terça-feira, julho 13, 2010

MIGUEL NICOLELIS - ENTREVISTA


Miguel Nicolelis: “Sinto-me decepcionado”


TRIBUNA DO NORTE
O cientista brasileiro Miguel Nicolelis, de 49 anos, é considerado um dos maiores pesquisadores do planeta na área de neurociências e, por diversas vezes, lembrado para o Prêmio Nobel. Ele lidera pesquisas que podem, por exemplo, representar avanços históricos no tratamento do Mal de Parkinson e implantou em Natal um Instituto Internacional de Neurociências (IINN), que já captou investimentos superiores a R$ 100 milhões e que pretende ser a semente da futura “Cidade do Cérebro”, uma estrutura científica, cultural, econômica e social estimada em mais de R$ 1 bilhão. Não faltam, portanto, motivos para estímulo na carreira de Nicolelis. No entanto, ele revela uma decepção: desde a instalação do IINN, há sete anos, o Instituto nunca recebeu o apoio devido dos poderes públicos estadual e municipal, nem dos políticos potiguares em geral. O neurocientista que acredita que a força do pensamento pode superar as barreiras geográficas e, de certa forma, provou isso instalando um centro de conhecimento de ponta em um Estado pequeno como o Rio Grande do Norte, não esperava deparar com o obstáculo da “falta de visão”. Miguel Nicolelis esteve em Natal na última semana e concedeu entrevista exclusiva ao repórter Wagner Lopes, da TRIBUNA DO NORTE, na qual falou sobre o projeto, as novidades e, principalmente, as dificuldades enfrentadas pelo IINN. 


Adriano AbreuMiguel Nicolelis é considerado um dos maiores pesquisadores do planeta na área de neurociênciasMiguel Nicolelis é considerado um dos maiores pesquisadores do planeta na área de neurociências
Em junho foi assinada pela UFRN a ordem de serviço (R$ 32 milhões) para a obra dos dois primeiros prédios do futuro Campus do Cérebro, em Macaíba. Isso mostra um projeto já consolidado?
Sem dúvida. O Campus deve ser um dos maiores investimentos do Ministério da Educação no momento. Existe um interesse de todas as partes para que esteja concluído no próximo ano. Vamos ter um instituto de pesquisas e uma escola de ensino regular funcionando nesses prédios. 

E o que os governos locais podem fazer para contribuir?
Acho que precisa de quase tudo. Esse é hoje o maior projeto científico do Brasil. Com certeza o de maior repercussão fora do país, tanto que conseguimos doações inéditas. Ainda tenho por mim que nem o estado, nem o município têm ideia de que esse projeto pode ser um agente transformador da economia local. 

Há problemas?
Algo que podemos mencionar é que há sete anos a sede do instituto funciona nessa rua de terra (Francisco Luciano, em Candelária, próximo à empresa Via Sul). Entra prefeito, sai prefeito, nos prometem o asfalto, e nada muda. Recebemos gente do mundo inteiro, ganhadores do Prêmio Nobel, embaixadores de outros países, e a rua continua deste jeito. O que as pessoas pensam quando vêm a Natal, com todos os problemas que a cidade tem, e veem uma iniciativa desse tamanho em um rua de terra? As pessoas dos Estados Unidos, da Europa, do Japão, visitam esses prédios e ficam maravilhadas. E a primeira pergunta que fazem é como é que o governo local não asfalta nem a rua.

E quando se fala em turismo na cidade deveria se pensar também nesse público selecionado?
Esse turismo atual não traz dinheiro nenhum. Vejo esses ônibus de turismo andando por Natal, fazendo “city tour”, deixando migalhas na cidade e às vezes deixando problemas seríssimos, que nem vale a pena citar, enquanto a gente tenta criar uma economia de conhecimento que pode trazer bilhões de reais ao longo do tempo. E tudo é difícil, tudo é uma dificuldade. As pessoas falam, nos tratam muito bem, sou muito bem recebido, mas do ponto de vista operacional, se isso fosse feito no estado de São Paulo, em outro estado, outro país... Essas demandas são mínimas e não estamos pedindo nada de outro mundo. São 200 metros de asfalto. A RN que chegava no instituto lá em Macaíba foi recuperada, mas não tinha mais condições de passar automóveis. Havia risco de mortes devido às crateras. Eu mesmo perdi dois pneus do carro nas idas até lá. Mas aqui na frente do instituto, aqui em Natal, eu categorizaria como uma vergonha. O município também nos pediu um projeto para outra escola aqui em Natal (o IINN já conta com uma na Cidade da Esperança). Fizemos o projeto e nunca tivemos resposta. Então me pergunto se as pessoas não percebem a importância disso. Acho que depois de sete anos não há muitas dúvidas de que somos sérios.

Se não fosse o benefício social proporcionado à população, o senhor já falaria em arrependimento por instalar o Instituto em Natal?
Olha, não digo arrependimento porque a população de Natal tem sido muito carinhosa e nossos mil alunos, mais os quinhentos da nova escola, mais os 1.200 da escola de tempo integral, nos mantêm estimulados, a todos nós que trabalhamos. Somos mais de 100 pessoas que vieram do Brasil inteiro para cá, mas nunca imaginei o grau de desinteresse que a gente encontraria do poder público. 

Decepção talvez?
Diria que em quase oito anos, que a gente completa em março, com exceção da UFRN e da nova administração e, pontualmente, da administração passada de Macaíba, realmente me sinto decepcionado com o poder público e a classe política local.

