da situação em Minas. Até esta semana, havia um tom otimista na virada mineira, e havia até quem tivesse esperança de tirar vantagem de até 2 milhões de votos para Serra no estado, o que seria roubar de Dilma de 3 milhões a 3,5 milhões de votos neste segundo turno.

Neste momento da campanha, esse resultado parece otimista em excesso, e os tucanos mineiros já trabalham com a hipótese de reduzir a diferença em Minas, mesmo sem vencer.

Isso porque o presidente Lula está jogando todo o seu prestígio e a expectativa de poder futuro em cima dos prefeitos que, no primeiro turno, apoiaram o voto Dilmasia (Dilma e Anastasia) e, neste segundo turno, estavam tentados a seguir Aécio no apoio a Serra.

Pelas contas tucanas, para compensar a derrota acachapante que sofrerão no Nordeste - hoje Dilma, grosso modo, vence na região em todas as pesquisas por cerca de 5 a 6 milhões de votos de diferença - o PSDB tem que vencer na Região Sul com uma diferença de 2,5 milhões de votos, e abrir 3 milhões a 4 milhões de votos de frente em São Paulo.

Os votos do Norte e do CentroOeste se compensariam, zerando a conta, o que levaria a decisão para Minas e Rio. Pelas contas iniciais, a diferença que Aécio conseguisse tirar em Minas poderia compensar o tamanho da vitória de Dilma no Rio, além da esperança de que os votos de Marina fossem na sua maioria para Serra.

Como se vê, a conta que daria uma vitória para o PSDB é bastante apertada e quase não comporta margem de erro. Os estrategistas da campanha de Serra, porém, consideram que no momento a situação está empatada, e contam com a tal "terceira onda" na última semana de campanha.

O caso da agressão sofrida por Serra no Rio acabou se tornando o foco da discussão com a acusação infeliz do presidente Lula de que o candidato oposicionista teria criado uma farsa.

Como se fosse aceitável o fato de um candidato a presidente da República ser interceptado por militantes de outro partido que tentavam impedir sua manifestação.

Mesmo que não tivesse acontecido nem o "evento bolinha", nem o "evento fita" - na peculiar definição do perito Molina -, teria havido um ato de selvageria inaceitável em uma democracia.

A repercussão do episódio pode ter efeito em setores do eleitorado no Sudeste - que é onde está se disputando a decisão final -, especialmente diante do comportamento inaceitável do presidente da República.

Assim como no 1oturno, as atitudes agressivas de Lula em diversos comícios, pregando a "extinção" de adversários e considerando-se dono da "opinião pública", foi um dos fatores que fizeram a candidata oficial perder votos.

Mas esse mesmo eleitorado terá pela frente uma prova de fogo à sua cidadania com o feriadão.

A abstenção no Sul e no Sudeste, onde o tucano está em boa situação, pode definir a eleição, assim como no 1oturno a abstenção no Nordeste e no Norte, regiões fortes de Dilma, teve um papel importante para impedir que a eleição se resolvesse naquele domingo.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

