quarta-feira, outubro 13, 2010

MARCO ANTONIO VILLA

Tigre de papel
MARCO ANTONIO VILLA
Folha de S. Paulo - 13/10/2010

O PT NÃO gosta de ser atacado.
Na verdade, hostiliza quem o ataca. Tem enorme dificuldade de conviver com a crítica. Imagina ser o proprietário de um pensamento único, algo como o velho centralismo democrático leninista. Quem for contrário deve se calar. Seus dirigentes acabaram se acostumando com uma oposição pouco atuante. Que passou os últimos oito anos quase que em silêncio, temendo o debate, acreditando piamente nos índices de popularidade do presidente.
No início da campanha eleitoral o quadro se manteve inalterado. Lula foi desferindo na oposição golpes e mais golpes. Não encontrou respostas à altura. Dedicando-se plenamente à campanha -que é o que efetivamente gosta- fez política 24 horas por dia. Transformou o Palácio da Alvorada no comitê central da candidatura Dilma. Não temeu alguma reprimenda do TSE, pois sabe com quem está lidando. Abandonou a rotina administrativa e concentrou-se na campanha. Desferiu ataques aos adversários como se fosse um líder partidário e não um chefe de Estado.
A oposição assistiu a tudo sem saber bem o que fazer. Temia enfrentar o rolo compressor do PT.
Quando, finalmente, resolveu partir para o embate, viu que o adversário era um tigre de papel. O eleitorado estava aguardando alguma reação. E o resultado de 3 de outubro não deixou dúvida: a maioria estava com a oposição, claro que em um universo dos mais diferentes matizes.
A derrota do primeiro turno transtornou os dirigentes do oficialismo. Consideravam a eleição ganha. Tinham até preparado a festa da vitória. Imputaram a culpa à oposição, que tinha denunciado escândalos, e mostrado as vacilações e contradições da candidata oficial. Era o mínimo que a oposição poderia fazer, mas para o PT foi considerado algo intolerável.
Agora chegamos à etapa final da campanha. Dilma jogou fora o figurino utilizado nos últimos meses. No debate da Band assumiu uma postura agressiva e que deve manter até o dia 31. A empáfia foi substituída pelas ameaças. O arsenal foi acrescido de armas já usadas em 2006, como a privatização. Sinal de desespero, pois o cenário é distinto e os personagens também. E deve fracassar.
Dilma está numa encruzilhada. A popularidade de Lula já foi transferida. Seus principais aliados regionais foram eleitos e dificilmente farão sua campanha com o mesmo empenho do primeiro turno. O PMDB não assimilou as derrotas do Rio Grande do Sul, da Bahia e, principalmente, de Minas Gerais. E, numa eleição solteira, o embate será de biografias.

MARCO ANTONIO VILLA é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

SERRA PRESIDENTE

ROBERTO DaMATTA

Entre uns e outros

Roberto DaMatta
O Estado de S. Paulo - 13/10/2010

Se um processo eleitoral democrático não conduzir a alguma crise, é sinal de que essa tão execrada democracia liberal - baseada na disputa, legitimada por normas, arbitrada pelos tribunais, e conduzida pelo bom senso dos eleitores -, vai mal. Só não há crise quando o poder político é indisputável (como quer Lula e asseclas) e quando o futuro das eleições é não apenas previsto, mas (como ocorreu com no primeiro turno) tem um caráter plebiscitário (que os radicais tanto amam) e são favas contadas! Para muitos, hoje caindo de maduros de obsolescência mental e ideológica, o ideal seria haver eleições para porteiro de prédio, fiscal de bairro, bordel e biblioteca escolar, jamais para cargos da alta administração pública, vocacionada para ser o corretor moral do mundo. Se o processo espelhar o final da tal "luta de classes", que foi teorizada antes da internet e da globalização e de uma China comunista-capitalista jamais prevista pela teoria do despotismo oriental, tanto melhor. Nesse caso, calaríamos a mídia e, esquecidos de burgueses reacionários como Thomas Jefferson, que preferia jornais sem governo a um governo sem jornais, realizaríamos o sonho arcaico de chegar a uma sociedade "resolvida". Ou seja: a um corpo social cadavérico e pútrido: sem problemas ou movimento. Morto e enterrado como o Brás Cubas que eu, jovem, aprendi com os meus professores de esquerda, ser um personagem de um autor reacionário que seguia algum, vejam o erro crasso, modelito europeu. Como se a nossa esquerda tivesse sido capaz de inventar alguma teoria que fosse além da inacreditável dialética entre infra e superestrutura. Ai, que preguiça...

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Eleição é dúvida, aposta, crise. Dá pena ver o comissariado petista convocando aliados que se odeiam para agradar ao dono da bola porque ele meteu na cabeça que não pode perder. Do mesmo modo, dá pena ver a inflação do PV por meio da performance de Marina Silva que, sozinha, fez mais em alguns meses do que o partido em décadas. Tudo para esconder um Lula feito de guerra e ódio e uma dimensão que, na minha humilde cabeça, também explica os votos dados a Marina: o protesto do eleitor que não queria votar em Dilma e não podia votar em Serra porque ele se afogava no seu próprio racionalismo e falava melhor e mais de Lula do que de FHC, cujo governo promoveu a entrada no Brasil neste mundo indigno de competição, mercado, telefonia para todos, internet, venda de bancos estatais podres, crédito farto porque a moeda é - depois de décadas - estável e forte, disciplina fiscal, reformulação da Previdência, bolsas para os carentes e, acima de tudo, um governo no qual o presidente tinha noção de limites. Sabia o significado profundo do cargo que ocupava e o honrava com todas as letras. Procurava, mesmo na esfera escorregadia da política, manter distância, embora fosse alvo de agressões incivilizadas da oposição petista. Um presidente que, mesmo diante de um movimento como o "fora FHC", e a dessacralização de um de seus lares, invadido pelo MST, jamais desejou o fim dos seus oponentes ou externou (como o democrático Brizola) o desejo de fuzilar algum adversário. Tal como os jornais com os quais colaboro, jamais deram qualquer palpite sobre o que escrevo. Esse é o legado de liberdade e equanimidade de FHC que não tem nenhum exemplo no autoritarismo petista e que deve ser revelado por Serra com todas as letras. A estigmatizada e hoje oportunisticamente esquecida "herança maldita" que, como disse Alberto Goldman na base do doa a quem doer, permeia todo o governo Lula, um governo que ficou tanto melhor quanto mais aprofundou essa maldição liberal.

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Todo mundo sabe que inteligência, burrice, ignorância, desonestidade ou intolerância não são suficientes. O mundo é mundo justamente porque os mais talentosos (que tem mais competência e história política) podem ser vencidos pelos Tommys: os bonecos do grande Gabo. Aquele ventríloquo genial (mas um tanto louco) da história de Ben Hetch. É preciso transformar qualidades (ou defeitos) em narrativas: em dramas que liguem o candidato ao papel que ele desempenha em cada fase do momento eleitoral. Eleger alguém é entrar de cabeça no fetichismo. É preciso passar de pessoa a ídolo. Agora, ninguém pode ser o ídolo da chuva num país que acabou de viver um dilúvio; nem ídolo da castidade no país do carnaval; nem ídolo do estatismo num país obviamente cansado de tanta promessa estatizante, e de tanto órgão oficial que tudo faz pelos seus filhos e partidários e nada realiza para cidadãos.

Se você, entretanto, inventa um ídolo que fale de eficiência administrativa, que denuncie o ??familismo deslavado de um governo que se diz ideológico e que assim é na sua visão estratégica da vida e do mundo, um governo compadre de déspotas e caudilhos, então você pode conseguir uma multidão de velas, e votos.

