sexta-feira, março 19, 2010

NELSON MOTTA


Uma fábula sem moral

O Globo - 19/03/2010
 

Diz a lenda que um grupo de sindicalistas socialistas criou a Bancoop com a melhor das intenções e uma certeza: poderiam construir e vender para companheiros trabalhadores apartamentos 40% mais baratos do que cobravam os tubarões da especulação imobiliária e os capitalistas exploradores do povo. Os indecentes 40% que eles lucravam reverteriam para os companheiros. E, claro, para o partido e a causa popular.

Comoa vida real não é feita de slogans, palavras de ordem e manuais de ação política, os bancários, acostumados a créditos e débitos, juros e moras, logo descobriram que as contas não fechavam. As construções não custavam 40%, e nem mesmo 10%, menos do que as dos exploradores do povo. Pelo contrário, como a Bancoop não tinha a experiência, os créditos, as bonificações e as vantagens das construtoras com financiadores e fornecedores de material, suas obras acabavam custando mais caro do que as dos tubarões capitalistas, que podem ser malvados, mas não são burros e sabem fazer contas.

E dizem que o lucro pode ser de 4%, se tudo der certo.

Se os cooperados lesados tivessem comprado seus apartamentos com qualquer construtora não-companheira, mas sólida e honesta, pagariam menos, não teriam nenhum transtorno e já estariam morando em seus apartamentos, como 99,9% dos brasileiros que compram seu imóvel e pagam em dia as mensalidades.

Mas alguns aloprados pensaram que era possível fazer apartamentos por 40% abaixo do mercado, provando que a estupidez bem-intencionada pode dar tanto ou mais prejuízo do que a gatunagem.

Mas logo eles, que vêm de bancos, de contabilidade, de fluxos de caixa, e supostamente deveriam saber lidar com dinheiro? É a profissão deles, mas devem ter esquecido tudo, porque há muito tempo deixaram as atividades bancárias que, ideologicamente, odiavam para se integrarem à elite sindical. Não pelos seus conhecimentos de negócios bancários, mas pela capacidade de mobilização, negociação e conchavos.

Deu no que deu. O desastre empresarial da Bancoop sem falar em roubos pessoais e partidários é uma fábula sem moral sobre o petismo de resultados.

FERNANDO DE BARROS E SILVA


Ninjas do asfalto

Folha de S. Paulo - 19/03/2010
 
Não existe categoria que desperte no conjunto da população tanta animosidade quanto a dos motoboys. Sim, é uma animosidade de mão dupla. O inferno, para eles, somos nós -tiozinhos e dondocas nos carrões, taxistas e ônibus, cada qual disputando a primazia sobre o asfalto escasso.
Verdade seja dita, também é difícil encontrar entre os paulistanos quem nunca tenha usado a agilidade desses ninjas ensandecidos para resolver um problema "urgente". Mas não importa. Inconsequentes, agressivos, ameaçadores -essa é a imagem que temos dos motoboys.
Ela vem frequentemente associada à fantasia de que sob cada capacete se esconde um marginal. Nos semáforos ou entre as faixas, parados ou voando, eles suscitam sentimentos que vão do medo à hostilidade aberta. Os motoboys exprimem como ninguém um trânsito assustado e próximo do colapso, do qual são causa e consequência.
Nenhuma grande cidade do mundo resolveu seu trânsito incentivado o uso de motos. É um veículo perigoso, individualista ao extremo, além de barulhento e poluente. E há motos demais em São Paulo. Em 2000, eram 348 mil. Hoje, já são 824 mil, mais do que o dobro.
Segundo o repórter Alencar Izidoro, estudioso do assunto, os motoboys representam apenas 20% desse total -são entre 150 mil e 200 mil, embora mais visíveis porque circulam nervosos o dia todo. Em 2009, morreram na capital 428 motoqueiros, quase o dobro dos mortos em acidentes de carro (222).
A prefeitura anunciou que em breve ficará proibida a circulação de motos em boa parte da extensão da avenida 23 de Maio e na pista expressa da marginal Tietê. Será inaugurado, em contrapartida, um corredor exclusivo para motos na rua Vergueiro. Na avenida Sumaré, onde existe a motofaixa desde 2006, 83% dos acidentes entre 2007 e 2009 envolveram motos.
As medidas "restritivas" de Kassab contarão com a simpatia da população. Mas a experiência indica que continuaremos a enxugar gelo.

BAR ZIL

UM PUTEIRO CHAMADO BRASIL


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS


Copom: decisão política ou técnica?
Folha de S. Paulo - 19/03/2010

Empurrar por mais 45 dias a decisão de elevar o juro foi um ponto fora da curva do BC na gestão Meirelles
PELA PRIMEIRA vez nos últimos anos podemos escutar murmúrios sobre uma possível decisão "política" do presidente do BC na condução da política monetária. Sua decisão de desempatar a votação na reunião do Copom desta semana, no sentido de manter a taxa Selic, foi recebida por parte do mercado como tal. Afinal, usando critérios adotados pelo BC no passado, havia motivos fortes para que o Copom decidisse por um primeiro aumento do juro. Empurrar por mais 45 dias essa decisão foi certamente -para usar uma linguagem do mercado- um ponto fora da curva das decisões do BC na gestão Meirelles.
Até que seja provado o contrário, não acredito que o BC correria tal risco sem boas razoes técnicas. Entre elas, está a possibilidade de desaceleração da economia por conta da redução dos estímulos fiscais e do aumento do compulsório, além de uma acomodação natural após a recuperação rápida da recessão do primeiro semestre de 2009. Pode ser que isso ocorra, mas, conhecendo o consumidor e o empresário brasileiro, parece-me que é otimismo demais confiar em uma desaceleração suficiente por conta desses fatores.
O leitor da Folha conhece minhas ansiedades em relação à inflação no Brasil neste início de ano. A retomada do consumo tem sido muito rápida e já estamos em níveis de vendas ao varejo muito superiores aos de antes da crise.
Além disso, a geração de empregos está acontecendo com a mesma intensidade de antes de setembro de 2008. Nos últimos cinco meses, as estatísticas do Ministério do Trabalho apontam para um aumento anual de quase 2,5 milhões de postos de trabalho no mercado formal. Com isso, a massa de salários deve em breve crescer a uma taxa anual superior a 6,5% ao ano.
Sem alterações nesse ritmo, a taxa de desemprego poderia chegar a 5% ao final de 2010, nível nunca visto no país. Certamente não chegaremos a esse ponto, pois as condições de demanda e oferta de mão de obra qualificada não permitem um número tão baixo. Fica claro, portanto, que é preciso uma sensível desaceleração do crescimento do emprego para evitar o aumento de pressões inflacionárias.
Mesmo que isso aconteça, ainda teremos um mercado de trabalho bem pressionado ao longo do restante do ano, com aumentos reais de salários e uma massa de renda crescendo de forma expressiva.
Nesse cenário, o aumento da demanda interna continuaria muito forte em um quadro de oferta -sobretudo de bens e serviços que não podem ser importados- pressionado. Como considero o canal dos salários um dos mais importantes mecanismos de aumento dos preços de mercado, teremos nos próximos meses uma forte pressão sobre a inflação. Os economistas da Quest trabalham com uma variação do IPCA de até 5,4% para 2010.
Além desse mecanismo interno, outra ameaça de inflação começa a desenhar-se no horizonte. Caso realmente aconteça uma estabilização do crescimento econômico no mundo desenvolvido, podemos viver uma nova rodada de alta dos preços das matérias-primas. No caso do minério de ferro, especula-se reajuste entre 60% e 80% já em abril. O preço do petróleo também está em alta e pode chegar a mais de US$ 90 o barril ainda neste ano.
Faço votos de que o Copom tenha razão em sua paciência, mas temo que a eventual sincronia entre um choque externo de preços das commodities e um mercado interno pressionado por forte crescimento do consumo e do emprego custe caro ao Banco Central.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 67, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK


