sábado, dezembro 12, 2009

BRASÍLIA -DF

Brasas no ninho

CORREIO BRASILIENSE - 12/12/09

As últimas pesquisas de opinião acirraram a disputa interna entre os tucanos paulistas. Certo de que o governador José Serra (PSDB) será candidato e o vice Alberto Goldman, também tucano, assumirá o Palácio dos Bandeirantes, o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), retomou as articulações para ser o candidato tucano ao Palácio dos Bandeirantes. Tem de pronto a solidariedade do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), a quem apoiou contra Geraldo Alckmin, na disputa pela administração da capital.
Candidato natural, devido à força eleitoral que ainda tem no estado, principalmente nos municípios do interior, Alckmin colecionou desafetos ao ocupar o Palácio dos Bandeirantes. E empurrou a fila para trás ao perder duas eleições seguidas, em 2006 (Presidência da República) e em 2008 (prefeitura de São Paulo). Entre os serristas, porém, há duas correntes: uma avalia que é melhor um bom acordo com Alckmin para garantir a retaguarda eleitoral de Serra; outra, que Aloysio pode manter esses votos com alianças muito mais amplas do quer as do ex-governador.

Chance// Por causa da saúde do prefeito de Goiânia, Íris Rezende, caciques do PMDB goiano elevaram a cotação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para disputar o governo estadual. Apesar de se recuperar de uma operação, Rezende não se licenciou do cargo.

Ressentimentos
Quem alimenta os ressentimentos tucanos contra Alckmin é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que somente não é candidato a governador por causa do alto risco que é deixar a prefeitura para uma eleição incerta. No PMDB, a ala ligada ao presidente da legenda, Michel Temer, também tem diferenças com o ex-governador e trabalha pela candidatura própria do ex-prefeito de Osasco Francisco Rossi.

Caso pensado
Não foi descuido o comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o PMDB, no qual disse que a legenda tem todo o direito de exigir a vice, mas sugeriu que o partido, em março, prepare uma lista tríplice e apresente à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), para que ela escolha um nome. Mirou no presidente do PMDB, Michel Temer, ao dizer que não pode ser “alguém que não tenha afinidade com ela, porque aí será a discórdia total”. Na verdade, Lula começa a rever sua estratégia para a ministra.

Consolação
O vice-presidente José Alencar é mesmo carne de pescoço. Apesar do câncer nos intestinos, contra o qual luta há anos, não pretende pendurar as chuteiras no PRB. Deixará o cargo em março para se candidatar ao Senado, por Minas. Com isso, o presidente da Câmara será o substituto eventual de Lula.

Maragato
O senador Pedro Simon, do PMDB-RS, foi à tribuna, ontem, protestar contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve a censura ao jornal O Estado de São Paulo. O centenário diário continua impedido de publicar notícias a respeito da investigação da Polícia Federal sobre atividades do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. Simon foi ministro da Agricultura do governo Sarney.

Dá cá
Deputados da bancada fluminense cogitam brigar por uma maior fatia da Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide), o imposto dos combustíveis, para atenuar perdas nas receitas com royalties no marco regulatório do pré-sal. O Rio de Janeiro arrecada 80% do tributo federal, mas fica com apenas 2,5% do bolo. Em outubro, por exemplo, recolheu R$ 618 milhões à União e recebeu R$ 15,5 milhões

Leão/ A partir de abril, a Receita Federal incluirá automaticamente no Cadastro de Inadimplentes da União (Cadin) as empresas que reconhecem a dívida com o Fisco. As empresas inscritas nesse cadastro não poderão obter financiamentos nem renovar contratos bancários, além de não terem acesso à Certidão Negativa de Débitos, documento que atesta o cumprimento das obrigações fiscais.

Esperada/ Após a reunião de quinta-feira, convocada para avaliar a desfiliação do governador José Roberto Arruda, dirigentes do DEM frisaram que a saída voluntária havia sido a primeira opção posta à mesa antes da abertura do processo de expulsão. A expulsão de Arruda já era dada como certa.

Barrigou/ Em conversa recente com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que jogará para 2010 a decisão sobre o ocupante da vaga de ministro no Superior Tribunal Militar (STM). Dos seis concorrentes ao posto, cinco são das carreiras da Advocacia-Geral da União (AGU).

Independente/
Ricardo Pires, empresário do ramo de informática, foi eleito presidente do PPS-DF pelo diretório regional. Sua empresa não tem contratos com o GDF.

CLÓVIS ROSSI

De vira-latas a megalomaníaco

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/12/09


Brasil, impotente no próprio quintal, quer ser potência na cúpula de Copenhague e no conflito do Oriente Médio

É INEGÁVEL que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi relevante para que o Brasil espantasse o complexo de vira-lata que Nelson Rodrigues via incrustado n'alma do brasileiro. Pena que o seu governo tenha trocado esse complexo pela megalomania, sem nem sequer passar por algum estágio intermediário mais consentâneo com a realidade do poder brasileiro.
O mais recente exemplo de megalomania está em frase do presidente durante comício em Recife na quarta-feira: "Copenhague só vai ser o que vai ser porque o nosso querido país teve a coragem de, há um mês, apresentar as metas que apresentamos", afirmou.
Ninguém sabe ainda o que Copenhague vai ser, mas o próprio Lula já havia descartado, apenas uma semana antes, que de lá saísse o acordo de seus sonhos.
Portanto, o que fez "o nosso querido país" não diz grande coisa. De mais a mais, qualquer pessoa que não tenha perdido completamente o senso de proporção sabe que Copenhague, saia o que sair de lá, será o produto de um equilíbrio entre os lobbies empresariais, sindicais e de ONGs, além das necessidades político-eleitorais dos líderes dos principais atores participantes, Brasil inclusive, mas não apenas nem principalmente o Brasil, ao contrário do discurso de Lula.
Qualquer pessoa que tenha mantido o sentido comum sabe igualmente que um acordo "dos sonhos" depende principalmente de Estados Unidos e China, seja qual for a posição do "nosso querido país".

Próprio quintal
De resto, nem seria preciso o caso Copenhague para que ficassem notórios os limites da pátria. O Brasil não conseguiu resolver nem um só dos problemas que surgiram em seu próprio quintal nos últimos tempos, mas ainda assim se anima a querer resolver o problema do Irã e o do Oriente Médio.
O Brasil gritou contra o acordo Colômbia/Estados Unidos que permite o uso de bases colombianas por militares norte-americanos. Exigiu "garantias por escrito" de que as bases não seriam usadas para ações fora da Colômbia. Nem os EUA nem a Colômbia deram nem bola nem garantia por escrito.
O Brasil condenou o golpe de Estado em Honduras e exigiu a volta de Manuel Zelaya ao poder. Não conseguiu nem mesmo um salvo-conduto para que Zelaya deixasse a embaixada brasileira rumo ao México, em vez de rumo ao poder. Mas o episódio que mais recomendaria que a diplomacia brasileira evitasse cenas explícitas de megalomania é anterior.
Trata-se da crise das "papeleras", as fábricas de celulose construídas no Uruguai, junto à fronteira com a Argentina, episódio que levou ao rompimento de relações entre o casal Néstor e Cristina Kirchner e o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez.
São vizinhos do Brasil, sócios do Mercosul, projeto prioritário da diplomacia brasileira -e nem assim o Brasil conseguiu mediar o conflito que se arrasta há anos. Qualquer pessoa de bom senso diria que é infinitamente mais fácil resolver o problema de uma "papelera" do que o conflito bíblico entre árabes e judeus. Mas megalômanos não costumam ter bom senso.

