quinta-feira, agosto 19, 2010

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Na disputa pelo terceiro mandato

EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 19/08/2010

Muito do que se vê no horário gratuito não é o que parece - a começar da expressão, que esconde o fato de que, no fim, a conta sobra para o contribuinte. Mas nada do que se mostra nos programas de propaganda eleitoral se parece tanto com conversa de vendedor de fitas piratas como o que o presidente Lula diz da candidata que escolheu solitariamente para ser a sua sucessora. A tal ponto ele se derrama em superlativos sobre as suas imbatíveis qualidades, que pode levar o espectador mais cético, ao modo do santo e da esmola, a desconfiar até dos atributos que ela haverá de ter.
O presidente que inventou o bordão do "nunca antes na história deste país" para se vangloriar dos seus presumíveis feitos sem precedentes usa agora na promoção de sua afilhada a mesma retórica da louvação sem limites. No primeiro programa em que roubou a cena como puxador de votos para Dilma, na terça-feira à noite, Lula mostrou como sabe ser excessivo. Numa fala gravada no Palácio da Alvorada, a residência oficial dos presidentes brasileiros - a lei, ora a lei -, ele jorrou: "Tem pessoas a quem a gente confia um trabalho, e elas fazem tudo certo. Estes são os bons. E há pessoas a quem a gente dá uma missão, e elas se superam. Estes são os especiais. Dilma é assim."
E Lula é assim, para surpresa de ninguém. Antes ainda de começar a campanha, ele já se gabava de que lhe bastara apenas uma primeira reunião com Dilma para ter a certeza, como tornou a repetir anteontem, de que havia encontrado "a pessoa certa para o lugar certo" - no caso, o Ministério de Minas e Energia. Mas ele não ficará propriamente zangado se o eleitor desprevenido entender que se trata do Palácio do Planalto. Até o final da maratona, em 30 de setembro, haverá muito mais do mesmo espetáculo em que tocará ao presidente o papel de fiador das virtudes de quem jamais disputou um voto e que só graças a ele lidera as pesquisas eleitorais.
Só que Lula é um artista tão consumado que consegue exercer esse papel de mais de uma maneira e em mais de uma circunstância. Há o Lula que prega o voto em Dilma como o seu avalista, e há o Lula que prega o voto em Dilma como vigia de seu eventual governo. Uma coisa e outra, naturalmente, para neutralizar as acusações da oposição. No dia da estreia da temporada na TV, em visita a Petrolina e Salgueiro, em Pernambuco, o presidente falou, primeiro, como se candidato fosse e, depois, como o "presidente-sombra" de Dilma que pretenderia vir a ser.
"A palavra não é governar. A palavra é cuidar. Eu quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo", discursou para uma plateia de operários em um canteiro de obras da Ferrovia Transnordestina, em Salgueiro, "como uma mãe cuida do seu filho", numa alusão oblíqua a Dilma, cujo nome não pronunciou, para ela ficar sabendo que a mãe é ele e não ela. Logo adiante, citando o slogan de Obama "nós podemos", reiterou sua disposição de continuar: "Não apenas podemos, como gostamos e queremos continuar governando este país." Como fará isso explicou em Petrolina, onde visitou a Universidade Federal do Vale do São Francisco.
O mesmo Lula que mais de uma vez prometera "ir para casa" quando terminar o mandato e "não dar palpite na vida de quem está governando", agora avisa que está disputando seu terceiro mandato. Transformar-se-á numa "casca de ferida" para fazer a reforma política, além de se empenhar pela criação do marco regulatório do meio ambiente. Isso, de um lado. De outro, continuará a percorrer o País para ver no que deu o seu governo. "E, se tiver alguma coisa errada", advertiu, "vou pegar o telefone e ligar para minha presidenta e dizer "pode fazer, minha filha (sic), porque eu não consegui."" 
Nada lisonjeiro para ela, sem dúvida. Mas isso pouco importa para o seu criador. O que importa, acima de tudo, é vender a criatura, ora argumentando, com lábia de ambulante, que "não há ninguém mais preparado do que ela para governar o Brasil", ora, contraditoriamente, deixando claro que ele estará nos bastidores do poder pronto para suprir as falhas que poderão acontecer pela inexperiência da "filha". 
Nós nunca duvidamos dessa disposição de Lula. Resta saber qual será a reação de sua criatura quando - e se - estiver no poder.

DEMÉTRIO MAGNOLI

Do multiculturalismo à deportação

Demetrio Magnoli 
O Estado de S.Paulo - 19/08/10

"O crápula da República", estampou na capa a revista francesa Marianne de 7/8, sobre uma foto do presidente Nicolas Sarkozy. Dias antes, em Grenoble, Sarkozy pronunciara um discurso odiento: "A nacionalidade francesa deve poder ser retirada de todas as pessoas de origem estrangeira que deliberadamente atentaram contra a vida de um policial, de um militar ou de qualquer outro agente da autoridade pública. (...) Eu sustento ainda que a aquisição da nacionalidade francesa por um menor delinquente no momento da maioridade não seja mais automática."


