quarta-feira, novembro 11, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

enredo que celebra o Brasil que Lula criou vale só para um desfile

11 de novembro de 2009

No fim de 2001, surpreendido pelo apagão, o presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu de imediato a responsabilidade pela crise e contou a verdade ao país: a soma da falta de investimentos com demanda de sobra resultara na escassez de energia. Em seguida, anunciou um conjunto de medidas destinadas a abrandar o problema e designou para a busca de soluções permanentes uma comissão especial chefiada pelo ministro Pedro Parente.

Com a ajuda de fortes chuvas na virada do ano, o governo livrou o Brasil do apagão em fevereiro de 2002. Enquanto a crise durou, FHC não procurou culpados no passado, não edulcorou o presente, não prometeu um futuro de sonho. Concentrou-se na tarefa de reduzir o quanto antes os incômodos e carências impostos a milhões de brasileiros. Paralelamente, Lula e todo o PT se concentraram na exploração política da crise. Atribuíram o apagão à privatização do setor energético, enxergaram pecados imperdoáveis no meio da escuridão, exigiram aos berros uma CPI para desvendar os crime e castigar os criminosos.

Nada como um apagão depois do outro. Nesta quarta-feira, 60 milhões de brasileiros acordaram ansiosos por saber o que aconteceu. À exceção dos que engoliram a falácia segundo a qual a culpa foi da chuva e dos ventos, foram todos dormir sem a resposta. Em vez de informações que esclarecessem o espanto da véspera, a multidão preocupada com água e luz ouviu falatórios de palanque. Quem só pensa em eleição transforma em fantasia qualquer fato que tire voto.

Lula correu a recitar que o apagão de FHC foi muito pior, que ninguém investiu tanto em usinas. Dilma Rousseff declamou meia dúzia de platitudes decoradas para provar que, em matéria de hidrelétricas e linhas de transmissão, o país é nota 10. O neurônio de Edison Lobão conseguiu soprar-lhe que o sistema aqui instalado “é um dos melhores do mundo”. Não há questões a resolver, inovações a assimilar, obras a programar ─ o quase nada que falta está no PAC. Se melhorar, estraga. É só não chover demais.

O coro dos contentes perdeu um dia inteiro perseguindo a afinação impossível no samba-enredo cuja letra celebra o Brasil Grande que Lula criou. O problema é que a cantoria vale para um desfile só. Se vier outro apagão, não escapará da vaia quem repetir que o excesso de chuva, infelizmente, superou o excesso de hidrelétricas e o excesso de linhas de transmissão. Engolir a mesma lorota duas vezes é difícil até para o eleitorado que agora poderá saber pelo celular, sem pagar a ligação, como deve agir para retribuir na urna a esmola federal de cada mês.

ASSALTANTES BRASILEIROS

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Caetano é 'neguinha'

Folha de S. Paulo - 11/11/2009


SÃO PAULO - "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro." Diante da ira que provocou nos companheiros, Caetano Veloso voltou ontem às páginas de "O Estado de S. Paulo" para comentar esse trecho da entrevista que havia concedido.
O compositor lembrou que o próprio Lula se vangloria da sua fala pouco instruída e que é forte inclusive por isso. E avisou aos petistas: "Dizer que FH era mau governante e Lula é bom é maluquice. Ambos foram conquistas brasileiras importantes. Marina seria um passo à frente". Sobre esse último ponto, podemos brincar: "menas, menas".
De resto, os embates entre Caetano e a esquerda remontam aos anos febris do tropicalismo. É duvidoso que o lulismo seja de esquerda, mas Caetano, de novo, se põe à esquerda da esquerda, dando mais um nó no coro dos "progressistas": "Detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula".
Quem teve a felicidade de ver seu show no fim de semana pôde presenciar a homenagem a Neguinho do Samba, negro semianalfabeto, um dos fundadores do Olodum na Bahia, morto há poucos dias: "Influenciou mais a mim e provavelmente a vocês da plateia do que a obra inteira de Lévi-Strauss. Isso é o que eu teria a dizer aqui sobre analfabetismo e preconceito".
O ápice, porém, foi a interpretação de "Eu Sou Neguinha?" -acompanhada no palco por uma gestualidade que valorizava de maneira ostensiva e lúdica a interrogação sobre a identidade sexual do cantor.
Caetano é um dos maiores artistas brasileiros -isso já é sabido. Mas é também um espírito livre e um intelectual incomum num sentido muito preciso (e talvez o único verdadeiramente precioso): sempre está no debate público de sua época sem subordinar convicções e ideias a cálculos táticos ou conveniências políticas. Ousar pensar pela própria cabeça, sem a tutela do grupo ou medo da patrulha da maioria: por que não? Por que não?

