sexta-feira, outubro 22, 2010

UM PAPELÃO - MARIA HELENA RUBINATO RODRIGUES DE SOUZA

Um papelão
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
blog do Noblat

Luiz Inácio Lula da Silva em breve será uma carta fora do baralho. É gastar muita cera com pouco defunto ficar falando em seu comportamento nada condizente com o cargo que ocupa só até 31 de dezembro.
Afinal, são poucos dias: 71 (setenta e um). Mas é que às vezes basta um minuto para um exemplo deitar raízes e frutificar. Como ontem.
Lula da Silva não seria Lula da Silva se conseguisse se portar de modo elegante, tomando duas atitudes: lastimar, como chefe de um partido político, que seus militantes tenham se comportado como os camisas pardas de antanho, chamá-los às falas e deixar bem claro que isso não mais seria tolerado; dar um telefonema para o candidato da oposição, perguntar por sua saúde e deplorar, com ele, o comportamento execrável de militantes políticos que agem como animais selvagens.
Preferiu ficar de acordo com a malta: fez sua análise do momento vivido por José Serra, baseado naquilo que vira ser feito muitas vezes em sua longa trajetória de sindicalista e que, pelo que temos visto e ouvido, acha perfeitamente natural que seja feito.
Se há caso em que um velho ditado português se aplica perfeitamente, é o dele: por fora bela viola, por dentro pão bolorento. De nada adiantou o banho de loja, o se acotovelar com os grandes deste mundo, os oito anos de mimos e paparicos. Não aprendeu nada.
Adquiriu umas expressões novas, seu vocabulário ficou ligeiramente maior, mas na hora de fazer uma comparação, ele precisa se valer do velho futebol, caso contrário, não tem como explicar o que lhe vai pela cabeça. E não conseguiu aprender o mínimo de polidez exigido de quem pretendia ocupar espaços ainda mais altos.
Desta vez nem original foi. Mal saiu a notícia da agressão sofrida por José Serra, já tinha muito leitor/militante neste blog comparando a situação do ex-governador com a do jogador Rojas. Lula da Silva usou as mesmas palavras que podem ser vistas nos arquivos do blog. Nem criar uma imagem nova criou... Conseguiu foi fazer um papelão!
Isso teria a pouca importância que deveria ter, dados os tais setenta e um dias que faltam, se não fosse o fato de sua herdeira presuntiva ter, de imediato, adotado a mesma imagem, a mesma linguagem, sem tirar nem por. Ela só fez uma observação original: é preciso saber se “esquivar”. Dos projéteis, naturalmente. O tal do saber de experiência feito!
O exemplo deitou fundas raízes, como podemos ver, e não adianta nos iludirmos: se ela vencer as eleições, ficará tudo como está e o Brasil, que repele com orgulho descabido ser considerado um vira-lata, vai continuar a não poder desfilar nos kennelclubes da vida.
Votei em Marina Silva. Como eu, muita gente que não quer a continuidade do que aí está. Nem vestida de azul, muito menos de vermelho. E pretendia votar nulo ou não votar.
Mas Lula da Silva conseguiu espicaçar meu espírito. Primeiro, por não ter dito nem uma palavra de reprovação sobre os acontecimentos de 20 de outubro. E depois, por ter sido grosseiro, indelicado, injusto, com um médico a quem respeito e a quem muito admiro: o Dr. Jacob Kligerman, por quem já fui operada, em 1992. Conheço seu trabalho no INCA. Ele é um Médico e não um beldroegas que se prestaria ao papel que Lula da Silva lhe atribuiu.
Diante disso, e bastante assustada com as cenas que vi na televisão, tanto aqui no Rio quanto em Caxias do Sul, estou resolvida, voto Serra e farei o possível para convencer outras pessoas a fazerem o mesmo.

MÔNICA BERGAMO

SENHOR DAS IMAGENS
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/10
 
O Masp recebeu Wim Wenders, anteontem, para a abertura da exposição de fotos "Lugares, Estranhos e Quietos". As 23 imagens foram feitas pelo cineasta alemão em suas viagens pelo mundo, incluindo Israel, Armênia, Japão e o Brasil, onde ele clicou em São Paulo e Salvador. O registro de um grafite de OsGemeos integra a mostra.

TOGA PAULISTA

Gilmar Mendes, ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), deve se associar ao grupo que controla a Faculdade São Leopoldo Mandic para abrir, em São Paulo, uma filial do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), do qual é acionista. A ideia é reproduzir o modelo de Brasília, em que são oferecidos cursos de especialização, extensão e mestrado com aulas de magistrados de cortes importantes e também de alguns dos advogados e juristas mais conhecidos do país.

ETAPA SEGUINTE
Num segundo momento, o instituto paulista poderá oferecer também cursos de graduação em direito.

TRÊS VEZES TROPA
Os empresários que se associaram ao diretor José Padilha no filme "Tropa de Elite 2" e que querem convencê-lo a fazer a terceira versão do filme do capitão Nascimento têm proposta ousada: produzir o próximo longa em 3-D.
Padilha ainda não embarcou na ideia.

INDEPENDÊNCIA...
Helio Bicudo, que está engajado na campanha de José Serra (PSDB) por, segundo diz no programa eleitoral do tucano, querer "salvar a democracia no Brasil", será agraciado na próxima segunda, 25, pelo governador Alberto Goldman (PSDB-SP), com a Ordem do Ipiranga. O rabino Henry Sobel também ganhará a sua comenda, a maior do Estado de SP.

...OU MORTE!
Também serão agraciados por Goldman, entre outros, Emerson Fittipaldi, José Bonifácio Sobrinho (Boni), Silvio de Abreu, a jogadora Hortência Marcari e o médico Adib Jatene.

VOLTA AO MUNDO
A Delta Airlines comunicou ao ministro Luiz Barreto, do Turismo, que passará a operar um voo diário de Brasília para Atlanta (EUA) em 2011 -hoje, são três frequências semanais. A empresa começa também a operar, a partir de hoje, a rota São Paulo-Detroit, com conexões para cidades industriais do Japão, da Coreia do Sul e da China. Serão cinco frequências semanais, ocupando o espaço aberto com a quebra da JAL, que deixou de voar no mês passado.

EU VOLTEI
O PSDB anuncia que Fernando Henrique Cardoso vai "liderar" uma passeata em prol de Serra no dia 29.
O evento será no largo São Francisco, em São Paulo.

BANDEIRANTE
E o governador eleito de SP, Geraldo Alckmin, pretende visitar dez Estados até o dia da eleição. O roteiro, iniciado ontem, inclui Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Alagoas, Piauí, Pará, Roraima e Goiás, onde irá duas vezes para apoiar o tucano Marconi Perillo, que disputa o segundo turno para o governo.

VIDA REAL NA TELONA
Três histórias sobre a sensação de ter a vida em apuros, por um fio, farão parte do trailer do filme "Meu Mundo em Perigo", de José Eduardo Belmonte. A produção do longa, que estreia no dia 10 de dezembro, lança hoje uma promoção pedindo para pessoas enviarem histórias reais para o e-mail meumundoemperigo@gmail.com. Os melhores relatos serão selecionados pelo diretor e gravados para serem exibidos, em novembro, nos cinemas.

DEPOIS DO SHOW
O DJ francês David Guetta, que abre a apresentação do Black Eyed Peas no estádio do Morumbi, em SP, no dia 4, também tocará na festa oficial da turnê brasileira, após o show. O evento promovido pela Bacardi acontece na boate Kiss & Fly.

CHÁ INGLÊS A escritora Lygia Fagundes Telles, 87, é a homenageada da terceira edição do projeto "Três na Grã-Bretanha", que acontece até o dia 30, na Universidade de Oxford. O evento, que promove a cultura brasileira em Oxford, terá shows de Angela Ro Ro e Ney Matogrosso.

PARABÉNS TEATRAL
A produtora teatral Lulu Librandi comemorou seu aniversário com uma festa, anteontem, no restaurante Red Angus, em Pinheiros. Passaram por lá o prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP), o vice-governador eleito, Guilherme Afif Domingos (DEM-SP), José Henrique Reis Lobo, coordenador da campanha de José Serra (PSDB-SP), e os atores Glória Menezes e Leonardo Medeiros.

CURTO-CIRCUITO

Eros Grau é nomeado hoje doutor honoris causa pela Universidade Mackenzie.

A banda Cérebro Eletrônico lança o disco "Deus e o Diabo no Liquidificador", hoje, às 23h, no Studio SP. Classificação: 18 anos.

A esquina da rua Vieira de Carvalho com a praça da República será o palco do espetáculo "Helena Pede Perdão e É Esbofeteada", do grupo Tablado de Arruar, hoje, a partir da meia-noite.

Rico Mansur comemora seu aniversário na festa Voodoo Night, no Terraço Daslu, com apresentação do DJ Erick Morillo, hoje. Classificação etária: 18 anos.

O chef Erick Jacquin prepara hoje em seu restaurante La Brasserie um menu especial feito com caviar beluga.