A pretexto de combater a violência, Sarkozy pressiona pela introdução de uma fronteira de sangue entre os cidadãos. Os "franceses de casta" acusados de delitos contra as autoridades conservariam seus direitos nacionais. Os franceses "de origem estrangeira" - isto é, os cidadãos de outra "etnia" - perderiam tais direitos, sujeitando-se à deportação. A mudança não pressupõe que alguém seja acusado de um ato de delinquência. Antes disso todas as pessoas de origem estrangeira teriam sido rebaixadas a cidadãos de segunda classe, pois teriam apenas uma nacionalidade precária, condicional.
Grenoble representou a conclusão coerente de uma trajetória, não um raio no céu limpo. O ponto de partida foi o multiculturalismo. O ponto de chegada é a deportação. Se há um paradoxo nisso, ele é apenas aparente.
Há três anos Sarkozy criou um Ministério da Imigração e da Identidade Nacional. No nome há uma tese: a imigração constituiria ameaça à identidade nacional, definida segundo critérios étnicos. A tese condensa uma reação contra a história republicana francesa. Desde a Constituição de 1793 a cidadania é definida como um contrato entre iguais, que são os habitantes da França. No lugar disso, o "crápula da República" recupera o mito monarquista da "França de mil anos", portadora de uma essência étnica e religiosa.
A Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen tenta restaurar o mito anacrônico pela celebração romântica do passado, que assoma na imagem de Joana D"Arc. Sarkozy almeja um fim idêntico, mas pelo recurso ao multiculturalismo contemporâneo. Em 2008 o "crápula da República" encomendou um plano de ação em favor da "diversidade" e da "igualdade" entre as etnias. Tudo começaria com a reformulação do censo e a produção de estatísticas étnicas da população. Na França, em nome do contrato republicano da igualdade, os censos não indagam sobre origem ou religião. Mas o projeto multiculturalista não pode viver sem isso, pois precisa colar rótulos étnicos em cada pessoa. Evidentemente, tais rótulos também são indispensáveis para identificar cidadãos de segunda classe e promover a deportação dos "indesejáveis".
Tanto quanto no Brasil, o governo francês ganhou aplausos entusiasmados da rede de ONGs sustentadas pela Fundação Ford para a política de classificação racial dos cidadãos. Contudo uma onda de resistência partiu de defensores de direitos humanos e de movimentos antirracistas. A escritora Caroline Fourest observou que "as estatísticas étnicas reforçarão o racismo". Samuel Thomas, da organização SOS Racismo, conectou o discurso multiculturalista aos "nostálgicos da época colonial". A feminista Fadela Amara qualificou as "estatísticas étnicas, a discriminação positiva, as cotas" como "uma caricatura". E foi ao ponto: "Nossa república não deve tornar-se um mosaico de comunidades. Nenhuma pessoa deve, uma vez mais, portar a estrela amarela."
O "mosaico de comunidades" é o ideal do multiculturalismo. Na França, o recurso à "estrela amarela" propiciaria o delineamento de uma "nação gaulesa" circundada por uma miríade de "etnias minoritárias". No Brasil, propicia a fabricação de um Estado binacional composto por uma "nação branca" (ou "eurodescedente") e uma "nação negra" (ou "afrodescendente"). Lá as minorias ganham a pecha de "estrangeiros"; aqui todos seriam "estrangeiros" numa terra de exílio. Há mais uma diferença. A esquerda francesa, que acredita na democracia, rejeita a rotulagem étnica. A esquerda brasileira, que cultua tiranias, alinha-se quase inteira aos arautos da política de raças.
Todos devem portar a estrela amarela - eis o programa do multiculturalismo. Também é a plataforma de Charles Wilson, líder de um partido neonazista americano que almeja enviar os negros e latinos "de volta a seus países". Ele emprega uma linguagem paralela à dos nossos racialistas e reivindica o que enxerga como seus direitos raciais: "Eu tenho orgulho de ser branco. Estou falando de minha herança, e consideram isso um crime de ódio. Podemos dizer poder negro, poder latino, mas se você disser poder branco cai todo mundo em cima."
Nos idos de 2006, o chefe da Frente Nacional reclamou do "excesso de negros" na seleção francesa de futebol. O zagueiro Thuram, nascido em Guadalupe, replicou oferecendo-lhe uma aula de História: "Não sou negro, sou francês. Le Pen deveria saber que, assim como existem negros franceses, existem loiros e morenos. Viva a França! Mas não a França que Le Pen quer, e sim a França verdadeira." É a "França verdadeira" que está em perigo quando o "crápula da República" tenta dividi-la segundo linhas oficiais de cor.
"Como os militantes antirracistas poderiam apoiar o estabelecimento de categorias etnorraciais?", pergunta, indignado, Samuel Thomas. Eis uma boa questão para os racialistas brasileiros, que se travestem como militantes antirracistas.
Nota. Em carta publicada em 11/8, referente a meu artigo Falanges da moralidade (Aliás, 8/8), Oded Grajew afirma que seu Instituto Ethos não se beneficia de recursos públicos. Não é verdade. Além da isenção de Imposto de Renda e das parcerias com o governo federal, o Ethos recebeu recursos diretos do BID. No Balanço Patrimonial de 2007, o último disponível no site do instituto, está registrado o valor de R$ 488.559,30.
SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP. E-MAIL: DEMETRIO.

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

UebaLimpo Ficha Limpa! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/09/10


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Ereções 2010! Manchete do debate Folha UOL: "Marina arrasa e faz Dilma e Serra desistirem da candidatura". Rarará!
E ontem eu ia assistir à Vanusa no "Superpop", mas esqueci.
E a Dilma no debate? Tava com o peito mais estufado do que galo de briga! E eu perguntaria ao Serra se quem vota em trânsito paga pedágio. E a Marina estava de marrom casca de árvore. A Marina é arvícola. Vive na árvore. O povo da árvore!
E o hilário eleitoral? "THRILLER" de Michael Jackson. Criaturas bizarras: Vampiro, Memeia, ET da Natura e Bela Lugosi!
E eu vou votar no marido da Mara Maravilha. Melhor projeto programático. Ele fica parado, estático e entra a Mara Maravilha: "Votem no meu marido". VOTO! Para aguentar a Mara Maravilha desafinando tem de ser herói. E, quando a Mara Maravilha transa com o marido da Mara Maravilha, ela fica gritando: "Sai capeta, sai capeta."? Rarará!
E o Serra virou comedor! O Kibeloco mostra o vídeo do Serra no hilário eleitoral: "Brasileiros como ele, COMO a mãe dele, COMO a Vania que é mulher dele, COMO o Damião, COMO a dona Maria". Vai entrar pro PGN, o meu Partido da Genitália Nacional.
Indecisos e indecentes votem em mim para presidente. Prometo criar vaga de corno em estacionamento de shopping, legalizar a profissão de ricardão e acabar com a lei da gravidade. Aquela que ainda nos prende no chão!
E o Lula diz que quer ser ativo no governo da Dilma. E nós continuamos a ser passivos? Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Trem fantasma desgovernado: Tiririca, Mulher Pera, Agnaldo Timóteo, Agenor Bisteca e Maluf.
Para provar que o Ficha Limpa não pegou: Maluf. Eu vou abrir um negócio: limpo Ficha Limpa. Não tem aquelas placas na rua "Trocamos cheque sem fundo"? Agora: "Limpo Ficha Limpa". Rarará!
E diz que humorista não pode fazer piada de político, mas o Tiririca faz: "Vote em Tiririca! Você sabe o que faz um deputado federal? NEM EU!". E outra: "Votem em Tiririca! Vou ajudar os necessitados. Principalmente os da minha família".
Socuerro. Me mate um bode. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

Enfim, a oposição 
Merval Pereira 

O Globo - 19/08/2010

A campanha presidencial entrou em nova fase, menos por gosto e mais por precisão do candidato tucano José Serra, que não tem mais tempo a perder com tentativas de fingir que não é oposição ao governo Lula.