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Uma ponderação final. Se dona Marina e a cúpula do PV (ou seria um novo comissariado?) pensa que deve tirar o corpo fora, sugiro que ela leia o que o Lula disse sobre o bagre (isso mesmo, o peixe!) como um obstáculo para um gigantesco projeto de construção de hidroelétricas caríssimas e destrutivas da natureza no Brasil, nos mais belos moldes stalinistas. Entrementes, Mario Vargas Llosa recebe - e já era tempo - um Nobel que muito me deixa feliz, enquanto nós ficamos discutindo se é bom ou ruim ter uma, duas ou quatro caras para ganhar votos.

A FÉ DA CABEÇA OCA

ROLF KUNTZ

A virtude castigada
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo - 13/10/2010

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, alertou para a deterioração das contas externas de vários países emergentes e em desenvolvimento, durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), na semana passada. O alerta foi parte de sua pregação contra a desordem no sistema internacional de câmbio, por ele descrita como guerra cambial. Há quem discorde da palavra guerra, mas o ministro, como observou o financista George Soros, não está longe da verdade. Há pelo menos um começo de hostilidades. Os mais prejudicados, até agora, são países sem a mínima responsabilidade pela crise global, como o Brasil, a Colômbia e outros sul-americanos.

O pouco dinamismo da economia global tem dependido dos emergentes. Os latino-americanos têm feito a sua parte. Seu crescimento em 2010 está estimado em 5,7%, mais que o dobro da expansão calculada para os países mais desenvolvidos, 2,7%. O descompasso entre as economias tem-se refletido nas contas externas. As importações dos países mais prósperos têm aumentado mais velozmente que suas exportações. No caso do Brasil, isso já ocorreu nos meses finais de 2007 e ao longo de 2008. O superávit comercial encolheu e, em seguida, o superávit nas transações correntes converteu-se num buraco.

A piora das contas externas ocorreu na maior parte das economias latino-americanas. No caso da América do Sul, o déficit em transações correntes, estimado em 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, deve chegar a 1,4% no próximo ano. Os números ainda não são alarmantes, mas a tendência é perigosa. No caso do Brasil, o cenário é mais feio. O buraco na conta corrente deve ficar em 2,6% do PIB em 2010 e crescer para 3% em 2011, segundo as contas do FMI.

Essa mudança é atribuível a vários fatores. O primeiro é a diferença entre as taxas de crescimento econômico dos latino-americanos e dos países mais desenvolvidos. O mercado está mais estreito no mundo rico e a competição é mais dura. Em contrapartida, a relativa prosperidade dos emergentes e em desenvolvimento amplia sua demanda de importações. Isso é especialmente sensível em países - como o Brasil - onde o aumento de renda dos trabalhadores e a expansão do crédito elevaram o consumo. Cerca de dois terços das importações brasileiras são de bens de consumo e de bens intermediários (destinados, na maior parte, a produtos para o consumidor).

O segundo fator é a valorização cambial. Os emergentes passaram pela crise sem estragos notáveis. Quase todos foram afetados, de alguma forma, pela turbulência internacional, mas seu desempenho foi bem melhor que o dos países mais avançados e dos ex-socialistas da Europa Oriental. Essa menor vulnerabilidade é facilmente explicável: resultou principalmente dos ajustes promovidos nos anos 80 e 90. Os velhos críticos das políticas de estabilização parecem não haver notado esse detalhe. Além do mais, o setor bancário desses países foi pouco afetado pelo estouro da bolha imobiliária. No caso do Brasil, os padrões de segurança adotados a partir dos anos 90 funcionaram como um cinto de castidade para as instituições financeiras.

Todos esses fatores bastariam para atrair capitais. No caso do Brasil, o tamanho da economia, seu impulso de crescimento e os juros elevados funcionaram como atrativos irresistíveis. A política monetária frouxa no mundo rico, particularmente nos Estados Unidos, tem produzido uma inundação nos mercados monetários. O problema tende a agravar-se, porque o banco central americano continuará comprando títulos públicos em circulação, na tentativa de estimular o crédito. Isso realimentará o fluxo de capitais para o mundo emergente.

Essa dinheirama jogada no Brasil e em vários outros países tem reforçado a valorização do real e de várias moedas, tornando os produtos desses países mais caros que os estrangeiros e, portanto, menos competitivos. A China tem escapado desse problema, graças à manipulação cambial. Condições políticas e econômicas diferenciadas permitem ao governo chinês esse tipo de política. Como consequência, o maior país superavitário contribui bem menos do que poderia para o reequilíbrio global, enquanto os Estados Unidos espalham dólares pelo mundo.

Nenhum país pode resolver esse problema isoladamente, mas não há sinal de esforço coordenado. O governo brasileiro vem tentando soluções unilaterais, como a tributação de capitais especulativos. Ações desse tipo tendem a perder a eficácia em pouco tempo. Seria mais seguro reduzir os juros, mas para isso seria necessário conter a expansão do gasto público. Seria possível, também, eliminar vários fatores prejudiciais à competitividade, todos bem conhecidos, a começar pela tributação de baixa qualidade. Quem pode apostar em qualquer dessas iniciativas?

RUY CASTRO

Caras
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/10/10


RIO DE JANEIRO - A foto está na Folha de segunda-feira: o jovem eleitor se abraça a Dilma Rousseff, cola o rosto ao dela e, com o celular na mão direita, imortaliza seu encontro com a candidata de sua predileção. O garoto tem uma expressão nirvânica, de quem guardará aquele momento para o resto da vida. A candidata, ao contrário, parece estar no piloto automático ou pensando na morte da bezerra -pela expressão levemente aporrinhada, dá a entender que apenas se submete a um ritual inevitável.
E deve ser isso mesmo. Numa estimativa conservadora, cenas como aquela se repetem pelo menos cem vezes por dia para Dilma. Os políticos de verdade estão habituados -não apenas fingem ter prazer nesse rela-rela como fazem cada eleitor se achar especial. É uma arte. Mas Dilma não é política, não tem a manha. Ao se deixar fotografar com um bebê de colo, parece temer que o fedelho lhe faça xixi no terno.
No debate de domingo, pela Band, ela e seu adversário José Serra mimosearam-se com acusações que, até que enfim, começam a tirar a disputa da quase letal catalepsia que a tem caracterizado. (Eu próprio, ao assistir ao debate anterior, último do primeiro turno, entrei num estado próximo do "rigor mortis".) Não que tais acusações produzam resultado -como nenhuma delas é desmentida e todas soam como verdadeiras, acabam se cancelando umas às outras.
Desta vez, Serra acusou Dilma de ter "duas caras", referindo-se a suas opiniões sobre aborto, religião etc., que variam de acordo com o vento. Dilma devolveu o insulto, só que multiplicado: pelo mesmo motivo, Serra seria um homem de "mil caras" -nenhuma alusão ao astro do cinema mudo americano Lon Chaney, de quem ela nunca deve ter ouvido falar.
As acusações são injustas. Se Dilma tivesse duas caras, e Serra, mil, por que usariam as que ostentam em público?

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Escambo 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 13/10/2010 

Se Dilma vencer, poucos no mercado financeiro têm dúvidas: Guido Mantega continuará ministro da Fazenda.
Há também grandes chances de Aloizio Mercadante assumir a Petrobrás. Prêmio de Lula por ele ter se "sacrificado" na disputa por São Paulo.


Vida imita a vida
German Efromovich teve seu dia de comandante Rolim. O empresário colombiano destacou tíquetes de embarque à porta do avião que levou os convidados de João Doria, do Lide, a Cartagena, no sábado pela manhã. Depois, já dentro da aeronave, o "aeromoço" fez a devida checagem dos cintos de segurança dos passageiros do voo fretado.

Bem gera o bem
Também no voo, Doria liderou um bingo patrocinado pela Agaxtur. Quem venceu? Marcos Arbaitman, dono da concorrente Maringá, que elegantemente doou seu prêmio - uma viagem completa - para Bia Corrêa da Fonseca. Que ganhou o segundo bingo, oferecendo duas caixas de vinho pela cartela completada a... Arbaitman.

