domingo, agosto 22, 2010

DANUZA LEÃO

O bem maior
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO  - 22/08/10


Não adianta ter todo o poder e dinheiro do mundo se ninguém pergunta se você melhorou da gripe

Afinal, o que todos queremos da vida, além do básico? Bem, para começar, é preciso definir o que é o básico.
O básico é igual para todo mundo, ricos ou pobres: uma casa, saúde, uma aparência agradável, algum dinheiro, um pouco de amor, que faz bem enquanto dura e mal quando acaba, e por aí vai. Mas mais que tudo, queremos o que é o bem mais precioso: um pouco de atenção.
Para conseguir atrair a atenção do mundo -ou de apenas uma pessoa- somos capazes de quase tudo; os homens, quando fazem o que mais gostam -surfar ou jogar uma pelada-, se tiverem uma namorada olhando do que são capazes, acham a vida muito melhor. Ninguém suporta ser completamente anônimo, por isso as pessoas passam a vida buscando o dinheiro, a beleza, o poder ou a fama; para quê? Para existir, apenas.
As crianças fazem tudo que lhes passa pela cabeça; em todos os momentos querem uma presença ao lado, olhando, e se for preciso, choram e gritam para chamar a atenção.
Quando aprendem que certas coisas não podem mais fazer, vão por outros caminhos, sempre procurando ser olhadas, percebidas, notadas. Qualquer coisa na vida, qualquer, é melhor do que a indiferença.
Se não for possível sermos amadas e idolatradas pela humanidade, como gostaríamos, é preferível ser odiada a não despertar sentimento algum.
Uns engordam, outros pintam o cabelo de verde, alguns tentam uma carreira de sucesso. Não se trata de mera vaidade: é uma questão de ter a consciência de que estamos vivos, e se ninguém nos olha é porque não estamos. E se não estamos, de que adianta ter um coração batendo?
Por que você gosta tanto de ir ao médico? No curto tempo de uma consulta a atenção é toda dirigida a você; existe alguma coisa melhor do que ter alguém perguntando como vai seu apetite, se tem dormido bem, que diga que você precisa deixar de fumar? Aliás, são raros os que fazem isso; na maioria dos casos, pedem uma lista de exames e despacham você com um olhar gelado.
E o analista, então? Esses são maravilhosos: durante 50 minutos você tem uma pessoa inteligente que ouve os maiores absurdos, compreende tudo, justifica tudo, e você até sente que não está tão só no mundo. Pais e mães têm sempre tempo para ouvir um filho, mas filho nunca tem tempo para ouvir pai ou mãe, nem que seja para comentar um filme; mas não sofra com isso, faz parte.
Atenção verdadeira é fundamental. Quando sua empregada disser que está resfriada, tire dois minutos -só dois- do seu dia, que tem 1.540, para saber o que ela está sentindo; pegue no banheiro o vidro de vitamina C que trouxe de Nova York e dê a ela, que deve tomar três vezes ao dia.
Lembre-se de que é ela quem serve seu café da manhã, leva um chazinho quando você chega cansada, lava e passa sua roupa, e faz tudo para te agradar. E quando chegar em casa à tarde, esqueça, por uns segundos, da eleição, e pergunte se ela está melhor.
Não adianta ter todo o poder e todo o dinheiro do mundo se ninguém pergunta se você melhorou da gripe.

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Luta pelo Congresso
Merval Pereira
O GLOBO - 22/08/10 

A disputa pelo poder dentro da coligação governista, que vive momentos de euforia diante da possibilidade real de vitória já no primeiro turno da candidata oficial Dilma Rousseff, foi antecipada para as campanhas estaduais. O centro do poder é o controle do Senado, onde o governo tem encontrado uma barreira a suas iniciativas e onde sofreu a pior derrota, a da extinção da CPMF.

O PMDB tenta manter as maiores bancadas do Congresso, tanto na Câmara quanto no Senado, e tudo indica que desta vez não abrirá mão de continuar comandando as duas Casas como no primeiro momento do governo Lula, quando aceitou fazer um rodízio com o PT, acordo quebrado em 2009, quando Michel Temer foi eleito presidente da Câmara, e José Sarney, do Senado.

A última vez em que o PMDB comandara as duas Casas legislativas ao mesmo tempo fora no biênio 91-92.

Na Câmara, as previsões são de que a bancada governista aumentará sua maioria em cerca de 15 deputados, mas nada que altere o equilíbrio de forças atual.

O PMDB manterá a maior bancada, segundo levantamento da consultoria Patri de Políticas Públicas, de Brasília.

Mesmo com a previsão de um crescimento do PT em 15 deputados, os peemedebistas também crescerão.

De qualquer maneira, a diferença das previsões é pequena — 95 deputados para o PMDB e 92 para o PT —, e a presença de Lula pode alterar esse quadro a favor do PT.

Que é tudo o que o PMDB não quer. Dominando o Congresso, com o vice Michel Temer assumindo a coordenação das negociações entre o Planalto e os parlamentares, o PMDB ganha força política para se impor no governo.

Na oposição, o DEM será o maior prejudicado, perdendo cerca de 15 cadeiras, enquanto o PSDB permanecerá no mesmo nível da atual bancada. Quem crescerá também na base do governo será o PSB.

No Senado, o crescimento do PT será menor, de 9 para 11 senadores, enquanto o PMDB manterá a mesma bancada de 18 senadores.