Falta entendimento da importância do projeto ou falta interesse em apoiá-lo?
É uma ótima pergunta. Esse é um projeto que já é o maior investimento, não tem nada feito no Rio Grande do Norte, do ponto de vista tecnológico, com um grau de investimento desse montante. Só o MEC, que é uma fração do projeto, já investiu R$ 42 milhões e tem a perspectiva de dobrar esse investimento. Os investimentos todos que estamos trazendo para Natal não têm nada igual no Estado. Ouso dizer que, com a exceção da Petrobras, não tem nenhuma outra iniciativa capaz de transformar a economia do estado de uma economia primaria, de um turismo com baixo valor agregado, uma economia agrária, em uma economia baseada em conhecimento e tecnologia, que transformaria completamente o perfil do Rio Grande do Norte. Sendo que o experimento educacional que promovemos já é reconhecido pelo MEC como uma grande iniciativa. Inauguramos agora uma escola na Bahia e, de cara, tivemos um investimento alto do governo de lá. Então fico pensando, poxa, a gente focou aqui, criou o instituto aqui, trouxe tudo para cá, e tem outros estados dispostos a levar a gente para lá, oferecendo tudo que a gente não tem aqui. A escola em Serrinha (BA) é maravilhosa. O governador da Bahia veio aqui, nos recebeu lá. Aceitou o nosso projeto, que era de R$ 5 milhões. Nunca tivemos nada parecido aqui. Fico imaginando: será que os governantes não pensam em como criar empregos de valor agregado, educar o povo?

Natal e o Rio Grande do Norte podem perder muitas estruturas que poderiam ser erguidas aqui e vão sendo atraídas por outros Estados?
Sim. A gente não vai desistir nunca, mas às vezes dá um desânimo. Não pelo que a gente faz, porque o que está sendo feito é maravilhoso, as crianças, nossos cientistas, as mulheres que recebemos em nosso centro de saúde. E Natal com tantos problemas de saúde e a gente com um centro tão moderno e não conseguimos parcerias.

E hoje o senhor vê alguma forma de convencimento dos políticos em relação à importância do Instituto ou de mostrar o que é o IINN?
O mundo inteiro sabe o que é. Todas as revistas mundiais, os órgãos de imprensa mundiais sabem. A inauguração da escola em Serrinha foi matéria de capa da Folha de São Paulo, maior jornal do país. Vira e mexe o projeto está sendo mostrado nas TVs daqui e de fora do Brasil. Tenho falado sobre o projeto e, onde chego, as pessoas já me perguntam sobre o Instituto de Natal. E não estou falando em qualquer lugar, falo na Academia Francesa de Ciências, na Universidade de Harvard, onde fui convidado só a falar sobre o instituto, que é um experimento que até os americanos estão interessados em entender o que está acontecendo aqui. Sinto uma total e completa falta de visão de futuro. Não tenho nenhuma filiação partidária, então posso falar que os políticos brasileiros, pelo menos os que vejo atuar aqui, têm uma visão muito provinciana, imediatista, de assistencialismo, em função de problemas que aparecem agudamente e ninguém pensa que vamos ter filhos, netos e eles vão precisar de empregos e de uma qualidade de vida melhor que a nossa.   

Se o senhor não vê isso de parte do poder público, há alguma esperança em relação à iniciativa privada?
Bom, até agora a iniciativa privada do Estado também, com exceção de pequenas e pontuais parcerias, que começam, mas não tem continuidade... O único lugar do Brasil que não consegui estabelecer parcerias privadas de longo prazo foi no estado do Rio Grande do Norte.

E certamente a “Cidade do Cérebro” é uma oportunidade econômica relevante?
Isso. A ideia, além dos primeiros prédios, é termos outras iniciativas educacionais, culturais, científicas. E o último passo é construir um parque tecnológico e científico, a “Cidade do Cérebro”, alavancada no Campus do Cérebro. Estamos falando de um investimento de uma magnitude, falando de forma conservadora, da ordem de R$ 1 bilhão, entre nossos projetos e das empresas de fora do Brasil que estão dispostas a investir. Só que a gente às vezes traz contato do exterior e as pessoas não conseguem falar com ninguém aqui. Ou elas falam e não tem interlocutor no poder público. Continuo me perguntando: o que teria acontecido se tivéssemos levado esse projeto para o interior de São Paulo, ou para Salvador, ou para Belo Horizonte, ou Porto Alegre? Como a gente estaria sendo tratado? Como os governantes locais estariam vendo um projeto que já captou, com todos os investimentos, mais de R$ 100 milhões, chegando a quase R$ 125 milhões e com a perspectiva de atingir alguns bilhões de reais em toda sua vida?

Tivemos aqui, recentemente, a instalação do Instituto Internacional de Física... 
O Instituto de Física é um grande exemplo. Do ponto de vista acadêmico é uma enorme conquista para a região. Agora, é um instituto que não tem uma visão social, nem uma perspectiva de transformação econômica. De repente, não tem comparação. E uma das razões que o Instituto de Física veio para cá foi porque teve a noção, a informação, de que nós tínhamos vindo para cá e, por essa razão, se sentiu que havia condições de se estabelecer aqui. Mas o desbravador da porteira foi a gente. E a gente fica sabendo, por exemplo, que existe a possibilidade de se ter um curtume lá perto do Campus do Cérebro. Essa notícia está se espalhando e, se for verdade, é um atentado à lógica. Imagina a gente trazendo gente do mundo inteiro e alguém quer colocar um matadouro de boi do lado de nosso instituto, com urubu em volta, carcaça de animais. É pior que a rua de barro. Na rua de barro você pelo menos passa de trator. De onde saem essas ideias? Acho que nosso instituto não só trouxe um salto acadêmico e contribui, por exemplo, com o trabalho desenvolvido pelo professor Ivonildo (Rego) na UFRN, o MEC se dispôs a fazer investimentos que não tinha feito, a fazenda de Jundiaí que não utilizava seu potencial se transformou em um polo de investimentos. Temos um projeto educacional que pretende trabalhar as crianças desde o pré-natal até a pós-graduação, de maneira a preparar essas gerações do estado a serem líderes e atuarem na “Cidade do Cérebro”. 

