quarta-feira, maio 12, 2010

SOU MAIS A ARGENTINA

ZUENIR VENTURA

Colarinhos engomados
Zuenir Ventura
O Globo - 12/05/2010
Anteontem em Sampa, no cruzamento da Ipiranga com a Avenida São João, não se falava de outra coisa: ou o Tuma Jr. é muito forte ou o governo, muito fraco. Ou as duas coisas. Diante do que foi revelado contra o secretário nacional de Justiça, era para ele ter caído logo. Em vez disso, como mostrou Luiz Garcia, ele lançou o desafio: Tirem o cavalo da chuva. Não vou sair. Falou como se o cargo fosse seu e não de quem o nomeou, e como se servidor público não devesse satisfação à sociedade. Enquanto isso, continuavam pipocando transcrições de escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal.

Os diálogos mostram as ligações perigosas de Tuma com o chefe da máfia chinesa paulista. Foram vários telefonemas.

Em um, o coordenador das ações de combate à lavagem de dinheiro aparece tentando relaxar o flagrante da apreensão de US$ 160 mil que estavam sendo levados ilegalmente na bagagem de uma deputada, do Aeroporto de Guarulhos para Dubai.

Apesar dos indícios, Tuma recebeu palavras de confiança até do presidente Lula, e prosseguiu falando grosso. Quando o ministro da Justiça pediu que ele deixasse o cargo, ele não atendeu. Só depois, numa segunda reunião e após muito desgaste político para o governo, o secretário concordou em tirar alguns dias de férias, como alegou. Pode ter sido uma saída honrosa, se coubesse o adjetivo. Antigamente, os de colarinho branco que se viam às voltas com a polícia eram menos arrogantes. Hoje, são engomados e afrontam.

Vejam outro exemplo, esse, hediondo, o da procuradora denunciada por torturar uma menina de 2 anos. Foragida, mandou recado desaforado para a Justiça: só vai se entregar quando for julgado o mérito do habeas corpus. Só faltou dizer: Tirem o cavalo da chuva.

Eu estava entre os milhares de velhinhos que se vacinaram contra a gripe no sábado passado. Pena que no meu posto, em Ipanema, tenha reinado a maior bagunça. Na fila de duas horas na calçada, um sol de 50°. Lá dentro um ar mais fresco, mas não havia senha, tinham acabado. Vocês não podem imaginar a confusão. Um dos voluntários, nervoso, tentava impor a ordem, alegando que estava ali sem café da manhã, sem almoço e faltou dizer sem paciência. No desespero, passou a gritar: A senha acabou, agora a senha sou eu! Como era um só, quis lhe perguntar se ia se sortear. Mas calei porque ele não estava pra brincadeira: Não quero perguntas! Quando eu saía, aliviado, uma senhora disparou: Tá com a crônica pronta, né?

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Os soldados de Dunga

Fernando de Barros e Silva
Folha de S. Paulo - 12/05/2010
 
SÃO PAULO - No lugar da aposta, o previsível; no lugar do talento, a disciplina; no lugar da alegria, o trabalho; no lugar das estrelas, os esforçados. Essa é a cara da seleção de Dunga -ele próprio previsível, disciplinado, esforçado e... aborrecido.
A convocação traduz a opção por uma equipe obreira e comportada.
Uma equipe em que não há solistas, mas carregadores de piano submetidos à batuta do maestro. Kaká, o "astro", parece menos um solista do que um músico exemplar, cuja dedicação obstinada, apesar do talento, serve de referência para os demais. Kaká representa o limite tolerável para o brilho individual num ambiente que está concebido para que ninguém brilhe, a não ser, se tudo der certo, o próprio condutor.
Essa concepção tarefeira e um tanto sisuda e triste do futebol vem acompanhada pelo discurso, muito enfatizado por Dunga, do amor à pátria, da doação ilimitada, da superação, do resgate do orgulho e da paixão de vestir a camisa da seleção.
É um discurso construído a partir da ideia de que a geração de 2006 foi derrotada porque não havia compromisso real com a seleção -muitos ali seriam "mercenários" ocupados com a própria fama.
O clamor patriótico de Dunga parece ser sincero (o que não o torna melhor), mas também soa oportunista e marqueteiro quando se sabe que ele próprio o utiliza para vender cerveja a preço de ouro numa campanha de TV em que aparece berrando bordões do tipo "eu quero raça!". Vender a alma não é isso?
Há um jeito esclarecido, cosmopolita, de gostar do Brasil. E há um patriotismo tosco, burrinho, que costuma servir de válvula de escape para pendores autoritários e fanatismos afins. Em seus piores momentos, é esse o sentimento que o futebol mobiliza e atrai.
Há algo profundamente regressivo no espírito cívico-militar que Dunga confere à sua seleção de "soldados da pátria". Nessa guerra lúdica e imaginária, deixamos em casa algumas das nossas melhores armas: talento, alegria, genialidade. Que vençam os artistas da bola!

GOSTOSA

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

Timeo Danaos et dona ferentes*
Alexandre Schwartsman
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/10

É impossível não falar da atual crise grega (europeia), seja para discutir suas causas, seja para, como pretendo hoje, pensar nas suas possíveis consequências, em particular para a economia brasileira. Será que, como em 2008, a crise externa pode descarrilar a retomada do crescimento vista nos últimos cinco trimestres? Para responder a essa pergunta, temos antes que saber quais são seus potenciais canais de transmissão para o Brasil.
O primeiro é o fenômeno conhecido como "fuga para a qualidade". Em que pese o epicentro da crise de crédito de 2008 ter sido a economia dos EUA, tanto naquela época como agora observamos que investidores, num cenário de turbulência, preferem manter seus recursos sob a forma de ativos americanos. Não se trata apenas da percepção que eles embutem um baixo risco de não pagamento; também o mercado desses papéis é muito líquido, o que permite a investidores montar e desmontar rapidamente suas posições, sem os custos proibitivos que costumam aparecer em tempos de crise em mercados menos profundos.
Não por acaso, portanto, na semana passada, todas as principais moedas flutuantes (exceto o iene) se desvalorizaram ante o dólar, assim como o real. Isto é, uma das formas de transmissão da crise é o fortalecimento global do dólar, que implica, é claro, o enfraquecimento do real.
Além desse efeito, é possível mapear outro, relacionado ao primeiro, mas que atua de forma indireta. Como expliquei no artigo de 31 de março ("Síndrome da China"), há uma clara relação negativa entre o valor do dólar e o preço das commodities: o fortalecimento do primeiro costuma ter repercussões negativas para as últimas. Por outro lado, o real tende a andar em linha com as commodities, de modo que o dólar mais forte traz uma razão adicional para a desvalorização do real (bem como das demais moedas-commodities).
Resta saber se o presumível aprofundamento da crise teria, como em 2008, efeitos nefastos sobre a atividade econômica, provavelmente por uma depressão adicional do crédito.
É uma possibilidade, mas hoje acredito ser muito difícil a repetição, mesmo em escala menor, dos eventos do último trimestre daquele ano.
Estima-se que as perdas associadas à crise de crédito tenham atingido cerca de US$ 1,8 trilhão e possam chegar, ao final do processo, a US$ 2,5 trilhões. Ao mesmo tempo, havia forte incerteza sobre a distribuição das perdas naquele momento, pois tanto os títulos lastreados em hipotecas como os derivativos a eles associados eram transacionados em mercados de balcão, o que manteve todas as instituições financeiras na defensiva por não saberem exatamente a saúde das suas contrapartes, levando à paralisia nos fluxos interbancários e no crédito em geral e, portanto, ao colapso do comércio mundial e da atividade econômica.
Em contraste, pelo menos no caso da Grécia, falamos de valores consideravelmente menores e de um conhecimento bem mais claro da exposição de cada instituição, vale dizer, sem a mesma incerteza quanto às contrapartes. Daí meu ceticismo quanto à reprise do episódio Lehman Brothers e da parada súbita de fluxos financeiros que se seguiu.
Por fim, ao contrário daquele período, não parece haver uma exposição das empresas brasileiras aos derivativos cambiais que exacerbaram a desvalorização da moeda e, também por conta da incerteza, travaram a concessão de crédito no país. Assim, o impacto mais provável da crise parece ser no sentido de enfraquecimento do real, mas sem a queda abrupta de atividade sofrida há um ano e meio.