A oposição pode perder quatro cadeiras entre DEM e PSDB, mas o PPS deve eleger Itamar Franco em Minas.

Por essa conta, o Senado continuará com a mesma característica atual. Embora o governo tenha na teoria uma larga vantagem — 47 senadores da base aliada contra 31 da oposição e 3 “neutros” —, não tem segurança para as votações.

Essa situação pouco será alterada no futuro Senado, segundo as pesquisas até o momento, pois a bancada do PMDB tem dissidentes impor tantes que continuam com mandato, como Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, e Jarbas Vasconcellos, de Pernambuco, e deve ganhar a presença do ex-governador de Santa Catarina Luiz Henrique.

O ex-governador Orestes Quércia, em São Paulo, disputa a segunda vaga do Senado com Romeu Tuma (PTB) e Netinho de Paula (PCdoB).

Os números das últimas pesquisas mostram que o equilíbrio de forças regionais está sendo desmontado pela popularidade de Lula, que faz com que sua candidata se recupere até mesmo na Região Sul, o maior bastião da oposição nos últimos anos.

O empate técnico no Sul, que corresponde aos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, registrado pelo Datafolha, com Dilma chegando a 38% contra 40% de Serra, pode significar uma mudança nas corridas estaduais para o governo e o Senado.

Hoje, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são estados “azuis”, governados pela oposição ou seus aliados.

No momento, as pesquisas apontam que o PSDB pode ganhar no Paraná, com Beto Richa, e perde em Santa Catarina, para o PP de Ângela Amin, e no Rio Grande do Sul, para o PT de Tarso Genro. Havendo segundo turno, o candidato do PMDB dissidente, José Fogaça, pode derrotar Tarso.

A subida de Dilma no estado em que começou sua vida pública, no entanto, indica uma vantagem para o petista.

No Senado, o PP pressiona para que Lula não apoie Paulo Paim contra Ana Amélia Lemos, que estão empatados.

A derrota neste momento de Serra na Região Sudeste, que engloba São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, é a maior demonstração da situação difícil de sua campanha.

Com Geraldo Alckmin liderando com folga a corrida para o governo, Serra não consegue abrir uma vantagem no seu estado que permita compensar as derrotas em Minas e Rio.

Em Minas, a esperança de vitória vai se desvanecendo diante da dificuldade que o governador Aécio Neves — que se elege para o Senado — está tendo para virar o jogo contra Hélio Costa, do PMDB. Mesmo que consiga essa reversão, tudo indica que ela não chegará à campanha presidencial.

No Rio, o governador Sérgio Cabral deve ser reeleito no primeiro turno, e a disputa está no Senado. Há um movimento do PMDB e da Igreja Católica para alavancar a candidatura de Jorge Picciani contra o bispo Marcelo Crivella, do PRB, que lidera a pesquisa junto com o ex-prefeito Cesar Maia.

Lula está pedindo votos para Crivella e Lindberg, ex-prefeito petista de Nova Iguaçu.

No Norte/Centro-Oeste, Dilma tem 50%, e Serra, 27%.

Ali, há uma disputa particular em que Lula se empenha para derrotar o senador Artur Virgilio, do PSDB, que por enquanto está com a segunda vaga, pois a primeira é do exgovernador Eduardo Braga.

A tática do governo é dar força para a candidata do PCdoB, Vanessa Grazziottin.

No Nordeste, a candidata petista ampliou sua vantagem em 11 pontos e chegou a 60% contra 22% do tucano.

Por enquanto, a oposição está conseguindo reeleger dois de seus principais líderes para o Senado, Tasso Jereissatti, do PSDB, no Ceará e José Agripino Maia, do DEM, no Rio Grande do Norte. Mas Lula está empenhado pessoalmente em derrotá-los.



JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Ueba! Vou votar na Mulher Pêra!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/08/10

E o Serra não precisa ficar triste por estar perdendo: sempre tem um pedágio no final do túnel! Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Ereções 2010! Frase do dia: "Os ficha limpa de hoje serão os ficha suja de amanhã!". A volta da Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Eu tô com a ficha de inscrição da Mulher Pêra no TSE. Não sei como os peitos dela cabem numa foto 3x4! Grau de instrução: lê e escreve. SÓ ISSO?! Não dá nem uma variada? Achei que ela fazia um monte de coisa! Rarará!
E um cara chegou perto da Dilma com um cigarrinho na mão: "Tem fogo?". "Tenho sim." "Então cospe!" E o Serra não precisa ficar triste por estar perdendo: sempre tem um pedágio no fim do túnel. Rarará! Esse devia ser o slogan dele: "Serra! Um pedágio no fim do túnel".
E a Marina? A Marina é arvícola. Vive na árvore. Diz que ela descende dos Turu Bandeira. Que vivem em bando e só comem folha! Rarará! A Marina vai lançar camisinha de polpa de buriti! Rarará!
E eu sou candidato a presidente pelo PGN, Partido da Genitália Nacional. Indecisos e indecentes votem em mim pra presidente. Prometo criar vaga de corno em shopping, legalizar a profissão de ricardão e acabar com a lei da gravidade. Que ainda nos prende no chão!
E o hilário eleitoral? THRILLER do Michael Jackson. Criaturas Bizarras: Serra, Dilma, Marina e Plínio. Ou seja: Vampiro, Meméia, ET da Natura e Bela Lugosi. Trem fantasma desgovernado!
Semana de debates! Debate é assim: viu um, viu todos. De tanto debater nada ficou debatido. Prefiro me trancar no banheiro e debater uma. Debate bronha. Rarará!
E o nariz do Alckmin é em 3D? E o Mercadante devia cantar bolero em churrascaria da Marginal. Com aquele bigodão rodapé de xoxota. O Russomano parece motoboy aposentado! E o Alckmin tem cara e discurso de contador. Aliás, sabe como chamam o Alckmin na Bahia? GARÇA DE LAGOA! Rarará!
E o Lula diz que quer ter papel ativo no governo Dilma. Tucanou o terceiro mandato! Pra provar que ficha limpa não pegou: Maluf! Vou abrir um negócio: limpo ficha limpa! Não tem as placas: "Troco cheque sem fundo"? Agora é: "Limpo ficha limpa".
E por que humorista não pode fazer piada com político e o Tiririca pode? "Votem em Tiririca! Você sabe o que faz um deputado federal? Nem eu." Socuerro! Me mate um bode! Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

