domingo, abril 04, 2010

ANDRÉS OPPENHEIMER

Chance que Chávez espera
O ESTADO DE SÃO PAULO -  04/04/2010


Se os candidatos colombianos subirem o tom contra Caracas, o venezuelano pode ter uma desculpa para adiar as eleições em seu país

Analisando a corrida presidencial da Colômbia, não posso deixar de pensar na possibilidade de os candidatos, no calor da campanha,dizerem algo que possa dar ao polêmico autocrata venezuelano, Hugo Chávez, a desculpa necessária para cancelar as eleições legislativas da Venezuela,
marcadas para setembro.

A Colômbia prepara-se para escolher, nas eleições de 30 de maio, o sucessor do presidente Álvaro Uribe, que é imensamente popular no país por combater a guerrilha marxista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) por ter denunciado o apoio secreto de Chávez aos guerrilheiros.

Neste contexto, as eleições da Colômbia poderão se tornar uma competição para ver qual dos candidatos se destacará como o mais próximo seguidor da política de Uribe.

Neste momento, o candidato do partido de Uribe, o ex-ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, está na frente nas pesquisas com 36% dos votos, seguido pela
candidata do Partido Conservador, Noemi Sanín, com 17%.

Santos foium ministro da Defesa de linha dura, que liderou o resgate,em 2008, da ex-senadora Ingrid Betancourt e dos três funcionários terceirizados da
CIA que estavam em poder dos guerrilheiros.

No mesmo ano,ordenou o ataque armado a um acampamento das Farc no Equador,que levou à descoberta de laptops usados pelos rebeldes com milhares de e-mails, cuja autenticidade foi posteriormente confirmada. Os e-mails mostraram o ativo apoio da Venezuela aos guerrilheiros colombianos.

Quando perguntei a Santos em uma entrevista em Miami o que ele mudaria na política externa de Uribe – principalmente em relação a Chávez – , se ganhasse, ele respondeu que se preocuparia mais em tomar a iniciativa.

“Nossa diplomacia tem sido muito passiva. Precisamos de uma diplomacia mais capaz de tomar iniciativas, que permita integrar melhor o país no cenário internacional, onde acreditamos ter muitos atributos para nos tornarmos participantes”, afirmou.

“Até agora, a Colômbia se manteve na defensiva no plano internacional, porque durante muitos anos foi descrita pela imprensa como um dos países do mundo com as maiores taxas de sequestros, assassinato e narcotráfico. Mas não é mais assim e a diplomacia da Colômbia terá de mudar”, acrescentou.

‘Óleo e água’. Indagado sobre o líder venezuelano, ele disse: “Chávez e eu somos como óleo e água. Mas, se houver respeito por nossas divergências,
poderemos manter ótimas relações. Acho que essa é uma obrigação nossa, porque quando os líderes brigam, é o povo que sofre.”

Perguntei se não há o perigo de, no calor da campanha da Colômbia, ele, Santos, e seus adversários subirem o tom da retórica em relação a Chávez, podendo provocar um novo aumento das tensões entre os dois países.

“Espero que não”, disse. “Espero que nossa democracia esteja suficientemente madura para evitar que a política externa seja usada como um instrumento da campanha política nacional. Seria uma atitude irresponsável. Pelo que me diz respeito,tenha a certeza de que, apesar de afirmarem que eu sou o ogro anti-
Chávez, isso não será usado para a campanha política.”

É possível que Santos esteja sendo sincero quando afirma que não usará a retórica anti-Chávez para fins políticos em seu país. Mas os seus adversários precisarão ganhar parte dos votos de Uribe e poderão fazê-lo.

Por outro lado,Chávez perde rapidamente apoio na Venezuela, porque os preços do
petróleo estão caindo e ele não pode mais controlar a incompetência e corrupção do seu governo com uma maciça distribuição de dinheiro.

Uma pesquisa do Instituto Hinterlaces realizada em março mostra que 66% dos venezuelanos gostariam que Chávez deixasse o poder no final do seu mandato, em 2012, ou mesmo antes.

Complôs. Como não poderia deixar de ser, nas últimas semanas Chávez intensificou
sua retórica sobre supostos complôs da oposição para matá-lo ou derrubá-lo.

É possível que, depois de perder um plebiscito que visava à implementação do socialismo na Venezuela em 2007, Chávez não queira correr o risco de perder o domínio absoluto que atualmente tem sobre o Congresso, e tente cancelar as eleições desetembro.

Mesmo que Santos e os outros candidatos colombianos evitem falar alguma coisa que possa se rusada por Chávez como desculpa para promover seu projeto totalitário, o venezuelano pode apelar para algo a fim de provocar uma forte
reação desses candidatos, ou criar um incidente com a esperança de encontrar uma desculpa para adiar indefinidamente as eleições legislativas.

De qualquer forma, se os candidatos colombianos não tomarem cuidado com suas
afirmações, poderão inadvertidamente ajudar Chávez a acabar com os últimos vestígios de democracia na Venezuela.
Andrés Oppenheimer, Colunista e analista político argentino

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