O ESGOTO DO BRASIL

JOSÉ SIMÃO

Lula! Me tira da merda também!
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/12/09


O Lula falou "merda"! Grandes novidades! O Lula sempre falou merda! Rarará!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
O Lula falou "merda"! Grandes novidades! O Lula sempre falou merda! Rarará! O Lula num discurso do Maranhão: "Vou tirar o povo da merda". E aí o Arruda gritou: "Me tira da merda também!". Rarará! Tema do discurso: saneamento básico.
Então o Lula devia ter chamado aquele limpa fossa de Peruíbe: Máfia da Merda! Vou tirar o povo da merda governando com a Máfia da Merda!
E merda não é mais palavrão há uns 20 anos. O Chico Buarque já tinha sugerido um ministro da Merda. Toda vez que fossem fazer alguma coisa duvidosa, o ministro gritava: "Vai dar merda!". Este ia estourar as cordas vocais!
Ia gritar mais que o Galvão Bueno! Ia gritar mais que o Datena em enchente. Ia gritar mais que o Tarzan no cio querendo comer a Chita! E ai que merda!
Compras de Natal. Tá na hora de começar a mugir. Ir pro shopping e ficar mugindo: "MUUUUito caro! MUUUito caro". Neste ano eu quero um Papai Noel magro, fumante e com a cara do Serra. Rarará! E o espírito de Natal? Todo mundo comprando tudo "made in China". O verdadeiro espírito de Natal é made in China.
Com batelia descalegável e cheque do Bladesco! E um amigo me disse que este ano vai ser o ANO DA RABANADA.
No horóscopo chinês. Levou rabanada do chefe, levou rabanada da mulher, levou rabanada da sogra e passou o ano levando rabanada do Lula! E eu tô com a gripe Zelaya: não quer ir embora!
E Brasília? Continua um deus nos arruda. Uma epiDEMia! Em São Joaquim da Barra tem um salão de barbearia em homenagem ao Arruda: MenSALãO! Promoção: quem fizer barba, cabelo e bigode ganha um panetone!
E um agente de saúde explicando a camisinha feminina: "Seu Zeca, pega a camisinha feminina e coloca na vagina". E o Zeca: "A vagina eu não conheço, posso colocar na Lucineide?". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". É que em Bagé tem um salão de baile com o cartaz: "Favor não atirar nos músicos". Ueba! Mais direto, impossível! Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção: Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. Hoje não tem pra não dar merda. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis.

FERNANDO RODRIGUES

Supremo pequeno

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/12/09

BRASÍLIA - É da maior relevância a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o caso de censura prévia imposta a "O Estado de S. Paulo". O jornal está proibido de publicar reportagens relacionadas a uma operação policial envolvendo um filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Ao julgar uma reclamação do jornal censurado, o STF decidiu enviar o assunto ao arquivo. Por 6 votos a 3, alegou erro processual. Na prática, manteve-se a censura.
A decisão está tomada. É ocioso interpretar tecnicamente a forma como os magistrados se manifestaram. Mas é útil refletir sobre os efeitos desse caminho adotado.
Também convém registrar o poder discricionário do Supremo diante de erros processuais quando se trata de garantir a prevalência do direito. Mesmo havendo um equívoco procedimental, um juiz zeloso pode corretamente conceder habeas corpus a um banqueiro preso se a detenção foi ilegal -não importando se esse banqueiro bate à porta da instância errada.
O ponto, portanto, é bem diferente de erro processual. O Brasil assistiu nesta semana à formação de um conceito perigoso para a democracia. Escorado em filigranas jurídicas, o STF decidiu manter um jornal sob censura prévia.
A partir de agora, milhares de políticos e filhos de políticos se sentirão à vontade para entrar na Justiça requerendo a suspensão prévia de publicação de reportagens. Juízes de primeira instância poderão confortavelmente decidir a favor desse tipo de censura.
Algo parece estar fora do lugar. O nanismo político do STF foi quase kafkiano. Optou por maximizar erros processuais. Minimizou a determinação constitucional sobre ser "livre a expressão da atividade intelectual (...) e de comunicação, independentemente de censura ou licença". Como é uma decisão da Justiça, cumpra-se. A nós, resta torcer para que seja breve esse apagão de valores no Supremo.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS

Brasileiro é o que mais defende ação estatal

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/12/09


A população brasileira é a que mais defende a intervenção do governo na economia, segundo pesquisa realizada pela Market Analysis e pela GlobeScan em 27 nações. A média mundial é de 56% de aprovação à ideia -entretanto, no país, 87% se dizem favoráveis a que o Estado interfira no dia-a-dia dos negócios.
A elevada taxa global de apoio à intromissão governamental é resultado da crise que sacudiu o planeta entre o final de 2008 e o início deste ano. Nos EUA, aponta-se a falta de controle sobre as operações realizadas pelos bancos como uma das principais causas do problema.
"As turbulências foram percebidas não apenas como um fenômeno conjuntural, mas acabaram abalando bastante o conceito de livre mercado", diz Fabián Echegaray, diretor da Market Analysis.
De acordo com o levantamento, a maioria dos brasileiros também afirma achar que o Estado deve ter controle direto sobre as principais indústrias nacionais.
Echegaray explica que tal anuência à pesada ação estatal não significa exatamente uma confiança na competência do poder público. "É mais um desejo de deixar que essa instância superior resolva as dificuldades cotidianas. O governo é visto de forma paternalista, como um agente capaz de garantir o bem-estar", comenta o cientista político.
A um traço cultural do país soma-se o sucesso que a atual administração teve em conter os efeitos da crise.
É justamente a diferença de valores o principal motivo para que os povos de localidades que sofreram recessão rejeitem intervenções. Os EUA e o Reino Unido estão entre os que desaprovam a atuação estatal forte. "A crença, lá, é a de que o progresso depende do esforço individual, enquanto no Brasil acredita-se que é decorrente da ajuda pública", diz Echegaray.

