sexta-feira, novembro 27, 2009

ESTUPRADOR DE MENINOS


LULA, O VAGABUNDO COMEDOR DE MENINOS


CÉSAR BENJAMIN, FUDADOR DO PT

"Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.

LEIA ABAIXO, O DEPOIMENTO COMPLETO

CÉSAR BENJAMI

Os filhos do Brasil

Folha de S. Paulo - 27/11/2009

ESPECIAL PARA A FOLHA


A PRISÃO na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de "boi"; a única água disponível era a da descarga do "boi". Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade.
Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano.
Oriundos de São Paulo, Caveirinha e Português disseram-me que "estavam pedidos" pelo delegado Sérgio Fleury, que provavelmente iria matá-los. Nelson, um mulato escuro, passava o tempo cantando Beatles, fingindo que sabia inglês e pedindo nossa opinião sobre suas caprichadas interpretações. Repetia uma ideia, pensando alto: "O Brasil não dá mais. Aqui só tem gente esperta. Quando sair dessa, vou para o Senegal. Vou ser rei do Senegal".
Voltei para a solitária alguns dias depois. Ainda não sabia que começava então um longo período que me levou ao limite.
Vegetei em silêncio, sem contato humano, vendo só quatro paredes -"sobrevivendo a mim mesmo como um fósforo frio", para lembrar Fernando Pessoa- durante três anos e meio, em diferentes quartéis, sem saber o que acontecia fora das celas. Até que, num fim de tarde, abriram a porta e colocaram-me em um camburão. Eu estava sendo transferido para fora da Vila Militar. A caçamba do carro era dividida ao meio por uma chapa de ferro, de modo que duas pessoas podiam ser conduzidas sem que conseguissem se ver. A vedação, porém, não era completa. Por uma fresta de alguns centímetros, no canto inferior à minha direita, apareceram dedos que, pelo tato, percebi serem femininos.
Fiquei muito perturbado (preso vive de coisas pequenas). Há anos eu não via, muito menos tocava, uma mulher. Fui desembarcado em um dos presídios do complexo penitenciário de Bangu, para presos comuns, e colocado na galeria F, "de alta periculosia", como se dizia por lá. Havia 30 a 40 homens, sem superlotação, e três eram travestis, a Monique, a Neguinha e a Eva. Revivi o pesadelo de sofrer uma curra, mas, mais uma vez, nada ocorreu. Era Carnaval, e a direção do presídio, excepcionalmente, permitira a entrada de uma televisão para que os detentos pudessem assistir ao desfile.
Estavam todos ocupados, torcendo por suas escolas. Pude então, nessa noite, ter uma longa conversa com as lideranças do novo lugar: Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari dos Macacos (ou Ari Navalhada, por causa de uma imensa cicatriz que trazia no rosto) e Chinês. Quando o dia amanheceu éramos quase amigos, o que não impediu que, durante algum tempo, eu fosse submetido à tradicional série de "provas de fogo", situações armadas para testar a firmeza de cada novato.
Quando fui rebatizado, estava aceito. Passei a ser o Devagar. Aos poucos, aprendi a "língua de congo", o dialeto que os presos usam entre si para não serem entendidos pelos estranhos ao grupo.
Com a entrada de um novo diretor, mais liberal, consegui reativar as salas de aula do presídio para turmas de primeiro e de segundo grau. Além de dezenas de presos, de todas as galerias, guardas penitenciários e até o chefe de segurança se inscreveram para tentar um diploma do supletivo. Era o que eu faria, também: clandestino desde os 14 anos, preso desde os 17, já estava com 22 e não tinha o segundo grau. Tornei-me o professor de todas as matérias, mas faria as provas junto com eles.
Passei assim a maior parte dos quase dois anos que fiquei em Bangu. Nos intervalos das aulas, traduzia livros para mim mesmo, para aprender línguas, e escrevia petições para advogados dos presos ou cartas de amor que eles enviavam para namoradas reais, supostas ou apenas desejadas, algumas das quais presas no Talavera Bruce, ali ao lado. Quanto mais melosas, melhor.
Como não havia sido levado a julgamento, por causa da menoridade na época da prisão, não cumpria nenhuma pena específica. Por isso era mantido nesse confinamento semiclandestino, segregado dos demais presos políticos. Ignorava quanto tempo ainda permaneceria nessa situação.
Lembro-me com emoção -toda essa trajetória me emociona, a ponto de eu nunca tê-la compartilhado- do dia em que circulou a notícia de que eu seria transferido. Recebi dezenas de catataus, de todas as galerias, trazidos pelos próprios guardas. Catatau, em língua de congo, é uma espécie de bilhete de apresentação em que o signatário afiança a seus conhecidos que o portador é "sujeito-homem" e deve ser ajudado nos outros presídios por onde passar.
Alguns presos propuseram-se a organizar uma rebelião, temendo que a transferência fosse parte de um plano contra a minha vida. A essa altura, já haviam compreendido há muito quem eu era e o que era uma ditadura.
Eu os tranquilizei: na Frei Caneca, para onde iria, estavam os meus antigos companheiros de militância, que reencontraria tantos anos depois. Descumprindo o regulamento, os guardas permitiram que eu entrasse em todas as galerias para me despedir afetuosamente de alunos e amigos. O Devagar ia embora.



São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.
Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.
Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.
Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.
O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.



Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto.
Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade.
Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada.
A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.
O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.
Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.

CÉSAR BENJAMIN, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

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IGOR GIELOW

Jobim pede à FAB que não indique qual o melhor caça

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/11/09


Ministro diz que, independentemente disso, decisão final será mesmo do presidente

Em setembro, o presidente da comissão que avalia o negócio, brigadeiro Dirceu Noro, disse que iria apontar um vencedor do processo


O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que pediu à FAB (Força Aérea Brasileira) que não indicasse um vencedor em sua avaliação técnica dos concorrentes ao fornecimento de 36 novos caças ao Brasil.
Mais: afirmou por meio de sua assessoria que "a expectativa é que o relatório venha conforme solicitado", "mas, independentemente da forma [do texto]", "o que vale é a avaliação final feita pelo presidente da República".
Para Jobim, que diz ter pedido só os prós e contras de cada concorrente em itens como preço e transferência tecnológica, "tudo o mais são insumos para essa decisão" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em setembro, o presidente da comissão que avalia o negócio de estimados R$ 10 bilhões, brigadeiro Dirceu Noro, afirmara que iria haver um vencedor do processo seletivo. A declaração foi dada após a gafe de Lula, que havia anunciado a escolha do francês Dassault Rafale durante visita do seu colega Nicolas Sarkozy, esquecendo de esperar a conclusão da avaliação técnica da FAB.