Então o senhor não esperava essas barreiras políticas?
No fundo não acha que sejam barreiras políticas. O presidente entende o projeto, o ministro da Ciência, da Educação, o da Saúde. Os políticos que têm uma visão ampla do Brasil são os maiores apoiadores do projeto. Me contaram na Harvard que sempre que o presidente fala sobre projetos científicos, menciona o instituto, o que é uma honra muito grande. Ele veio aqui, viu as crianças, viu o que a gente está tentando fazer. Então não acredito que seja a falta de um diálogo político, acho que é falta de visão mesmo, de imaginar que a política moderna não é provinciana, é globalizada. É só andar na praia de Ponta Negra, ou pelo interior do estado, que você percebe que, ou as economias locais se inserem no mundo globalizado com aquilo que melhor temos a oferecer, que no caso brasileiro é o talento humano, ou a gente fica pra trás, só com as migalhas do sistema econômico e financeiro. A ciência, a tecnologia e o conhecimento é uma indústria que o Brasil ainda não expandiu, Pôr turista em ônibus para passear pela Via Costeira é migalha. Esse estado, esse povo, essa região, essa cultura, merecem muito mais.

E com relação às pesquisas, como andam os estudos?
As pesquisas continuam e temos resultados maravilhosos. Temos um cronograma na pesquisa de Parkison e resultados preliminares que confirmam nossos estudos do ano passado, em saguis. Temos de acabar, repetir, ter certeza absoluta. 

E quando começam os testes em humanos?
Se for repetido em todos os animais o mesmo resultado que tivemos no começo, e que foi o mesmo obtido em roedores, no início do próximo ano estaremos levando isso para a prática clínica. Seria um processo extremamente rápido, em dois anos de um estudo de roedores passando para o teste clínico e graças à comprovação que foi feita aqui (em Natal).    

E como está a vinda do supercomputador para Natal?
Há problemas de importação de equipamentos de grande porte, mas estamos solucionando os problemas e fazendo o que tem de ser feito, porque aqui leva mais tempo que em qualquer lugar do mundo. 

E isso já representa algum atraso no cronograma que haviam montado?
Não, já tínhamos previstos os trâmites burocráticos e agora é só um questão de preencher toda a papelada. É uma máquina enorme, de umas seis toneladas e de vários milhões de dólares. É um computador doado pelo governo suíço que já tem três anos, mas é uma máquina única. 

E qual a previsão agora?
Algum momento deste segundo semestre. 


ISTO É UMA VERGONHA!

RODRIGO CONSTANTINO

A outra face de Dilma

Rodrigo Constantino
O Globo - 13/07/2010
 
"Ninguém pode usar uma máscara por muito tempo: o fingimento retorna rápido à sua própria natureza" (Sêneca) 

De olho nos eleitores mais moderados, a candidata Dilma Rousseff tem alterado seu discurso, vestindo uma embalagem mais atraente. Não foi apenas o cabelo que passou por uma transformação radical. Agora, Dilma já fala em reduzir a dívida pública para 30% do PIB, em imposto zero para investimentos, em combater as invasões ilegais do MST e na defesa da liberdade de imprensa. Entretanto, este discurso soa estranho na boca da petista. A nova personagem não combina nada com a figura histórica. 
Para começo de conversa, o governo Lula teve oito anos para fazer as reformas estruturais, reduzir os impostos, atacar as invasões do MST etc. Não só deixou de fazer isso tudo, como muitas vezes agiu à contramão do desejado. A carga tributária aumentou, ocorreu uma escalada de invasões do MST, que recebe cada vez mais verbas públicas, e a liberdade de imprensa se viu inúmeras vezes ameaçada: Ancinav, Conselho Nacional de Jornalismo, tentativa de expulsão do jornalista estrangeiro que falou dos hábitos etílicos do presidente, PNDH-3 e Confecom. Foram diversas tentativas de controle dos meios de comunicação. 
A participação de Dilma em alguns destes projetos foi direta. O Programa Nacional de Direitos Humanos, com viés bastante autoritário, saiu de seu gabinete. Além disso, Dilma sempre deixou claro que acredita num Estado centralizador como locomotiva da economia. Foi durante a gestão de Luciano Coutinho que o BNDES se transformou numa espécie de "bolsa empresa", torrando bilhões dos pagadores de impostos em subsídios para grandes empresas. O Tesouro teve que emitir dezenas de bilhões em dívida para bancar os empréstimos do BNDES. Coutinho é cotado como possível ministro no governo Dilma. Como acreditar no discurso de redução da dívida pública? As palavras recentes dizem uma coisa, os atos concretos dizem outra, bem diferente. 
O passado de Dilma também levanta suspeita sobre esta nova imagem "paz e amor". Dilma foi guerrilheira e lutou para implantar no país um regime comunista. Com este "nobre" fim em mente, ela se alinhou aos piores grupos revolucionários, aderindo à máxima de que os fins justificam quaisquer meios. Colina e VAR-Palmares foram organizações que praticaram os piores tipos de atrocidades, incluindo assaltos, ataques terroristas e sequestro. Claro, devemos levar o contexto da época em conta: Guerra Fria, muitos jovens idealistas iludidos com a utopia socialista, e dispostos a tudo pela causa. 
Mas o tempo passou, e vários colegas colocaram as mãos na consciência e fizeram um doloroso mea-culpa, reconhecendo os erros do passado. Dilma, entretanto, declarou com todas as letras numa entrevista à revista "Veja": "Jamais mudei de lado." Sabendo-se que este lado nunca foi o da democracia, e sim o lado que aponta para Cuba, resta perguntar: qual Dilma pretende governar o país? Em um típico ato falho freudiano, a campanha de Dilma apresentou ao TSE o programa de governo do PT, ignorando a aliança com o PMDB. Neste programa, que contava com a rubrica de Dilma, estavam presentes os ideais golpistas da ala radical do partido, como o controle da imprensa, os impostos sobre "fortunas" e a relativização do direito de propriedade no campo, beneficiando os criminosos do MST. 
Chávez, em 1998, declarou que não tinha nenhuma intenção de nacionalizar empresas, de controlar a imprensa ou de destruir a democracia e permanecer no poder. Ao contrário, ele se mostrou bastante receptivo ao capital estrangeiro. Na época, ele estava prospectando clientes. Depois, era tarde demais. Ele já tinha o domínio da situação, e estava pronto para sacrificar suas vitimas ingênuas. "Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa", alertou o filósofo Schopenhauer. 
Em uma de suas fábulas, Esopo faz um alerta aos que acreditam nas mudanças da essência dos seres humanos. Um lavrador, durante um inverno rigoroso, encontrou uma serpente congelada. Apiedou-se dela e a pôs em seu colo. Aquecida, ela voltou à vida normal, picou seu benfeitor ferindo-o de morte. E ele, morrendo, disse: "É justo que eu sofra, pois me apiedei de uma malvada." 
A História está repleta de casos em que a crença nas lindas promessas de políticos autoritários se mostrou fatal. Dilma apresenta ao público sua nova face, com um discurso bem mais moderado. Mas é a outra face que não sai de minha cabeça, aquela que acompanhou a candidata por toda sua vida. 