As turbulências foram percebidas não só como fenômeno conjuntural, mas abalaram a ideia de livre mercado. No Brasil, há o desejo de deixar que o governo resolva as dificuldades cotidianas
FABIÁN ECHEGARAY
diretor da Market Analysis

AO TRABALHO
O segmento de móveis para escritórios sofreu em dobro na crise. Além da queda nas vendas do setor em geral, houve um agravante, segundo José Alberto Chiuratto, presidente da Alberflex. "Com as demissões que a crise provocou, além da queda na demanda por móveis de trabalho, surgiu um mercado de produtos usados dessas empresas." O resultado foi um aumento dos estoques, que a Alberflex passou a usar, após o reaquecimento da economia nos últimos meses, como uma linha de pronta entrega. "Agora, com a redução do IPI para móveis, esperamos poder atender o crescimento da demanda", diz. A empresa teve queda de 30% no faturamento no primeiro semestre deste ano, ante o mesmo período de 2008. O segundo semestre apresentou retomada e já superou os números do mesmo intervalo do ano passado.

PÉ NO ACELERADOR
A grande queixa dos usuários de Nextel sempre foi a de que os seus aparelhos eram mais feios do que os celulares comuns. Por saber que a questão da funcionalidade se tornou decisiva, a empresa fará dela um pilar da sua estratégia e promete lançar no começo de 2010 o primeiro modelo "touchscreen". "Trabalhamos para reduzir a lacuna de tendência", diz Sérgio Chaia, presidente da Nextel.

CATAVENTO
O presidente da Abeeólica (Associação Brasileira das Empresas de Energia Eólica), Lauro Fiúza Filho, assume amanhã, em Copenhague, uma vaga no conselho da GWEC (Global Wind Energy Council), entidade que congrega as maiores empresas e associações do setor no mundo. Fiúza também é presidente do Grupo Servtec.

PRIMEIROS PASSOS
A Confederação das Indústrias Dinamarquesas propôs à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) a elaboração de um memorando de entendimento para a cooperação no uso de tecnologias verdes. Dentre os processos que podem interessar aos empresários brasileiros, está o de geração eólica de energia elétrica em larga escala.

J. A. GUILHON ALBUQUERQUE

Protagonismo inconsequente

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/12/09



Pouquíssimos países, como o Brasil, terão passado por mudanças tão rápidas e radicais em seu perfil externo nos últimos 20 anos. Acossado pelo pesadelo da dívida externa e pela inflação descontrolada, nosso país era, até meados dos anos 80, um pária na comunidade internacional, em dívida com a democracia, os direitos humanos, a proteção ambiental, os direitos dos povos e das minorias. Não era considerado um país confiável.

Hoje tem assento obrigatório em qualquer fórum em que as questões mais relevantes para o destino do planeta sejam discutidas. E esse processo, construído ao longo de quatro governos, sofreu uma aceleração significativa no governo Lula, é justo que se anote. O número, a diversidade e a relevância das oportunidades que se abrem diante do Brasil - políticas, econômicas, morais - são difíceis de estimar, mas não são infinitas nem à prova de retrocesso.

Todo exercício de poder tem custo. O exercício de poder no contexto internacional tem sempre um custo elevado e a liderança internacional tem um custo diretamente proporcional ao preço de seus objetivos. Por isso é indispensável medir a necessidade e a viabilidade das ações de política externa, não pelo alto perfil que elas podem emprestar ao País, muito menos a um ator político, mas por sua posição na hierarquia dos interesses vitais da Nação.

Minha diferença com relação à política externa do governo Lula não é porque ela seja "de esquerda" - não é -, ou porque seja audaciosa - não é -, ou porque seja protagônica, o que pode ser ocasionalmente conveniente, desde que não vire obsessão. A política externa do atual governo é conceitualmente pobre - o que dificulta o diagnóstico correto dos desafios e oportunidades do contexto internacional. É operacionalmente chã - o que a leva a colocar todos os objetivos e atores no mesmo saco. É economicamente irracional porque não leva em conta nenhuma noção de custo e imagina que o capital de prestígio e influência de Lula, sua universal moeda de troca, seja inesgotável.

Tudo isso converge na noção, que os áulicos não cessam de confirmar no presidente, de que, quanto maior o número de ações protagônicas de política externa, mais aumenta o capital de "liderança global" de Lula, e quanto mais oportunidades de exibir o presidente em alto perfil, maior será o poder internacional do País, e maiores os benefícios para o Brasil. Haverá exemplo melhor em contrário do que o fiasco daquela reunião de países amazônicos, em que tivemos o dissabor de ver esse expoente do reacionarismo europeu, Sarkozy, pontificar sobre nosso maior patrimônio natural, como único interlocutor relevante de nosso presidente? Será que os estrategistas do Planalto e do Itamaraty aprenderão a lição? Não é o que indica seu retrospecto.

Primeiro, porque não sabem distinguir divergência de traição, e a tratam com arrogância. Em sua defesa da visita ao Brasil do presidente Ahmadinejad, do Irã (Folha de S.Paulo, 26/11), o assessor internacional do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, dedica seis de uma dezena de parágrafos não a apresentar seus argumentos ou refutar os contrários, mas a ofender aqueles que divergem, segundo ele, "subservientes", "vira-latas", "eleitoreiros", pescadores de "águas turvas". Isso tudo porque algumas vozes independentes se levantaram para manifestar sua divergência a que o governo brasileiro recebesse, com pompa e circunstância, o representante de um governo totalitário, suspeito de desenvolver um programa nuclear com objetivos bélicos, ele mesmo envolvido em maciça fraude eleitoral e responsável por cruel massacre de seus opositores.

Segundo, porque os parcos argumentos do assessor em prol dos lucros da visita do líder do regime xiita se resumem a apresentar uma lista de governantes que teriam demonstrado apreço ou manifestado altas expectativas com relação às iniciativas externas de Lula. Como se atender às expectativas dos poderosos bastasse para legitimar o papel de um chefe de Estado. Se não é subserviência, é um argumento obsequioso. Mas nem sequer verdadeiro: enquanto com uma mão Lula afiançou os planos nucleares do regime xiita desde que "dentro dos compromissos internacionais", com a outra determinou que o Brasil se abstivesse de aprovar o voto de censura da Agência Internacional de Energia Atômica contra violações de Teerã, decisão endossada até mesmo pela Rússia e pela China. Alentado por esse apoio sem contrapartida, no dia seguinte Teerã desafiou o Conselho de Segurança das Nações Unidas, anunciando uma expansão sem precedentes de seu programa nuclear, com a construção de dez novas refinarias de urânio.

Lula foi mais longe em visita a Berlim, insurgindo-se contra nossos principais parceiros estratégicos: desqualificou quatro anos de negociações entre o sexteto (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) e o Irã, com vista a limitar as ambições nucleares daquele país, e negou legitimidade à Rússia e aos Estados Unidos, para exigir que qualquer país renuncie a seus objetivos bélicos, já que não promoveram o desarmamento.

Quem governa o Brasil há tantos anos deveria saber que o protagonismo externo pode ser inútil e nocivo, porque oneroso. O Mercosul, o Grupo do Rio, a Unasul e agora também a OEA e o Pacto Amazônico vêm sofrendo, um depois do outro, o desgaste e as divisões decorrentes da obsessão de Lula pela liderança e sua inclinação para o maniqueísmo. Desde a fundação da ONU o Brasil vem sendo reconduzido, regularmente, ao Conselho de Segurança, no qual goza de merecido prestígio pela qualidade de sua participação. Que isso não se ponha também a perder por um ativismo inconsequente, a serviço de um indisfarçado culto à personalidade.
J. A. Guilhon Albuquerque é professor titular de Relações Internacionais da FEA-USP.

