domingo, dezembro 12, 2010

CELSO MING

Juros podem não subir
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 12/12/10
Quem leu o comunicado divulgado logo após a reunião do Copom pode não ter prestado atenção a certas sutilezas lá contidas. Ficou dito que o Copom esperaria pelo impacto das decisões tomadas na área da contenção do crédito e do aumento das retenções compulsórias junto ao Banco Central pela rede bancária para só então avaliar a resposta mais apropriada para o avanço da inflação.


O próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, havia anunciado essas providências na área do crédito e do compulsório como medidas de caráter "macroprudencial". Vinham não para controlar a inflação, mas para evitar que a disparada do crédito pudesse assoprar perigosas bolhas financeiras que depois gerassem ondas de inadimplência e problemas de liquidez na rede bancária.

A questão de fundo consiste em saber como decisões na área de segurança bancária ou de impacto apenas financeiro ou creditício poderiam tomar o lugar da política monetária (política de juros) na sua função de empurrar a inflação para dentro da meta.

Na verdade, o Banco Central está introduzindo aí uma novidade apontada pelo economista Axel Weber, atual presidente do Bundesbank (banco central da Alemanha), e incluída nas conclusões do chamado Consenso de Jackson Hole. Esta é uma cidade do Estado de Wyoming (Estados Unidos), que em agosto de 2009, em plena crise global, serviu de sede para um encontro de presidentes de bancos centrais e especialistas em Política Monetária. Um dos pontos do Consenso é o de que providências destinadas primariamente à regulação bancária e à melhor prática na concessão de crédito exercem impacto direto também sobre o volume de dinheiro na economia e sobre o nível dos juros. Portanto, também produzem consequências sobre os canais que conduzem o volume de dinheiro na economia, que comandam o consumo e a produção.

Como essas são águas só recentemente navegadas, os especialistas ainda não sabem medir previamente o efeito monetário produzido por decisões assim, tomadas na área financeira e creditícia. Mas fontes do Banco Central admitem que as providências, que na primeira semana de dezembro restringiram o crédito e o recolhimento compulsório dos bancos, terão um impacto na rede de consumo e da produção equivalente ao da alta dos juros básicos (Selic), de alguma coisa entre 0,5 e 1,5 ponto porcentual. Ou seja, seu efeito é como se a Selic tivesse aumentado entre 11,25% e 12,25% ao ano, com uma importante diferença: o ajuste dos juros básicos leva entre seis e nove meses para produzir resultado sobre a inflação, enquanto medidas na área do crédito e no compulsório produzem efeito imediato.

No entanto, estas não podem substituir a política de juros porque são providências que se tomam uma única vez e não são passíveis de ajustes mais finos, como a política monetária. A ata do Copom, a ser divulgada na próxima quinta-feira, poderá trazer esclarecimentos adicionais sobre a novidade.

Segue-se importante conclusão: dependendo do impacto dessas medidas macroprudenciais sobre a atividade econômica e sobre o comportamento da inflação, novas altas da Selic podem ser adiadas por mais tempo, ao contrário do que tantos observadores vêm dizendo, ou seja, que teriam de ser retomadas já nas próximas reuniões do Copom, de janeiro ou de março.


CONFIRA

Mais dinheiro, gente...
Na despedida aos parlamentares do PT, o presidente Lula sugeriu quinta-feira que o Partido estudasse seriamente a criação de um novo esquema destinado unicamente para o financiamento das despesas com a Saúde. Ele não chegou a dizer que é preciso providenciar a volta da CPMF, mas nem foi necessário. Todo mundo entendeu o recado.

O dinheiro está lá
É estranho pedir uma fonte especial para financiamento da Saúde. Para quê, então, existe o Orçamento? Não é de lá que o governo tira todos os recursos: para Saúde, Segurança, serviços do Itamaraty, construção de estradas, Forças Armadas?

Papo antigo
Essa é uma conversa velha de guerra. Desde os tempos do ministro Adib Jatene os políticos argumentam que é preciso um imposto especial para cobrir os gastos com a Saúde. Não dizem a mesma coisa para a Educação nem para a Previdência. Mas diriam se isso pudesse facilitar o aumento da arrecadação.

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