A cantora lírica Jessye Norman chega a São Paulo, onde se apresenta no Teatro Bradesco, hoje, às 21h. Classificação etária: seis anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RUY CASTRO

Lenda indestrutível
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/10

RIO DE JANEIRO - Pelé, que faz 70 anos amanhã, é o maior desmentido vivo a uma lenda que corre há décadas sobre a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, e, por mais contestada, vive sendo repetida. A de que a seleção brasileira que disputou aquela Copa era racista, sempre escalando um branco no lugar de um jogador negro.
Foi assim, dizem, que, ao se iniciar a Copa, o lateral-direito era o branco De Sordi, do São Paulo, e não Djalma Santos, da Portuguesa; o ponta-direita era Joel, do Flamengo, e não o caboclo Garrincha, do Botafogo; e o meia-esquerda era Dida, idem, do Flamengo, e não Pelé, do Santos. Todos os outros titulares eram brancos, exceto o maestro do time, o meia Didi, do Botafogo (porque seu reserva Moacir, ibidem, do Flamengo, também era negro).
Bem, se havia todo esse racismo e nenhuma intenção de escalar os negros, por que estes foram levados para a Suécia? Pelé, por exemplo, poderia ter sido cortado. Às vésperas do embarque da seleção, num jogo-treino contra o Corinthians, no Pacaembu, ele sofreu uma entrada do zagueiro corintiano Ari Clemente que, a rigor, o tirava da Copa. Não teria como se recuperar a tempo de treinar e jogar.
O Corinthians lutara pela convocação do seu próprio meia, o marrento Luizinho, o Pequeno Polegar, ídolo da torcida. Bem, se havia racismo, por que a seleção não cortou o contundido Pelé e convocou o branco Luizinho? Mas a seleção fez diferente -eles o levaram, na esperança de que se recuperasse na Suécia. Pelé entrou na terceira partida, contra a URSS, e o resto é história.
A posteridade se esquece de que De Sordi, Joel e Dida eram grandes jogadores. Aliás, o Brasil teria sido campeão mundial em 1958 mesmo jogando com a seleção que, no fim, se revelou reserva: Castilho, De Sordi, Mauro, Zózimo e Oreco; Dino Sani e Moacir; Joel, Mazzola, Dida e Pepe. Que timaço.

SERRA PRESIDENTE

DORA KRAMER

Brincadeira tem hora 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 22/10/2010 

Em primeiro lugar, o presidente Luiz Inácio da Silva é a última pessoa com autoridade moral para falar em farsas ou em "mentira descarada", visto que é protagonista da maior delas: a falácia segundo a qual recebeu uma "herança maldita" e que estabilidade econômica, a abertura do Brasil para o mundo, o crescimento e a entrada de milhões do mercado consumidor deve-se exclusivamente ao seu governo.

Há pouco seu governo inteiro junto com sua candidata à Presidência produziram "mentiras descaradas" ao repudiarem as denúncias de que havia na Receita quebras de sigilo fiscal de adversários políticos e que um esquema de tráfico de influência e corrupção estava montado a partir da Casa Civil.

Lula também se precipitou ao atribuir as quebras de sigilo a uma "briga de tucanos". Baseava sua tese no fato de o mandante ser repórter do Estado de Minas sem saber que à época Amaury Ribeiro estava em férias a serviço de outrem.

O presidente da República dá razão ao antecessor que o chama de "chefe de uma facção", quando escolhe insuflar a violência no lugar de contribuir para apaziguar os ânimos.

É o que faria um estadista.

Justiça se faça, Lula não ficou só em sua tentativa de ridicularizar o episódio. Muitos na imprensa partiram para ironias, achando um exagero a reação de José Serra atingido, afinal, só por "uma bolinha de papel".

Foram duas imagens captadas em dois momentos diferentes, comprovou-se ao longo do dia. Mas, ainda que o candidato tucano tenha feito drama, continuam sendo inaceitáveis os ataques de militantes contrariados com a passagem do tucano pelas ruas de Campo Grande (RJ). Brincar com isso é má-fé, tratar como banal a violência eleitoral e, sobretudo, não entender o valor em jogo.

Impedir um ato de campanha com tumultos é violência. Bem como foi violência atirar um balão cheio de água sobre o carro onde estava a candidata Dilma Rousseff ontem em Curitiba. O balão não a atingiu, mas poderia ter atingido. Ainda assim resta a intenção: agredir.

O presidente da República condenará uma violência, mas aprovará a outra? Ou dirá que estava apenas condenando o "teatro" do adversário? Nisso não é crítico autorizado.

É partícipe e mesmo condutor de uma caminhada em direção ao retrocesso: a nos tornarmos permissivos com o uso da violência na política, assim como já estamos no rumo de revogar a integralidade do preceito do livre pensar.

Ovos da serpente. É assim que começa: a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou projeto de um conselho para atuar entre outras funções no "exercício fiscal sobre a prática da comunicação".

Em Goiás, a TV Brasil Central, do governo do Estado, não pode entrevistar adversários políticos.

O projeto de controle da mídia foi iniciativa de uma deputada estadual do PT cearense, aprovado por unanimidade, e ainda precisa passar pelo crivo do governador Cid Gomes.

A censura foi denunciada, num gesto inédito, ao vivo pelo jornalista Paulo Beringhs, proibido de entrevistar o candidato ao governo Marconi Perillo (PSDB), chamado no dia anterior de "mau caráter" pelo presidente Lula em palanque.

Liberdade e luta. Já que Chico Buarque puxou o assunto ao manifestar seu encanto com o fato de o governo Lula "não falar fino com Washington nem falar grosso com Bolívia e Paraguai", vamos ao fato: o governo brasileiro não deveria é falar fino com ditaduras.

Aliás, o mundo da cultura, que sofreu pesadamente os efeitos da durindana local, nos últimos anos não se incomodou - se o fez não foi em voz alta - com a maleabilidade das vértebras do presidente Lula diante de tiranos.

A complexidade das relações exteriores não cabe em um jogo de palavras. Já a condenação aos crimes das ditaduras às quais o Brasil se dobra para espanto do mundo requer apenas dois atributos: coerência e solidariedade.

Independentemente da opinião eleitoral.

ILIMAR FRANCO

Guerra interna 
Ilimar Franco 
O Globo - 22/10/2010

Há um mal estar na campanha de Dilma Rousseff (PT) por causa da quebra de sigilo fiscal de dirigentes do PSDB. Numa ponta está Fernando Pimentel, que contratou a firma de Luiz Lanzetta para a campanha e acionou o repórter Amaury Ribeiro Júnior e seus arquivos. Na outra, Rui Falcão, que quis colocar a firma de Valdemir Garreta na parada. O escândalo alijou, de fato, Pimentel e Falcão da coordenação da campanha petista.

Política e negócios

Dilma Rousseff continua amiga de Fernando Pimentel, mas não quer nem ouvir falar de Rui Falcão. Ele perdeu a confiança da candidata e não é chamado para as reuniões importantes: aquelas em que participam o presidente Lula, Antônio Palocci, José Eduardo Cardozo, José Eduardo Dutra e João Santana. Os petistas o responsabilizam pelo vazamento à imprensa do esquema de espionagem que estaria sendo montado. Dilma, desde então, não fala com Falcão.

Ele detonou o esquema Pimentel e garantiu para a firma do amigo Garreta um contrato na campanha. Esse embate pode ser retomado, na Justiça, depois das eleições.

“Bom para o PMDB essa declaração do Jobim. Vai sobrar mais um ministério para o partido” — André Vargas, secretário de Comunicação do PT, após Nelson Jobim não descartar participar de um governo José Serra

CAVALO DE PAU. Eleita para a Prefeitura de Natal (RN) com o apoio do DEM, Micarla de Sousa (PV) resolveu apoiar a candidata Dilma Rousseff (PT) no segundo turno das eleições. Aliados de José Serra (PSDB) afirmam que entrou na negociação a revisão do valor pago pelo Banco do Brasil pela folha de pagamento da prefeitura. Essa operação foi feita na gestão do prefeito Carlos Eduardo (PSB). O PV do Norte e do Nordeste está com a petista.

Maracujina

Os ânimos estão tão exaltados na área de comunicação da campanha de Dilma Rousseff que, na quinta-feira passada, ao avistar Rui Falcão em um restaurante de Brasília, Luiz Lanzetta partiu para cima dele, com o intuito de socá-lo.

Guardando o lugar

Apesar de ser um dos homens fortes da campanha de Dilma Rousseff, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, está fora do ministério em eventual governo de Dilma Rousseff. Se isso acontecesse, Rui Falcão seria o novo presidente.

A primeira operação ocorreu em 2008

Os personagens de hoje são quase os mesmos das eleições em Belo Horizonte, em 2008. O governador Aécio Neves (PSDB) e o então prefeito Fernando Pimentel (PT) apoiavam a candidatura de Marcio Lacerda (PSB). Mas Leonardo Quintão (PMDB) estava para ganhar quando a empresa de Luiz Lanzetta foi contratada. Na véspera do segundo turno, Quintão foi detonado por denúncia de que usou esquema ilegal de remessa de divisas para o exterior do Banestado. A reportagem era de Amaury Ribeiro Júnior. Os dados são da CPI do Banestado, cujos dados foram vazados pelo tucano Antero Paes de Barros e o petista José Mentor.

Um atestado de saúde

Após o incidente no Rio, anteontem, quando se dirigia para o hospital, o tucano José Serra deu ordem para que a imprensa não fosse informada da consulta. Mas aliados que o acompanhavam não resistiram.