GOSTOSA


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BRASÍLIA - DF

Medo dos velhinhos


Correio Braziliense - 11/11/2009




O lobby dos aposentados pela derrubada do “fator previdenciário” e pelo reajuste das aposentadorias com base no salário mínimo é o assunto que mais preocupa a bancada governista. Muito mais do que a polêmica sobre a partilha do petróleo da camada pré-sal entre a União, estados produtores e estados não produtores. Há amplo entendimento na Câmara de que a aprovação das duas propostas pode quebrar a Previdência, como teme o governo, mas poucos querem colocar a cara na reta para “votar contra os velhinhos”.
Nove entre cada 10 caciques do PT acusam o senador Paulo Paim (PT-RS), autor dos dois projetos aprovados no Senado, de estar mais preocupado com a própria reeleição. “Esse Paim vive criando problemas para o governo, a proposta não tem cabimento”, reclama o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e amigo do presidente Lula. O senador petista não se faz de rogado. Na tribuna do Senado, um dia sim outro também, discursa pressionando os colegas da Câmara a aprovar suas propostas. Não dá bola às críticas: “Não tem uma cidade no Brasil, hoje, que não esteja debatendo a questão dos idosos, aposentados e pensionistas”, argumenta.

Pacífico

O presidente do Peru, Alan Garcia, enviou carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na qual propõe um protocolo de paz e segurança — espécie de pacto de não agressão — para a América Latina. O documento, trazido pelo ministro peruano dos transportes, Enrico Cornejo, manifesta a preocupação de Garcia com a corrida armamentista em curso no continente. Lula tem viagem marcada para o Peru em 11 de dezembro.

Complicou

Eleição que parecia no papo da oposição fica cada vez mais complicada: no Paraná, o PSDB não decide quem será o candidato da legenda. O prefeito de Curitiba, Beto Richa, e o senador Álvaro Dias continuam se estranhando. O Palácio do Planalto, cada vez mais, aposta numa aproximação entre o governador Roberto Requião (PMDB) e o senador Osmar Dias (PDT).

Estripador



O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (foto), do PDT-SP, faz autocrítica de ter reunido numa só negociação o reajuste das aposentadorias e o fim do fator previdenciário. É preciso discutir uma coisa de cada vez, a começar pelo aumento dos benefícios do INSS. O deputado pretende levar a proposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as demais centrais sindicais. A ideia é jogar a votação para as calendas e o governo conceder um bom aumento das aposentadorias por medida provisória.

Provedores

Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam a existência de 13,3 milhões de idosos chefiando famílias, a metade delas com um adulto com mais de 21 anos desempregado. Há 27 milhões de aposentados e pensionistas.

Copa



O ministro do Esporte, Orlando Silva (foto), rasgou elogios ao GDF pela agilidade nas obras de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014. “Fiquei impressionado com o GDF. Os projetos são muito bons, transparentes e estão totalmente alinhados com as exigências da FIFA”, disse. O governador em exercício Paulo Octávio (DEM) aproveitou a deixa para pedir pressa na ampliação do Aeroporto de Brasília.

Heterodoxos

A oposição caminha para a total fragmentação no Rio de janeiro. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) só garante palanque para a candidata do PV à Presidência, senadora Marina Silva (AC). Deixou órfãos o DEM, o PSDB e o PPS. O prefeito de Caxias, o tucano José Camilo Zito, está firme com o governador Sérgio Cabral (PMDB). E, para complicar mais, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), candidato ao Senado, é pressionado para fazer uma “chapa camarão”, isto é, sem candidato a governador.


Terrestre/ A Agência Nacional do Petróleo (ANP) encampa emenda ao marco regulatório do pré-sal para que seja financiada com 100 milhões dos 5 bilhões de barris de petróleo destinados à capitalização da Petrobras. Os recursos, segundo a proposta, seriam aplicados na recuperação de campos terrestres que hoje têm produção declinante.

Desgraça/ A Procuradoria da República no Distrito Federal instaurou inquérito civil para apurar se “declarações” do ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi trouxeram prejuízos aos cofres públicos. Zoghbi foi demitido, semana passada, depois de responder a uma sindicância interna.

Ordem/ Às vésperas da disputada eleição na Ordem dos Advogados do Brasil em todos os estados, marcada para 16 de novembro, a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) virou tema de campanha na seção da OAB-RJ. A oposição quer saber o porquê de ter viajado para o Rio, em novembro do ano passado, com despesas pagas pela OAB/RJ.