Enquanto deu para se equilibrar em um discurso dúbio, em que atacava o governo, mas preservava a imagem de Lula, até elogiandoo em excesso para alguns partidários, Serra foi conseguindo se manter na casa dos 40% de preferência do eleitorado, que o conhecia melhor do que a Dilma.

À medida que o eleitorado foi ligando o nome de Lula à sua pessoa eleitoral, Dilma cresceu de maneira firme, mesmo que não se apresentasse tão firme assim na pré-campanha eleitoral, e cresceu em cima dos números de Serra.

Os primeiros tropeços graves, no início da campanha, foram sendo superados à custa de muito treinamento, e hoje a candidata oficial já consegue enfrentar momentos de estresse político relativamente bem, como aconteceu ontem no primeiro debate na internet promovido pela “Folha de S. Paulo” e pelo UOL.

Tão bem que é capaz de sustentar versões fantasiosas sobre o PT ter apoiado o Plano Real “e o executado”, quando na verdade, depois de atacá-lo em todas as suas ações congressuais, teve que segui-lo quando assumiu o governo para garantir a estabilidade da economia.

Ou simplesmente dar versões distorcidas, como quando acusou o DEM de ser contra o ProUni, por o partido questionar na Justiça critérios como raça para a escolha dos bolsistas.

Não se trata de uma grande oradora, muito ao contrário.

Dilma parece sempre aponto de esquecer o script, de falhar na ligação entre as frases, demonstra muito esforço para uma tarefa que parece mais simples tanto para Marina Silva quanto para José Serra.

Com a vantagem que a principal adversária abriu em todas as pesquisas de opinião, já não há mais escolha para Serra senão atacá-la de frente, tentando demonstrar que ela não tem condições de suceder a Lula.

E também tem sido inevitável comparar os dois governos, o atual petista e o anterior, tucano, o que não tem se mostrado necessariamente ruim para Serra.

À medida que ele perde o receio da confrontação entre os governos de Lula e o de Fernando Henrique Cardoso, fica cada vez mais claro que há um processo em marcha, e que a gênese desse processo de desenvolvimento não é o governo Lula, como quer a propaganda oficial.

Mesmo que os números sejam favoráveis ao governo Lula, a campanha da petista já foi obrigada a reconhecer que foi um erro não apoiar o Plano Real.

O próprio presidente Lula, para comentar a dificuldade em que se encontra o candidato oposicionista, usou a eleição de 1994, que perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique, para explicar: “Já vivi isso.

Quando tinha de fazer campanha contra o Plano Real, o povo votava no Real, e eu me lasquei.” Não se pode nem dizer da candidata Dilma que ela bate como homem, mas quer ser tratada como mulher nos debates políticos, já que sua verdadeira personalidade está maquiada pelo marketing político que a transformou de executiva fria e quase rude, que já fez muito homem chorar, em uma doce senhora.

E essa doce senhora sentiuse ofendida ontem com a pergunta de um jornalista do UOL sobre sua saúde.

Ora, em que mundo vivemos? Um candidato à Presidência da República deveria ser obrigado a prestar contas sobre sua saúde à população e não pode considerar esse um assunto “privado”.

Nos Estados Unidos, o republicano John McCain, aos 72 anos, com uma saúde frágil em consequência das torturas sofridas quando prisioneiro de guerra no Vietnã, e já tendo tido um melanoma, seria o mais velho presidente a assumir o cargo num primeiro mandato se vencesse a eleição contra o democrata Barack Obama em 2008.

No meio da campanha, apareceu certa manhã com um curativo no rosto, e foi o que bastou para especulações sobre a volta do melanoma.

Ele teve que não só explicar que retirara uma pinta do rosto como mostrar o laudo médico que garantia que não havia ali qualquer tumor maligno.

Depois do primeiro programa de televisão, em que o de Dilma Rousseff foi mais “presidencial” do que o de Serra, provavelmente teremos mudanças.

A favela cenográfica mostrada pelo programa do PSDB, que mais parecia um cenário de chanchada da Atlântida com aqueles barracões de zinco romanceados e sambistas estereotipados, deve desaparecer, assim como a figura popular do Zé, para dar lugar a um candidato mais assertivo em busca de confrontação para se impor ao eleitorado como o mais preparado.

Embora Dilma tenha 46% mais de tempo de propaganda no rádio e na TV, os 7 minutos e 18 segundos que o tucano tem por bloco do horário eleitoral obrigatório são mais que suficientes para ele dar o seu recado.

Tanto ele quanto a candidata oficial vão em busca de eleitores que, embora aprovem o governo Lula, não votam automaticamente no candidato apoiado por ele.

Eles são cerca de 20% do eleitorado e estão principalmente entre os mais pobres, com renda de até um salário mínimo.

A campanha de Dilma tem outro nicho onde buscar os poucos pontos que a separam de uma vitória no primeiro turno: cerca de 7% dos eleitores ainda não identificam Dilma como a candidata do presidente Lula.

O contraditório que caracteriza a parte final da campanha, que é a mais decisiva pelo alcance do programa de propaganda de rádio e televisão, deve permitir que o eleitor se posicione com clareza, e os petistas jogam com a certeza de que, à medida que Serra se apresente como o candidato da oposição, mais será visto pelo eleitor como o anti-Lula.

DORA KRAMER

Na cadeira presidencial 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 19/08/2010

À primeira referência explícita da oposição no horário eleitoral ao fim do governo Luiz Inácio da Silva - "quando o Lula da Silva sair é o Zé que eu quero lá" - o presidente tratou de reagir.

Mudou completamente a afirmação que vinha defendendo desde a reeleição, em 2006, de que uma vez terminado o segundo mandato iria "assar uns coelhinhos" em São Bernardo do Campo. Há menos de um mês ainda dizia que iria ensinar a Fernando Henrique Cardoso como deve se comportar um ex-presidente: "sem dar palpite" na vida de quem está governando.

