quarta-feira, março 10, 2010

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO


Meia-sola na exportação
O Estado de S. Paulo - 10/03/2010

O governo quer ver os dólares da exportação entrando em grandes volumes no Brasil, mas não se dispõe a montar uma política séria de comércio exterior. Neste momento, funcionários do Ministério da Fazenda estudam mais um expediente ? mais um remendo, de fato ? para facilitar as vendas externas e estimular mais empresários a buscar o mercado estrangeiro. A preocupação é oportuna. O superávit comercial acumulado até a primeira semana de março, US$ 727 milhões, é 50,9% menor que o de igual período do ano passado.

Com a retomada do crescimento econômico, a importação volta a aumentar mais velozmente que a exportação. Essa era a tendência em 2008, antes do primeiro impacto da crise internacional. Com a retração das atividades, a procura de bens importados perdeu impulso no ano passado, mas essa fase terminou.

Agora, especialistas estimam para 2010 um saldo comercial de apenas US$ 10 bilhões, menos que metade do alcançado em 2009. Para 2011 a projeção é muito mais baixa: US$ 3 bilhões, embora a expansão econômica prevista deva recuar de 5,5% neste ano para 4,5% no próximo.

A forte redução do superávit comercial seria muito menos preocupante se o país não fosse deficitário na conta de serviços. Essa conta inclui o pagamento de juros e a remessa de lucros e de royalties, além dos gastos com viagens, seguros e fretes. Por isso, quanto menor o saldo comercial, maior o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. Para 2010 os técnicos do mercado financeiro projetam um buraco de US$ 52 bilhões. Para 2011, a expectativa é de um rombo de US$ 60 bilhões. Estima-se que o investimento estrangeiro direto ficará em US$ 38 bilhões neste ano e em US$ 40 bilhões no próximo. Será insuficiente, portanto, para compensar o desequilíbrio na conta corrente e a cobertura dependerá de financiamentos mais caros.

Nenhuma dessas projeções configura um desastre iminente, mas a redução da segurança para o crescimento econômico é indiscutível. Se os números efetivos, neste e no próximo ano, ficarem próximos dos valores estimados, o País ficará muito mais vulnerável a qualquer piora do humor no mercado financeiro.

A mera percepção do novo quadro brasileiro poderá afetar suas condições de financiamento. O Brasil atravessou a crise sem danos muito graves e isso se deveu em boa parte à sua imagem de solidez. Uma piora de imagem poderá ter um custo elevado para o País.

A melhor maneira de evitar esse risco é promover desde já um forte aumento das exportações. Essa política seria desejável mesmo se as projeções das contas externas fossem mais favoráveis do que têm sido nos últimos meses. Essas projeções são, no entanto, mais um forte argumento a favor de uma política bem mais eficiente de comércio exterior.

O governo estuda a ampliação do conceito de "empresa preponderantemente exportadora". Para entrar nessa categoria, uma empresa precisa obter no comércio exterior pelo menos 60% de seu faturamento. Isso lhe permite comprar insumos sem recolher PIS-Cofins. As outras companhias são obrigadas a recolher o tributo. Têm direito a uma compensação, quando exportam, mas podem levar até cinco anos para receber de volta o dinheiro. A ideia é reduzir aquela exigência para 40% do faturamento.

Uma política racional eliminaria os encargos tributários sobre a exportação. Isso implicaria uma liberação imediata do crédito tributário. Mas seria preciso ir além. No Brasil, paga-se imposto para investir em máquinas e equipamentos. Isso não tem sentido, quando se trata de promover a competitividade.

Uma política bem concebida enfrentaria esses problemas de forma clara e direta e promoveria ações mais eficientes para a modernização da infraestrutura. O governo federal tem sido incapaz de cumprir essas tarefas, apesar do falatório sobre desoneração fiscal e obras do PAC. Para atuar nessas frentes, no entanto, o governo deveria conter os gastos improdutivos e melhorar consideravelmente a gestão do dinheiro público. Mas como poderia, nesse caso, favorecer os companheiros e praticar o populismo?

BAR ZIL

RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ


A utopia arcaica
O Estado de S. Paulo - 10/03/2010

Tomarei emprestado o título de uma obra de Mario Vargas Llosa para intitular o meu comentário. Foi criada, na passada reunião do Grupo do Rio, no México, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), com a finalidade de incomodar o presidente Barack Obama, que tem deixado claro que os latino-americanos devem encarar os seus próprios problemas, sem pretender que os Estados Unidos ou os demais países desenvolvidos os equacionem. É uma atitude imatura de quem não quer abrir mão das vantagens da casa paterna, mas deseja fazer uso da sua liberdade, evidentemente, quando lhe convém. A proposta de criação de tal organismo foi do presidente mexicano, Felipe Calderón, sendo aceita imediatamente pelos mandatários presentes. A primeira nota da nova organização consistiu em deixar do lado de fora os Estados Unidos e o Canadá. Qual teria sido o critério dessa exclusão? A meu ver, de pura e simples retaliação e de complexo de inferioridade. Não podem participar de um foro que abrigue as Américas os países que tenham chegado ao Primeiro Mundo. O único a se opor a essa maluca exclusão foi o presidente colombiano, Álvaro Uribe. Mas ficou em minoria e ainda teve de responder com firmeza aos grosseiros ataques de Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.

O Brasil, como é de praxe no atual governo, assumiu uma posição ambígua, pois em outros foros quer aparecer como membro dos países que deixaram para trás o subdesenvolvimento. Mas, nessa oportunidade, Lula não perdeu a chance de aparecer na foto como um dos que apregoam o discurso terceiro-mundista. A retórica do mandatário brasileiro foi lamentável. Centrou as suas reivindicações na solidariedade à presidente argentina, Cristina Kirchner, diante da questão das Ilhas Malvinas. Como se tal reclamação tivesse algum sentido, justamente quando o governo de Buenos Aires afunda na corrupção do enriquecimento ilícito, praticado à luz do dia pelo casal presidencial. Lula dançou o ridículo tango orquestrado pela Casa Rosada em período de crise. Algo bem diferente da sóbria atitude da diplomacia brasileira quando o bebum Leopoldo Galtieri, 28 anos atrás, afundou o seu país numa guerra suicida, como saída para a corrupção e a ingovernabilidade em que naufragou o regime militar argentino.

Um organismo paralelo à Organização dos Estados Americanos (OEA), mas sem contar com os países mais desenvolvidos do Hemisfério. Os quais, diga-se de passagem, garantem aos latino-americanos boa parte das compras dos seus produtos. No caso das relações do Canadá com Cuba, os canadenses abriram as portas ao comércio com a ilha, permitindo ao regime dos irmãos Castro superar de forma limitada o bloqueio estadunidense. Neste último aspecto, ao excluir o Canadá, foi desastrosa a participação dos cubanos na criação do organismo paralelo.