Desconforto
Houve desconforto na Força, e o comandante Juniti Saito chegou a ameaçar entregar o cargo. Os finalistas do processo, suecos e americanos, além dos franceses, já haviam entregado suas propostas finais. O processo foi reaberto e eles foram instados a revê-las.
Desde então o Planalto e a Defesa tentam capitalizar a confusão como uma forma de pressionar pela queda nos custos. Em especial o preço do Rafale, naquela altura 40% superior ao do Boeing F/A-18 americano e o dobro do oferecido pelo Saab Gripen NG sueco.
Ao mesmo tempo, em reiteradas declarações, o governo manteve sua preferência pelo Rafale. O Brasil, afinal, acabara de assinar um acordo militar para fornecimento de submarinos e helicópteros de R$ 22,5 bilhões e uma parceria estratégica com Paris.
Antes do anúncio de setembro, Jobim já havia dito que esperava um relatório indicativo, mas não conclusivo, da FAB. A declaração de então à Folha por Dirceu Noro colocou lenha na fogueira: se os militares escolhessem um avião que não o francês, colocariam os políticos em uma saia justa.
O "timing" da nova "solicitação" de Jobim não é fortuito. Todos os concorrentes reapresentaram propostas prometendo corte de custo. Questionada, a Aeronáutica não divulgou oficialmente, mas certamente o tema foi debatido na reunião de Alto Comando que ocorreu entre anteontem e ontem.
Há incômodo na FAB com o que alguns oficiais consideram desprezo civil por seu trabalho. O processo transcorreu com prazos fixos e produziu mais de 25 mil páginas sobre cada um dos aviões e suas propostas. Um representante de um dos concorrentes, experiente de outras campanhas de venda, diz nunca ter visto análise tão detalhista.
Nos bastidores, os concorrentes consideram que a reunião seria decisiva para o relatório da disputa, conhecida pelo código F-X2 -o "2" para diferenciá-la do malogrado programa abandonado em 2005.
Apesar das movimentações oficiais finais, como a visita do ministro da Defesa sueco a Jobim anteontem, os olhos do governo estão voltados para o quartel-general da Dassault.
Conforme a Folha apurou, para o caso ser dado por encerrado com os franceses, é tudo uma questão de a promessa política de Sarkozy a Lula tornar-se realidade da proposta empresarial. O presidente francês prometeu ao brasileiro que o Rafale seria barateado e que cargueiros em desenvolvimento pela Embraer seriam comprados pela França -ou seja, misturou decisões privadas e estatais na conversa, o que não é inusitado em negócios de defesa, mas que levanta dúvidas.
Havia a expectativa entre as empresas de que o encontro ontem de Lula e Sarkozy em Manaus, aliado à reunião da FAB, fechasse algum diagnóstico. Jobim, contudo, viajou para o encontro de ministros da Defesa no Equador, o que deverá adiar qualquer anúncio por mais alguns dias. Ou não.

MARIA CRISTINA FERNANDES

A política externa sob escrutínio popular

VALOR ECONÔMICO - 27/11/09


As perdas internacionais de Leonel Brizola e o fora FMI de Luiz Inácio Lula da Silva marcaram os limites que, há apenas 20 anos, circunscreveram o tema da política externa nas eleições presidenciais.

É outro o Brasil que, nesse curto espaço de tempo, vê o eixo do discurso político passar das injustiças da ordem internacional contra o país às pretensões nacionais de maior protagonismo na mediação do conflito do Oriente Médio.

A crítica de próprio punho do governador de São Paulo, José Serra ("Folha de S.Paulo", 23/11/2009) à visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, marca a estreia do debate da política externa na campanha presidencial e é, de antemão, um reconhecimento de que o Brasil mudou.

Pela crítica do pré-candidato tucano, depreende-se que o objeto de discórdia é o mérito da visita do governante de um país ditatorial e repressivo e não a pretensão brasileira à mediação.

No dia seguinte o noticiário registraria que nem mesmo o presidente americano questiona as pretensões da diplomacia brasileira. Em carta a Lula, na qual explicitaria suas insatisfações com a visita sem questionar o direito do Brasil de promovê-la, Barack Obama acabaria por aceitar a legitimidade da atuação brasileira ao pedir que a pauta do encontro incluísse direitos humanos e cooperação nuclear.

O historiador brasileiro Luiz Felipe de Alencastro, cuja sede em Paris não o impede de acompanhar detidamente a conjuntura nacional, assistiu à largada do tema na campanha presidencial com incontido interesse.

Custa-lhe entender por que a indignação que cerca a visita de Ahmadinejad não se estende à relação do Brasil com outros países ditatoriais como, por exemplo, a China. O vice-presidente Xi Jinping veio ao Brasil em fevereiro. A visita do representante do país cuja crescente pauta comercial amparou o Brasil na crise não recebeu nenhuma moção de repúdio ou desagrado da oposição.

Alencastro compara a reação contra o presidente iraniano àquela que antecedeu a visita de Lula à Líbia de Khadafi, que precederia sinais de distensão entre as relações do ditador com outros países.

Apesar de Honduras, não vê abandono do princípio da soberania como norteador da política externa brasileira - "O mundo mudou. A não ingerência era uma maneira de se acomodar atrás da liderança americana", diz.

O historiador só vê dois momentos comparáveis ao momento de maior protagonismo das relações exteriores no debate político interno do país, ambos do século XIX - o fim do tráfico negreiro e a Guerra do Paraguai.

E atribui o viés hoje dominante no Itamaraty à retomada da linha que norteou a instituição sob os auspícios de San Thiago Dantas, chanceler do governo João Goulart e paraninfo da turma do ministro Celso Amorim no Rio Branco.

Era o mesmo lado ao qual se perfilava o então presidente da União Nacional dos Estudantes (Une), José Serra. Isso talvez explique por que no seu primeiro libelo de política externa nessa campanha não haja uma única linha de repúdio ao maior protagonismo adotado pelo Itamaraty.