Ontem Lula passou a dizer que vai percorrer o País dando palpites para Dilma Rousseff quando vir "alguma coisa errada". Assegurou que terá "papel ativo" no governo dela viajando o País inteiro para verificar como andam as coisas.

Dando a entender que nem ao menos guardará a liturgia do cargo. Qualquer coisa pega o telefone e diz: "Olha, minha filha, tem coisa errada. Pode fazer o que eu não fiz." Pelo dito, vai inaugurar uma modalidade de Presidência itinerante e a distância.

Quis informar ao público que votar em Dilma significa votar nele, que a única diferença entre um governo e outro será o nome do titular do cargo. E ainda assim de direito porque de fato o presidente será ele, Lula.

Quis aplicar um antídoto à ideia da retirada de cena, da descida de Lula do pódio da política e da substituição de mandatário explicitada no refrão da trilha sonora do programa de televisão de José Serra.

Para Dilma, Lula, o PT e o plano de uma continuidade por unção quase divina é fundamental que o público não tome consciência da interrupção, não consolide a noção de separação, de diferença. É crucial que o entendimento seja o de que haverá apenas uma troca de nomes por exigência legal, algo próximo de uma formalidade.

No programa eleitoral do PT no horário noturno esse imperativo ficou evidente: em ritmo de Brasil grande, formato de superprodução e tom institucional sem resquício de política, não houve referência ao ato eleitoral.

Ninguém pediu votos ou considerou a existência de uma disputa e de concorrentes ao cargo. Passa por cima do eleitor, transpõe o obstáculo das urnas como se no ano que vem fosse haver uma mera mudança de governante por vontade e sob a bênção de Lula.

A campanha simplesmente desconhece a circunstância eleitoral: não pede que Dilma seja eleita por isso ou por aquilo, não a compara com os concorrentes de maneira a informar ao eleitor que se trata de alguém mais bem qualificado que qualquer dos outros, nada.

Simplesmente põe Dilma Rousseff sentada na cadeira presidencial. No encerramento a música corrobora o fato consumado: "Agora as mãos de uma mulher vão nos conduzir/ eu sigo com saudade, mas feliz a sorrir/ pois sei, o meu povo ganhou uma mãe/ que tem um coração do Oiapoque ao Chuí."

O sujeito da oração, evidentemente é Lula, que os autores João Santana e João Andrade transformam numa representação de Jesus Cristo - "deixo em tuas mãos o meu povo" - com vocação autoritária - "mas só deixo porque sei que vais continuar o que fiz".

E se não soubesse não deixaria? Não gostaria é a leitura subjacente.

Na realidade não poderia. Deixa porque a lei assim determina e a derrota do governo na votação da CPMF no Senado em 2007 deu a Lula a exata noção da impossibilidade de mudar a Constituição para obter a chance de disputar um terceiro mandato.

Senado do qual não para de reclamar, dizendo que foi "injusto e ofensivo" com o governo, e onde agora se esforça para formar maioria servil ao projeto de hegemonia e eliminação paulatina do contraditório no Brasil.

Nenhuma diferença em relação a oligarquias que dominam há décadas territórios País afora e toda semelhança com coronéis do porte de José Sarney, cujo empenho em inspirado dizer do senador Jarbas Vasconcelos sempre foi transformar o Senado em um "grande Maranhão".

Nada que já não se soubesse, embora não de maneira tão explícita e didática conforme foi mostrado no horário eleitoral.

CUSTO-BENEFÍCIO

ILIMAR FRANCO

Exército neles 
Ilimar Franco 

O Globo - 19/08/2010 

Os petistas se esforçaram, nesta semana, para criar um fato negativo para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência. Na noite de terça-feira, quando agentes penitenciários invadiram o prédio da Câmara, eles aconselharam o presidente Michel Temer (PMDB-SP), e vice de Dilma, a convocar o Exército para desalojar os manifestantes.

Percebendo o desastre político de uma decisão dessas, Temer encarou os petistas: “De jeito nenhum, imagina se vou fazer uma coisa dessas”.

Aécio, no telefone, pede por Anastasia

A campanha à reeleição do governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), está usando uma gravação do ex-governador Aécio Neves como telemarketing.

“Alô? Tudo bem? Olha, aqui quem está falando é o Aécio Neves. Eu estou te ligando, (...) eu estou tomando a liberdade de vir pedir o seu voto para elegermos Antonio Anastasia governador”, diz Aécio. Os apoiadores de Hélio Costa (PMDB) estão estrilando. Os eleitores mineiros acreditam que receberam uma ligação pessoal do ex-governador. Sua assessoria informa que não pede votos para José Serra também porque há partidos na aliança regional que apoiam Dilma Rousseff.

E alguém disse que era ela?” — Sérgio Guerra, presidente do PSDB, sobre a nota da cantora Elba Ramalho dizendo que não é sua a voz na versão de Bate Coração, veiculada como jingle na campanha de José Serra

EM TRÂNSITO. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) se cadastrou para votar em trânsito, em Fortaleza (CE). Ele transferiu seu domicílio eleitoral para São Paulo, a pedido do presidente Lula, que queria que ele disputasse o governo do estado. Agora, Ciro só poderá votar para presidente. Ele é o coordenador da campanha à reeleição de seu irmão, o governador do Ceará Cid Gomes. Ciro não será candidato a nada nem poderá votar no irmão.

Expectativa

O governador Paulo Hartung (PMDB) vai receber a candidata Dilma Rousseff (PT) amanhã em Vitória (ES). A petista espera que Hartung manifeste seu apoio público. Hartung já foi do PSDB e interlocutor privilegiado de José Serra.

Reforço

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), espera para um almoço, amanhã, em Manaus, o candidato José Serra. Depois, os dois visitarão uma fábrica na Zona Franca de Manaus.

Virgílio briga pela segunda vaga no Senado.

Ressentimento pernambucano

Os jarbistas estão inconsoláveis. Queixam-se que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, não convidou o candidato ao governo, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), para o lançamento de sua candidatura a deputado federal, no sábado. O candidato ao Senado, Raul Jungmann (PPS), estava presente. Sobre isso, Guerra desdenha: “O que é que um candidato majoritário vai fazer no lançamento de um candidato a deputado?” .