Concentração
Marta deve ser anunciada nos próximos dias como jogadora do Santos para o Mundialito Interclubes de 2011. Falta só assinar o contrato.

Não perturbe
Equipes do Samu têm enfrentado difícil situação com moradores de rua de São Paulo. São frequentes as tentativas de agressão contra os atendentes que tentam prestar socorro.
Deve ser por isso que, ao receber uma ocorrência por telefone, os funcionários do 192 fazem diversas perguntas ao interlocutor procurando saber se o paciente é um morador de rua.

Planilha
O Brasil não trouxe o caneco da África do Sul mas quem esteve por lá aprovou o passeio. Levantamento da Top Service mostra que 46% dos turistas acharam a viagem excelente, 29% muito boa, 13% boa, 7% não responderam, 4% razoável e 1% ruim. Feliz o Brasil se repetir esses índices.

Largada
Carlo Gancia, representante da Indy no Brasil, refez as contas. Ampliará a arquibancada da prova, dia 1º de maio, no Sambódromo de SP, de 48 mil para 100 mil lugares. Havia planejando 70 mil assentos.

Guerrilha
Mesmo com uma distribuição planejada de Tropa de Elite 2, as salas que exibem o filme em São Paulo não foram suficientes para dar conta do público durante o feriadão.
Quem quis assistir a performance do Capitão Nascimento teve que se programar com antecedência para conseguir um ingresso.

A linha e o linho
Hebe terá mais um participante de peso no seu show, dia 27, no Credicard Hall: Gilberto Gil. Qual música? Será definida até o fim de semana.

Cesta básica
Sai nos próximos dias a premiação do Clube dos 13 para os times do Brasileirão. Qualquer valor abaixo de R$ 25 milhões causará decepção entre os cartolas.

Ah, coitado
Os urubus da Bienal ganharam voto de solidariedade. Dilma fez um bico caído ao passar pela gaiola vazia, no domingo. Algo como "estou com pena" das aves que estiveram trancafiadas.

Braços
Está abrindo escritório em São Paulo, a Samsung Techwin. O braço da multinacional desenvolve tecnologia para tanques de guerra, turbinas aéreas e câmeras de segurança.

Braços 2
A belga Christeyns, de produtos químicos para lavanderias, também abrirá escritório aqui.

Expectativa
Mesmo durante suas férias, Marisa Monte não parou de trabalhar. Anda gravando novas composições no estúdio de casa.

Na frente

Eros Grau deixa seu refúgio em Paris e faz palestra no Congresso de Advogados Trabalhistas. Dia 23, em Itu.

Jovelino Mineiro pilota seu tradicional leilão de gado, domingo, em Rancharia, SP.

A Chapel School abre mostra de artes em homenagem a Luiz Paulo Baravelli. A renda será revertida para obras assistenciais. Amanhã.

Mariangela Bordon completa hoje um ano de comentários na Rádio Eldorado.
Vanessa da Mata lança o CD Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias. Com direito a bate-papo. Na Saraiva do Shopping Morumbi. Hoje.

Belle & Sebastian se apresenta no Via Funchal. Dia 10.

Juscelino Pereira acaba de receber um lote de tartufo branco em seu Piselli. A temporada dura até o próximo fim de semana.

Marcia Pastore abre exposição individual no Estúdio Buck. Amanhã.

A SP Boat Show começa amanhã. Uma das atrações é a Phanton 500 HT, nova lancha de Felipe Massa. No Transamérica Expo Center.

Quem viu, percebeu. Supla parece estar com mais cabelo para arrepiar.

DORA KRAMER

Buraco é mais em cima
Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 13/10/10



Pesquisa do Datafolha mostrou a quase irrelevância da questão do aborto sobre o comportamento do público em geral na hora de votar.

Pode ter tido importância crucial no voto pautado pelas igrejas, mas no eleitorado como um todo o que pesou mesmo foi o caso Erenice Guerra e o que o episódio invoca em matéria de escândalos nos últimos anos.

Segundo o instituto, três em cada quatro pessoas deixaram de votar na candidata do PT por causa das denúncias de tráfico de influência na Casa Civil e apenas uma em cada quatro teria sido influenciada pela religião.

De onde, duas conclusões: primeira, perdeu-se tempo com o assunto errado; segunda, o apreço à moralidade pública não é uma ligeireza das elites bem informadas nem uma manifestação tardia de "moralismo udenista", mas é um dos tópicos importantes na escala de valores do País.

Em tese, portanto, para a campanha de Dilma Rousseff seria melhor que a discussão ficasse no campo religioso do que se estendesse para o terreno da ética e dos bons costumes.

Isso na teoria e no cenário referente ao primeiro turno. A importância dada ao tema do aborto fez com que na campanha do segundo turno ele assumisse a posição de destaque que não teve ao longo da primeira etapa.

E, por paradoxal que pareça, justamente por causa das análises que equivocadamente atribuíam ao aborto a transferência de uma boa parcela de votos de Dilma para Marina Silva.

Isso fez com que o debate saísse do âmbito das igrejas e do subterrâneo difamatório da internet e sentasse praça ao centro da campanha, ao ponto de a candidata do PT ter escolhido enfrentar o tema de forma "assertiva" já no primeiro embate mano a mano com o adversário.

O assunto saiu da clandestinidade. Ontem, dia da Padroeira do Brasil, distribuíram-se panfletos em missa campal de Contagem (MG) e do lado de fora da Basílica de Aparecida recomendando votos apenas em candidatos contrários à descriminalização do aborto.

Não eram apócrifos nem se dirigiam a Dilma ou a Serra: estavam assinados pela Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e se referiam a uma posição bem especificada.

Um problema que a campanha do PT não resolve acusando o PSDB de caluniador nem chamando de retrógrados e medievais os brasileiros e brasileiras contrários - por razão religiosa ou não - à descriminalização do aborto.

Papel da crítica. O resultado do primeiro turno da eleição presidencial encerrou várias lições, várias amplamente comentadas nos últimos 10 dias. Uma, porém, não recebeu ainda o merecido destaque: o desmentido da tese defendida até por setores da oposição de que o contraditório era mercadoria em extinção.

Algo se move. Na próxima eleição é bem possível que os marqueteiros já não tenham mais tanto poder. Poder, aliás, distorcido, pois pressupõe a substituição da política pela propaganda.

O que indica essa tendência? As reclamações nas hostes tucanas e petistas e a exigência - apoiada por eleitores de parte a parte - de que Dilma seja "mais Dilma" e Serra "mais Serra".

Rumo. Passada a eleição presidencial o DEM abrirá discussões internas a respeito do destino do partido, notadamente no que tange à sua direção. A aposta "jovem" de entregar a legenda nas mãos dos herdeiros de maduros líderes, não deu certo.

Os experientes preferem esperar o resultado da eleição porque a correlação interna de forças se altera dependendo do presidente eleito.

Troféu. A piada entre tucanos é que Aécio Neves adorou a multa que recebeu por propaganda antecipada em favor do candidato do partido: só assim pode apresentar prova material do engajamento pró-Serra.

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Uma "nova" Dilma em cena
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 13/10/10



A pesquisa de intenção de voto do Datafolha indicou que José Serra conseguiu reduzir para 8 pontos a vantagem de 15 com que Dilma Rousseff vencera o primeiro turno. Foi o suficiente para disseminar o pânico nas hostes petistas. O que é compreensível, considerando que desde o mais anônimo militante até o chefão Lula, todos os apoiadores da candidata oficial davam a fatura eleitoral como liquidada e alardeavam que 3 de outubro representaria apenas a formalidade de homologação de uma retumbante vitória.

Os efeitos dessa reversão de expectativa se tornaram evidentes já no primeiro debate do segundo turno, promovido pela Rede Bandeirantes. Logo em sua primeira intervenção Dilma partiu para o ataque aberto, violento, acusando Serra, sua esposa e os tucanos de modo geral de serem os responsáveis pela campanha caluniosa movida contra ela na internet. Colocou-se assim a escolhida de Lula na posição em que ele próprio, o chefe, sempre soube se instalar com muita competência, nos momentos de aperto: a da pobre vítima que jamais ataca, como é próprio dos malvados - nada disso, apenas exerce o direito de legítima defesa. Com a vantagem adicional de demonstrar que é uma mulher capaz de assumir atitudes firmes, corajosas.

