domingo, junho 20, 2010

ELIO GASPARI

Marina é um perigo, é candidata da paz
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/06/10

Numa campanha feroz e marquetada, ela parece que saiu da floresta de "Avatar"


O DESEMPENHO DA CANDIDATA Marina Silva na sabatina da Folha trouxe um aviso. Ela não é uma excentricidade. Numa campanha de ferocidades marquetadas, ela fala baixo, é serena. Não está com raiva nem vê o prenúncio do fim do mundo nos adversários. Pela biografia, não precisa brincar de rico contra pobre nem de pobre contra rico, muito menos de Lula ou anti-Lula: "É por isso que eu estou aqui, para quebrar o plebiscito".
Ela teve entre 7% e 12% nas últimas pesquisas e, pela exposição recente, deverá subir. A partir de agosto, levará a pancada da falta de espaço no horário gratuito oficial, pois terá apenas um minuto e meio diário. Poderá se preservar com a equanimidade do noticiário dos meios de comunicação.
De início, supunha-se que Marina tiraria votos destinados ao PT, mas isso não é mais uma certeza. Ela cresce junto aos jovens e junto a eleitores que se lembram do Brasil distendido de Fernando Henrique Cardoso. Percebe-se até mesmo um tipo de preferência móvel, a da pessoa que prefere votar em Marina, mas confessa: "Se eu sentir que assim elejo a Dilma no primeiro turno, voto no Serra". A essa altura da campanha, Marina Silva representa um voto sem culpas por mensalões ou privatarias.
Há quatro anos, existiu o caminho alternativo de Heloísa Helena, mas a senadora incomodava pela estridência. A ex-ministra do Meio Ambiente, com seu jeito de quem saiu ou está a caminho do filme "Avatar", aparece como uma candidata da paz, de um Brasil que há 21 anos não vê uma campanha eleitoral sangrenta e sente-se muito bem assim.
TUCANOS
Fernando Henrique Cardoso não foi à convenção do PSDB que sagrou a candidatura de seu amigo José Serra porque tinha um compromisso em Madri, mas, se quisesse, teria ido. O tucanato ainda não se deu conta de que, sem FHC, fica menor. Houve uma época em que o falecido PSD acreditou que JK era um estorvo. Em 1964, jogaram o ex-presidente ao mar e deixaram de existir como partido um ano depois.
VICE
Pode ser que não dê em nada, mas há tucanos acreditando que, a essa altura, o melhor nome para a vice de José Serra voltou a ser o do mineiro Itamar Franco.
REGISTRO
Para a crônica das relações de Nosso Guia com os meios de comunicação.
Em 2003, Lula tinha menos de um ano de governo quando surgiu o boato de que uma rede de televisão estava à venda. Ele perguntou: "Não dá pra gente comprar?" (Quem era "a gente", não se sabe.) Passou o tempo, seu governo criou a TV Brasil, e Nosso Guia referiu-se ao novo canal internacional da emissora como a "minha televisão".
MARACUJOCKEY
O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de São Paulo tombou todo o terreno do Jockey Club da cidade, dificultando um grande negócio imobiliário que espetaria duas torres e um shopping numa fatia de 100 mil m2 da propriedade. Como circula uma ideia parecida no Jockey do Rio, pouco custaria que se estudasse o tombamento da área das cocheiras do hipódromo da Gávea. Se os cariocas baixarem a guarda, a beleza da Lagoa pagará a conta.
QUATRO VEZES NÃO
Depois de anos de trabalho junto a jovens favelados do Rio de Janeiro, ensinando-lhes cinema, Cacá Diegues teve a ideia de levar para as telas uma nova versão do seu "Cinco Vezes Favela", o clássico de 1962.
Em vez de juntar cinco diretores conhecidos, convidaria jovens das comunidades para fazer "Cinco Vezes Favela, Agora por Nós Mesmos".
Precisava de R$ 4 milhões para o projeto. Bateu às portas dos grandes patrocinadores federais. A saber: Petrobras, Caixa Econômica e Furnas. Nada. Pediu socorro ao Palácio do Planalto. Nada.
Cacá só conseguiu os recursos na iniciativa privada. Eike Batista bancou metade do custo, e entraram também AmBev, Light, Columbia, Globofilmes. A RioFilme, da prefeitura da cidade, também ajudou. O BNDES patrocinou uma pequena cota, depois de ter negado o primeiro pedido formal.
O "Cinco Vezes Favela" 2.0 foi selecionado para o Festival de Cannes, os cineastas das favelas viram-se aplaudidos de pé, o filme tornou-se um sucesso de crítica e agora estreia no Brasil.
A ajuda foi negada por demofobia (favelados fazendo filme) ou pela velha e boa patrulha ideológica, por conta declarações de Cacá Diegues contra o comissariado cultural. Talvez, pelos dois motivos.

ERRO Estava errada a informação publicada aqui segundo a qual em 2007 a tropa de choque da PM paulista desalojou os invasores que ocupavam o Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito do largo São Francisco.
Eles não ocupavam a sede do diretório, mas instalações da faculdade.
UMA BOA NOTÍCIA À VISTA: KATE MIDDLETON

Se os santos ajudarem, após a Copa o mundo poderá receber um novo motivo para sonhar. É possível que no mês que vem a Casa Real inglesa anuncie o noivado do príncipe William com sua namorada, Kate Middleton. Como na Copa, resta torcer.
A moça tem 28 anos. Os dois se conheceram na faculdade e estão juntos há cerca de seis anos. Ela frequentou alguns eventos públicos com o namorado e é protegida pelo dispositivo de segurança da realeza.
A morena é classuda, mas tem pouco a ver com a ingenuidade aristocrática de Diana, a mãe do príncipe William. A ascendência de Kate fará a alegria da patuleia.
Ela é filha de uma aeromoça com um comissário de aeroporto. Pelo lado paterno, descende de uma velha família da classe média do interior. Pelo materno, vem de famílias de mineiros e trabalhadores que migraram para os bairros miseráveis de Londres, gente que morria de doenças pulmonares, deixando a descendência na penúria. Um de seus ascendentes passou um tempo na cadeia.
Kate pertence à nobiliarquia da construção civil. Foram pelos menos três gerações de pedreiros. Seu bisavô foi estucador, enfeitando salões das casas de famílias endinheiradas com querubins e flores de gesso. Morreu cedo e a mulher empregou-se numa fábrica de alimentos.
Um avô materno da jovem que poderá ser coroada rainha da Inglaterra era carpinteiro e vivia com a família numa área onde hoje se chocam skinheads e imigrantes asiáticos. Sua mulher, Dorothy, descendia da cepa dos mineiros e ajudava as contas da casa trabalhando como vendedora. A ela se deve a garra que levou a filha Carole a uma boa educação e a neta à Universidade St. Andrew, onde conheceu o príncipe William.
Kate soube se preparar para viver no ninho de cobras da Casa de Windsor. Nunca deu entrevista.
(Nos anos 70, num bairro pobre de Chicago, o zelador Robinson e sua mulher, a secretária Marian, descendentes de escravos, pagavam as contas de Princeton para os filhos Craig e Michelle, endividando-se no cartão de crédito. Hoje Marian, viúva, vive na Casa Branca, cuidando das netas Sasha e Malia.)

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