*Frase da "Eneida", de Virgílio, que significa "Eu temo os gregos, mesmo que tragam presentes".

ALEXANDRE SCHWARTSMAN , 47, é economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! O Dunga tomou Activia!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/10

E diz que, depois da passagem do Dunga, a África vai incluir Mula sem Cabeça em safári!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Nem Pato nem Ganso. Queremos o coelhinho da "Playboy"!
E o Dunga não é um anão? Então olha o Dunga convocando a "Seleção do Anão": Júlio Cesar! AH, NÃO! Felipe Melo! AH NÃO! Luisão! AH NÃO! Dunga e seus AH NÃOS! E como diz o Twitter da Nair Bello: "Misturei Activia com o Dunga e fiz a maior cagada na seleção!". Rarará!
O Dunga tomou Activia! E diz que, depois da passagem do Dunga, a África vai incluir Mula sem Cabeça em safári! Com direito a atirar! Rarará! E eu não falei que o Dunga ia afogar o Ganso? E como dizia Nelson Rodrigues: todo técnico é burro. Isso é um clássico!
E sabe por que o Dunga não toma Viagra? Porque já é cabeça dura! E eu tenho uma "dúvida Disney": quem dorme é a Branca de Neve ou o Dunga? E, para os insatisfeitos com a convocação, estou lançando um boneco de pano de vodu com a cara do Dunga: VODUNGA! Pra ficar espetando agulha! De pensar, morreu um Dunga! Rarará!
E sabe o que tá escrito no ônibus da seleção da Grécia?: "Me empresta 10 real pra pagar o pedágio"! Rarará! Crise na Grécia! Todo mundo protestando e brigando! Acabou a carne para fazer churrasco grego!
Ninguém mandou eles ficarem quebrando prato! E a Acrópole é a maior obra pública inacabada! E corre na internet a placa que penduraram na Acrópole: "Alugo quarto"! E o novo Cavalo de Troia: FMI. E sabe qual a sigla do FMI em inglês? IMF. Tradução: International Mother Fuckers! E o Ronaldo explodiu o Twitter!
Sentou em cima? Rarará! "Twitter registra bug na estreia de Ronaldo." O Ronalducho Gordômeno estreou no Twitter no mesmo dia em que deu pau. Zerou tudo. Foi só ele entrar que deu bug! Avisa pro Ronaldo que Twitter é com 140 caracteres e não 140 quilos. Rarará!
Pior, sabe o que aparece na tela quando dá bug no Twitter? Uma baleinha! Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Boa Esperança, Minas Gerais, tem um bar chamado CUTUCA A POMBA! Ueba! Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção. Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Teseu": deus do Tesão! Que vai salvar a Grécia! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

Embaixadinhas 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 12/05/2010

Já está praticamente definida a negociação entre o Corinthians e Ronaldo para que o jogador vire embaixador do time depois que encerrar a carreira, em 2011. O empresário dele, Fabiano Farah, trata dos detalhes com o presidente do time, Andres Sanchez, e com o vice-presidente de marketing, Luis Paulo Rosenberg. Ronaldo trabalhará pela "marca" Corinthians dentro e fora do país -e também para os patrocinadores do Timão, prestigiando, por exemplo, iniciativas sociais deles em outras áreas de atuação.

FOGUEIRA
Num almoço no hotel Emiliano, na segunda, Ronaldo tentava postar mensagens em sua página no Twitter -o microblog, no entanto, estava fora do ar. Incensado pelos amigos que estavam com ele à mesa, o craque chegou a pensar que o site teve problemas por causa da movimentação de sua estreia.

O CHEFE VAI
O presidente do Santos, Luis Alvaro de Oliveira, não acompanhou a convocação da seleção para a Copa, em que Neymar e Ganso ficaram de fora, porque estava tomando vacina contra febre amarela -justamente para viajar para a África do Sul durante o Mundial. Sobre os meninos, diz: "Espero que o Brasil possa prescindir desses dois talentos".

TRAPO
O governo de SP vai fazer propaganda para que as pessoas doem roupas em bom estado na Campanha do Agasalho. Num jantar com empresários do Lide, anteontem, em SP, a primeira-dama, Deuzeni Goldman, afirmou que o Fundo Social de Solidariedade tem "um depósito de lixo", tal a quantidade de roupas imprestáveis doadas nesta época. São meias furadas, camisas rasgadas -e até coisa pior. "Já teve gente que doou até calça com absorvente sujo!", revolta-se Bia Doria, mulher do empresário João Doria, que acompanhou algumas campanhas.

CORAÇÃO ABERTO
As roupas acabam tendo que passar por reciclagem antes de chegarem a quem tem frio. "Abram os armários. Doem coisas boas", disse Deuza.

RICKY QUEM?
Hebe Camargo apoiou a ideia da primeira-dama, mas não perdeu a piada. "Gostei, Deuza, dessa coisa de abrir o armário. Porque de repente a gente abre e sai o Ricky Martin [cantor que assumiu a homossexualidade] de lá!". O governador Alberto Goldman não entendeu. "Quem é Ricky Martin?", perguntou ele à mulher.

VERDINHAS
O presidente do Partido Verde, José Luiz Penna, vereador em São Paulo e patrocinador da candidatura de Marina Silva (PV-AC) à Presidência, está em alta na administração demo-tucana de Gilberto Kassab. A prefeitura acaba de liberar verbas para três emendas do parlamentar: R$ 362 mil para um hospital e R$ 418 mil para secretarias controladas pelo PV.

PITO
A iniciativa de Linamara Battistella, secretária da Pessoa com Deficiência, de lançar novamente o nome de seu colega no governo, Carlos Vogt (Ensino Superior), para concorrer à presidência do conselho da Fundação Padre Anchieta apanhou o governador Goldman de surpresa. Luiz Marrey, chefe da Casa Civil, chegou a interpelá-la, já que a eleição, que parecia definida em favor de Moacyr Expedito Guimarães, chegou a um impasse. A conversa foi tensa. Linamara não foi localizada para comentar.

ELEIÇÕES

O voto supersecreto dos artistas globais

O pós-Lula está unindo a classe artística -ou ao menos o elenco da novela "Passione", que se reuniu anteontem em SP na festa de lançamento da nova trama das oito da TV Globo, que estreia na segunda. Tão engajados em eleições presidenciais passadas, ora na campanha de Lula, ora com Fernando Collor, FHC ou José Serra, os artistas agora escondem o voto. A exceção é Marcello Antony.

Nem Dilma Rousseff (PT-RS), nem José Serra (PSDB-SP), nem Marina Silva (PV-AC). "A minha tendência é anular o voto", diz ele. "Tô bem sem esperança." Antony acha que "a máquina tá feita. A corrupção vai continuar existindo. Lá dentro, o time é o mesmo."