Pode piorar sim, Tiririca
Roberto Pompeu de Toledo
REVISTA VEJA

FELIPE PATURY

HOLOFOTE
FELIPE PATURY
REVISTA VEJA

MAÍLSON DA NÓBREGA

Obras e desenvolvimento
Maílson da Nóbrega
REVISTA VEJA

JOÃO UBALDO RIBEIRO



Como seria bom

João Ubaldo Ribeiro 
O Estado de S.Paulo - 22/08/10

Há muitos e muitos anos, ir à Suécia era o sonho de jovens brasileiros que sobre ela só sabiam que revistas pornográficas lá eram produzidas e vendidas livremente e que as suecas tiravam a roupa assim que avistavam negros e morenos de modo geral, caso da grande maioria de nós. Até já estive na Suécia, ainda mais ou menos nessa época, e receio ter de recordar que meu bronzeado baiano não fez nenhum sucesso. Mas a imagem antiga, diluída em fantasias juvenis, permanecia na memória. De uns tempos para cá, contudo, isso vem sendo substituído por um certo calafrio, quando me bato com uma notícia vinda de lá.

É que muitas ideias propostas para adoção no Brasil são precedidas pela conversa de que na Suécia, país civilizadíssimo, onde até os cachorros têm diplomas escolares e a felicidade é obrigatória, também se faz assim ou assado. A ideia de que o que é bom para a Suécia pode não ser bom para o Brasil não costuma entrar em cogitação. E, como cada vez mais aparece gente com poder e disposição de deitar regra sobre tudo o que fazemos e nos tornar felizes, protegidos e ajustados, mesmo que não queiramos, as notícias da Suécia deram para assustar.
Agora, leio aqui que por lá há um plano para extinguir o dinheiro, ou seja, notas e moedas. A razão para a iniciativa - diz aqui, não tenho nada com isso - são os assaltos. Sem moeda, os assaltantes suecos não teriam o que levar. Daí para a extinção total do chamado dinheiro sonante, esse trambolho anti-higiênico e incômodo, deverá ser um passo rápido, é só querer. Em vez de salário, o camarada receberia créditos em seu cartão e sairia fazendo todas as suas despesas com ele, pois imagino que, num sistema perfeito, cada um, não somente o comércio, tenha sua maquininha de debitar cartões, que poderá, como tudo mais, vir com o celular. O qual, aliás, já é usado até no Brasil mesmo, como instrumento para pagar contas.
Perfeito, claro. Alguém deve estar pensando em fazer a mesma coisa aqui, onde os assaltos, presumo eu, são um problema um pouco maior que na Suécia. Seria uma beleza, notadamente para os órgãos cobradores de impostos, porque nem uma gorjeta entraria no bolso de um flanelinha, sem que a autoridade tivesse conhecimento. O dinheirinho do motel, cuja saída ele ou ela ocultam do consorte, também ia ficar meio difícil de disfarçar. Tudo ia ficar difícil de disfarçar e até quem quisesse fugir ou sumir provavelmente não conseguiria. Com certeza, não sei como, surgiria um mercado negro de moedas estrangeiras e haveria gente acumulando ouro para garantir a liberdade até mesmo de sair do País. Talvez viesse a tornar-se dispensável prender criminosos, poupando-nos do vexame de não dispormos de prisões resort, como na Suécia. Bastaria uma ordem ao Centro de Movimentação Financeira Livre (um pouco do newspeak do Orwell cai bem nestes casos) para que o cartão do indigitado fosse bloqueado, com a consequência de que ele não poderia nem tomar um ônibus. E, evidentemente, o governo saberia da vida privada de todos os cidadãos. Tenho a certeza de que, no caso do Brasil, onde a Receita Federal é um exemplo de inatacabilidade, isso não seria problema, mas, não sei por que, apesar de nunca haver sido muito bom no seu manejo, ainda prefiro que exista dinheiro mesmo.
Certas coisas "erradas", ou vistas como até mesmo enganos de Deus (é engraçado como uma espécie que tem dificuldade para organizar um campeonato de futebol oferece correções à Criação), são uma tentação aparentemente irresistível, para os reformadores. Por exemplo, a falta de terras aráveis ou habitáveis não ocorreria (aliás, não há falta de terras aráveis, mas é uma dessas coisas que se afirmam em conversa e ninguém discute), se não houvesse desertos. Não seria tão melhor que o Saara fosse todo transformado num oásis temperado e cultivado? Claro, seria, com o resultado de que o Mediterrâneo ia virar um mar glacial e os europeus todos, notadamente os escandinavos, passariam à condição de picolés.
Acabar com os insetos, essa peste que vive torrando a paciência da Humanidade, liquidando lavouras e causando doenças, nada mais desejável. Lembro agora que, faz poucos anos, houve um discreto alarme em relação a uma doença misteriosa que acometeu abelhas no Meio-Oeste americano, responsável por uma parte crucial da produção mundial de comida. Temeu-se que as abelhas sumissem e, com elas, a polinização das plantações e, em última análise, a comida. E ainda bem que nenhum reformador anti-inseto chegou nem perto de eliminá-los, pois é bem mais fácil eliminar o homem, a Natureza é sábia. Os tubarões, bichos horríveis que estraçalham os banhistas e só servem para matar, são em grande parte também responsáveis por nossa sobrevivência, pois ajudam a controlar as populações de focas, pinguins e outros comedores de peixe, que do contrário desequilibrariam a vida nos oceanos.
A proposta de eliminar a dor também é interessante. Já a ouvi discutida diversas vezes, havendo mesmo quem torça para que, no futuro, a tecnologia suprima completamente do nosso dia a dia as dores de causas externas, nada de dor de queimadura, corte, pancada, etc. Claro, no fim de algum tempo assim, ia sobrar muito pouca gente com a mão inteira, já que a dor não avisaria quando se estivesse cortando fora um pedaço de dedo, ou queimando-o no fogão. Não, isso nem na Suécia. Já quanto à extinção do dinheiro, não estou tão seguro. No Brasil, não na Suécia. Não é possível que o governo deixe passar essa oportunidade, ainda nos restam oito meses de salários para pagar de impostos e as boquinhas a sustentar cada vez aumentam mais. 