MARCO ANTONIO VILLA

Obsessão pelo poder

Marco Antonio Villa
O Globo - 13/07/2010
 
Como é sabido, o Partido dos Trabalhadores nasceu em 1980. Contudo, muito antes da sua fundação, foi precedido de um amplo processo de crítica das diversas correntes de esquerda realizada na universidade e no calor dos debates políticos. A ação partidária, os sindicatos e as estratégias políticas adotadas durante o populismo (1945-1964) foram duramente atacados. Sem que houvesse um contraponto eficaz, fez-se tábula rasa do passado. A história da esquerda brasileira estaria começando com a fundação do PT. O ocorrido antes de 1980 não teria passado de uma pré-história eivada de conciliações com a burguesia e marcada pelo descompromisso em relação ao destino histórico da classe trabalhadora. 
O processo de desconstrução do passado permaneceu durante vinte anos, até o final do século XX. As pesquisas universitárias continuaram dando o sustentáculo "científico" de que o PT era um marco na história política brasileira, o primeiro partido de trabalhadores. O estilo stalinista de fazer história se estendeu para o movimento operário. Tudo teria começado no ABC. Mas não só: a história do sindicalismo "independente" teve um momento de partida, a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para a presidência do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, em 1975 (na posse, estava presente o governador Paulo Egydio, fato único naquela época). Toda história anterior, desde os anarquistas, tinha sido somente uma preparação para o surgimento do maior líder operário da história do Brasil. 
A repetição sistemática de que em São Bernardo foi gestada uma ruptura acabou ganhando foro de verdade científica, indiscutível. Lula tinha de negar e desqualificar a história para surgir como uma espécie de "esperado", o "ungido". Não podia por si só realizar esta tarefa. Para isso contou com o apoio entusiástico dos intelectuais, ironicamente, ele que sempre desdenhou do conhecimento, da leitura e da reflexão. E muitos desses intelectuais que construíram o mito acabaram rompendo com o PT depois de 2003, quando a criatura adquiriu vida própria e se revoltou contra os criadores. 
Mas não bastou apagar o passado. Foi necessário eliminar as lideranças que surgiram, tanto no sindicato, como no PT. E Lula foi um mestre. Os que não se submeteram, aceitando um papel subalterno, acabaram não tendo mais espaço político. Este processo foi se desenvolvendo sem que os embates e as rupturas desgastassem a figura de líder inconteste do partido. Ao dissidente era reservado o opróbrio eterno. 
A permanência na liderança, sem contestação, não se deu por um choque de ideias. Pelo contrário. Lula sempre desprezou o debate político. Sabia que neste terreno seria derrotado. Optou sempre pela despolitização. Como nada tinha escrito, a divergência não podia percorrer o caminho tradicional da luta política, o enfrentamento de textos e ideias, seguindo a clássica tradição dos partidos de esquerda desde o final do século XIX. Desta forma, ele transformou a discordância em uma questão pessoal. E, como a sua figura era intocável, tudo acabava sem ter começado. 

A vontade pessoal, fortalecida pelo culto da personalidade, fomentado desde os anos 70 pelos intelectuais, se transformou em obsessão. O processo se agravou ainda mais após a vitória de 2002. Afinal, não só o Brasil, mas o mundo se curvou frente ao presidente operário. Seus defeitos foram ainda mais transformados em qualidades. Qualquer crítica virou um crime de lesa-majestade. O desejo de eliminar as vozes discordantes acabou como política de Estado. Quem não louvava o presidente era considerado um inimigo. 
Os conservadores brasileiros - conservadores não no sentido político, mas como defensores da manutenção de privilégios antirrepublicanos - logo entenderam o funcionamento da personalidade do presidente. Começaram a louvar suas realizações, suas palavras, seus mínimos gestos. Enfim, o que o presidente falava ou agia passou a ser considerado algo genial. Não é preciso dizer que Lula transformou os antigos "picaretas" em aliados incondicionais. Afinal, eles reconheciam publicamente seus feitos, suas qualidades. E mereceram benesses como nunca tiveram em outros governos. 
É só esta obsessão pelo poder e pelo mando sem qualquer questionamento que pode ser uma das chaves explicativas da escolha de Dilma Rousseff como sua candidata. 