"Neeem pensar que vou falar sobre isso!", diz Carolina Dieckmann, uma das estrelas da próxima novela. Reynaldo Gianecchini desconversa. "Tô pesquisando... Tô atento. Tô atento." Ao contrário da mãe, Regina Duarte, símbolo de campanhas do PSDB, a atriz Gabriela Duarte explica que nunca revela o voto. "Obviamente, eu não iria para a TV fazer o que ela [Regina] fez.

Mas ela sempre brigou. Cada um com sua coerência." Depois de um longo silêncio, Vera Holtz desconversa: "Mas a campanha já começou?". Já. "Ainda estou... escutando. Sentido a pulsação. Eu vivo mais no mundo da ficção do que no mundo real." E Daniel de Oliveira: "Olha, estou analisando todos os candidatos, calmamente". Marcelo Médici explica: "Ah, não posso falar. Essa é a política da casa [TV Globo], de não se posicionar."

Fernanda Montenegro não vê muita diferença entre os três principais candidatos. "São personalidades, cada uma a seu modo, com uma história extremamente rica, mas, no fundo, com os mesmos propósitos. Um pouco mais, um pouco menos, temos três candidatos de esquerda. Isso é um passo adiante dentro da nossa história política. Só isso que vou falar. Não tô fazendo resposta mineira. Não declaro voto, porque não acho que isso contribua com coisa alguma."

CURTO-CIRCUITO
WALTER SALLES E ISMAIL XAVIER participam hoje, às 20h30, do "Seminários de Cinefilia", com mediação de Alcino Leite Neto, no Espaço Unibanco.

AMIR LABAKI, diretor do festival É Tudo Verdade, é um dos convidados de honra do "The Documentary Brunch" no Festival de Cannes, na França, no dia 18.

CAROLINE MARGONE, diretora de documentários e curtas, prepara seu primeiro longa baseado no livro "Estou Viva, Não Uso Mais Drogas - O Inferno de Bell" (editora Semente, 2006), de Bell Marcondes.

GILMAR MENDES participa hoje, às 8h, da comemoração de nove anos do Instituto Pro Bono, na sede do Mattos Filho, Veiga Filho, Quiroga e Marrey Jr. Advogados.

SILVANA TINELLI lança o livro "Primeira Chance" hoje, a partir das 19h30, no Museu da Casa Brasileira.

BETTY GERVITZ promove no sábado, das 11h às 13h, workshop de dança de roda dos Bálcãs, com participação do grupo musical Mutrib, no Espaço 10x21, na Pompeia.

DORA KRAMER

Caminho suave 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 12/05/2010

De tudo o que se vê no noticiário sobre o caso do secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, flagrado em gravações da Polícia Federal em conversas que caracterizam relações de amizade entre ele e um acusado de integrar a cúpula da máfia chinesa em São Paulo, chama atenção a quantidade de malabarismos feitos pelo governo para não melindrar o secretário.


Ontem, o Ministério da Justiça anunciou seu licenciamento pelo período de 30 dias, para em seguida ser desmentido por Tuma Júnior que, no comando das operações, optou por férias de 15 dias.

Fosse qual fosse o modelo, pela natureza do cargo e dos variados fatos surgidos após a divulgação das primeiras gravações (tentativa de relaxamento de um flagrante de apreensão de dólares no aeroporto de Guarulhos, suspeita de intervenção de Tuma Júnior na emissão de vistos ilegais e liberação de mercadorias de pessoas investigadas pela PF) o afastamento deveria ter sido imediato.

Por precaução no tocante às investigações ou para preservar o governo federal como um todo, independentemente do que venha a ser revelado sobre a extensão da amizade dele com o acusado Li Kwok Kwen.

Por iniciativa por superiores teria denotado apreço à compostura.

Passaram-se dias sem que ninguém soubesse o que fazer simplesmente porque, argumentava-se, o secretário era uma indicação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em atendimento ao senador Romeu Tuma, do PTB de São Paulo.

Caberia, seria de se supor, ao presidente demiti-lo. Mas, não era seu subordinado direto. Esperava-se, então, uma decisão do ministro da Justiça. Mas passou-se a contar com a iniciativa de Tuma Júnior que, mirando-se em exemplos anteriores vindos de cima e segundo os quais quanto mais largas as costas mais quentes os panos, não se mexeu.

No Palácio do Planalto engendrou-se então uma solução desenhada para ser interpretada como "pressão" para Tuma Júnior pedir para sair: foi dado a ele prazo de cinco dias de prazo para se explicar à Comissão de Ética Pública da Presidência.

Logo a tão desgastada comissão, desautorizada por Lula numa queda de braço em 2008, com o então ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e que em todas as batalhas em que se envolveu a ética saiu vencida.

Não será agora que contabilizará sua primeira vitória. Apenas servirá como aval decorativo na construção de um caminho suave à retirada do secretário.

Conto "das bases". Ainda hoje, 50 anos depois de instalada a capital da República no Planalto Central, deputados e senadores insistem em ignorar que o mandato de representação federal é exercido em Brasília.

O trabalho "nas bases" diz respeito às respectivas sobrevivências políticas, que deveriam financiar com outras fontes que não o dinheiro do contribuinte que lhes paga salários e benefícios para um expediente de segunda a sexta-feira na capital.

Mesmo assim surgem propostas, como a do líder do governo Cândido Vaccarezza, em boa hora negada pelo presidente da Câmara, Michel Temer, de antecipar o recesso do meio do ano para antes da Copa do Mundo, a fim de liberar mais cedo suas excelências para as férias e a campanha eleitoral.

Note-se, período em que se afastam no atendimento a interesse unilateral, pois o contrato das urnas prevê quatro e não três anos e meio de mandato com direito a licença-campanha e bolsa Copa do Mundo.

Vaccarezza já avisou que vai insistir.

Conto da desfaçatez. Pode ser chamado de gratuito o horário eleitoral que custa R$ 851 milhões ao Estado? Isso só com a renúncia fiscal decorrente da compensação às emissoras de rádio e televisão pelas perdas com a publicidade comercial que deixam de exibir, sem contar a parcela do Orçamento destinada anualmente ao Fundo Partidário.

O horário é gratuito para os partidos que ainda se dão ao desfrute de dizer que enquanto não for instituído o financiamento público as campanhas eleitorais continuarão "reféns" do caixa 2.