Sururu paulista

É grande o mal-estar nas campanhas dos candidatos ao Senado, em São Paulo, Marta Suplicy (PT) e Netinho de Paula (PCdoB). Tudo por causa da veiculação de um vídeo no YouTube tratando de um caso antigo, no qual Netinho foi acusado de agredir a ex-mulher. A campanha de Netinho descobriu que a imprensa recebeu o vídeo pelo mailing da assessoria de imprensa da candidatura de Marta. Os comunistas querem que o responsável pela propaganda negativa seja afastado

O MINISTRO Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) espera que o TCU reveja sua decisão de auditar as indenizações pagas a anistiados políticos. Alega que falta expertise para revisar 50 mil processos.

O PCdoB está reivindicando que o presidente Lula grave para a deputada Vanessa Grazziotin (AM), candidata ao Senado. O PT também tem candidata.

OS DIRIGENTES dos partidos estão prevendo que a maioria das eleições para os governos estaduais será decidida no primeiro turno.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

MÍRIAM LEITÃO

Na era digital 
Miriam Leitão 

O Globo - 19/08/2010

No tempo das mídias sociais, a sua audiência tem audiência, e isso pode ir ao infinito, explicou o especialista e escritor Brian Solis no Congresso Digital Age 2.0. Ou seja, os que te seguem no Twitter são seguidos por outros. “Quem está tuitando agora?”, perguntou Brian e recebeu respostas majoritárias do plenário. Ao fim da palestra dele, me isolei para ver na web o debate dos presidenciáveis.

No meio do debate da Folha Uol, o jornalista Fernando Rodrigues informou que aquele era o assunto mais falado na internet no mundo, naquele instante.

Ou seja, o hashtag #debatefolhauol era o primeiro na lista mundial. Entre as pessoas que sigo, uma jornalista portuguesa informou que o Brasil está usando a internet no seu Censo 2010.

Enquanto ouvia o debate, expliquei para ela como funcionava o censo brasileiro.

Há quem considere que todo esse mundo é para um grupo pequeno de histéricos dependentes de novidades tecnológicas e há quem veja nisso o presente do futuro. Sou do segundo grupo. Quanto um bom debate virtual influencia uma eleição? Isso será respondido depois, mas a ideia de Solis ajuda a alargar a visão. Não são apenas tuiteiros mandando informações para seus seguidores, mas para pessoas que seguem e são seguidas, que conversam com você, seu público e o público deles. Que depois vão trocar impressões com quem nem se dá ao trabalho de acessar alguém ou algum site. A tribo digital e a tribo analógica vão trocar impressões, com uma influenciando a outra, na mesa do jantar, nos bares, nas conversas cotidianas. A jornalista Cora Ronai disse, numa entrevista recente, que Twitter é todo mundo numa praça gritando. Imaginei uma enorme Ágora do século XXI, em que todos podem ter direito a palavra.

Mundo novo. Velhas questões em debate: investimento público, falta de saneamento, os votos do PT contra tudo e todos, o ensino profissionalizante, alianças com políticos obsoletos e reformas não feitas.

A pergunta que sempre fica no ar: quem ganhou o debate? A resposta será sempre subjetiva, cada um deve ficar com a sua avaliação.

Acho mais estimulante ressaltar o que houve de novo no debate.

Os candidatos estavam mais à vontade do que na televisão. Foram mais parecidos com eles mesmos, e disseram algumas verdades.

Dado o controle asfixiante dos marqueteiros sobre a fala dos candidatos, momentos breves de sinceridade devem ser comemorados.

José Serra e Dilma Rousseff trocaram mais farpas do que nunca. Serra acusou o PT de ser o campeão do “quanto pior, melhor”, e lembrou os votos do PT: votou contra Tancredo Neves, expulsou quem votou a favor, votou contra a Constituinte, o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o saneamento dos bancos, o Fundef, as OS.

Dilma respondeu: — Reconhecemos que votamos errado.

Pois é. Isso até seria mérito, se não fosse o fato de que votaram errado durante quase duas décadas.

Serra atacou os vazamentos de informações do Enem. Dilma respondeu que até nos Estados Unidos, na guerra do Afeganistão, houve vazamentos.

— Esses dados cadastrais, 31 instituições têm acesso — disse Dilma reagindo à acusação de que o fato tenha desmoralizado o Enem.

Nesse ataque inicial, Dilma foi vingada por Marina, que atacou Serra em dois pontos difíceis de responder: — Ontem, estive numa favela em São Paulo onde há esgoto a céu aberto e vivem 10 mil pessoas — disse.

Antes, Marina havia criticado dados educacionais de São Paulo, perguntando se aquilo era o melhor que o PSDB podia apresentar depois de governar o estado por 16 anos.

Dilma perguntou a Marina sua opinião sobre a ampliação da internet. Ela deu resposta genérica e Dilma aproveitou para elogiar o governo no Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). Marina poderia ter perguntado por que oito anos não foram suficientes para usar o dinheiro, que foi deixado no cofre pelo governo anterior, para um programa de universalização dos serviços de telecomunicações.

Marina acusou Serra e Dilma de serem iguais, nas qualidades e nos defeitos.

Qualidades: bons gerentes; defeitos: pensamento econômico desatualizado. Uma grande tacada dela: “Estão querendo infantilizar os brasileiros com essa história de mãe e pai.” Esse é o tipo de frase que se estivesse no Twitter, eu retuitaria.

Dilma disse de forma dura, e não foi respondida, que havia no governo Fernando Henrique na área de saneamento o que ela chamou de “fila burra”. Uma empresa que estivesse sem documentação necessária para um projeto de financiamento não era substituída pela segunda da fila. Tudo ficava paralisado.

Marta Suplicy, entrevistada no intervalo, disse que ficou ruim para Serra o tom duro contra Dilma: “ela é mulher, não deve ser atacada assim.” Para uma feminista, essa explicação é meio ridícula. Aquele era um debate de iguais.

Mauro Paulino, do Datafolha, entrevistado no intervalo, disse que a maior probabilidade continua sendo de vitória de Dilma Rousseff, mas lembrou que a campanha está começando.

Se Brian Solis, com todo o seu conhecimento de mundo digital, tiver razão, o que foi dito lá foi além dos que acompanhavam tudo pela web, porque hoje a audiência de cada jornalista, blogueiro, tuiteiro, internauta tem sua própria audiência.