“Um tranco no cara”
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/10/10

Ao comentar ontem com auxiliares suas declarações da véspera, quando qualificou como ‘mentira descarada’ o episódio em que José Serra foi atingido por objeto lançado por petistas, Lula disse: ‘Achei que precisava dar um tranco no cara’. Antes de acusar o tucano, o presidente assistiu, no voo Brasília-Rio Grande (RS), reportagem do SBT segundo a qual se tratara de uma bola de papel. À noite, depois da fala de Lula, o ‘Jornal Nacional’ desmontou essa versão.
No entorno do presidente, ninguém aposta num pedido de desculpas. Ele disse que considera o assunto encerrado. Mas quem o conhece acha que, se a escalada de beligerância continuar, será difícil segurá-lo.
Endosso - João Santana bancou a decisão de levar a reação de Serra sobre o incidente no Rio à propaganda de TV de Dilma. Ontem, o marqueteiro continuava a questionar a versão levada ao ar pela Rede Globo na véspera, mostrando que Serra foi atingido por outro objeto, além da bola de papel.
Na espreita - A dose de reação ao episódio divide os petistas. Para uns, o melhor é virar a página. Outros garantem que Dilma tem a ganhar se Lula abraçar o embate com o rival tucano.
Time reunido - Tucanos transformarão o ato em defesa da liberdade e da democracia, marcado para amanhã no Rio, em desagravo a Serra. Governadores eleitos e expoentes do partido foram convocados para simbolizar a unidade da oposição a uma semana do segundo turno.
Copacabana - Com o evento, o PSDB espera sensibilizar, sobretudo, o eleitorado carioca de classe média, que no primeiro turno optou por Marina Silva (PV).
Mineirice - O vice-presidente José Alencar lançou o slogan ‘Dilma é Minas na Presidência’, inspirado no registro da candidata, que nasceu em BH. O movimento prepara hoje ‘abraço simbólico’ na avenida do Contorno para difundir o lema.
Segundo plano - Derrotado em Minas, Hélio Costa (PMDB) foi inicialmente relegado à segunda fileira, ontem, no encontro de Dilma com prefeitos. Os petistas Fernando Pimentel e Patrus Ananias ficaram à frente, ao lado da candidata. Percebida a gafe, Costa foi ‘promovido’ à dianteira.
Trem bom - Em mais um lance de afago explícito nos tucanos mineiros, o governo de SP recepciona na segunda Antonio Anastasia (PSDB) para a entrega de composição da linha verde do metrô, na Vila Prudente. Em homenagem à comunidade de MG na capital, foi batizada de ‘Trem dos Mineiros’.
O petróleo... - Tucanos partem em missões cirúrgicas pelos polos petroquímicos de SP. Querem proteger Serra do carimbo de ‘privatista’ e evitar o avanço de Dilma em regiões nas quais a presença da Petrobras, subsidiárias e terceirizadas representa emprego e economia local aquecida.
....é nosso - A agenda petista para o Estado privilegia esses redutos. Nesta semana, Lula esteve na refinaria do Vale do Paraíba, e Dilma protagonizou ato em defesa do pré-sal em Santos.
Oremos 1-  Indiferentes ao arrefecimento do tema na campanha, movimentos em defesa da vida preparam manifestações contra o aborto em todo o país amanhã. Em São Paulo, a marcha começa às 12h na catedral da Sé.
Oremos 2 - A onda religiosa multiplicou os comitês cristãos pró-Dilma. Depois de Campo Grande (MS), é a vez de Orlândia (SP) inaugurar hoje QG ‘ecumênico’.
Rachado - Com as bancadas majoritariamente integradas à campanha dilmista, o PMDB-SP exibe hoje publicamente sua fissura. Liderada por Airton Sandoval, eleito suplente de senador, a ala comandada por Orestes Quércia declara, em Araraquara, apoio a Serra.
Tiroteio
Lula não pode ser o Tiririca 2, fazendo palhaçadas com coisa séria. Não se faz chacota com uma agressão que, como presidente, ele deveria repudiar.
DE MIGUEL REALE JR., ex-ministro da Justiça, sobre o fato de Lula ter zombado do incidente em que Serra foi atingido por um objeto lançado por petistas.
Contraponto
Fiat lux
Na noite de anteontem, Geraldo Alckmin discursava num evento pró-Serra em Rio Branco. Falando no escuro, em meio a um dos apagões que com frequência atingem o Acre, o tucano encontrou sua metáfora:
- Neste apagar das luzes da campanha eleitoral de 2010, eu rogo a Deus para que acenda uma luz na consciência de todos os brasileiros...

SUJOS

MARIA ALEJANDRA CAPORALE MADI

Articulação de políticas econômicas

Maria Alejandra Caporale Madi
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/10/10