COPA

RONALDO LEMOS

Marco Civil é lei a favor da internet
RONALDO LEMOS
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/10

O Marco Civil é necessário porque, mesmo com 15 anos de acesso público à internet no país, ainda convivemos com a ausência de regras



ESTÁ EM curso a segunda fase do debate que está construindo um Marco Civil para a internet no Brasil. Trata-se de um processo inovador, aberto a toda sociedade. A iniciativa é do Ministério da Justiça, em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas (CTS-FGV).
Seu objetivo é estabelecer as regras fundamentais para a rede no país.
Não através da criminalização, nem da restrição a direitos, mas, sim, pela concretização na rede dos direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição. Seus pilares são a defesa da privacidade, da liberdade de expressão, a criação de salvaguardas para sites e blogs, a garantia de direitos básicos de acesso à rede e a ampliação do acesso a dados governamentais.
Em síntese, ele propõe que o acesso à internet é requisito para o exercício da cidadania no mundo de hoje.
Contrapõe-se a uma tendência brasileira e global de criminalização e restrição a direitos na rede e é produto da intensa mobilização da sociedade civil contra projetos de lei que radicalizam a regulamentação da rede.
Dentre eles, o polêmico projeto de lei nº 84/89, que, na redação atual, estabelece crimes excessivamente amplos, que levam à restrição de direitos dos usuários. É equivocado estabelecer que os conflitos na rede devam ser decididos essencialmente pela esfera criminal, como quer esse projeto.
O Marco Civil é necessário porque hoje, depois de mais de 15 anos de acesso público à internet no país, ainda convivemos com a ausência de regras. Apesar disso, o Judiciário é chamado constantemente para decidir conflitos. Mas, como não há legislação específica, as decisões acabam sendo contraditórias.
Um exemplo é a ordem judicial que mandou bloquear o acesso ao YouTube em todo o Brasil por conta de vídeo da modelo Daniella Cicarelli em situação íntima em praia da Espanha.
Filtrar um site na raiz da conexão de um país é medida extrema, adotada em geral só por regimes autoritários, como China ou Coreia do Norte.
Com a ausência de regras, são comuns também os casos de blogueiros, sites e provedores condenados automaticamente por conteúdos de terceiros. Um exemplo é o autor de um blog no Ceará que foi condenado em R$16 mil por conta de um comentário postado no site.
O objetivo do Marco Civil é reduzir essa atual situação de imprevisibilidade e desenhar os limites da responsabilidade na internet, de forma que blogs, sites e provedores não sejam responsabilizados automaticamente por qualquer conteúdo de terceiros.
Com isso, estimula-se o amadurecimento da "websfera", criando melhores condições para quem quer inovar e empreender na rede brasileira.
A proposta do marco é de ponderação, de equilíbrio entre interesses diversos. Nesse sentido, seu texto inicial apresentou uma solução intermediária para a questão, baseada nas contribuições recebidas e nos modelos adotados na Europa e nos EUA.
Por ele, sites e blogs somente seriam responsáveis por conteúdos de terceiros se, notificados pelo ofendido, não agissem para removê-lo.
No entanto, o autor seria informado da notificação e teria a chance de contranotificar, mantendo o conteúdo no ar e assumindo a responsabilidade por ele. Qualquer terceiro poderia fazer o mesmo, protegendo conteúdos na rede. Esse sistema privilegia as próprias partes, que se tornam protagonistas da solução do conflito, sendo o Judiciário chamado apenas quando necessário.
Após três semanas de amplo debate, essa solução não pareceu ser a mais adequada. As contribuições enviadas individualmente e por instituições apontaram em outro sentido: o de que provedores, sites e blogs só devem remover conteúdos de terceiros a partir de uma ordem judicial, e não quando notificados pelo ofendido.
Com isso, a nova proposta foi incorporada e passa a ser objeto do debate.
Qual deles é o melhor caminho?
Não cabe nem ao Ministério da Justiça nem ao CTS-FGV decidir. A solução final será construída através da participação ampla de indivíduos, organizações e entidades de classe, que podem contribuir pelo site www.culturadigital.br/marcocivil até o dia 23 de maio. O texto do Marco Civil é o ponto de partida.
O compromisso de todo o processo é com o debate. E já existe um consenso importante: qualquer regulação da internet no Brasil deve ser necessariamente precedida de ampla discussão, valendo-se para isso das possibilidades de participação do nosso tempo.
RONALDO LEMOS, mestre em direito pela Universidade Harvard e doutor em direito pela USP, é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV e colunista da Folha.

PAINEL DA FOLHA

A garantia sou eu
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/10

No programa de dez minutos que o PT exibirá amanhã em rede nacional, o último do partido antes do início oficial da campanha, Lula não se limita a exaltar as qualidades de Dilma Rousseff e os serviços por ela prestados ao governo. Em sua fala, o presidente enfatiza que "confia" na candidata que escolheu.
No mais, o programa se divide entre a comparação presente x passado e a apresentação de Dilma. No primeiro caso, a tônica são as realizações da era Lula, com a ressalva final de que "nem sempre foi assim". No quesito biográfico, mesclam-se fotos de infância com a trajetória pública da candidata, sem esquecer de sua condição de mãe e, logo mais, de avó.


CEP 1. O PT pretende realizar em Brasília a convenção, marcada para 13 de junho, que oficializará a candidatura de Dilma. Chegou-se a discutir a possibilidade de fazer o evento em São Paulo, mas prevaleceu a ideia de que, com o partido no governo, a capital federal é o melhor palco.
CEP 2. Seguro de que tem os votos necessários para aprovar a aliança com o PSDB de José Serra, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, decidiu realizar a convenção nacional em São Paulo, onde o partido tem uma parceria histórica com os tucanos. Brasília foi descartada para evitar atrito com o senador Gim Argello, pró-Dilma. O evento será em 19 ou 26 de junho.
Estilo BC. Comentário ouvido no governo logo após o anúncio da escalação da seleção brasileira que irá à Copa: "O Dunga deu uma de Meirelles. Preferiu a retranca".
Na foto. Embora resistentes à aliança com o PSDB em Goiás, os "demos" colaram em Serra ontem em Goiânia. A relação com o candidato tucano ao governo, Marconi Perillo, é péssima, mas os aliados afirmam que o apoio a Serra está acima da disputa local. "Não podemos confundir as coisas", resume o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Dobradinha. Tudo caminha para que o palanque de Serra no Maranhão, encabeçado pelo candidato ao governo Jackson Lago (PDT), tenha o deputado tucano Roberto Rocha em uma das vagas para o Senado.
Ver pra crer 1. O Tribunal de Justiça do Maranhão indicou quatro desembargadores para vaga no Superior Tribunal de Justiça aberta com a aposentadoria da ministra Denise Arruda. Um deles é o de Nelma Sarney, cunhada do presidente do Senado, José Sarney. Outros dois indicados pelo Maranhão também são ligados ao clã.
Ver pra crer 2. Amanhã, o STJ tirará, de um total de 48 nomes, a lista tríplice a ser encaminhada a Lula, que escolherá o novo ministro.
Eu não sabia. Por meio da assessoria, Sarney afirmou que a decisão de apresentar o nome ao STJ foi exclusiva de sua cunhada Nelma, e que ele não foi consultado. Disse ainda que não se envolveu nem se envolverá na questão.
Fatos reais. Do deputado Alberto Fraga (DEM-DF), anunciando em tom de brincadeira que pretende entrar com ação na Justiça em razão de o filme "Tropa de Elite 2", do diretor José Padilha, apresentar um deputado vilão igualmente chamado Fraga: "No mínimo, vou querer participação na bilheteria".
Visitas à Folha. Britaldo P. Soares, diretor-presidente da AES Brasil, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Márcia Ferreira Carlos Magno, diretora de Comunicação e Responsabilidade Social, Roberto Di Nardo, diretor-executivo Comercial, e Marcelo Burgos, gerente de Relacionamento com a Imprensa.
Gabriel Chalita, vereador da cidade de São Paulo e pré-candidato ao Senado pelo PSB, visitou ontem a 
Folha

com LETÍCIA SANDER e GABRIELA GUERREIRO
Tiroteio 
Imagine se todo trabalhador que acorda às 5h e encara o metrô para ir trabalhar tivesse um surto de mau humor. As empresas do país quebrariam. 