Descaminhos do pré-sal

O Estado de S. Paulo - 19/03/2010
 

Os projetos do pré-sal têm agora de passar pelo Senado, onde a discussão não promete ser fácil. Na Câmara, houve um incidente grave, perfeitamente previsível, mas que não havia sido contemplado pelos grandes estrategistas da Comissão Lobão-Rousseff, que concebeu os projetos do pré-sal. Qualquer pessoa minimamente familiarizada com as tensões do federalismo fiscal brasileiro sabia que a ideia de reabrir a caixa de Pandora da distribuição de royalties, em pleno ano eleitoral, era desavisada.
Açulado o vespeiro federativo, o governo perdeu o controle da situação e deixou a Câmara aprovar uma regra de distribuição de royalties que deflagrou clima de revolta nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. O incidente deixou em pé de guerra não só os governadores Sérgio Cabral e Paulo Hartung, como os seis senadores dos dois Estados, todos da base governista. O que sugere que a tramitação dos projetos do pré-sal no Senado será ainda mais difícil do que o governo temia. Mas isso talvez permita que a questão do pré-sal seja afinal discutida com a seriedade que merece. E que os equívocos dos projetos do governo sejam explicitados e, quem sabe, até corrigidos em alguma medida.
A concepção de como regular e estruturar a exploração do pré-sal e repartir os ganhos envolvia um desafio de ação coletiva que deveria ter sido enfrentado num plano suprapartidário, como questão de Estado. O governo, contudo, preferiu partidarizar a questão e brandi-la como trunfo eleitoral, certo de que sua base de sustentação no Congresso lhe permitia prescindir da oposição.
O que o governo quer extrair do Senado é a aprovação de um arranjo indefensável, que concede a uma empresa com mais de 60% do capital detido por acionistas privados - a Petrobrás - o monopólio de operação nos campos do pré-sal e uma participação de pelo menos 30% em cada consórcio que vier a explorar tais campos. Alega-se que, sem tais privilégios, a Petrobrás não poderá atingir a escala necessária para cumprir a "missão" que lhe teria sido atribuída: a de desenvolver a indústria de equipamentos para o setor petrolífero no País.
O que se contempla é a formação de um grande cartório para distribuição de benesses a produtores de equipamentos, em que a Petrobrás deteria "o cofre das graças e o poder da desgraça". Uma espécie de coronelismo industrial.
Caso essa ideia prospere, pode-se imaginar o tamanho da conta. Basta ter em mente, por exemplo, que a Petrobrás está licitando nada menos do que 28 sondas marítimas de perfuração de alta tecnologia e exigindo que todas elas sejam produzidas no País. Salta aos olhos que tal exigência deverá implicar enorme e injustificável encarecimento do programa de investimento no pré-sal. Parte substancial do excedente da exploração, a que o governo poderia dar destino mais nobre, será alegremente dilapidada na satisfação de fantasias acalentadas na Avenida Chile sobre as virtudes nirvânicas da autossuficiência do País na produção de equipamentos.
O pior é que um equívoco leva a outro. Desnecessariamente sobrecarregada com o monopólio da operação, a obrigação de deter 30% de cada consórcio e a "missão" de desenvolver a indústria de equipamentos, a Petrobrás teria de ser capitalizada pelo Tesouro. O aporte do Tesouro, da ordem de US$ 40 bilhões, seria feito por meio da entrega à Petrobrás, sem licitação, de reservas de 5 bilhões de barris no pré-sal pertencentes à União. Argui-se que, feito dessa forma, o aporte não traria grande ônus ao Tesouro.
O argumento não faz sentido. Se de fato os 5 bilhões de barris valem o que se alega, o governo poderia licitá-los e obter US$ 40 bilhões. Teria, então, de decidir se o melhor uso que o Tesouro poderia dar aos US$ 40 bilhões seria destiná-los à capitalização da Petrobrás, para que a empresa possa arcar com os investimentos com que o próprio governo a quer desnecessariamente sobrecarregar. Não falta quem olhe em volta e consiga enxergar usos bem mais nobres para US$ 40 bilhões de dinheiro público. É disso que se trata.

BAR ZIL

O ABILOLADO E A MENTIROSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Troca de franquia agita mercado de escolas 

Folha de S.Paulo - 19/03/2010

Uma operação fechada nesta semana pelo Grupo Multi, dono das redes Skill e Wizard, ilustra o grau de competição no mercado de escolas de idiomas.

A rede Skill acaba de concluir um negócio que converteu a bandeira de 14 franquias que deixaram a concorrente CNA. Juntas, todas as unidades, localizadas em São Paulo, totalizam 10 mil alunos.

O Grupo Multi, que adquiriu recentemente a SOS, de educação profissional, está em negociação com três empresas e deve anunciar, em alguns meses, a próxima aquisição, duas delas em escolas de idiomas e uma no segmento de ensino médio e fundamental, segundo o presidente e fundador Carlos Wizard Martins.

"Desde a aquisição da Skill, há dois anos, estamos investindo para torná-la vice-líder neste mercado. Neste primeiro semestre, investimos R$ 3 milhões só em marketing", diz.

A Skill ocupa hoje o quinto lugar no ranking das redes de idiomas no Brasil. A maior atualmente é a Wizard, do mesmo grupo, com cerca de meio milhão de alunos por ano.

A operação de troca de bandeiras entre concorrentes não é considerada saudável pela ABF (associação de franchising).
"A competição na área de línguas é acirradíssima. Lutamos para que as marcas não se beneficiem do rompimento das ligações de seus adversários", afirma Fernando Perri, vice-presidente da ABF.

A troca de bandeiras por franqueados envolve pagamentos por rompimento de contrato com franqueadores e multas nos caso de pontos localizados em shopping centers, diz Perri.
MOTOR
A marca de carros britânica Bentley inaugurou ontem sua primeira concessionária no Brasil, em São Paulo.
Trazida pelos sócios Toninho Abdalla, Beto Mattos, Joseph Tutundjian e Mauro Saddi, a representação brasileira é a primeira da marca na América do Sul.

"Temos uma perspectiva de estar presente nos principais mercados globais e o Brasil tem potencial para se tornar ainda mais interessante no futuro", afirma Christophe Georges, presidente da Bentley Motors para as Américas, que veio ao país participar do evento de inauguração.

Entre os modelos que serão comercializados no país está o recém-lançado Continental Supersports, um modelo esportivo de duas portas que é o primeiro veículo bicombustível da marca e o único entre os veículos do segmento de luxo. O Continental Supersports Flexfuel, chega a custar R$ 1.310.000.
TRIBUTÁRIA 1
"O problema para o exportador não é a taxa de câmbio; é a volatilidade", diz Alessandro Teixeira, da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Para melhorar a competitividade brasileira, seria preciso avançar na reforma tributária, segundo Teixeira.
TRIBUTÁRIA 2
"Uma saída é fazer a reforma tributária e estabelecer um prazo de oito anos para implementá-la", propõe Teixeira, da Apex. "No primeiro momento, é quase um "perde/perde", para, em seguida, passar a ter um "ganha/ganha". É como melancias em um caminhãozinho. No começo, batem, mas, depois, se acomodam."
METRÔ
O Butantã é um dos bairros que mais têm se valorizado nos últimos anos. A expansão imobiliária da região ganhou força há cerca de seis anos, quando o anúncio de obras do metrô permitiu valorização de 30% no preço dos imóveis. Desde o anúncio, os empreendimentos imobiliários na região têm tido sucesso de vendas, segundo a Distrital Butantã da Associação Comercial de São Paulo.
USADOS
O número de imóveis usados ofertados para venda na cidade de São Paulo cresceu 28% no primeiro bimestre deste ano ante o mesmo período de 2009, de acordo com levantamento realizado pela empresa de administração imobiliária Lello.

Gol amplia centro de manutenção com US$ 65 mi
Com um investimento de US$ 65 milhões, a Gol inaugurou ontem a ampliação do seu centro de manutenção em Belo Horizonte.

A ampliação eleva a capacidade de manutenção para 120 aeronaves ao ano, o que é suficiente para atender a frota atual da empresa e absorver o crescimento planejado até 2016.

"A intenção é nos tornarmos autossuficientes em manutenção", afirma Constantino de Oliveira Júnior, presidente da Gol.

A empresa depende ainda de uma certificação internacional da autoridade aeroportuária americana FAA (Federal Aviation Administration), que permita que ela realize a chamada manutenção de devolução, um serviço mais extenso e complexo.