A forte desvalorização global do dólar trouxe novamente o câmbio para o centro do debate no Brasil.
Neste contexto, será que mudar a política cambial pode ser uma saída? Pela nossa experiência recente, já deveríamos saber que não.
O Brasil tem operado com um regime de taxas flutuantes, mas com fortes intervenções do Banco Central. É a chamada flutuação suja.
Mudar a política cambial, portanto, seria caminhar para um regime de câmbio fixo, o que não faz muito sentido. Estudos têm mostrado que os regimes de taxa administrada ou fixa são mais bem-sucedidos em países com pouca credibilidade na gestão macroeconômica ou pouco abertos aos fluxos de comércio e de capital.
Opostamente, quanto mais integradas forem as economias e mais sólidas as instituições, maior a credibilidade na gestão econômica e menor o medo de deixar o câmbio flutuar.
O Brasil avançou muito nos últimos 15 anos. Após várias transições políticas, o país consolidou um regime econômico, tornou-se uma economia estável, integrada, previsível e madura.
Não precisamos mais nos valer da reputação de outras moedas, amarrar nossas próprias mãos. Não faz sentido, portanto, voltarmos ao regime de taxas administradas.
Seria um retrocesso institucional: o país é, hoje, maior que o câmbio fixo. Mais que a evolução institucional, no entanto, um regime de taxas administradas pode conduzir a maior instabilidade econômica.
Em momentos de abundância, o Banco Central compra todo o ingresso de capitais para defender a cotação da moeda. Injeta, com isso, liquidez na economia e estimula o crescimento. Nos momentos adversos, há um enxugamento da liquidez, desacelerando a economia. E, note-se, o custo de enxugar a liquidez é elevado no Brasil.
Ao escolher o câmbio como principal objetivo de política, portanto, o Banco Central torna a política monetária refém do balanço de pagamentos. Pior, pode tornar o crescimento instável e a economia mais vulnerável às constantes mudanças de humor dos investidores internacionais.
Para atenuar a tendência de apreciação da moeda, melhor seria deixarmos a política cambial fora do debate. A flutuação suja da moeda, com intervenções pesadas do BC, parece adequada, já que não conflita com fundamentos econômicos, não estimula ataques especulativos e tem a virtude de suavizar os movimentos de mercado.
Além disso, a flutuação da moeda regula automaticamente os fluxos de comércio e de capital, reequilibrando a economia.
A questão central está na política fiscal e na agenda microeconômica. Enquanto o governo estiver ávido por consumir, o crescimento econômico dependerá, em grande medida, da poupança externa.
Precisará de fluxos externos, ou seja, de uma moeda apreciada. Portanto, é preciso coordenar melhor as políticas públicas. Por um lado, o governo reclama da apreciação; por outro, é um dos grandes responsáveis por ela.
Ao contrário de países asiáticos, que, pela elevada poupança doméstica, podem manter um regime de câmbio administrado, o Brasil precisa da poupança externa.
A outra questão é elevar a competitividade da economia brasileira. Após sete anos de uma trajetória quase linear de apreciação, ainda nos surpreendemos com o fortalecimento da moeda.
Precisamos sair do curto prazo e criar um ambiente regulatório de melhor qualidade, que atraia os investimentos privados e nos ajude a superar o atual caos logístico. Precisamos enfrentar os problemas corretos. Está mais do que na hora.


ILIMAR FRANCO

Pegando no pé de Brasília 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 23/10/10

O presidente Lula e o PT nacional estão no calcanhar do governador Sérgio Cabral e do PMDB do Rio para aumentar a votação de Dilma Rousseff no estado. No primeiro turno, Cabral teve 1,5 milhão de votos a mais do que Dilma. O descasamento foi de 20 pontos percentuais. Já os tucanos pressionam o governador eleito Geraldo Alckmin, cuja votação em São Paulo foi dez pontos percentuais superior (dois milhões) à de José Serra. O PSDB precisa repetir a diferença de 18 pontos de 2006.

Lula quer mais em Pernambuco

A campanha de Dilma Rousseff também avalia como "surpresa" negativa o desempenho da petista em Pernambuco.

Ao contrário da Bahia, onde a votação de Dilma foi em percentual equivalente à do governador reeleito Jaques Wagner (PT), em Pernambuco Eduardo Campos teve dez pontos percentuais a mais. A missão de Campos é ampliar a votação de Dilma para o seu patamar de 62%. É por isso que o presidente Lula vai a Recife encerrar a campanha.

Ampliar a votação no Nordeste é uma forma de compensar perdas no Sudeste, como em Minas Gerais, onde os petistas veem sua vantagem se estreitar a cada dia.

Temos que repudiar esse tipo de manifestação" - Michel Temer, presidente da Câmara e vice de Dilma Rousseff, sobre atos de violência na campanha eleitoral

DILMA VOTOU EM JOSÉ ANÍBAL. O perfil do deputado federal reeleito José Aníbal (PSDB-SP), que já foi líder da bancada tucana, afirma no segundo parágrafo: "No primeiro ano da faculdade, já antecipando sua vocação política, (Aníbal) foi eleito representante de turma por 22 votos a 21. Na disputa, foi apoiado pela colega de turma Dilma Vana Rousseff". Os dois estudaram na Faculdade de Economia da UFMG.

O Jorge
Jorge Luis Siqueira, que alugou um flat para Amaury Ribeiro Júnior, trabalha no setor de contabilidade da campanha de Dilma Rousseff.
Ele aluga o imóvel para integrantes do staff petista.
Jorge era da Lanza Comunicações e agora da Pepper

Malucos

Tinha militante do PT organizando, para desespero da direção do partido, uma enxurrada de bolinhas de papel em cima de José Serra, que fará caminhada amanhã em Copacabana. A ordem é para a militância ir para a Zona Oeste.