De HENRIQUE EDUARDO ALVES (RN), líder do PMDB na Câmara, sobre o fato de José Serra ter atribuído à falta de sono sua irritação em determinados momentos da entrevista à rádio CBN, realizada às 8h. O deputado peemedebista quase foi vice do tucano na eleição de 2002.
Contraponto 
Questão de tempo Cotado para ser vice de José Serra, Francisco Dornelles (PP-RJ) protestou ontem, durante reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, quando Flexa Ribeiro (PSDB-PA) apontou a ausência de governistas no local:
-Eu represento a base, estou ativo para seguir rigorosamente as diretrizes estabelecidas pelo governo. Eu ainda estou na base do governo!- disse Dornelles.
O tucano não se deu por vencido:
-Vossa Excelência disse bem: "ainda" está na base...
Dornelles tentou insistir, mas foi interrompido por Garibaldi Alves (PMDB-RN), que presidia a sessão:
-Vamos à votação do requerimento, mesmo porque daqui a pouco é hora de ouvir o Dunga anunciar a seleção!

GOSTOSA

RUY CASTRO

País sem pianos
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/05/10


RIO DE JANEIRO - Notícia desta semana alerta para um fato preocupante: a queda a quase zero no interesse pelo piano entre os jovens brasileiros. Em vários Estados, concursos importantes, destinados a formar futuros solistas, deparam com um número insignificante de inscrições. E não se trata de desinteresse pela música -porque outros instrumentos, talvez mais imediatos, continuam prestigiados.
O Brasil e o piano têm uma bela história juntos. Os dois conquistaram seu espaço quase ao mesmo tempo no século 19: o piano, sobre o cravo; o Brasil, sobre a sua condição de colônia. O próprio príncipe dom Pedro era pianista. Em pouco tempo, o piano tornou-se um móvel obrigatório nas nossas casas, tanto quanto o toucador e a escarradeira. Permitiu também que muitos escravos, que o aprenderam, levassem vida melhor.
Desde então, num país em que o violão sempre pareceu onipresente, a grande música, do ponto de vista do compositor, passou decisivamente pelo piano. É só citar Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Freire Junior, Zequinha de Abreu, Sinhô, Ary Barroso, Custodio Mesquita, Alcyr Pires Vermelho, Vadico, Johnny Alf, Tom Jobim, Marcos Valle, Francis Hime, Edu Lobo, João Donato. E os arranjadores, os solistas, os acompanhadores?
Um motivo para o declínio do piano nas casas brasileiras pode ter sido a verticalização das cidades -não é fácil transportar um piano para o 10º andar. Outro pode estar no fato de que leva mais tempo para formar um pianista do que um médico ou engenheiro, sem nenhuma garantia de que um dia ele possa viver das pretinhas. Mas todo estudante de piano precisa chegar a profissional? A educação musical, por si, não deveria ser suficiente?
Tom Jobim me disse que o piano fez o homem acabar de descer da árvore. Mas talvez a árvore seja o nosso destino.

MERVAL PEREIRA

A pátria de chuteiras
Merval Pereira
O GLOBO - 12/05/12

O futebol no Brasil tem tanta importância que acaba se misturando com a política, explorado pelos governantes independentemente de sua inclinação esportiva. Cada vez mais jogadores de futebol são candidatos a cargos eletivos, como Romário este ano. E não é de hoje. Em 1927, o então presidente Washington Luís tentou se meter em uma partida de futebol e acabou desautorizado por Feitiço, um atacante do Santos.

Na final do Campeonato Brasileiro de seleções estaduais, entre Rio de Janeiro e São Paulo, no estádio de São Januário, um pênalti marcado contra o São Paulo, quando o jogo estava empatado em 1 a 1, provocou a ira dos paulistas, que se recusaram a continuar a jogar.

Presente ao estádio, Washington Luís ordenou que a partida fosse reiniciada, no que foi contestado por Feitiço de dentro do campo: “Diga ao presidente que ele manda no país. Na seleção paulista mandamos nós”. E o jogo não recomeçou.

Vários presidentes entraram em disputa com técnicos da seleção brasileira, até mesmo Fernando Henrique, que não é dos mais fanáticos torcedores.

Pois, em 2002, ele engrossou o coro dos que queriam Romário na seleção e levou uma resposta de Felipão mais ou menos no mesmo teor da de Feitiço.

Lula certamente é o presidente mais ligado ao esporte, podendo seu gosto pelo futebol ser comparado com o do general Médici, que comparecia aos estádios de radinho de pilha no ouvido, fato muito explorado pela equipe de marketing da época.

Lula também explora essa ligação do brasileiro com o futebol, mas não chega ao ponto de tentar escalar um jogador, como fez Médici com Dario, provocando uma crise na seleção de 1970, que levou à demissão do técnico João Saldanha.

Agora mesmo está fazendo uma grossa demagogia, criando a Bolsa Copa para dar pensão a jogadores campeões do mundo em 1958, 1962 e 1970.

Até agora só o grande Tostão recusou a prebenda.

Torcer por um time popular como o Corinthians, como faz Lula, é sempre bom, mas o feitiço pode virar contra o feiticeiro quando a torcida liga a proximidade do presidente com seus jogadores a fracassos nos campeonatos.

Na Copa de 2006, Lula foi fazer uma gracinha com Ronaldo, perguntando se ele estava mesmo gordo, e teve que ouvir comentários sobre seu hábito de beber. Hoje já fizeram as pazes.

E quando Lula resolveu elogiar o argentino Messi, provocou a reação do goleiro Julio Cesar, que o aconselhou a se mudar para a Argentina e ainda arrematou: “Quem sabe o Brasil não melhora um pouco com a saída dele?”.

O candidato tucano à Presidência, José Serra, que também é um torcedor fanático do Palmeiras, já recebeu uma dura do técnico Felipão quando fez uma crítica ao técnico, que dirigia o Palmeiras.

Felipão mandou Serra, que era ministro da Saúde na época, tomar conta da “precária saúde” nacional.

É sinal de amadurecimento da nossa democracia, portanto, o fato de que ser campeão do mundo não influi na escolha do presidente.

Em 98, Fernando Henrique Cardoso foi reeleito mesmo com o Brasil perdendo a Copa, e, em 2002, tendo o país se sagrado pentacampeão, o oposicionista Lula foi eleito.

Misturar política e futebol não dá bom resultado. “O patriotismo é o último refúgio do canalha”, definiu Samuel Johnson, escritor e pensador inglês do século XVII.

Eu me lembrei da frase ontem, ao ver a entrevista do técnico Dunga na convocação dos 23 jogadores que vão disputar a Copa do Mundo na África do Sul.

Não tenho nenhum motivo para considerar Dunga um canalha, coisa que tudo indica ele não é. Mas não digeri bem aquele discurso patrioteiro que ele e seu auxiliar Jorginho fizeram.

Fiquei com receio de que uma certa politicagem equivocada esteja tomando conta da seleção, e que os jogadores estejam levando ao pé da letra a máxima rodrigueana de que a seleção é a pátria de chuteiras.

Mas o que me chamou mais a atenção foi a exagerada dedicação de Dunga ao “sofrido povo brasileiro” e à exortação ao sacrifício no altar da pátria.

Ele chegou a se referir às lições de patriotismo que recebeu de sua mãe, professora de geografia e história.

Quando começou a falar de “apartheid” e da ditadura militar no Brasil, não sei exatamente por que, Dunga demonstrou que não é um indivíduo politizado e, portanto, ainda bem, seu apego ao patriotismo não é um escape político. É apenas um equívoco de quem mistura conceitos e tem uma visão deturpada da função de um jogador de futebol numa sociedade como a brasileira.

Achei Dunga rancoroso demais, mesmo considerando que algumas perguntas vinham com distorções descabidas — como a tentativa de comparar Neymar a Pelé ou Maradona — ou tivessem o objetivo explícito de provocar o técnico.