Quando estava sendo atendido, ficou sabendo que a imprensa tinha a história e fez questão que o médico Jacob Kligerman desse entrevista dizendo que ele estava bem. Sua preocupação era que, devido à sua idade, era preciso dizer que ele estava bem de saúde.

O SENADOR Edison Lobão (PMDB-MA) está se articulando para concorrer à Presidência do Senado.

O MINISTRO Elói Araújo (Igualdade Racial) está mobilizando artistas, escritores, intelectuais e parlamentares negros para ato de apoio a Dilma Rousseff, na próxima terça-feira, no teatro da Universidade Candido Mendes.

O PRESIDENTE do PP, Francisco Dornelles, e os senadores eleitos Benedito de Lira (AL) e Ciro Nogueira (PI) foram hoje a Boa Vista (RR) pedir votos para Neudo Campos, líder na disputa para o governo.

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Sobre farsas 
Merval Pereira 

O Globo - 22/10/2010

Não satisfeito de ter transgredido todas as normas legais relativas à campanha eleitoral no afã de eleger a candidata que tirou da cartola, o presidente Lula na reta final da eleição perdeu qualquer vislumbre de constrangimento que porventura ainda tivesse e passou a fazer campanha política 24 horas por dia, antes, durante e depois do expediente oficial de presidente da República, em todas as dependências oficiais do governo.

E participou diretamente nos dois últimos dias de duas das mais vergonhosas tentativas de farsas políticas da História recente do país.

Ontem, ele se despiu dos rigores do cargo e assumiu o papel do cabo eleitoral mais energúmeno que possa haver.

(Antes que algum petista desavisado ache que estou xingando Sua Excelência, devo esclarecer que utilizo o termo energúmeno no sentido de “fanático”.

A palavra parece um palavrão, mas não é.

Na coluna de ontem, escrevi que Serra fora atingido por um “artefato” e houve petistas exaltados que vissem no termo um sentido alarmante que ele não tem.

Usa-se a palavra para definir “qualquer objeto manufaturado”.

Como não sabia o que havia atingido o candidato tucano, usei a palavra.

E acertei, como veremos).

Voltando ao caso, o cabo eleitoral Lula da Silva disse que a agressão sofrida por S e r r a e r a u m a “ m e n t i r a descarada”.

Segundo ele, depois de ver imagens das redes Record e SBT, ficou convencido de que Serra fora atingido por uma bolinha de papel e seguiu caminhando por mais 20 minutos, quando recebeu um telefonema “de algum assessor da publicidade da campanha que sugeriu parar de caminhar e pôr a mão na cabeça para criar um factoide”.

Para encerrar o festival de irresponsabilidades, Lula comparou o caso ao do goleiro chileno Rojas, que fingiu ter sido atingido por um rojão num jogo contra o Brasil.

Ontem, o “Jornal Nacional” demonstrou, com o auxílio de um perito, que quem criou um factoide com claros objetivos políticos foram as reportagens que montaram dois momentos diferentes como se fossem uma sequência, tentando desqualificar o que foi uma atitude política digna dos regimes fascistas.

Serra foi atingido, sim, por uma bobina de papel crepe (o tal “artefato”) que, arremessada com força, pode provocar danos graves na pessoa atingida.

A agressividade dos cabos eleitorais petistas em si mesma já era motivo para preocupação, pois em democracias não é aceitável que grupos tentem impedir outros de se manifestar.

Desse ponto de vista, é lamentável o que ocorreu ontem em Curitiba, quando a candidata oficial foi recebida com bolas de água jogadas de cima de prédios. Se atingissem alguém, elas seriam tão perigosas quanto o “artefato” que atingiu Serra.

O que não é comparável é a origem dos dois fatos. O primeiro foi uma ação política orquestrada com a intenção de agredir o candidato oposicionista. A outra é uma irresponsabilidade.

Na quarta-feira, Lula havia anunciado para os jornalistas a conclusão de um inquérito que a Polícia Federal realizou sobre a quebra de sigilo fiscal de parentes e pessoas ligadas ao candidato da oposição José Serra.

O próprio presidente, depois de ter tentado desqualificar as denúncias sugerindo que se tratava de uma ação eleitoreira de Serra, viu-se obrigado a convocar a Polícia Federal para investigar o caso.

Soube em primeira mão o resultado do inquérito e pareceu satisfeito, tanto que anunciou aos jornalistas, sem que fosse perguntado, que a Polícia Federal iria revelar “a verdade dos fatos”, que nada tinha a ver com “as versões”.

De fato, a Polícia Federal retirou todo caráter político da investigação e anunciou que o responsável pela compra dos sigilos quebrados era o jornalista Amaury Ribeiro Jr. quando ainda trabalhava no jornal “Estado de Minas”.

O PT passou então a espalhar a versão de que se tratava de uma briga interna dos tucanos, e que o serviço sujo fora feito para ajudar Aécio Neves na disputa interna com Serra pela indicação a candidato do partido a presidente.

A suposição era de que o jornal “Estado de Minas” mantinha estreita ligação com Aécio e designara seu repórter investigativo para devassar a vida de seu adversário.

O próprio Amaury Ribeiro Jr. disse que fizera os levantamentos “para proteg e r A é c i o ” , m a s e m n en h u m m o m e n t o a f i r m o u que fora designado pelo jornal para tal tarefa, apenas insinuava o vínculo.

Não bastou que o jornal e Aécio desmentissem essa hipótese, a rede de intrigas petista passou a anunciar como verdade o “fogo amigo” tucano como gerador da quebra dos sigilos fiscais.

P o i s o n t e m a v e rd a d e veio à tona: o jornalista não estava mais trabalhando par a o “ E s t a d o d e M i n a s ” quando encomendou a quebra de sigilo dos parentes de Serra e de pessoas ligadas a ele no PSDB, e agora acusa o petista Rui Falcão, coordenador da campanha de Dilma, de ter roubado os dados de seu computador.

Esses dados, juntamente com a informação de que havia sido criado um grupo de espionagem dentro da campanha, foram vazados para a imprensa em decorrência de uma disputa de poder entre Fernando Pimentel, responsável pela contratação dessa equipe de “jornalistas investigativos” para trabalhar no “setor de inteligência” da campanha, e Rui Falcão.

Agora a Polícia Federal tem a obrigação de prosseguir nas investigações para saber quem financiou o jornalista Amaury Ribeiro Jr. desde a compra dos sigilos até que surgisse oficialmente como membro da campanha dilmista no tal “setor de inteligência”.

Do jeito que as coisas ficaram, a sensação é de que a Polícia Federal foi usada pelo governo para revelar, às vésperas do segundo turno da eleição, apenas informações que prejudicassem o campo oposicionista.

A nota indignada do diretorgeral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, repudiando o uso político das investigações, só pode ser considerada se a atitude da Polícia Federal corresponder a ela, o que não aconteceu até agora.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Agora é Serra NA CABEÇA!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/10


Marina manda perguntar se a bolinha de papel era reciclada! Fita-crepe é bom porque é mais uma adesão!



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
"Paquistanês se casa duas vezes em 24 horas." Como é o nome dele? AZHAR! Rarará! Segundo TRANSTURNO! A Dilma tá com 51 só pra agradar o Lula. Rarará! E outra buemba: "Tiririca aceita ser sabatinado". Pelo Lula. Rarará! E se o Tiririca não for empossado como a gente vai saber o que faz um deputado federal?! Não é ele que ia contar pra gente?!
E agora é SERRA NA CABEÇA! Ops, na careca. "Militante petista joga rolo de adesivo na careca do Serra." E sabe o que Serra falou no hospital? "Infelizmente, não ganhei nenhum um ponto." Rarará! Nem um pontinho!
Se com uma bolinha de papel o Serra faz tomografia computadorizada, imagine se levasse uma bundada da Mulher Melancia! Rarará!
E o chapeiro na padaria: "Porque ele não é Bush. Se fosse o Bush teria desviado". Rarará! E tem que perdoar o cara: jogar coisa em careca é uma tentação irresistível! Todo mundo joga coisa em careca! E toda campanha tem isso: já jogaram ovo no Covas, torta na cara do Berzoini, galinha preta na Marta e, agora, rolo de fita-crepe no Serra. Pior o Berlusconi, que levou uma estátua de ferro na cara. Rarará!
E atenção: Marina manda perguntar se a bolinha de papel era reciclada! Rarará! Fita-crepe é bom porque é mais uma adesão! E manchete do site Sensacionalista: "Militante petista declara que, com um cabeção daqueles, foi fácil acertar". Rarará!
E se jogassem um rolo de fita-crepe na Dilma Rouchefe? EXPLODIA! O rolo, claro. O rolo explodia. Virava uma bomba do McGyver! Batia naquele ninho de jaburu, quicava, voltava e explodia. Rarará! Aquele cabelo é um capacete antirrolo! E o Serra vai usar um capacete gospel! Rarará!
E mais uma buemba. Depois da "Fazenda 3", a Record vai lançar um outro reality show: "A Casa Civil". Com Erenice e sua turma! O último a sair vai ter que DEVOLVER R$ 2 milhões. Rarará!
E a última bomba: "Índio da Costa declara: "Bolinha de papel era das Farc".". E com essa baixaria das duas campanhas, daqui a pouco só vai ter porrada. Eu quero porrada! Chá com porradas! Rarará!
A situação tá ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza.

