domingo, julho 04, 2010

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Estranho amor
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 04/07/10
Aníbal Massaini, da Cinearte, que briga na Justiça com Xuxa pelos direitos de Amor, Estranho Amor - filme em que a apresentadora aparece nua - enviou carta-reclamação ao STJ do Rio. "Foi um desrespeito o site do tribunal divulgar reportagem sobre uma sentença que ainda não foi publicada no Diário Oficial. E, pior, o fez de maneira parcial e falaciosa."
Na decisão, o desembargador negou pedido de suspensão de liminar, que devolveria à Cinearte o direito de relançar o filme da década de 80.
Olho vivo
O Sindicato dos Bancários, que tanto divulgou a Bancoop, continua propagandeando a Paulicoop, outra cooperativa habitacional que já tem processo na Justiça por problemas em suas obras.
Na edição de junho, a revista do sindicato traz anúncio que fala sobre entrada facilitada e melhor preço da região.
Holofote
Antunes Filho surpreendeu. Avesso às mídias comerciais, aceitou gravar filme da SPTuris para divulgar a programação cultural de SP. Entra no ar na segunda quinzena de julho.
Peso nas costas
Joaquim Barbosa, ministro do STF, dá sinal de que não melhorou das dores na coluna. Em voo Brasília-São Paulo, sem conseguir se acomodar na poltrona, optou por viajar em pé, lendo um livro.
Intervalo
Zé Padilha viaja no final do mês para Los Angeles, onde finaliza Tropa de Elite 2. Por isso, a produção do próximo longa do diretor, Nunca Antes na História Deste País, sobre o mensalão, foi adiada.
Responsabilidade social
A Fundação Itaú Social comemora. A Olimpíada de Língua Portuguesa, feita em parceria com o Ministério da Educação, atingirá neste ano 99% dos municípios brasileiros.
Ponto para a Fibria. É a primeira empresa do setor florestal do mundo a integrar o Carbon Disclosure Project - assessoria que atende companhias atentas aos problemas provocados pelas mudanças climáticas.
O Centro de Estudos Universais e a Anhembi Morumbi abrem inscrições para curso de pós-graduação em Arte Integrativa, voltado para profissionais do terceiro setor, artes e educação.
O livro Projeto Velho Amigo, Corrente do Bem - 10 Anos está à venda na loja Casa Cor, com renda revertida para locais que abrigam idosos.
Elias Knobel, cardiologista, acaba de lançar o livro A Vida Por um Fio e Por Inteiro. Com fatos marcantes de seus 38 anos de trabalho em UTI.
A Plano 1 promove campanha de arrecadação de alimentos durante a Copa do Mundo entre seus 90 colaboradores. As doações serão destinadas à entidade Anjos da Noite.
A Fundação Bradesco festeja. Está entre os 10 principais casos de sucesso apontados no livro e-Learning no Brasil - Retrospectiva, Melhores Práticas e Tendências.
Cerca de 250 jovens da comunidade judaica participam de campanha de arrecadação de agasalhos para o Fundo de Solidariedade de SP. Hoje, em Higienópolis.
O HSBC é a primeira entidade financeira de porte a atingir a cota exigida de pessoas com necessidades especiais.

Detalhes nem tão pequenos...
1. Cão intelectual garantiu seu autógrafo em lançamento de livro.

2. Objetos pensados e colocados no universo de Shakespeare.
3. Até em Beirute a torcida era verde-amarela. Sem sucesso.
4. Pulp Fiction invadiu o museu.
5. Clima de ansiedade nos bastidores do desfile.
6. Tudo pronto para o ator entrar engomado em cena.
7. Nada melhor do que exibir seus caprichos envoltos em algo que não se sabe o que é...

GOSTOSA

JOSÉ AUGUSTO GUILHON ALBUQUERQUE

A maldição do lulismo
JOSÉ AUGUSTO GUILHON ALBUQUERQUE
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/07/10

À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento de Dilma foi tendencialmente menor