Quanto a essa questão da "firmeza", que quando fora de controle, como a própria Dilma demonstrou na ocasião, descamba para a rispidez, o debate não revelou nada de novo. Dilma Rousseff sempre foi conhecida como pessoa rude e de difícil trato, especialmente com subordinados. Se a resposta não fosse evidente, seria até o caso de perguntar: se é para voltar a ser como sempre foi, por que então mudou durante o primeiro turno, fazendo o gênero "paz e amor"?

Já no que se refere às baixarias que rolam na internet, a ex-favorita absoluta à sucessão presidencial tem todo o direito de reclamar, mas é preciso colocar essa questão nos devidos termos. Em primeiro lugar, o óbvio: ataques caluniosos são desferidos de todos os lados e contra todos os candidatos e obedecem à tendência natural de se tornarem mais pesados com a polarização da campanha eleitoral. Embora em alguma medida essas baixarias possam ser manipuladas, quando não inspiradas, pelo comando das campanhas - nesse assunto certamente não se pode colocar a mão no fogo por ninguém -, é claro que a maior parte desse comportamento condenável corre por conta de uma militância incontrolável composta por indivíduos ou grupos que usam a enorme sensação de poder que lhes confere a web para fazer a catarse de suas frustrações. É o tributo que se paga às inconsistências da democracia que ainda persistem no País. Além disso, Dilma conhece o PT há tempo suficiente para saber que o ataque como melhor defesa, e sem nenhum escrúpulo, sempre foi a tática preferencial, uma autêntica marca registrada de seu atual partido - em períodos eleitorais ou fora deles.

Ademais, ainda, é risível a tentativa da candidata petista de incluir no balaio das calúnias de que se diz vítima fatos de domínio público sobre os quais não paira a menor dúvida, como o amplo noticiário sobre o tráfico de influência que a família de sua protegida Erenice Guerra promoveu a partir do Palácio do Planalto, ou sobre seu constrangido vaivém na questão do aborto.

O desempenho de Dilma Rousseff no primeiro debate do segundo turno e nos dias subsequentes deixa clara a guinada tática na campanha petista: Dilminha-paz-e-amor virou a vítima indignada de boatos, calúnias e difamação. Indignada, mas não "agressiva". Apenas "firme". Na segunda-feira, na cidade-satélite de Ceilândia, Lula e sua candidata inauguraram o primeiro palanque do segundo turno e a "nova" Dilma mostrou ter assimilado as novas instruções: "Meu adversário faz uma campanha baseada no ódio, na boataria, na calúnia, na mentira e na falsidade. Ele não acusa de frente, olho no olho, não faz a disputa justa, leal e verdadeira."

Já o chefão não perdeu a oportunidade para mais uma demonstração de suas inexcedíveis soberba e megalomania: "Eu poderia ter escolhido um deputado, um senador, um governador. Por que a Dilma? (...) A Dilma vai começar a redenção das mulheres no Brasil e no mundo (sic)." Agora é a vez de o eleitor escolher.

MERVAL PEREIRA


Estancar a sangria 
Merval Pereira
O GLOBO - 13/10/10

O tom mais agressivo da candidata oficial Dilma Rousseff no primeiro debate do segundo turno e nas entrevistas que vem dando pode ser explicado pela constatação de que ela vem perdendo votos desde as últimas semanas de campanha e continuava perdendo no início do segundo turno

O empresário e consultor Paulo Milet utilizou três conjuntos de informações das pesquisas Datafolha para chegar a essa conclusão: a última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado, dia 9, uma semana depois do primeiro turno; uma pesquisa anterior, divulgada no sábado, dia 2, véspera das eleições, sobre o segundo turno, além do resultado oficial apurado.

Na comparação da pesquisa atual com a pesquisa anterior do primeiro turno, em votos totais, com os votos de Marina Silva indo para um dos dois candidatos ou para os indecisos, temos o seguinte resultado: a candidata petista cresce 1 ponto, de 47% para 48%, e o candidato Serra cresce 12 pontos, de 29% para 41%.

Dos 16% de Marina, portanto, 3 pontos vão para os indecisos. Por regiões, a situação fica a seguinte: no Sudeste, Dilma permanece igual, com 41%, e Serra cresce 13 pontos, de 31% para 44%, indo 6 pontos de Marina para os indecisos.

Na região Sul, Dilma cresceu 3 pontos, indo de 40% para 43%, e Serra cresce 10 pontos, de 38% para 48%, com os 13% de Marina na região distribuídos para os dois candidatos.

No Nordeste, Dilma cresceu 1 ponto, de 61% para 62%, e Serra cresceu 12 pontos, de 19% para 31%, com os 12% de Marina indo para os dois candidatos, e 1 ponto dos indecisos indo para um dos dois.

No Norte/Centro-Oeste, Dilma permaneceu no mesmo, com 41% dos votos, e Serra cresceu 13 pontos, de 31% para 44%. A candidata Marina Silva teve nessa região 18% dos votos, o que significa que 5% foram para os indecisos.

Sua conclusão é lógica: se pelo Datafolha Serra recebeu 51% dos 16% dos votos totais de Marina (pouco mais de 8%) e cresceu mais do que isso, quer dizer que Serra continuou tirando efetivamente votos de Dilma ou dos indecisos nessa primeira semana pós-eleições, inclusive na Região Nordeste.

Nos votos válidos, Serra cresceu 15 pontos, e Dilma, 4 pontos, perfazendo o total de 19% de Marina Silva.

Na comparação da pesquisa atual com a pesquisa anterior para o segundo turno, vemos o que mudou em uma semana. Dos votos totais, Dilma caiu 4 pontos, de 52% para 48%, e Serra cresceu 1 ponto, indo de 40 para 41%.

Já nos votos válidos, Dilma caiu 2,5% - de 56,5% para 54% - , e Serra cresceu 2,5%, de 43,5% para 46%. Pelos votos válidos, 2,5 milhões de eleitores que estavam dispostos a votar em Dilma no segundo turno viraram para Serra em uma semana.

Comparando a pesquisa atual com os resultados oficiais, chega-se à conclusão de que nos votos totais Dilma cresceu 5,2 pontos, de 42, 8 % para 48%, e Serra, 11,2 pontos, indo de 29,8% para 41%.

Como Marina obteve 18,6% dos votos totais, quer dizer que 2,2 pontos foram para os indecisos.

Já nos votos válidos, Dilma cresceu 7 pontos, de 47% para 54%, e Serra, 13 pontos, indo de 33% para 46%. Marina teve 20% de votos válidos, que foram divididos entre os dois candidatos finalistas.

Tudo indica, portanto, que a queda progressiva de Dilma nas duas semanas anteriores à eleição continuou na semana pós-eleição.

A diferença de Dilma para Serra está encurtando, e por isso a candidata oficial tentou estancar suas perdas com a atitude mais agressiva no debate da TV Bandeirantes.

Existem indecisos e ausentes que podem decidir a eleição. A equipe da PUC do Rio, coordenada pelo cientista político Cesar Romero Jacob, chegou à conclusão de que "uma das principais causas que levaram as eleições para o segundo turno" foi o alto grau de abstenção, votos em branco e nulos, nas Regiões Norte, Nordeste e norte de Minas, áreas onde a candidata Dilma Roussef obteve suas mais altas votações.

Pelo mapa da distribuição dos votos pelo país, que os especialistas da PUC finalizaram neste fim de semana, pode-se observar que o "não voto" chegou mesmo a representar 45% do total de eleitores em algumas microrregiões do Amazonas, do Maranhão, do Ceará e de Minas Gerais.