É explicável a raiva de alguns governos da região em face dos Estados Unidos: estes pagam 60% das contas da OEA. Raiva típica de adolescente imaturo. Vamos ver como os fundadores da nova entidade vão pagar as contas da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Pois, ao que tudo indica, alguns deles não gostam de arcar com os gastos desses organismos. Só mostram interesse quando podem auferir vantagens imediatas. É claro que a posição da OEA ficou muito enfraquecida ao longo da insossa gestão de José Miguel Insulza, que se dobrou ao critério do politicamente correto a fim de não desagradar aos "progressistas" Chávez e dueto Castro. Nos episódios que tiveram lugar em 2008, diante do bombardeio, pelo Exército colombiano, do acampamento das Farc no Equador, a OEA foi praticamente nula. O secretário-geral Insulza não queria desagradar, de jeito nenhum, aos dois governos que estavam cercando a vizinha Colômbia, ao homiziar incondicionalmente os traficantes-guerrilheiros nos seus respectivos territórios.

Desaparecerá a OEA? Possivelmente, não. Respondo alegando três razões.

Em primeiro lugar, porque a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos é apenas em esboço e a OEA, apesar dos pesares, é uma entidade que funciona há várias décadas e presta serviços aos seus membros nos terrenos educacional, cultural, jurídico, de saúde pública e de obras de infraestrutura.

Em segundo lugar, porque, cedo ou tarde, os vários países fundadores da nova comunidade vão perceber a necessidade de lhe dar rumos positivos, a fim de não deixá-la cair nas garras dos ditadores comunistas que querem alastrar o seu regime às restantes nações latino-americanas e caribenhas. Refiro-me aos irmãos Castro e a Chávez. Não há dúvida de que o modelo pelo qual este optou, na sua "revolução bolivariana", é o comunismo. O fanfarrão de Caracas já o tem anunciado de forma clara. E tanto ele quanto os tiranos cubanos preferirão ver reduzida a cinzas a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos se perceberem que não a podem dominar hegemonicamente, como é do gosto dos dirigentes marxistas-leninistas.

Em terceiro lugar, porque os Estados Unidos e o Canadá continuarão negociando os seus tratados bilaterais de livre-comércio com os países da região, como já fizeram com o Chile e o Peru e estão fazendo, em fase final de negociação, com a Colômbia e vários países centro-americanos, ademais da vinculação do México ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), que ainda permanece em pé, apesar da crise financeira internacional.

Conclusão: a criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos tem mais a aparência de uma "utopia arcaica", construída olhando pelo retrovisor da História de protecionismos, preconceitos e autoritarismo, herdada da nossa ancestral tradição contrarreformista.
Ricardo Vélez Rodríguez é coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) 

NELSON DE SÁ - TODA MÍDIA

Agora, Hollywood


FOLHA DE SÃO PAULO - 10/03/10



No dia seguinte ao anúncio da retaliação pelo Brasil, a Reuters destacou a crítica da Câmara de Comércio dos EUA ao governo Obama, por não evitar a decisão brasileira. Citando outros casos, o lobby empresarial disse que, "para o bem dos trabalhadores americanos, não podemos permitir que surja um padrão em que a inação de Washington arrisque emprego".
A AFP acrescentou que o senador republicano Mike Johanns, ex-secretário da Agricultura, alertou contra a "escalada" na disputa comercial: "Vocês ficariam chocados com quanto apoio internacional o Brasil conta. Se formos nesta direção [da escalada], o Brasil terá muitos amigos". Por outro lado: "Preparem-se, eles vão pegar os setores mais sensíveis".

Por fim, a Bloomberg noticiou, sob o título "Brasil vai mirar filmes americanos", que, segundo uma fonte no governo brasileiro, o país já "planeja violar direitos de propriedade intelectual de cinema".
O PRIMEIRO
Com a foto acima e a manchete "Escolhendo uma briga", a home da "Economist" destacou a retaliação como mais um passo na longa disputa. Mas sublinhou que, se chegar aos "direitos intelectuais", como ameaça, "o Brasil será o primeiro a fazê-lo" com "permissão da OMC".
SEM GUERRA
Em manchete, a Folha Online noticiou ontem que, segundo o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento), o secretário do Comércio dos EUA "disse que não interessa ao seu país entrar em guerra comercial com o Brasil".
EM BREVE
Também em destaque, o Valor Online postou ontem que o secretário Gary Locke "garantiu que, em breve, o governo de Barack Obama fará uma boa proposta de negociação com o Brasil em torno do caso".
"TERRORISMO"
No "JN" de anteontem, "imposto pode ter impacto sobre preço de pães". No "Jornal da Globo", "pãozinho de cada dia pode ficar mais caro". E por aí foi, até o ministro da Agricultura responder, por toda parte, que "falar em aumento do pãozinho é terrorismo"

LULA E A GUERRA
A americana Associated Press fez longa entrevista com Lula. Nos primeiros despachos, "Silva para de fumar após 50 anos" e "Presidente faz planos para a final da Copa". Depois, no texto reproduzido por "New York Times" etc., "Silva diz que sanções ao Irã são perigosas".
Nas palavras do próprio: "Nós não queremos repetir no Irã o que aconteceu no Iraque. Não é prudente para o mundo... Uma guerra tem de ser evitada a todo custo. A quem interessa uma guerra?". No Brasil, o despacho ecoou sob outro foco, "Greve de fome não é válida para libertar dissidentes, diz Lula", na manchete on-line de "O Estado de S. Paulo".
"NYT" E O IRÃ
O jornal americano vem publicando uma escalada de reportagens sobre o risco iraniano. No título do dia, "Para o Irã, enriquecer urânio é cada vez mais fácil".
O PRIMEIRO
A agência de notícias JTA, judaica, destacou ontem a viagem de Lula ao Oriente Médio, na semana que vem. "Será o primeiro presidente brasileiro a visitar Israel."
DA CIA
A agência indiana PTI despachou e os sites dos jornais do país destacaram que, ontem em Washington, o diretor da CIA, Leon Panetta, "alertou a Índia e o Brasil de que os dois países enfrentam 'ameaças crescentes' da Al Qaeda e do Taleban, indicando a necessidade de uma cooperação maior na troca de inteligência".
Isso, afirma o órgão americano, "embora os grupos terroristas estejam em fuga devido à extrema pressão exercida no Afeganistão e no Paquistão".