GOSTOSA

ARI CUNHA

Surpresa em Brasília

CORREIO BRAZILIENSE - 12/12/09


A capital federal vive momentos de dificuldades. Corrupção dominando todos os quadrantes. A surpresa correu por conta do governador José Roberto Arruda. De repente, a cidade toma conhecimento de que o Arruda não será candidato no próximo ano. Saiu do DEM, seu partido. Poupou os correligionários. Ficou órfão politicamente. Afirma com todas as letras que foi armação dos concorrentes. Era quase garantida a reeleição. Com milhares de obras em realização pela cidade, prefere ficar no governo, terminar o mandato e sem partido. E assim estará no governo de Brasília até 2010. Quem informa é o fiel escudeiro secretário Alberto Fraga, também filiado ao DEM. José Roberto Arruda prefere enfrentar as dificuldades. Sozinho cumprirá o destino. A resposta será dada pelo trabalho, informa o governador de Brasília.


A frase que não foi pronunciada

“Código de ética. O problema da ética é que ela sempre vem em código.”
» Dona Dita, sobre a fileira de escândalos.




Arte

»
Carlos Gontijo balançou o coração das crianças. Nascido numa satélite, cresceu, encantou o mundo. Percorrendo países, carrega o som do sax junto aos ouvidos. Provou que garoto com pés descalços nos arrabaldes de Brasília cede ao encanto da música clássica, que chega ao coração do pobre como varinha de condão.

Honduras

»
Bem instalado desde setembro na Embaixada do Brasil em Honduras, Manuel Zelaya foi jogado ao fogo pela maldade de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. Era a intenção prejudicar quem lhe ajudou, que foi o governo do Brasil. Não aceitou humilhações do Itamaraty. O destino lhe pertence, com a caixa de pandora de propostas que queriam considerá-lo fugitivo político.

Universal

»
Declaração de Celina Souza, cientista política, chama a atenção. Em 2010, o governo que for eleito deve respeitar a regulamentação das políticas sociais propostas pelo presidente Lula. “O sistema político brasileiro, independentemente do sistema partidário, incorporou todas essas políticas públicas.” Essa é a bandeira também da oposição.

Novidade

»
A nova lei do inquilinato estava há 18 anos sem reforma. O que assusta agora é a penalidade aos inadimplentes. O despejo dos maus pagadores será facilitado tanto para imóveis residenciais quanto comerciais. As necessidades do inquilino são as mesmas do proprietário. Alguns chamam as novas regras de perversas. Outros, de justas.

CPI

»
Acredite se quiser. O diretor-geral de Itaipu, Jorge Miguel Samek, garantiu que, em 2010, as contas de luz serão mais baratas. Está sobrando energia no Brasil. Seria uma compensação pelos apagões e a cobrança indevida de tarifas anteriores. Claro que a percepção de descontos não chegará ao bolso do contribuinte. Uma pena a CPI sobre tarifa de energia ter sido inútil para o consumidor.

Emprego

»
Jovens vindos de projetos sociais do governo podem ser beneficiados no primeiro emprego. A Câmara discute menos imposto para as empresas de turismo que acolherem esse grupo. A proporção é de 5% do quadro ocupado pelos jovens para 30% de desconto no imposto. A proposta está em discussão.

Gás

»
Nova campanha da ANP vai combater a revenda ilegal de gás. O problema aparece cada vez que pontos clandestinos são descobertos. Eles chegam a 40% de participação no mercado. No DF, as revendas autorizadas não chegam a 500. Clandestinas, são 3 mil. Ministério Público e Procon estão na briga.

Gringos

»
Vinha se arrastando e agora pegou. Está instalada a CPMI do MST. O movimento não rechaça a criação da CPI. Até concorda com a influência estrangeira na agricultura do país, e dá a dica para ajudar nas investigações nos campos brasileiros: Monsanto, Cargill, ADM, Dreyfus, Bunge e Syngenta.

Chuvas

»
Uma atividade a mais para a Polícia Rodoviária Federal. Além de controlar a segurança nas estradas vai monitorar as encostas. O DNIT e concessionárias nas rodovias privatizadas também estão a postos para reportar casos de deslizamentos.

Palavra

»
Durante missa do Congresso Nacional, a homilia do arcebispo de Brasília foi um discurso político. Dom João Braz de Aviz pediu aos parlamentares presentes que se mobilizem para que saia da gaveta o projeto popular contra os políticos com ficha suja. Depois voltou à Bíblia. Não é possível servir a dois senhores. Ou ao dinheiro ou a Deus.

Nobel

»
Tão criticada pelos árabes, a arrogância norte-americana está se desfazendo. O presidente Obama concordou que não era merecedor do prêmio Nobel da Paz e que, comparado com seus antecessores, seus feitos são “escassos” até agora.



História de Brasília

O bloco 4 do Iapc (106) tem, atualmente, uma das mais completas oficinas de Brasília. Isso, pelo menos, a julgar pelo incômodo que causa aos moradores daquele bloco, com as experiências de freios, buzinas e regulagem de motores. (Publicado em 19/2/1961)

MERVAL PEREIRA

Brasil e EUA: tensão

O GLOBO - 12/12/09


Ao mesmo tempo em que cresce a opinião favorável aos Estados Unidos na América Latina, e o presidente Barack Obama é o líder político mais admirado na região, à frente do presidente Lula, o líder regional mais popular, crescem também as áreas de atrito. O recado enviado ontem pela secretária de Estado, Hillary Clinton, aos países que estão estreitando o relacionamento com o Irã — nomeadamente Bolívia e Venezuela e, não citado, num sinal de respeito, o Brasil — reflete esse estado de espírito.

Aproximar-se do Irã é “uma péssima idéia”, disse Hillary Clinton, que acusou o Irã de ser “o principal apoiador, promotor e exportador de terrorismo no mundo hoje. Se (esses países) quiserem flertar com o Irã, devem pensar nas consequências.

E esperamos que eles pensem duas vezes”.

O desacordo com relação ao tratamento a ser dado à questão de Honduras, e a presença mais constante da China na região, são outros pontos de desentendimento, especialmente com o Brasil, que vê crescer sua influência.

O tom de admoestação do pronunciamento da secretária de Estado foi de quem considera a região zona de influência dos Estados Unidos.

Somado ao discurso do presidente Barack Obama ao receber o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, defendendo a guerra como um recurso inevitável e trazendo de volta a figura do mal nas relações internacionais, com os “países bandidos” reunidos no “eixo do mal”, como Coréia do Norte e Irã, temos uma situação de latente confronto retórico.

Segundo pesquisa do Latinobarômetro publicada pela revista inglesa The Economist, parte ponderável da América Latina já considera o Brasil um líder mais influente na região que os Estados Unidos.