A madrinha e o afilhado

Diretor da Agência Nacional de Águas, Paulo Vieira levou Rosemary Nóvoa de Noronha, chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, para conhecer a sede da ANA em Brasília, há cerca de três semanas. Rosemary e o ex-ministro José Dirceu foram os responsáveis por sua polêmica indicação. Ele chegou a ser rejeitado pelo Senado e depois foi aprovado em uma segunda votação, atropelando o regimento da Casa.

Correndo atrás do prejuízo

Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula e ligado à Igreja Católica, reuniu-se com cerca de 200 padres e pastores na noite de quarta-feira, em Belo Horizonte (MG). Primeiro, chamou atenção para a atitude do presidente Lula nestes oito anos, de sua "opção pelos mais pobres".
Depois, pediu para que as igrejas retomem seu discurso de fraternidade. E afirmou ainda que elas não podem incorporar movimentos para "alimentar o ódio e o preconceito"

CENA. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), recebeu em seu gabinete, ao mesmo tempo, os senadores eleitos Jader Barbalho (PA) e Wilson Santiago (PB). Barbalho quer se safar da Ficha Limpa, Santiago precisa da nova lei

MARINOR Brito (PSOL), senadora eleita pelo Pará, baixa em Brasília na segunda-feira. Vem acompanhar o julgamento de Barbalho, quarta-feira, no STF

ESFALFADO. O ex-presidente do PT Ricardo Berzoini fazia compras ontem à tarde num supermercado em Brasília. Que segundo turno, que nada!

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

SERRA PRESIDENTE

ZUENIR VENTURA

Que campanha!
Zuenir Ventura
O GLOBO - 23/10/10


E ainda criticam a Marina por ter preferido a neutralidade, ou independência, como ela diz. De baixaria em baixaria, a campanha chegou enfim às vias de fato - da troca de ofensas à agressão física. O grande debate da semana foi para saber não o que se passava pela cabeça dos dois candidatos, mas para descobrir o que atiraram na cabeça de um deles. Teria sido uma bolinha de papel ou um objeto mais pesado ou os dois? Chamado pela TV Globo para resolver a questão, o perito Ricardo Molina, acostumado a opinar sobre casos de polícia, deu o seu laudo: "São dois eventos completamente diferentes. Um é o evento bolinha e o outro é o evento rolo de fita." Enquanto isso, outro "evento", esse da oposição, era registrado em Curitiba: Dilma quase foi atingida por dois balões cheios d'água atirados de um edifício sobre o carro aberto em que ia.

Tudo não teria passado de incidentes de campanha e excessos de militantes - lamentáveis, claro, mas sem maiores consequências políticas - se Lula não tivesse entrado precipitadamente no jogo, acirrado os ânimos e dado um de seus maiores foras. Baseado nas imagens do SBT e da Record, as únicas que pareciam existir até um determinado momento, ele se apressou a disparar ataques contra Serra, acusandoo de ter mentido e encenado a agressão. As imagens mostravam com nitidez uma bolinha de papel repicando na careca de Serra. Passados alguns minutos - vinte, dizia o locutor do SBT - o candidato recebia um telefonema e em seguida levava as mãos à cabeça. Logo depois, se dirigia para o hospital. Acontece que o repórter Italo Nogueira, da "Folha de S.

Paulo", que acompanhava a caminhada, fotografou com seu celular o instante em que o candidato era atingido uma segunda vez. A foto não é nítida, mas mesmo assim permitiu ao perito concluir que era o tal rolo de fita adesiva.

Pode-se alegar que Serra supervalorizou o incidente e seus efeitos. Afinal, nada de grave felizmente foi constatado pelos exames médicos, nem mesmo ferimentos ou sequelas. O que importa, porém, é que houve intenção e tentativa de agredir, e esse gesto é politicamente tão grave quanto o ato em si. É inconcebível que um presidente da República, em lugar de solidarizarse com a vítima, pedir-lhe desculpas, exigir providências para evitar a repetição do episódio, tenha preferido ridicularizála e compará-la com o goleiro chileno que encenou uma farsa.

Nesta reta final, seria melhor para sua biografia estender uma bandeira branca do que ficar estimulando a escalada de violência verbal, e agora literal, que ameaça a campanha.