Para os adeptos da dialética estatística, as eleições são um livro aberto, repleto de grandes números: 73% sabem que Dilma é a candidata de Lula, com 80% de aprovação; 50% votariam na candidata do presidente, 70% dos quais votariam nela se a eleição fosse hoje.
Mas as eleições não são hoje. E a estatística não é dialética. Se bastasse ser reconhecida por 73% do eleitorado como candidata de Lula, que tem 80% de aprovação, Dilma deveria ter hoje 58% das intenções de voto. Mas não tem.
Dados recentes da pesquisa Ibope, publicados no jornal "O Estado de S. Paulo" (26/6/10), mostram que o apoio de Lula explicaria mais de 80% dos 40% de preferência por Dilma, de um total de 48% do eleitorado que diz votar no candidato de Lula. Mas uma parte desses fiéis lulistas (11% do eleitorado total) não prefere votar em Dilma.
Isso nos deixa com 37 pontos percentuais (p.p.) (48% -11%), uma boa estimativa da transferência real de Lula. Dilma colhe 3 p.p. adicionais no Ibope e, no Datafolha de 2 de julho, 2 p.p., atribuíveis a erro estatístico.
E tudo o que seu mentor logrou, em quase oito anos de governo e dois anos de campanha aberta e diuturna, foi dividir o eleitorado em dois blocos equivalentes e excludentes, 48% que querem votar em quem ele mandar e 47% que não querem.
E, por iniciativa do próprio Lula, seu eleitorado está polarizado com o eleitorado não lulista, já ocupado política e eleitoralmente pelas candidaturas de Marina e, especialmente, de Serra.
Mais grave é o fato de que o eleitorado lulista está em queda, de 53% que preferiam votar no candidato de Lula em março, para 48% em junho, perda de 5 pontos.
À contrapelo da opinião corrente, a curva do reconhecimento de Dilma como candidata oficial (mais 20 p.p. entre março e junho) é inversamente proporcional à da inclinação para votar na candidatura oficial (menos 5 p.p. no mesmo período) que, por sua vez, é inversamente proporcional ao crescimento das intenções de voto na candidata (mais 7 pontos percentuais).
Enquanto se difundiu a partir do próprio Lula e seus acólitos, o aumento do reconhecimento de Dilma como candidata oficial beirou os 100%. À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento foi tendencialmente menor.
À medida que seu reconhecimento alcança taxa muito elevada na sociedade, o nível de adesão à sua candidatura cai, pois passa a competir, cada vez mais, com os adversários e os que os apoiam.
Se a queda de 53% a 48% -na inclinação para seguir o que Lula mandar- se repetir nos próximos três meses, persistindo também os 11 p.p. que dizem votar em quem Lula apoiar, mas de fato não preferem Dilma, a transferência real de Lula se reduzirá a 32 p.p. do eleitorado da petista, que, para crescer, dependerá de seus próprios méritos e talentos.
Tarefa demasiado árdua.
Seu espaço para crescer está virtualmente esgotado e eu não me surpreenderia se ela andasse... para trás. A bênção do lulismo transforma-se em maldição. A síntese dialética só poderá vir das urnas...
JOSÉ AUGUSTO GUILHON ALBUQUERQUE, 69, é professor titular de Ciência Política e Relações Internacionais da USP.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

A ilha e a tecnologia
JOÃO UBALDO RIBEIRO

O ESTADO DE SÃO PAULO - 04/07/10

Aqui na ilha, não temos ficado indiferentes à questão do uso da tecnologia nas Copas. Aliás, ao contrário do que insinuam maledicentes, Itaparica sempre foi muito ligada à tecnologia de ponta, apesar de circunstâncias fre-quentemente desfavoráveis, como no meu tempo de menino, em que só tínhamos energia elétrica do escurecer até as dez da noite. Não nos deixávamos abater e nos esforçávamos para absorver da tecnologia tudo o que era possível. Por exemplo, assistíamos ao funcionamento da bomba de gasolina a manivela do posto de Waldemar, o único da ilha. Era um programaço, com os números rodando e barulhinhos de ficção científica pontuando a função. Dava para en-cher a manhã inteira, quando não havia uma pelada a disputar.

Além disso, muitas das coisas que, fora da ilha, parecem novidades aqui já são fartamente conhecidas, desde os antigos. Gabam-se os americanos, por exemplo, de terem mandado um homem à Lua, façanha, aliás, de que muita gente boa duvida. Houve quem assistisse à tal chegada na televisão, mas, como sintetizou admiravelmente Waltinho Filósofo, o fundador da Escola Filosófica do Sorriso de Desdém, "ninguém viu lua nenhuma, só viu um sujeito de escafandro", de maneira que o ceticismo parece ter razão, fazendo jus, os tais americanos embusteiros, a um vasto sorriso de desdém. Itaparica não mandou homem nenhum à Lua, mas fez melhor, como confirmarão os que, da mesma forma que eu, ouviram da boca do próprio finado Lamartine a celebrada narração dos foguetes.

Nessa época, começo do século XX, Lamartine, ainda mocinho, já se notabilizava por seu talento e esmero na confecção dos melhores foguetes de todo o Recôncavo Baiano. Cada foguete seu era uma obra de arte individual, até mesmo na fabricação da pólvora, que não era comprada na mão de fornecedores, mas feita e temperada por ele mesmo, segundo uma fórmula secreta dos portugueses, que descobrira numa escavação junto à fortaleza de São Lourenço. Não tinha mãos a medir em encomendas de festas de santos, inaugurações, feriados, comícios, grandes casamentos, grandes aniversários e tudo mais que exigisse foguetório de alta qualidade. Eram esplêndidos foguetes, daqueles cuja carga explosiva sobe amarrada a uma vareta ou taquara, chama-da de flecha.

E não foi assim que, já coberto de glória pirotécnica, Lamartine resolveu dar um capricho extra, na confecção dos foguetes para a festa cívica do Sete de Janeiro, data magna da ilha e da nacionalidade. Mas a decepção foi geral, quando foguete após foguete subia e sumia no espaço. Nem se ouviam as explosões, nem as flechas caíam de volta no chão. Chabu total, impensável fiasco? Estaria Lamartine desmoralizado? Ele próprio confessava aos ouvintes que chegara a duvidar, a achar que tinha errado no preparo dos foguetes. Bem, de fato, tinha, como se viu logo em seguida, só que o erro fora por exagero na mistura da pólvora, rompante natural da juventude, que ele agora compreendi-a. Porque, na hora em que já ia desculpar-se com o prefeito e as outras autoridades presentes na festa, finalmente caiu uma flecha, que se cravou no chão, bem junto a eles. Só que não era apenas a flecha, havia um papel espetado nela. Conferiram, era um bilhete. O bilhete dizia o seguinte: "Prezado Lamartine, não solte mais seus foguetes, que estão me furando o céu. Seu criado, Pedro Apóstolo."