Tão proveitoso quanto observar a linha de confronto que Serra traçará com seus antigos aliados será acompanhar os atritos dentro de sua própria aliança partidária. Herdeiro das forças que derrotaram San Thiago Dantas e sua turma, o DEM, principal aliado serrista, é hoje o partido mais ativo, nos debates parlamentares, à conduta do Itamaraty.

Sem diferenças gritantes em sua política econômica e com quaisquer tentativas de limitar as políticas sociais inviabilizadas pelas urnas, o DEM tem usado a política externa para exercitar um anticomunismo embolorado.

O país das perdas internacionais agora tem poder de veto no FMI, mas o que certamente estará fora do debate é que o ingresso do Brasil não muda o jogo.

Na noite da última terça-feira feira, quando caiu um aguaceiro em São Paulo, tucanos e petistas se misturaram aos intelectuais do Cebrap para comemorar os 40 anos da instituição, da qual Alencastro também foi ativo colaborador. Lá Roberto Schwarz deixaria registrado o depoimento mais contundente sobre os novos tempos do Brasil na ordem mundial.

Dizendo não se arrepender de ter votado em Lula todas as vezes em que este se candidatou e de avaliar positivamente tanto o seu governo quanto o de Fernando Henrique Cardoso, Scharwz assume os riscos de afirmar que, no futuro, ambos os governos, além do de Collor, serão vistos como um único bloco que melhorou a posição relativa do Brasil na globalização.

Fiel às convicções que um dia inspiraram aquele centro de estudos, Scharwz concluiu: "O que me parece errado é adotar uma visão rósea do capitalismo porque o Brasil está com um vento a favor ou porque temos amigos no governo. A irracionalidade e a destrutividade do capitalismo estão aí, visibilíssimos na crise e no despropósito da mercantilização total. E é nessas discussões que o marxismo finca sua crítica, mesmo que, no momento, não faça muitos adeptos".

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

E-mail mcristina.fernandes@valor.com.br


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BRASÍLIA - DF

Com o chapéu alheio


Correio Braziliense - 27/11/2009



O governador de Minas, Aécio Neves, queixou-se ontem da forma como o governo federal anunciou as novas reduções do IPI para linha branca, móveis e material escolar. Com outras palavras, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez cortesia com o chapéu alheio. Para o político mineiro, os governadores e 5,5 mil prefeitos brasileiros são responsáveis por 57% das reduções e isenções de impostos, mas não foram consultados nem reconhecidos como parceiros nas bondades.

Para combater a recessão e forçar o crescimento, o governo federal vem reduzindo a carga tributária que incide sobre o setor produtivo, principalmente as indústrias de automóveis e eletrodomésticos. Mas faz isso com os impostos compartilhados com estados e municípios, com impacto concentrado em algumas cidades e economias regionais, e deixa de fora os tributos exclusivamente federais. “Faltou um pouco de generosidade do governo federal com os estados e municípios que vêm fazendo enorme esforço para o equilíbrio das suas contas”, disse Aécio.

Francês// O presidente Lula joga duro com os franceses nas negociações de compra dos 36 novos caças de última geração. Favoritos na disputa por razões geopolíticas, estão sendo obrigados a fazer novas concessões em termos de proposta de preços para vender ao Brasil os caças Rafale, de duas turbinas. O governo, aparentemente, não tem pressa para bater o martelo.

Aposentados



O Palácio do Planalto prepara uma ofensiva para reagrupar a base governista no Congresso e aprovar o aumento dos aposentados. A proposta é corrigir os benefícios para quem ganha acima do salário mínimo pela inflação mais 80% do PIB. A proposta foi negociada com as centrais sindicais para isolar o senador Paulo Paim (foto), do PT-RS, autor da emenda que reajusta os benefícios com base no salário mínimo. Inclui, ainda, contagem do tempo de seguro-desemprego para efeito de tempo de contribuição; o descarte de 30 (e não mais 20) contribuições “ruins” para o cálculo; e o fator 85/95 para substituir o fator previdenciário, que consiste na soma de idade mais tempo de contribuição, totalizando 85 anos para a mulher e 95 para o homem.

Obama

Apesar da carta que recebeu do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, às vésperas da visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e dos desmentidos oficiais, o desconforto do presidente Lula com o poderoso colega do Norte ainda é grande. Idiossincrasias de ambos à parte, o carro está pegando mesmo é por causa de Honduras, que vai realizar eleições com o apoio norte-americano, enquanto o governo brasileiro paga o mico de continuar hospedando o presidente deposto Manoel Zelaya, que boicota o pleito.

Royalties

A mudança do critério das linhas ortogonais por linhas paralelas na delimitação geográfica das áreas confrontantes de exploração de petróleo pode virar mais uma confusão com o Rio de Janeiro. A proposta deve ser apresentada pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP) quando a discussão chegar ao Senado. Pelo critério, o Rio perderia parte de sua bacia de pré-sal, enquanto o Paraná, que ficou de fora por causa do traçado das áreas confrontantes, passaria a ser beneficiado como estado produtor.

Chinatown

Os chineses vieram para ficar. Esse foi o recado de Jia Qinglin, que preside o Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, ontem, no Congresso. Explicou que a China e a América Latina se complementam em termos econômicos e tecnológicos e que a região já é o segundo parceiro comercial dos chineses, com um intercâmbio de US$ 140 bilhões

Mestre



Uma mesa-redonda, no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, comemora o lançamento das obras Formação Econômica do Brasil — Edição Comemorativa de 50 Anos (Companhia das Letras) e Cinquenta Anos de Formação Econômica do Brasil — Ensaios sobre a Obra Clássica de Celso Furtado (Ipea). Participam o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, o senador Cristovam Buarque (foto), do PDT, e de Rosa Freire d´Aguiar Furtado, viúva de Celso Furtado. João Sicsú, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, será o mediador.

Violência/ Com o programa Pacto pela Vida, o governo de Pernambuco conseguiu, em dois anos e meio, reduzir a criminalidade entre a população jovem, principal alvo das estatísticas. Os crimes violentos letais (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte) entre adolescentes do Recife regrediram 16% entre 2008 e 2009. Entre os adultos jovens, a queda foi de 14%. No total da população de Recife, a queda nas taxas destes tipos de crimes até meados de novembro foi de 19%.

Blecaute/ O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, prometeu entregar ao Senado, na próxima quarta-feira, o relatório sobre as causas do blecaute. O documento será feito em conjunto com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Segundo ele, “não há qualquer relação com o acidente que causou o blecaute as recomendações dadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).” O governo ainda bate cabeça sobre o assunto.