A informação se espalha de forma viral.

De noite, Serra e Marina foram para um debate com diretores de recursos humanos de empresas de todo o Brasil. Três mil inscritos no congresso da ABRH. Dilma não foi. Foi um encontro do mundo físico.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Rio Grande do Norte prepara mão de obra para eólicas 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 19/08/2010

À espera do próximo leilão de fontes alternativas de energia, marcado para o final deste mês, o Estado do Rio Grande do Norte já se preocupa com a mão de obra que será preciso qualificar.
A energia eólica ainda não conta com técnicos e engenheiros suficientes para suprir a demanda no Brasil.
A ideia é tornar a região "referência mundial em energia limpa, não só em produção como em consumo", nas palavras do coordenador de energia do Estado, Tibúrcio Batista Filho.
Para isso, o governo passou a articular com indústrias e escolas técnicas locais a formação de trabalhadores que poderão também atuar no que se transformará em um polo fabricante de equipamentos para energia eólica, segundo o governo.
"Estamos esperando o resultado do leilão da próxima semana para quantificarmos a necessidade de turmas", afirma Batista Filho.
O Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis, que antes só trabalhava gás natural, passou a abranger energias renováveis.
No último leilão, o Estado foi contemplado com 23 projetos, de 657 MW, e investimentos de R$ 3,5 bilhões.
"O que chama a atenção nos projetos de eólicas é que há vontade dos investidores de alavancar projetos de crédito de carbono", afirma Maria Beatriz Mello, sócia do Trench, Rossi e Watanabe.
O escritório tem no portfólio investimentos de R$ 800 milhões em projetos de eólicas que compreendem seis parques de 170 MW de capacidade instalada.
MAIORES SALÁRIOS

O trabalhador com deficiência no Estado de São Paulo ganha, em média, R$ 1.056, salário 11% maior que o recebido pelos demais trabalhadores.
Uma das explicações para a diferença é a maior escolaridade dos trabalhadores com deficiência: 50,6% deles têm o segundo grau completo, ante 47,5% dos trabalhadores sem deficiência. A pesquisa foi realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/FEA USP) e vai ser apresentada hoje em encontro entre empresários e o governo do Estado.
Para Linamara Rizzo Battistella, secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, apesar do avanço, ainda faltam centros de reabilitação especializados no país, para tratar a partir de um diagnóstico precoce. "O acesso à tecnologia e à educação muda a relação com o aluno e a relação com o trabalho."
CHAVE DE CASA

O mercado imobiliário fechou o primeiro semestre deste ano em alta.
Nos primeiros seis meses foram vendidas 17.005 unidades na cidade de São Paulo, segundo levantamento do Secovi-SP (sindicato da habitação), que será divulgado hoje.
O número só é inferior ao volume registrado em igual período de 2008 (19.224 unidades).
Na comparação com o primeiro semestre de 2009 (14.368 unidades vendidas), houve aumento de 18,4%. Na segmentação por número de dormitórios, a distribuição ficou próxima da registrada no segundo trimestre. Imóveis de dois quartos ficaram na frente.
DO TRABALHO AO TURISMO

A operadora de turismo voltada a jovens STB (Student Travel Bureau) vai ampliar seu escopo de atuação neste ano.
Será criada uma nova frente de negócios, com o lançamento de uma divisão para viagens de lazer aos parques de Orlando, com investimento de 10% do faturamento.
Desde 2002, a empresa era recrutadora exclusiva no Brasil, na Argentina e na Austrália de programas para trabalho na Disney. Neste mês, ela passa a oferecer também turismo.
Para a temporada de férias de janeiro, está previsto crescimento de 10% com a nova frente, segundo o presidente do STB, José Carlos Hauer Santos Jr. Para 2011, a expectativa é aumentar em 30% o faturamento do STB Brasil. "Nos próximos anos esperamos 3.000 passageiros."
COLARINHO

A Chopp Germânia irá expandir a rede por meio de franquia. "Com o crescimento do mercado, resolvemos buscar novos canais de venda e criamos um modelo de franquia tanto para lojas e quiosques como para o sistema delivery", diz Wadi Nussallah, fundador da empresa. A rede, com 150 lojas, nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná, planeja fechar o ano com mais 20 unidades.
"Está aumentando o hábito do consumidor de beber chope em casa", diz. Nos planos de expansão, está a entrada no mercado do Rio de Janeiro em 2011. "É o Estado que mais consome chope no país."
A fábrica, em Vinhedo (SP), que produz 6 milhões de litros de chope por ano, acaba de passar por ampliação. A capacidade de produção aumentou cerca de 30%, com a construção de novos tanques.

Das telonas... A inglesa Aston Martin, conhecida por ter o carro usado por James Bond, inaugura hoje, em São Paulo, a primeira concessionária no país. A loja recebeu investimento de R$ 5 milhões, segundo Sergio Habib, responsável por trazer a marca ao país.

...para o Brasil A previsão é vender 80 carros ao ano. O modelo Vantage V8, o mais barato, custa R$ 620 mil, e o DBS, o top de linha, sai por R$ 1,4 milhão.

Gestão... A CMA vai lançar um sistema de gestão de risco em tempo real integrado a uma plataforma de negociação eletrônica. Com investimentos de R$ 5 milhões, a solução entra em produção em setembro.

...de risco Integrado aos módulos para execução de ordens na Bolsa, o sistema apresentará, a cada nova operação, as probabilidades de prejuízo nos prazos estipulados e os ativos com maior risco na carteira.

Encontro A Abdib irá receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 23, em São Paulo, quando a entidade apresentará programas e ações realizadas pelo governo federal que ajudaram a desenvolver a infraestrutura brasileira.

Malha A DesleeClama, indústria têxtil belga, irá investir US$ 3 milhões na fábrica no Brasil, em São Paulo. A expectativa é crescer 30% até o final deste ano e aumentar em 50% a produção, para 450 quilômetros de tecidos por mês. Em 2009, a companhia cresceu 27% e faturou 10 milhões.

