domingo, fevereiro 28, 2010

PAINEL DA FOLHA

Pesquisa: modos de usar

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/002/10

O Datafolha que aponta estreitamento da diferença, já na vizinhança da margem de erro, entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) fatalmente aumentará a especulação sobre a perspectiva de desistência do governador paulista. Sua porta de saída, porém, tornou-se minúscula. Crescerá também a pressão tucana para que Aécio Neves aceite ser vice de Serra. Longe de microfones, até os petistas reconhecem que essa possibilidade é real, mas, numa direção ou em outra, não é assunto que vá se resolver agora.
Por fim, o resultado irá acelerar a retirada do oxigênio de Ciro Gomes (PSB). Os números desautorizam o discurso de que sua presença seria necessária para garantir a passagem de Dilma ao segundo turno.



Estratosfera. Previsão de um cardeal petista: "O mais provável hoje é que Ciro não seja candidato nem a presidente nem a governador".

Dúvida cruel. Ao mesmo tempo em que caiu a intenção de voto espontânea em Lula e subiu a de Dilma, cresceu o percentual de eleitores indecisos na pergunta não estimulada: eles são hoje 58%, contra 47% no Datafolha anterior.

Noivo neurótico. A maioria dos eleitores que declaram preferência partidária pelo PMDB, que negocia aliança com o PT em torno da candidatura de Dilma, opta por Serra (46%). A petista arrebata 20% nesse segmento.

Pedreiras. Apesar do afunilamento da diferença entre Serra e Dilma no populoso Sudeste, é nessa região que a candidata de Lula atinge seu pico de rejeição: 27%. O recorde do tucano se dá no Norte e no Centro-Oeste: 29%.

Sombra. Observação do círculo próximo da ministra: Dilma se solta mais nos compromissos de campanha quando não acompanhada por Lula. A presença do presidente no palanque, não obstante outros benefícios, ainda a intimida.

Direto e reto. Aprendiz de candidato, o vice-governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), vem demonstrando em seguidos eventos pelo interior do Estado uma característica que o público aplaude: faz discursos curtos.

O mundo gira. Do então deputado e presidente do PT José Dirceu, em agosto de 1999, defendendo investigação parlamentar sobre a privatização da Telebrás: "O Brasil precisa desta CPI".

Off. O encontro de Dilma Rousseff com executivos da Oi, em novembro passado, para discutir o interesse da empresa em comprar a Eletronet, que contratou os serviços de consultoria de Dirceu, não foi registrado na agenda da ministra da Casa Civil.

Deixa estar 1. O novo governador interino do DF, Wilson Lima (PR), ganhou apoio de entidades do comércio e do empresariado de Brasília, que lançaram manifesto contra a possibilidade de intervenção federal. Temem a "paralisação da atividade econômica".

Deixa estar 2. Diz o texto: "Não há necessidade de intervenção. Acreditamos que os dispositivos legais e constitucionais e o respeito à linha sucessória legal são instrumentos suficientes para a busca de soluções para a crise política".

Ponte. O contrato da Serveng Civilsan para a construção do metrô de Brasília vem sendo prorrogado há 13 anos sem licitação. A empresa, que no governo Arruda recebeu R$ 176,4 milhões, destinou R$ R$ 1,2 milhão à campanha de Gilberto Kassab em 2008.

Por escrito. A PF achou no computador de José Geraldo Maciel, ex-chefe da Casa Civil do DF, bilhete da deputada Eurides Brito (PMDB), aquela flagrada literalmente embolsando dinheiro: "O nosso espaço no governo" tem causado ciúme, diz ela, mas "Arruda é inteligente e não deixará ninguém desprestigiado."

com SILVIO NAVARRO e ANDREZA MATAIS

Tiroteio

"Lula defende sim os direitos humanos, desde que isso não atrapalhe os negócios dos amigos."

Do deputado EDUARDO SCIARRA (DEM-PR), sobre a complacência do presidente e de seus auxiliares diante da morte, após greve de fome, do preso político cubano Orlando Zapata, que coincidiu com visita oficial do brasileiro a Havana.

Contraponto

Vantagem comparativa Vanildo Oliveira, pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, entrevistava recentemente uma catadora de mariscos no município de Itapeçuma como parte de um trabalho sobre os pescadores locais:
-A senhora sobrevive de quê? Quantos filhos tem?
Ele foi percorrendo as perguntas do questionário até que, depois de verificar que a mulher era casada, indagou:
-E como é o nome do seu marido?
Ela não teve dúvida:
-Meu marido é o Lula, porque aquele traste que eu tinha lá em casa não me dava um centavo e ainda me largou com cinco filhos. O Lula me dá dinheiro todo mês.

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