Nos últimos dias, declarações de ambos os lados demonstram que o nível de tensão nas relações está aumentando, embora não seja possível dizer-se ainda que existe uma crise.

Mas, assim como o chanceler Celso Amorim mostrase desapontado com a atuação dos Estados Unidos na crise de Honduras, também o responsável pela região no Departamento de Estado, Arturo Valenzuela, deixa escapar que os Estados Unidos estão desapontados com a abstenção do Brasil na Agência Internacional de Energia Atômica na condenação ao programa nuclear do Irã, ao mesmo tempo em que elogia o voto da Argentina.

A política externa dos Estados Unidos, após um começo claudicante em que não havia uma direção clara, neste momento está se encaminhando para a defesa dos interesses do país acima dos interesses partidários.

O discurso de Obama no Nobel poderia ter sido pronunciado por George W.

Bush, dizem alguns republicanos, satisfeitos com a guinada.

Mas também do lado dos democratas a demanda por uma política mais nacionalista é reivindicada.

Na crise de Honduras, os Estados Unidos deixaram o apoio incondicional a Manuel Zelaya quando se deram conta, por pressão republicana, de que ele fazia parte do esquema político de Chavez na região, tendo incluído Honduras na Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).

Mesmo continuando com a tese de que houve um golpe em Honduras, o governo americano passou a defender a realização das eleições como a saída para a crise, e provavelmente a posse do novo presidente, em 27 de janeiro, deverá ajudar a superar o impasse que o país vive.

Esse passou a ser o entendimento generalizado das forças políticas dos Estados Unidos, e da mesma maneira a crítica que a secretária de Estado Hilary Clinton fez sobre Venezuela e Nicarágua, afirmando que a democracia não pode depender de um homem, mas sim de instituições fortes e rodízio de poder, parece contar com o apoio de republicanos e democratas.

Recente artigo publicado no “The Miami Herald” de Peter Romero, subsecretário de Estado para a América Latina no governo de Bill Clinton, e Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas, define bem uma posição contra a “democracia direta”, que é a base da doutrina chavista para a região, com seus plebiscitos para permitir a reeleição sem limitações dos governos, ou o uso do Poder Judiciário, como na Nicarágua, para contornar os limites constitucionais.

A pesquisa do Latinobarômetro, ONG sediada no Chile que faz pesquisas regularmente, desde 1995, sobre valores e opiniões na região, publicada na recente edição da revista inglesa “The Economist”, mostra que os países da América Latina estão mais satisfeitos do que nunc a c o m a democracia e apoiam seus governos.

A maioria dos habitantes dos 18 países pesquisados é favorável à economia de mercado e tem uma visão crítica em relação a Hugo Chávez, ao mesmo tempo que admira o presidente brasileiro Lula, que só perde em popularidade na região para Barack Obama.

Chávez tem o apoio de 45% dos venezuelanos, bem abaixo dos 65% que já teve, e nada menos que 81% dos entrevistados na Venezuela se disseram favoráveis à iniciativa privada, apesar das estatizações que o governo vem promovendo.

Especificamente sobre o caso de Honduras, há um claro repúdio ao golpe: 58% dos hondurenhos ficaram contra e, na região como um todo, apenas 24% o aprovaram.

Mas 61% dos pesquisados no Brasil, 58% no México e 42% na região concordaram que o Exército deve remover um presidente se ele viola a Constituição, como é acusado Manuel Zelaya de ter tentado.

A revista inglesa destaca o fato de que, apesar da recessão econômica provocada pela crise internacional, pela primeira vez desde que é feita a pesquisa, existe mais apoio para os governos eleitos democraticamente do que confiança nas Forças Armadas, numa região em que golpes militares foram frequentes.

GOSTOSA

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

Brasilienses

"É como se a moçada do Plano Piloto, gente de ‘mente aberta’
e acesso a uma boa universidade, dissesse aos emergentes
da Uniban: ‘Viram? Nós podemos. Vocês não’"

Não se trata de um recorde apenas brasileiro. No mundo todo, nunca antes o público ganhara igual oportunidade de contemplar a arte da corrupção em tal esplendor. Entre os itens da rica coleção de filmes estrelada pelo governador Arruda e sua turma, cada um terá suas próprias prefe-rências. A deste colunista é a seguinte:

Medalha de bronze, empatados: 1) Aquele em que o governador, escarrapachado no sofá, é despertado da sonolência pela mão amiga que lhe estende os maços de dinheiro. "Ah, ótimo", ele diz. Justificativa do prêmio: a naturalidade com que o governador saúda a oferta, embalada por um "ah, ótimo" tão protocolar como o que saudasse a chegada do cafezinho. 2) Aquele em que a deputada entra na sala, recebe o dinheiro, abre a bolsa, guarda o dinheiro e se vai. Justificativa: a simplicidade do ato.

Medalha de prata: o filme da oração, em que três dos propineiros se abraçam e agradecem ao Senhor a graça concedida. Justificativa: a força da fé, mesmo em circunstância em que o comum das pessoas não esperaria sua presença.

Medalha de ouro: o filme em que o presidente da Assembleia de Brasília, sentado diante do distribuidor da propina, recebe os maços e os vai alocando, primeiro, nos diferentes bolsos do paletó, depois nas meias. Justificativa: a didática exposição do caráter clandestino da propina, mas não apenas isso. O filme leva a palma também por seus valores estéticos. O personagem está bem vestido, exibe uma silhueta esguia, e os movimentos que executa, primeiro com os braços, conduzindo as mãos aos bolsos, em seguida com as pernas, levantando uma, depois a outra, para alcançar as meias, mostram flexibilidade e boa coordenação. É o estilo a serviço da corrupção.

Ainda falta acrescentar um detalhe, uma nota de rodapé, ao episódio em que a moça de minissaia foi escorraçada pelas hordas de trogloditas da universidade Uniban, em São Paulo. O detalhe, que talvez não seja tão detalhe assim, foi a manifestação encenada na Universidade de Brasília por algumas dezenas de estudantes, homens e mulheres, alguns em roupas íntimas, outros sem roupa alguma, em protesto contra o ocorrido. Duas moças de peitos de fora escreveram na pele: "O corpo é meu". Um grupo de meninas entoava: "Eu uso o que quiser / eu sou mulher".

Não foi noticiado se, como usam, ou não usam, o que bem entendem, os estudantes costumam assistir às aulas pelados. Presume-se que não. Mas naquele dia puderam, sim, exibir-se pelados no câmpus. Em si o fato não seria tão relevante se não revelasse… falar nisso é chato, é quase proibido, mas vá lá… se não revelasse uma questão de classe. É como se a juventude dourada do Plano Piloto, abençoada, entre outras coisas, com o acesso a uma boa universidade e a um meio de hábitos livres e "mente aberta", dissesse aos emergentes da Uniban, condenados a uma universidade ruim e a um meio de hábitos não tão livres e men-tes não tão abertas: "Viram, seus basbaques? Nós podemos. Vocês não". Acrescente-se que a moçada do Plano Piloto cursa uma universidade gratuita, enquanto a Uniban cobra caro de sua clientela classe C, e tem-se um retrato que, para além dos costumes, flagra a perversidade do sistema brasileiro de ensino superior em seu coração.