DORA KRAMER


O poder ou o desterro


O Estado de S. Paulo - 10/03/2010
 
Nesta altura ninguém tem mais dúvida de que o candidato do PSDB à Presidência da República será o governador José Serra, inclusive porque o partido já marca data (entre 22 e 30 de março) para o anúncio que marcará a saída dele do governo de São Paulo para entrar na campanha presidencial.
À exceção de Ciro Gomes – que continua apostando na desistência –, de seu conterrâneo, o senador pelo Ceará Tasso Jereissati, e de meia dúzia de mineiros mais realistas que o rei, não há, nem no PT, quem ponha em dúvida a candidatura Serra.
De Ciro compreende-se a tática. É desafeto de Serra e vice-versa. Está no PSB, é aliado do campo governista. Joga, portanto, no time adversário. Já a posição do senador Jereissati e de alguns correligionários do governador Aécio Neves é mais difícil de entender. Se Serra ganhar, ganham junto. Se perder, serão sócios do infortúnio de viver mais quatro, talvez oito, quiçá 12 ou mesmo 16 anos (se Lula voltar) na oposição.
O PT viveu 22 e só fez crescer, atingindo o ápice com a conquista da Presidência da República em 2002. Mas o caso do PSDB e adjacências é diferente. Há sete anos provam e comprovam que não têm vocação para opositores.
Hoje é fácil responsabilizar a popularidade de Lula e os métodos francamente questionáveis que adota, fazendo política partidária no exercício da Presidência do País.
Mas nem sempre foi assim. Lula já esteve em baixa ao ponto de cogitar a desistência de concorrer à reeleição. O presidente tem seus méritos na recuperação, mas seus oponentes jamais souberam se posicionar de modo a representar o contingente de cidadãos que discordam do governo.
Em 2006 – para não falar do quase fundo do poço do ano anterior – a situação não era assim tão risonha e franca para Lula. Com toda sua celebrada competência política foi ao segundo turno com Geraldo Alckmin, um político de expressão apenas regional quando se lançou à empreitada.
Com essas características, os atuais oposicionistas não são exatamente candidatos ao estrelato na política caso percam as eleições agora. Na verdade, é unanimidade entre eles que a expectativa é das mais sombrias. Há mesmo quem preveja, nessas circunstâncias, o fim da oposição no Brasil e a instituição de uma hegemonia partidária ao molde do antigo PRI mexicano.
Muito bem, nesse quadro seria de se supor que seja com José, Pedro ou João, a oposição estivesse interessada em ganhar.
O PT está. Pragmático, entendeu a ordem unida e se fechou em torno de Dilma Rousseff com unhas, dentes e uma garra que contrastam com o comportamento do tucanato.
Quem vê pensa que estão com a vida ganha.
O governador José Serra não necessariamente está correto em sua estratégia de manter em suspenso a candidatura até o prazo final da lei para deixar o governo de São Paulo.
Se tiver errado, como alega parte considerável de seus correligionários, pagará o preço com uma campanha dificílima ou com a derrota.
Entretanto, a 15 dias do desfecho essa é uma Inês morta. Se houve erro ou acerto governador candidato, isso aparecerá no decorrer da campanha. Agora não adianta mais discutir se a estratégia é ou não uma “loucura sem sentido” como diz o senador Tasso Jereissati.
Do ponto de vista da oposição, não é um atitude que a favoreça. Ao contrário. O PT pode até não morrer de amores por Dilma, mas a enaltece porque é no porto dela que estão atracados todos os barquinhos.
No PSDB, os resistentes parecem fazer questão de explicitar sua desafeição pelo candidato de cujo sucesso depende o destino de todos eles: o poder ou o desterro.
Isso serve para o senador do Ceará e serve também para o entorno do governador Aécio Neves, de onde ainda saem versões sobre uma possível desistência de Serra.
Contraproducentes, pois “Minas” assim como a compreende esse grupo terá tão mais importância no cenário nacional quanto maior for a possibilidade de êxito do candidato do partido.
Da mesma forma para o lugar a ser ocupado por Aécio Neves na política como futuro pretendente ao Palácio do Planalto.
Pedigree
A necessidade do presidente Lula de assinalar o desnível de hierarquia entre ele e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, a quem diz ter recebido apenas para fazer um favor ao chanceler Celso Amorim, revela mais que descortesia.
É a contrafação do complexo de vira-lata materializado no complexo de pit bull.
Ato falho
No texto de ontem sobre a irrelevância da origem do dinheiro de obras para cujas inaugurações a ministra Dilma Rousseff seja convidada, pois a impropriedade nessas ocasiões reside no uso da máquina pública em prol de uma candidatura, houve troca de palavras.
Onde se leu “na condição de mera candidata não haveria nada demais na presença da ministra”, leia-se “mera convidada”.

ROBERTO DaMATTA

Uma fábula do reino de Jambon


DIÁRIO DO NORDESTE - 10/03/10
A borra, diziam, era coisa muito séria para ser explorada pela iniciativa privada. Um acirrado debate desembocou na campanha "a merda é nossa!" e o excremento, finalmente politizado, valorizado e devidamente indexado e quantificado, passou a ser o grande tema nacional

Um alquimista descobriu como transformar merda em metais preciosos. Com isso, os habitantes de Jambon começaram a obrar ouro por fezes. Cada qual recolhia suas porcarias e comprava escravos, gado, automóveis de luxo, plantava cana e comia pernis regados a vinhos de boa cepa.

A enorme obradeira virou imponente riqueza e globalizou-se. Pesquisas realizadas pelo Center for Shit Research da Universidade de Harvard e pelo Bureau de la Recherche de la Merde da Sorbonne constataram que enquanto um bem alimentado milhardário americano ou um inteligentíssimo filosofo francês produziam um pobre cocô, qualquer cidadão (mas sobretudo os nobres e os políticos) de Jambon produzia um excremento de incomparável teor de riqueza. Para desconsolo de uma elite que sempre achou o nacional inferior, descobriu-se que não havia no mundo nenhum excremento superior ao de Jambon.

A perspectiva de uma riqueza para todos - afinal, defecar é universal - promoveu, porém, controvérsia. Foi interpretada como uma "paradoxal contradição que liquidava a desigualdade". Deste modo, os entendidos em merda realizam um plebiscito que estatizou a bosta. Ela foi centralizada numa grande estatal que controlava as ambições dos empresários e cuidava da porcaria dos pobres, impedindo-os de desperdiçar suas cagadas que, reunidas num fundo, eram distribuídas para todos como parte de um grande tesouro nacional. Com isso, o governo reiterava seu compromisso com a salvação pátria e com a promoção do altruísmo. A borra, diziam, era coisa muito séria para ser explorada pela iniciativa privada. Um acirrado debate desembocou na campanha "a merda é nossa!" e o excremento, finalmente politizado, valorizado e devidamente indexado e quantificado, passou a ser o grande tema nacional.

Criou-se o programa "Merda-nostra" e um superdisputado Ministério da Merda, governado por um irmão do próprio rei de Jambon, pois um cargo de tal responsabilidade só poderia ser ocupado por "alguém de confiança!" Institucionaliza-se o lema pátrio: "Cagar é a melhor política". Nacionaliza-se a bosta e, em seguida, o Comitê dos Sábios Nacionais separa por decreto o cagar do defecar. O primeiro era obra dos destituídos, o segundo seria uma exclusividade da classes superiores, dos que têm biografia e dos membros do partido, cujas fezes eram trocadas por títulos do Tesouro e, depois, cambiadas por ouro na Bolsa da Merda que, a essas alturas, apostava num extraordinário mercado futuro que iria redimir o país de todas as suas mazelas.