PTETAS

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Pra quê? 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 22/10/2010

Encerrado o "JN" de ontem, alguns petistas se puseram a lamentar, reservadamente, a imprevidência de Lula e da propaganda de Dilma Rousseff, que, com base numa única imagem e descartando evidências em contrário, acusaram abertamente José Serra de promover uma farsa no incidente em que foi atingido na cabeça por um objeto ao cruzar com manifestantes ligados ao PT. Cotejando diferentes imagens, o telejornal desmontou a afirmação, feita sem rodeios pelo presidente e pelo programa de Dilma, de que Serra criou uma mentira baseado numa "bolinha de papel".
Os receosos alegam que, em alta nas pesquisas e a uma semana do desfecho da eleição, era desnecessário, além de não recomendável, criar tal confusão.

Abafa o caso Agentes de saúde envolvidos no confronto com a equipe de Serra no Rio planejavam novo ato para domingo, quando o candidato volta à cidade. Eles protestariam com cruzes nas mãos em Copacabana. O PT-RJ descobriu e, a pedido da campanha de Dilma, abortou a manifestação.


Onda jovem A nova pesquisa Datafolha mostra o avanço da candidata petista entre eleitores entre 16 e 24 anos (seis pontos percentuais) e 25 a 34 anos (cinco pontos), faixas nas quais Marina Silva (PV) teve forte inserção no primeiro turno.

#festafacts Na próxima quarta-feira, a campanha petista fará um Dia Nacional de Mobilização sob o lema "dê um presente ao Lula: conquiste mais um voto para Dilma". Nessa data, o presidente completará 65 anos.

Quem sabe? Um dia depois de fracassar na tentativa de convencer Dilma, militantes do Greenpeace tentaram extrair de Serra, no Paraná, compromisso com o desmatamento zero. O tucano disse que submeteria o texto a Fabio Feldmann (PV-SP).

Nunca foi Uma ironia contida no episódio do dossiê é o fato de o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, ter sido carimbado como "tucano ligado a Serra".

Simbiose "A divisão da sociedade entre os que podiam estudar em boas escolas e escolher depois as melhores universidades e os que não podiam está no fim. Com os mecanismos criados pelo governo, há oportunidades para todos." Qualquer semelhança do texto, extraído ontem do Blog do Planalto, com a propaganda de Dilma não é mera coincidência.

Blitz Seguindo roteiro preconizado pelo Planalto, a campanha de Dilma ganha reforço oficial na incursão de hoje pelo Triângulo Mineiro. Antes do comício à noite em Uberlândia, petistas anunciam maratona de entrega de obras em Ituiutaba e Uberaba, liderada pelo ministro Sérgio Passos (Transportes).

Veraneio O governador Alberto Goldman (PSDB) também dará hoje sua contribuição ao pacote de bondades pré-eleitoral: assina contrato para início das obras da rodovia dos Tamoios, com impacto no acesso dos paulistanos ao litoral norte na alta temporada de verão.

Nocaute 1 O exame dos números da disputa pelo governo de Pernambuco continua a surpreender. Em 43 municípios, cerca de um quarto do total, houve ao menos urna na qual Jarbas Vasconcelos (PMDB) não obteve nenhum voto. Nesse mesmo universo, foram registradas 40 urnas com cem por cento dos votos para o reeleito Eduardo Campos (PSB).

Nocaute 2 O fenômeno se deu em cidades de diferentes perfis: da metropolitana Igarassu (uma urna zerada para Jarbas) à sertaneja Petrolina (duas urnas com todos os votos para Campos).

tiroteio

"Vai dar linha cruzada na campanha do Serra. As pessoas não gostam desse tipo de telemarketing e vão responder nas urnas."
DO DEPUTADO FEDERAL MARCO MAIA (PT-RS), sobre chamadas de conteúdo negativo destinadas a desencorajar o voto em Dilma.

contraponto

Ave Maria


Era 1985, ano da disputa entre Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso pela prefeitura paulistana.
Peemedebista como FHC à época, Severo Gomes comentava, em almoço com um jornalista, o constrangimento de seu correligionário, que na véspera havia se atrapalhado quando o mediador Boris Casoy lhe perguntara, num debate, se acreditava em Deus.
Inconformado com o desfecho do episódio, Severo não teve dúvida ao dizer o que faria no lugar de FHC:
-Se fosse comigo, eu teria puxado um terço...

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Os ânimos acirrados e o câmbio 
 Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 22/10/2010

O Real é uma das moedas mais valorizadas do mundo, governo e mercado travam guerra cambial e há cada vez mais claras pressões para que o próximo presidente, seja a cor que tiver, segure o crescimento da economia.

O Brasil de 2011 não vai despenalizar o aborto nem colocar na cadeia as quadrilhas que se movem no submundo dos partidos, mas dificilmente escapará de um corte de gastos.

A generosidade exibida pelos candidatos não coaduna com o cenário que se avizinha, mas o debate eleitoral insiste em ignorar o Brasil que virá. Como a pauta religiosa emite sinais de esgotamento, o tema da corrupção volta à tona com avidez suficiente para produzir imagens que deixem o resultado indefinido até a última hora.

A ausência de uma discussão substantiva sobre os rumos da política econômica ajuda a entender por que esta campanha produz asco em abundância, além de bolinhas de papel e balões de água. Um eleitor que não sabe como ficarão os reajustes do salário mínimo e da Previdência nem as medidas para conter a farra cambial externa também é tentado à radicalização de ânimos, como se viu nos últimos dias na campanha de rua de ambos os candidatos.

Depois que a escarradeira for tirada da sala é que a seriedade vai poder, finalmente, reinar. Os políticos sairão de cena para entrar os ministros, economistas e empresários. A política, já suficientemente desmoralizada na mediação de interesses, dará lugar à razão do mercado.

O Brasil faz sua primeira eleição presidencial desde a grande crise financeira mundial, mas o fato de o país ter escapado mais ou menos ileso parece ter aprofundado o divórcio entre interesse público e mercado.

Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Jessé Souza é um pensador radical, dedicado ao estudo desse divórcio. Vê uma campanha catastrófica em curso.

Em livro recém-lançado ("Os batalhadores brasileiros: nova classe média ou nova classe trabalhadora?" UFMG, outubro/2010) refuta a ideia de que o Brasil está prestes a se tornar um país de molde europeu com classe média dominante.

Dedicou seus últimos quatro anos a pesquisas empíricas junto aos emergentes. Concluiu que esses brasileiros cumprem jornadas diárias de 10 a 14 horas, têm dois ou mais empregos de dia e estudam à noite. Vivem para trabalhar e consumir um pouco daquilo a que não tinham acesso antes. Ao contrário da maioria dos pobres, que Souza chama provocativamente de ralé, essas pessoas vêm de famílias estruturadas sob a ética do trabalho duro e da perseverança. Têm pouco capital cultural incorporado e cultivam estilo de vida e padrão de consumo que mais os assemelham à mão de obra superexplorada da China e da Índia do que à classe média brasileira estabelecida.

Jessé Souza acha precipitada a conclusão de que os emergentes são suscetíveis à manipulação efetiva de suas crenças. Diz que a exploração de preconceitos religiosos segue a cartilha da novelização da política que retrata um país dividido entre mocinhos e bandidos.

Vê a infantilização do debate político como decorrente de um Estado demonizado como politiqueiro e corrupto por um mercado virtuoso. Atribui a essa dicotomia a matriz do debate público viciado. A corrupção estatal, aqui e alhures, tem como base interesses privados em que o noticiário da escandalogia sempre esbarra. Só para ficar nos escândalos da hora: Erenice Guerra caiu na boca do povo, mas dificilmente o leitor será capaz de citar o nome de uma única empresa beneficiada pelo tráfico de influência montado pela ex-ministra e por sua família no governo.

O combustível da dicotomia entre o Estado corrupto e o mercado eficiente, diz Souza, é a divisão da riqueza nacional entre os ganhos de capital (70%) e salários (30%). Os dois finalistas da disputa presidencial filiam-se a partidos que reivindicam cepa social-democrata, mas nos países europeus onde o modelo vigora, ainda que esmaecido, a relação entre capital e trabalho é inversa.

Esse Estado ineficiente e corrupto que ganha dramaticidade na campanha eleitoral escamoteia o que Jessé Souza, sem temer a pecha de antiquado, chama de luta de classes: o exército de babás, empregadas, faxineiras, porteiros, office-boys e motoboys que permitem à classe média dedicar seu tempo a trabalhos valorizados e bem pagos. "Isso não é luta de classes? Apenas porque não há piquetes, polícia e sangue nas ruas? Apenas porque essa dominação é silenciosa e aceita, dentre outras coisas, porque também eles, os humilhados e ofendidos, ouvem todo dia que o nosso único mal é a corrupção no Senado ou em algum órgão estatal?", indaga Souza em texto recente.

Essa é uma quimera que nem o voto-nulo-neutro-independente-secreto da utopia marinista se propunha a resgatar. Nenhum dos finalistas tampouco se dispõe a tirar essa poeira debaixo do armário, mas o debate embotado não permite sequer que se perceba onde a faxina é mais urgente.