O Ministério das Cidades lançou uma campanha em que ensina aos pedestres que só devem atravessar a rua na faixa – e depois de esperar que os carros parem. Que é isso, Ministério das Cidades?! O alvo está invertido. É o motorista que tem de ser instruído a parar, assim que avista um pedestre na faixa. Essa é a questão central.

Esclareça-se desde logo que o que está em pauta é a faixa de pedestres sem semáforo. Com semáforo as coisas se simplificam: o sinal fecha, os carros param. Nesses locais nem precisaria haver faixa zebrada. Bastaria uma linha sinalizando o ponto em que os carros devem parar. O que os motoristas brasileiros não compreendem é que, à vista de uma faixa de pedestres onde não há semáforo, já ocupada ou em via de ser ocupada por pedestres, devem também obrigatoriamente parar. (Uma exceção surpreendente são os motoristas de Brasília: depois de uma série de atropelamentos, uma campanha de imprensa e multas que passaram a ser aplicadas, mais de dez anos atrás, aprenderam a respeitar a faixa.)

A faixa de pedestres é um marco civilizatório. Os países se dividem entre aqueles cujos motoristas a respeitam e os que não. O Brasil já conseguiu a capa da Economist e o investment grade das agências de risco. Falta a promoção no quesito res-peito à faixa de pedestres.

PAINEL DA FOLHA

Deu m.

RENATA LO PRETE

FPLHA DE SÃO PAULO - 12/12/09


A operação para acalmar o comando do PMDB, enfurecido após Lula ter sugerido à sigla apresentar uma lista tríplice a partir da qual seria escolhido o vice de Dilma Rousseff, culminou ontem com ligação da ministra a Michel Temer, que ainda não tinha ouvido palavra da possível companheira de chapa desde que foi citado, junto com outros caciques, como suposto beneficiário do propinoduto no Distrito Federal.

Como Franklin Martins fizera horas antes, Dilma procurou explicar a Temer o ‘contexto’ da frase. O presidente estava no Maranhão, disse. Se não se mostrasse aberto a opções, poderia magoar o peemedebista Edison Lobão. Pós-telefonema, Temer se aquietou, mas não muito. Hoje, o próprio Lula deve ligar.

Nada consta 1 - De Tarso Genro: ‘Recebi informações da Polícia Federal relatando que não está em trâmite nenhuma investigação relacionada à cúpula de qualquer partido ou sobre o presidente da Câmara, Michel Temer’.

Nada consta 2 - Segue o ministro da Justiça: ‘A Polícia Federal não processa informações para interferir na vida política de partidos ou direcionar investigação sobre qualquer liderança’.

Dúvida - Tarso não explica como pode inexistir qualquer investigação se Temer, assim como os deputados Tadeu Filippelli, Henrique Alves e Eduardo Cunha, é mencionado em gravação por Alcyr Collaço, um dos personagens da operação Caixa de Pandora.

Requerimento - Temer pediu formalmente ao diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, que esclareça se a PF sabe de algo que o comprometa. Após o estouro do Arrudagate, subiu a cotação de Henrique Meirelles, recém-filiado ao PMDB e alheio à máquina partidária, para ocupar a vaga de vice na chapa de Dilma.

4Janela... - O mal estar provocado pela declaração de Lula sobre a lista tríplice animou o PMDB pró-Serra. Representante da corrente, o deputado Eliseu Padilha foi um dos articuladores da nota na qual o partido diz que ‘ainda não aferiu a extensão e a profundidade dos danos que tal notícia causou ao pré-acordo’ (de apoio a Dilma). Levada ao site oficial, a nota acabou sendo retirada do ar horas depois.

...de oportunidade - Do ex-governador Orestes Quércia, presidente do PMDB de São Paulo e expoente da ala serrista do partido: ‘Tudo bem o Lula querer uma lista tríplice. Por que não?’.

Teste - José Roberto Arruda confidenciou aos mais próximos que está ‘com vontade’ de ir à abertura da Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) na segunda-feira. Seria a primeira aparição do governador ao lado de Lula depois de revelado o propinoduto no Distrito Federal.

Mãos vazias - Resposta de um ‘demo’ a quem sugere que Arruda só pediu para sair do partido mediante algum acordo: ‘Que acordo? A gente não tem nada pra oferecer!’.

Ponto de vista - Manchete de ‘O Coletivo’, jornal de Brasília que, segundo o gravador-geral Durval Barbosa, foi empregado no esquema de caixa dois do governo do DF: ‘Arruda dispensa o DEM’.

Assim é... - Petistas explicam o trecho de ‘campanha negativa’ no programa do PT, com ataque aberto ao governo FHC, pela necessidade de ‘marcar logo uma diferença’ e construir o ambiente de plebiscito desejado por Lula.

...se lhe parece - Já tucanos consideram que se trata de uma ‘isca’ para que a oposição caia na agenda do adversário e discuta FHC x Lula, em vez de Serra x Dilma.

Inversão térmica - De Lula, durante visita ao Peru para tratar da integração das fronteiras na Amazônia: ‘A vantagem do Acre é que basta cruzar uma ponte para ver neve’.

Tiroteio

Ou a gente aperfeiçoa os sistemas de fiscalização, ou o dinheiro do pré-sal corre o risco de virar essência de panetone.

Do deputado FLÁVIO DINO (PC do B-MA), defendendo a adoção de medidas que coíbam escândalos como o do recém-descoberto mensalão candango.

Contraponto

Livre interpretação

Na última sessão do julgamento do caso Cesare Battisti no Supremo, debatia-se acaloradamente se a palavra final sobre a extradição do terrorista italiano caberia ou não ao presidente Lula, especialmente depois do rebuscado voto do ministro Eros Grau, que dividiu o plenário.

- A palavra final caberá ao presidente da República, foi o que ele decidiu - avaliou Marco Aurélio Mello.

- Isso mesmo, ele entende que a palavra final é do presidente - reforçou Carlos Ayres Britto.

Eros coçou a longa barba, pensou um pouco e disse:

- Olha, talvez a melhor pessoa para tentar interpretar esse voto seja eu mesmo...

GOSTOSAS

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

Eu e o urso canibal

"Se os meteorologistas cometem erro de um dia para o outro,
como posso confiar em seus prognósticos para 2050 ou,
pior ainda, para 2100?"

O que eu sei sobre o clima?

Eu sei que é um assunto para lá de aborrecido. Eu sei que Giorgione podia pegar uma tempestade e transformá-la numa obra de arte. Eu sei que William Shakespeare podia pegar uma tempestade e transformá-la em outra obra de arte. Eu, prosaicamente, só sei pegar disenteria com as tempestades, como a que cai agora, espalhando esgoto pela Praia de Ipanema. Sim: eu sou um Giorgione dos protozoários. Sim: meu intestino delgado é uma Stratford-upon-Avon dos adenovírus.