Mas mesmo quem considerou razoável a explicação oficial de falta de experiência para que Neymar e Paulo Henrique Ganso não estivessem na relação ficou sem argumento ao saber que Ganso está na lista de sete reservas enviada à Fifa.

A tão decantada coerência de Dunga não combina com essa decisão, pois potencialmente ele considera que o apoiador do Santos pode estar na seleção em caso de contusão de um jogador da relação oficial, apesar da inexperiência.

Já que é assim, não precisa de contusão.

Tudo somado, Dunga vive uma experiência única na vida de um esportista — ser técnico da seleção brasileira depois de ter sido jogador campeão do mundo —, mas não está tranquilo.

O técnico, que visivelmente não se dá muito bem com as críticas, deixou transparecer durante toda a entrevista que tem um sentimento de vingança guardado no peito prestes a explodir.

Se o Brasil for campeão do mundo, quase certamente veremos um Dunga exultante e raivoso, considerando-se um herói nacional, se vingando dos seus críticos com gestos e palavreados que estão sendo contidos a duras penas.

O ESGOTO DO BRASIL

CELSO MING

Erro nos juros 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 12/05/2010

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, não é claro e fica especialmente desconfortável quando a pergunta dos jornalistas toma o rumo do que pensa sobre autonomia do Banco Central e sobre política monetária. Foi o que se viu na entrevista que deu segunda-feira à rádio CBN, em resposta a questões da colunista Míriam Leitão.

Todos sabemos que Serra tem sido crítico contumaz não só da política monetária, mas, também, da política cambial. E isso não é coisa recente. Vem dos tempos em que foi ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique.
Afora isso, em janeiro, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, avisou na revista Veja que, com Serra na Presidência, haveria mudanças no câmbio e nos juros.

Até agora ninguém ficou sabendo o que seriam essas mudanças nem o que significariam. Parece, portanto, natural que o eleitor queira conhecer melhor o pensamento do pré-candidato José Serra em matéria de tamanha importância para a definição da política econômica do próximo governo.

Não basta ele dizer que “não vai virar a mesa” e que vai respeitar o atual tripé: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e sistema de metas de inflação. É preciso saber até mesmo o que é essa mesa a que se refere e o que, no seu entendimento, seria virá-la. Serra argumenta que tem todo o direito de criticar o Banco Central “quando comete erros calamitosos”.

Ninguém discorda, em princípio, de uma afirmação desse tipo. Não há como negar que, durante a administração Lula, o Banco Central cometeu erros. Foram especialmente erros de dosagem e de timing. Mas daí a dizer que foram erros capazes de produzir calamidades vai uma distância enorme. O simples diagnóstico de que tenham sido erros graves sugere que o pré-candidato esclareça o que pensa sobre política monetária, sistema de metas de inflação e os atuais modelos de avaliação do Banco Central.

Não basta que repita que “o Banco Central não é a Santa Sé”. É preciso saber, também, o que deve ser considerado erro calamitoso a ponto de merecer não apenas críticas, mas até mesmo uma intervenção na condução de sua política.

Em suas manifestações anteriores, o economista José Serra não escondeu seu ponto de vista de que a mãe de todos os males da economia brasileira esteja na condução equivocada da política fiscal. Quase sempre é o desequilíbrio das contas públicas que gera inflação. Sua natureza é, portanto, fiscal e, assim, requer tratamento também fiscal.

No entanto, a falta de determinação deste governo na administração das contas públicas acaba deixando para o Banco Central a tarefa ingrata de atacar a inflação com o único instrumento de que dispõe, que é a política de juros. Essa parece ser, também, a razão pela qual o Brasil convive com o que se convencionou chamar de “os juros mais altos do mundo”.

Por isso, é de se esperar também que, uma vez à frente do governo federal, José Serra se empenhe para que a política fiscal não deixe encrencas a serem atacadas pela política monetária. Se for assim, os juros cairão mais ou menos naturalmente, sem que o Banco Central seja obrigado a forçar a mão.

E , se é verdade que Serra entende que a administração pública deve fluir assim, e não à força de intervenções, convém também saber o que pensa a respeito dos limites da autonomia do Banco Central.
Confira

Mergulho
O pacotão de quase US$ 1 trilhão para socorrer as economias da União Europeia em dificuldades e blindar o euro não está produzindo os resultados esperados pelos chefes de Estado. É o que explica o aprofundamento da queda das cotações do euro.
Dinheiro virtualTudo se passa como se esses recursos ainda não estivessem à disposição. Contam apenas com a garantia dos países do euro, alguns em má situação. Terão de ser buscados no mercado financeiro, sem que fique previamente claro como os países devedores formarão a poupança que se destinará a pagar essa dívida.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Indústria naval do Uruguai busca investidor no Brasil 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 12/05/2010

O Cluster Naval de Montevidéu, um grupo formado por cerca de 40 empresas do setor, deve iniciar, nas próximas semanas, a prospecção de investidores brasileiros interessados em se instalar e desenvolver atividades relacionadas à indústria naval no Uruguai.

"A capacidade de produção da indústria naval do Brasil está comprometida até 2020, com pré-sal e outros projetos. Existe uma demanda muito grande a ser suprida e não faz sentido buscar isso na Ásia, se podemos ter parceiros vizinhos", afirma Felipe Ferreira Silva, sócio do escritório Emerenciano, Baggio e Associados.

Na carteira de encomendas dos estaleiros hoje há 52 navios petroleiros para a Transpetro, dez para a PDVSA, quatro navios porta-conteineres e dois graneleiros para a Vale, 19 navios de apoio marítimo, 18 rebocadores de apoio portuário, 27 embarcações para navegação de rios e lagos, entre outros, segundo o Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval).

Segundo a entidade, diante das demandas do pré-sal, as necessidades de transporte e plataforma aumentarão muito. Ainda há estimativas de demanda por 28 sondas de perfuração de petróleo. São estimadas até 2020 as demandas de cerca de 120 plataformas, 200 navios de apoio e 70 petroleiros do tipo EBN, além de outros.