Um amplo esquema de corrupção fecal, entretanto, insinuou-se nos intestinos do governo. Ele sustentava um clube de corruptos merdosos que enriquecia cada vez mais os administradores do excremento que, junto dos seus compadres, amigos e parentes, lucravam com a centralização da bosta nacional. Esse nepotismo de bosta jamais cessou mesmo quando um novo governo implementava novos marcos exploratórios e critérios para a divisão das cotas do cocô entre os diversos ducados. Mas apesar de medidas distributivas, a merda continuava concentrada, como demonstrou empiricamente, por meio do "índice da kaca", um professor catedrático especializado em bosta da Universidade de Stanford,

Veio então o "Crise da Bosta" quando outras nações conseguiram produzir industrialmente a imundície. Dilacerado por coalizões intestinas, Jambon assiste à falência do seu Estado que, àquelas alturas, já havia transformado todos os seus habitantes em clientes do bosta-governo. Usando dos seus tradicionais laços fisiológicos os políticos aumentavam privada e legalmente o valor das cagadas. Uma hiperinflação excremental atinge o país, fazendo aquela economia de merda entrar na fossa. Muda-se o regime, congelam-se os preços das cagadas e os estoques de titica nacional.

Jambon chega ao fundo da latrina. Gradual e lentamente, os cidadãos comuns, cognominados de "cagões", começaram a controlar a fedentina, retomando o usual, mas legalmente proibido hábito de puxar a descarga. Chegou-se à conclusão de que era preciso limitar e punir a produção de merda e obrar mais responsavelmente.

PS: Estou informado que esta continua sendo a grande discussão do Reino de Jambon. Enquanto isso, as pessoas vão levando suas vidas, comendo e descomendo o pão amargo de cada dia. Vez por outra tomam o choque de saber que crianças não têm escola porque o governo continua preocupado com o tamanho das latrinas, os empresários querem vender mais caro o papel higiênico e o povo, bem, o povo continua com uma insuportável dor de barriga.

Nota final: Essa história me foi contada pelo Sebastião Azambuja (o Sabá) debaixo do testemunho do Emmanuel Plumbio Dias e eles não têm nada a ver com essa versão que - obviamente - não guarda nenhuma semelhança com países, fatos e pessoas vivas ou mortas, sendo inteiramente ficcional e fantasiosa.

INAUGURAÇÃO DE PEIDO

PAULO RABELLO DE CASTRO


O direito de investir no pré-sal


Folha de S. Paulo - 10/03/2010
 
Devemos permitir que todo participante do FGTS possa adquirir ações da Petrobras, até o que não investiu em 2000

NA SEMANA passada, a Câmara votou a favor da participação do trabalhador-investidor na próxima capitalização da Petrobras, em razão da captação de enormes recursos para a exploração do óleo do pré-sal. Nesta coluna, protestei contra a posição anterior dos deputados que ainda pretendiam excluir o trabalhador do direito de subscrever novas ações. O erro dos parlamentares era elementar: quem já usara seu FGTS para comprar ações em 2000, quando a Petrobras fez uma grande captação em Nova York, permitindo que brasileiros também participassem daqui, tem direito de voltar a investir, até para não ser diluído como investidor.
A matéria segue para o Senado, onde espero que seja aperfeiçoado o dispositivo que faculte aos brasileiros deterem um pedaço da empresa que os políticos afirmam "pertencer ao Brasil". Esse pertencimento tem que ser mais do que uma vaga noção patriótica. Deve se traduzir na posse democratizada dos ativos tangíveis do país.
Essa é uma luta contra os arquétipos escravagistas ainda arraigados em nossa brasilidade exclusivista. Desde Joaquim Nabuco, e antes dele, muito se lutou para que brasileiros fossem detentores, pelo menos, de sua própria vida e liberdade. Hoje, a luta é contra a escravidão econômica: o capital intelectual do país se distribui mal, pela exclusão educacional e digital; o capital imobiliário, pior ainda (o brasileiro mal descobre o direito à propriedade); e o capital acionário está concentrado em poucas mãos.
O FGTS nada mais é que um engenhoso fundo de acesso ao capital social, lançado pioneiramente nos anos 60. Precisa ser modernizado com a aplicação de meios diversificados de fomento ao trabalhador para este começar a investir no capital corporativo.
O Senado deve rever, ampliando seu escopo, o direito de participação dos detentores de FGTS na emissão que capitalizará a Petrobras. Mesmo quem não comprou antes tem o direito de investir agora. Devemos permitir que qualquer participante do FGTS, mesmo não sendo detentor de cota do FMP-Petrobras, possa adquirir ações. Não há razão para excluir o trabalhador que não investiu em 2000. Já esclareci nesta coluna por que a maioria dos trabalhadores de chão de fábrica NÃO utilizou seu FGTS em 2000. Na ocasião, fomos ao encontro de diversos grupos de trabalhadores para esclarecer sobre a boa oportunidade de comprar Petrobras com FGTS. Mas o governo só nos concedeu 20 dias para esclarecer uma ideia tão nova e aparentemente tão perigosa. Resultado: uma minoria adquiriu Petrobras.
É o que os especialistas chamam de "assimetria informacional". Num universo de milhões de contas de FGTS, só 300 mil (os empregados de escritórios, mais informados) investiram. A exclusão persistiu e persiste até hoje. Ainda não houve a esperada democratização do capital produtivo.
Dessa vez, o Senado deve estabelecer um adequado período de disseminação da informação sobre essa oportunidade de investimento. Essa é a grande chance que temos de resgatar o prejuízo histórico no FGTS, do trabalhador que, por décadas a fio, foi tão mal remunerado pela poupança obrigatória que fez. A campanha de esclarecimento pode ainda contar com parceiros privados, como a BM&FBovespa, engajada há tempos na luta por democratizar o capital acionário. É em situações práticas como essa que se mede a real disposição de nivelar as oportunidades de ascensão econômica entre todos os brasileiros.

PAULO RABELLO DE CASTRO , 61, doutor em economia pela Universidade de Chicago (Estados Unidos), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna

ANTONIO DELFIM NETTO


BC e produto potencial

FOLHA DE SÃO PAULO -  10/03/2010


QUALQUER CIDADÃO que tenha alguma intimidade com o "chão da fábrica" sabe que, não importando a natureza e a sofisticação do controle, toda organização tende a acomodar-se num padrão de produção que, em condições normais de temperatura e pressão, dá relativo conforto aos seus participantes.
Quando solicitada (por uma variação externa), a organização aumenta (temporariamente) o nível de esforço para responder à pressão. Quem tiver dificuldade em aceitar esse fato (mesmo que seja um economista acadêmico fechado em seu universo de meditação) basta dar um olhar relativamente crítico ao seu entorno (e introspectivamente em si mesmo!) para introjetá-lo. Essa é uma velha "descoberta" (de 1966) do arguto economista Harvey Liebenstein. A esse nível de acomodação ele deu o nome de X-Eficiência.
Como é evidente, a existência desse fato lança sérias dúvidas sobre o uso apropriado do conceito de "função de produção" e sobre a teoria marginalista de distribuição nela implícita. A dúvida torna-se ameaçador pesadelo quando se tenta agregar as funções microeconômicas ao misterioso agregado a que se dá o nome de "produto potencial". E o ameaçador pesadelo torna-se uma realidade horrorosa quando usamos cegamente tal conceito para determinar a taxa de juro Selic (que ainda supõe conhecida a fugidia taxa de juro real de "equilíbrio") para manter a inflação na meta politicamente estabelecida.
Tem toda razão o ministro Henrique Meirelles, ilustre presidente do Banco Central ("Valor Econômico", 26/02/2010), quando afirma: "Não sabemos qual é o produto potencial do Brasil neste momento (...), porque ainda não há dados suficientes para analisar qual é o potencial de crescimento da economia hoje e onde vai se estabilizar a partir de 2011. O PIB potencial aumentou bastante entre 2002 e 2008".
Cuidadoso, acrescentou: "No processo de recuperação da economia, assim como num determinado ano se operou abaixo do potencial, é possível operar em alguns momentos acima do potencial". E, fazendo o velho "hedge", concluiu precavido: "A extensão desse período, e se isso é homogêneo nos diversos setores da economia, é outro problema. Não se pode fazer esse cálculo de forma simplista. Há uma série de outros fatores que precisam ser analisados".
É exatamente isso o que se espera da reunião do Copom de 15/16 de março. Seria pedir muito que cada membro revelasse por escrito os fundamentos do seu voto?