AMEBAS

ROBERTO MUYLAERT

Em 2014, o Brasil tem de vencer
ROBERTO MUYLAERT 
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/08/10

Alguns dos ingredientes de 1950 começam a surgir muito próximos daqueles que nos levaram à derrota, como o número excessivo de sedes 


Andei a calcular quantos serão os sobreviventes da Copa do Mundo de 1950, assim como eu, considerando que havia 200 mil pessoas no Maracanã, no 16 de julho.
Mesmo sem metodologia, calculei o número de torcedores ainda vivos, esperando ser corrigido por algum leitor: se a média de idade no estádio fosse de 35 anos, com um terço abaixo de 20 anos, passados 60 anos, os 35 anos viraram 95. Os que tinham 20, agora têm 80 anos.
Desses, dois terços devem ter morrido, portanto, o número de sobreviventes é de 1/3 x 1/3, o que resulta em 1/9 de 200 mil, ou 22 mil pessoas, número suficiente para formar a "Associação dos Sobreviventes da Copa de 50".
A CBF poderia fazer um convite para uma foto desses traumatizados, no estádio do Maracanã. Se 10% comparecerem, serão cerca de 2.000 pessoas, a quem a CBF poderia fornecer entradas para 2014 como reparação, como acontece com os perseguidos pelo regime militar.
Desde já, afirmo que não aceitaria o convite. Após a Copa de 50, fui com meu pai para a Suíça, em 1954, onde assisti ao Brasil de novo derrotado, com "complexo de vira-lata". Foi quando fiz a promessa, cumprida, de nunca mais comparecer a uma Copa do Mundo.
Escrevi dois livros, para exorcizar os fantasmas: "Barbosa", a história do amaldiçoado goleiro de 1950, e "A Copa que Ninguém Viu", com Armando Nogueira e Jô Soares, que também estavam no estádio de Berna quando fomos eliminados pela Hungria.
Mais magoado do que eu, só o jornalista João Luiz Albuquerque, que declarou, anos atrás: "Se houver outra Copa do Mundo no Brasil, e a final for de novo no Maracanã, com Brasil 2 x Uruguai 1, nem assim minha frustração da Copa perdida em 1950 irá se aplacar".
A derrota foi presenciada por 10% da população do Rio, espectadores únicos, quando não havia televisão: "a maior tragédia nacional", conforme Nelson Rodrigues.
A má notícia é que alguns dos ingredientes de 1950 começam a surgir muito próximos daqueles que nos levaram à derrota: a política substituindo a razão na escolha dos estádios, número excessivo de sedes, estádios enormes em cidades sem possibilidade de utilização futura e orçamentos indefinidos.
A implicância com o Morumbi, pelo fato de haver incompatibilidade entre o cartola do São Paulo e o cartola maior. A ideia enrustida de fazer a abertura e o encerramento no Maracanã, quando não houver mais condições para outra escolha.
Os atrasos sem sentido na tomada de decisões e início das obras, quando fomos escolhidos para sede há dois anos.
A coincidência de que 2014 é ano de eleições, assim como foi 1950. Se daquela vez a concentração dos jogadores foi invadida por candidatos a cargos eletivos, na próxima, a pressão política será exercida por meios mais abrangentes, de igual efeito demolidor na cabeça dos atletas, que mais uma vez terão a inibidora obrigação de vencer, em nome da pátria.
Ricardo Teixeira, presidente da CBF, não ligou muito para a derrota na África do Sul. Mas já declarou que "no Brasil, temos de vencer".
Começamos bem.