Dinheiro

Apesar de ter sido o pré-sal o motivo da visita à Câmara dos Deputados, os governadores do Nordeste fizeram apelo especial ao presidente Michel Temer (PMDB-SP) pela regulamentação da Emenda 29. O pedido foi subsidiado por queixas de que a União deve elevar sua participação no custeio da saúde.

ELIANE CANTANHÊDE

Lula administra empurra-empurra

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/11/09


Vendaval, raios e árvores caindo no Paraná, pane na linha de transmissão de Furnas, queda automática de 100% do sistema de Itaipu. E boa parte do país, principalmente o nevrálgico Sudeste, fica às escuras durante horas, a partir das 22h13. Nem o Paraguai escapa.
Nada como um episódio assim, seja ele uma fatalidade, uma fragilidade do sistema ou até uma improvável sabotagem, para nos lembrar a todos o quanto a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está longe. Um ano é prazo suficiente para muita coisa. E qualquer coisa pode se refletir no desfecho de uma eleição assim. Precedentes há aos montes.
Foi certamente pela gravidade da situação, mas também pelos riscos políticos, que Lula entrou pessoalmente na operação de coleta de informações ontem, ligando diretamente para o presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek.
Lula queria saber tudo, como foi, onde foi, o que foi atingido, quando seria restabelecida a normalidade. Enquanto isso, as TVs transmitiam ao vivo as imagens de São Paulo, o centro político e econômico do país, completamente parado, com filas quilométricas de faróis brilhando na escuridão. No Rio, o pavor de sempre: o de assaltos.
O primeiro lugar a restabelecer a energia foi o Paraguai, animando o pessoal de Itaipu. A volta da energia e o entusiasmo, porém, não repetiram o efeito cascata da queda. Cair o sistema foi fácil. Recuperar a normalidade, não tanto. E ninguém entendia exatamente por que a operação de reserva, inclusive com as termelétricas, não funcionou.
Começou, então, o inevitável: o empurra-empurra. Na primeira versão, Furnas jogava a culpa para Itaipu. Logo, Itaipu passou a dizer, especialmente para o presidente, que a crise não era de geração; era de transmissão. Ou seja: era de Furnas. E o governo de São Paulo, claro, tratou de se isentar de responsabilidade, mas dizendo que fazia tudo o que "estava a seu alcance".
Apagões não são novidade, mas o que começou ontem foi o mais grave e justamente na área de origem e de domínio da ministra Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia, atual chefe da Casa Civil e virtual candidata do PT à Presidência.
Na expressão de Itaipu, as turbinas "rodavam no vazio", sem ter onde entregar energia. Mas, em Brasília, certamente Lula, Dilma e a turma da política e do marketing já atuavam a cheio, a mil. Afinal, alguém vai ter que levar a culpa.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

LAURO SCHUCH

O mau exemplo

O DIA - 11/11/09

Presidente apresenta pensamento simplista sobre pobreza e corrupção

Rio - O presidente Lula já se revelou, em diversas ocasiões, um governante falastrão, que, apesar da imensa responsabilidade, como primeiro mandatário do Brasil, faz comentários infelizes e desastrosos.

Sua última derrapada foi numa solenidade em que foi sancionado o plano de cargos e salários dos
policiais militares e bombeiros do Distrito Federal. Ele disse ter certeza de que “a única hipótese de a gente não ter um policial levando propina da bandidagem é o policial ganhar o suficiente para cuidar de sua família”.

Não há dúvida de que servidores públicos e profissionais de outras categorias ganhando salários dignos ficam menos tentados a se corromper. No entanto, esse raciocínio simplista expresso pelo presidente da República pode levar a outro entendimento ainda mais rasteiro: o de que toda pessoa que ganha mal tem tudo para ser corrupto.

É não só rasteiro como perigoso, por, indiretamente, justificar de antemão qualquer deslize ético. E é também injusto para com a maioria da p
opulação brasileira, que ainda ganha muito pouco para sobreviver honestamente.

Acima de tudo, o raciocínio do presidente Lula é falso, porque os grandes casos de corrupção na história brasileira recente são de figurões ligados aos três Poderes constituídos e ao empresariado mais rico do país. O caso mais recente envolveu senadores e diretores do Senado regiamente pagos pelo erário Público.

No meio de advogados, justamente para coibir ações escusas, temos um Código de Ética de Disciplina que prevê punições para infrações, sobretudo a falta de prestação de contas ao cliente. Pobre ou mal pago não é sinônimo de corrupto.