ARI CUNHA


Perigo é a propagação


Correio Braziliense - 10/03/2010

Assembleia Legislativa do Paraná aprovou determinação pela qual a PM deve ficar à disposição do ex-governador quando deixar o mandato. A causa foi aprovada por motivos pessoais do governador Requião. Como tudo no país passa a ser lei nos municípios em suas câmaras, a dúvida é se assembleias de outros estados resolverem pegar o peão à unha e trazer para si essas vantagens. A Polícia Militar no país ia destinar boa parte do efetivo para efeito de segurança privada. Muitos assentos já tem garantido hoje. Se a moda pega, vai ser um estrago. O natural seria que os vencimentos excedentes dos mandatos pudessem ser usados para esse fim. Na dúvida fica sempre o olho grande em busca de vantagens com o dinheiro fácil. São muitos governadores e mais de 5 mil câmaras municipais. O cofre está sofrido. Economia ainda é o recomendável.


A frase que não foi pronunciada
“Procuram-se escravos da própria consciência.”
» Cartaz imaginário do eleitor para as próximas eleições.


Retaliação

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Vencendo nos órgãos universais, o Brasil tem o direito de retaliar a compra de produtos americanos. O direito foi concedido pela Organização Mundial do Comércio depois de muitos anos de estudos. A sugestão do bom senso não é retaliar. Caminho certo é do entendimento, ainda mais se considerarmos que os EUA estão passíveis de aceitar. No caso do algodão, melhor o entendimento já que há outros mercados no mundo.
Violência

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Uso de armas, algumas potentes, contra o povo encontra o cidadão sem direitos nem defesa pessoal. Pinimbas como no combate ao tóxico dão sucessão a muitos fatos. O caso é que os bandidos são tão bem armados quanto a segurança pública. A paz é difícil, porém mantida como determinação é caminho aceitável.
Dia da Mulher

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A grande esquecida no Dia Internacional da Mulher foi precisamente a senadora Marina Silva. Líder mundial dos direitos da mulher, foi guardada num canto, já que não é aceito o seu valor pelo governo federal. Saiu do PT no qual era rainha. É candidata à Presidência da República contra a do presidente Lula. O povo saberá lhe dar o valor merecido por suas atuações.
Ficha limpa

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Tendo ou não condições morais de representar o povo, a ficha dos candidatos é “limpa” para todos. Isso de invadir cofres públicos ou particulares vai terminar quando, preso, o cidadão entregar o dinheiro roubado ao governo. Liberdade a partir daí, sem direito a contestação. A dos nossos dias recomenda que, roubando e contando com a morosidade da Justiça, está tudo certo.
Greve

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Metroviários de Brasília vão paralisar os serviços na próxima segunda-feira. Isso se o GDF não atender o compromisso firmado. Salários baixos e responsabilidades altas não condizem com os maus-tratos governamentais. Atendidos, a paralisação será suspensa.
Negligência

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Descaso total com a terceira idade. Os aparelhos quase novos para exercícios físicos instalados no Parque Olhos D’água estão quebrados há meses sem que se tome providência.
Abuso

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Vale o registro da falta de respeito com o público candango. O grupo Guns’n’ Roses marcou no Ginásio de Esportes o show para as 20h no domingo. Apesar do alto preço dos ingressos, o grupo só pisou o palco à meia-noite. Se não for cláusula de contrato firmando compromisso com os fãs, o abuso tende a continuar.
Novidades

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Enquanto a reformulação do Código de Processo Civil estimula discussões por todo o Brasil, o Código Penal e Processo Penal são analisados pelo Conselho Nacional de Justiça. O Plano de Gestão vai trazer novidades, como o pagamento de fiança a todos os crimes, negociação das penas e incentivos fiscais a empresas que contratarem ex-detentos.
Consume dor

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Cristina Mendes reclama do laboratório Janssen Cilag. De repente parou de produzir o medicamento controlado Semap, para casos psiquiátricos. Era um remédio que custava pouco e controlava o paciente. A leitora pergunta se não há regras para laboratórios estrangeiros tomarem uma decisão dessas, já que não há remédio similar no mercado com o mesmo princípio ativo.
História de Brasília

O plantão permanente de 24 horas no serviço de comunicação dos ministérios não está sendo obedecido por todas as secretarias presidenciais. (Publicado em 26/2/1961)

FERNANDO RODRIGUES

Hipocrisia eleitoral
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/03/10BRASÍLIA - Lula, Dilma Rousseff e vários aliados governistas participaram de uma festa em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, na segunda-feira, no Rio. O evento teve o indefectível patrocínio chapa-branca da Caixa Econômica Federal e da Petrobras.
No meio da badalação, a ex-senadora e hoje secretária de Assistência Social do governo fluminense, Benedita da Silva, fez um pedido explícito de apoio para a candidatura de Dilma Rousseff a presidente.
Segundo relato do repórter Chico Otavio, a frase de Benedita foi: "Não podemos perder este momento. Eu quero uma presidenta do Brasil. E o seu nome é Dilma Rousseff". Em resumo: 1) era um evento pago com o dinheiro público; 2) Lula e Dilma estavam lá; 3) uma política petista pediu apoio para a candidatura governista.
Para completar, foram distribuídos leques de papel. Eram peças publicitárias ilustradas. De um lado, o desenho de uma moeda com o rosto de Lula e a inscrição "ele é o cara!".
Do outro lado, outra moeda com a imagem de Dilma e a frase "ela é a coroa!". O mimo era assinado por um sindicato filiado à CUT.
Ontem, o governo já havia alinhavado argumentos para se defender.
A Petrobras e a CEF não sabiam que o evento poderia ter cunho eleitoral. O leque foi produzido por uma entidade autônoma. Lula e Dilma não foram lá pedir votos.
Esse tipo de comportamento dissimulado só existe por causa de uma combinação nefanda entre uma lei anacrônica (fixando prazos para campanhas) e a hipocrisia geral dos políticos. É conveniente negar em público reais intenções com a desculpa de que a lei proíbe.
Essa anomalia só acabará quando o Supremo Tribunal Federal um dia for provocado e concluir pela inconstitucionalidade da lei que impede um cidadão de fazer campanha a qualquer tempo e época, sem usar recursos públicos -o que não é o caso atual do PT.