GOSTOSA

ANTÔNIO MÁRCIO BUAINAIN

Galinha dos ovos de ouro e patinho feio

Antônio M. Buainain
O Estado de S. Paulo - 13/07/2010
 
 A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) preparou um documento técnico-político em que, nas palavras da senadora Katia Abreu, "apresenta ideias, aflições e reivindicações do setor". Certa ou errada, a percepção do produtor rural é de que a agropecuária tem sido uma galinha de ovos de ouro para o País, mas tratada pelos governos e, em certo sentido, pela sociedade como um patinho feio, rejeitado e aceito de maneira envergonhada. Os números apresentados no estudo confirmam a importância do setor: PIB de US$ 369 bilhões em 2009, representando quase 24% de toda a riqueza produzida no País; produção de 147 milhões de toneladas de grãos em 2009/10 e responsável por 42% das exportações. Em 1965, a agropecuária produzia 250 kg de grãos e 21 kg de carne por habitante e, em 2008, 758 kg de grãos e perto de 100 kg de carne. Enquanto a produção total de grãos e carne se multiplicou, respectivamente, por 7 e quase 10 vezes, neste mesmo período a área cultivada cresceu 2,5 vezes e a de pastagem, só 15%. O progresso se sustentou na incorporação de inovações e ganhos de eficiência em geral.
Não seria justo com os governantes não reconhecer progressos institucionais e nas políticas agrícolas, em particular desde o Plano Real, que permitiu o início da recomposição das políticas de financiamento público e a expansão do financiamento privado, sem o qual o setor não teria dado tamanho salto qualitativo e quantitativo. Desde então foram inúmeras medidas e políticas - do Pronaf, criado em 1996, ao Programa de Subvenção ao Seguro Rural, de 2003; do Moderfrota ao Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, passando por várias rodadas de renegociações das dívidas que permitiram a sobrevivência de produtores endividados até o pescoço em parte por causa das más políticas anteriores e em parte pela persistente ausência de proteção contra os riscos da agricultura - que, se não resolveram os entraves estruturais que afligem o setor, pelo menos criaram bases para que o novo governo o faça.
Mas o produtor rural, aventureiro e tomador de risco por natureza, tem razão quando se sente tratado como patinho feio. Tem faltado aos governos um reconhecimento que se traduza em política consistente de desenvolvimento da agropecuária, com visão articulada de curto, médio e longo prazos, atenção às reais necessidades e prioridade expressa na alocação efetiva de recursos. Neste particular, é eloquente a pobreza do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, seja em pessoal ou em disponibilidade financeira para executar as funções institucionais necessárias para transformar o País em celeiro do mundo, como se propaga.
A imagem projetada pelo setor para o futuro é adequada: empresários formais com alta capacidade de gestão, modelo mundial de produção e preservação ambiental e líder na produção de alimentos seguros. Apesar dos inegáveis progressos, o País real está ainda muito distante da imagem pretendida, e chegar lá exigirá esforço dos produtores, do governo e da própria sociedade.
O documento faz um bom diagnóstico e a agenda reúne dez temas cruciais para se chegar lá, sobre os quais cabem visões distintas, não posições dúbias: insegurança jurídica, política agrícola, meio ambiente, relações de trabalho, tributação, logística e infraestrutura, inovação tecnológica, negociações internacionais, educação e pobreza rural. Como cabe numa democracia, a CNA apresentou o ponto de vista do setor, que é sem dúvida portador de créditos e cujos interesses gerais convergem com os da sociedade. Ainda assim, soluções e propostas deverão passar pelo crivo da polêmica transparente e incorporar e se enriquecer pela contribuição de outros segmentos sociais. Nesse sentido, é lamentável que só José Serra tenha comparecido à reunião organizada pela CNA. Os milhares de produtores rurais que se prepararam para seguir os debates perderam a oportunidade de avaliar o pensamento de cada um dos candidatos sobre temas relevantes para o setor e suas propostas para o seu futuro. Espera-se que tenha sido um acidente de percurso e não a regra da campanha presidencial.

PAINEL DA FOLHA

Soninha na campanha 
Renata Lo Prete

Folha de S.Paulo - 13/07/2010

Depois de abdicar de disputar cargo neste ano, a ex-vereadora e ex-subprefeita da Lapa Soninha Francine (PPS) vai coordenar a campanha presidencial de José Serra (PSDB) na internet. "Adoro produzir conteúdo. Também navegar, ver aquilo que está faltando, o que está disperso por aí, recolher coisas que o Serra já falou, enfim, juntar tudo em algo mais coeso", afirma ela. Soninha diz que pretende trabalhar em especial com texto. "Eu escrevo bem, gosto, adoro".

Sobre a estrutura da principal adversária do tucano, ela opina: "Ah, a campanha do Serra não tem o cara da internet, o guru do Obama".
Interação
Soninha também tem participado da elaboração do programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo do Estado. Em 2008, os dois estiveram em campos opostos na disputa pela prefeitura.
CalendárioO comando da campanha de Serra definiu que até o início da propaganda na TV o tucano terá uma agenda semanal em Minas e no Rio. As visitas ao Nordeste serão transferidas para os finais de semana.
Onde pegaDiagnóstico de quem conhece bem o mapa eleitoral do Rio de Janeiro: é Marina Silva (PV), e não Dilma Rousseff (PT), quem está fazendo a candidatura Serra sangrar no terceiro colégio eleitoral do país.
MobilizaCom o vice Indio da Costa (DEM) à frente da operação, tucanos e "demos" vão reforçar a campanha de Serra na Baixada Fluminense, em São Gonçalo e na zona oeste do Rio.
Pra valer 1 Convencido de que a grande batalha de 2010 se dará em Minas, Lula de fato arregaçará as mangas por Hélio Costa (PMDB), palanque de Dilma no Estado.
Pra valer 2Se vai funcionar ou não é outra história, mas se engana quem pensa que o presidente dará refresco a Aécio Neves e a seu candidato, Antonio Anastasia (PSDB), em troca de algum descompromisso da dupla em relação à sorte de Serra.
DinâmicaPartidos que apoiam Dilma indicarão um representante para operar permanentemente no comitê central, em Brasília. Foi a fórmula para incluir as siglas no dia dia da campanha.
CaronaApesar de o PP ter ficado fora de coligações na disputa nacional, a Executiva do partido, que se reúne amanhã, deve aprovar uma moção de "apoio político" para Dilma. Cumprida a formalidade, deputados, senadores e candidatos da sigla vão até a petista para entregar o documento a ela.
JabulaniPiada pós-Copa de Rocha Loures (PMDB), vice de Osmar Dias (PDT) ao governo do Paraná, no Twitter, com a novela protagonizada pelo pedetista, que balançou muito até ficar do lado de Dilma Rousseff: "O polvo é Osmar Dias!"
MultiplicaçãoUma falha no site do TSE trocou as fotos dos candidatos no link com o registro dos mesmos. Na semana passada, era Joaquim Roriz (DF) quem aparecia por toda parte. Ontem, a foto que se espalhou foi a do deputado Paulinho da Força Sindical (PDT).
Terceiro tempoO TSE recebeu nova consulta sobre a verticalização da propaganda. De autoria de Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), que tenta o Senado, a relatora é a ministra Cármen Lúcia.
Visita à FolhaRicardo Young, candidato ao Senado pelo PV em São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Gladis Éboli, coordenadora de comunicação da campanha.
Tiroteio
"A diferença nos gastos com publicidade é que no governo federal há mecanismos de transparência. Em São Paulo, onde o patrão é candidato, tudo é segredo de Estado."