ANCELMO GÓIS

RICE TEM RAZÃO
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 23/10/10
 
Esta semana, num congresso de neurologia em São Francisco, na Califórnia, Condoleezza Rice fez uma avaliação da posição dos Estados Unidos no mundo atual frente à China e a outras economias ascendentes.
Citou apenas dois ou três países. Entre eles, o Brasil.

SEGUE... 
Mas, disse a ex-secretária de Estado, o que impede uma concorrência mais pesada do nosso País contra os Estados Unidos “é o grande desnível social brasileiro”.
A moça tem razão. O Brasil é muito desigual.

FORÇA SINDICAL 
Roberto Lima Neto, presidente da CSN na época da privatização, diz que, ao contrário da propaganda do PT, Serra nada teve a ver com a venda da usina:
– A privatização foi no governo Itamar. Mas o presidente era contra. Quem foi lá pedir a Itamar a privatização foi a Força Sindical, que hoje apoia Dilma.

ATO PRÓ-KLIGERMAN 
A Associação Comercial do Rio realiza segunda, no restaurante Porcão Rio’s, um ato de solidariedade ao médico Jacob Kligerman, conselheiro da entidade centenária.
O médico foi acusado por Lula de participar de uma “fraude” ao atestar que Serra havia sido, de fato, atingido por um objeto na cabeça.

EY, EY, EYMAEL 
José Maria Eymael, aquele candidato do nanico PSDC a presidente, conclamou seus correligionários a votarem em Dilma no segundo turno.
Agora vai.

O LADO BOM 
De um imortal, segunda, na posse de Geraldo Holanda Cavalcanti na ABL, consolando o colega Marco Maciel, que não conseguiu se reeleger senador por Pernambuco:
– Você escapou de ser colega do Tiririca...

DISCURSOS DE GABO 
Gabriel García Márquez vai lançar um novo livro no Brasil, o primeiro depois de Memórias de Minhas Putas Tristes, há seis anos.
O editor Sérgio Machado, da Record, já acertou a publicação aqui de Yo No Vengo a Decir un Discurso.

SEGUE... 
Trata-se de uma reunião de 22 textos, a maioria inéditos, escritos para discursos.
Desde um que Gabo escreveu aos 17 anos para a formatura do colégio, em 1944, ao último, em 2007, quando fez 80 anos. Sai no Brasil ano que vem.

MOSCA AZUL 
O livro A Mosca Azul – Reflexão Sobre o Poder, de Frei Betto, vai ser lançado em Cuba pela editora australiana Ocean Sur.

REPOUSO DO GUERREIRO 
Lula tem repetido que, ao deixar o governo, deseja se submeter a um longo repouso.
Pergunta de l milhão de dólares: ele vai conseguir ficar quieto? Não é seu temperamento.

CALMA, GENTE 
Acredite. Um quarto dos processos que passaram pela Procuradoria-Geral da República, instância onde estão os 62 procuradores que atuam nos tribunais superiores em Brasília (STF, STJ e TSE), nos últimos três meses, veja só, eram pendengas eleitorais. 

NO MAIS 
Calma, Lula. Tem um ditado na nossa terra que diz: “Quem anda de boca aberta, ou entra mosca ou sai asneira.”
Com todo o respeito. 

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

Desvio e dever
Miriam Leitão
O GLOBO - 23/10/10



A grande questão não é o que acertou a cabeça de José Serra em Campo Grande, mas o que há na cabeça do presidente Lula. É assustador que ele não perceba o perigo de usar toda a sua vasta popularidade para subestimar um episódio de conflito físico entre grupos que disputam o poder.

Se ele brinca com fato grave, o que está avisando é que esse tipo de atitude é aceitável.

Não é. Cada lado tem que ter segurança e garantia de fazer a sua festa, a sua passeata, o seu comício em paz.

Quem organiza um grupo para interceptar a caminhada do grupo concorrente na disputa política sabe que há risco de que tudo fuja ao controle. O que houve já foi sério o suficiente, mas poderia ter sido ainda pior. Felizmente, há tempo de aprender com esse episódio.

A paixão eleitoral é natural, o maniqueísmo do segundo turno é emburrecedor, o confronto entre as partes só é aceitável se ficar no campo das ideias e propostas.

Quem vai com um grupo organizado para hostilizar o adversário no meio da sua caminhada sabe que os ânimos podem ficar exaltados.