Em outras regiões, os números variaram entre 14,8% e 36,8%, sendo que as regiões Sul e Sudeste foram as que tiveram os índices mais baixos.

A análise registrada aqui do cientista político Cesar Romero Jacob sobre a falta de estrutura política de Marina Silva para firmarse como uma líder nacional com vistas a futuras eleições foi contestada por vários leitores, entre os quais destaco dois.

O cientista político Nelson Paes Leme acha que a agenda ambiental da candidata verde tende a se aprofundar nas próximas eleições.

Lembrando o filósofo contemporâneo inglês John Gray, ele destaca o caráter ilusório daquilo que consideramos "progresso".

Paes Leme diz que esse é "o tema do século que apenas desponta. Quem sabe do Milênio. Ainda em 2012 teremos no Rio a Rio Mais Vinte, em cima das eleições municipais".

Para ele, o eleitorado de Marina nos grandes centros, escolarizado e mais bem informado do que nos rincões onde ela teve inexpressiva votação, certamente levou essa agenda e essas perplexidades em consideração ao sufragar seu nome com quase 20 milhões de votos. "E a tendência é ela voltar muito mais forte nas próximas eleições." Já o leitor Marcelo Paes de Oliveira discorda do paralelo feito pelo deputado federal eleito do Partido Verde Alfredo Sirkis entre a fraca votação do PV nesta eleição e a do PT na eleição de 1989, argumentando que os votos dela (Marina) "foram muito além das fronteiras deste partido".

SERRA PRESIDENTE

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Mulher Melancia lambe!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/10/10


E manda avisar para Nossa Senhora de Aparecida que a verdadeira padroeira do Brasil é a ladroeira. Rarará!



BUEMBA! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Segundo turno com Dilma e Serra não é dia 31 de outubro, é ONZE DE SETEMBRO!
E mais denúncias: em pleno Dia da Criança, Dilma declara que não existe a fadinha do dente! E com medo de perder votos entre as peruas da classe A, Serra desmente ser contra o botox! Rarará!
E essa: "Mulher Melancia passa doce de leite no Sergio Abreu e LAMBE". Ueba! Enquanto os babacas discutem religião, a Mulher Melancia lambe. Eu quero votar na Mulher Melancia. Eu quero votar em gente que lambe! Em gente humana!
E de tanto falar em aborto, essa eleição tá um parto. E como disse um amigo meu: "Só vejo bispo nesse tabuleiro das eleições". E quem não é batizado pode votar? Pode, mas não deve. Rarará!
E eles não vão falar de padre pedófilo e pastor que esconde dólar na Bíblia? E católico é o Roriz, que tudo que faz leva um terço! Rarará!
Daqui a pouco Dilma e Serra vão lançar a dieta do papa: ninguém come ninguém! Daqui a pouco eles vão aparecer na televisão dizendo: "Nós somos contra o fio dental e a cueca Calvin Klein!". Rarará!
E o Serra Vampiro Anêmico? Ele está desafiando a lei do vampirismo: "José Serra beija terço durante carreata em Goiânia". E queima a boca! Rarará! Vai ficar de beiço duro de tanto beijar terço! O Serra já beijou coisa melhor no passado! Ou pior, depende do ponto de vista.
Ele tá parecendo o Salazar. Aquele ditador português carola que vivia cercado de beatas! O Beijoqueiro de Terço! E a Dilma Rouchefe? Caloura de basílica! A primeira vez que pisou em Aparecida: "Ah, isso que é uma basílica? Pensei que fosse uma padaria". Rarará! Por isso que eu quero a Mulher Melancia que lambe. "A Fazenda 3" é o oposto desse segundo turno. É o Brasil Verdade!
E eu tava assistindo o Dia da Criança no "SPTV" quando apareceu um mímico chamado Carlos Calado. Mais um predestinado! Nesse caso por falta de alternativa!
E diz que um padre foi se confessar com outro padre: "Padre, já faz anos que eu comunguei". "Não tem problemas, irmão." "Padre, o senhor não entendeu, há anos que eu COMO UM GAY." Rarará!
E avisa pra Nossa Senhora de Aparecida que a padroeira do Brasil é a ladroeira. Tem duas ladroeiras: a Erenice e o Rouboanel de São Paulo! Rarará! Deus! Ó Deus! Adeus!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MARGRIT SCHMIDT

Truculência versus dispersão
Margrit Schmidt
JORNAL DE BRASÍLIA - 13/10/10

O destempero da candidata no debate e no programa eleitoral do dia seguinte foi explicado das mais variadas formas por fontes da campanha petista: conselho de Lula para estancar a queda nas intenções de votos; motivar a militância, deprimida depois da vitória, que virou derrota; dedo de Ciro Gomes e de Zé Dirceu, que já estariam mandando mais do que João Santana, o marqueteiro, mas ainda menos do que Lula, o verdadeiro e único, e assim por diante. Explicações vãs. Apenas tentativas de esconder o rabo do animal, cuja ponta já aparece na barra da calça. Esgotados os outros truques, menos virulentos, a campanha de Dilma agora vai aliar à delinquência eleitoral, usada no primeiro turno, à truculência pura e simples. Quando não for a Dilma truculenta, será o Lula supermegatruculento a ameaçar os adversários, tentando imprimir um contexto de instabilidade e terror.

As razões para uma ação tática tão drástica e que provoca tantas controvérsias e tantas tergiversações, como gostaria a candidata Dilma, podem ser encontradas na última pesquisa Datafolha e outros levantamentos das campanhas regionais não publicados. Dilma está na frente sete pontos em relação a José Serra, então o que explica a fúria? A primeira pesquisa Datafolha, apesar da dianteira, foi uma ducha fria nos aliados da petista. Mostrou um quadro em que, embora esteja na frente numericamente, Dilma aparece atrás do tucano José Serra em todas as regiões do País, com exceção do Nordeste, onde seu melhor desempenho migrou das grandes cidades para os grotões dependentes do Programa Bolsa Família.

É possível afirmar que, se a eleição fosse hoje, Dilma já perderia. Com 30% do eleitorado nacional, o Nordeste, na verdade, é uma tremenda incógnita para a candidata petista. No Nordeste estão, por exemplo, os maiores índices de abstenção do País e, no segundo turno, Dilma não contará com o rolo compressor das máquinas estaduais, do voto casado com o governador, os candidatos a senador, deputado federal e estadual.

Basta Serra ampliar a sua diferença em São Paulo e Minas, onde já está na frente, para liquidar a fatura. Os votos do Nordeste, mesmo considerados em sua maioria pró-Dilma, não garantem a vitória da petista. Outra informação que as pesquisa trazem, favoráveis ao tucano nesse primeiro embate do primeiro turno, é que no primeiro turno presidencial, com exceção de Minas, onde o governador ganhou, o candidato a presidente daquela base também saiu vitorioso.

Como em Minas Serra já aparece na frente, se essa tendência se repetir, Dilma está fadada a se segurar apenas no Rio dentre os três maiores colégios eleitorais do País. Mas, pelo Datafolha, ela também já perde no Rio. O cenário desfavorável à candidata oficial, nesse início, explica a violência com a qual o PT pretende virar o jogo psicológico da campanha. Lance arriscado.

Do lado tucano, o cenário favorável não pode ser justificativa para superestimar as possibilidades e fazer uma coisa que as aves bicudas gostam muito: besteira. O Estadão informa que o comando do PSDB "terceirizou" parte da mobilização da campanha do candidato José Serra para puxadores de voto do partido.

A partir dessa semana, o senador eleito por Minas, Aécio Neves, e os governadores eleitos

A campanha de Dilma vai aliar a delinquência eleitoral do primeiro turno à truculência pura e simples.

Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR) viajarão pelo País em articulações políticas e contato com a militância em nome do presidenciável. De quem foi a ideia infeliz de dispersar forças duramente acumuladas no primeiro turno não se sabe, mas sabe-se, desde já, que se levada adiante será um monumental desastre.