DE ANTÔNIO MENTOR, líder do PT na Assembleia paulista, sobre o estouro nos gastos de publicidade do governo estadual em ano eleitoral.
Contraponto
Momento do voto 
Ativo no Twitter durante a final da Copa, Romário começou por mobilizar sua audiência:

-Estou com 69.439 seguidores. Será que hoje eu chego nos 70 mil? Ajuda aí, galera!

Dez minutos depois, o herói do tetra agradeceu:

-Faltam menos de 500 seguidores pra 70 mil!

Encerrado o jogo, Romário votou nos melhores do torneio e depois foi cuidar de outra eleição:

-Galera, mudando 100% de assunto, sou candidato a deputado federal pelo PSB e meu número é 4011!

QUADRILHA

DORA KRAMER

Tudo pode dar certo 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 13/07/2010

É preciso dar mão à palmatória: tinham razão os que ? entre parlamentares, juristas e otimistas ? não viram nada demais nas mudanças de última hora feitas no Senado ao texto da Lei da Ficha Limpa. Na interpretação deles, a lei não só teria aplicação imediata como já retiraria do páreo eleitoral uma boa leva de fichas-sujas.

Estavam certos e estávamos equivocados os que acreditamos que uma simples mudança do tempo de verbos poderia pôr esforços e expectativas a perder.

A Justiça declarou de pronto a vigência da lei, o Tribunal Superior Eleitoral negou licença para registros de candidaturas judicialmente devedoras, o presidente do TSE aponta para a provável cassação de liminares concedidas e o Ministério Público pede País afora impugnações de gente que procurou fugir de processos e punições por meio da renúncia preventiva aos respectivos mandatos.

Nem no melhor cenário daria para prever uma adesão tão completa à filosofia da ficha limpa.

É de se lembrar que há pouco mais de dois anos o ministro Carlos Ayres Britto era quase uma voz isolada no TSE em favor do veto a candidatos com folhas corridas no lugar de biografias. Alguns tribunais regionais ? sendo o do Rio pioneiro ? ensaiaram bloquear tais candidaturas, mas tiveram suas decisões derrubadas pela instância superior.

Os parlamentares que sustentavam a tese eram gatos pingados a pregar no deserto de um Congresso convicto de que as tentativas continuariam a "dar em nada" para sempre.

Nem o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, acreditava na lei. Hoje ele atesta que a regra da ficha limpa não só vingará na prática ? e ainda nesta eleição ? como terá sua constitucionalidade confirmada pelo Supremo Tribunal Federal.

Em abril, dias antes de assumir o posto no lugar de Ayres Britto, quando o projeto estava na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, ainda sem o apoio unânime da Casa, Lewandowski lembrava que no STF havia se aliado à corrente que derrubara a ideia do veto a candidatos com contas em aberto na Justiça, em nome do preceito da presunção da inocência até a condenação definitiva.

Na ocasião, limitou-se a responder por si: "Como eleitor, vou escolher o candidato com os melhores antecedentes possíveis."

Totalmente diferente da posição entusiasmada de hoje em prol da eficácia da lei: "Aqueles que não tiverem a ficha limpa farão campanha por sua conta e risco."

Ainda que muita gente ruim vá conseguir encontrar brechas para concorrer e até se eleger, a história já saiu melhor que a encomenda. Quando Joaquim Roriz e Jader Barbalho, por exemplo, poderiam imaginar que seriam amolados depois de terem renunciado aos mandatos de senador para não se arriscarem à cassação e à perda dos direitos políticos?

Assim como eles, outros no mínimo enfrentarão o constrangimento e terão trabalho para conseguir o que antes obtinham sem esforço.

Por essas e várias outras é que convém não menosprezar a ação do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral de coletar assinaturas para apresentação ao Congresso de um projeto de reforma política de iniciativa popular.

A Ordem dos Advogados acabou de aderir, logo é possível que se juntem a eles a Igreja e alguns políticos mais comprometidos com os bons combates. A aprovação da Lei da Ficha Limpa começou assim e tudo indica que se deu certo uma vez pode dar certo de novo.

Outra freguesia. Se é verdade que o Brasil participou das gestões pela libertação de 52 dos 167 presos políticos de Cuba, como diz o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se é fato que o Brasil preparou o terreno para uma operação na qual a Espanha só teve participação de última hora, como insinua o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, seria natural que também oferecesse refúgio aos dissidentes.

Como já fizeram Espanha e Chile. Até agora o Brasil nada disse além de ironizar a atuação dos espanhóis por intermédio de Garcia, que só faltou chamá-los de oportunistas. "A bola caiu no pé deles e eles chutaram para dentro", observou o fidalgo assessor.

MERVAL PEREIRA

Disputa de poder 
Merval Pereira 

O Globo - 13/07/2010

O anúncio de que o programa de governo da candidata oficial, Dilma Rousseff, será revisto mais uma vez, para refletir com mais clareza as intenções da coligação PT-PMDB, denuncia os problemas que estão sendo enfrentados para tornar realidade uma coalizão partidária nascida menos de ideias homogêneas que de interesses políticos de curto prazo.