O governo uruguaio, em documento assinado por seu ministro da Indústria, Roberto Kreimerman, na última semana, concedeu a um escritório brasileiro -o Emerenciano- a representação do Cluster de Montevidéu no país.
Vidro Leve
A fabricante de embalagens de vidro Owens-Illinois investiu R$ 72 milhões em máquinas e equipamentos nas fábricas de São Paulo e do Rio de Janeiro para produzir a linha Leve+Verde, que será de 18% a 25% menos pesada que outras embalagens feitas com a mesma matéria-prima, segundo a empresa. "As embalagens não irão sofrer mudanças de característica nem de qualidade. Vamos conseguir economizar matéria-prima e energia", diz Rodney Montenegro, presidente da Owens-Illinois no Brasil. Na Austrália, onde a nova linha foi lançada exclusivamente para garrafas de vinho, a empresa obteve redução de 20% no consumo de energia e uma economia de mais de 11 mil toneladas de CO2. No Brasil, os custos devem permanecer basicamente os mesmos, devido aos investimentos em tecnologia, segundo Montenegro. Até o final deste ano, a meta da companhia é passar cerca de 60% das linhas existentes para a nova tecnologia, afirma Montenegro.
Tratores Na África
Após o encontro do presidente Lula com ministros africanos, já foi marcada reunião para a semana que vem do vice-presidente do BNDES, Armando Mariante, com o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). O objetivo é estudar como efetuar operações de financiamento para a venda de tratores e máquinas agrícolas brasileiras ao continente. O principal desafio é encontrar mecanismos para que o BAD e outras instituições atuem como garantidores das operações.
"Feitas para Durar"
Abilio Diniz, todos os vice-presidentes e a diretoria-executiva do Pão de Açúcar estarão em Boulder, no Colorado (EUA), na terça e na quarta-feira da semana que vem, com Jim Collins. Diniz é fã do consultor, autor do livro "Built to Last" ("Feitas para Durar", na tradução da editora Rocco), que também vem aconselhando o empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann, desde a união com os belgas na Interbrew. Collins é conhecido por seu método "socrático": faz perguntas duras que os executivos normalmente não se fazem.
Amor Líquido
O novo livro do sociólogo Zygmunt Bauman "Capitalismo Parasitário" (ed. Zahar, 92 págs.) aborda fatos e comportamentos diversos, aparentemente desconexos como crediários, cartões de crédito, anorexia, bulimia e crise. Na obra, Bauman aplica o conceito de modernidade líquida e de fragilidade das relações, descrito em outro livro seu, "Amor Líquido", publicado no Brasil pela mesma editora.
Bula 1
Sem citar o volume de investimentos que pretende fazer no Brasil, a farmacêutica MSD (nome da Merck no Brasil) colocou o país entre as prioridades no caminho para ser líder global no setor. Ontem, em apresentação de seu plano de negócios, em Nova Jersey, nos EUA, a empresa anunciou que os mercados emergentes representarão, até 2013, mais de 25% de sua receita com medicamentos e vacinas.
Bula 2
Segundo Stefan Oschmann, presidente da MSD para mercados emergentes, esses países, "com suas necessidades médicas não atendidas e seu crescimento econômico, comandarão o crescimento global da indústria e da MSD na próxima década". "Quase 90% do crescimento farmacêutico virá dos mercados emergentes."
Pelos Tubos
O Grupo Vipal, que anunciou recentemente a construção de uma fábrica de pneus novos, se prepara para entrar no mercado de tubos e conexões, por meio de sua divisão de plásticos. A Vipal já operava no segmento de PVC, na produção de portas sanfonadas e forros. O investimento inicial será de R$ 30 milhões na readequação de algumas de suas unidades fabris.
Juventude
O ex-presidente argentino Fernando de la Rúa e o ex-ministro das Relações Exteriores no governo de FHC Celso Lafer se reúnem amanhã na BM&FBovespa. Na pauta, o futuro das relações entre os dois países vizinhos. O evento, promovido pelo Ação Jovem do Mercado Financeiro e de Capitais, é gratuito e aberto ao público.

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Casas de Pão 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 12/05/2010

Na teleconferência com o mercado, ontem pela manhã, para falar do resultado do Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz pediu para não ser perguntado sobre Casas Bahia. Mas adiantou que as conversas entre as partes andam bem. Avisou que já estão mexendo nos contratos e que verão até mesmo o que é irrelevante.


"Dentro da nossa ideia de que "contratando" bem, nunca se briga", explica Diniz.

Casas de Pão 2
Aliás, o presidente do conselho do Pão de Açúcar viaja com a diretoria executiva do Grupo para o Colorado.

Jim Collins, o novo guru da área de negócios, autor de livros como Built to Last, dará um workshop só para a turma.

Insônia
É a poluição sonora vinda da rua que mais tira a paciência do paulistano. No ranking de reclamações 2009 do Psiu, carros, música e conversas de rua, por exemplo, representam 53% das queixas ao órgão.

Em 2º lugar vêm os bares, com 19%. Já as igrejas somam 11% das manifestações.

Insônia 2
Os bairros campeões de denúncias no Psiu são: Sé e Pinheiros. Com mais de 3 mil queixas cada um.

Crime e castigo
A Defensoria Pública entrou, anteontem, com oito ações indenizatórias contra o Estado. Pelos "Crimes de Maio", quando, há quatro anos, mais de 20 pessoas foram assassinadas em Santos.

Segundo o defensor Antônio Maffezoli, há indícios da participação de PMs. São exigidos 300 salários mínimos e a construção de um memorial.

Ecumênica
Se o Eyjafjallajökull permitir, Fanny Ardant desembarca no Brasil dia 24.

Vem para promover seu curta sobre diferenças religiosas, Chimères Absentes. Depois segue para o Rio, onde participa de um simpósio da ONU.

Outro lado
A CET não gostou de levar a culpa pelo absurdo engarrafamento no casamento de Patrícia Abdalla e Gustavo Foz, sábado, nos Jardins.

Diz que comunicou à organização do evento, com cinco dias de antecedência, que deveria fazer o pedido obrigatório por lei, informando o número de carros, pessoas e horário. A Estapar não teria feito isso, o que obrigou a CET a montar operação de emergência.

A empresa de estacionamento, segundo a CET, será multada em R$ 6,2 mil, O equivalente ao efetivo usado emergencialmente no dia.

Way out
A licença de 30 dias de Romeu Tuma Júnior está. espontaneamente, tirando, se assemelha à do ex-ministro Silas Rondeau : daquelas que não têm volta.

Semântica
Cecília Coimbra, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, espera o texto final do Plano Nacional de Direitos Humanos para denunciar o Brasil na OEA. "Do jeito que está, é só para inglês ver".

Cadê meu carro?
Ao pedir seu carro no estacionamento do salão de Marcos Proença, uma competente banqueira se esqueceu que havia ido ao cabeleireiro com seu motorista. E foi para casa guiando uma Hilux... alheia.

Levou um B.O. na cabeça.
A prova do quase

Lúcio Costa conseguiu construir Brasília, mas fracassou em outro sonho: entregar roteiro cinematográfico para Chaplin, chamado O Gênio. A troca de documentos pedindo encontro com o cineasta está na exposição em sua homenagem, em Brasília.
Sexo e depilação

As J. Sisters, brasileiras donas de um badalado salão de beleza em NY, lançam livro nos EUA. O Brazilian Sexy: Secrets to Living a Gorgeous and Confident Life.

Na frente
Michel Lacoste visita hoje a Fundação Gol de Letra, no Rio, com o ator Hayden Christensen. Encontra a quadra da instituição rebatizada com seu nome. E reformada com os 50 mil euros anuais que a Lacoste doa para a ONG.

Raymundo Magliano Filho, do Instituto Norberto Bobbio, pilota coquetel de abertura da instituição. Hoje, no Circolo Italiano.

O Bar Alberta3 tem inauguração hoje na Av. São Luís.

Gilmar Mendes confirmou presença na comemoração de nove anos do Instituto Pro Bono. Hoje, no escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Quiroga e Marrey Jr. Advogados.

Hebe Camargo, Fafá de Belém e Alexandra Corvo têm jantar marcado com Antonio Soares Franco, da Confraria do Vinho Periquita. Na Adega Santiago, amanhã.

A primeira grande exposição do novo Museu Francês de Letras e Manuscritos já tem nome: Marcel Proust. Até 29 de Agosto, em Paris.

Quem procura o Twitter de Dilma Rousseff, encontra vinte variações de seu perfil. Entre eles o ... "Dilmão".


A nova jogada do craque

Em tempos de escalação para a Copa do Mundo e votação do Ficha Limpa, Romário não comenta a convocação da seleção, mas se diz a favor do projeto de lei que impede candidaturas de condenados pela Justiça. "Quem tem este tipo de problema não pode assumir responsabilidades", disse à coluna o ex-jogador. Mas o baixinho não passa por uma boa fase. Teve bens penhorados, pendências judiciais e até uma experiência desagradável: a de ver o sol nascer quadrado por falta de pagamento de pensão. Mesmo assim, ou por causa disso, Romário é pré-candidato a deputado federal pelo PSB, de Ciro Gomes.