RUY CASTRO

Pelo cano


FOLHA DE SÃO PAULO - 10/03/10RIO DE JANEIRO - Outro dia, fui repreendido domesticamente por jogar fio dental no vaso e dar a descarga. A repreensão foi suave, mas firme: um palmo de fio dental pode parecer inofensivo, mas despejá-lo ali é uma das piores agressões ao meio ambiente. "Leva 500 anos para ser absorvido!", disseram.
Só então caí em mim. Um palmo costuma ter 25 cm. Quatro palmos de fio dental por dia, equivalentes a quatro aplicações regulamentares, significam 1 metro de fio dental descendo diariamente pela privada.
Donde, em menos de três anos, despejei 1 km de fio dental de forma imprudente. Fiz um rápido exercício aritmético sobre os anos em que venho cometendo esse deslize e me dei conta de que já fui responsável por quase 20 km de encanamentos, tubulações, esgotos, estações de tratamento, elevatórias e emissários entupidos pelo fio.
Desde então tenho me esmerado em soltar o fio dental no lixinho, para aplausos da galera. Mas será que um dia conseguirei redimir-me pelas espécies que ajudei a asfixiar, obstruir, intoxicar, intumescer ou envenenar com minha insensibilidade ecológica? E de que adiantará tornar-me ambientalmente correto se meus semelhantes ou, digamos, os vizinhos não fizerem o mesmo?
Aliás, que vexame. Li no jornal que os campeões de entupimento de esgotos são absorventes, algodões, camisinhas, cotonetes, cuecas, fraldas, o dito fio dental, plásticos e até comestíveis, como pizzas aos quatro queijos, bruschettas e mortadelas. Tudo pelo cano. E ouvi dizer que se achou uma boneca inflável com pouco uso numa galeria pluvial em Copacabana.
Claro, as autoridades têm de cumprir a sua parte. Mas também quero contribuir: se um dia eu tiver celular e ele me provocar um acesso de fúria, prometo não me vingar dele varejando-o no vaso e dando a descarga, como já fizeram.

MÔNICA BERGAMO

Baú em campo  


Folha de S.Paulo - 10/03/2010
O Grupo Silvio Santos está contratando a Merrill Lynch para buscar, no mercado, empresas de varejo que possam formar parcerias ou até se fundir com o Baú da Felicidade, rede de 128 lojas do complexo.

MÃOS DADAS
De acordo com fonte ouvida pela coluna, o grupo, que tem lojas do Baú espalhadas por São Paulo, Minas Gerais e Paraná, teria especial interesse em conversar com redes como o Magazine Luiza, com atuação forte em São Paulo, e a Insinuante, que tem presença predominante no Nordeste. Uma proposta para esses grupos não seria de compra ou aquisição, mas sim de uma parceria que poderia envolver troca de ações, diz a mesma fonte.

DE VOLTA
A iniciativa do Baú é uma resposta às investidas recentes do Pão de Açúcar, que comprou o Ponto Frio e as Casas Bahia e formou um gigante do varejo. Depois disso, outras redes, como o Baú, passaram a correr o risco de se "fragilizar" diante do poder de negociação do Pão de Açúcar com industriais e fornecedores diversos.

VOO LOTADO
Explodiu o tráfego aéreo de passageiros em fevereiro.

De acordo com dados preliminares da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o número de pessoas que embarcaram no país subiu 40% em relação ao mesmo mês de 2009.

NO AZUL
Já a receita bruta da Infraero, a estatal que administra os aeroportos, em 2009, subiu 2,6% em relação ao ano anterior. De acordo com o balanço já aprovado, que será divulgado nos próximos dias, ela chegou a R$ 2,6 bilhões. O lucro operacional bruto foi de R$ 358 milhões e o lucro líquido, depois de descontadas todas as despesas e os investimentos em aeroportos, foi de R$ 20 milhões.

DE PIJAMA
Pré-candidato ao governo de São Paulo, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) passou boa parte do sábado passado gravando comerciais do PT que vão ao ar a partir de sexta no Estado. Ele recebeu João Santana, responsável pelos programas, em casa, já que está de licença médica e se recupera de uma cirurgia de próstata.

CARA & COROA
Santana também fez gravações com Marta Suplicy (PT-SP), pré-candidata ao Senado, e com Lula e Dilma Rousseff, que vão usar o espaço do PT paulista para divulgar a imagem da ministra, pré-candidata à Presidência, em São Paulo.

TOGA MAÇÔNICA
A OAB pretende fazer em SP o primeiro encontro de advogados maçons da América Latina.

Estima-se que sejam cerca de 60 mil pessoas, o que equivale a 10% de todos os profissionais da classe no Brasil -e 30% dos maçons do país.

MAGRA, EU?
Depois de ter sua magreza criticada em matéria do jornal britânico "Daily Mail", que disse que seu corpo é o de uma "jovem adolescente" e que seus ossos estão saltando, a top model brasileira Alessandra Ambrósio, 28, volta hoje às passarelas. Ela desfila na semana de moda de Paris, para a grife Louis Vuitton. Sua agência, a Way Model, diz que a única vez em que a modelo fez dieta foi depois da gravidez e que Alessandra "desfila as medidas ideais exigidas pelo mercado". A top não se manifesta.

PAR OU ÍMPAR
A Sociedade de Amigos do Alto de Pinheiros (Saap) enviou representação ao Ministério Público contra a escola bilíngue Beacon School, instalada na rua Berlioz e que cobra mensalidade de R$ 1.800. Alegam que ela não deveria estar lá porque a via é residencial. Acontece que o lado ímpar, onde está o prédio, é zona mista. Luciana Barros, sócia da Beacon, diz que a reação da associação é "antiquada e pessoal". A Subprefeitura de Pinheiros afirma que a Beacon está regularizada.

CORTA O CABELO DELE
Cabeleireiro da primeira-dama, Marisa Letícia, Wanderley Nunes levou anteontem 20 pessoas de sua equipe para cortar os cabelos de crianças e de seus pais ligados a ONG Fundação Julita, no Jardim São Luiz, zona sul de SP. O objetivo era realizar 200 cortes e dar dicas sobre a profissão. Alguns pais evangélicos, no entanto, não autorizaram os filhos a passarem pela tesoura. A ONG quer agora dar orientações aos pais explicando que cortar o cabelo é um ritual de higiene imprescindível para a garotada.

POESIA NO RIO

Maria Bethânia e o "desassossego do artista"
"Eu sou geminiana, eu sou esquisita, eu mudo", diz Maria Bethânia, ajeitando a longa cabeleira que cai sobre os ombros do terno branco com camiseta azul-marinho por baixo. "Fernando Pessoa", ela lembra, "também era". A cantora recebeu anteontem, no Instituto Moreira Salles, no Rio, uma medalha de prata -a Ordem do Desassossego- por divulgar a obra do poeta português lendo poemas em shows e espetáculos. A medalha é uma espécie de condecoração da Casa Fernando Pessoa, de Lisboa.