Leitura/ O lobby de editoras, distribuidoras e livrarias funcionou. O governo vai mesmo encaminhar ao Congresso o projeto de lei que cria o Fundo Pró-Leitura. Será formado com recursos da Educação e da Cultura e pela contribuição das editoras beneficiadas com a alíquota zero do PIS e da Cofins. A meta é atingir 77 milhões de leitores. Com a desoneração, o mercado editorial deixou de pagar R$ 592 milhões aos cofres públicos.

CLAUDIA SAFATLE

Déficit em conta corrente deve superar 3% do PIB

VALOR ECONÔMICO - 27/11/09



A aceleração do crescimento - a taxa anualizada já está na faixa de 8% - vai empurrar o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos novamente para a casa dos 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, patamar abandonado desde 2003.

Esse é o padrão de déficit compatível com uma taxa de crescimento econômico de 5% ao ano, na avaliação de economistas do governo, e ele será impulsionado pelo aumento das importações, necessárias ao abastecimento da demanda do mercado interno, e pelo déficit nas contas de serviços e rendas. Estas últimas, movimentadas principalmente pelas remessas de juros, lucros e dividendos para o exterior.

Em outubro, já refletindo a retomada da economia, houve o maior déficit mensal deste ano nas contas correntes do país: US$ 2,9 bilhões. O superávit comercial de US$ 22,6 bilhões e os US$ 2,6 bilhões de receitas em transferências unilaterais nos dez meses do ano foram insuficientes para cobrir o déficit da conta de serviços e as rendas remetidas ao exterior, de US$ 40 bilhões, resultando em um saldo negativo nas transações correntes, até outubro, de US$ 14,79 bilhões (1,26% do PIB, ainda aquém dos 1,83% do PIB de déficit em igual período de 2008).

Embora uma corrente de economistas alimente o temor de que esteja ocorrendo um processo de reconstrução das vulnerabilidades externas que tanto custaram ao Brasil nas décadas passadas, os profissionais da área econômica do governo não enxergam riscos de o país voltar a ter problemas graves nessa área. Os primeiros comungam de uma visão muito próxima da do governador de São Paulo, José Serra, eventual candidato à presidência da República em 2010. Eles acreditam que os equívocos da política monetária - juros altos demais - estão na raiz da apreciação da taxa de câmbio e esta vai, já no próximo ano, causar desequilíbrio nas contas do balanço de pagamentos. O receio desses analistas é de que o desajuste externo, associado a visível deterioração fiscal, caia como uma bomba no colo do próximo governo.

O argumento das fontes oficiais, porém, é que não ocorrerá um "buraco" de difícil financiamento nas contas externas porque a própria taxa de câmbio flutuante se encarregará de ajustá-las no momento adequado. Hoje, assinalam, os investimentos diretos estrangeiros, capitais de excelente qualidade, mais do que cobrem o déficit.

Neste ano, até outubro, o ingresso líquido de investimentos diretos foi de US$ 19,25 bilhões. Desses, US$ 14,3 bilhões se destinaram a aquisições ou reforços de participações societárias no país e US$ 4,898 bilhões foram empréstimos intercompanhias (das matrizes estrangeiras para suas filiais no Brasil). Para novembro, dados até o dia 18 indicavam ingresso de mais US$ 800 milhões, segundo o Banco Central.

Como prova de que não há risco de ruptura nas contas externas e que o próprio câmbio, ao flutuar, produz a solução, os economistas do governo citam o que ocorreu logo após o início do "crash" de 2008. Em outubro do ano passado o déficit em transações correntes em 12 meses representava 1,68% do PIB. Com a crise global e a escassez de moeda estrangeira (até os créditos às exportações desapareceram), a taxa de câmbio, que em julho havia chegado ao piso de R$ 1,56, no fim do ano já estava em R$ 2,33 e em R$ 2,37 no início deste ano.

A desvalorização do real então ocorrida produziu uma redução substancial do déficit em conta corrente. Este caiu de US$ 28,2 bilhões em dezembro de 2008 para US$ 18,8 bilhões em outubro passado. No passado, quando a dívida externa era elevada e as despesas com juros eram pesadas e rígidas, o balanço de pagamentos demorava a reagir às medidas de correção de rumos. Hoje as contas externas, analisam as fontes do governo, são muito suscetíveis à atividade econômica e reagem com rapidez ao crescimento ou à recessão.

O que não está apaziguado no governo é a pressão da retomada acelerada do crescimento sobre os índices de preços no próximo ano. O crescimento voltou aos níveis registrados antes da crise global de setembro de 2008 e os índices apontam para uma inflação acima das expectativas. Em resposta ao temor inflacionário e à eventualidade do Copom ter que voltar a aumentar a taxa Selic nos primeiros meses de 2010, ano da sucessão presidencial, os juros futuros subiram.

Diante desse cenário e da completa ausência de sentido econômico, sobra atribuir um caráter político eleitoral às medidas de estímulo fiscal concedidas pelo governo nos últimos dias. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou incentivos fiscais para o setor automobilístico, móveis e materiais de construção. Numa ação agora pró-cíclica, o governo pode estar jogando gasolina na fogueira do PIB.

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MÍRIAM LEITÃO

Nas nuvens

O GLOBO - 27/11/09


O economista Ilan Goldfajn acha que o Brasil vai crescer 5,5% no ano que vem, mas isso só se desacelerar durante o ano, porque, do contrário, crescerá mais. Parte é efeito estatístico, parte é crescimento mesmo. Nos anos seguintes, o Brasil pode continuar mantendo o mesmo ritmo. “Só se quisermos muito é que vamos estragar esse ciclo de crescimento”, diz o ex-diretor do Banco Central.

Esta semana, o Itaú-Unibanco, onde Ilan trabalha, soltou um relatório assinado pelo economista e a equipe de análise de conjuntura, com o título “Brasil 2020: a estrada à frente”.

Nele, o cenário não poderia ser mais otimista. A taxa de investimento que atualmente é de 16%, o que não sustenta crescimento algum, iria para 22%. Ele acrescentou na conversa comigo que na sua visão pode chegar a 25%. Mas quem vai financiar essa taxa de investimento se o Brasil tem, como se sabe, baixa taxa de poupança? — O mundo quer nos financiar.

Está vendo agora principalmente as qualidades do país e os avanços que fizemos — disse ele.

Isso significa déficit em tranasaões correntes.