Meteorologistas do mundo inteiro reuniram-se em Copenhague para uns debates para lá de aborrecidos sobre o clima. Eles alardeiam que, se continuarmos a emitir CO2, a temperatura da Terra aumentará sem parar, causando uma catástrofe. O que eu sei sobre isso? Eu sei que, antes de ontem, os meteorologistas de O Globo calcularam que a temperatura mínima no Rio de Janeiro, ontem, chegaria a 22 graus. Na realidade, ela foi de 20,6 graus. Se os meteorologistas de O Globo, de um dia para o outro, cometem um erro desse tamanho, como posso confiar em seus prognósticos para 2050 ou, pior ainda, para 2100? Só esse erro de cálculo – de 1,4 grau – já seria suficiente para submergir os atóis de Tuvalu, na Polinésia.

Eu sei – e sei porque li em O Globo ou em algum outro jornal – que o alarme dos meteorologistas sobre o aquecimento global se baseia em um gráfico com a forma de taco de hóquei. A temperatura do planeta, segundo esse gráfico, teria se mantido igual por milhares de anos, subindo abruptamente – como a lâmina de um taco de hóquei – no último século, quando o homem passou a emitir uma grande quantidade de CO2. E como é que os meteorologistas sabem qual era a temperatura na Terra 1 000 anos atrás? Eles sabem porque um deles, professor de East Anglia, analisou doze troncos de pinheiros siberianos, colhidos na Península de Yamal. Agora os professores de East Anglia foram flagrados manipulando alguns desses dados.

Os meteorologistas associam o CO2 ao derretimento da calota polar ártica. Eu só associo o CO2 à água Prata. A calota polar ártica, de acordo com todos os cálculos, deveria estar diminuindo. O que mostram as imagens de satélite, nos últimos anos, é o oposto. Em 2009, há mais gelo do que em 2008. Em 2008, havia mais gelo do que em 2007. Em 2007, havia mais gelo do que em 2006. A calota polar ártica, neste momento, cobre praticamente a mesma área de 1996, exceto por um ou dois pontos, confirmando a teoria de Lula de que a Terra é quadrada.

Os leitores de jornal, alguns dias atrás, foram amedrontados pela imagem de um urso polar canibal. O que eu sei sobre o assunto é que, nos tempos de Giorgione e de William Shakespeare, talvez houvesse menos CO2, mas nós brasileiros já comíamos uns aos outros.

Um dado que ninguém tem, só eu: no segundo turno, de acordo com a última pesquisa eleitoral do Ibope, José Serra teria 51 pontos e Dilma Rousseff, 25. Descontando os votos brancos e nulos: 67 a 33. Ao contrário da calota polar ártica, Dilma Rousseff continua a derreter.

DIRETO DA FONTE

Navegar...

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/12/09


Roberto Setubal comemora. A Fundação Itaú Social, dirigida por Antônio Matias, acaba de ganhar em Washington o prêmio Corporate Citizen of The Americas, da OEA, pelo projeto Escrevendo o Futuro.
Em 2001, Setubal e Matias, depois de pesquisar dados sobre a educação no País, tiveram a ideia de montar um processo para melhorar a qualidade da língua no Brasil. Deu certo. Tão certo que em 2006, Fernando Hadad, da Educação, absorveu o programa como política pública, por meio da Olimpíada de Língua Portuguesa.
Hoje, o processo alcança 50 mil escolas e nada menos que 6 milhões de alunos.

... é preciso

Aliás, Haddad decidiu disseminar o projeto paulista Catraca Livre - ferramenta na internet desenvolvida por um grupo de universitários da USP, Mackenzie, PUC e Metodista. O objetivo é ensinar os estudantes a aproveitar melhor a capital de São Paulo.
Como? Apresentando a ideia a todos os secretários de educação. É que muitos alunos, com poucos recursos, deixam de ter vida cultural. Não por falta de dinheiro mas de informação.


Cabeça-a-cabeça

FHC foi eleito pela americana Foreign Policy o 11º mais importante pensador do ano. Em primeiro? Ben Bernanke, do Fed. Logo em seguida aparece... Obama.


Longa, a metragem

Walter Feldman vai instalar, quarta, um telão gigante e 400 cadeiras na Cracolândia. Onde promove uma sessão-filme "esquenta", unindo moradores "sem-teto" e convidados "com-teto".
Trata-se de uma prévia do projeto Cineclube Escola que começa no ano que vem.

Green card

Marina Silva finalmente conseguiu colocar seu grupo na direção do PV. Os "marinetes" assumirão dia 19.

Green card 2

E já está decidido: Marina e José Luiz Pena colocam o pé na estrada a partir do mês de janeiro.
Rodam o Brasil para tentar lançar o maior número possível de candidatos próprios. Ao que se sabe, cinco Estados estão garantidos.

Contando as gotas

Rezando para as chuvas não alagarem São Paulo novamente, o Corpo de Bombeiros reuniu-se ontem e contabilizou: em menos de 24 horas, de terça para quarta, eles conseguiram resgatar 44 pessoas entre os 49 pontos de alagamento. Vítimas? Não conseguiram salvar seis.
Desmoronamentos, foram sete. Desabamentos? Seis. Além de 13 árvores perdidas.

yes, We have caviar

A Petrossian House - maior compradora de caviar do mundo - vai entrar no Brasil.
Em parceria com Toninho Abdalla e Joseph Tutundjian. Leia-se Bentley -Bugatti, todas marcas classe AAA.

Duro, o tempo

A top alemã Lara Stone, 25, ficou no posto de Madonna, 51, como garota-propaganda da Louis Vuitton.

Reality-politik

Nem tudo está perdido para a ex-bandeirinha Ana Paula, a primeira eliminada de A Fazenda. Ela deve apitar a pré-temporada do Paulistão 2010.
E mais: o PC do B pretende lançar a moça para deputada.

Metade, metade

O Bradesco ganhou 2 das 4 lideranças nas federações. Na de saúde, entra Heráclito Brito, da Bradesco Saúde. Fenaprevi? Marco Antônio Rossi - Bradesco Seguros.

Puídas

Registrado durante a viagem de Lula em Lima. Celso Amorim precisa urgente de alguém para cuidar da barra de suas calças.


Na Frente

Com o fumo caindo em desuso, nada como voltar ao passado. A Souza Cruz relança o Hollywood Original Classic em edição limitada, trazendo de volta a autêntica embalagem da década de 80 com o devido "alerta Serra".
No seu "Dia do Muito Obrigado" deste ano, a GM convida seus 6 mil funcionários para ouvir, ao ar livre em São Caetano, o maestro e pianista João Carlos Martins e a Orquestra Bachiana. Segunda.

Durval Moura Araújo, atleta hípico de 90 anos, estreia na categoria biatlo. Parte da Etapa Final Esportiva da Sociedade Hípica Paulista.

Roberta e Paula Landmann lançam o projeto infantil You and Me. Hoje, no Universo Cecília Echenique.