ROBERTO MUYLAERT, jornalista, é editor, escritor e presidente da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas). Foi presidente da TV Cultura de São Paulo (1986 a 1995) e ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social (1995, governo Fernando Henrique). 


ANCELMO GÓIS

Museu Havelange
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 22/08/10 
João Havelange, presidente de honra da Fifa, criou um instituto para cuidar do acervo de sua longa trajetória como dirigente esportivo. 

São milhares de fotos, vídeos, documentos, obras de arte, medalhas e comendas. 

AntiCristo 

Adilson Soares, único deputado carioca a votar a favor da emenda que tirou uns R$ 10 bi de royalties do petróleo do Rio, é candidato à reeleição pelo PR. 

Ele, que é da Igreja Internacional da Graça de Deus, vem a ser irmão do telepastor R. R. 

Soares — que, por sua vez, é cunhado de Edir Macedo. 

Segue... 

Mote de campanha de Adilson: “Contra as leis que querem calar a voz do povo de Deus e os aliados do AntiCristo.” 

Quero comprar 

Agora sob nova direção, a Estácio de Sá vai às compras... 

de novas faculdades. 

O GP, como se sabe, assumiu todo o negócio com a compra das ações da família Uchoa, que criou a universidade a partir de uma faculdade de direito no bairro carioca do Rio Comprido. 

Quem se habilita? 

O grande investidor imobiliário americano Sam Zell, 67 anos, procura uma incorporadora residencial para comprar no Brasil. 

Assim que conseguir, deve vender o resto das ações que tem na Gafisa. 

Forno & fogão 

A Rádio Cozinha diz que a rede americana de restaurantes Friday’s, que já fechou uma loja no Rio e mantém outras em Belo Horizonte, Brasília, Campinas e São Paulo, avalia sua partida do Brasil. A conferir. 

Aliás, no lugar do Friday’s do shopping New York City Center, na Barra, que fechou, vai surgir uma filial do Balada Mix. 

Fator calcinha 

Veja como, em tempos de economia estável, as brasileiras compram mais... calcinhas. 

Dos nove segmentos vendidos nas lojas Leader, país afora, o de lingerie foi o de melhor resultado no primeiro semestre. 

A venda de calcinhas cresceu, acredite, 300% em relação ao mesmo período de 2009. 

Eu chego lá 

De Eike Batista no “60 minutes”, o programa de TV dos EUA, ao responder se vai ser o homem mais rico do mundo: — Slim tem de dirigir olhando pelo retrovisor para ver se vou ultrapassá-lo pela esquerda ou pela direita. 

O mexicano Carlos Slim é o homem mais rico do mundo, de acordo a Forbes. 

Twitter é o cacete 

A TIM lançará um serviço de Twitter com os nomes das funções em português. Os serviços do microblog disponíveis até aqui são todos em inglês. 

ZONA FRANCA 

œ O Museu Histórico do Exército festeja a Semana do Soldado, de 23 a 27, com eventos no Forte de Copacabana. 

œ É amanhã, no Cine Leblon, a pré-estreia do filme “5xFavela, agora por nós mesmos”, produzido por Cacá Diegues. 

œ Breton Actual participa do Morar Mais por Menos. 

œ O advogado Melhim Chalhub lançou, na Bienal do Livro, nova edição de “Da Incorporação Imobiliária”. 

œ Cesar Mocarzel lança o CD “Amigo é pra essas coisas”, dia 31, às 17h30m, no Arlequim, no Centro. 

œ Ivana Soares participa de exposição na galeria do Paschoal Carlos Magno.. 

œ Humberto Barros lança CD na sala Baden Powell, hoje. 

œ Alzira Andrade assina o lançamento da loja Depyl, em Icaraí. 

Ladrão patriota 

Virou moda. Depois do desenho original de 1889 da Bandeira do Brasil, de Décio Villares, levado da Igreja Positivista, no Rio, um larápio roubou agora o pendão nacional que integrava a exposição “Voz do povo/Memórias do Rio em ditos”. 

Ornamentava, também no bairro da Glória, o busto de Raimundo Teixeira Mendes, criador do segundo modelo de bandeira brasileira. 

Vende-se 

A família Gerdau pôs à venda uma cobertura na Avenida Delfim Moreira, em frente à Praia do Leblon, no Rio. 

Coisa de uns R$ 20 milhões. 

Força, Galinho 

Zico andou reclamando com amigos da falta de autonomia para gerir as receitas do futebol no Flamengo. 

Reage, Flamengo... 

Aliás, um gaiato diz que, com DeiviD e Diogo, o Flamengo agora tem um ataque... 3D. 

Calma, gente 

Adesivo que circula em carros na Zona Sul do Rio: “Não sou seu tio, não tenho moedinha e odeio malabarismo.” Parece intolerância. E é. 

Cena carioca 

Papo entre dois porteiros de um prédio de Ipanema, quinta de tardinha: — Severino, depois que eu me separei, descobri que ter exmulher é pior que ter inimigo... 

— Pois é, Zé. É por isso que eu nunca vou casar. Prefiro continuar com os meus inimigos... 

Há testemunhas. 