Plataforma política?

Quero criar centros de tratamento infantil para portadores de Síndrome de Down. No Rio, 85% dos pais de crianças com necessidades especiais não têm condições de dar assistência adequada aos filhos. A minha menina é muito desenvolvida porque faz natação, fisioterapia, fonoaudiologia. Mas isso custa mais de R$ 7 mil por mês.

Futebol?

Pretendo arrumar uma forma legal de mudar a Lei Pelé. Hoje, os clubes formam jogadores e aos 15 anos eles vão embora. Deveriam ficar no Brasil pelo menos até os 19 e criar identidade com o clube. Outro problema são os ex-jogadores que estão desamparados e ociosos. Eles precisam de política voltada às suas necessidades.

Quem o convenceu a se candidatar para essas eleições?

Eu mesmo. Mas tive empurrão de várias pessoas, inclusive do Eurico Miranda. Ele me pediu, quando eu jogava pelo Vasco, que me filiasse ao PP. Depois, o Alexandre Cardoso do PSB me chamou. E também fui convidado pelo PC do B e pelo PT.

Você é socialista?

Sempre fui socialista. O socialismo prega igualdade de condição e já batalhei pelos meus companheiros. Cheguei a brigar com dirigentes para que meus amigos recebessem salário em dia.

O Brasil vai conseguir cumprir os prazos da Copa?

A situação preocupa. O anúncio de que a Copa seria aqui já fez três anos. Houve tempo suficiente para o início das obras. A Fifa diz que o Mundial pode mudar para Londres. Não podemos duvidar da Fifa.

Exemplo de político?

O Eduardo Campos. Mas o exemplo maior é o Lula. Um cara que veio do nada e está tendo a capacidade de governar e de mudar a história do Brasil.

Romário na política é diferente de Romário no futebol?

Não. As pessoas devem entender que Romário é Romário. A índole é a mesma.

Com quem você sobe e não sobe no palanque?

Eu subo com Lula e não subiria com José Roberto Arruda. Mas, infelizmente, já subi.

O que você tem de diferente de tudo que está aí?Personalidade forte. E tenho muita atitude.

O que o qualifica para ocupar um cargo público?

Sou autêntico e as pessoas podem acreditar no que eu disser. Segundo, sou predestinado. Foi assim no futebol e será assim na política.

MÍRIAM LEITÃO

Brumas europeias 
Miriam Leitão 

O Globo - 12/05/2010

O pânico passou, a euforia passou, agora a Europa vive o cotidiano de uma crise que tem desdobramentos conhecidos e dilemas ainda não resolvidos.

É o que pensa o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados. Na Inglaterra, conservadores e liberais-democratas viverão o desafio de conciliar posições divergentes para combater o déficit público no meio da recessão.

O início do governo conservador na Inglaterra representa mais um ponto de dúvida num continente que já tem sombras suficientes.

O primeiro-ministro, David Cameron, que assumiu ontem, tem um programa de corte de gastos duro e controvertido.

O vice-primeiroministro, Nick Clegg, dos liberaisdemocratas, tem divergências sérias com os seus, agora, companheiros de governo. Será um governo dividido tentando fazer um programa forte.

Os conservadores, fora do poder desde 1997, não têm agora uma bandeira clara como a da privatização de Margaret Thatcher. Eles se propõem a cortar à metade o déficit público, de 11,5% do PIB, através de medidas que podem não ter o efeito que se imagina. A maioria das medidas é cosmética, como corte de 5% e congelamento por cinco anos do salário dos ministros; congelamento do salário de funcionários; fim do crédito fiscal no imposto de famílias com renda acima de 50.000 libras; aumento da idade de aposentadoria; redução de benefícios sociais exceto para o terço mais pobre da população. Propõe também corte de impostos das empresas. Os liberais-democratas têm propostas diferentes, ainda que façam a mesma promessa de cortar gastos. Eles propuseram imposto sobre grandes propriedades e pagamento da dívida que os bancos fizeram junto ao Tesouro durante a crise.

Depois de cinco dias de um absoluto impasse, o cenário pela frente é de um governo híbrido no meio de uma crise econômica.

Na Zona do Euro, a boa notícia, segundo José Roberto Mendonça de Barros, é que o pânico da quintafeira foi quebrado na decisão do fim de semana de montar o pacote de quase US$ 1 trilhão.

— O que a Europa demonstrou é que vai continuar apostando alto no seu projeto de integração e que está disposta a construir saídas para a situação atual. De um lado, a ajuda à Grécia para que ela saia da crise, de outro, a construção de um mecanismo de financiamento para os outros países em dificuldade.

O fundo de C 440 bilhões vai formar uma Sociedade de Propósito Específico.

Essa SPE vai comprar títulos de países com spreads altos demais — disse.

José Roberto disse que quebrou-se a cadeia de transmissão do pânico, mas permanece o problema estrutural fiscal. Isso exigirá um longo tempo até ser digerido através de medidas que serão recessivas. Crises fiscais têm desdobramentos conhecidos. Mas, segundo o economista, há uma enorme incerteza sobre outro problema revelado pela atual turbulência na Europa.

— Ninguém tem a mais pálida ideia de como resolver o problema de países do mesmo sistema monetário que tenham índices de produtividade inteiramente diferentes.

A Alemanha teve forte aumento da produtividade nos últimos anos, enquanto Espanha e Portugal permanecem com baixa capacidade de competir. Como fazer para resolver esses desequilíbrio se todos os países têm a mesma moeda? Isso ninguém sabe resolver, nem eles. É esse dilema que surgiu na atual crise europeia — disse José Roberto.

Ele acha que a Alemanha, que já é mais competitiva que os outros países europeus, só terá a ganhar na atual crise.

— O euro está se desvalorizando e isso aumentará ainda mais a competitividade da Alemanha, que já é uma máquina de exportar.

Ela vai aumentar suas exportações, crescer ainda mais, e enfrentará seu déficit da forma mais fácil, que é crescendo. Mas o que vai acontecer no longo prazo com países que não são competitivos não está claro — afirmou.

O povo alemão não parece convencido de que a Alemanha vai ser a grande ganhadora. Eles se opõem ao pacote de ajuda e se sentem pagando uma conta que não é deles.

José Roberto disse que a demora da Europa em conseguir propor uma solução prova que não é apenas o Brasil que toma decisões quando não há outra saída: — O Brasil enfrentou a inflação quando estava em hiperinflação, só mudou o regime cambial após o colapso do câmbio, a Europa agora só se moveu quando estava próxima do abismo.

Mas ele acha que a Europa tomou boas decisões.

A euforia da segunda-feira foi para contrabalançar as perdas sucessivas e a crise de pânico da quinta-feira.

— Já se sabe que não haverá uma crise bancária na Europa. A dívida será financiada pelo Fundo e pela Sociedade de Propósito Específico. No caso da Grécia, pode haver mais adiante uma reestruturação organizada.

Mas a crise fiscal vai demorar a ser resolvida, e a forma de resolver o desequilíbrio de competitividade de países sob o mesmo sistema monetária continuará sendo um enigma. A Europa terá que resolver isso em algum momento.

As bolsas continuarão na sua volatilidade. Não é isso que impressiona, nem na alta, nem na queda. A dúvida é o futuro do projeto da Europa.