A campanha chega ao fim sem que os meios de maior audiência da campanha - o horário eleitoral e os debates televisivos - consigam esclarecer como José Serra pretende dobrar o Bolsa Família, aumentar o salário mínimo para R$ 600, reajustar a Previdência e cortar impostos sobre salário, cesta básica e energia elétrica. O eleitor também se aproxima do segundo turno sem que Dilma Rousseff esclareça como o Brasil vai ser redimido pelos recursos do pré-sal se, até 2014, os recursos dessa exploração mal terão começado a pingar nos cofres nacionais.

Jessé Souza só perde em radicalidade para a vida real. Na manhã de terça-feira, uma dona de casa de classe média alta paulistana relatava e-mail que recebera. "A melhor coisa que vi nesta campanha", disse. Lá estava o valor das bolsas mais caras do mundo: Louis Vuitton de R$ 88 mil, Hermès de R$ 253 mil e Chanel por R$ 551 mil. No topo da lista lia-se: "Bolsa Família do governo Lula, feita com o mais puro couro da classe média brasileira - R$ 4 bilhões".

O Bolsa Família custa mais do que isso, mas a dona de casa estava com pressa para ouvir. Sua cozinheira havia se atrasado nesse dia.

SERRA PRESIDENTE

MÍRIAM LEITÃO

Visão curta 
Miriam Leitão 

O Globo - 22/10/2010

O Ministério da Fazenda fez bem em pôr uma tranca em uma das portas pelas quais entram dólares na economia brasileira, mas o efeito não vai durar por muito tempo, o mercado vai contornar essa alta do IOF e muitas distorções vão resultar do aumento de imposto. É uma pena que o ministro não tenha sido apresentado à teoria que tem solução mais permanente para o problema: o controle dos gastos.

Por enquanto o governo está improvisando e há limite para os improvisos no mercado de câmbio. O IOF não pode subir muito porque diminuirá a demanda de investidores por títulos públicos. Como o apetite maior dos investidores externos é por títulos mais longos, isso levará a um encurtamento da dívida e elevação de juros de longo prazo. Além disso, o aumento do IOF sobre negociações no mercado futuro vai na contramão do mundo: empurram investidores para negociações de balcão, que não têm transparência nem supervisão.

O ministro Guido Mantega na semana passada disse que o gasto público não causa inflação. Numa hora em que o país está crescendo a 8%, as famílias estão se endividando como nunca para comprar mais, o governo acha que pode turbinar a demanda agregada com ampliação de gastos.

Espantoso para usar uma palavra educada.

Se é essa a convicção das autoridades que deveriam ter como preocupação o controle das contas, não se deve esperar, pelo menos a curto prazo, que o país entre no caminho da redução sustentável dos juros a níveis bem mais baixos que os atuais. E a melhor forma de evitar a entrada de dólares indesejados não é elevando o IOF, mas diminuindo os juros para reduzir o diferencial das taxas entre a economia brasileira e o resto do mundo. Com um prêmio menor, menos investidores estrangeiros viriam ao país em busca do lucro fácil.

Todo mundo se lembra das operações com câmbio feitas pela Aracruz e pela Sadia, que resultaram em perdas de mais de R$ 7 bilhões às duas empresas no final de 2008. Foram firmados contratos que apostavam na valorização do real contra o dólar. Mas esses contratos foram “de balcão”, negociados e firmados por duas partes, com pouca fiscalização. O resultado é que os próprios acionistas das empresas não sabiam o que estava acontecendo.

Deu no que deu.

Elas foram resgatadas com empréstimos de banco público.

O aumento do IOF pesou sobre as chamadas de margem no mercado futuro e deve incentivar mais negócios de balcão.

O Banco Central manteve na quarta-feira os juros inalterados,
em 10,75%, e as apostas são de manutenção também na última reunião do ano, em dezembro. O problema é que a expectativa de inflação para os próximos 12 meses, medida pelo Boletim Focu s, aponta 5,19%, acima do centro da meta e esta é a previsão também para 2011. O IGPM deve fechar 2010 perto de 10% e vai pressionar os serviços no ano que vem.

O real está em torno de R$ 1,69. Se as medidas fizerem efeito e o dólar subir, isso pode ter impacto inflacionário; se as medidas não funcionarem e o dólar continuar a cair, aumentará a pressão sobre a indústria local.

A MB Associados aposta que a taxa pode voltar a subir antes do que estava previsto: “Manter a expectativa de inflação muito acima da meta dificulta trazê-la novamente para 4,5%. Por isso, o BC poderá subir a Selic talvez antes do que se imaginava, mesmo com a pressão que isso possa trazer na taxa de câmbio”, afirmou.

O problema é que na perspectiva de uma mudança de governo, o grau de incerteza sobre política monetária é muito alto.

A demanda acelerada tem sido atendida em grande parte pelos importados.

Com isso, já há projeções de que o déficit em conta corrente saia de US$ 50 bilhões, este ano, para US$ 100 bilhões no ano que vem. Está aumentando a dependência da entrada de capital. Se a Fazenda tiver muito sucesso na tentativa de deter a entrada de investimento especulativo pode ter dificuldade de financiar o déficit externo.

O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, acha que o país não está aproveitando o bom momento para fazer a coisa certa, segurar gastos: — Há uma frase do megainvestidor Warren Buffett que se encaixa perfeitamente no atual momento: Quando a maré baixa é que se descobre quem estava nadando sem roupa. Hoje, o mundo está com excesso de dólares e eles estão vindo para o Brasil, mas não será sempre assim. Temos que nos preparar — afirmou.

Desarmar essa armadilha não será tarefa trivial. A pessoa que assumir o governo em janeiro do próximo ano encontrará pressões de todo o tipo, principalmente por soluções erradas.

A indústria tem pedido mais protecionismo, mas isso só cria mais distorções.

Se os juros forem reduzidos por imposição presidencial num contexto de demanda aquecida, inflação em alta e aumento de gastos públicos será muito pior. O que agrava o quadro é o fato de as contas públicas estarem cada vez mais maquiadas. Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria, chama disso de “argentinização das contas públicas brasileiras”, referindose ao fato de que hoje ninguém mais acredita nos indicadores econômicos argentinos porque eles têm sido falsificados.

Mônica acha que o governo fez bem em subir o IOF contra capital de curto prazo: — Ele não podia ficar parado olhando o real subir.

Mas dificilmente isso resolverá o problema.

O IOF é apenas uma ponte para a solução definitiva, que só poderá ser o terreno firme do ajuste fiscal.

CELSO MING

Racha no G-20 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 22/10/2010

O grande acordo proposto pelos Estados Unidos para enfrentar a crise e a guerra cambial não consegue decolar. As maiores autoridades econômicas do mundo divergem abertamente sobre qual tratamento dar aos problemas globais.

A proposta americana começou a circular ontem, à véspera da reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 mais importantes países do mundo, o G-20, que será realizada hoje e amanhã em Gyeongju, na Coreia do Sul.

A ideia foi apresentada pelo secretário do Tesouro americano, Tim Geithner. Ele pretende que as mais importantes economias do mundo aceitem um cronograma de redução dos saldos em conta corrente (contas externas). Se for superávit, seria o de redução; se for déficit, o de aumento dos resultados. O critério técnico proposto é o de atingir um nível sustentável de crescimento e de desempenho comercial. O nível de câmbio seria mera consequência.

Em entrevista concedida ao Wall Street Journal, de Nova York, Geithner reconheceu que, em matéria de política de câmbio, não está claro sobre o que é ou não jogo limpo ("fair"). E disse que o pretendido é "um acordo em torno de um conjunto de normas a serem aplicadas às políticas cambiais".

O grande desequilíbrio hoje é mesmo essa diferença entre despesas e receitas dos países a que se refere Geithner. A consequência são as enormes transferências de recursos, formação de reservas de um lado e de grandes dívidas de outro, que levam à guerra cambial.

Ainda é preciso entender melhor a proposta de Geithner. A impressão inicial é de que o equívoco está em achar que bastam atos de vontade para que os problemas acabem. Ficou sinalizado que essa manobra tem dois alvos: a China e a Alemanha, economias que vêm crescendo graças a suas exportações e, portanto, são dependentes da demanda externa. No fundo, Geithner parece ter por objetivo o alinhamento da maioria dos membros do G-20 contra essas duas nações.

A primeira reação das autoridades da Rússia, da China, da Alemanha e da Índia foi rejeitar a sugestão do secretário. Em declaração à agência Reuters, o vice-ministro das Finanças da Rússia, Dmitry Pankin, por exemplo, advertiu que nada conseguirá andar enquanto os Estados Unidos não cortarem seu rombo orçamentário e o seu banco central (o Federal Reserve) não voltar a apertar os juros.

Mesmo em final de mandato, o governo federal parece ter finalmente entendido que, nessa guerra cambial, a China não é o principal inimigo, mas sim os Estados Unidos, que vêm inundando os mercados, especialmente o brasileiro, com dólares emitidos a partir do nada, derrubando a competitividade do produto nacional.


O ministro Guido Mantega contou que, na conversa telefônica que teve ontem com Geithner, ele assegurou que a política dos Estados Unidos não é de desvalorização, mas de valorização do dólar. Geithner pode estar sendo sincero, mas, em termos práticos, há dois anos acontece o contrário: a moeda americana não para de cair, o que puxa a cotação das outras moedas (inclusive a do real), das commodities e do ouro.


