domingo, abril 18, 2010

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

Tamanho ideal
LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO - 18/04/10


Velha questão: que tamanho deve ter um jogador de futebol? Resposta óbvia, sujeita a desmentidos notórios: depende da posição. Jogador de defesa deve ser alto, mas um dos melhores zagueiros que já vi jogar, o Gamarra, era baixo. Goleiro quanto maior melhor, mas goleiro pequeno, segundo uma teoria não muito séria, tem a vantagem de estar mais perto do chão pra pegar a bola rasteira e ter menos peso pra carregar quando pula no ângulo. Meio-campista ideal é o que tem massa física para trombar com o adversário e altura para descortinar o campo todo. Pode-se até batizá-lo de Meia Descortinador. Mas os melhores da função em ação no futebol brasileiro hoje, o Hernanes do São Paulo e o Arouca do Santos, não têm nem massa nem altura. Já o Sandro do Internacional tem a massa e a altura mas não descortina bem.
O fim dos pontas no futebol também significou o fim de uma estirpe, a dos ponteirinhos ciscadores. Aqueles baixinhos elétricos que passavam por baixo das pernas do seu marcador mas voltavam para passar de novo, fiéis ao seu destino de inconsequentes. O futebol moderno que dispensou os ponteirinhos também determinou que os outros atacantes tivessem pelo menos tamanho de atletas. Faz parte da história, ou talvez apenas do folclore, do bem-sucedido técnico Rubens Minelli o portal de uma certa altura que mandava instalar quando chegava num clube. Jogador que não precisasse se abaixar para passar pelo portal não entrava no seu time. Mas de todos os atacantes de grande sucesso dos últimos anos, começando pelo Pelé – Zico, Maradona, etc – poucos, como o Kaká e o Riquelme, teriam que se encolher para passar pelo hipotético portal do Minelli. Nem a obviedade que centroavante precisa ser alto e forte resiste a exceções como Romário e Nilmar, por exemplo.
Os dois jogadores mais em evidência no nosso noticiário esportivo do momento, Neymar e Messi, são os mais recentes desafios a qualquer ortodoxia sobre tamanho de jogador de futebol. Neymar é um fiapo, um tísico de romance antigo, e Messi, a julgar pelo físico, encontraria sua verdadeira vocação varrendo gelo no curling, aquele outro esporte apaixonante. E os dois estão aí, estraçalhando defesas. 

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