segunda-feira, fevereiro 01, 2010

NAS ENTRELINHAS

O carro e os bois


Correio Braziliense - 01/02/2010

O PMDB não aceita ver Michel Temer na frigideira. Afinal, falta muito para a convenção que decidirá o destino do partido na eleição. É bom o PT se comportar se quiser manter o noivado.


O acontecimento político mais importante desta semana em que o Congresso retoma seus trabalhos não é nem a volta dos parlamentares, uma vez que estão todos preocupados em salvar a própria pele nas eleições de outubro. Os olhos da política estarão mesmosobre a convenção do maior partido do pais, o PMDB, que virá recheada de mensagens subliminares.
O deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães, conta pelo duas: “Coligação ou candidatura própria são assuntos para junho. Agora, vamos apenas eleger o diretório nacional. Defendo a candidatura própria a presidente da República, mas estarei na convenção para votar em Michel Temer”, diz Padilha. “O partido não permitirá que Michel seja ultrajado. Há um processo de tentativa de desconstrução política dele que não será aceito”, completa.

Sem, como diz o dito popular, “dar nome aos bois”, o PMDB tem uma lista de ações que, na opinião dos analistas do partido, reforçam a tese de tentativa de desconstrução de um de seus maiores líderes. Esse movimento, avaliam peemedebistas, começou quando Temer foi apontado como o nome para compor a chapa com a ministra.

Primeiro, uma nota publicada na Folha de S.Paulo, em dezembro. Dizia que a Polícia Federal tinha bala na agulha para obrigar a cúpula do PMDB a escolher outro nome como candidato a vice-presidente. Depois, uma lista apócrifa que teria sido apreendida durante a operação Castelo de Areia, que investiga a empresa Camargo Corrêa. Temer reagiu indignado. Cobrou explicações. No caso da tal lista, o nome dele ainda estava grafado errado.

Artesãos

Para o PMDB, essas notícias — somadas à declaração de Lula defendendo uma lista tríplice para que a ministra Dilma Rousseff escolhesse o candidato a vice — são parte do mesmo tapete de intrigas que o PT teceu contra o aliado em 2009. E, agora, com a chegada de 2010, os amigos de Temer desconfiam que há um grupo de petistas dedicado a uma nova tapeçaria para desconstruir Michel Temer. Antes que isso aconteça, o PMDB quer desmanchar essa trama na convenção.

De um modo geral, o PMDB vê no seu presidente um dos maiores fiadores da unidade que o partido anuncia aos quatro cantos. E qualquer discussão sobre o caminho dos peemedebistas nas eleições deste ano terá que passar por Michel Temer.

O PT sabe disso, mas, em conversas reservadas, petistas dizem que não dá para repetir o que aconteceu em 2002, quando o PMDB era parceiro de José Serra, então candidato a presidente pelo |PSDB. Na época, Henrique Eduardo Alves (RN) foi escolhido para o papel de vice. Por causa de um processo de separação judicial movido pela ex-mulher de Alves mencionar a possibilidade de recursos do deputado depositados no exterior, o potiguar terminou fora da chapa. A candidata foi a deputada Rita Camata. Alves demorou a reconstruir a sua imagem — hoje lidera a bancada na Câmara.

A cúpula peemedebista considera uma provocação só o fato de figuras do PT relembrarem esse episódio ainda que á boca-pequena. Afinal, Alves não está em questão e os tempos são outros. Por isso, o PMDB deixará claro desde já aos petistas que não quer ver Michel Temer na frigideira. E também fará aquela pose, do tipo, vamos devagar. Afinal, ainda falta muito para a convenção que decidirá o caminho do partido na eleição. Portanto, é bom o PT se comportar se quiser manter o noivado.

Os peemedebistas não podem simplesmente fingir não ver a movimentação do governador do Paraná, Roberto Requião, em defesa da candidatura própria. E, se o PT começar com muitas imposições para fechar a aliança, querendo atropelar os aliados, confiante apenas nas últimas pesquisas que mostram Dilma embalada como um trio elétrico, os peemedebistas podem se voltar à candidatura própria, ainda que hoje esse movimento seja improvável.

A inclinação pela aliança é real, até porque não dá para esquecer que o PMDB tem uma série de apartamentos de luxo no atual governo, como Minas e Energia, Integração Nacional, Comunicações. Mas, o partido considera importante, diante do quadro atual, manter algum recurso aplicado na candidatura própria, como um seguro eleitoral. Como disse a pré-candidata Dilma, não dá para colocar o carro na frente dos bois. E o PMDB hoje está convencido de que o melhor mesmo é manter um pouco de mistério.

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