A mesma coisa pode ser dita de outros avanços, que para nós não são nem tão avanços assim, como as comunicações eletrônicas. De novo, vem à tona o nome de Waltinho Filósofo, que criava pombos-correios extraordinários, os quais não só levavam cartas, como procuravam os números das casas dos destinatários, tomavam recibo e só faltavam vender selos. Um desses pombos, de acordo com alguns testemunhos, foi alistado na Força Expedicionária Brasileira e serviu com distinção na Itália, onde, por sinal, montou pombal com uma pomba romana e morreu de morte natural, condecorado e cerca-do de grande consideração. Como se vê, ninguém pode nos ensinar nada em matéria de tecnologia, nem o nosso conservadorismo, quanto a seu uso no futebol, pode ser atribuído a um pretenso atraso.

No bar de Espanha, a discussão sobre o tema vem ocupando as atenções e a opinião mais ouvida é que o futebol está gravemente ameaçado em um de seus principais fundamentos, nomeadamente o juiz ladrão. A convicção de quase todos é de que, sem o juiz ladrão, torcer vai ficar muito difícil. O sempre respeitado parecer de Toinho Sabacu, conhecido por seu equilíbrio, foi o primeiro a manifestar-se.

- Por exemplo - disse ele - que seria da torcida do Bahia, se não fosse o juiz ladrão?

A indagação suscitou imediata indignação da parte da torcida atingida, até porque todo mundo sabe que Sabacu é Vitória. Somente a interferência de Zecamunista é que restaurou a harmonia. Sem o juiz ladrão, nada seria da torcida do Bahia e nada seria da torcida do Vitória, argumentou ele. Era a dialética mais uma vez em ação, funcionava para qualquer time. Sim, senhores, onde ficaria o torcedor que vê seu time derrotado, se não pudesse botar a culpa no juiz? E o pênalti não marcado, o falso impedimento, o tiro de meta que vira escanteio, o cartão amarelo mal aplicado?

- Mas não se enganem, não - advertiu ele, para finalizar. - Se ninguém reagir, esse pessoal da tecnologia vai acabar inventando uma máquina para botar no lugar do juiz. E a Copa vai terminar sendo um torneio de video-game, é o que eles querem.

GOSTOSA

GAUDÊNCIO TORQUATO

Copas quadradas
Gaudêncio Torquato 
O Estado de S.Paulo - 04/07/10

A observação tem sido recorrente em rodas de conversa: esta Copa não tem o charme de outras, seja pela ausência de criatividade, de grandes jogadas individuais, seja pela semelhança dos sistemas defensivos e desempenho nivelado das linhas de ataque das equipes. A globalização do futebol deu nisso. Tornou a Copa quadrada. A mesma sensação se aplica à Copa política que aqui teve início, cujos primeiros lances apontam para uma disputa acirrada entre os dois principais contendores, porém sem os toques emotivos que transformavam as disputas do passado em festas cívicas sob a algazarra de grandes plateias nas arquibancadas. Se na África do Sul as vuvuzelas cumprem o papel auxiliar de animar espetáculos pouco vibrantes e coroar resultados previsíveis, por aqui se pode apostar que as cornetas nas ruas serão raras, eis que a formatação do torneio tende a arrefecer a torcida das galeras e a atenuar o impacto da vitória de qualquer figurante no seio social.

O animus animandi de uma campanha política depende, como se sabe, do estado d"alma da Nação. Quanto mais alta a febre de uma população, mais intenso será o calor do debate, mais acaloradas as discussões entre alas simpatizantes e mais acirrados os debates entre postulantes. A recíproca é verdadeira. Apesar da corrosão de certas partes do corpo social, principalmente nos tecidos da saúde e da educação, é forçoso reconhecer que imensas parcelas têm sido amparadas pelos braços assistencialistas do governo sob o empuxo de uma política econômica que abriu as comportas do consumo. Espelho disso é o extraordinário índice de aprovação da figura do presidente da República. Sob a vigorosa arquitetura de proteção social e o escudo da economia se desenvolverá a contenda eleitoral, pelo que se pode inferir situação mais cômoda para quem representa a marca Lula e maior dificuldade para quem lhe faz oposição. A par dessa situação, mais um fator deverá agir sobre o processo decisório: a certeza do eleitor de que, seja quem for o vitorioso, o País deverá continuar nos trilhos.

