segunda-feira, junho 14, 2010

LINAMARA RIZZO BATTISTELLA

Atravessar o deserto
LINAMARA RIZZO BATTISTELLA
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/06/10

Ainda faltam condições para que as pessoas com deficiência possam superar as limitações e participar de forma plena da sociedade



Caravana. Palavra de origem persa que remete à travessia de um povo ou exército pelo deserto. Batalha similar é protagonizada pelas pessoas com deficiência, em busca de políticas públicas que atendam suas necessidades.
Pensando nos anseios daqueles que, por vezes, estão do outro lado do deserto, estamos iniciando, no Estado de São Paulo, as chamadas Caravanas da Inclusão, Acessibilidade e Cidadania, que percorrem o Estado debatendo e implantando políticas públicas regionais para atender as pessoas com deficiência.
As estatísticas apontam para elevado número de pessoas com deficiência no mundo atual, em decorrência de causas como doenças, acidentes, violência urbana etc., que, com avanços científicos, tiveram condição de sobrevivência.
Entretanto, as questões sociais e ambientais não evoluíram na mesma proporção, no sentido de oferecer condições para que as pessoas com deficiência possam superar as limitações e participar de forma plena e efetiva em todas as instâncias da sociedade.
Trazer para o centro do debate questões como educação para inclusão, reabilitação, empregabilidade e desporto, propor espaços e produtos acessíveis, derrubar barreiras e práticas discriminatórias é o propósito dessa caravana.
Articular o trabalho entre as diferentes esferas do governo, apontando a importância de inclusão da pessoa com deficiência para o avanço do processo civilizatório, é o principal objetivo do debate.
Nesse sentido, a Rede de Reabilitação Lucy Montoro, com hospitais e centros de reabilitação com enfoque exclusivo para o atendimento de deficiências físicas, oferece 50 mil atendimentos por mês, e, até o final de 2011, possibilitará, nas 18 unidades em regiões estratégicas do Estado, mais de 200 mil atendimentos por mês, além da oferta de órteses, próteses e meios auxiliares à locomoção.
O envolvimento das universidades e centros tecnológicos é vital para criar alternativas tecnológicas que garantam mais autonomia e independência. Com essa diretriz, o governo de São Paulo, desde 2008, adota o desenho universal nas moradias de interesse social.
Em 2010, a colaboração entre a CDHU e a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência permitirá reformar e adequar centros comunitários dos conjuntos habitacionais de 123 municípios para além da acessibilidade arquitetônica, garantindo inclusão digital.
Assim, observamos que a mobilização que vem ocorrendo está impactando a sociedade a partir da maior exposição e participação das pessoas com deficiência nos diversos contextos, inclusive no trabalho, fomentando discussões, popularizando o assunto e despertando o interesse social na mídia.
Discutir o trabalho e a deficiência permite refletir sobre a "humanidade do homem", tendo o trabalho como meio de existência e o mercado como alicerce da autonomia e independência, princípio fundamental de sociedade que respeita a liberdade, incorpora a diversidade e promove os direitos humanos.
Essa caravana é nossa e precisamos atravessar juntos esse deserto, transformando os direitos das pessoas com deficiência em soluções para toda a sociedade.
LINAMARA RIZZO BATTISTELLA, médica fisiatra, professora da Faculdade de Medicina da USP, é secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo.

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