Quando um país cresce com financiamento externo tem mais déficit nas suas contas com o exterior. Para Ilan, o país sairá de 1,2% do PIB de déficit para 4,7% do PIB em 2016, com queda para 3,5% no final da década.

Parte do aumento do investimento será para as obras necessárias de infraestrutura para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas.

Pelo cenário do banco, o Brasil terá de investir, só para as Olimpíadas, 0,7% do PIB por ano, nos quatro anos anteriores ao evento.

Vai investir também US$ 55 bilhões para extrair o petróleo do pré-sal nos próximos dez anos. Quando acabarem os investimentos nas Olimpíadas, o Brasil começará a ter as receitas do petróleo do pré-sal, e isso é que reduzirá o déficit em transações correntes.

O economista diz que há recursos abundantes do mundo atrás de bons mercados onde o consumo possa aumentar. O Brasil se encaixaria perfeitamente nesse modelo, pela perspectiva de uma classe média em expansão.

A demografia ajudaria neste cenário. Nos próximos dez anos o Brasil estará aumentando o tamanho de sua população em idade de trabalhar, e será beneficiado pela queda da taxa de dependência.

Essa taxa resulta da soma da faixa muito jovem da população e da mais velha, e o cálculo de quanto ela representa em proporção da população em idade ativa. Quando ela cai, significa que os que estão no mercado de trabalho têm menos dependentes e portanto maior capacidade de consumo e maior capacidade de poupança. Acontece nos países cuja população idosa é ainda pequena e o percentual de crianças está em queda.

Na economia, o banco prevê queda da taxa de juros.

Uma pequena elevação no ano que vem, e depois queda persistente até uma taxa real de 3,5%. O real continuará valorizado, ajudando a manter a inflação baixa.

Na área fiscal, a previsão é de uma recuperação do superávit primário para 2,5% do PIB, mas não a volta aos percentuais mantidos durante os últimos anos.

Ilan disse que, apesar de o governo ter tido queda forte da receita, a arrecadação vai aumentar nos próximos meses. Primeiro, por causa de programas como o Refis, apesar de seu efeito se esgotar no curto prazo. Segundo, pela própria retomada do crescimento.

— O gasto público continua sendo um desastre, mas haverá o aumento da receita determinado pelo ciclo da retomada. Se o governo fizer um ajuste fiscal forte em 2011, o país conseguirá consolidar esse cenário positivo. Se quiser estragar esse cenário, o governo pode ter um comportamento que leve os investidores a concluírem que o país não é tão estável como imaginavam, e isso os levará a investir menos no Brasil — diz Ilan Goldfajn.

Na projeção do banco, o mundo, neste pós-crise, crescerá a 4% em média na próximo década. Ilan explica que isso é a “falácia da composição”.

Ou seja, parece a volta ao período de crescimento anterior à crise, mas esse aumento do PIB global vai ser mais determinado pelos países emergentes, principalmente China, do que pelos países ricos.

Há economistas, como Nouriel Roubini, que estão temendo que esteja se formando uma nova bolha. Para se ter uma ideia, o preço do cobre aumentou mais de 120% este ano, apesar do aumento dos estoques mundiais do produto. As bolsas acumularam taxas fortes de crescimento, em muitos casos, como a brasileira, quase voltando ao nível em que estava.

— Eu não acredito em crise em W. Não acho que haverá uma nova crise. Em algum momento os Estados Unidos começarão a retirar os estímulos, mas terão um longo período de crescimento baixo. Acho que terão uma década meio perdida — diz.

O Brasil tem de fato várias vantagens neste momento, como a demografia, apontada por Ilan, ajustes já feitos e a queda da pobreza.

Mas há ainda enormes obstáculos no caminho para um crescimento sustentado e o cenário externo é ainda muito cheio de incertezas. O curioso é que um dos pilares desse cenário tão benigno é um real forte. Justamente aquilo que o ministro Guido Mantega gostaria de eliminar, se pudesse.

ARI CUNHA

Energia surpresa


Correio Braziliense - 27/11/2009


Não aparece o responsável pelo apagão que continua irritando a população brasileira. Na vida moderna, não se admite fracasso no fornecimento de eletricidade. Todos os negócios, inclusive do governo, estão enquadrados nas delícias atuais. Governo central nega participação. Ministra Dilma Rousseff, que foi de Minas e Energias, não emite mais uma palavra. Pelo visto, a culpa é de quem paga eletricidade. O povo não reclama, temendo revide, que por acaso já começou. O anúncio de que são necessários R$ 600 milhões por mês para garantir o fim do blecaute fez o silêncio do consumidor. Mas sem engolir o sadismo de quem nega a origem ou põe a culpa no universo. Cidadão guarda constrangimento. Talvez, à chegada das eleições já tenha sumido da memória popular. Não adianta revide. Melhor será procurar governo que grite e não concorde com tudo o que ouve dos subordinados.

A frase que foi pronunciada


“Uma das desgraças do Brasil é precisamente o isolacionismo em que vivem do povo os seus partidos políticos.”
Assis Chateaubriand


Céu
No Rio Grande do Sul, mais de 15 mil pessoas estão fora de casa, por segurança. As chuvas castigam. Oito pessoas morreram. Enquanto isso, no Amazonas, em Manaquiri, o prefeito Jair Souto decretou estado de emergência. A estiagem maltrata. Os dois estados sofrem com alternâncias de chuva e seca ao extremo.

Terra
Manaquiri é um município com atividades importantes em capacitação e treinamento de jovens em vários projetos. O Sebrae Amazonas desenvolve com estudantes e agricultores a produção de óleos essenciais e tubérculos. A iniciativa tem sido importante para a cidadania e independência financeira dos moradores.

Capacitação
Uma pena a Companhia Metropolitana do DF não ter planejado, antes de implementar, o código de conduta dos funcionários do Metrô. As estações em Brasília são impecáveis. Limpas e com boa aparência. O que seria um código de conduta se transformou em código de estética. Vale a capacitação dos funcionários para casos de emergência e o bom atendimento ao público.

Fora daqui
Sai a gripe suína, volta a dengue. O mosquito oportunista encontrou em 17 capitais brasileiras ambiente para se reproduzir. Como as águas que fecham o verão vão até março de 2010, o Aedes aegypti pode ser um cabo eleitoral indesejável.