"Estamos entrando com pedido de homologação junto ao FAA e acredito que dentro de um ano estaremos habilitados", diz.

Com o certificado internacional em mãos, a Gol pretende ainda gerar uma receita extra realizando serviços para terceiros.
NA LINHA
O "Primeiro Simpósio Ibero-Americano de Desenvolvimento de Infraestruturas de Telecomunicações" será realizado em junho em São Paulo pela AHCIET, associação que congrega 60 operadores latino-americanos do setor. O objetivo do encontro é discutir tecnologias, modelos de negócio, aplicações e possibilidades de financiamento para massificar a banda larga na América Latina.
BRINQUEDO 1
Nos mesmos dias em que promove a maior feira nacional do setor, em abril, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos será a anfitriã da reunião anual do Conselho Internacional das Indústrias de Brinquedos.
BRINQUEDO 2
O encontro, que há 14 anos não acontece no Brasil, vai reunir presidentes das entidades de brinquedo de 22 países para debater, entre outros temas, a criação de norma global de segurança para os brinquedos.
LIVRE
O Banco do Brasil começou a implantar software livre no banco Nossa Caixa. A economia estimada pela instituição em licenças com o uso de software livre por parte do Banco do Brasil, que adota essa solução desde 2003, já ultrapassa R$ 100 milhões.
MAIS INFRA 1
Um projeto de lei do governo de Minas Gerais que cria o Programa Estadual de Parceria Social Público-Privada (PSPP) será lançado hoje, em Belo Horizonte.
MAIS INFRA 2
O projeto, que será assinado pelo governador Aécio Neves, é destinado a disciplinar e promover a realização de parcerias entre o governo do Estado, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada. Os programas incluem qualificação profissional, difusão de tecnologias e melhoria de infraestrutura.
ELÉTRICA
A Intelig Telecom lança na segunda-feira a primeira oferta comercial do Brasil de banda larga e voz com a tecnologia BPL (Broadband over Powerline-Indoor), em parceira com a AES Eletropaulo Telecom. A tecnologia permite transmitir dados pela rede de energia elétrica. Como utiliza infraestrutura já disponível, não necessita de obras para ser implantada. O primeiro mercado onde será lançado o serviço é São Paulo.
MODA
As exportações das empresas de artigos têxteis e confecções que fazem parte dos projetos setoriais apoiados pela Apex-Brasil atingiram US$ 443 milhões no ano passado. A agência projeta para este ano crescimento nas exportações do setor, para US$ 572 milhões.
TROCA DE PNEU

A brasileira Vipal, especializada em reforma e reparos de pneus e câmaras de ar, adquiriu 15% de participação na Fate, uma das principais fabricantes e exportadoras de pneus da Argentina. O valor do negócio não foi revelado. A operação envolve ainda a construção de uma fábrica no Brasil, em local ainda não confirmado pelos executivos das empresas. A compra marca a entrada da Vipal no segmento de pneus novos e amplia a presença nas montadoras de veículos e no mercado de reposição, segundo Arlindo Paludo, presidente do Grupo Vipal.

EDITORIAL - O GLOBO


Círculo vicioso
O GLOBO - 19/03/10

A divisão do Conselho de Política Monetária, Copom, expressa na decisão de manter os juros básicos em 8,75% por cinco votos a três — por um voto não houve empate — reflete a divergência de leituras da conjuntura econômica.

Há indiscutíveis pressões inflacionárias — já se projeta para este ano uma taxa próxima de 5%, meio ponto percentual acima do centro da meta —, porém persistem dúvidas sobre a efetiva contribuição dos reajustes sazonais de início de ano para estas pressões, assim como das fortes chuvas ocorridas no período e seus efeitos na agricultura.

Entende-se, porém, com base no resultado da reunião deste mês do Copom , que em abril reabrese mais um ciclo de alta dos juros. Se há dúvidas sobre as causas da alta de preços no início do ano, não se diverge acerca do aquecimento da economia, sinalizado, aliás, pelo comportamento do PIB no último trimestre do ano passado, com base no qual estimase um crescimento para 2010 entre 5,5% e 6%.

O país volta a padecer da síndrome do “voo de galinha”, saltos do PIB de curto alcance. No passado, o dinamismo da economia brasileira esbarrava em déficits externos, risco afastado — mas não superado — com o aumento das exportações, acumulação de reservas e atração de capitais. Hoje, o principal freio são as deficiências na infraestrutura e uma reduzida taxa de investimento — aquém dos 20% do PIB —, incapaz de ampliar a capacidade de produção para atender a uma demanda crescente. Com isso, os preços sobem, e o Banco Central precisa agir e elevar os juros. O círculo se fecha e tudo começa mais uma vez até a próxima necessidade de um aperto monetário.

Este cenário econômico medíocre se assenta em um Estado voraz, o qual, por meio de impostos, confisca mais de 35% do PIB — e mesmo assim não investe o que deveria na infraestrutura. A prioridade nos gastos é com a máquina burocrática, assistencialismo e a previdência, esta por decorrência da política de valorização do salário mínimo, indexador do benefício previdenciário básico, entre outras razões. De 1999 ao ano passado, em dez anos, portanto, as despesas públicas totais cresceram 4,2% do PIB. Ou seja, bem mais que a economia. Já os investimentos públicos, apenas 0,6%.

O confisco que o Estado executa nas rendas da sociedade também atua como camisa de força nos investimentos privados.

É assim que se instala este círculo vicioso de crescimento não sustentado

RUY CASTRO

Marchando na chuva

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/03/10

RIO DE JANEIRO - Um telefonema importante atrasou minha ida para a Candelária, onde se daria a concentração para a passeata de protesto contra o esbulho dos royalties do petróleo, armado contra o Rio e o Espírito Santo pela infame emenda Ibsen. Quando cheguei, o cortejo já saíra pela avenida Rio Branco, rumo à Cinelândia. Melhor assim. Fui atrás e pude reviver o dia 26 de junho de 1968, quando estava ali, fazendo o mesmo percurso, na Passeata dos Cem Mil, contra a ditadura militar.
Pelo aglomerado de gente em alguns quarteirões e o relativo conforto para a marcha em outros, o número de aderentes era parecido. Apenas a composição humana variou mais. Em 1968, Nelson Rodrigues disse que não vira, entre os 100 mil, "nenhum negro, nenhum desdentado, nenhum torcedor do Flamengo", insinuando que tinha sido uma passeata das elites.
Bem, na de anteontem, não saí abrindo bocas para conferir o número de dentes per capita, mas havia cariocas de todas as cores e muitos flamengos com bandeiras. Sim, havia grupos sindicais, delegações municipais e lindas estudantes da rede pública, com suas minissaias plissadas e o rosto pintado de azul e branco, cores do Rio. Mas, em meio à massa, reconheci também o meu dentista, um ex-porteiro do meu prédio, o pipoqueiro da rua e até a Xuxa. Gente de várias origens, idades e extrações sociais.
Ibsen Pinheiro foi chamado de anão para baixo nas palavras de ordem, numa referência a seu passado de "anão do Orçamento". De esquina em esquina, celebrava-se o enterro do anão. Melhor será celebrar o enterro da emenda, que periga levar dois Estados à bancarrota, quebrar o princípio federativo e jogar o Brasil contra si mesmo.
De repente, a chuva caiu firme sobre o Rio, mas a marcha seguiu impávida. Um dos carros de som tocava, gostosamente, "Chove Chuva".