MÍRIAM LEITÃO

Governo manipula

O GLOBO - 11/11/09


É absurdo fazer campanha política num teste de avaliação da qualidade da educação; e, além disso, o enunciado da questão do Enade está errado. O Brasil sofreu sim um forte impacto da crise internacional: perderá um ano de crescimento do PIB em 2009, R$80 bilhões de arrecadação, US$60 bilhões, ou 30%, de exportações. A indústria teve a sua maior queda em 15 anos; os investimentos despencaram.

Campanha tem hora, palanque tem lugar, não pode ser num teste de aferição de conhecimentos gerais de estudantes, que serve para orientar políticas públicas e escolhas privadas. Que o governo guarde a palavra "marolinha" para os ilusionismos dos seus palanques. Ele sabe a verdade: a crise foi forte. O PIB crescia a mais de 6%, despencou, ficou negativo dois trimestres, se recupera da queda, mas fechará o ano em torno de zero. É indigente sugerir, numa prova para universitários, que não houve crise, e sim um erro de avaliação da imprensa brasileira corrigido pela imprensa estrangeira. No terceiro trimestre, o PIB vai crescer em torno de 2,5% em relação ao segundo. O ministro Guido Mantega falou em 10%. Isso porque ele pegou o resultado e anualizou. Deu este número enorme. Não é errado fazer a anualização, mas ele não fez quando era queda. Se fizesse, teria tido um enorme número negativo. A comparação com o mesmo trimestre de 2008 deve dar cerca de 0,3%.

O Brasil voltou a crescer no segundo trimestre deste ano. Ótimo. Mas não foi o único. França, Alemanha, Japão também cresceram. A Austrália já está subindo juros para conter a demanda. A China e a Índia nem tiveram recessão. Os Estados Unidos tiveram um forte PIB positivo no terceiro trimestre.

- Não foi apenas o Brasil. O mundo inteiro saiu mais cedo da crise porque os pacotes de ajuda foram enormes. Uma crise é uma peça em vários atos, e o mundo tem medo do próximo ato: o que vai acontecer quando retirarem os pacotes de ajuda. Os bancos americanos e europeus têm US$7 trilhões em dívidas de curto prazo garantidas pelo governo. O que vai acontecer quando tirarem as garantias? - avalia o economista Armando Castelar, do Gávea Investimentos.

Governos sérios levaram a crise a sério e sabem que ela ainda pode trazer surpresas. O Brasil entrou na crise com vantagens em relação a outros países, mas a recuperação ocorreu em parte puxada pela recuperação externa. A China com seu enorme pacote de estímulo financeiro elevou o preço das commodities e nos ajudou.

O ministro Paulo Bernardo calculou que o país vai perder no ano R$80 bilhões de arrecadação. O IBGE registra que a indústria teve em um período de quatro meses uma queda de 20%, a maior já registrada nas suas estatísticas. A produção de bens de capital está com queda de 22% no acumulado do ano, o que significa investimentos a menos. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior, Roberto Segatto, calcula que o Brasil vai exportar 30% a menos ou US$60 bilhões a menos do que no ano passado.

Aqui não havia excesso de endividamento das famílias, nem produtos exóticos nos bancos, mas mesmo assim o Unibanco para evitar uma corrida fundiu-se ao Itaú, como contou em detalhes o "Valor Econômico" de ontem. Grandes exportadores passaram por momentos de pânico com seus derivativos cambiais. Foram salvos com dinheiro público, que financiou operações de fusão e aquisição, como as da Aracruz com a Votorantim e da Sadia com a Perdigão. Nada foi de graça. Só no caso Aracruz, o BNDES teve que bancar 40% do custo do negócio.

O BNDES está pedindo seu segundo empréstimo de R$100 bilhões ao governo em menos de um ano. Antes, o empréstimo era para fazer política anticíclica. E agora? Será política pró-cíclica? É empréstimo por uma manobra contábil. Se fosse capitalização, entraria na dívida pública. Sendo empréstimo, fica tudo igual porque o governo terá um ativo e um passivo se neutralizando, já que o banco é público.

O professor Claudio de Moura Castro considerou "doutrinário" e "sintomático" do uso da máquina pública incluir versões governistas na prova: "Isso nunca aconteceu em uma prova assim. É uma contaminação indevida."