Pena
Corrupção popular também é notícia. Foi só o Ministério da Educação cruzar os dados dos bolsistas do Prouni com registros federais e estaduais para encontrar 1.700 estudantes que recebiam o benefício irregularmente. As instituições que não assinaram o termo de adesão ao programa também perderão o registro.

Homenagem
Deputados se concentram / aprovam com competência / a lei dos repentistas / Regulamento nas notas / dadas com inteligência / melhora a vida do artista.

Defensoria
Uma boa saída encontrada pelo governo para agilizar o trabalho jurídico. Foi publicada no Diário Oficial uma portaria criando o Programa de Residência Jurídica da Defensoria Pública da União. O programa de pós-graduação com casos práticos institui auxilio de R$ 1 mil e carga semanal de 30 horas.

Renda minha
Tirania financeira. Foi como definiu o senador Antonio Carlos Valadares a concentração dos recursos baseado na pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios. Dos tributos arrecadados, 60% ficam com a União, 25% com os estados e 15% vão para os municípios.

Terceiro Setor
Quase duas décadas depois, atuando como bem entendem, as ONGs passam a ter mais atenção do governo. Para novos registros, vão precisar ter relevância pública e não ter fim lucrativo. Maria Sylvia Di Pietro é coordenadora de uma comissão de juristas que prepara anteprojeto de normas gerais que vão reger esse tipo de atividade de interesse social. Para receber verba pública, o controle da prestação de contas será rígido.

História de Brasília

A continuar assim, o serviço de imprensa do sr. Jânio Quadros passará a exigir, brevemente, o diploma da Casper Libero, o que, convenhamos, fará muita gente se mudar de Brasília. (Publicado em 18/2/1961)

JAPA GOSTOSA


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TODA MÍDIA

China voluntária

NESON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/11/09


No estatal "China Daily", a "China vai reduzir as emissões de dióxido de carbono em 40%-45% por unidade de PIB até 2020". Imediatamente abaixo, "esta é uma ação voluntária e uma contribuição maior ao esforço global de lidar com a mudança no clima". Fechando o texto, "países em desenvolvimento como a China não precisam apresentar metas de emissão", daí a expressão "ação voluntária".
Pelas agências, de todo modo, "a China revelou sua primeira meta firme de contenção das emissões de gases com efeito estufa", que "vem depois de grandes emissores como Brasil e Indonésia anunciarem duras metas de redução para 2020". No "New York Times" e no "Jornal Nacional", "depois dos EUA".
Jim O'Neill, dos Brics, relatou ao G1 ter gasto "o dia todo analisando a decisão surpreendente". E alerta que, "se acreditarmos no que eles estão dizendo, isso pode mudar o padrão da demanda de longo prazo de petróleo e combustíveis fósseis".

"NI URIBE NI CHÁVEZ"
No longo enunciado do colombiano "El Tiempo", "Nem Uribe nem Chávez participam de encontro em Manaus e frustram a ideia de Lula de propiciar uma aproximação". O primeiro disse estar doente, o segundo citou reunião com o presidente da Autoridade Palestina.
E assim o encontro dos países da região para "salvar a Amazônia", no dizer da BBC, se restringiu a chanceleres e discursos de Lula e Nicholas Sarkozy.

NATGEO
Em dois longos posts no site da National Geographic, o editor e um professor da universidade Duke saúdam a "vitória maior do Brasil no corte de emissões", com o gráfico, e avaliam que, com sua meta, "o Brasil mostra o caminho para outros"

"SHENANIGANS"
No topo das buscas por Yahoo News, com AP, "Brasil e EUA discutem diferenças". O chanceler Celso Amorim e a secretária de Estado, Hillary Clinton, ficaram "mais de uma hora no telefone". Na manchete da BBC Brasil, por outra parte, "Amorim diz que reconhecer o pleito em Honduras seria legitimar golpe".
E seguem nos EUA as manifestações de acadêmicos e diplomatas contra a eleição sob regime golpista. Ontem foi o site da "Foreign Policy" que postou no alto da home "A eleição fingida em Honduras", de George Vickers, da Open Society. Diz que "Obama não deve fechar os olhos à maracutaias antidemocráticas" do pleito "num ambiente contaminado por repressão e medo".

TRANQUILO
Com a capa "The Quiet American", o americano tranquilo ou quieto, a nova "Economist" se pergunta, em suma: "Barack Obama é sutil e estratégico ou fraco e ingênuo?".
Afirma que "o mundo está para descobrir" e sublinha que "Deus nos salve sempre dos inocentes e dos bons", citação célebre do livro do qual a revista tirou sua manchete, de Graham Greene. Sobretudo, cobra que vá além das palavras e apresente resultados, levando o Irã a negociar, "forçando" Israel e palestinos a conversar etc.

NO QUINTAL
Na mesma edição, sob o título "Aiatolás no quintal", a revista relata a controvérsia com a visita de Mahmoud Ahmadinejad à América do Sul, em especial ao Brasil, que "vale dez vezes mais do que a Venezuela".
Cita o artigo do candidato "não declarado" José Serra na Folha, contra receber ditadores, e avisa sobre os riscos para o Brasil. No fim, "um Brasil engajado nos problemas mundiais é certamente melhor" e, para os EUA, "pelo menos agora tem uma linha de comunicação, via Brasília, com Teerã".

TEMER & JIA
A mídia estatal chinesa seguia ontem os passos do Jia Qinglin, "alto assessor político da China", por Brasília. Com Michel Temer, da Câmara, defendeu cooperação e "confiança mútua"

EM CHOQUE
Com o sobretítulo "Crise em Dubai", o "Financial Times" postou ontem manchete e duas dezenas de textos sobre "temores de moratória". Num deles, "Emirado tem muito a explicar".
No "Wall Street Journal", manchete para "notícia abala confiança", mais uma dezena de posts, inclusive "Choque de Dubai pode não ser o último" e "Caem ações europeias". Nos EUA não caíram pois Wall Street fechou para Ação de Graças.

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK

Restrições frouxas


O Estado de S. Paulo - 27/11/2009
János Kornai é um nome bem conhecido entre economistas. Trata-se de um eminente economista húngaro que, trabalhando em seu país durante quatro décadas de regime comunista - de início, como entusiasta do regime, posteriormente, como crítico -, conseguiu angariar amplo respeito acadêmico no Ocidente. Em meados dos anos 80 tornou-se professor titular de Harvard. Tem hoje mais de 80 anos. E continua ativo.