MÔNICA BERGAMO

Mãos dadas 

Folha de S.Paulo - 19/03/2010

Estão a pleno vapor as conversas entre redes varejistas para associações, fusões ou aquisições que possam se contrapor ao poderio do conglomerado Pão de Açúcar/Casas Bahia/ Ponto Frio. As Lojas Cem, com 180 unidades e faturamento de R$ 1,6 bilhão, contrataram o Standard Bank para sondar potenciais parceiros. A mineira Ricardo Eletro, com 290 unidades em vários Estados, já conversa com o banco Fator.
PESCARIA
As duas redes, e também a Cybelar, do interior de São Paulo, já enviaram ou receberam emissários do Grupo Silvio Santos, que tem as Lojas do Baú e está mais do que disposto a comprar ou a se associar a outras empresas. "Só quem tiver musculatura poderá sobreviver", diz um profissional que participa das conversas. Por musculatura entenda-se uma rede de mais de 300 lojas para se contrapor ao Pão de Açúcar.
BANHO-MARIA
Já com o Magazine Luiza, a rede mais forte, que tem 400 lojas e é o, digamos, sonho de consumo do Grupo Silvio Santos, as conversas não evoluíram até agora.
NO CÉU
Especialistas em campanhas eleitorais calculam que as campanhas majoritárias neste ano alcançarão cifras estratosféricas. A presidencial de Dilma Rousseff, candidata de Lula, com a facilidade que uma campanha governista tradicionalmente tem de arrecadar recursos, poderia custar até R$ 240 milhões. A do tucano José Serra, embora de oposição, poderia alcançar o mesmo patamar -desde que se mantenha competitiva nas pesquisas.
BALADA DA MARINA
O QG da campanha presidencial de Marina Silva (PV-AC) será montado no coração da Vila Madalena. O PV alugou uma casa na rua Inácio Pereira da Rocha, onde antes funcionava a balada Studio SP. Ainda sem poder receber faixas com o nome da pré-candidata, o imóvel, por enquanto, só foi pintado de verde-escuro.
COMO DIRIA LULA
A senadora justifica a decisão de ter a sede em São Paulo, maior colégio eleitoral, e não em Brasília, como era esperado. "Isso eu aprendi com o Lula. Ele dizia, no passado, que, quando você tem poucas telhas, não adianta colocar uma em cada quarto porque vai chover. O melhor é colocar todas as telhas em um só cômodo e levar toda a família para lá."
UM MILHÃO DE AMIGOS
O ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB ao governo de São Paulo, procurou a coluna para desautorizar aliados ligados a ele que estão bombardeando a possibilidade de o jornalista Paulo Markun ser reconduzido para o comando da TV Cultura. "Sou totalmente favorável ao nome dele. E isso é assunto do governador José Serra e do conselho da fundação. Tenho total apreço pelo Markun e pelo Carlos Vogt [cotado para a presidência do conselho da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV], que é meu amigo."
CASCATA NO MAM
A dupla OsGêmeos começou ontem a fazer um novo mural para a fachada do MAM-SP.

Dos primeiros sprays, surgiram uma cachoeira e uma mulher emergindo da água. Para quem tiver curiosidade em ver o trabalho ao vivo, os artistas estarão no local até o dia 30.
VIDA DE REI
Pelé vai lançar um livro contando sua história, em primeira pessoa, no formato "scrapbook": além dos relatos do rei do futebol, "Pelé - Minha Vida em Imagens" terá recordações que podem ser destacadas da obra. Estão lá a primeira carteirinha de um clube de futebol, da Liga Bauruense de Esportes, o cartaz da primeira Copa de que ele participou, em 1958, e até um ofício do governo dos EUA, de 1973, explicando como seria a visita de Pelé à Casa Branca. A obra será lançada pela Cosac Naify em maio.
CAPACETE
A loja da Harley-Davidson, que havia sido multada porque um cano estava jorrando água na rua, na avenida Europa, informa que o local é alugado e que o proprietário do imóvel se comprometeu a fazer as obras necessárias na frente da loja a partir de hoje.
CURTO-CIRCUITO
A FESTA GRITO, dos DJs Paula Reboredo e Gil França, estreia hoje, à meia-noite, no clube Lions. 18 anos.
O ESPETÁCULO "Cisnes", de Anselmo Zolla, acontece hoje, às 21h, no Teatro de Dança, no edifício Itália. Livre.
A GRIFE Lucy in the Sky promove o lançamento da nova coleção hoje, às 12h, na loja do shopping Vila Olímpia.
OS MINISTROS Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, e José Múcio Monteiro, do Tribunal de Contas da União, serão jurados do 7º Prêmio Engenho de Comunicação, que acontece em junho, em Brasília.
A NOVA SEDE brasileira da empresa americana MonaVie será inaugurada hoje em São Paulo, em Moema.

LINHA DE MONTAGEM

LUIZ GARCIA


A avenida falou
O GLOBO - 19/03/10

A Avenida Rio Branco não brinca em serviço: é a voz do povo, sim senhor. Uma voz que protesta ou exige. Às vezes contra o governo, outras com apoio de alguma área do poder, como agora, sempre falando alto e fazendo alguma diferença, nem sempre imediata, mas invariavelmente relevante.

A passeata de quarta-feira foi o segundo protesto da multidão contra um homem só: o deputado Ibsen Pinheiro, autor da emenda que redistribui para todos os estados os royalties do petróleo hoje pagos ao Rio e ao Espírito Santo, em cujas águas estão os principais campos petrolíferos do país. Antes dele, só o então presidente Fernando Collor teve essa honra, quando os cariocas foram para a rua pedir o seu impeachment.

Na prática, a emenda significa golpe quase fatal nas economias dos dois estados e uma merreca para todos os outros.

E sem qualquer garantia de que sirva ao provável objetivo político da tunga: levar votos para a candidatura de Dilma Roussef. O que permite uma especulação óbvia: o pessoal de Brasília deve estar convencido de que ela não tem muitos eleitores por aqui. Vai ver, não tem mesmo. Especular sobre uma possível relação entre a emenda e o panorama eleitoral não é tão gratuito como pode parecer. A esta altura, muito pouco do que acontece no mundo político está desvinculado do calendário eleitoral.

E o êxito do protesto desta semana no Rio também tem alguma coisa a ver com o panorama eleitoral. Dependendo bastante, é claro, do papel que Ibsen vier a desempenhar na campanha de Dilma. Se vier a ser o companheiro de chapa, a tunga na economia fluminense — mesmo que a emenda seja derrubada no Senado — será tema importante na briga de votos no estado.

Isso pode ser especulação vadia. O que importa mesmo agora é o recado que os cariocas mandam aos senadores: não sejam, por favor, parceiros na tunga.

Pois é disso que se trata. O resto do país nada tem a ganhar com uma gravíssima crise econômica aqui no Sudeste.

A Avenida Rio Branco não perdeu uma parada até hoje.

Às vezes, demorou um pouco. Mas sua voz sempre acabou sendo ouvida e respeitada

PAINEL DA FOLHA

Poço reaberto 
Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 19/03/2010

O desejo do governo de empurrar a definição sobre os royalties para depois da eleição dará fôlego ao lobby por mudanças em três pontos do marco regulatório do pré-sal já aprovados na Câmara: a regra que estabelece a Petrobras como operadora única dos novos campos, a que dá poder de veto à estatal gerenciadora da exploração e a que concede ao presidente da República livre arbítrio para compor a direção dessa nova empresa. Demandas sobretudo de petrolíferas privadas, elas têm o apoio de parcela significativa da oposição e até de integrantes da base aliada. A ideia é que, diante da saia justa em torno dos royalties, uma negociação mais ampla poderá ser aberta no Senado.
Com teto
Dilma Rousseff (PT) já alugou a casa no Lago Sul onde passará a morar após deixar o governo. O imóvel é térreo, tem três quartos e não fica de frente para o lago.
BandejaMinistros que preparam o evento do PAC 2, no dia 29, sugeriram que Lula deixe para Dilma o anúncio, na mesma data, da nova fase do "Minha Casa, Minha Vida".
Ponto futuroDilma deve martelar que até o final do ano um milhão de moradias estarão "contratadas" (hoje são 340 mil), mas que somente a continuidade do programa em 2011 pode assegurar que todas serão entregues.
MusicalO PC do B prepara um evento, no dia 8 de abril em Brasília, para oficializar apoio a Dilma. Além do vereador-cantor Netinho de Paula (SP), que pleiteia vaga para disputar o Senado por São Paulo, foram chamados Martinho da Vila e Leci Brandão.
CalculadoraSecretário-geral do PTB, Campos Machado contesta a contabilidade da ala pró-Dilma, que diz ter 15 diretórios estaduais a favor da ministra. "A convenção mostrará que eles não têm 20% do partido", diz o deputado, que, assim como o presidente da sigla, Roberto Jefferson, quer aliança com Serra.
CédulaMarcos Belisário, secretário paulistano da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, é hoje o nome mais cotado para concorrer, pelo PV, ao governo paulista.
Ainda é poucoDe Nelson Jobim (Defesa), ontem na reunião sobre o programa de governo a ser elaborado pelo PMDB para apresentar a Dilma: "O PMDB não está no governo. Tem alguns ministros que estão no governo".
Modos de usar 1Em depoimento dado ao Ministério Público na semana passada, o gravador-geral Durval Barbosa disse que, além de servir para enriquecimento pessoal e compra de apoio político, o mensalão candango engordou a remuneração de servidores e funcionou para "promoção pessoal" de José Roberto Arruda.
Modos de usar 2Segundo Durval, recursos públicos foram usados para pagar despesas e bancar a aquisição de bens do ex-governador preso.
CiúmeDeputados não se conformam com um trecho da lei de acesso a informações públicas, em tramitação na Câmara, segundo o qual o Congresso teria até 15 dias para fornecer o que lhe for solicitado. Argumentam que, quando acionam o Executivo, a resposta demora o dobro do tempo para chegar.
NextDepois de conseguir aprovar a convocação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e do doleiro Lúcio Funaro, numa ressurreição da CPI das ONGs, a oposição tentará emplacar requerimentos transferindo sigilos bancários e telefônicos das extintas CPIs dos Correios e dos Sanguessugas.
PaiolTucanos e "demos" avaliam que Vaccari pouco acrescentará, seja pela atitude de confrontação, seja pela blindagem do PT. Mas Funaro, que já colabora com o Ministério Público, é considerado instável, além de ter mágoa de ex-caciques petistas com quem tratou na época do mensalão.
Tiroteio