Há erros nas outras questões também. Fico no tamanho da crise, que você pode ver melhor no gráfico abaixo. Esta foi a maior queda da indústria na era do real. Mesmo com a recuperação, o país estava em setembro no nível de produção industrial de fevereiro de 2007: recuo de dois anos e meio.

GOSTOSA

VINÍCIUS TORRES FREIRE

A GUERRA FRIA DAS MOEDAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/11/09


Em ação de guerrilha, como o Brasil, Taiwan adota medidas para barrar dólares; China e EUA travam guerra fria cambial


DEPOIS DO Brasil, Taiwan entrou de modo mais explícito na guerra de guerrilhas do câmbio. Segundo os jornais locais com a data de hoje, o governo proibiu investidores estrangeiros de aplicar em depósitos a prazo por mais de três meses. Isto é, na prática, barrou o CDB deles para o capital estrangeiro.
Todos os países da região têm entrado com mais frequência no mercado de moedas, segundo entendidos, a fim de controlar a valorização de suas moedas. Mas medida explícita, mesmo, só a de Taiwan, um país hiperdependente de exportações. Mas nem a guerra de guerrilha vai parar por aí nem as disputas do câmbio se limitam a escaramuças.
Quando ainda se imaginava que a crise de 2008 poderia parecer com a da década que se seguiu a 1929, muito se dizia que um dos grandes riscos era a história da guerra comercial se repetir. Isto é, governos de países em recessão aumentariam impostos ou outras restrições sobre produtos importados a fim de tentar proteger seus parques produtivos de danos maiores.
Dadas a existência da Organização Mundial do Comércio, ainda que precária, e a interdependência das economias nacionais, não houve uma onda de restrições novas, diretas e extensas às importações. Decerto, houve e ainda está havendo uma guerra de guerrilha de limitações ao comércio, mas o assunto não é central, digamos.
Mais importante é que nem nos anos 1930 nem agora as manobras comerciais limitaram-se a impostos sobre importação ou restrições administrativas a produtos estrangeiros. Como tem se visto, a grande disputa comercial se dá por meio da "guerra fria" do câmbio e de guerrilhas contra influxos de capital tidos como talvez perigosos. Por um lado, procura-se manter mercado de exportações com câmbio e, pois, preços baixos; por outro, procura-se evitar exageros e mesmo bolhas nos mercados financeiros.
A guerra fria das moedas é conduzida pelas grandes potências, EUA e China, principalmente. Não há movimentos bruscos. Procura-se manter o status quo. Cada a um a seu modo, manipulam suas moedas a seu favor. Os EUA, no presente, por meio do despejo diluviano de dólares na praça e da taxa de juros zero, o que na prática desvaloriza a moeda americana. A China, por sua vez, continua a manipular diretamente o yuan, mantendo-o, por enquanto, atrelado ao dólar cadente. Trata-se uma guerra comercial muito mal disfarçada contra o resto do planeta. E de um longo conflito de fricção entre chineses e americanos.
Faz quase uma década que os americanos vão periodicamente a Pequim reclamar o yuan desvalorizado demais, ao mesmo tempo em que repetem a arenga do dólar forte. Os chineses repetem como sempre que "continuam a aprimorar seu modelo de câmbio". Isto é, não dão à mínima.
Barack Obama vai à China na semana que vem. Disse que vai reclamar do yuan, bidu. Os chineses, de antemão, já disseram que "vão aprimorar seus modelo de câmbio". Os dois mantêm a conversa fiada de uma década, que equilibra os interesses comerciais e financeiros das duas partes e cria os desequilíbrios que ajudaram a nos levar ao desastre de 2008.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

A Transferência Imaculada

Folha de S. Paulo - 11/11/2009


Uma política de restrição ao capital externo equivaleria a cortar o dedo para tirar uma unha encravada