Aécio Neves deve viajar dentro de Minas Gerais. Geraldo Alckmin, dentro de São Paulo. Beto Richa dentro do Paraná. Devem aparecer na TV, no horário eleitoral, dentro das suas bases. É lá que estão os quatro milhões de votos que José Serra precisa para vencer a eleição, de acordo com as pesquisas. É nelas que a oposição deve se basear, para evitar surpresas e salto alto.

Que negócio é esse de tirar Aécio Neves de Minas? O compromisso dele, que não foi cumprido no primeiro turno, é conseguir 3 milhões de votos a mais para Serra. Em Minas. Onde mais Aécio Neves vai conseguir tanto voto? Nas areias de Ipanema? Nos bares de Brasília? Da mesma forma, Alckmin tem a missão de ampliar a votação de Serra em São Paulo. Não compensa voar para o galho alheio.

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Oremos
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/10/10

Embora tenha considerado bem sucedida a visita de Dilma Rousseff, anteontem, ao santuário de Aparecida, a coordenação da campanha presidencial petista avalia que o atrito com a Igreja Católica a propósito do assunto aborto ainda não está superado, demandando novas providências até 31 de outubro. A dificuldade, no entender de aliados, é que na vanguarda da resistência a Dilma estão alguns padres "com mídia", notadamente da Canção Nova.
Como parte do esforço diplomático, a candidata deverá se encontrar, na semana que vem, com o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta.


Pé no freio A vantagem relativamente estreita de Dilma sobre Serra no primeiro Datafolha do segundo turno contribuiu para congelar as negociações em torno de um apoio formal do PP à petista.

Expedição Para aplainar o caminho de Dilma, os peemedebistas Michel Temer e Moreira Franco desembarcam sexta em Minas para conversa com o correligionário Hélio Costa, magoado após a derrota local. Na próxima semana, a dupla irá a Porto Alegre com a missão de engajar prefeitos do partido.

Roupa de missa Rodeado por gente vestida com trajes informais e majoritariamente de vermelho, Temer, de blazer preto sobre camisa branca, destoava no palanque de Lula e Dilma anteontem em Ceilândia (DF). Na plateia, alguém brincou: "O vice veio de padre".

Mix Fala de Temer na propaganda de TV: "O PMDB foi o partido da redemocratização. E Lula é o defensor da justiça social. A síntese da união entre Lula e PMDB é a candidatura Dilma".

Prazo de validade As privatizações, tema predileto da campanha de Dilma, não mereceram nenhuma ênfase na versão do plano de governo entregue anteontem à candidata. O documento deve ser divulgado em breve.

Termômetro Relatório distribuído por analistas do Bank of America Merrill Lynch diz que o desempenho de Serra nas pesquisas mais recentes surpreendeu investidores presentes a uma conferência dias atrás em Washington. "Embora continuem a ver Dilma como favorita para vencer, eles acreditam que o risco de virada aumentou", registra o texto.

Fogo amigo Agora martelado por Dilma, o caso de Paulo Preto, ex-diretor da Dersa envolvido em suspeita de formação de caixa dois para campanhas eleitorais, chegou ao noticiário na esteira de uma disputa interna do PSDB que teve como um dos personagens o vice-presidente Eduardo Jorge.

Já pra oca! Depois que Dilma citou Indio da Costa (DEM-RJ) no debate como propagador de "calúnias, mentiras e difamações", o comando da campanha de Serra fez chegar ao vice um sinal para se recolher.

Sempre... Geraldo Alckmin, que na campanha manifestou intenção de enxugar o número de secretarias do governo paulista, enfrentará demanda para acolher tucanos derrotados nas urnas, como Vanderlei Macris, Arnaldo Madeira, Silvio Torres, Antonio Carlos Pannunzio, Renato Amary, Walter Feldmann e Ricardo Montoro.

...cabe mais um Nem todos, porém, irão para a administração. O mais provável é que Alckmin nomeie deputados eleitos de sua confiança, como Edson Aparecido, Emanuel Fernandes, Duarte Nogueira e Julio Semeghini, abrindo espaço para outros nomes do PSDB na Câmara.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Dilma encontrou a solução ideal para fazer seu tratamento de acupuntura: ela recebe as agulhas, e o povo sente a dor no bolso."
DO DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA), sobre reportagem da revista "Veja" segundo a qual o chinês naturalizado brasileiro Gu Zhou-Ji foi nomeado assessor técnico quando a Casa Civil era comandada pela atual candidata.

contraponto

A pão e água


Ao discursar, na noite de 3 de outubro, no Expo Barra Funda, José Serra enumerava agradecimentos a aliados e colaboradores pela passagem para o segundo turno quando fez uma pausa ao mencionar o coordenador administrativo da campanha, José Henrique Reis Lobo, cuja parcimônia na liberação de material de propaganda provocou protestos:
-Eu queria agradecer ao Lobo, que foi muito austero. Aliás, por ele a gente não teria hoje aqui nem metade dessas bandeiras e faixas...

FERNANDO JORGE C. PEREIRA

O veneno do marketing
FERNANDO JORGE C. PEREIRA
O GLOBO - 13/10/10



Encerrada a apuração, foi impossível ao PT esconder a perplexidade com os resultados.

A vitória no primeiro turno - tida como certa - não ocorreu, Marina foi muito mais longe do que se supunha, os tucanos - mesmo com baixas significativas - venceram nas unidades da federação de maior peso e, o mais desconfortável, Lula com seus destemperos, vendetas pessoais e desmedida arrogância, acabou apontado como um dos grandes responsáveis pelo revés. Se a vitória pertenceria a Lula, a derrota também, e ficou demonstrado que, longe do que tanto se apregoava, ele não tem nada de imbatível.

Declarações infelizes da candidata sobre aborto e Deus - que pelo visto não é petista - consolidaram uma hostilidade contra Dilma que precisa ser enfrentada, mas o PT se digladia em suas lutas internas e disputas com o PMDB, que é acima de tudo pragmático e fragmentado.

Pouco afeito a contrariedades, Lula submergiu. Há alguns dias quase não fala. Percebendo a disfunção do humor presidencial, muitos o registraram. Até Requião - imaginem - recomendou paz e amor ao presidente. Os críticos aliados, todavia, falaram interna corporis e a solução sobrou para o marqueteiro.

Marqueteiros tradicionalmente recomendam aos candidatos fugir de assuntos controversos e divisivos - como o aborto -, mas, se isso for impossível, aconselham posicionamentos evasivos para minimizar perdas. Assim, temos hoje uma Dilma "cândida" - quem diria! - a dizer coisas tais como "sou a favor da vida" ou "se eu tive um neto é porque sou contra o aborto".

Por óbvio, não convence ninguém.

Tivesse ouvido apenas o bom senso, Dilma saberia que, com tal atitude, perde duas vezes: a primeira entre os que são rigorosamente contra o aborto e a segunda - contingente muito maior - entre os que são contra a mentira, a desfaçatez e a covardia.

Aparentemente esquecida da internet, não contou com a circulação de vídeos e textos onde suas posições anteriores são francamente expostas em toda a sua leniência neste assunto e, no mínimo, favorável à descriminalização do aborto num contexto de pretensas justificativas sociais ou dialogando com um feminismo de bravata.

A desconfiança que se instala na sociedade acerca de Dilma e suas posições contamina os atributos que ela quis construir, e inevitavelmente mistura fatos, significados, boatos, mentiras e suspeitas. A eventual primeira mulher presidente defende o aborto? Com Lula se pode mais do que Deus? E no rastro de seus desmentidos ... ela quer ou não quer o controle (ou censura?) da mídia? Afinal, Dilma esconde o que pensa? A verdade é que quando o marketing leva à troca de convicções por conveniências, é fácil cair num redemoinho sem volta. Hoje, a comunicação de Dilma Rousseff se dedica à ingrata tarefa de recalibrar posicionamentos.