Perguntas que valem 1 milhão de dólares 

Em dezembro do ano passado, a coluna fez a “pergunta de US$ l milhão”: na eleição de 2010, Lula vai transferir sua imensa popularidade para Dilma? De lá pra cá, as pesquisas têm mostrado que, até agora, sim. 

Mas há outras dúvidas aqui na terra: œ A Lan Chile comprou a TAM ou foi uma fusão das duas voadoras? œ Se fosse uma partida para valer, como numa Copa do Mundo, Mano Menezes usaria um time ofensivo e de jogo bonito como no amistoso contra os EUA? œ Capitu traiu ou não traiu Bentinho? 

No Congresso Nacional de Laticínios, realizado mês passado em Juiz de Fora, MG, um grupo de pesquisadores pernambucanos apresentou uma densa pesquisa sobre o queijo de coalho, como parte de uma campanha para tornar esta iguaria da minha terra padronizada e com um selo de origem nordestina, dado pelo INPI — igual, por exemplo, ao queijo parmesão, produzido em Parma, na Itália. 

Até lá, é preciso resolver uma questão que chacoalha os queijeiros. É cada vez maior — notadamente no Sul maravilha, onde o queijo de coalho caiu no gosto popular — o uso de leite pasteurizado em sua fabricação, processo recomendado pelas autoridades sanitárias, a fim de evitar impurezas. 

Mas, em Pernambuco, há uma sublevação a favor do uso do leite cru. 

— Não tem nada a ver. O queijo de coalho pasteurizado perde muito do gosto original — brada César Santos, o grande chef de cozinha da terra de Gilberto Freyre.


GOSTOSA

RUTH DE AQUINO

A censura ao humor e o Photoshop da vida real
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Se os humoristas chamassem José Serra de “Zé” e o infiltrassem com aquele sorriso congelado no meio de uma favela cenográfica e tosca, seriam acusados de ridicularizar o tucano. Mas, como a cena insólita aconteceu no programa do PSDB, ninguém processou o marqueteiro. Se o CQC e o Casseta & planeta exibissem o cão de José Dirceu como melhor amigo de Dilma Rousseff, poderiam ser multados por tentar associá-la ao ex-chefe do mensalão, como se a petista fosse herdeira não só do labrador Nego, mas de um período sinistro do PT.
Após a estreia dos programas eleitorais, entre eles a abertura do “Discovery Marina Channel”, com a candidata verde estrelando uma peça futurista de efeitos especiais, finalmente deu para entender por que o humor político e sério foi amordaçado nesta eleição. Porque colocaria o dedo na ferida. Os programas dos candidatos são tão fictícios que a realidade sumiu. Tudo ficou de repente bom, reconfortante, para quem acredita nos seriados e nas novelas.
“O Brasil é um país exótico mesmo. Os políticos fazem humor e os humoristas fazem passeata”, diz Marcelo Tas, do CQC, um dos atingidos por esse entulho da ditadura do Tribunal Superior Eleitoral – que interpreta a sátira política como ameaça à democracia. “Olha só”, afirma Tas com ironia, “estamos esperneando, mas nosso plano é absolutamente estúpido: uma passeata de protesto neste domingo em Copacabana!”
Tas, Marcelo Madureira e Helio de la Peña foram procurados pela CNN e pela BBC de Londres. “Os cidadãos dessas democracias têm muita dificuldade de entender”, diz Tas. “Um político que tem medo do ridículo não pode ser candidato a presidente. O humor humaniza o candidato, o aproxima do eleitor. Nós apostamos no erro, na casca de banana, no nariz torto. Quando se tira o erro, apaga-se o humano. Nossos candidatos se escondem deles mesmos.” Políticos como Barack Obama e Nicolas Sarkozy muitas vezes se beneficiaram das caricaturas inteligentes e ácidas dos humoristas – volta e meia, subiam nas pesquisas logo após a transmissão dos programas. 
Após a estreia do ridículo horário eleitoral, deu para entender por que o humor político foi amordaçado
Assistimos à campanha mais “photoshopada” e engessada da história brasileira. Tudo tem de ficar bonito, sorridente, raso, sem erro. O país está anestesiado, entorpecido. Não é só o humor que está em xeque, sob censura. Quem faz o papel de palhaço somos nós, os eleitores.
A rigidez dos cronômetros e a ditadura dos marqueteiros transformam esta eleição numa das mais chatas, melosas e apelativas de todos os tempos. Serra, aliás Zé, toca comovido as pessoas, acaricia uma mulher que chora e mostra fotos suas ao lado de Lula. Dilma, a criatura, desfila de roupa de ginástica, lembra os anos do cárcere, mas não a luta armada, conta que um dia rasgou dinheiro para dar esmola a um menino e enaltece a maternidade. Marina diz uma verdade: querem infantilizar os brasileiros com essa história de pai e mãe. Somos vítimas de uma grande pegadinha, do Oiapoque ao Chuí.
Fora da tela, a vida real teima em existir. Algumas imagens de nosso abismo social estão na série do jornal O Globo“Como vive o brasileiro”. Trinta e sete milhões de brasileiros, toda semana, ficam sem dinheiro da passagem para voltar para casa após o trabalho e são obrigados a buscar abrigo nas ruas. Dormem até na calçada de hospitais. O déficit de habitação no país é de 5,8 milhões de lares. Quando a moradia é de zinco, tábuas velhas e pedaços de papelão, se sentem privilegiados. Comunidades vivem sobre lixões, correndo risco de morrer. Mais da metade das cidades não dá destino adequado ao lixo. Sete milhões de domicílios não têm sequer coleta de lixo. Quase metade das casas no Brasil não tem coleta de esgoto. Treze milhões de brasileiros vivem sem banheiro e convivem com ratos em casa e bichos mortos nos canais. Analfabetos funcionais chegam a 30% da população. Jovens não conseguem emprego.
Não se esqueça, o horário só é gratuito para os candidatos – você, contribuinte, é quem paga. Pode exigir, em contrapartida, um pouco mais de compromisso com a realidade. E que deixem o humor para quem sabe fazer.