Ela "conheceu" o poeta pelo amigo Fauzi Arap. "Eu sou uma cantora popular e música pega muito rápido. Foi lindo o Fauzi saber que podia me salvar, trazer Fernando Pessoa", diz Bethânia, que dividiu uma mesa de conversas e poesia com o poeta Antonio Cicero, a escritora portuguesa Inês Pedrosa e a professora Cleonice Berardinelli, recém-eleita imortal da Academia Brasileira de Letras (ela também recebeu a medalha). "Cantar é o que eu gosto, meu destino. E Pessoa foi natural, como Santo Amaro. Parecia lá de casa, parecia que subia na mangueira comigo."

Ela é, então, uma "desassossegada"? "Eu acho que desassossego para um artista é interessante. Precisa ter. Uma pessoa muito calma, sossegada, não tem estímulo, um empurrão", diz Bethânia à Folha. E completa: "Eu gosto de ser o tempo inteiro perturbada, incomodada. Isso é interessante". A repórter tenta fazer uma pergunta mais, digamos, perturbadora: "Vamos falar de política?" "Ah, política não... Fernando Pessoa é muito puro para misturar com a política", diz a cantora, saindo rumo ao coquetel. No menu, risotinho de bacalhau, enroladinhos de pato com geleia de carambola, ambrosia, entre outros.
Entre uma taça e outra de champanhe Moët & Chandon, Malu Mader contava que "não foi na adolescência, já foi na fase adulta" que passou a ler a poesia de Pessoa. "Uma coisa bem óbvia, assim: de uns anos para cá, andei fazendo umas viagens a Portugal, sempre levava livros dele, gostava de ler Fernando Pessoa em Portugal. Uma coisa bem boba, mas é fato. Sempre comprava um daqueles livros no aeroporto..."

Malu e os demais convidados deviam sortear uma frase do poema "Tabacaria" para gravar em vídeo, que será editado como documentário. Ela mostra a frase: "Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer". "Pesada, pesadíssima", diz. "É coisa de ator, de gente que fica interpretando vários papéis. Mudo de ideia a respeito das coisas. Volta e meia, fico inteira num sentimento e, logo depois, fico inteira em outro sentimento. Não sou muito boa em me definir, mas o que eu sinto é que eu mudo de ideia. Me sinto bastante incoerente. Um dia, eu sou básica. Outro dia, eu tenho vontade de ficar perua, ficar exótica e tal", filosofa. Pouco depois, está às gargalhadas com Cláudia Abreu.

Renata Sorrah e Regina Casé lembram que a poesia de Pessoa chegou a elas por meio de Maria Bethânia. "No colégio, eu achava bonito. Agora, ela no palco, cantora, eu, atriz, a maneira como ela me passou Fernando Pessoa foi encantadora. Eu não sou uma expert em Pessoa, mas eu me rendo", diz Renata, que "adoraria voltar a estudar". "Hoje em dia, é incrível como a gente sente falta disso, de falar da língua portuguesa, das palavras, dos sentimentos. O mundo tá tão... [pausa] Sabe, é linda a tecnologia, a internet, mas falar de sentimento... [pausa] Faz falta, sabe?" (AUDREY FURLANETO, da Sucursal do Rio)

CURTO-CIRCUITO
O LIVRO "Herivelto Como Conheci - A Verdadeira História de Amor" será lançado hoje na Casa do Saber, no Itaim.
AMIGOS do cantor Johnny Alf convidam para uma missa em homenagem ao cantor, morto na semana passada, amanhã, às 19h, na igreja da Consolação.
O LIVRO "10 Cases do Design Brasileiro - Os Bastidores do Processo de Criação - Vol. 2" tem lançamento hoje, às 19h30, no Museu da Casa Brasileira.
A REDE DE HOTÉIS Mercure faz coquetel em comemoração do contrato com a Chaim Produções e do musical "Hairspray" amanhã, no Espaço Oliva Pink.
OS CANTORES Renato Braz e Zé Renato se apresentam hoje, às 21h, no Sesc Vila Mariana. Classificação: 12 anos.

WILHELM HOFMEISTER


Ano do tigre
O ESTADO DE SÃO PAULO - 10/03/10

Gong xi fa cai (feliz ano-novo chinês). Em toda parte do Leste e Sudeste da Ásia se comemora nestas semanas o início do novo ano. De acordo com o calendário lunar, no dia 14 fevereiro começou o "ano do tigre". Depois da crise e do mau humor do ano passado, espera-se uma nova dinâmica. Porque o tigre encarna a força, a coragem e a capacidade de superar situações difíceis, ele é reverenciado em muitos países asiáticos como símbolo nacional: na Índia, em Bangladesh e Mianmar, na Indonésia, Malásia e Coreia.

Agora seria o momento para montar o tigre. Esse conselho não é somente dado pelos mestres de Feng Shui, que nestas semanas em muitos lugares são procurados por seus conselhos e previsões. Os executivos de fundos de investimentos também enfatizam que seria o momento justo para investir em valores asiáticos. Assim expressam a confiança em que os fundamentos das economias asiáticas são atualmente melhores do que em outras partes do mundo. Além disso, uma recuperação da economia global só traria mais vantagens para as bolsas de valores e os mercados asiáticos.

Especialmente na China, falaram, por ocasião das comemorações do ano-novo, que neste ano do tigre a economia do país "voltará a rugir". Sem dúvida, o último ano e meio fortaleceu o perfil e a autoconfiança do país. Depois que contribuiu decisivamente para superar a crise internacional de 2009, a China, segundo alguns comentários na imprensa do país, deve em breve se tornar um "tigre real". Mesmo em 2009 o país alcançou uma taxa de crescimento de 8,7%. Embora as exportações tenham diminuído 16%, pela primeira vez ela ultrapassou a Alemanha como o maior país exportador. Cortes fiscais e subsídios ajudaram a que ele tenha se tornado o maior mercado de automóveis do mundo. Agora, a próxima meta é ultrapassar o Japão como a segunda economia mundial. O presidente Hu Jintao, motivado pelo ano-novo, chamou toda a nação a fazer esforços especiais para avançar nos ajustes para que o crescimento sustentável e o desenvolvimento social possam ser permanentemente garantidos.

A nova autoconfiança chinesa é demonstrada não só na área da economia, mas também no palco da política internacional. Isso os líderes de Pequim deixaram claro em várias oportunidades, nas últimas semanas - especialmente em controvérsias com os EUA. O anúncio feito por Washington de vender armas a Taiwan no valor de US$ 6,4 bilhões tem sido criticado por Pequim tão fervorosamente como a recepção do Dalai Lama pelo presidente Barack Obama na Casa Branca. Parece que para ressaltar que a crítica estrangeira à situação política interna não tem efeito algum, no dia 11 fevereiro foi confirmada a condenação do professor de literatura Liu Xiaobo a 11 anos de prisão por "subversão". Liu Xiaobo, um dos mais conhecidos dissidentes de hoje, exige o respeito aos direitos humanos e a democracia em seu país. O presidente Obama havia intercedido pela liberação de Liu durante sua visita a Pequim, em novembro do ano passado. A condenação desse dissidente deve ser entendida como uma demonstração dos dirigentes chineses de que não aceitam "interferência externa" em matéria de direitos humanos. Além disso, atualmente a China não aparece disposta a um entendimento com os EUA e os europeus na questão das sanções contra o Irã por sua política nuclear. Anteriormente, em Copenhague havia negado concessões nas negociações sobre um acordo climático.