A tentativa de impregnar seu primeiro programa de temas como "a vida" etc é um tiro a sair pela culatra, na esteira do que foi a despropositada visita em Minas à capela do Mercado Central de Belo Horizonte, recentes aparições com o netinho no colo ou ainda sua biografia "mineira"... tchê.

É assim que o excesso de esperteza marqueteira se torna veneno.

Aos olhos do cidadão médio, antes ela figurava apenas como a favor do aborto e, de salto alto, teria afirmado que nem Jesus lhe tiraria a vitória.

Desmentindo peremptoriamente fatos documentados, nos convenceu que também não diz a verdade. Agora vemos que, além de tudo isso, ela ainda pensa que somos bobos, que não notamos seus truques.

José Serra, o outro candidato a presidente, tem muito a ajustar em sua campanha e para isso precisa se lembrar da fala do povo de que "camarão que dorme a onda leva".

Dilma deve entender, porém, que fez o seu remédio tornar-se veneno.

Persistir no erro é opção dela, mas não esqueça: veneno mata e é para sobreviver que jararaca não morde a língua

FERNANDO JORGE C. PEREIRA é sociólogo.

O ESGOTO DO BRASIL E A CABEÇA OCA

CELSO MING

É a privatização
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 13/10/10



A privatização ou não das empresas estatais aterrissou no debate eleitoral do pior jeito, misturada ora com os preconceitos que ainda permeiam o lado da candidata do PT, ora com uma espécie de vergonha de enfrentar o tema, como às vezes parece ser a disposição do candidato da oposição.
Há várias maneiras inadequadas de lidar com o assunto. Uma delas é tratá-la como deformação da doutrina socialista, que batalha pela estatização dos meios de produção e imagina que empresas devam sempre ser estatais.
Outra, derivada da visão sindicalista, é entender que as grandes empresas nacionais devam ser controladas pelo Estado porque, além da estabilidade de emprego, garantiriam benefícios para os funcionários: plano de carreira, boa aposentadoria e certa imunidade aos riscos de lutas reivindicatórias.
A forte presença do Estado na administração econômica é também apoiada por políticos que veem nela a possibilidade de dar emprego para protegidos. Uma deturpação ainda mais perversa é a daqueles que pretendem usar a estrutura das empresas públicas como oportunidade de aparelhamento do Estado para fins variados, todos eles condenáveis: aumentar o jogo do poder, morder contribuições de financiamento de campanha ou, simplesmente, participar de esquemas de corrupção.

Do outro lado, o combate a essas deformações da estatização leva à defesa da privatização por vários motivos, que podem ser bons ou não.

Alguns políticos podem pretender privatizar também para ter oportunidades de gerar mordidas extras no bolo público. Outros a veem como alavanca fiscal, um jeito de obter mais recursos para projetos de desenvolvimento ou programas sociais. Outros, ainda, o fazem por questões ideológicas que sempre encaram o Estado como mau administrador, mesmo quando não o é.

Ao longo das administrações de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, as privatizações foram intensificadas por uma razão pragmática de fácil entendimento: como o Estado não conta com recursos suficientes para capitalizar as empresas sob sua administração, convém repassá-las para quem tem capital e capacidade administrativa para fazê-lo.

Por esse motivo foram privatizados o setor siderúrgico, o das telecomunicações, o da mineração, o da produção de aviões e uma fieira de bancos estatais. Não fosse a privatização, a Vale do Rio Doce, a Embraer, a telefonia e o setor financeiro não seriam o que são hoje, enquanto produtores de riqueza e de empregos.

O governo Lula sentiu o mesmo problema de escassez de capital, mas tem aumentado a participação do Estado no setor produtivo por meio de mandracarias financeiras e aumento da dívida pública, como se viu na capitalização do BNDES e da Petrobrás. E pretende recorrer aos mesmos procedimentos de qualidade e resultados questionáveis para fortalecer a Eletrobrás e ressuscitar a Telebrás.

Espremer demais as tetas do Tesouro é prática que não pode acabar bem porque os recursos públicos devem se destinar a financiar serviços essenciais: educação, saúde, segurança, benefícios de previdência e, no que couber, investimentos em infraestrutura. Mais cedo ou mais tarde o Estado terá de voltar a intensificar a privatização porque empresas estatais gigantescas exigirão reforços de capital ainda mais gigantescos e, decididamente, o Tesouro não terá recursos para isso.


CONFIRA


Menos por um
Cada dia são precisos menos ienes para comprar um dólar. Ontem a curva cambial fechou assim.

Eu sou você amanhã
Nos anos 90 eram os brasileiros que chamavam os argentinos de "deme dos". Os produtos brasileiros eram tão baratos em pesos que os turistas argentinos invadiam o Sul e levavam tudo em dobro. Agora é a vez dos hermanos: "Gracias al superreal, llega el dê-me dois de los brasileños", dizia ontem o diário La Nación, de Buenos Aires.

MÔNICA BERGAMO

3 X ANDRÉ
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/10/10

O ator André Guerreiro Lopes estreia na sexta, 22, a peça "O Estranho Familiar", no Espaço Ágora, e terá dois filmes na Mostra de SP: ele protagoniza o longa "Luz nas Trevas" e dirige o curta "O Voo de Tulugaq"

ESTÁ PARA PEIXE

O Instituto Butantan desenvolveu uma nova droga de combate à asma, à base do veneno do peixe niquim, conhecido como peixe-sapo. A substância leva vantagem sobre os corticóides normalmente usados no tratamento da doença, que podem causar efeitos colaterais no sistema imunológico, rins e fígado. A droga poderá ser ministrada em quantidades menores do que as normalmente utilizadas pela indústria farmacêutica.

GÔNDOLA
A substância, que já está patenteada, será testada agora para ser usada na produção de medicamentos. O Butantan também deve registrar a patente nos Estados Unidos, União Europeia, Canadá, México, China, Índia, Japão e Coreia do Sul.

QUESTÃO DA MULHER
As pesquisas qualitativas tanto da campanha de José Serra (PSDB) quanto da de Dilma Rousseff (PT) revelaram que o eleitor não aceitou bem o fato de Serra não ter defendido a mulher, Monica, quando a petista a acusou de participar de uma campanha de difamação ao declarar que Dilma é a favor de "matar criancinhas". Na segunda à noite, o programa de Serra saiu em defesa da ex-primeira dama de SP.

TUDO BESTEIRA
Na saída do debate da Band, José Serra minimizou o fato de não ter respondido, no ar, ao ataque de Dilma a Monica Serra. "Defender de quê? De uma besteira dessas?", disse ele à coluna.

CARA A CARA
O resultado da campanha presidencial definirá o desenho do governo de SP. Se Serra vencer, ele ganha força para indicar boa parte dos secretários de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), admitem aliados do governador. Caso contrário, Alckmin montará equipe só com a sua cara.

SHOW DE FORÇA
Aécio Neves (PSDB-MG) pretende dar demonstração de força na próxima quinta. A meta inicial de reunir até 300 prefeitos em Minas para pedir empenho na campanha de Serra pulou para 500 nos últimos dias.

SOM E LETRAS
Chico Buarque de Hollanda deve ser a estrela de encontro de intelectuais no Rio com Dilma, no dia 18. Ele assinou manifesto em apoio à petista em que estão também Oscar Niemeyer, Emir Sader, Eric Nepomuceno e Fernando Morais.

EM CAMPO
E o jogador Ronaldo transferiu para sexta o jantar que dará para Dilma em São Paulo. Além de jogadores, ele está convidando jovens empresários para o encontro.

DANCE SEM PARAR
Os atores Claudia Ohana, Mateus Solano, Alexandre Nero e André Ramiro estarão no elenco de "A Novela das Oito", filme de Odilon Rocha que começa a ser filmado no Rio, no mês que vem. O longa, produzido pela Querosene Filmes, aborda o universo da novela "Dancin" Days", de Gilberto Braga, exibida pela TV Globo nos anos 70.