Esse é um diferencial entre este e outros pleitos. Como se recorda, na campanha de 2002, para tranquilizar o ânimo nacional Luiz Inácio teve de produzir uma Carta ao Povo Brasileiro, com compromissos que serviram de anzol para capturar a credibilidade social. De lá para cá, o temor de que o País enverede por caminhos oblíquos, a partir da adoção de ações radicais e de uma visão ultraesquerdizante, foi diminuindo, a ponto de hoje constituir-se em ponto de interrogação na mente de grupos cada vez mais estreitos. Continua a haver certo receio em relação ao PT, como se pode depreender do encontro da candidata Dilma, na semana passada, com um grupo de mulheres em São Paulo, mas esse partido dá mostras de ter adotado a cartilha pragmática, sem a qual inviabilizaria o arco de alianças em torno de seu projeto de poder. A esses fatos se juntam outros ingredientes, a denotar que a campanha não carreará tanto a emoção das bases. Não se trata mais de apostar no surrado refrão do "Lula lá". O último perfil carismático não é candidato, apesar do papel de sombra e guarida.

Serra e Dilma, por sua vez, não se enquadram no figurino carismático. De Marina até pode se pinçar ligeiro traço de carisma, a partir da estética cheia de panos que lembra entidades hindus (só falta o sinal na testa). Poderia ser parente de Gandhi. Ou, se preferirem, a representante do povo da floresta é o nosso clone de Avatar. Já Dilma e Serra figuram lado a lado na régua da gestão, disputando a propriedade da expressão técnica, uma estatística para arrematar a ideia, o modus operandi para comprovar conhecimento de causa. Administram uma locução retilínea, sem altos e baixos, dispensando a retórica retumbante dos fechos discursivos. Mais uma razão para o eleitor avaliá-los pela lupa, e não pela veia emotiva. As novidades vão além. Pela primeira vez na história da disputa presidencial teremos uma mulher em condições de ser eleita. Mais: uma mulher que nunca foi votada. Isso será possível?

Nesse ponto emerge a hipótese de o Brasil ter condições de se transformar, com a eleição deste ano, em laboratório da política contemporânea. Eis o argumento. A política mundial atravessa um momento de intensa despolitização e desideologização. A competição política torna-se cada vez menos forte. Os partidos fenecem e o jogo político torna-se embaciado. Sob essa nova ordem, o eleitor não distingue fortes diferenças entre os atores, quando muito, joga-os na balança de suas demandas imediatas. Com as ideologias em franco declínio, o que pesa é a fatura de credibilidade que os contendores exibem para a conta do futuro. O eleitor tende a substituir o menu ideológico pelo cardápio cotidiano, ou seja, comida, remédio barato, transporte rápido, educação de qualidade, sistema de saúde eficiente. O novo lema é: a administração das coisas deve substituir o governo dos homens. Quem é o mais apto na tarefa de administrar o dia a dia? A micropolítica toma o lugar da macropolítica. Essa é a disposição que regerá o processo de seleção. Será escolhido o perfil que melhor corresponda às expectativas dos observadores do jogo, podendo ser alguém com muita experiência ou com pouca experiência. Mas, sobretudo, que reanime as esperanças das massas. O eleitor não vota no passado, mas no futuro.

No arremate da paisagem, veremos na TV uma programação eleitoral também assemelhada. Primeiros planos de caras, abraços e apertos de mão no meio do povo, sorrisos abundantes, larga confraternização, números em profusão, cenas deslumbrantes de campos verdes, colheitas de grãos, complexos industriais, mar profundo e óleo jorrando por todos os lados, debates em que cada contendor será apresentado como vencedor. Não haverá sustos. Teremos no pleito também uma Copa quadrada. Sem grandes emoções. Típica da era Dunga

JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP E CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Fica pelado, Maradona!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/07/10


Adiós, Argentina! O MALAdona levou de quatro! E o Messi? ARREMESSI no rio da Prata!



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo!
VENDO UMA VUVUZELA SEMINOVA! Apenas cinco jogos de uso! Pouca baba!
Ueba! Adiós, AAAARGH....entina! Tamo livre de ver o Maradona pelado! Estamos salvos! Não veremos o palitinho do Maradona!
4 a 0! O MALAdona levou de quatro! Rarará.
E o Messi? ARREMESSI no rio da Prata!
E a imagem mais aterrorizante de todas as Copas do Mundo: o Tevez com imagem congelada e com a língua pra fora!
Não chores por mim, Argentina. Que ontem foi tu na latrina! Rarará! Adiós, Maladona, o Nelson Ned da Argentina, o nosso amigo anão, Maligno Maradona. O panda com artrose! Rarará!
E a Alemanha? Tá tendo Oktoberfest na Alemanha! E o goleiro da Alemanha é a reedição do Muro de Berlim! Rarará!
Seleção da Alemanha: tudo com nome impronunciável! Cardápio da Oktoberfest! E eu senti falta do Diego Alemão! Rarará!
E um jogador da Alemanha acusou os argentinos de mau comportamento e de invadir as cadeiras de outros torcedores. Mas justo a Alemanha reclamando de invasão? Eles invadiram a Europa inteira e estão reclamando de uma cadeira? Rarará!
E hoje eles ainda invadem o mundo inteiro: de sandália Birkenstock e camiseta. E a cara vermelha de sol!
E a última do Kaká Bad Boy: ele mandou o comandante dar meia-volta para esperar a Argentina. Rarará! E olha o cartaz na porta de uma empresa, com as fotos do Dunga e do Felipe Melo: "Graças a esses dois FDPs, na terça-feira o atendimento será normal". Rarará.
E o que eu faço com a vuvuzela que sobrou da Copa? Enfia no fiofó do Dunga. Enfia no fiofó do burro! Rarará!
E o Felipe Melo, na hora de transar, não usa camisinha, usa caneleira. E falaram no Twitter que o Felipe Melo vai passar as férias no sítio do Bruno do Flamengo! E chute agora é "dar um felipe melo". Vou te dar um felipe melo, punq! Rarará!
E o Galvão rouco tava parecendo a Foca da Disney. Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
Rumo ao Título Sem Rumo!