Não temos ânimo para brigar com o Ciro. A nossa briga é outra.

Contraponto
Linguagem corporal 
João Santana, marqueteiro da campanha de Dilma Rousseff, deixava a festa de aniversário de José Dirceu, na noite de terça-feira passada em Brasília, quando foi abordado pelo humorista Carioca, a quem cabe imitar a ministra no programa "Pânico na TV".

Disposto a levar a conversa na brincadeira, Santana passou a dar dicas sobre a composição da personagem:

-Você está muito bombado e com voz muito grossa- criticou o marqueteiro, que ouviu de bate-pronto:

-E você precisa fazer ela melhorar a postura- afirmou Carioca, forçando a curvatura das costas.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO


Pensamento mágico

O ESTADO DE SÃO PAULO - 19 de março de 2010

À falta de melhor, o presidente Lula usou uma palavra - "mágica" - que resume a futilidade e a inconsequência das suas pretensões de mediar o conflito entre israelenses e palestinos. Numa entrevista em Ramallah, sede do governo da Autoridade Palestina (AP), ele afirmou que o presente atrito entre Israel e os Estados Unidos, "que parecia impossível de ocorrer", quem sabe seja "a coisa mágica que faltava" para se chegar a um acordo de paz na região. A isso se chama "pensamento mágico" ? a crença numa relação de causa e efeito entre acontecimentos que nada têm em comum, ou no poder de transformar os fatos pela mera expressão de uma vontade.

O governo americano, como se sabe, reagiu com excepcional dureza à provocação israelense de anunciar, em plena visita do vice-presidente Joe Biden, a construção de 1.600 moradias em Jerusalém Oriental, onde os palestinos querem instalar a capital do Estado a que aspiram. Considerado por Washington um "insulto" e uma "afronta", o ato escancarou o desinteresse do governo ultranacionalista do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu pelas iniciativas do presidente Barack Obama para reabrir as negociações entre as partes, congeladas desde a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, controlada pelos extremistas do Hamas, em fins de 2008.

A realidade é que Israel deu as costas ao projeto de paz baseado na coexistência de dois Estados. Daí a expansão dos assentamentos na Cisjordânia que a direita israelense denomina, significativamente, Judeia e Samaria. Mas a correlação de forças em Washington e a escassa simpatia dos israelenses por Obama tornam improvável, até onde a vista alcança, que ele reúna os meios de pressionar Israel ? destinatário de US$ 28,9 bilhões de ajuda americana na última década ? a ponto de produzir a mágica dos devaneios de Lula. Ou da sua frustração com o previsível fracasso de seus planos de ser acolhido por árabes e judeus como o arquiteto da paz entre eles.

Nisso consistiu, por assim dizer, a sua mágica. Ele conseguiu ser criticado dos dois lados do muro que separa Israel e os territórios palestinos por sua aproximação com o Irã e pelo disparate de incluir a República Islâmica entre os países interessados na solução pacífica do problema israelense-palestino. No Parlamento de Israel, Lula ouviu de governistas e oposicionistas críticas contundentes à ideia de que o presidente Mahmoud Ahmadinejad, que prega a destruição do Estado judeu, possa ser induzido a desempenhar um papel construtivo no Oriente Médio. Nenhuma surpresa até aí. Se alguma unanimidade existe em Israel, é a de que Teerã representa uma "ameaça existencial".

Desmoralizadora mesmo foi a reação palestina ao oferecimento de Lula de ajudar a fazer as pazes ? eventualmente em território brasileiro ? entre o movimento secular Fatah, cujos quadros formam o governo da Autoridade Palestina, e o Hamas fundamentalista, que os expulsou a bala de Gaza. Diante do presidente Mahmoud Abbas, Lula soltou o verbo. Pôs-se a ensinar ao interlocutor, como se disso ele não soubesse, que os palestinos precisam falar com uma só voz na mesa de negociação, do contrário "vão continuar a ser um povo sem fronteiras, e Israel continuará a se sentir ameaçado". Seria mais apropriado, respondeu-lhe o paciente Abbas, se Lula dissesse a Ahmadinejad que o apoio iraniano ao Hamas é o maior obstáculo à unidade palestina.

Abbas insistiu nesse ponto na entrevista que concedeu à enviada especial do Estado, Denise Chrispim Marins, publicada na edição de ontem. "Atores influentes da região", declarou, "dificultam a reconciliação nacional, particularmente o Irã, que não se mostra interessado no diálogo palestino com base numa agenda palestina." Ele confirmou ter pedido a Lula "que inclua o tema palestino no seu diálogo com o Irã". Para quem foi recebido calorosamente pelos palestinos, o descontentamento de Abbas deveria instilar um mínimo de sobriedade no desvario da diplomacia lulista. Uma coisa é o Brasil fazer-se ouvir em defesa da paz e segurança para israelenses e palestinos, outra é se fazer de protagonista central nesse processo ? e ainda por cima cortejar um governo que busca exatamente o oposto.

ELIANE CANTANHÊDE


Apagão e apaguinhos
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/03/10


BRASÍLIA - No congresso do PT em que foi lançada à Presidência, Dilma Rousseff (Casa Civil, ex-Minas e Energia) encheu o peito para dizer que nunca mais, neste país, haverá apagões.
Antes, durante e depois da frase enfática, porém, repetem-se os "apaguinhos". A CBN relatou o que parou metade de Pernambuco, o jornal "O Globo" divulgou como são habituais em regiões do Rio, e a energia cai a toda hora em São Paulo junto com a chuva.
E no DF? Justamente no dia em que a Câmara Legislativa iniciou os debates sobre o impeachment do governador José Roberto Arruda foi aquele vexame: acabou a luz. Logo começaram as fantasias de que se tratava de boicote, mas nem há mais seguidores de Arruda dispostos a coisas desse tipo.
Era só um dos "apaguinhos" que afligem sem parar a capital da República e que se repetiram na terça passada, atingindo não só a Câmara Legislativa mas a própria sede do governo federal e umas 500 mil pessoas, que ficaram totalmente às escuras ou à base de geradores.
Ontem mesmo, novo blecaute paralisou o Distrito Federal. Eu e o meu amigo e companheiro de coluna Fernando Rodrigues moramos em lados opostos de Brasília, um no Lago Norte, outro no Lago Sul, mas amargamos o mesmo problema: semana sim, outra também, lá se vai a luz. E só não se vão (mais) os aparelhos domésticos porque já estamos escaldados.
Como mostrou a repórter Leila Coimbra na Folha, as concessionárias de energia reduziram expressivamente os investimentos em suas redes. Entre elas a Ampla (RJ), a Celpe (PE) e a CPFL (SP/RS). Como dois e dois são quatro, queda de investimento e aumento de demanda é igual a falta de energia.
OK. A culpa não é do governo federal, mas a ministra deveria ter cuidado com as palavras e com a ênfase, porque são milhares e milhares de vítimas. De "apaguinho" em "apaguinho", chega-se a um apagão.