Depois de rejeitar o programa do PT que havia sido aprovado em março, e de ter anunciado que apresentaria ainda o seu programa para ser mesclado ao do parceiro de empreitada, o PMDB viuse diante da tentativa de um fato consumado: com a rubrica da candidata Dilma e do presidente do PT, José Eduardo Dutra, foi registrado no TSE o programa esquerdista petista como sendo a base oficial de um futuro governo Dilma.

A insistência em viabilizar teses que fragilizam a propriedade privada em benefício das invasões, ou o controle social da mídia em prejuízo da liberdade de expressão, não é surpreendente, nem é possível aceitar-se a desculpa oficial de Dilma Rousseff e do PT de que houve apenas um engano burocrático que gerou o registro no TSE de uma versão do programa que já estava superada pelas negociações.

Tanto não é verdade que não havia outro programa para substituí-lo. O programa que agora se anuncia que será feito será, na verdade, a primeira versão de uma proposta multipartidária que o PMDB está levando muito a sério, e que o PT tenta até o último momento minimizar.

O programa radical do PT tem origem no Programa Nacional dos Direitos Humanos, que tanta crise já gerou.

Na ocasião em que foi lançado, com o apoio explícito do Gabinete Civil que tinha à frente Dilma Rousseff, o Programa de Direitos Humanos gerou uma crise militar por abrir caminho para uma revisão da Lei de Anistia.

Até que se conseguisse contornar a reação dos militares, com a alteração do texto relacionado à anistia, figuras do alto escalão petista, com o auxílio da burocracia do Gabinete Civil, tentaram dar o fato como consumado mandando publicar no Diário Oficial o texto contestado.

A manobra foi abortada com a colaboração do Ministro da Defesa Nelson Jobim, que levou ao presidente Lula a real gravidade do assunto.

Portanto, não é de se espantar que vários assuntos rejeitados naquele Programa montado pela ala esquerdista do governo, tenham reaparecido depois no programa oficial do PT que quase foi transformado no programa oficial de um eventual governo Dilma Rousseff.

Esse episódio demonstra a influência que o PT terá sobre um governo presidido por Dilma Rousseff, não apenas por pressão política, mas também por proximidades ideológicas.

Mas demonstra, sobretudo, a dificuldade que o PMDB terá para exercer o papel moderador que pretende ter nessa coligação.

A relação do PMDB com o PT vem evoluindo desde o início do governo Lula, de um veto total à sua participação no governo a uma participação ampliada na máquina pública.

Em 2002, um acordo montado pelo então todo-poderoso chefe do Gabinete Civil José Dirceu faria com que o PMDB participasse do primeiro ministério de maneira discreta, mas, promissora, do grupo que apoiara Lula em dissidência à decisão da convenção que preferiu dar o vice de José Serra, a então deputada Rita Camata.

O próprio presidente Lula vetou o acordo em cima da hora, alegando que não conhecia os ministros indicados.

Essa desfeita colocou o partido fora das grandes decisões do primeiro governo, mas o deixou também fora, como partido, do mensalão, que devastou não apenas o primeiro escalão do governo, como a base partidária governista.

A superação da crise levou à aproximação de Lula com o PMDB e à reorganização do governo no segundo mandato.

A necessidade de ter o PMDB como grande interlocutor fez também que o partido, dividido historicamente, tomasse uma decisão também histórica de unir suas facções para melhor aproveitar seu prestígio político renovado.

A partir da divisão igualitária de poder entre as suas diversas divisões, o PMDB passou a fazer parte fundamental do projeto de Lula de eleger seu sucessor.

O presidente, pessoalmente, tratou de convencer o PT de que teria que abrir espaços cada vez maiores para os aliados, principalmente o PMDB.

O exemplo mais claro dessa nova situação foi a intervenção em Minas para fazer com que o candidato do PMDB, senador Hélio Costa, fosse o candidato ao governo da coligação, fazendo com que Patrus Ananias aceitasse “com muito orgulho” a vice.

Mas, ao mesmo tempo em que foi tendo ampliada a sua força, o PMDB foi sendo alvo de ações petistas, o partido incomodado com a fome de poder do novo parceiro.

Até mesmo para indicar o candidato a vice o PMDB teve que enfrentar uma pressão política petista, que queria escolher o nome em vez de aceitar a escolha unânime peemedebista de Michel Temer.

O próprio presidente Lula participou dessa tentativa, embora por razões diferentes das do PT, que queria enfraquecer o partido escolhendo um nome que devesse mais sua escolha ao PT do que ao PMDB.

Já Lula queria usar o cargo para dar um recado aos investidores internacionais, indicando um cristão novo do PMDB, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Teria o mesmo benefício que o PT buscava e ainda acalmava uma área importante da sociedade que teme as raízes radicais da candidata oficial .

O episódio do programa partidário é mais uma etapa dessa disputa de poder, que já se desenrola antes mesmo de a eleição definir quem será o futuro presidente.

O que já prenuncia o que será a disputa dentro de um eventual governo Dilma Rousseff.