BAR ZIL

MERVAL PEREIRA

Infraestrutura
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 04/07/10
As deficiências do setor de transporte nacional são um dos principais responsáveis pela perda de competitividade do Brasil, reduzindo a produtividade e aumentando os custos de transação de pessoas, produtos e serviços. Essa é uma das conclusões de um estudo que a consultoria Macroplan, Prospectiva, Estratégia e Gestão, do economista Claudio Porto, está distribuindo a seus clientes com uma análise da educação e da infraestrutura no país, setores que se tornaram os principais gargalos estruturais no crescimento brasileiro.

Na educação, traçando um cenário otimista com a universalização do ensino fundamental e intensificação do esforço de melhoria das condições de ensino, a Macroplan considera que o Brasil alcançará o atual nível de escolaridade das nações mais desenvolvidas reunidas na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2030.

Com relação à infraestrutura, diz o documento que há uma forte demanda de investimentos para a recuperação, melhoria e expansão da infraestrutura de transportes nas quatro modalidades: rodoviário, ferroviário, portuário e aeroviário, demanda que se intensifica em proporção direta do crescimento econômico.

Retardar novos investimentos não somente acentuará os gargalos existentes como, no médio prazo, comprometerá a competitividade do país e a sustentabilidade do crescimento, adverte o estudo da Macroplan.

O maior desafio é acelerar e mudar a escala desses investimentos, e para tanto não faltariam recursos, seja pelo aumento da arrecadação, seja pela grande abundância de recursos financeiros no mundo à procura de oportunidades atrativas e seguras.

A grande restrição, destaca a análise dos técnicos da Macroplan, reside na baixa capacidade do setor público (governos federal, estaduais e municipais) em planejar, projetar e gerir investimentos.

Os principais problemas gerados são atrasos nos prazos, frequentes e substanciais aumentos nos custos de execução de obras, legislação relativa a licitações e execução de investimentos rígidas e inadequadas, falta de projetos e deficiências técnicas e gerenciais na área pública.

A experiência brasileira neste campo mostra, segundo a Macroplan, que a participação do setor privado em investimentos de infraestrutura tem um saldo muito positivo e é cada vez mais parte da solução. Os bons exemplos das áreas de telecomunicações e energia precisam ser disseminados.

No transporte rodoviário, os custos logísticos no Brasil são equivalentes a 11,6% do PIB, ou seja, mais de R$ 220 bilhões. O item de maior re p re s e n t a t i v i d a d e é o transporte, com 7% do PIB.

Desse montante, o transpor te rodoviário é o de maior custo e corresponde a mais de 80%, sendo a maior parte referente às atividades de aquisição, operação e manutenção.

O estudo destaca que, nos EUA, os custos logísticos equivalem a 8,7% do valor do PIB, sendo 5,4% referente a transporte.

Apenas 31% das nossas rodovias estão em boas ou ótimas condições. O custo do transporte de carga por rodovias, no Brasil, é, em média, 28% mais caro do que seria se as estradas apresentassem condições ideais de pavimentação.

Construído com orientação principal para a exportação, o sistema ferroviário brasileiro possui forte concentração em minério de ferro, que representa aproximadamente 75% de sua carga. A malha atual é de somente de 28.500 km.

Um dos grandes desafios, diz a Macroplan, é o aumento das cargas domésticas e regionais. Nos EUA, 70% dos veículos são distribuídos pelo modal ferroviário.

Com 8 mil km de costa e 40 mil km de rios navegáveis, o sistema portuário do Brasil é composto de 34 portos públicos relevantes, de 131 terminais de uso privado, em 2010, além de 27 em solicitação de novas outorgas.

O estudo da Macroplan vê a gestão dos portos públicos como um grande desafio: o baixo nível de eficiência gerencial das administrações portuárias públicas requer ações de mudança, como a flexibilização na contratação da mão de obra nos portos públicos.

A Infraero controla 67 aeroportos e 97% do tráfego aéreo do país. A movimentação nos aeroportos da Infraero entre 2003 e 2009 teve um crescimento de cerca de 30% na quantidade de aeronaves e de 80% na de passageiros transportados.

A pergunta que não quer calar, segundo o estudo, é quando será o novo apagão.

Para a Macroplan, com um crescimento anual de dois dígitos no número de passageiros, e com a aproximação de Copa do Mundo e Olimpíadas, e as fragilidades que foram expostas no apagão, além da ainda baixa capacidade de gestão da operação dos aeroportos, de carga ou de passageiros por parte da Infraero, a grande incerteza do setor reside na evolução de marco regulatório que viabilize investimentos privados e/ou da capacidade do governo realizar os investimentos necessários em tempo hábil e a custos razoáveis.