CELSO MING

O ajuste errado 
O Estado de S.Paulo - 19/03/2010

China e Alemanha são e continuam sendo os dois maiores exportadores do mundo. Até recentemente, eram tidos como modelos a imitar: país que pretendesse se levantar e ter algum futuro tinha de ser como China e Alemanha.


Agora eles começam a ser vistos como grandes entraves à recuperação da economia global. Como no futebol, onde não há vitória sem derrota, nos negócios entre países não há superávit sem que, do outro lado, haja déficit. Enquanto continuarem a ser supercampeões das exportações, os demais países têm de se conformar com ser consumidores de produtos alemães e chineses e, mais do que isso, terão de se arranjar economicamente carregando rombos comerciais e suas consequências.

Há muito que se sabe que a atual simbiose entre Estados Unidos e China - em que os Estados Unidos entram como consumidor de produtos chineses e a China, como fornecedor dos Estados Unidos e financiador do seu consumo - não é sustentável a longo prazo: nem os Estados Unidos poderão perpetuar seus déficits nem os chineses conseguirão empilhar reservas para sempre.

Agora, no entanto, quando a própria recuperação dos Estados Unidos está sendo ameaçada pela continuação do superávit chinês, vai crescendo a urgência de que se façam ajustes profundos nesse arranjo.

Já foi dito nesta Coluna que os Estados Unidos estão se defendendo de maneira errada. Sindicatos e políticos pretendem partir para retaliações, sob o argumento de que a China faz jogo sujo no comércio com a manipulação do câmbio. Não há nenhum tratado comercial que considere o uso do sistema fixo de câmbio como recurso desleal. Mas o desequilíbrio está aí e ele é um dos grandes responsáveis pelas atuais mazelas financeiras.

Mas, afinal, como se reequilibra esse jogo? A taxação do fluxo de capitais proposta pelos líderes da social-democracia internacional não vai à fonte dos problemas porque o fluxo de capitais é apenas o resultado dos desequilíbrios preexistentes.

A ideia da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) de montar uma Organização Mundial do Câmbio para definir o que é ou não permitido também não muda a essência das coisas. Da China ainda se pode reclamar de que sua agressividade exportadora se deve a um câmbio excessivamente desvalorizado. Mas a Alemanha nem moeda própria tem e, no entanto, continua sendo fonte de desequilíbrios comerciais. Ou seja, a solução não está nos ajustes cambiais.

Quarta-feira, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, avisou que a solução terá de passar pelo aumento da demanda interna da China e da Alemanha. No entanto, a China vem incorporando cerca de 30 milhões de pessoas por ano ao mercado interno de consumo. E o consumo na Alemanha está entre os mais altos do mundo. Como obrigar o alemão a consumir mais? Seria impor aumentos salariais ou multiplicar os proibidos déficits públicos?

O reequilíbrio mundial não se conseguirá com a aplicação de cosméticos. Nesta economia globalizada, será preciso alguma forma de coordenação de políticas e, antes disso, alguma forma de integração política. Mas, enquanto esse acerto não for possível, como ficam os grandes desequilíbrios econômicos globais?
CONFIRA
Risco X - O mercado de ações afinal começou a se perguntar pelo risco inerente às empresas do grupo Eike Batista. Até agora, foram bem-sucedidas em levantar recursos com a promessa de grandes resultados futuros. O meio fracasso do lançamento das ações da OSX, que projeta produzir equipamentos de exploração de petróleo e gás, afinal levantou as primeiras dúvidas. O último a anunciar feito semelhante, e a ser bem-sucedido na empreitada, foi o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que em 1998 privatizou a Telebrás e fatiou o mercado de telefonia, anunciando que estava criando riqueza "do vento".

Balanço da Petrobrás - Saem hoje os resultados da estatal do quarto trimestre de 2009. As últimas chamadas de capital na Bolsa não foram o sucesso esperado. E a capitalização da Petrobrás, prevista para ser a mais alta da história (no mundo), provavelmente superior a US$ 60 bilhões, será o que o governo dela espera? Boa pergunta para ser respondida hoje pelo diretor financeiro, Almir Barbassa.

ARI CUNHA

Apagão
CORREIO BRAZILIENSE - 19/03/10


Pelas consequências está grave a situação de energia elétrica. A falta de eletricidade por várias horas é prejuízo grande. A vida gira em torno da informática, por mais simples que seja o trabalho. Fácil entender o que foi para a população o apagão desta semana. Comunicações de bancos com o comércio e vice-versa, hospitais, polícia, administração, corretagem, transportes reserva de passagens. É o caos. A população para, os negócios também. Generosa, a CEB prometeu investigar. Função de governo é prover as necessidades dos habitantes. Impostos são altos, o povo merece, até pela paciência com que vê os desleixos. Governo é para satisfazer o povo, para o andamento ordenado da vida.


A frase que foi pronunciada
“Senhor é Deus, o senador Sarney e o senhor.”
Mão Santa, ao responder o senador Cristovam. Quem ouviu pensou que estivesse brincando.



Arruda

» Governador José Roberto Arruda está cassado e metido numa sinuca de 11 varas. Fez trabalho grande na cidade. Não dava para prever que tudo girava em torno de outros desejos e ambições. A Câmara Legislativa adianta o passo na substituição. Pressa não vale. A lei está acima de decisões pessoais. Caminhos legais são necessários, e isso sempre foi provado.
Candidatura

» Dilma Rousseff acompanha presidente Lula em seus passos. A lei permite. Falta à candidata comunicabilidade com eleitores. Só atende a Lula, que lhe dita decisões. Presidente tem prestígio popular, como nunca houve em final de governo. A fama é pessoal. Ademais, contando todas as famílias que recebem dinheiro “social” do governo, não chegam a 2% do eleitorado.
Futuro

» Difícil saber o que circula no pensamento de mineiro tradicional. Aécio Neves pode surgir a qualquer instante no colégio eleitoral. É conhecido pelo país, tem posição política definida, desejos ocultos e popularidade perante o povo. Representa uma família de tradição e vivência política mineira, desde o tempo do “café com leite”, agora fora do cardápio.
Insegurança

» Linha amarela a caminho do Galeão sofre percalços. Vizinhança violenta e livre fecha avenida, assalta automóveis que passam. Matam não como defesa, mas para demonstrar do que são capazes. Alguma coisa deve ser feita para que se ponha fim a tanta crueldade. Até a ministra Ellen Grace passou pela experiência.
Voleibol

» Agradecido com o incentivo dos patrocinadores e do povo, o voleibol cria lugar esportivo com destaque. E cada vez mais forte. Homens ou mulheres têm destaque, com apoio de torcida organizada e civilizada. Os técnicos são de boa origem e sabem comandar quem joga e orientar equipes. Imagem do Brasil só ganha com isso.
Nomeações

» Embora interino, o governador de Brasília, Wilson Lima, abre os cofres. Nomeia muita gente, mostra sorrisos e demonstra intenção de manter “perfil técnico da equipe”.
Sem espelho

» Presidente Lula da Silva regressa de viagem a Israel satisfeito com contatos. Depois, voa até o “outro lado”, onde ficam palestinos. Dividir coração entre povos inimigos ao longo da idade das divergências é impossível. Como Lula se julga capaz de intermediar tudo, voltou alegre por se “entender” com palestinos e judeus.
Concerto

» Neusa França e Maria Emilia Osório se apresentam na Thomas Jefferson, hoje, às 9h da noite. O repertório vai de Bach a Santoro, Villa Lobos. Além do brilhantismo dos arranjos de Neusa França e da interpretação das pianistas, a audiência vai conferir o piano xipófago. Rogério, o afinador, criou dois pianos de cauda que não se separam.
Plebiscito

» Com o novo shopping, volta a celeuma sobre o acesso ao Lago Norte. É hora de a velha guarda ceder e concordar com a construção da ponte que liga o Setor de Mansões à Península Norte e à UnB. Fica a sugestão para um plebiscito em que a comunidade inteira participe da solução.