SERRA PRESIDENTE


JOÃO DOMINGOS E CHRISTIANE SAMARCO


A 42 dias da eleição, PMDB reivindica dividir poder ""meio a meio"" com PT

João Domingos e Christiane Samarco 
O Estado de S.Paulo - 22/08/10



Poder dividido "meio a meio". Assento no Planalto, entre os "ministros da casa", e no Conselho Político que assessora o presidente da República. Henrique Meirelles na equipe econômica. Ministérios de "porteira fechada", os cargos de sempre nas estatais e postos de comando nas vedetes do petróleo, a Petrobrás e a Petro-Sal. Senado e Câmara sob seu comando.

Com a campanha eleitoral em curso e ainda a 42 dias da abertura das urnas, é com essa precisão cirúrgica, alimentada pela liderança nas pesquisas da candidata aliada, Dilma Rousseff (PT), que o PMDB já define as regras de ocupação do poder. Como presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), no posto de vice da chapa presidencial, o PMDB estima o tamanho da cota futura de poder baseado no argumento de que agora, se Dilma ganhar, o partido não é mais "um convidado", mas na verdade um dos "donos da casa", o Palácio do Planalto.

A diferença entre "convidado" e "dono da casa" deriva do fato, como explicam os peemedebistas, de que, um governo Dilma seria fruto da coalizão do PT com o PMDB, e não de simples aliança construída depois da vitória - o que aconteceu, por exemplo, nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).

Núcleo. Por isso é que o partido, na condição de sócio-proprietário, já dá como certa a presença de um representante no núcleo político do Palácio do Planalto. "Fomos o primeiro partido a assinar com o presidente Lula um compromisso de união política pela democracia, liberdade de imprensa e de opinião, respeito aos direitos humanos e aos movimentos sociais. Com Lula e com Dilma voltamos a ser o velho MDB, que combateu a ditadura", diz Moreira Franco, escalado para coordenar o programa de governo da candidata petista pelo lado do PMDB.

Depois de passar por uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal e assumir um lugar na coordenação da campanha presidencial, Moreira Franco sonha com um ministério: o das Cidades, que tentou criar na gestão Fernando Henrique Cardoso e só viu a proposta se concretizar no governo de Lula.

Como o partido conseguiu seis ministérios após aderir formalmente ao segundo governo Lula (2007-2010), passando a comandar orçamento superior a R$ 100 bilhões, o cenário pretendido na hipótese de vitoriosa a chapa PT-PMDB supera, em muito, as cifras e o atual espaço de poder.

A legenda, agora, quer assento no Palácio do Planalto, com participação garantida no núcleo da tradicional reunião das 9 horas com o presidente da República, e quer também ministérios em que os postos-chave não sejam divididos com outros aliados - a tal "porteira fechada". Além das estatais e da Petrobrás e da futura Petro-Sal, o partido lembra que é candidato a também ratear poder nas agências reguladoras.

Pré-acerto. Em matéria de cargos, o PMDB já tem até pré-acerto para fincar um pé na área econômica do futuro governo. O passaporte para o Ministério da Fazenda ou do Planejamento é o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se filiou ao partido em setembro passado, a pedido do presidente Lula. Também foi Lula quem deu a Meirelles a carta de garantia de que, se vitoriosa a chapa de Dilma, seu lugar na equipe ministerial está garantido.

No fim de março, quando Meirelles já não tinha expectativas de se tornar o vice de Dilma, Lula o chamou ao Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória do governo. "O PMDB não abre mão de Michel Temer. Então, peço que fique no Banco Central", disse Lula ao presidente do BC. Meirelles concordou em ficar, mas, em troca, o PMDB goiano arrancou de Lula e Dilma a promessa de que o atual responsável pela política de juros terá lugar no primeiro escalão do eventual governo da petista.

Além de Meirelles, outro nome que o PMDB dá como certo numa pasta específica é o do senador Edison Lobão (MA) à frente de Minas e Energia. Lobão conseguiu a proeza de conquistar Dilma, depois de chegar desacreditado a uma área com a qual tinha pouca intimidade, na condição de afilhado do presidente do Senado, José Sarney (AP).

A dupla Sarney e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), deve manter na administração Dilma a influência que teve na gestão Lula. O atual presidente não se esquece de que no Maranhão tem 97% de aprovação dos eleitores, maior até do que no Amazonas - onde, em 2006, saiu das urnas com 1 milhão de votos de vantagem sobre o tucano Geraldo Alckmin, com voto de apenas 176 mil eleitores.