Mart"nália é a cereja do bolo da tradicional festa de fim de ano capitaneada por Lucila e Jorge Elias. Dia 21.

Thomaz Souto Corrêa, Paulo Giandalia e Renato Pasmanik lançam segunda o livro Mestres do Salão. No bar Original.

Black Linhares abre mostra de Acrílicos sobre Tela. Segunda, na Mercearia São Roque.
Com fotos de Tuca Reinés, a Imprensa Oficial lança o livro Embaixada da França. Quando?Hoje, na Pinacoteca.

Atenção comitiva brasileira que chega segunda, em Copenhague: a chefa do grupo, Dilma, completa no dia, 62 anos.

O ABILOLADO

RUY CASTRO

Publique-se a lenda

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/12/12/09



Se você assistiu ao filme O Homem Que Matou o Facínora (1961), de John Ford, recorda-se de como o senador Ransom Stoddard (James Stewart) narra para o editor do “Shinbone Star” como fez toda a sua carreira política em cima de uma fraude. Contrariando a lenda, não fôra ele que matara o facínora (Lee Marvin) e, com isso, trouxera a lei para aquela região do Oeste, mas o ex-pistoleiro Tom Doniphon (John Wayne), tão frio quanto o bandido.

O jornalista sorri, rasga as anotações e diz a frase que ficaria célebre: “Quando a lenda se torna realidade, publica-se a lenda.” Há tempos, uma amiga me perguntou de quem era a frase. Respondi que, pelo visto, era do escritor James Warner Bellah, autor do roteiro. E só há pouco me dei conta de que o conceito já existia e pode ter sido criado aqui mesmo, no nosso quintal.

“O importante não é o fato, mas a versão” – lembra-se? É a mesma coisa. A frase, dos anos 40 ou 50, era atribuída ao esperto político mineiro Benedito Valadares. Mas outro político, também mineiro e também esperto, José Maria Alkmin, estrilou: “Poxa, Benedito, eu inventei a história de que o importante não era o fato, mas a versão. Você se apropriou dela e agora todos acham que é sua”. Ao que Benedito, ainda mais esperto, retrucou: “O que prova que ela está certa, meu filho.”

Mas, e se a frase tiver vindo de ainda mais longe no passado e não for de nenhum dos dois? No começo do século, o romancista francês Georges Duhamel escreveu: “Como toda pessoa séria, não acredito na verdade histórica, mas na verdade da lenda.”

Vale o escrito. Do presidente Lula ao mais nulo vereador de aldeia, noventa por cento dos políticos brasileiros na ativa construíram suas carreiras em cima da lenda, não da realidade. Os restantes dez por cento ainda não se deixaram flagrar.

LYA LUFT

REVISTA VEJA
Lya Luft

O que devemos aos jovens

"Tratando dos jovens e de suas frustrações, falo sobre nós, adultos,
pais, professores, autoridades, e em quanto lhes somos devedores"

Fiquei surpresa quando uma entrevistadora disse que em meus textos falo dos jovens como arrogantes e mal-educados. Sinto muito: essa, mais uma vez, não sou eu. Lido com palavras a vida toda, foram uma de minhas primeiras paixões e ainda me seduzem pelo misto de comunicação e confusão que causam, como nesse caso, e por sua beleza, riqueza e ambiguidade.

Escrevo repetidamente sobre juventude e infância, família e educação, cuidado e negligência. Sobre nossa falha quanto à autoridade amorosa, interesse e atenção. Tenho refletido muito sobre quanto deve ser difícil para a juventude esta época em que nós, adultos e velhos, damos aos jovens tantos maus exemplos, correndo desvairadamente atrás de mitos bobos, desperdiçando nosso tempo com coisas desimportantes, negligenciando a família, exagerando nos compromissos, sempre caindo de cansados e sem vontade ou paciência de escutar ou de falar. Penso sobretudo no desastre da educação: nem mesmo um exame de Enem tranquilo conseguimos lhes oferecer. A maciça ausência de jovens inscritos, quase a metade deles, não se deve a atrasos ou outras dificuldades, mas ao desânimo e à descrença.

De modo que, tratando dos jovens e de suas frustrações, falo sobre nós, adultos, pais, professores, autoridades, e em quanto lhes somos devedores. O que fazem os que de maneira geral deveriam ser líderes e modelos? Os escândalos públicos que nos últimos anos se repetem e se acumulam são para deixar qualquer jovem desencantado: estudar para quê? Trabalhar para quê? Pior que isso: ser honesto para quê, se nossos pretensos líderes se portam de maneira tão vergonhosa e, ano após ano, a impunidade continua reinando neste país que tenta ser ufanista?

Tenho muita empatia com a juventude, exposta a tanto descalabro, cuidada muitas vezes por pais sem informação, força nem vontade de exercer a mais básica autoridade, sem a qual a família se desintegra e os jovens são abandonados à própria sorte num mundo nem sempre bondoso e acolhedor. Quem são, quem podem ser, os ídolos desses jovens, e que possibilidades lhes oferecemos? Então, refugiam-se na tribo, com atitudes tribais: o piercing, a tatuagem, a dança ao som de música tribal, na qual se sobrepõe a batida dos tantãs. Negativa? Censurável? Necessária para muitos, a tribo é onde se sentem acolhidos, abrigados, aceitos.

Escola e família ou se declaram incapazes, ou estão assustadas, ou não se interessam mais como deveriam. Autoridades, homens públicos, supostos líderes, muitos deles a gente nem receberia em casa. O que resta? A solidão, a coragem, a audácia, o fervor, tirados do próprio desejo de sobrevivência e do otimismo que sobrar. Quero deixar claro que nem todos estão paralisados, pois muitas famílias saudáveis criam em casa um ambiente de confiança e afeto, de alegria. Muitas escolas conseguem impor a disciplina essencial para que qualquer organização ou procedimento funcione, e nem todos os políticos e governantes são corruptos. Mas quero também declarar que aqueles que o são já bastam para tirar o fervor e matar o otimismo de qualquer um.

Assim, não acho que todos os jovens sejam arrogantes, todas as crianças mal-educadas, todas as famílias disfuncionais. Um pouco da doce onipotência da juventude faz parte, pois os jovens precisam romper laços, transformar vínculos (não cuspir em cima deles) para se tornar adultos lançados a uma vida muito difícil, na qual reinam a competitividade, os modelos negativos, os problemas de mercado de trabalho, as universidades decadentes e uma sensação de bandalheira geral.

Tenho sete netos e netas. A idade deles vai de 6 a 21 anos. Todos são motivo de alegria e esperança, todos compensam, com seu jeito particular de ser, qualquer dedicação, esforço, parceria e amor da família. Não tenho nenhuma visão negativa da juventude, muito menos da infância. Acho, sim, que nós, os adultos, somos seus grandes devedores, pelo mundo que lhes estamos legando. Então, quando falo em dificuldades ou mazelas da juventude, é de nós que estou, melancolicamente, falando.