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO


Pai e mãe

EDITORIAL
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/08/10


Estratégia governista de tratar política como vida familiar não é republicana e ajuda a encobrir candidata que ninguém conhece

"O Brasil amadureceu. Não precisa ser uma sociedade infantilizada. Querem infantilizar os brasileiros com essa história de pai e mãe", disse a candidata Marina Silva no debate Folha/UOL, que reuniu ontem os três candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas eleitorais.
Um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Pernambuco oferecera, na véspera, mais um exemplo daquilo que a postulante do PV, com acerto, criticava. "A palavra não é governar", anunciou, ao repisar o tema. "A palavra é cuidar. Eu quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo como uma mãe cuida do seu filho."
Em ato falho, a frase condensa o presidente e a candidatura por ele inventada. Dilma Rousseff "c"est moi", admite afinal o petista. "Mãe" e "pai" dos brasileiros se fundem na mesma figura mistificadora. A declaração revela mais do que o entendimento de Lula sobre o processo sucessório. A apresentação da política em termos característicos das relações privadas e familiares termina por desvirtuá-la, ao negar o caráter igualitário da esfera pública.
O princípio de igualdade entre os cidadãos deve valer também para seus dirigentes, escolhidos pelo voto. Não pode haver relação hierárquica, do ponto de vista político, entre o mandatário de turno e o conjunto de eleitores. Compete a todos obedecer apenas às leis.
A figura paterna, ao contrário, pressupõe uma relação de superioridade com os filhos. Os laços cordiais, de afeto e de "cuidado" contidos na imagem proposta por Lula mal disfarçam a herança patrimonial e autoritária da política brasileira. A metáfora ecoa a tutela populista exercida sobre as massas recém chegadas à cidade em meados do século passado. Contradiz os princípios impessoais republicanos. Faz pouco do cidadão -que não precisa de atenções paternais ou maternais, mas de respeito a seus direitos.
O discurso retrógrado e conservador serve muito bem às circunstâncias fabricadas por Lula. Induz a uma avaliação da candidatura de Dilma por critérios outros que não os da vida pública.
Nesse terreno a postulante governista é um enigma. É provável, como querem os petistas, que não lhe falte competência gerencial. Não se sabe, no entanto, como se comportará na eventualidade de ser eleita para ocupar o mais alto posto da República.
Mesmo Jânio Quadros e Fernando Collor, que chegaram ao poder máximo de forma fulminante, haviam sido antes prefeitos, governadores e parlamentares. A ex-ministra da Casa Civil jamais disputou eleição, não exerceu nenhum mandato, nunca foi submetida ao escrutínio público. Até Lula admite tê-la conhecido há apenas oito anos. Em caso de vitória, excetuados os presidentes da ditadura militar, ninguém como ela terá chegado ao ápice sendo tão pouco conhecido e testado.
São fragilidades como essa -alarmante, quando estamos na iminência de uma campanha sumária de estilo consagratório- que a xaropada sentimental dos publicitários procura ocultar. Cumpre à imprensa independente, às associações da sociedade civil que procuram influenciar o processo eleitoral e a cada cidadão levantar o véu da fantasia.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Prometem cidadãos, entregam maus alunos
Carlos Alberto Sardenberg
O GLOBO - 19/08/10



Há algum tempo, em visita ao Brasil, um diretor do Ministério da Educação da China alinhava as razões pelas quais seu país logo seria a segunda potência econômica do mundo. Além dos motivos clássicos - rápido crescimento, elevado nível de poupança e investimento, muita pesquisa em novas tecnologias, escola de qualidade - acrescentou um que chamou a atenção: na China, dizia, com orgulho, há 300 milhões de jovens estudando inglês, bom inglês. E isso é igual à população dos Estados Unidos, onde nem todo mundo fala inglês, acrescentava, com satisfeita ironia.

Quantos jovens estudam inglês a sério no Brasil? E quantos nas escolas públicas? Em compensação, nos últimos três anos, conforme leis aprovadas no Congresso, os alunos do ensino básico brasileiro passaram a ter aulas de filosofia, sociologia, artes, música, cultura afro-brasileira e indígena, direitos das crianças, adolescentes e idosos, educação para o trânsito e meio ambiente.

Como não aumentaram o número de horas/aula nem o número de dias letivos, é óbvio que o novo currículo reduz as horas dedicadas a essas coisas banais como português, matemática e ciências.

Vamos falar francamente: isto não tem o menor sentido. É um sinal eloquente de como estão erradas as agendas brasileiras.

Dirão: mas nossas escolas precisam formar cidadãos conscientes, não apenas bons alunos.

Está bem. Então vai aqui a sugestão: dedicar os sábados e talvez algumas manhãs de domingo para essa formação. Não há melhor maneira de conhecer a cultura indígena do que visitar aldeias, aos sábados, um passeio educativo. Artes plásticas? Nos museus e nas oficinas. Música? Que tal orquestras e bandas que ensaiariam aos sábados ou durante a semana depois das aulas? Meio ambiente? Visitas às florestas e parques. Consciência de trânsito? Um sábado acompanhando os funcionários pelas cidades.

E assim por diante. Como aliás se faz nos países asiáticos, conhecidos pela qualidade de seu ensino. Mas é mais complicado, exige organização, um pouco mais de dinheiro, mais trabalho, especialmente nos fins de semana, e professores e instrutores mais qualificados e entusiasmados com as funções, obviamente com boa remuneração.

Em vez disso, determina-se a inclusão de algumas aulas no currículo e está completa a enganação: ninguém vai aprender a sério nenhuma dessas "disciplinas do cidadão", assim como a maioria não aprende a contento português, matemática e ciências.

Inglês então, nem se fala, porque aí tem um componente ideológico. É a língua do imperialismo. (Embora seja provável que dentro em pouco seja a língua do imperialismo chinês).

Mas reparem que, quando se trata de estudar mesmo, nem essa ideologia esquerdo-latina ajuda. Diz o pessoal: como estudar inglês se somos todos latino-americanos, bolivarianos e amamos Chávez? Vai daí que vamos ensinar o espanhol a sério? Já seria uma grande ajuda, mas esquece.

Até já se disse que o espanhol seria obrigatório, mas não vingou. Talvez porque o espanhol seja a língua dos colonizadores? Não se espantem se alguma emenda mandar que todos aqui estudem as línguas dos índios.