EMPURRÃOZINHO
O filme "Acorda Brasil", com roteiro de Maria Adelaide Amaral inspirado na orquestra sinfônica da favela de Heliópolis e direção de Sérgio Machado, foi autorizado a captar quase R$ 8 milhões via lei de incentivo fiscal. O longa deve ser rodado no primeiro semestre de 2011.

SIM, EU ACEITO
O usineiro José Pessoa de Queiroz e Paula Trabulsi se casaram em uma cerimônia na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, no domingo. A noiva usou um vestido de crochê da estilista Vanessa Montoro. A atriz Ildi Silva e o senador Delcídio Amaral (PT-MS) estavam entre os convidados.

PIANO POPULAR
O compositor e pianista Claudio Goldman, filho do governador Alberto Goldman (PSDB-SP), apresenta o show "Versão Brasileira" no Bourbon Street, no dia 20. Em seu repertório, ele transforma composições de Beethoven e Mozart em versões de chorinho e xote.

CURTO-CIRCUITO

O cantor e compositor Landau estreia a nova temporada de "Correio Elegante Night Show", hoje, no Drosophyla Bar, às 21h30, com repertório que inclui Arnaldo Baptista e Frank Sinatra. Classificação: 18 anos.

Betty Gervitz ministra workshop de dança dos Bálcãs no sábado, às 11h, no espaço Anacã, no Jardim Paulista.

O salão Studio W e a Luxury Marketing Council fazem coquetel e palestra sobre sustentabilidade nas empresas, hoje, no espaço Lounge One, no shopping Iguatemi, às 20h.

A cantora Paula Lima faz show do CD "Sambachic", amanhã, no Memorial da América Latina, às 20h30, com músicas de Seu Jorge, Zeca Baleiro e outros. Livre.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

SERRA PRESIDENTE

JOSÉ NÊUMANNE

Enfim, a verdade sobre a guerra suja pelas teles
José Nêumanne 
O Estado de S.Paulo - 13/10/10


Nos anos 70 a Bloch Editores publicou uma antologia de grandes momentos de nosso jornalismo intitulada As Reportagens que Abalaram o Brasil. O responsável pela seleção escolheu textos marcantes, como as entrevistas do assassino de Euclydes da Cunha, general Dilermando de Assis, a Francisco de Assis Barbosa; de José Américo de Almeida a Carlos Lacerda, um libelo publicado pelo Correio da Manhã que driblou a censura feroz do Estado Novo de Getúlio Vargas; e deste a Samuel Wainer, então repórter de O Jornal, de Assis Chateaubriand, que serviu de pretexto para a volta do ex-ditador à Presidência pelas urnas. Se essa coletânea tivesse de ser publicada hoje, teria de incluir o resumo que a revista Piauí fez do livro do repórter Raimundo Rodrigues Pereira a respeito das Operações Chacal e Satiagraha, da Polícia Federal.



A obra, editada pela Editora Manifesto, de Belo Horizonte, traça um retrato perfeito do "teatro de marketing e bravatas", expressão usada em editorial publicado por este jornal em 15 de abril de 2005, depois da prisão de Daniel Dantas, discípulo de Mário Henrique Simonsen e bem-sucedido administrador do fundo de investimentos Opportunity, e da então presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, subordinada dele, pela Polícia Federal. Eles eram acusados de terem usado detetives particulares da empresa americana Kroll para espionar diretores de uma sócia hostil, a Telecom Italia, e autoridades do primeiro escalão do primeiro governo Lula.

Intitulado O Escândalo Daniel Dantas - Duas Investigações, o livro dá lições de jornalismo investigativo honesto e esclarecedor. Em 315 páginas, reduz a pó argumentos falaciosos e canhestros usados pelo delegado federal Protógenes Queiroz, com o apoio do procurador Rodrigo de Grandis e do juiz Fausto De Sanctis, para levar o financista duas vezes à prisão. E desmascara a participação de arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), agentes da Polícia Federal (PF), dirigentes dos fundos de pensão das estatais e jornalistas amigos numa farsa armada para expelir os gestores do Opportunity da Brasil Telecom, da Telemig e da Amazônia Celular, em benefício de seus parceiros estrangeiros, o citado grupo italiano e a operadora canadense TIW. O mais relevante no levantamento exaustivo do repórter é que, ao contrário do que se imaginou até esse relato vir a lume, não houve perseguição ideológica (que poderia ter sido causada pela assessoria de um dos pais do Plano Real, Pérsio Arida, a Dantas) movida pelos novos donos do poder ao "amigo de tucanos", mas mero conflito de interesses: tudo foi só negócio.

Pode-se argumentar que o repórter teve a tarefa facilitada pelo conhecimento do teor da documentação produzida pela Procuradoria de Milão, na qual se esclarece que, na verdade, não era a Kroll que espionava autoridades federais brasileiras, entre elas o então poderoso ministro das Comunicações, Luiz Gushiken. Mas, sim, os sócios italianos hostis a Daniel Dantas, que ousaram grampear até o telefone do então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Depoimentos de membros do topo da Telecom Italia, sob controle acionário, primeiro, da Olivetti e, depois, da Pirelli, narraram ainda, contando com o benefício da delação premiada, que a Operação Chacal teve como pretexto uma farsa: executivos dos serviços de segurança e de cibernética da operadora italiana produziram em Milão o CD-ROM que apresentaram falsamente à PF.

Mas, enquanto aqui os repórteres de jornais e revistas reproduziam sem questionar a interpretação enviesada da degravação dos grampos telefônicos de Protógenes, Raimundo teve a pachorra de ler, entender e catalogar os documentos italianos para relatar o que de fato ocorreu. E mais: identificou e introduziu no livro cada presepada do delegado encarregado do inquérito, como, por exemplo, a confusão que ele fez entre uma propriedade rural chamada Ponta do Curral e a suspeita "Conta Curral". Ou ainda a determinação aleatória de personagens citadas nas conversas gravadas: certo Giba virou Gilberto Carvalho, secretário da Presidência da República, sem nenhum outro indício que autorizasse a associação entre o apelido e a autoridade.

Raimundo não teve condescendência alguma com o que classifica de "mau jornalismo", que tratou frutos da imaginação do delegado como se fatos fossem. E contou o que não precisou mandar traduzir, pois consta da investigação que, descoberta a farsa de Protógenes, a corporação a que este pertence abriu para identificar suas violações de regras funcionais e leis. Uma destas mentiras que pilhou envolve a encenação de um flagrante de tentativa de suborno de um policial por dois executivos ligados a Dantas, motivo de sua segunda prisão. Ao contrário do que ele reportou aos superiores, tal como o CD-ROM da Telecom Italia que desencadeou a Operação Chacal, o vídeo que embasou a ordem de prisão do réu da Operação Satiagraha não foi produzido por seus agentes, mas por uma equipe da TV Globo a serviço do repórter César Tralli. A emissora nunca se explicou sobre esta flagrante falta de ética.

Antes que se acuse o repórter de parcialidade em benefício de um milionário, esclareça-se que Raimundo Rodrigues Pereira foi repórter da excepcional revista mensal Realidade e um dos fundadores da semanal Veja, além de ter dirigido duas publicações da imprensa alternativa de resistência à ditadura militar - Movimento e Opinião. Tem também laços profissionais e pessoais com o colega Mino Carta, que, na direção da revista CartaCapital, se tornou o mais implacável perseguidor na imprensa do investidor Daniel Dantas, a quem apelidou de "orelhudo" por causa da acusação de que teria mandado espionar desafetos e autoridades da República "pete-lulista".

É salutar que Raimundo lance o livro quando a privatização, que gerou a guerra pelo controle das teles, entra no debate do segundo turno da eleição. E irônico o fato de Protógenes ter virado deputado por obra e graça das sobras de votos do palhaço Tiririca.

JORNALISTA E ESCRITOR, É EDITORIALISTA DO "JORNAL DA TARDE