Enfim, este é o clima que permeia a reunião do G-20 que começa hoje e se destina a preparar o encontro de cúpula de chefes de Estado, agendado para 11 e 12 de novembro, em Seul.


CONFIRA
Festejando
O presidente Lula está entusiasmado com o automóvel movido a energia elétrica e a perspectiva de que, dentro de mais alguns anos, o mundo terá finalmente uma frota de veículos ambientalmente limpa.

Baixa autonomia
O carro elétrico ainda é caro e tem baixa autonomia: a cada 160 quilômetros exige recarga de baterias.

Seis por meia dúzia
Mas o grande problema é que a maior parte da energia elétrica disponível no mundo provém da queima de combustíveis fósseis, especialmente petróleo, gás e carvão. Nesse caso, a poluição emitida pelos escapamentos dos carros será trocada pela poluição emanada pelas chaminés das termelétricas.

Mais quilowatts
Afora isso, a partir do momento em que esses carros forem estatisticamente significativos no Brasil, o consumo de eletricidade crescerá e será preciso aumentar o investimento em geração de energia elétrica.

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

Crime contra a honra 
Ancelmo Góis 
O Globo - 22/10/2010

Jacob Kligerman resolveu ontem interpelar judicialmente Lula “por crime contra honra”.
O médico, que não esconde ser amigo de Serra desde os tempos da UNE, foi acusado pelo presidente de participar de uma fraude ao atestar que o tucano havia sido, de fato, atingido por um objeto na cabeça.

Uma flor
Oscar Niemeyer, 102 anos, desenhou um símbolo para a reta final da campanha de Dilma Rousseff: uma flor.

Rádio mineral
O que se diz no setor é que a família Moreira Salles está vendendo uma participação minoritária na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que produz nióbio em Minas Gerais. Coisa para mais de US$ 1 bi.

Maior do mundo
A White Martins entrou ontem na 17aVara Federal de Brasília contra a decisão do Cade de multá-la em valor equivalente a US$ 1 bi, sob a acusação de formação de cartel.
O advogado Sérgio Bermudes, representante da empresa, diz que esta montanha de dinheiro corresponde ao dobro da maior multa já aplicada na história num processo similar nos EUA.

Desfaz, piloto!
Terça, no Galeão, por volta de 22h, um Airbus A330 da TAM que iria para Miami era puxado pelo trator até o finger 49, onde os passageiros embarcariam, quando... pumba!... bateu com a asa no finger ao lado. O avião não pôde decolar.

Bernardinho pirata
Bernardinho é a mais nova vítima de pirataria no Twitter.
Nosso técnico supercampeão de vôlei não participa de nenhuma rede social na internet, mas seu nome e sua foto estão num microblog, onde há até falsas frases dele.

Mar de dinheiro
O que se diz em Brasília é que, num eventual governo Dilma, o desejo do PR do ex-ministro Alfredo Nascimento, além de manter a pasta dos Transportes, será incorporar à sua coleção de cargos a Transpetro, responsável por um programa de construção de navios orçado em R$ 8,3 bi. O partido cresceu muito. Pulou de 23 para 41 deputados, meio PMDB — em grande parte, pelos votos de Tiririca, em São Paulo, e de Garotinho, no Rio.

Só que...
A subsidiária da Petrobras pertence, na partilha do governo Lula, a Renan Calheiros, que indicou o ex-senador Sérgio Machado para sua presidência.
Convencer o PMDB a sair desse barco de ouro não é fácil.

O Chile é aqui
Piada maldosa, em Brasília, de gaiatos que só podem ser adversários de dona Weslian Roriz. Diz que ela ligou para Aécio Neves e o parabenizou pelo... resgate dos mineiros.

Viva a vida!
Será divulgado hoje o relatório do Instituto de Segurança Pública com os índices criminais de agosto no Rio. Houve nova queda, agora de 20,4%, no número de homicídios em relação a igual período de 2009. Entre os bairros onde não ocorreu nenhum assassinato em agosto, estão Botafogo, Copacabana e Ilha do Governador.

Viva a feira!
A prefeitura do Rio lança hoje o edital para obras de revitalização da querida Feira de São Cristóvão. Serão investidos na reforma, que inclui a construção de um anfiteatro, R$ 11,7 milhões.

Trabalho do papai
Acredite. Domingo, na sessão de 22h de “Tropa de elite 2”, no Cinemark Downtown, na Barra, no Rio, entrou na sala um casal com o filho de uns... 5 anos. Quando o miúdo se assustava com alguma cena, a mãe dizia: “É para você conhecer o trabalho do papai.” Meu Deus...

Eu sou o samba
Veja como se produz samba no Rio como chuchu na serra. Desde 15 de setembro, mais de mil composições foram inscritas no Concurso de Samba de Quadra, apoiado pela TV Globo. As inscrições acabam hoje.

Alô, meu cachorrão
Quarta, por volta de 13h30m, em Ipanema, um choro de cachorro ecoou num ônibus de integração do metrô que ia da Praça General Osório para a Barra. Todos já procuravam o cãozinho quando a trocadora exibiu o celular: “É meu marido me ligando!” A gargalhada foi geral.

FERNANDA TORRES, de “Rainha Má”, e Miele, de “Rei”, escoltam a “Branca de Neve” Renata Santos, rainha de bateria da Mangueira, na gravação do seriado “Moral da história”, que vai ao ar no canal a cabo Multishow

MALU MADER e Xuxa Lopes, nossas atrizes, conversam ao pé do ouvido no coquetel de inauguração de uma loja no Fashion Mall

DONA IVONE LARA, a grande dama do samba, recebe as devidas homenagens do músico João Martins, que fará show com ela no Samba no Sítio, dia 31, em Jacarepaguá
PONTO FINAL

Calma, gente!

NELSON MOTTA

Nós e eles
Nelson Motta 
O Estado de S.Paulo -- 22/10/10



Quando um candidato vence uma eleição com 50% dos votos mais um, isto também significa que metade dos eleitores, menos um, votou contra o vencedor. Nesse caso, no Brasil, seriam cerca de 60 milhões de cada lado. Ao contrário das frias porcentagens, esses números são quentes e assustadores se vistos como homens e mulheres, suas vidas e seus destinos.

Mesmo quando a diferença final é maior, talvez por fatores regionais ou conjunturais, por acidentes de percurso ou fatalidades, os eventuais 0,01%, ou 10% de diferença não dão ao eleito mais poderes do que a Constituição lhe garante. Tão importante quanto a democracia ser o governo do povo, para o povo e pelo povo, como os políticos gostam de dizer mas não de fazer, é que a vontade da maioria prevaleça - respeitando os direitos da minoria e a Constituição. Se não, é chavismo.

Mas até Chávez sabe que nem sempre a maioria tem razão ou toma as melhores decisões, só por estar em maior número, mas as consequências são sofridas por todos. Maiorias não são infalíveis, condenaram Jesus Cristo e apoiaram Hitler, os maiores massacres da História foram de maiorias contra minorias, impondo a lei do mais forte sobre a civilização. Acima das maiorias, que são eventuais e sujeitas a interesses políticos e fraquezas humanas, estão as instituições democráticas, que são permanentes e impessoais.

Urna não é tribunal e a vontade da maioria não absolve ninguém de nada que afronte a lei e o Estado de Direito. Em campanhas acirradas e marcadas por ofensas e denuncias entre os adversários, suas histórias pessoais e seus aliados, o dia da vitória pode ser a véspera de confrontos que envenenam a democracia, movidos por paixões humanas. Como na Argentina.

A euforia rancorosa do "agora é nós" e as eventuais ameaças contra os vencidos tem um encontro marcado com a realidade da partilha do poder com os aliados e suas ambições politicas e pessoais - que pode até dar saudades dos adversários. Vença quem for, vitórias construídas com alianças espúrias, mentiras e trapaças tem vida curta e antecipam derrotas das melhores esperanças da população.

SERRA PRESIDENTE

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Nuvens em lágrimas 
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 22/10/2010

Entre as muitas medidas que ainda precisam ser tomadas para tentar evitar tragédias como as enchentes do ano passado, uma, pelo menos, já está em curso. Amauri Pastorello, do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado, comprará, por meio de licitação internacional, um radar capaz avaliar nuvens e seus respectivos carregamentos de água.

Na prática, isso ajudará os técnicos a calcularem com maior antecedência a quantidade de chuva que cairá sobre a cidade. Para que serve isso? Pastorelli explica que o mecanismo possibilita antecipar medidas como desviar o trânsito em locais específicos ou remover moradores em área de risco com alguma tranquilidade. O atual sistema permite medir apenas a quantidade de chuva que cai.
Custo? Estima-se R$ 8 milhões.

Comício
Integrantes da coligação de Serra em São Paulo estão conclamando apoiadores a participarem de passeata antes do segundo turno das eleições. É o que fizeram Gilberto Kassab e Guilherme Afif, anteontem, em festa da promoter cultural Lulu Librandi, no Red Angus. Marcada para dia 29, sairão do Largo São Francisco.
FHC confirmou presença.

Planilha
Surpresa: o País foi brindado esta semana com a divulgação de duas taxas de desemprego. Uma, do IBGE, que marcou mínima histórica. E a do Caged que decepcionou.
Segundo a Rosenberg Associados, elas não são necessariamente contraditórias. O índice de desemprego do IBGE reflete, principalmente, a redução da população desocupada. O do Caged mede o saldo de empregos.
Cara a cara
Silvio Santos ganha boneco para chamar de "eu". No museu de cera, em Gramado, RS.