Diante desses diagnósticos, o estudo da Macroplan aponta para a seguinte agenda: (1) modernizar a legislação referente a licitações de projetos e obras públicas; (2) Inovar nos métodos de formulação, modelagem e gerenciamento de projetos; (3) intensificar, em todos os níveis de governo, a concessão privada para investimentos em rodovias; (4) ampliar os investimentos públicos na expansão das grandes malhas ferroviárias nacionais; (5) no futuro, revisar e aprimorar o modelo regulatório do setor ferroviário de forma a estimular a competição (uma espécie de desverticalização das concessões ferroviárias); (6) multiplicar, no menor prazo possível, as concessões de aeroportos à iniciativa privada; e (7) dar um ‘choque de gestão’ nos projetos de investimento público, com o emprego das melhores práticas e métodos de gerenciamento existentes.

ELIO GASPARI

Serra precisa reinstalar o sistema 
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/07/10

José Serra está na situação do sujeito que digita um texto em Times New Roman e ele aparece na fonte Arial. (Numa entrevista, indagado pela jornalista Míriam Leitão sobre a autonomia do Banco Central, destratou-a.) Depois, o cidadão decide salvar uma planilha e ela some. (Forma uma chapa puro-sangue com um vice que noutra encarnação foi expulso do PSDB.) Finalmente, no meio de uma palestra com PowerPoint, suas tabelas travam. (Diante da insurreição do DEM, fecha a chapa com um candidato com quem nunca conversou por mais de cinco minutos.) 

O freguês do computador achou que o problema estava no programa Word (Jornalistas perguntando o que não devem). Depois, a suspeita migrou para o Excel. (O PSDB é muito volúvel). Finalmente, o culpado é o PowerPoint (É preciso reformular a estrutura da campanha). 

Se os problemas fossem esses, seriam pequenos, mas levando-se as queixas a quem sabe mexer com as máquinas, a resposta é dura: na melhor das hipóteses, é o seu sistema operacional quem está corrompido. O bug não está nos diversos programas que acompanham a candidatura, mas na sua essência. É preciso reinstalar o sistema. Na pior das hipóteses, a encrenca não está no software, mas na própria máquina. Por ser a alternativa catastrófica, letal, convém desprezá-la. 

Problemas na escolha dos vices são mais comuns do que resfriados. Geraldo Alckmin jogou ao mar Henrique Alves; Fernando Henrique Cardoso sacrificou Guilherme Palmeira. Tancredo Neves, reunido com o senador Pedro Simon numa suíte do Hotel Nacional, ouviu um veto desprimoroso a José Sarney, que se retirou da sala, tomou o avião e foi para o Rio. Tancredo disse a Simon que o vice de seu projeto era Sarney e acabou com a divergência. Quando o ministro do Exército, general Lyra Tavares, disse ao general Médici que o almirante Rademaker não podia ser seu vice, o então comandante da guarnição do Sul pegou o quepe e voltou para Porto Alegre, onde foram buscá-lo, com Rademaker na vice. 

Serra detonou a proposta de prévias de Aécio Neves, que poderia expor o PSDB a uma saudável exposição de contraditórios. Fez isso insistindo em postergar o lançamento de sua candidatura. Há um ano, quando a nação petista começou a mover a candidatura de Dilma Rousseff, o governador de São Paulo estava 30 pontos à frente da chefe da Casa Civil. Assumindo a candidatura, acreditou demais na possibilidade de atrair Aécio Neves e cultivou a ideia de dispensar o DEM. Serra temia, e continua temendo, a exibição dos vídeos do ex-democrata José Roberto Arruda e de sua quadrilha embolsando dinheiro em malas, bolsas e meias. 

Há um mês, Serra poderia escolher o vice que bem entendesse. Não queria buscá-lo no DEM, mas não disse isso a ninguém. Fez uma escolha oportunista, calculou mal o equilíbrio da política paranaense e acordou na quarta-feira sem plano B, C ou Z. Aceitou um companheiro de chapa produzido muito mais pela marquetagem do que pelos Maia do Rio de Janeiro. Todas as decisões e indecisões saíram do seu sistema operacional e deu no que deu. 

Há três meses, Serra lembrou que “a boa equipe necessita de um norte claro, sempre claro, de quem está no comando” e lançou-se na campanha presidencial dizendo que “o Brasil pode mais”. Depois disso, o Times Roman virou Arial, a planilha sumiu e o PowerPoint travou. Como a campanha mal começou, poderá reinstalar o sistema. 

Trem de campanha 
Vai mal a licitação do trem-bala. O projeto que vem sendo cozinhado no BNDES prevê uma garantia da demanda nos primeiros dez anos de operação da linha.

Se o trem tiver passageiros, o concessionário lucra. Se não tiver, o velho e bom BNDES mexe nos prazos de financiamento de forma a consertar a caixa dos felizardos. 

Pelo menos um dos interessados do projeto diz para quem quiser ouvir que não precisa de garantia de demanda, desde que lhe seja dada liberdade tarifária abaixo e acima do bilhete básico. Por enquanto, essa tarifa está em R$ 199 para o trecho Rio-São Paulo. 