História de Brasília

Um garoto lavador de carros, no aeroporto, é um exemplo de bom humor. Quando chega um carro sujo, ele oferece seus serviços e, se é rejeitado, quando o proprietário chega, encontra todos os vidros com uma única inscrição: “Quero água”. (Publicado em 28/2/1961)

WASHINGTON NOVAES


Energia nuclear volta à tona
O Estado de S.Paulo - 19/03/10

As questões referentes a formatos de energia, já no centro das discussões quando o tema são mudanças climáticas, também por isso alimentam algumas das mais complexas polêmicas de hoje - principalmente a da energia nuclear. E o combustível mais inflamável dessa polêmica é o mais recente livro de James Lovelock, "pai" da "Teoria Gaia", que entende o universo como um organismo vivo. Lovelock, que já foi adversário acirrado da energia nuclear, agora pensa (Gaia: Alerta Final, Editora Intrínseca, 2010) que não há tempo para esperar outro formato eficaz de redução nas emissões de poluentes, a não ser a energia nuclear. Considera pequenos os riscos de acidentes na operação (no pior desastre, Chernobyl, morreram 70 pessoas, diz). Quanto à falta de destinação para os perigosos resíduos das usinas, afirma que o lixo nuclear de uma geradora de mil MW "cabe num táxi", e terá sua radioatividade comparável à do urânio natural em 600 anos. Mas ressalva que não considera a energia nuclear a melhor opção para o Brasil, que tem feito "um bom trabalho com hidrelétricas"; só para países populosos com restrições de espaço.

Seja como for, há uma ofensiva no mundo em favor da energia nuclear. Mas também surgem estudos - até estritamente econômicos - para apontar seus problemas e sua inviabilidade. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, hoje há 53 usinas nucleares em construção no mundo, para gerar 47.223 MW até 2017. Elas se somarão às 436 em operação, com 370.304 MW, que correspondem a 17% da energia total. A elas se devem juntar mais 135 em fase de planejamento (148 mil MW), que elevarão a potência instalada em 50%. China (16 usinas), Grã-Bretanha (10), Rússia (9), Índia e Coreia do Sul (6 cada), Bulgária, Ucrânia, Eslováquia, Japão e Taiwan (2 cada) são os países com maior número de projetos (O Globo, 25/1). Mas nos EUA, com mais uma usina em construção (já tem 104, ou 19% da energia total), o presidente Barack Obama anunciou em fevereiro medidas que estimularão esse setor. Ao todo, US$ 54,5 bilhões para várias usinas - embora haja muitas controvérsias internas, já que não há destinação final para resíduos, que continuam armazenados em "piscinas" nas próprias geradoras (o depósito "final" em implantação sob a Serra Nevada continua embargado pela Justiça). Os Emirados Árabes Unidos tocam seu projeto, assim como a Argentina, a Finlândia, a França, o Irã, a Indonésia. Na Itália, que renunciou à energia nuclear em 1987, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi está oferecendo incentivos financeiros a municípios que aceitem novas usinas. O argumento central é o de que a Itália importa 85% da energia que consome.

Por aqui, o presidente da República e a ministra Dilma Rousseff continuam a defender novas usinas, além de Angra 3, que já teve licença prévia do Ministério do Meio Ambiente. Seu argumento principal é de que sem elas teremos problemas de abastecimento de energia, por causa das "dificuldades ambientais" no licenciamento de hidrelétricas. Só não se sabe ainda onde serão e quantas (fala-se de 4 a 8). Mas isso não elimina polêmicas. Ainda por ocasião dos mais recentes deslizamentos de terra e mortes que levaram à interdição da BR-101 perto de Angra dos Reis, o prefeito dessa cidade pediu o fechamento de Angra 1 e 2, argumentando que não haveria como evacuar a população se um deslizamento ameaçasse uma das usinas. Não foi atendido. E num recente programa Roda Viva, na TV Cultura de São Paulo, o professor Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que será o coordenador da política científica brasileira na área do clima, ao comentar números sobre a elevação do nível do mar no litoral fluminense, respondeu que se deveria ter muito cuidado no licenciamento de Angra 3, tendo em vista essa questão e os depósitos de lixo nuclear nas duas usinas já em funcionamento.

Mas a questão da segurança não é a única polêmica. Na Europa, nova discussão está em curso, após a divulgação (IPS/Envolverde, 27/2) de estudo do Citibank, sobre riscos tecnológicos e financeiros dos projetos nucleares. Diz ele - New Nuclear - the economics say no - que esses riscos são tão altos que "podem derrubar financeiramente as maiores empresas de serviços públicos. Uma usina de mil MW, afirma, pode custar US$ 7,6 bilhões e levar 20 anos para dar lucro - impraticável para empresas.

Entre nós, as notícias sobre investimentos no setor de energia ainda não contabilizam futuros projetos na área - a não ser Angra 3. Segundo o BNDES (Estado, 28/2), os novos projetos de geração, transmissão e distribuição de energia no País absorverão 33,6% dos R$ 274 bilhões que serão investidos na infraestrutura em quatro anos. Aí se incluem R$ 20 bilhões para as usinas do Rio Madeira, R$ 8 bilhões para Belo Monte e R$ 8 bilhões para usinas eólicas. Mas a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia afirma (Agência Estado, 28/2) que as tarifas no setor no Brasil só perdem para as da Alemanha; as residenciais são mais altas que as da Noruega (US$ 184 por MWh ante US$ 48), enquanto as industriais aqui chegam a US$ 138 por MWh, ante US$ 68 no Canadá.

Outra polêmica entre nós está no licenciamento e na implantação de usinas termoelétricas muito poluentes, também com o argumento de que é preciso tê-las de reserva, para a hipótese de a oferta de energia não ser ampliada. O BNDES em 2009 financiou R$ 2,6 bilhões para projetos nessa área, mais de metade do total destinado ao setor elétrico, contemplando projetos de 30 mil MW de energia térmica para serem implantados até 2030. (Folha de S.Paulo, 20/12/2009).

E tudo continuará nesse terreno da polêmica enquanto o governo federal não se dispuser a debater com a sociedade nosso modelo de energia. Uma boa oportunidade poderá ser o novo Plano Decenal de Energia, cuja discussão, em princípio, está programada para as próximas semanas.

JOSÉ SIMÃO


Ueba! Vagner Love vira Vagner Engov!
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/03/10

E a camiseta do Adriano: "Que Deus perdoe as pessoas ruins". Que andam comigo. Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Adorei essa faixa: "Procura-se cachorrinha pincher na cor marrom escura. Atende pelo nome de Chica, porém é surda!".
E adorei o Roberto Sustus no programa "Um contra Cem": "Por baixo de todo executivo tem sempre uma secretária". Rarará! Eu acho que ele queria falar por trás, mas acabou por baixo! Por trás e por baixo!
E mais uma para a minha seção O Brasileiro é Cordial: "Estacionamento proibido. Sujeito a quatro pontos na carteira, quatro pneus no chão e quatro PONTOS NA CARA!". Falando em cordial, e o Adriano Imperador, que amarrou a namorada na árvore?! Ele tava na balada, a namorada foi encher o saco e ele amarrou ela na árvore! Uma coisa assim civilizada! Eu acho que o Adriano devia dar uma declaração no final da novela do feminista Manoel Carlos: "A gente tinha muita desavença, muita porrada, mas agora superamos: amarrei ela na árvore". Rarará! E a camiseta do Adriano: "Que Deus perdoe as pessoas ruins". Que andam comigo. Rarará! E o site bolanascostas apresenta outras versões da camiseta do Adriano. "Foi o cão que botô pá nóis bebe." "Procura-se anões para festinhas." "Vendo Monza a álcool preto e branco, ano 89." E a mais procurada: "VOU TE AMARRAR NA ÁRVORE". E o Vagner Love vai mudar o nome dele pra Vagner Engov!
E o Lula tá inaugurando obra até na Palestina. Inaugurou uma rua chamada Brasil. Em frente ao mausoléu do Arafat. Pega a Brasil e cai na cova! E o Serra em represália devia inaugurar um banco de sangue na Transilvânia! E uns acham que o Lula é o mais credenciado pra mediar o conflito no Oriente Médio. Já mediou o PT e o PMDB. E tá mediando a dona Marisa e a Dilma. Tá credenciado. Outros acham que foi uma sucessão de gafes. Parecia um pato desarranjado, uma cagada após a outra. Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas rela pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". É que na Republica Tcheca tem uma marca de papel higiênico chamado Grand Finale! Ueba! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartillha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Geólogo": companheiro fabricante de gelo pro uiscão do companheiro Lula. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O ABILOLADO

O ESGOTO DO BRASIL


DORA KRAMER

Leite derramado 


O Estado de S.Paulo - 19/03/2010

Governo, quando quer e se empenha, ganha sempre ou perde por pouco. Quando perde de lavada, como aconteceu com a emenda que redistribui os royalties do petróleo (369 a 72), significa que não quis o bastante nem se empenhou o suficiente.