O COMEDOR DE SOROCABA

MÔNICA BERGAMO

Lixo de Sobra 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 13/07/2010

A Prefeitura de SP estuda mudanças na coleta seletiva de lixo na cidade. Os resíduos hoje são recolhidos em prédios e residências e entregues em 17 cooperativas de catadores. Elas separam os materiais, que depois são vendidos para empresas que trabalham com papel, plástico e alumínio reciclados. A administração quer quebrar o monopólio das cooperativas, que hoje estão lotadas e não conseguem processar todo o material recebido -cerca de 150 toneladas por dia.
Lixo de Sobra 2
"Não podemos nos apoiar exclusivamente num sistema de assistencialismo ecológico", diz Dráusio Barreto, secretário de Serviços de SP. Como as cooperativas estão cheias, as companhias que recolhem os resíduos separados por moradores acabam misturando tudo de novo e jogando em aterros comuns. A ideia é que também empresas privadas possam receber o material coletado.
O Homem da Casa
O número de vasectomias no SUS aumentou 78,7% de 2003 a 2009. Foram 34.144 no ano passado. Já o de laqueaduras, embora seja maior em números absolutos (58.919 cirurgias), teve queda de quase 5% de 2008 para 2009. O Ministério da Saúde atribui os dados ao aumento da participação do homem no planejamento familiar. E diz que o reajuste no valor pago para a realização de vasectomias no SUS contribuiu para o resultado.
Clube do Bolinha
O Brasil é um dos países com menos deputadas e senadoras da América Latina e do Caribe. Levantamento da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) indica que elas ocupam 9% dos cargos do Congresso, à frente de Colômbia (8%), São Cristóvão e Névis (7%) e Haiti (4%). Cuba (43%) e Argentina (40%) lideram.
O Choro da Viúva
O deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) pretende convocar representantes do governo do Rio e do Comitê Organizador Local da Copa de 2014 para explicarem, na Câmara, o orçamento de R$ 720 milhões, em dinheiro público, para adequar o Maracanã para o Mundial. "Imagine gastar tudo isso, às expensas da Viúva, em um estádio que já vem sendo permanentemente reformado nos últimos dez anos!"
Fritura Nota Dez
Cem estudantes de gastronomia à paisana serão jurados do concurso que elegerá o melhor pastel de feira de SP, promovido pela Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. A partir da semana que vem, os jurados visitarão as 50 barracas selecionadas pelos paulistanos no site do concurso, para comprovar se os pastéis têm qualidade e se o atendimento é bom. A final do concurso acontece em 23 de agosto.
Comilança
O chef Massimo Bottura, do restaurante italiano Osteria Francescana, duas estrelas no guia "Michelin", desembarca no Brasil em outubro para participar da Semana Mesa SP. O chef pâtissier Ben Roche, do Moto, em Chicago, também estará no evento gastronômico realizado pela revista "Prazeres da Mesa" e pelo Senac SP.
Chuva de Arroz
Patricia Birman, filha de Anderson Birman, do grupo Arezzo, de calçados, marcou a data do casamento com o empresário Mario Pedro Marcondes. Os dois se casam na catedral da Sé no dia 17 de setembro e depois fazem festa na Sala São Paulo.
Beleza Infantil
João Doria Jr. realizou no sábado a 8ª edição do Passeio de Bebês, em Campos do Jordão. Cerca de 3.000 pessoas, entre crianças e adultos, participaram do evento. Houve prêmios para as categorias "Bebê mais Bonito", "Mãe mais Bonita", entre outras.

JORGINHO: "AINDA ACORDO DE MADRUGADA" Depois de uma semana recolhido, o ex-auxiliar técnico da seleção brasileira, Jorginho, falou a Diógenes Campanha sobre a eliminação do time na Copa.

Folha - Como se sente?
Jorginho - Ainda acordo de madrugada, com as lembranças martelando a minha cabeça. Ver meus filhos chorando quando voltei. Eu estou triste para c... É como se tivéssemos perdido alguém da família. A gente viu o prazer deles em vestir a camisa da seleção. Em nenhum momento, o presidente Ricardo Teixeira pediu renovação de idade. Pediu comprometimento. Fiquei conversando com o Júlio César no quarto até as 3h da manhã [na noite da eliminação]. Ele disse: "Cara, isso é uma dor que eu vou levar pro resto da vida". Em 2006, não houve consternação nem choro.

E as críticas do Ricardo Teixeira, da CBF?
Ele deu total liberdade para o Dunga, mesmo nos momentos mais difíceis, quando perdemos do Paraguai, empatamos com a Argentina ou perdemos a Olimpíada.

Vocês se sentiram pressionados pela TV Globo?
O Ricardo Teixeira já havia dito que essa seria uma das Copas mais fechadas dos últimos tempos. Não podíamos dispor os jogadores para dar entrevistas toda hora. Eu nunca briguei com a imprensa. Só coloquei o que estava no meu coração. Disseram que eu tinha ascendência sobre o Dunga. Isso ofende a ele e a mim. O Dunga é democrático, mas é o líder.

O excesso de religiosidade não atrapalha?
Nunca participei das reuniões dos atletas, mas em nenhum momento elas atrapalharam. Era uma hora por semana, de estudo bíblico, não era reunião para ganhar campeonato. Será que, se tivéssemos sido campeões, não diriam que isso ajudou?

Ronaldinho e Ganso não fizeram falta?
Uma coisa é o Ronaldinho de 2002, outra é o de 2010. Em 2006 e nas vezes em que nós o convocamos, ele não deu a resposta que eu e você queríamos. Quanto ao Ganso, uma coisa é o Campeonato Paulista, outra é a Copa.

Onde espera estar em 2014?
Ainda vou ter que passar na CBF para pegar minhas coisas e vai doer. Tenho anotações de observações, de coisas motivacionais, que estão lá e talvez possam ser úteis para o próximo treinador. E lembro da tia Noélia, que servia o nosso café, uma pessoa muito especial pra mim [faz uma pausa e fica com a voz embargada, demonstrando choro]. Vai estar sempre no meu coração.
Curto-circuito
Marcia Glogowski lança o livro "Aleijadinho - O Violoncelo" (ed. Alaúde), hoje, a partir das 18h30, na loja de artes da Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

A banda Los Pirata se apresenta hoje, à meia-noite, no clube CB. 18 anos.

A mostra "Drop Shots", de Andrea Laybauer, será inaugurada hoje, às 18h30, na Livraria da Vila do shopping Cidade Jardim.

A cantora Preta Gil comemora três anos do show "Noite Preta" com uma apresentação na boate The Week no dia 6 de agosto. Classificação: 18 anos.

O cantor Maurício Gasperini faz show amanhã, às 22h30, no bar Passatempo. 18 anos.