A sério: todos os testes, nacionais e internacionais, mostram que nossos alunos vão mal em português, matemática e ciências. Todos os estudos mostram que isso cria um enorme problema para as pessoas e para o país. Para as pessoas, porque não conseguem emprego numa economia da era do conhecimento. E para o país, porque, com uma mão de obra não qualificada, perde a batalha crucial dos nossos dias, a da produtividade tecnológica.

Reparem: isso é sabido, provado e demonstrado. E fica por isso mesmo.

Por isso mesmo, não. Tiram tempo de português para incluir uma rápida enganação de cultura afro.

A agenda equivocada atravessa todo o ensino brasileiro. Nada contra as ciências sociais e as artes, mas, responda sinceramente, caro leitor, cara leitora, é normal, é razoável que a PUC-Rio tenha formado, no ano passado, 27 bacharéis em cinema, três físicos e dois matemáticos? É normal que, em 2008, as faculdades de todo o Brasil tenham formado 1.114 físicos, 1.972 matemáticos e 2.066 modistas? Como comentou o cineasta e humanista João Moreira Salles, em evento recente da Rádio CBN, nem Hollywood tem emprego para tantos cineastas quanto os que são formados por aqui. E sobre 128 cursos superiores de moda no Brasil: "Alimento o pesadelo de que, em alguns anos, os aviões não decolarão, mas todos nós seremos muito elegantes." Duvido. As escolas de moda precisariam ser eficientes, o que está longe da realidade.

Na verdade, há aqui uma perversidade sem tamanho. As pessoas das classes mais pobres e os pais que não estudaram já estão convencidos que seus filhos não vão longe sem estudo.

Tiram isso, com sabedoria, de sua própria experiência. E fazem um sacrifício danado para colocar os filhos nas escolas e levá-los até a faculdade, particular, paga, na maior parte dos casos.

Quando conseguem, topam com a perversidade: os rapazes e as moças pegam o diploma superior, mas não estão prontos para o trabalho qualificado.

Com o diploma, caro, guardado em casa, fazem concurso para gari, por exemplo.

Uma injustiça com as famílias pobres, um custo enorme para o país e a desmoralização do estudo.

Se tivessem planejado algo para atrasar o país, não teriam conseguido tanto êxito.

*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

GOSTOSA

PAINEL DA FOLHA

Força de atração
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/08/10 

Ainda que tenha se recusado a indicar, no debate Folha/UOL, a quem pretende dar seu apoio se a disputa entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) chegar ao segundo turno, a senadora Marina Silva sabe bem que o PV, partido ao qual se filiou para concorrer à Presidência, não tem a menor intenção de ficar fora do próximo governo, seja ele qual for. 
Se confirmado o favoritismo de Dilma, o movimento de adesão seria ainda mais "natural", uma vez que o partido já participa do governo Lula -diante da candidatura de Marina, o ministro Juca Ferreira (Cultura) apenas se licenciou da sigla e ficou no cargo. 


Mundo animal Sequência de imagens da natureza com brevíssima aparição da candidata ao final, o programa de estreia de Marina na TV ganhou das campanhas adversárias o apelido de "Discovery Channel". 

Conjunto vazio Um observador escaneou a plateia do debate Folha/UOL, no Tuca, e não encontrou um único integrante do DEM, partido que forneceu o vice da chapa de José Serra e cujo presidente, Rodrigo Maia, vive batendo no tucano. 

Messiânico O entorno de José Serra começa a subir o tom contra Lula. "Eu queria saber o que os intelectuais da esquerda acham de o presidente praticar uma espécie de coronelismo eletrônico", dispara o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), em referência ao jingle de Dilma, no qual se diz que Lula entregará o povo aos cuidados dela. 

Rebolation O comando da campanha tucana tentará convencer deputados e senadores de que esconder Serra em suas propagandas, como muitos vêm fazendo, não é uma boa ideia. Argumento: quem vota em Dilma não vai escolhê-los de jeito nenhum. Há controvérsia a respeito. 

Sorry Dilma não irá ao debate que as TVs católicas Canção Nova e Aparecida realizam na segunda em SP. 

Sucessão Lula poderá ter a chance de indicar mais um ministro do Supremo Tribunal Federalalém do substituto do recém-aposentado Eros Grau. Voltou a circular a hipótese de a ministra Ellen Gracie trocar a Corte por algum posto internacional. 

Cadê? Insatisfeitos por terem sido excluídos da propaganda de TV, candidatos a deputado federal do PT-SP reclamaram ainda mais porque Lula não apareceu pedindo votos para a legenda anteontem, na estreia do horário eleitoral. Somente Aloizio Mercadante e Marta Suplicy cumpriram essa função. Hoje, segundo a direção estadual do partido, o presidente marcará presença. 

Madrinha Coordenador de comunicação da campanha de Dilma, o deputado estadual Rui Falcão, que concorre a novo mandato, exibe em seu site um vídeo com a cobiçada declaração de voto da ex-prefeita Marta Suplicy, feita em plenária no bairro paulistano do Campo Limpo. 

Sem-teto Com dificuldade em despachar na Câmara invadida por manifestantes, que pressionavam pela votação da PEC criadora da polícia penal, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP) passou a tarde de ontem num puxadinho improvisado pelo ministro Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais. 

Melhor assim Apesar de passar semanas insistindo na necessidade de votar as MPs da Copa e da Olimpíada, o governo, no fundo, comemorou o fracasso do esforço concentrado. Temia que as votações resultassem num festival de barganhas. 
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELLI 

tiroteio 

Vejo o risco de "efeito Tiririca". O voto na legenda rebocará os candidatos coligados. 
DE PAULO TEIXEIRA (PT-SP), referindo-se à hipótese de o humorista, que disputa vaga na Câmara pelo PR, ser beneficiado pela estratégia petista de não exibir seus candidatos a deputado na TV, apenas pregando voto no número 13. 

contraponto 

Heresia regional 

O presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça, e o ex-governador Moreira Franco (PMDB-RJ) chegavam juntos a um seminário com candidatos ao Planalto organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, ao qual nem Dilma nem Serra compareceram. Vilaça comentou a ausência tucana: 
-Ninguém encontra nem o Sérgio Guerra... 
Sabedor de que o presidente do PSDB, assim como Vilaça, é natural de Pernambuco, Moreira brincou: 
-Pernambucano é enrolado. Pior que bolo de rolo. 
-Alto lá! Não ofenda bolo de rolo!- rebateu Vilaça.