Desta vez, foi uma pedra na cabeça de uma jornalista, e o rolo de fita na cabeça do candidato José Serra. Esse episódio deve ser visto pelo risco potencial de conflito generalizado.

As imagens falam por si.

O que mais poderia acontecer numa refrega de rua? No Paraná, a candidata Dilma Rousseff, no dia seguinte, foi alvo - felizmente quem lançou errou a pontaria - de balões de água.

Esse é exatamente o ponto em que o chefe da Nação precisa pedir calma aos dois lados, lembrar os valores democráticos, e a melhor atitude na disputa política.

Mas é exatamente neste momento que o presidente ofende quem foi atingido e convalida o comportamento desviante de quem agrediu. Ao tratar com leviandade um assunto sério, incentivou a militância a repetir o comportamento, escalou o conflito e deseducou o cidadão.

Essa campanha eleitoral está deixando cicatrizes nas instituições. Um presidente da República não deve fazer o que o presidente Lula tem feito. Não deve usar a máquina, a Presidência, o poder em favor de um dos candidatos dessa forma e com essa força. Claro que Lula tem um lado, um partido e uma candidata. Pode e deve explicitar isso. Seria estranho se não o fizesse.

Mas a Presidência da República não pode ser usada como braço do comitê de campanha. Existe uma linha divisória que Lula nunca quis ver. E esse comportamento errado do ponto de vista institucional se repetiu durante toda a campanha.

Em alguns momentos, os atos inadequados do presidente ficaram evidentes.

Esse episódio deixou claríssimo o que não se deve fazer. Que as pessoas que vierem a ocupar este cargo no futuro vejam nas atitudes do presidente Lula de 2010 exemplos do que não fazer, não repetir.

O risco é que seja visto como natural daqui para frente o governo usar órgãos públicos para espionar adversários políticos; órgãos públicos, estatais e agências serem partidarizadas de maneira abusiva; o presidente não ter freio institucional.

Não se acostumar com o erro repetido é a única garantia que se tem em momentos assim.

Quem já viveu sem democracia sabe o valor de cada ritual, limite, processo.

Quem nunca viveu não tem como ver os riscos quando eles surgem com seus sinais antecedentes.

Por isso é natural que os mais jovens pensem ser um exagero da oposição ou concluam que o episódio de Campo Grande não foi nada.

Afinal, como ninguém se feriu seriamente, que problema tem? Podem pensar que se o presidente acha que o candidato da oposição é um farsante como aquele jogador de futebol isso é só mais um jogo, mais uma pelada no campo político. Se os mais jovens forem displicentes, é até compreensível.

Um homem nos seus 65 anos, que viu o que o presidente Lula já viu no país, só brinca se não estiver levando a sério o cargo que ocupa, a faixa que recebeu, o poder que tem.

Hoje, os riscos institucionais não vêm mais dos quartéis, como se sabe. As Forças Armadas não conspiram contra a ordem democrática e isso é um salto extraordinário que o país deu com a contribuição de inúmeras pessoas e com o sacrifício de muita gente.

Hoje, os riscos são outros, tem novas origens, e métodos diferentes.

Está em moda na América Latina demolir as instituições por dentro, minar a democracia, enfraquecendo o sistema de pesos e contrapesos, descaracterizar os poderes até eles ficarem irreconhecíveis, controlar a imprensa para não ouvir o contraditório.

Felizmente, isso não acontece em todos os países, mas os casos em que esse processo está em curso são tão notórios e assustadores que qualquer pessoa que tenha passado pela experiência da ausência de democracia é capaz de ver. Certos governantes começam fazendo chacota de coisas graves, como Hugo Chávez. Ele xingou adversários políticos ou contou piadas e pôs apelidos supostamente engraçados para desacreditálos. Isso, no princípio.

Depois, ficou muito pior. Cristina Kirchner começou falando mal dos jornais e agora fala em estatizar a imprensa.

Todos os que escolhem esse desvio político tentam intimidar a oposição para depois tentar exterminá-la.

Nenhum desses governantes do barulho da América Latina sabe o limite no uso dos órgãos e empresas públicas para objetivos políticos porque essa é uma poderosa ferramenta para minar o que mais os ameaça: o princípio da alternância no poder.

Como já escrevi nesse espaço, numa democracia não importa quem ganha a eleição, mas como se ganha a eleição. Se o presidente Lula conseguir seu objetivo tão almejado de fazer Dilma Rousseff sua sucessora, que seja pelos méritos de ambos, e não pelos erros e desvios dessa triste campanha