DA SUPERAÇÃO dos efeitos da crise política de 2002 até a eclosão da crise de 2008, o Brasil viveu um momento bastante positivo. O PIB se expandiu à taxa de 4,7% anuais por cinco anos, ritmo substancialmente superior ao de anos anteriores e mais próximo à expansão global. A diferença entre o crescimento médio mundial e o brasileiro, que chegara a quase 2% ao ano em 2000, tornou-se levemente negativa no ano passado, mostrando que o desempenho do país não resultou apenas do impulso externo.
De fato, essa dinâmica se amparou na demanda interna, cujo crescimento superou o do produto já em 2005, atingindo uma velocidade de 5,5% ao ano, sendo que o consumo aumentou 5% anuais, enquanto o investimento cresceu 10% ao ano, deixando claro quais têm sido os motores do bom desempenho. O investimento, em particular, que caíra a pouco mais de 15% do PIB em 2003, agora representa algo como 18% do PIB, ainda baixo, é verdade, mas o progresso é nítido.
O crescimento no período não difere muito, pois, de qualquer estimativa decente da nossa capacidade de expansão sustentável, embora a demanda interna tenha conseguido superá-la consideravelmente. Obviamente a conta só fecha porque o Brasil é uma economia aberta, ainda que não muito aberta. A expansão da demanda interna acima da capacidade de crescimento da oferta doméstica tem sido coberta pelo aumento das importações em relação às exportações, levando à redução das exportações líquidas, de 3% para 0,3% do PIB.
Não há dúvida de que o consumo continuará sendo um dos motores da expansão, assim como não há quem acredite que o ritmo de gasto público (quase 4% ao ano) irá se reduzir. Dado, por fim, que, como desejamos, o investimento voltará a crescer, se possível ao ritmo dos últimos anos, é certo que a demanda doméstica seguirá como o fator que impulsiona a economia, voltando a se expandir a velocidade maior que o crescimento potencial.
Esse desenvolvimento sugere que as importações seguirão crescendo mais rápido do que as exportações, pois de outra forma não haveria como satisfazer a expansão da demanda interna. Isto dito, a menos que alguém acredite no que John Williamson denominou Doutrina da Transferência Imaculada (qual seja, que alterações na demanda doméstica não têm nenhum impacto nos preços relativos), a consequência desse padrão de crescimento é uma taxa real de câmbio necessariamente mais apreciada. Não por outro motivo tenho afirmado que, se o objetivo é conviver com uma taxa de câmbio menos apreciada, o remédio consiste em reduzir o gasto público.
Suponhamos, porém, que seja possível evitar todo ingresso de capital estrangeiro no país, do investimento direto ao financiamento de comércio internacional, replicando -agora por vontade própria- os efeitos da crise de 2002. Por definição, o país ficaria impossibilitado de gerar deficit externos e a taxa de câmbio se depreciaria. No entanto, vale a simetria: para manter o equilíbrio macroeconômico, a demanda doméstica teria que se desacelerar para a mesma velocidade do produto potencial. Na ausência de ajuste fiscal, essa desaceleração teria que ocorrer pelo lado do gasto privado, tipicamente pelo aumento de juros.
Isto é, uma política de restrição ao capital externo conseguiria depreciar o câmbio, à custa, todavia, de juros reais mais elevados, de queda no consumo e de investimentos privados e, portanto, de redução da capacidade de crescimento. Em outras palavras, equivaleria a cortar o dedo para tirar uma unha encravada; tira, mas duvido que qualquer médico digno desse título recomende esta medida.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN , 46, é economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.

JAPA GOSTOSA


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DIRETO DA FONTE

Minas ataca na eletricidade

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/11/09

Aécio confirma. Remeteu anteontem, à Endesa, na Espanha, carta do governo de Minas comunicando oficialmente seu interesse em comprar duas empresas por ela controladas no Brasil - a Ampla, no Estado do Rio, e a Coelce, no Ceará. Tamanho da operação? R$ 3 bilhões.
A investida mineira - em nome da Cemig - segue-se à compra, em outubro, da italiana Terna, por pouco menos de R$ 2,2 bilhões. E das negociações de compra do controle da Light, que têm chance de serem finalizadas antes do fim do ano. Consta que esta operação consumirá R$1,5 bilhão. É, a estatal não brinca em serviço...

Cada um por todos
Fernando Gabeira voltou a reafirmar, ontem: será candidato a senador, e não ao governo do Rio, como querem o PSDB e parte do PV. "É aquela coisa: dois noivos não podem viajar no mesmo avião", brinca.
Tradução: se ele perde e Marina não emplaca na Presidência, os verdes vão desbotar no Congresso.

Iniciativa privada
O projeto de revitalização da Gabriel Monteiro da Silva pode sair do papel este ano.
Segundo Marcos Arbaitman, da Ame Jardins, dois patrocinadores - Visa e Mastercard - se dispõem a investir R$ 40 milhões no processo. Que inclui esconder fios, recapear calçadas, tapar buracos... - coisas que o cobertor curto da Prefeitura hoje não permite.

A hora de Alá
Faça sol, faça chuva, a agenda de Ahmadinejad estabelece que, à uma da tarde do dia 23, ele reza - voltado para Meca, é claro.
Pela atual programação, vai deixar Lula almoçando só.

Palheta
Madonna pediu e ganhou um maquiador brasileiro para chamar de seu: Daniel Hernandez. Em stand by até amanhã, no Rio.