Ringue
O vídeo ofensivo a Netinho, hospedado no YouTube, continua no ar. Em setembro, TRE determinou multa de R$50 mil e outros R$ 10 mil por dia ao Google pelo descumprimento da liminar. Mostra o músico-político ao som de seu hit Cohab City com letra alterada: "Tô chegando na Cohab pra espancar uma megera, sair na mão com os amigos e dar uns soquinhos em minha Cinderela".
Procurada, a direção do Google informa que não comenta casos "específicos".


São Paulo pode?
Tony Blair, responsável inicial pelas Olimpíadas de 2012 em Londres, pediu conversa com Geraldo Alckmin durante sua visita ao Brasil semana que vem. Marcada para terça, desconfia-se que Blair tentará vender seu peixe para os paulistas.

Sérgio Cabral chegou a anunciar a contratação do ex-primeiro ministro para trabalhar como consultor das Olimpíadas no Rio. No que voltou atrás por falta de recursos...

Detalhe não pequeno
Quem contrata Maria Fernanda Cândido para comparecer a seu evento, leva um susto. Além do cachê - corretamente competitivo com os de outras atrizes de mesmo nível-, ela exige um extra: que o contratante pague seu cabeleireiro. O mimo tem que constar no contrato com a devida limitação de três opções indicadas por Cândido.
A mais barata? R$ 4 mil.

Bilheteria
São Paulo ganha mais uma galeria, a Central Galeria de Arte Contemporânea.
Sob direção de Wagner Lungov, o espaço abre suas portas, nos Jardins, dia 13 de novembro. Com exposição de Monica Rizzolli.


Na frente

Mariana Berenguer lança sua primeira coleção de joias. Quarta, no Dalva e Dito. Ao lado de Syomara Crespi.

Pedro Maciel autografa Retornar com os Pássaros. Conta com uma troca de ideias entre Lygia Fagundes Telles e Mário Bortolotto. Hoje, na Livraria da Vila em Pinheiros.

Marcos Arbaitman apresenta, dia 26, a Lemontch. Sua empresa de software para gerenciamento de viagens.

Joe Lambert, do Center of Digital Storytelling, de Berkeley, vem para seminário internacional sobre gestão, comunicação e memória. Em novembro, no Espaço Votorantim.

A Reebok comemora hoje 10 anos com festa no Hotel Caesar Park da Vila Olímpia. Comandada pelos DJs Milan & Pastore e DJ Marky.

O Itamaraty avisa: não mantém instalações em Tuvalu, capital de Funafuti. Os contatos são feitos por meio da embaixada na Nova Zelândia.

Diferente do que acontece em muitos presídios, celulares de juizes e promotores no Fórum Criminal de São Paulo simplesmente não... pegam.

ELIANE CANTANHÊDE

Atitude do presidente é de cabo eleitoral, não de estadista

ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/10



Cabe a um estadista com 80% de popularidade pedir calma e responsabilidade quando os ânimos se exaltam além do razoável em eleições tão polarizadas quanto a deste 2010.
O presidente Lula, porém, age menos como estadista e mais como cabo eleitoral, classificando a agressão de militantes petistas contra José Serra (PSDB), anteontem, no Rio, como "farsa" e "mentira descarada".
Desconsidera que petistas programaram o confronto, que Serra foi atingido por um rolo de fita crepe na cabeça, que uma repórter da TV Globo levou um talho e que um militante também foi ferido.
Não parece uma "farsa". Logo, Lula conduz à conclusão de que não falou de acordo com a realidade, mas sim levando em conta a conveniência eleitoral de Dilma Rousseff (PT).
Como toda ação corresponde a uma reação, ontem foi a vez de prováveis eleitores tucanos atirarem um balão com água na direção de Dilma, que fazia carreata em Curitiba. Pode vir mais por aí. O ambiente de campanha não é mais seguro.
As declarações calculadas do presidente, movido pela personalidade, a aprovação popular e o histórico de lutas sindicais, visam transformar a vítima Serra em réu e correspondem a um novo chamamento a mais agressões. Joga, assim, a campanha no terreno do imprevisível.
Como faltam nove dias para a eleição, com a perspectiva de um resultado apertado, o acirramento pode se aprofundar e gerar trocas de insultos e cenas de pancadaria que em nada contribuem com a democracia nem com nenhuma candidatura.
Aliás, nem com o futuro presidente, porque esta animosidade tende a se estender para o próximo governo, ganhe Dilma ou Serra.
Como não se cumpriu a profecia de que Dilma venceria tranquilamente no primeiro turno, a eleição já entrou no segundo com o país praticamente dividido ao meio entre vermelhos e azuis. Qualquer que seja o presidente, terá quase metade do eleitorado contra.
É melhor que os militantes atuem civilizadamente na campanha para que os eleitores não descontem no próximo governo, atirando rolos de fitas e sacos de água sobre o presidente - ou presidenta.
Lula sugeriu que Serra pedisse desculpas, "se tivesse um minuto de bom senso". Mas bom senso é o que ele próprio, enquanto presidente, não está demonstrando.

SERRA PRESIDENTE

EDUARDO JORGE MARTINS ALVES SOBRINHO

Vermelho, azul e verde 
EDUARDO JORGE MARTINS ALVES SOBRINHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/10

O apoio ao candidato Serra é uma escolha que leva em consideração a emergência ambiental e a consolidação democrática do nosso país

A bem-sucedida campanha do PV recebeu apoio extraordinário.
Isto significa responsabilidade extraordinária.
Vamos afastar logo dois péssimos hábitos políticos: a visão messiânica de que existe uma única opção capaz de "salvar" o país, que não pode se comprometer com qualquer outra força política, e o crônico fisiologismo de alguns, que só querem cargos nos governos. Quaisquer governos!
Superando essas armadilhas, chega-se nas opções cogitadas pelo PV: a independência e o apoio ao PT ou ao PSDB. É preciso ter em conta a novidade da proposta do PV. Ela vem para reformar tanto capitalismo quanto socialismo.
É preciso ter em conta que os dois partidos que disputam o segundo turno pertencem a uma mesma matriz, a social-democrata.
Vejamos, primeiro, a comparação independência versus apoio a um dos candidatos. Todas essas opções poderiam ser igualmente idealistas, programáticas e pragmáticas se bem conduzidas.
A independência significa apostar em um futuro mais ou menos remoto, em que a alternativa verde, continuando sua ascensão, se tornaria hegemônica na sociedade.
Hipótese que pode se verificar ou não. Escolher um candidato A ou B significa não adiar nossa influência no dia a dia do povo e dos problemas ambientais para um distante 2014, e sim exercê-la já.
Isso não significa que o PV está aceitando participar do futuro governo eleito. Poderíamos preferir ser oposição autônoma mesmo se nosso indicado fosse vitorioso. Isso é discussão para momento posterior. O importante é interferir já nos rumos do Brasil.
Quais seriam os parâmetros de escolha entre A ou B? Resposta à nossa plataforma. Empate. "Más companhias políticas".
Empate. Vou poupá-los dos exemplos. No constrangedor campeonato do "mais cristão". Empate. E vamos deixar Cristo fora disso, pois ele é inocente nesse teatro.
Economia. Empate. O governo Lula é continuação do de FHC.
Social. Empate. Tanto PT quanto PSDB têm bons exemplos e darão continuidade ao que vem sendo feito. Meio ambiente. PSDB é melhor.
As leis municipal e estadual de São Paulo sobre aquecimento global são muito avançadas; o PT, nesta questão essencial, reluta em superar visão antiga e reacionária.
Finalmente, o item democracia. A alternância de poder é benéfica para o país. O PT precisa voltar a ser oposição por um período. A cada eleição vêm se reforçando suas tendências a confundir o espaço estatal com interesses privados, corporativos, de filiados e afilhados.
Pior, existem dentro do PT pulsões autoritárias que se negam a aceitar o batismo da democracia e que não hesitarão em esmagar qualquer força que ameace sua hegemonia ideológica. O PV, por exemplo, será vítima preferencial.
Quem viver, verá. O fantasma da volta do "líder máximo" em 2014 dará poder desmedido a essas forças políticas. Um período de oposição fará bem ao PT e ao Brasil.
O momento é decisivo. O apoio ao candidato José Serra é escolha que leva em conta a emergência ambiental e a consolidação democrática do Brasil.



EDUARDO JORGE MARTINS ALVES SOBRINHO, 60, médico sanitarista, filiado ao PV, é secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo. Foi secretário municipal de Saúde de São Paulo nas gestões Luiza Erundina e Marta Suplicy.

MARCOS SÁ CORRÊA

O Brasil está muito aquém da Taprobana 
MARCOS SÁ CORRÊA
O GLOBO - 22/10/10
Dilmah. O nome é Dilmah. Dilmah com agá no fim.

Vem de Dilhan e Malik, filhos de Merrill J. Fernando, que também é pai do "primeiro chá realmente ético do planeta". O Dilmah tomou de assalto, neste segundo turno, as prateleiras da loja Duty Free de Puerto Iguazu.

