sábado, agosto 28, 2010

RUY CASTRO

Sandálias e minissaias

RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/08/10
RIO DE JANEIRO - Meu amigo Carlos Eduardo Berriel, professor da Unicamp e autor de "Tietê, Tejo, Sena", biografia de Paulo Prado que me ensinou mais sobre a Semana de Arte Moderna do que todos os tratados juntos, escreveu protestando contra minha definição de "Spartacus" (1960), sábado passado, como o "melhor filme bíblico de sempre". Berriel não discute a qualidade do filme, mas o gênero.
"Chamar "Spartacus" de filme bíblico é sacanagem", diz ele. "É um belo exemplar de filme comunista americano ao velho estilo, anos 40/50. O roteiro é de Dalton Trumbo, cupincha de John Howard Lawson, ambos com a carteirinha do Partidão em dia. As cenas de batalha são ótimas, o [diretor Stanley] Kubrick aspirou com canudinho do "Alexandre Nevsky", do Eisenstein -sendo que o czar Alexandre Nevsky aparecia como um avatar do Stalin".
Concordo com Berriel. Como vários que passaram pelo Partido Comunista americano, Dalton Trumbo desafiou o mccarthysmo em 1950, recusando-se a dedar camaradas e, por isso, ficou dez anos impedido de trabalhar com seu nome em Hollywood. A diferença é que, ao contrário de Lawson e outros, que eram apenas comunistas, Trumbo tinha talento. Vide os roteiros de "A Princesa e o Plebeu" (1953) e "Arenas Sangrentas" (1956), que escreveu, mas não pôde assinar, e que ganharam o Oscar -que também não pôde receber.
Mas isso não alterou minha posição. Respondi que filme que tem homem de sandália e de minissaia, como "Spartacus", é filme bíblico. "Além disso", completei, "o herói é virgem e morre crucificado".
Em e-mail subsequente, Berriel concordou. "Tem razão, é meio bíblico, sim. E, se o critério é esse, a Cinecittà dos anos 60 vacilou em não ter filmado "Os 12 Apóstolos Gladiadores", com Rossana Podestà no papel de Maria Madalena, e "Maciste contra Santo Agostinho'".

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