O governo de Nosso Guia talvez seja o único da História dos regimes democráticos que pretende abrir uma licitação de R$ 34 bilhões para bater o martelo no contrato em fim de mandato. Como se sabe, este é um período de alta demanda filantrópica. 

Com garantia de demanda, Eremildo, o Idiota, oferece a Dilma Rousseff uma ponte aérea para a Lua.

Queixa 
Lula está convencido de que a diplomacia americana puxou-lhe o tapete no caso da negociação do acordo do urânio iraniano. Não conta tudo o que sabe para não botar lenha na fogueira. 

É possível, como também é possível que seu comissariado lhe tenha vendido gato por lebre. 

Jogo bruto 
A Petrobras precisa formar uma tropa de elite nacionalista e feroz. 

Aqui e ali ela já percebeu movimentos de seus concorrentes para satanizá-la, sobretudo no paraíso lobista de Washington. 

Quem quiser cortar as asas dos sabiás brasileiros pelo mundo afora não pode esperar por bons negócios na terra das palmeiras. 

Dilma produz um número a cada minuto 
Para tristeza do tucanato, o desempenho do sistema Lula 8+4 está correspondendo às expectativas da nação petista. Dilma Rousseff preparou-se para mostrar conhecimento administrativo e, na entrevista que concedeu ao programa “Roda Viva”, mostrou que tem o que dizer. Infelizmente, caiu no engano daquelas pessoas que tentam fazer coisas demais no Excel, obsessivamente preocupadas com números. 

Em 80 minutos de entrevista, ela despejou 67 números (entre os quais 11 cifras e 17 percentagens). Desprezaram-se as datas e a previsão do resultado do jogo contra a Holanda (2 x 0, caminhando para 3 x 0). 

Dilma aproximou-se da perigosa marca de um número por minuto. Se daqui até outubro ela encostar no padrão do companheiro Obama (um número a cada dois minutos, no máximo), a nação, penhorada, agradecerá. Em setembro do ano passado, num discurso de 52 minutos ao Congresso, tratando de um assunto cabeludo, que atraía argumentos estatísticos, ele defendeu seu projeto de reforma do sistema de saúde com 27 números (entre eles sete cifras e nove percentagens). 

O recurso à retórica matemática indica uma busca da precisão, mas, às vezes, reflete insegurança em relação à ideia que acompanha a numerologia. Em outros casos, é pedantismo mesmo. 

(Numa resposta “rapidinha”, interrompida por uma breve observação, Dilma Rousseff consumiu cinco minutos. Madame Natasha pede um registro. Em duas ocasiões, falou em latim: “ad nauseam” e “ex ante”). 

GOSTOSA

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Eleição sem maquiagem
Fernando Henrique Cardoso 
O Estado de S.Paulo - 04/07/10

O mundo continua se contorcendo sem encontrar caminhos seguros para superar as consequências da crise desencadeada no sistema financeiro. Até a ideia (que eu defendi nos anos 1990 e parecia uma heresia) de impor taxas à movimentação financeira reapareceu na voz dos mais ortodoxos defensores do rigor dos bancos centrais e da intocabilidade das leis de mercado. No afã de estancar a sangria produzida pelas exacerbações irracionais dos mercados, outros tantos ortodoxos passaram a usar e até a abusar de incentivos fiscais e benesses de todo tipo para salvar os bancos e o consumo.

Paul Krugman, mais recentemente, lamentou a resistência europeia à frouxidão fiscal. Ele pensa que o corte aos estímulos pode levar a economia mundial a algo semelhante ao que ocorreu em 1929. Quando a crise parecia acalmada, em 1933, suspenderam-se estímulos e medidas facilitadoras do crédito, devolvendo a recessão ao mundo. Será isso mesmo? É cedo para saber. Mas, barbas de molho, as notícias que vêm do exterior, e não só da Europa, mas também da zigue-zagueante economia americana e da letárgica economia japonesa, afora as dúvidas sobre a economia chinesa, não são sinais de uma retomada alentadora.

Enquanto isso, vive-se no Brasil oficial como se nos tivéssemos transformado numa Noruega tropical, na feliz ironia deste jornal em editorial recente. E em tão curto intervalo que estamos todos atônitos com tanto dinheiro e tantas realizações. Basta ler o último artigo presidencial no Financial Times. A pobreza existia na época da "estagnação". Agora assistimos ao espetáculo do crescimento, sem travas, dispensando reformas e desautorizando preocupações. Se no governo Geisel se dizia que éramos uma ilha de prosperidade num mundo em crise, hoje a retórica oficial nos dá a impressão de que somos um mundo de prosperidade e o mundo, uma distante ilha em crise. Baixo investimento em infraestrutura? Ora, o PAC resolve. Receio com o aumento do endividamento público e o crescente déficit previdenciário? Ora, preocupação com isso é lá na Europa. Aqui, não. Afinal, Deus é brasileiro.