Casa de Joana
Desprezando marcação das cadeiras na primeira fila na Fiesp, anteontem, Paulo Maluf e Romeu Tuma não fizeram a menor cerimônia e se sentaram.
Resultado: foram 20 minutos de espera para que o cerimonial arrumasse lugar Dilma e Guido Mantega.

DIRETO PRA FONTE
A Conectas levará até a alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, sexta-feira, em Brasília, dados e recomendações sobre a situação dos presídios e do acesso à justiça no Brasil.

Largada paulista
Empresários paulistas vão conhecer o plano de Carlos Nuzman, do Comitê Olímpico Brasileiro, para 2016.
Amanhã, em jantar na casa de David Feffer.

NO AQUÁRIO
César Cielo será a nova estrela da Sabesp. O nadador vai dar dicas sobre o consumo consciente da água.

Costura e corte
Onze anos depois, Gloria Kalil relança o seu Chic. Devidamente remodelado, com novos costumes e etiquetas. As da era da internet, em especial.

Filha pródiga
Os Jobim ressurgem em Nova York, desta vez nas artes plásticas.
Elizabeth Jobim, filha de Tom, faz a primeira individual por lá. Abre amanhã, na Galeria Frederico Seve.

Nada de herança maldita...
A surpresa, durante jantar oferecido por João Dória a Aécio Neves, na noite de segunda, foi a própria "surpresa" de integrantes do Lide com o governador, que muitos não conheciam pessoalmente. Gostaram tanto do discurso que o aplaudiram de pé.
Em sua fala, Aécio teceu elogios a FHC e a Lula - por ter tido, este, a responsabilidade de dar continuidade ao programa econômico do primeiro e melhorado os programas sociais e relações com sindicatos e movimentos de base.
E introduziu uma questão nova: a de que não se pode separar a fase pré-eleitoral do cenário pós-eleitoral. "Temos que sinalizar que não é jogo de vida ou morte onde quem perder será aniquilado", explicou o governador à coluna.Para ele, tem que ficar claro para forças aliadas a Lula que elas não serão excluídos se o PSDB vencer.
Do jeito que vai, Aécio teme que a radicalização embutida na estratégia do governo traga ameaças à governabilidade. "O conceito de pós-Lula é nossa resposta à armadilha da eleição plebiscitária."
A ênfase, no seu ver, terá que ser a da gestão política. Mais do que em tarefas administrativas ou econômicas.

Na frente

Lula, Filho do Brasil já está na imprensa internacional. Dizia-se ontem, no El País, que "nunca antes na história cinematográfica brasileira um filme teve tamanha difusão".

Heitor Dhalia alça voo internacional. Foi contratado pela Lakeshore para dirigir o thriller de espionagem April 23.

Luiz Pizarro abre a mostra Morros Velados, hoje, no MAM do Rio de Janeiro.

Com as presenças de FHC e José Mindlin, o Centro da Cultura Judaica dá hoje o start ao Ciclo Multicultural.

Começa amanhã, na Associação Comercial de SP, A Jornada Universo da Aquarela.
Tânia e Otávio Piva de Albuquerque montam loja da Expand em casarão do século 19. Amanhã, em Higienópolis.

Bruno Gagliasso lançou campanha via Twitter: Madonna para reitora da Uniban.

FERNANDO RODRIGUES

O PSDB paralisado


Folha de S. Paulo - 11/11/2009


Ponderado, o senador pernambucano Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, não se declara em público a favor de José Serra nem de Aécio Neves quando o assunto é a escolha do candidato tucano ao Planalto em 2010.
Mas uma frase do dirigente do PSDB deixou ontem margem para dúvidas ao analisar a disputa: "Eu diria que ele [Aécio] é mais amplo politicamente do que o governador José Serra. Ele teria mais apoios dos partidos que não são do campo da aliança do que teria o governador José Serra hoje".
Sérgio Guerra sintetizou o senso comum em vigor na oposição. Trata-se de uma afirmação seguida de uma frase na forma adversativa: 1) José Serra é um candidato a presidente sólido e experiente, está na frente nas pesquisas e já foi escrutinado em campanhas de expressão nacional anteriores; 2) mas Aécio Neves poderia, se fosse o escolhido tucano, conseguir uma aliança política mais abrangente para tentar estancar o crescente avanço das forças lulistas.
Diante dessa dúvida, tucanos estão paralisados. Serra deseja tomar uma decisão só em março. Aécio cobra diariamente uma posição do seu partido até dezembro -caso contrário, promete desistir da eleição presidencial. Criou-se um impasse de difícil solução.
Se a profecia de Aécio se autocumprir, ele desistirá de ser candidato a presidente. Nessa hipótese, Serra ficará obrigado a assumir de maneira indireta a candidatura em dezembro. Claro, pois será o único e último tucano no páreo.
Esse desfecho é o pior dos mundos para a oposição. Serra anteciparia seus planos por causa de uma circunstância partidária interna. Aécio se encolheria emburrado em um canto.
Uma chapa pura, com o mineiro de candidato a vice-presidente, é quase inviável. De zero a dez, a chance é três, diz Sérgio Guerra.
Tudo considerado, não é nada bom o clima no PSDB.