Willem Buiter publicou em seu blog no Financial Times - blogs.ft.com/maverecon - um instigante artigo em que Kornai usa sua ideia de síndrome de restrição orçamentária frouxa para analisar desdobramentos da crise financeira com que vem se debatendo a economia mundial. O conceito de restrição orçamentária frouxa tornou-se tão disseminado que hoje parece trivial. Na verdade o termo foi cunhado há cerca de 30 anos por Kornai para ajudar a entender distorções geradas pelo sistema de incentivos então vigente nas economias socialistas. (O leitor interessado em mais detalhes poderá recorrer ao artigo principal do Journal of Economic Literature de dezembro de 2003.)

O termo se contrapõe, claro, à restrição orçamentária rígida. Funcionam sob restrição orçamentária rígida organizações cujos gestores têm consciência de que não poderão contar com o respaldo de outras organizações para cobrir posições deficitárias. A distinção relevante, contudo, como bem salienta Kornai, não é o contraste extremo entre a restrição completamente rígida e a restrição totalmente frouxa. O que importa são os tons de cinza. As situações intermediárias em que vigora certo grau de frouxidão na restrição orçamentária, quando gestores passam a jogar com a possibilidade de vir a contar com a cobertura do déficit por outras organizações em determinadas circunstâncias.

Até esse ponto, a ideia de restrição orçamentária frouxa e dos comportamentos distorcidos que pode desencadear parece acomodável dentro do que se costuma rotular de risco moral (moral hazard). Mas Kornai trabalha com a ideia mais ampla de síndrome de restrição orçamentária frouxa. Interessa-lhe não apenas o comportamento distorcido que pode ocorrer numa firma ou organização específica e isolada, mas o fenômeno mais complexo que pode advir de motivações e circunstâncias econômicas e políticas específicas que levem a um afrouxamento generalizado de restrições orçamentárias.

É exatamente isso que Kornai acha que vem agora ocorrendo, na esteira da crise financeira dos últimos dois anos. Desencadeou-se um processo complexo que lhe parece longe do fim. Acha que o afrouxamento generalizado de restrições orçamentárias que ganhou força com a crise não vai poder ser sustado tão cedo. A onda de operações de resgate ainda vai avançar muito antes de, afinal, perder força. E, como o afrouxamento deve continuar por um bom tempo, gestores de instituições financeiras, empresários do setor real e administradores de governos subnacionais estarão, todos, cada vez menos preocupados com custos e mais dispostos a assumir riscos que normalmente não assumiriam. O que, por sua vez, deve exacerbar as necessidades de resgate.

Tudo isso aponta para uma sobrecarga crescente e preocupante em cima dos que terão de arcar, em última análise, com a explosiva conta dos resgates sem fim: os governos nacionais e seus contribuintes.

Nesse quadro, é interessante constatar uma curiosa assimetria dos efeitos da crise sobre o Brasil. Em termos de redução do crescimento, o País parece ter sido de fato menos afetado que outras economias. O impacto não chegou a ser tão reduzido como o da "marolinha" prometida por Lula, mas tampouco foi tão devastador como o que se observou alhures. O que, sim, em contraste, chegou ao País como verdadeiro vagalhão foi a onda de afrouxamento generalizado de restrições orçamentárias.

Pode-se dizer que esse desdobramento da crise foi até festejado pelo governo. Afinal, a crise lhe deu a oportunidade, que em condições normais jamais teria, de tentar legitimar mudanças bruscas e fundamentais no regime fiscal e nas relações entre o Estado e a economia. Mudanças que já deram lugar à rápida deterioração das contas públicas, à vertiginosa expansão do crédito estatal e à montagem de uma operosa bateria de guichês de favores em Brasília, para ampla distribuição de benesses creditícias e tributárias aos amigos do Rei. Não é pouco.

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VINÍCIUS TORRES FREIRE

O naufrágio das palmeiras


Folha de S. Paulo - 27/11/2009


Emirado de Dubai ameaça calote, balança mercados, alguns bancos e revela mais inépcia na finança mundial


ONDE FICA Dubai? É um dos Emirados Árabes Unidos.
Mas onde mesmo? Na ponta oriental da península da Arábia. É aquele emirado que construía ilhas artificiais, em forma de palmeiras.
Algumas ilhas são vendidas para bilionários, algumas têm hotéis. Quem assiste a programas de celebridades e colunas sociais na TV brasileira deve ter visto reportagens promocionais em que figuras "pop" passeavam à tripa forra em Dubai. Pois é, esse emirado, Dubai, balança os mercados financeiros do mundo.
O governo do emirado sugeriu uma reestruturação da dívida da "holding" estatal que administra os negócios imobiliários, hoteleiros e de portos, a Dubai World, e uma moratória das dívidas de uma subsidiária. E daí? E daí que ninguém ainda entendeu direito o que Dubai pretende fazer. Para piorar, a sugestão de calote atingiu os mercados mundiais num dia de feriado no centro das finanças mundiais, os Estados Unidos. A reação previsível dos mercados é vender ativos de risco e encarecer o custo de fazer seguro contra calote de dívidas. Na dúvida, vende-se. As Bolsas caíram pelo mundo, as moedas de emergentes se desvalorizaram, o dólar também, os ativos brasileiros também. Enfim, a memória dos choques da crise de 2008 ainda está bem fresca.
Mas ainda pouco se sabe sobre o que Dubai fará de suas dívidas, o quanto dela entrará pelo cano e se a reestruturação será imposta aos credores. Alguns dos credores do emirado são os bancos de Abu Dhabi (outro emirado), o Credit Suisse e os britânicos HSBC, Barclays, Lloyds e RBS. Afora o HSBC, os britânicos na prática quebraram durante a crise de 2008. Apenas não foram à breca e à lona de fato devido à estatização ou aos favores financeiros do governo britânico. Os entendidos em Dubai acham que a sugestão de moratória é apenas um balão de ensaio, para testar a reação de investidores.
Dubai vive de turismo, comércio (porto) e queria ser o centro financeiro do Oriente Médio. A Dubai World tem participações em vários negócios pelo mundo, como cassinos nos EUA e bancos no Reino Unido. Dubai investiu muito em infraestrutura e demais, aparentemente, em imóveis. O retorno não parece estar sendo bom. Na verdade, o colapso do mercado imobiliário do emirado foi um dos maiores do mundo. No dia 14 de dezembro, vencem US$ 4 bilhões de juros e o principal de títulos ("sukuks") da estatal de empreendimentos imobiliários, a Nakheel, braço da Dubai World -a Nakheel constrói casas e as ilhas em forma de palmeiras. O governo de Dubai quer pagá-los em maio de 2010. A Nakheel é da estatal Dubai World, que deve US$ 59 bilhões. O emirado e suas estatais devem ao todo US$ 80 bilhões. Se Dubai renegasse sua dívida total, tratar-se-ia de um calote menor apenas que o da Argentina, em 2001.
Como nem os entendidos em Dubai sabem se vai haver calote de fato, como não se conhece a reação dos mercados americanos, como não se sabe quanto os emirados devem a cada um de seus mais de 60 credores etc., fica difícil avaliar o tamanho do estrago causado pelo naufrágio das palmeiras. Mas está exposto mais um caso vergonhoso da grande competência dos mercados financeiros na alocação de capital.