Se fosse do lado de cá, pareceria mais um drible do governo na legislação eleitoral. Lá, pode ser só coincidência. Mas "o melhor shopping de fronteira do mundo" fica no quilômetro 1,6 da estrada que liga o Brasil à Argentina, providencialmente encaixado entre as duas aduanas. Nele os brasileiros que moram no Oeste do Paraná ou simplesmente passam pela região costumam fazer provisões de importados, antes de seguir viagem.

Logo, devem ter notado sua repentina proeminência.

Se compraram ou não o chá é questão de gosto.

Mas a embalagem do Dilmah, uma caixa colorida com 25 saquinhos de "rico, forte e encorpado English Breakfast Tea", vale em si cada centavo dos seis dólares que custa. Ela é suntuosamente ilustrada com fotografias coloridas de colinas verdes, montanhas azuladas, mulheres com cestas de palha nas costas colhendo folhas a mão e provadores perfilados ao ar livre diante de uma fileira de xícaras fumegantes.

Exibe também a cara do dono, num retrato autografado de Merril J. Fernando - que, por sinal, seria ainda mais parecido com outro Fernando, o nosso Fernando Henrique Cardoso, se não estivesse posando de avental. Ele dirige os negócios da família "com cuidado, orgulho e paixão", diz a legenda. "E isso não se compra." O Dilmah não é "ético" só por ser "o único chá comercializado internacionalmente que pertence aos plantadores".

Ou por ser "totalmente isento de manipulações genéticas".

Nem mesmo por reverter seus lucros em benefícios para "os trabalhadores, a comunidade & o futuro do empreendimento".

Isso é só o começo da conversa.

O importante é que ele serve de plataforma à ONG Dilmah Conservation, dedicada ao princípio de que "o meio ambiente e sua proteção são partes integrais do bem-estar humano". Ela surgiu em 2007, três anos depois do tsunami que lambeu a Ásia. E virou em pouco tempo o cerne da empresa, quando uma declaração ratificada por cem parceiros comerciais da família Fernando ao redor do mundo incluiu a questão ambiental entre os "Seis Pilares da Dilmah".

A firma banca a restauração de áreas devastadas, a mediação de conflitos tribais, a proteção de habitats marinhos e terrestres, além de programas específicos para tirar do miserê os elefantes asiáticos e mostrar aos desvalidos da espécie humana que, sem conversação, os projetos de combate à pobreza nunca saem do chão.

A página da Dilmah Conser vation na internet permite aos incrédulos acompanhar passo a passo a materialização dessas promessas.

Não é mais um estandarte eletrônico que as ONGs em geral penduram no ar e esquecem. Sua última notícia, sobre o reflorestamento de Batticaloa, data do dia 20 deste mês. É desta semana.

O Dilmah vem do Sri Lanka, que não é tigre asiático, Bric ou candidato a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. É aquele lugar que Luís de Camões chamou mais ou menos de fim do mundo, quando trombeteou no primeiro canto dos "Lusíadas" que os navegadores portugueses passaram "ainda além da Taprobana".

A Taprobana era lá. E é de lá que agora nos chega o recado de que, para escolher um chá que engolirão em poucos minutos, os consumidores já dispõem de informações que acabam de ser sonegadas aos brasileiros, para eleger um governo que engolirão, no mínimo, por quatro anos.

A embalagem do Dilmah vale em si cada centavo dos seis dólares que custa

MARCOS SÁ CORRÊA é jornalista.

GOSTOSA

WASHINGTON NOVAES

A escola, o emprego, a renda, a violência
Washington Novaes
O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/0/10



O Brasil tem vivido embalado, nos últimos tempos, pelas animadoras notícias de redução da miséria, da pobreza e do desemprego, graças às políticas sociais e econômicas dos últimos governos. Produzem um choque, por isso, as informações do Ipea e do IBGE (Estado, 12/10) de que entre agosto de 2004 e agosto último a taxa de desemprego dos 20% mais pobres da população (renda per capita domiciliar abaixo de R$ 203,3 mensais) aumentou de 20,7% para 26,27%. No mesmo período, a desocupação dos 20% de renda maior (acima de R$ 812,3 mensais) caiu de 4,04% para 1,4% - ou seja, caiu 67,9%. E as causas são claras, segundo Márcio Pochmann, do Ipea: dificuldades relacionadas com baixa escolaridade, num momento em que "a competição é por trabalhadores qualificados".

Só 41,8% dos desempregados mais pobres frequentaram 11 anos ou mais de escola, enquanto 86,1% dos ricos têm esse nível mais alto de escolaridade. E para agravar tudo, 76,7% dos desempregados mais pobres são negros. Tudo faz parte do mesmo quadro: nos últimos seis anos o número total de desempregados nas regiões metropolitanas caiu de 2,42 milhões para 1,6 milhão, mas o número de desempregados de baixa renda aumentou de 652,1 mil para 667,7 mil. Os 20% mais pobres são 41,72% dos desempregados nas seis regiões, enquanto os 20% mais ricos somam apenas 5,19%.

O quadro fica ainda mais preocupante quando se lembra que o quadro do emprego tem matizes dramáticos também quando se observam as faixas de idade. A taxa de crescimento de empregos formais no País foi de 4,5% no ano passado; mas entre jovens de 18 a 24 anos foi de apenas 2,6%; e na faixa de 16 a 17 anos, somente 1,5% (Folha de S.Paulo, 6/8). Tudo isso agrava o quadro que mostra (Estado, 12/8) uma taxa de desemprego de 17% entre jovens, embora haja outras fontes que cheguem a indicar mais de 50% na faixa dos 15 aos 24 anos.

É inevitável a lembrança das estatísticas do IBGE sobre a violência no País, apontando que jovens de 15 a 24 anos respondem por um quarto das mortes anuais no Brasil (27 mil de 106 mil) por "causas eternas" (homicídios, suicídios, acidentes do trabalho). E os homicídios respondem por 67,5% desse total. São muitos os especialistas que têm relacionado o desemprego nessa faixa com a violência: que se poderia esperar de um jovem pobre desempregado e de instrução limitada? Que espere pacientemente na porta de casa que a renda chegue? Ou irá buscá-la no tráfico de drogas, no assalto e em outras violências, transformando-se também em vítima? Mais grave ainda será se o jovem for negro - seu risco de morte violenta é 130% mais alto. "O principal fator da violência entre jovens é a renda", diz o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz (Estado, 31/3). "A concentração da renda está intimamente ligada aos homicídios juvenis", diz ele.

Como se quebrará esse círculo fechado de renda baixa, escolaridade precária, dificuldade no mercado de trabalho, risco de violência? Que se vai fazer quando, na escola primária, uma das tábuas de salvação apregoadas hoje é a presença de dois professores em cada sala de aula, prática já existente nas escolas públicas até das menores cidades do interior paulista na década de 40 - como a que foi frequentada pelo autor destas linhas? Quando se chegará à escola de tempo integral proclamada por Darcy Ribeiro na década de 70, para dar ensino em dois turnos, alimentação, assistência psicológica aos alunos, de forma a compensar as desigualdades para crianças mais pobres? Era uma política de renda também, ao reduzir as despesas na casa de crianças pobres. Como era política de geração de trabalho, ao dar melhor possibilidade de qualificação profissional.

Tudo isso volta ao centro da questão agora, quando o noticiário mostra com clareza o crescimento da demanda por mão de obra qualificada - e o aumento do desemprego na faixa de renda mais baixa. Registrou este jornal (21/9) que, em 2009, 32,8% dos jovens entre 18 e 24 anos abandonaram os estudos antes de completada a terceira série do ensino médio. A escolaridade média até 25 anos de idade é de apenas 5,8 anos (ante 12 anos na Coreia do Sul, 13,5 em Taiwan, 13,4 nos EUA). Apenas 39,2% dos jovens entre 15 e 17 anos estão matriculados no ensino médio no Nordeste, ante 39,1% no Norte e 60,5% no Sudeste. Como nos espantarmos, assim, que alguns estudos digam que 75% dos que passam até oito anos em escolas são "analfabetos funcionais", incapazes de interpretar um texto simples, de poucas linhas? Por que nos admirarmos diante das notícias de que trabalhadores chineses e de outros países asiáticos estão vindo disputar vagas no mercado brasileiro, e em setores de baixa remuneração?

Quando se passa ao ensino mais graduado - do qual dependerá o futuro próximo do País -, as preocupações não são menores. Em artigo neste jornal (22/9), o geógrafo Wanderley Messias da Costa, da Universidade de São Paulo, mostrou que apenas 24% dos 5 milhões de alunos no nível de graduação no País estão entre 18 e 24 anos. E 50% das vagas oferecidas em 2008 não foram preenchidas. A taxa média de evasão nos quatro anos de graduação é de 43%. A esmagadora maioria não conclui no prazo os cursos que frequenta. Grande parte leva até oito anos ou mais para completar o curso de quatro.

Vê-se, então, que o quadro é complicado e preocupante: a falta de qualificação leva ao aumento do desemprego nos setores de menor renda; mas o quadro permanece difícil mesmo quando as crianças desses setores conseguem chegar à escola. As taxas de evasão são muito altas, até na universidade. E o nível de formação, frequentemente precário. O mercado começa a ressentir-se da falta de qualificação da mão de obra ofertada. E são, todas, questões urgentes.

Há muito mais que aborto a ser discutido com a sociedade. Nossos fundamentos sociais estão em questão.