É esta a exata impressão que tem o governo do Rio de Janeiro, que foi dormir confiante da promessa feita pelo presidente Luiz Inácio da Silva ? " deixa comigo, Serginho" ? e acordou com a possibilidade de perder 70% das receitas do Estado.

O governador Sérgio Cabral não brigará com Lula por causa disso. Mas pode ser que, dependendo ao andar da carruagem, se torne eleitoralmente inviável para ele festejar excessivamente a candidatura presidencial de Dilma Rousseff no Rio.

Oficialmente, governador e adjacências acreditam na justificativa de que o Congresso é soberano e na promessa do veto presidencial à emenda Ibsen Pinheiro.

Na vida real ficou com a sensação de que lhe retiraram a escada e Cabral ficou pendurado no pincel. Lula conseguiu o que lhe interessava, mudança do modelo de concessão para partilha e criação de nova estatal, deixando o Rio entregue à falta de articulação.

Se a situação de Cabral é constrangedora, a de Lula pode ficar desconfortável no terceiro colégio eleitoral do País, sendo que o primeiro e o segundo (São Paulo e Minas) estão nas mãos da oposição. No Palácio Guanabara não foi bem visto o telefonema dado pelo chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, depois da votação para garantir que Lula vetará a emenda.

Um gesto mais bem recebido, correspondente à fidelidade que Cabral dedica a Lula, teria sido uma ligação pessoal do presidente, propondo algo a mais que o veto presumido.

Se a Câmara deu votos para aprovar a emenda, pode perfeitamente dar votos para derrubar o veto.

Hoje o governo do Rio gostaria que o Palácio do Planalto fizesse duas coisas: retirasse a urgência constitucional para a votação do ponto relativo à partilha dos royalties e trabalhasse pelo adiamento da votação no Senado para depois das eleições.

Agora não há clima para se discutir nem negociar nada com racionalidade.

A pedido do governador Sérgio Cabral, o senador Francisco Dornelles entrou no jogo com a missão de desarmar a bomba por enquanto.

Articula-se também com o presidente do Senado, José Sarney, a procrastinação da entrada do assunto em pauta.

Lula até agora não deu sinal algum de que fará algo além da promessa do veto. Ao contrário.

Ontem mesmo disse que esse tema é "problema do Congresso".

O risco de o eleitorado se voltar contra o governador Sérgio Cabral, por ter se fiado só na palavra do presidente, é grande.

Na proporção direta da tentativa de neutralizar o potencial malefício mobilizando a população "em defesa do Rio". Saiu na frente, antes que na oposição atribua a ele a responsabilidade de ter levado o assunto para o campo da amizade com Lula.

Antes que o eleitorado perceba que a emenda Ibsen Pinheiro só prosperou porque o governador e o presidente permitiram.

Ibsen é do PMDB, o maior parceiro do governo federal. Henrique Eduardo Alves, que incluiu como relator a emenda na proposta final da alteração da mudança nas regras de exploração do petróleo, é líder do PMDB na Câmara.

Ao PMDB pertence o governador Sérgio Cabral.

Ninguém viu o que se passava, ninguém falou com ninguém.

Haverá consequências político-eleitorais?

Depende. Se o eleitorado fluminense continuar fazendo o gaúcho Ibsen de Judas, o governador seguirá no papel de herói.

Mas se a percepção se apurar ao ponto de as pessoas enxergarem a existência de um erro de origem que foi deixado prosperar, Lula, Cabral e Dilma podem se tornar os vilões da execução de um plano que abriu espaço para a emenda que arruína o Rio.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Dividir para multiplicar 

O Estado de S.Paulo - 19/03/2010


Na disputa de Belo Monte, cujo edital saiu ontem, a Eletrobrás decidiu: vai formar dois grupos de subsidiárias.

Para quê? Para que cada um negocie com os dois consórcios competidores. No primeiro grupo entram Chesf e Eletronorte. No segundo, Eletrosul e Furnas.

E quais são os grupos privados? Na primeira turma estão Camargo Corrêa, Odebrecht, CPFL e Braskem. Na segunda, Andrade Gutierrez, Vale, Votorantim.

É briga pra cachorro grande nenhum botar defeito.
Antiantibiótico

A Anvisa abre nova frente contra o setor farmacêutico. Vai exigir que os antibióticos sejam incluídos na lista de "medicamentos controlados", ao lado de anfetaminas e psicotrópicos.
Sem açúcar

Não será doce a vida do pai da lei do pré-sal, quando visitar o Rio de Janeiro.
Além de medalha cassada, Ibsen Pinheiro deve virar, por lei da Câmara, persona non grata na cidade.
Grão em grão

A candidata ganhou ontem novo aliado: o nanico Partido Pátria Livre. É o antigo MR-8, já separado de Quércia.
Duas rodas

Aldemir Freitas, líder dos mototaxistas, quer "parar São Paulo" semana que vem.
A categoria não engole a decisão de Kassab de proibi-la de circular em várias regiões, como 23 de Maio e via expressa da Marginal Tietê.
Fé para todos

São Paulo ganha igreja para homossexuais. Marcos Gladstone e seu parceiro Fábio Inácio (ex-Universal), pastores, procuram imóvel para a Igreja Contemporânea Cristã.
Rango Brasilis

Negócio fechado nos bastidores da Fórmula Indy.

Seven Eleven, rede americana, acertou vender produtos brasileiros lá fora.

Site do site

O novo contrato de publicidade de R$ 17 milhões, da Câmara paulistana, inclui a criação de site com notícias sobre projetos e CPIs.

Seria bom se já não existisse um site similar, que custa R$ 600 mil por ano. "O atual exibe projetos e contratos de modo burocrático e é de difícil compreensão", avisa Dalton Silvano, autor da lei.

Reformular o já existente, nem pensar.
Serra neles
A legião dos fumantes brasileiros tirou o atraso em Israel. Como o cigarro não é proibido por lá, encheram salas e restaurantes de fumaça de cigarro.

À turma de não fumantes restou... Nada.
Bolo e comício

Ideli Salvatti faz festa dupla sábado, em Florianópolis. A noite, celebra o aniversário.

Mas antes, de manhã, lança pré-candidatura

Limpa-pista

O Galeão convocou um assustador falcão para espantar urubus que atrapalham as decolagens.

Tem ares de ave predadora, mas é um robozinho voador, que está sendo testado nos intervalos dos voos.
Back to 80"s
Quem não desgrudou de Axl Rose durante sua passagem pelo Brasil foi Ellen Jabour.
Depois de bancar sua tradutora no show em SP, a modelo ganhou passe livre do roqueiro. Embarcou com o Guns N" Roses para Porto Alegre e circulou no backstage.
Na frente

Turma de peso na Casa do Saber. Jair Ribeiro conversa com Roberto Setubal, Pedro Moreira Salles, Fabio Barbosa, André Esteves, Luiz Carlos Trabuco e Fernão Bracher. No curso Grandes Banqueiros, a partir de abril.

Nizan Guanaes comanda, segunda, almoço para Wim Elfrink, da Cisco.

Fatima Sampaio Moreira lança biografia sobre seu marido, Cid Moreira, na Saraiva do Morumbi. Terça.

Já tem tucano fazendo corruptela com slogan histórico do PT: BancooPTei.