MERVAL PEREIRA

A síndrome do PMDB

O GLOBO - 27/11/09


O diagnóstico do líder do governo Romero Jucá de que o PMDB, antes de ser a solução, pode ser o grande problema para a montagem da chapa oficial à sucessão de Lula, é o mais fiel retrato de nosso presidencialismo de coalizão. Maior partido do Congresso, o que tem o maior número de prefeitos e vereadores no país, e com 9 governadores, o PMDB não consegue se unir para lançar um candidato próprio desde que cristianizou sucessivamente Ulysses Guimarães e Orestes Quércia.

Mas nenhum presidente eleito consegue governar sem um bom acordo com o PMDB, mesmo que não tenha sido apoiado oficialmente por ele na eleição presidencial.

Apoio, aliás, que não garante que a extensa e eficiente máquina partidária trabalhará integralmente pelo candidato oficial do partido.

Isso quer dizer que mesmo que a convenção, no segundo semestre do próximo ano, confirme o acordo político que está sendo costurado agora, o PMDB pode dar o vice-presidente da chapa oficial, mas certamente não estará integralmente ao lado da ministra Dilma Rousseff na campanha eleitoral.

Foi o que aconteceu, por exemplo, na eleição de 2002, quando o PMDB deu o vice, a deputada Rita Camata, mas não se empenhou na campanha do tucano José Serra.

Existe sempre ainda a possibilidade, que não é pequena, de a cúpula do partido simplesmente não ter condições de entregar ao governo o apoio formal, pois no PMDB quase sempre não há maiorias para uma definição.

A situação atual é exemplar do estado de espírito permanente desta grande federação de líderes regionais.

A direção nacional, capitaneada pelo deputado federal Michel Temer, quer formalizar o apoio, o que daria a ele a vice-presidência na chapa oficial e ao governo 5 minutos diários de propaganda de televisão.

Teoricamente esse apoio formal viria acompanhado da máquina partidária, a mais capilarizada do nosso sistema partidário, o que é fundamental nas eleições presidenciais, especialmente quando se trata de conseguir os votos do interior do país.

Mas essa máquina tão impressionante, que atrai a cobiça de todos os candidatos a presidente, nunca está integralmente à disposição do candidato escolhido, e nada indica que estará desta vez, mesmo com toda a força popular do presidente Lula.

Há setores importantes do partido que já estão comprometidos com a candidatura da oposição, como a seção paulista do PMDB, comandada por Orestes Quércia, que apoia o governador José Serra, ou a de Pernambuco, com o senador Jarbas Vasconcellos.

Ou a do Rio Grande do Sul, capitaneada pelo senador Pedro Simon.

E há os estados que, em disputa acirrada com o PT, podem acabar indo para a oposição, em vez de servirem de segundo palanque para a candidata oficial Dilma Rousseff.

A Bahia, do atual ministro Geddel Vieira Lima, e Minas Gerais, do atual ministro Hélio Costa, são bons exemplos de estados fortes comandados pelo PMDB que não estão confortáveis com as alianças regionais.

Há ainda uma terceira face peemedebista, que defende a candidatura própria, que já lançou o governador do Paraná Roberto Requião.

Nada indica que exista espaço para uma aventura desse tipo, que já foi tentada em outras ocasiões, sem sucesso, pelo ex-presidente Itamar Franco ou pelo ex-governador Garotinho.

Mas esse movimento é um claro indício de que mais setores peemedebistas não se satisfazem com o apoio à candidata oficial Dilma Rousseff.

Por seu turno, a oposição, na impossibilidade de vir a ter o apoio formal do PMDB, trabalha para impedir que a convenção oficialize o acordo que já foi acertado.

Na pior das hipóteses, consegue que o tempo de propaganda da televisão e do rádio que cabe ao PMDB seja dividido por todos os candidatos, sem engordar apenas a cota da candidatura oficial.

Mas não basta à oposição neutralizar os acordos do governo com sua base aliada, ela precisa ampliar seus pontos de apoio, sob pena de ficar não apenas com menos tempo de propaganda oficial na televisão, como também sem máquina partidária para trabalhar por seu candidato.

A base de apoio do PSDB, apenas com o DEM e o PPS, é muito frágil diante da ampla coalizão que está sendo montada pelo governo.

As negociações regionais estão começando a ser montadas, e não há uma definição do candidato oposicionista que sirva de atrativo para os partidos que não conseguem se entender com o PT.

Mesmo com o presidente Lula fazendo o meio de campo, está difícil chegar a um acordo em alguns estados, e o temor dos aliados, sobretudo as pequenas siglas, é de que, sem a intermediação de Lula, o PT tente ampliar seu espaço dentro da coalizão.

Mais do que para os eleitores, será para os políticos e seus partidos que a mensagem oposicionista realçará o perigo que representa um PT sem quem o controle.

Mas para que o passo seguinte seja dado, isto é, que partidos da base aliada sejam compelidos a deixar a proteção governamental para se aventurar na oposição, é preciso que se defina o candidato oposicionista e que este comande as negociações dos palanques regionais.

Os pré-candidatos tucanos já estão fazendo essas negociações, mas nenhum deles pode assumir compromissos definitivos.

Por isso as pressões para que seja antecipada a definição da candidatura, o que vem sendo reivindicado pelo governador mineiro Aécio Neves.

Tudo indica que ele terá essa primeira vitória.

Mas, no final das contas, quem sairá vencedor, seja qual for o resultado das negociações com governo ou oposição, será sempre o PMDB.