quinta-feira, novembro 18, 2010

CELSO MING

É a volta da carestia? 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 18/11/2010

Vem aí uma escassez de alimentos no mercado internacional - adverte a FAO, que é a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. E se este informe (Perspectivas para os Alimentos), ontem divulgado, estiver correto, a alta de preços dos alimentos, que hoje é o principal fator de inflação no Brasil, não vai ser prontamente revertida, como vinha apostando o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Para o período 2010-2011, a FAO prevê um consumo mundial de grãos de 2,25 bilhões de toneladas, 1,3% mais alto do que no período anterior, e uma produção de 2,22 bilhões de toneladas, 2,1% menor. Os estoques de cereais deverão diminuir 7%. As reservas de centeio cairão 35%; as de milho, 12%; e as de trigo, 10%. O único grão com aumento previsto de estoques é o arroz (mais 6%).

As razões da alta de preços são conhecidas: seca na Rússia e na Argentina, que derrubaram a colheita de trigo, o que fez o governo russo suspender as exportações do grão; pragas na Argélia, Afeganistão, Azerbaijão e Marrocos, que também prejudicaram a produção; maior consumo de outros cereais em substituição ao farelo de trigo, principalmente nas rações animais; e desvalorização do dólar, que puxou as cotações das commodities agrícolas.

Essa perspectiva é uma boa notícia para a agricultura brasileira, que pode contar com a tendência de alta dos preços para 2011. E a próxima safra brasileira, que continua sendo semeada, não promete reversão desse quadro. Tanto o IBGE como a Conab, que são os organismos encarregados dos levantamentos estatísticos, estão prevendo redução da produção de grãos no Brasil ao longo de 2011, de 2,8% e de 1,7%, respectivamente.

Em compensação, se as projeções da FAO estão corretas, o Brasil deverá enfrentar um renitente obstáculo à queda dos juros. Em princípio, um choque de oferta de alimentos não deve ser motivo para um ajuste da política monetária, uma vez que os preços dos alimentos não compõem o que os economistas chamam de núcleo de inflação. No entanto, o Banco Central tem de combater com juros os efeitos dessa alta sobre os demais preços da economia. Essa perspectiva pode contrariar a disposição da presidente eleita, Dilma Rousseff, que tem anunciado que vai trabalhar para uma rápida baixa dos juros.

Se essa escassez de grãos se confirmar, é provável que volte o mesmo tipo de pressão ocorrida em 2008 contra o uso de milho e soja na produção de biocombustíveis, especialmente, etanol e biodiesel.


CONFIRA

Não é bem assim

Enganou-se quem contava com a volta do ministro Guido Mantega da reunião do G-20 para retomar imediatamente medidas na área do câmbio a fim de desestimular a entrada de moeda estrangeira e, assim, a valorização do real diante do dólar.

Está bom assim

Ontem, Mantega disse um punhado de coisas surpreendentes. Disse que "não é bom mexer no câmbio toda hora". Disse, também, que as atuais cotações estão se mantendo "num patamar razoável". Patamar razoável, para o ministro, é, portanto, um dólar ao redor de R$ 1,70.

Não foi tão ruim

Para estranheza dos empresários, Mantega disse ainda que o real é uma das moedas que menos se valorizaram no mundo. Falta saber a que período se referiu.

É preciso piorar

Quer dizer, é preciso que a cotação do dólar caia mais para que o governo institua a quarentena e outras barreiras na entrada de capitais.

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