Só que a realidade existe. A prosperidade de uns depende da de outros no mundo globalizado. Por mais que estejamos relativamente bem em comparação com os países de economia mais madura, se estes estagnarem ou crescerem a taxas baixas, haverá problemas. A queda nos preços das matérias-primas prejudicará as nossas exportações, grande parte delas composta de commodities. A ausência de crescimento complicará a solução dos desequilíbrios monetários e fiscais dos países ricos e isso significará menos recursos disponíveis para o Brasil no mercado financeiro global. Não devemos ser pessimistas, mas não nos podemos deixar embalar em devaneios quase infantis, que nos distraem de discutir os verdadeiros desafios do País.

Infelizmente, estamos às voltas com distrações. Um cântico de louvor às nossas grandezas, de uma falta de realismo assustador. Embarcamos na antiga tese do Brasil potência e, sem olhar em volta, propomo-nos a dar saltos sem saber com que recursos: trem-bala de custos desconhecidos, pré-sal sem atenção ao impacto do desastre no Golfo do México sobre os custos futuros da extração do petróleo, capitalização da Petrobrás de proporções gigantescas, uma Petro-Sal de propósitos incertos e tamanho imprevisível. Tudo grandioso. Fala-se mais do que se faz. E o que se faz é graças a transferências maciças do bolso dos contribuintes para o caixa das grandes empresas amigas do Estado, por meio de empréstimos subsidiados do BNDES, que de quebra engordam a dívida bruta do Tesouro.

A encenação para a eleição de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que diga, especialmente o que o "mercado" e os parceiros internacionais querem ouvir. Mas a própria candidata já alertou: não é um poste. E não é mesmo, espero. Tem uma história, que não bate com o que se quer que ela diga. Cumprirá o que disse?

No México do PRI, cujo domínio durou décadas, o presidente apontava sozinho o candidato a suceder-lhe, num processo vedado ao olhar e às influências da opinião pública. No entanto, quando a escolha era revelada ao público - "el destape del tapado" -, o escolhido via-se obrigado a dizer o que pensava. Aqui, o "dedazo" de Lula apontou a candidata. Só que ela não pode dizer o que pensa para não pôr em risco a eleição. Estamos diante de uma personagem a ser moldada pelos marqueteiros. Antigamente, no linguajar que já foi da candidata, se chamava isso de "alienação".

Esconde-se, assim, o que realmente está em jogo. Queremos aperfeiçoar nossa democracia ou aceitaremos como normais os grandes delitos de aloprados e as pequenas infrações sistemáticas, como as de um presidente que dá de ombros diante de seis multas a ele aplicadas por desrespeito à legislação eleitoral? Queremos um Estado partidariamente neutro ou capturado por interesses partidários? Que dialogue com a sociedade ou se feche para tomar decisões baseadas em pretensa superioridade estratégica para escolher o que é melhor para o País? Que confunda a Nação com o Estado e o Estado com empresas e corporações estatais, em aliança com poucos grandes grupos privados, ou saiba distinguir uma coisa da outra em nome do interesse público? Que aposte no desenvolvimento das capacidades de cada indivíduo, para a cidadania e para o trabalho, ou veja o povo como massa e a si próprio como benfeitor? Que enxergue no meio ambiente uma dimensão essencial ou um obstáculo ao desenvolvimento?

Está na hora de cada candidato, com a alma aberta e a cara lavada, dizer ao País o que pensa.

SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA

CLÓVIS ROSSI

Os Ronaldos de 2010
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/07/10

SÃO PAULO - Às vezes, em conversas com estudantes de jornalismo, procuro explicar que ter fontes, muitas e confiáveis, é uma das grandes armas para uma boa reportagem. É assim porque boa parte do que sai nos jornais não é testemunhada diretamente pelo repórter. Depende, pois, de que os participantes do evento (as tais fontes) relatem o ocorrido.
Jogos de futebol eram uma das exceções à regra, porque ocorrem à vista de todos, público e jornalistas. Não dependemos, pois, de fontes para dizer o que ocorreu.
Até que, na final da Copa de 98, veio o piripaque de Ronaldo, que só os integrantes da seleção testemunharam, e que com certeza teve forte influência no que os demais vimos na derrota do Brasil para a França.
José Henrique Mariante, hoje editor de Esporte da Folha, fez a reconstituição com total competência. Mas, como é óbvio, só pôde concluí-la dias depois, quando já estavam beatificadas todas as lendas que costumam circular em ocasiões assim.
O jogo Brasil x Holanda foi a repetição de 1998, com diferenças essenciais: o piripaque não foi de um só, mas de todos, e se deu à vista do mundo inteiro. E, como em 1998, não houve explicação. Só José Geraldo Couto e, na véspera, José Trajano (ESPN Brasil) ousaram afirmar que Dunga transmitiu seu descontrole aos jogadores.
Pode ser, mas acho difícil. Não era uma seleção sub-17, mas um grupo de marmanjos curtidos. Como é que se descontrolariam com o gol holandês Maicon, Lúcio e Júlio César que, não muito antes, haviam superado garbosamente o trauma de tomar em casa o primeiro gol (Internazionale 3 x Barcelona 1, semifinal da Champions League)?
Explicar o que houve só com um divã bem grande, que permita uma viagem à mente de toda a seleção. É tarefa para Contardo Calligaris. Fico esperando, caro Contardo.