Com esse comportamento teimoso, os dirigentes chineses às vezes irritam os seus vizinhos e parceiros que esperam que o país, com o aumento do seu peso econômico, também aceite maior responsabilidade no sistema internacional. Mas Pequim, acima de tudo, está buscando seus próprios interesses em favor de seu desenvolvimento nacional. Não se trata de impor a sua vontade aos outros. A China não é imperialista. Mas é egoísta. Na perseguição de seus interesses, respeita os regimes internacionais somente quando parecem úteis a seus próprios fins. Mas ainda não mostra plena conformidade ou aceitação dos valores e normas fundamentais dos regimes que organizam a ordem e a convivência internacional. Isso é válido tanto no que se refere aos direitos humanos como às regras do comércio ou do sistema financeiro internacional.

Mesmo se a China, no ano do tigre, continuar a ganhar força, sua influência e suas ambições terão limites. Por um lado, estes são marcados pelas consequências do progresso econômico para a própria sociedade e seu sistema político. Os conflitos no interior da China durante o ano passado deram uma amostra das tensões sociais provocadas pelo processo de modernização. O rápido desenvolvimento econômico tem levado a um grau de injustiça que muitas pessoas não querem aceitar. Por isso muitos observadores esperam que nos próximos anos aumente a demanda social em prol de uma reforma política, com a abertura de espaços participativos e a exigência de transparência, previsibilidade e respeito às regras de um Estado de Direito. Por outro lado, o governo chinês, nas suas relações externas, tem de fazer esforços significativos para ganhar a confiança dos seus vizinhos asiáticos. A presença da China na Ásia cresceu consideravelmente. Mas, enquanto a sua contribuição para a segurança e a estabilidade da região não fica evidente, os vizinhos preferem confiar no provedor tradicional de segurança, os EUA.

Apesar do otimismo destas últimas semanas na Ásia, e especialmente na China, os mestres de Feng Shui experientes advertem contra a arrogância. Lembram que no ano do tigre as pessoas tendem a ter reações de sangue quente e provocar conflitos. Talvez isso explique algumas das reações e declarações do governo chinês durante as últimas semanas.

O tigre rugiu. Domesticá-lo não será uma tarefa fácil.
Wilhelm Hofmeister é diretor do Centro de Estudos da Fundação Konrad Adenauer em Cingapura

PAINEL DA FOLHA

História revista 


Renata Lo Prete 


 Folha de S.Paulo - 10/03/2010
Dilma Rousseff ficou de fora de livro a ser lançado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, no próximo dia 25, para lembrar a trajetória das mulheres na ditadura. As quase 200 páginas trarão o perfil de personagens mortas ou desaparecidas durante os anos de repressão e ao menos 25 depoimentos de mulheres que sobreviveram à tortura.
A ministra se encaixa no segundo caso, mas, por "decisão editorial" da secretaria, não foi incluída na publicação. Segundo a assessoria da pasta, chefiada pelo petista Paulo Vannuchi, a exclusão visou evitar a "contaminação do debate eleitoral" e eventual acusação de propaganda da pré-candidata do PT.

Vou ali... O Planalto decidiu que Dilma fará o último evento público como ministra da Casa Civil no Rio Grande do Sul, Estado onde construiu sua vida pública.

...e já volto. Para manter o nome da candidata em pauta logo após a saída do governo, o núcleo da campanha conta com a convenção do PR, em 5 de abril, e com a do PC do B, que deverá acontecer alguns dias depois. No meio tempo, ela concentrará suas aparições em São Paulo e Minas.

Só minha. Aloizio Mercadante ainda não foi lançado candidato ao governo paulista, mas já manifestou ao PT e ao Planalto sua contrariedade com a visita que Dilma fará hoje à Fiesp, evento que indiretamente servirá para promover a campanha do presidente da entidade, Paulo Skaf (PSB), ao mesmo cargo.

Pano rápido. Que João Vaccari não será o tesoureiro da campanha de Dilma já é sabido, mas agora cresce, entre setores do PT, a pressão para que ele se afaste também da Secretaria de Finanças da sigla, como forma de retirar as atenções do caso Bancoop.

Já deu. Enquanto alguns tucanos imploram a José Serra que antecipe um pouquinho que seja o anúncio da candidatura, outros avaliam que, a esta altura, a discussão está vencida: "Dia 18, 25 ou 31: tanto faz", resume um integrante do segundo grupo.

Sem solução. No entorno de Serra, fechou-se um diagnóstico sobre Tasso Jereissati: o senador apostou até a última ficha na desistência do governador paulista, por considerar a opção Aécio Neves mais conveniente a seu plano de se reeleger pelo Ceará, e agora não se conforma com o desfecho da novela tucana.

Focalizado. Na entrevista de Lula ontem aos jornais "Haaretz" e "The Marker" e à Agência de Notícias Brasil Árabe, a sucessão brasileira passou ao largo. O presidente só foi indagado sobre Oriente Médio, com ênfase no Irã. O nome de Dilma não foi sequer pronunciado no encontro.

Crocodilo Dundee. Em campanha para renovar o mandato de senador, Delcídio Amaral (PT-MS) fixou-se numa bandeira: levar o Luz Para Todos ao Pantanal.

Vice. Ciro Nogueira (PP-PI) planeja trocar a Câmara por cadeira no Senado. Avalia que pode se eleger com o "segundo voto", dado o instável desempenho de Heráclito Fortes (DEM) e Mão Santa (PSC) nas pesquisas. O governador Wellington Dias (PT) deve ficar com uma das duas vagas.

Deixa estar. Só quatro partidos -PC do B, PSDB, PPS e PSOL- se manifestaram contra a inclusão na pauta da Câmara da regulamentação do funcionamento de bingos. Os demais foram a favor ou fizeram "cara de paisagem". Alvo de forte lobby, o tema pode ser votado hoje.

Visita à Folha. Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e diretor da Faculdade de Economia da FAAP e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.

Tiroteio

Ciro não tem mesmo nada a explicar porque não tem o apoio de ninguém, nem mesmo de seu próprio partido. Ele é o candidato do eu sozinho.

Contraponto

Parte interessada

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), participava na semana passada de reunião com representantes das centrais sindicais para tratar dos empecilhos à aprovação da emenda que reduz a jornada de trabalho.
A certa altura, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), também presidente da Força Sindical, resolveu utilizar a tática da profusão de elogios:
-O Michel tem prestígio, será vice-presidente...
Temer, que até ali ouvira pacientemente os queixosos, resolveu cortar o assunto delicado:
-Paulinho, você só diz isso porque tem a esperança de herdar os meus votos para a Câmara...