Bancada. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), quer resolver seu futuro dentro do próprio Congresso. A cúpula do partido já negocia com o PT do líder Cândido Vaccarezza (SP) sua indicação para substituir Temer na presidência da Casa.

"Se formos vitoriosos na eleição, vamos pleitear a presidência da Câmara no primeiro biênio do próximo governo, tendo ou não a maior bancada", antecipa o deputado Eduardo Cunha (RJ).

O partido considera "justo e razoável" que o PMDB mantenha a cadeira de Temer em sistema de rodízio com o PT, pelo qual caberá a Vaccarezza o comando da Câmara no segundo biênio da futura administração. Como em fim de governo é sempre mais difícil manter a coesão da base, ter a presidência da Câmara nas mãos de um petista nos últimos dois anos daria mais segurança ao eventual governo Dilma. No Senado, a regra que vale é a da maior bancada indicar o presidente.

O PMDB conta com o sucesso nas urnas como condição única para fazer o sucessor de Sarney, independentemente da presidência da Câmara. O argumento é que o senador peemedebista teria direito a uma reeleição.

Dirigentes do partido também lembram que, tal como diria Lula, "nunca antes neste país" o PMDB foi aliado de primeira hora em uma campanha. No novo cenário, a legenda se recusa a apadrinhar indicações como a de José Gomes Temporão, que Lula nomeou ministro da Saúde na cota do PMDB. Um peemedebista da cúpula diz que, nesse caso, seu partido nem padrinho foi: "Servimos de barriga de aluguel para o PT, e isso não admitiremos mais."

DORA KRAMER

Desencontro marcado
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO 22/08/10

PT e PSDB são sem sombra de dúvida as duas grandes forças políticas antagônicas da cena brasileira, quanto a isso não há quem discorde embora haja quem goste e quem desgoste.
Há anos discute-se uma junção dos dois num hipotético governo de excelências, livre de pressões fisiológicas.
Debate que a realidade insiste em desmentir constantemente pelo acirramento da divergência entre petistas e tucanos que já lutaram juntos contra a ditadura, mas desde a ruptura - final da década dos 70 - disputam o poder sem dar sinais de que possa haver convergência.
Pois bem, a última pesquisa Datafolha mostra que o eleitorado de um modo geral está pouco ligando para a briga dos dois.
Em uma mesma eleição escolhe o candidato a presidente de um partido, de outro para governador, de um terceiro para senador e assim por diante até completar rol de postos eletivos a serem preenchidos, sem se preocupar com a uniformidade partidária.
O voto cruzado não é novidade nem tem razões tão misteriosas ou profundas. Apenas na ditadura os generais inventaram durante certo período o voto vinculado, obrigando o eleitor a escolher candidatos a governador, senador e deputado (não havia eleição para presidente) de um mesmo partido.
A ideia era conter a onda oposicionista que começara a se expressar em 1974. O resultado da eleição de 1982 contrariou a expectativa: a maioria preferiu marcar “PMDB de ponta a ponta”.
O motivo mais óbvio pelo qual o eleitor mistura Geraldo Alckmin com Marta Suplicy, Dilma Rousseff com Aécio Neves, Sergio Cabral com seu arqui-inimigo Marcelo Crivella e assim por diante, é o descompasso entre a vida real e o ambiente cenográfico em que vivem os partidos, apartados da população.
Fazendo bobagem em cima de bobagem no Congresso, tratando a administração pública como casa da sogra e abrindo cada vez mais espaço para soluções personalistas e retrocessos carismáticos.
De onde para o autoritarismo é um pulo. 
DOIS NA GANGORRA
Há uma explicação para a reação imediata e incisiva do PT ao uso da imagem de Lula no programa do PSDB. Principalmente cenas em que aparece em situação de amabilidade com José Serra.
Segundo análise de um mandachuva da campanha dias atrás, o pior momento para o PT foi aquele início em que Serra elogiava Lula sem parar. “Não havia argumentos convincentes para responder. Íamos dizer o quê, que Lula não merecia os elogios?”
Agora ocorre parecido. Quando o PSDB põe Lula no ar para acentuar o fim do governo, é difícil o PT rebater, dado que o governo de fato acabará em poucos meses.
O argumento de que a lei não permite o uso da imagem de político em programa de partido ao qual ele não esteja formalmente coligado, não tem grande fundamento quando o político em questão é presidente da República. 
Símbolo nacional, como o hino ou a bandeira.
Mas o PT entende que precisa reagir e busca a melhor maneira de fazer isso.
O tom mais eficaz até agora é o que acusa Serra de querer pegar uma carona no sucesso de Lula, pois não rejeita nem aceita os agrados, mas lembra ao eleitor que o adversário cisca em terreiro alheio.
Guardadas as proporções, Serra faz o que Lula fez com a estabilidade da moeda.

BURACO NEGRO
A autoria da quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, caminha para o mesmo destino da origem do dinheiro com que os “aloprados” do PT comprariam um dossiê contra José Serra.
Quatro anos depois, ninguém sabe de onde saiu o dinheiro apreendido e fotografado pela Polícia Federal.
Dificilmente alguém um dia saberá quem violou o sigilo do tucano na Receita Federal. A funcionária dona da senha identificada diz que emprestou sua identificação para duas colegas e estas informam que a senha foi deixada ao alcance de outras pessoas.
Desse modo todo mundo pode ser culpado e ninguém pode ser punido.