BOLSA CELULAR

EDITORIAL - O GLOBO

Arbítrio em marcha

O Globo - 11/11/2009


Não foi apenas mais um congresso da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o 65º, realizado em Buenos Aires desde o fim de semana até ontem. Foi, também, uma aula prática de como projetos autoritários e autocratas avançam no continente, e têm como alvo prioritário a imprensa livre e independente, para subordiná-la ao Estado.

O encontro coincidiu com ações violentas de piquetes sindicais, com visível respaldo da Casa Rosada, para impedir a expedição de edições de "El Clarín" e "La Nacion", os dois maiores e mais importantes diários argentinos. Sintomático que, em nenhum dos dois ataques de piquetes, a polícia tenha agido para reprimir a ilegalidade, numa cópia carbono da postura de autoridades brasileiras diante de atos violentos do MST.

Os inúmeros relatos feitos na SIP de iniciativas, em vários países, contrárias à liberdade de uma forma geral, tiveram respaldo em fatos ocorridos em Buenos Aires, como, além dos cercos às oficinas de impressão dos jornais, o bloqueio de vias estratégicas da cidade, também sem repressão.

Conclui-se, de tudo que foi apresentado no congresso, que parece mesmo haver um projeto articulado em andamento no continente, a partir da experiência venezuelana, visando a garrotear a imprensa independente, passo essencial para o domínio do Estado por forças autoritárias. A chamada Lei de Meios, aprovada, devido a pressões dos Kirchner, por um Congresso já sem legitimidade ---- está eleito um outro, controlado pela oposição, mas que ainda não assumiu ---- contrabandeou para a Argentina princípios bolivarianos, instituídos na Venezuela.

Projeto de lei em fase de aprovação no Equador copia o mesmo modelo de intervenção nos meios de comunicação profissionais e independentes. Bolívia e Nicarágua seguem a mesma cartilha.

A ideia básica é quebrar a espinha empresarial que sustenta os grandes grupos de comunicação e lhes dá autonomia. Por isso, a lei dos Kirchner força o grupo Clarín a se desfazer de canais de TV, em nome do combate ao "monopólio". Ora, ao mesmo tempo, são criados canais estatais. Ou seja, debilita-se um grupo privado que tem de praticar jornalismo de qualidade e ético para não perder audiência, a fim de abrir espaço a veículos que servirão para propagar o discurso oficial, apenas com preocupação doutrinária. Cria-se, isto sim, um monopólio estatal na mídia (estimou-se, na SIP, que, aplicada em seu todo, a Lei de Meios, ao fragmentar o setor, fará a imprensa argentina depender de verbas públicas em 60% das suas receitas).

A doutrinação será feita não somente por veículos do governo, pois canais a serem vendidos por força da nova lei deverão ser comprados por empresários de livre trânsito na Casa Rosada. Terceiriza-se a manipulação ideológica por meio de uma mídia paraestatal.

Diante deste cenário, ganha ainda mais relevância o debate lançado no Brasil sobre a existência de um "subperonismo", termo de FH, em que comissários de partidos de esquerda de corte autoritário, sindicalistas aparelhados nas proximidades do Tesouro Nacional e com ação efetiva nas altas finanças, via fundos de pensão de estatais, se articulam numa estrutura de poder ameaçadora para a democracia.

O autoritarismo da ditadura dos generais, cujo fim parecia ser o sepultamento definitivo dos tempos de trevas na América Latina, tem sido ressuscitado por regimes civis autoritários, nacional-populistas, lastreados no apoio "popular" de sindicatos cevados na máquina do Estado e num lumpesinato bem amestrado.

No Brasil, o presidente Lula é ambíguo no relacionamento com a imprensa, como tem sido em vários outros temas: se reconhece que, sem liberdade de imprensa, um metalúrgico não chegaria ao Planalto, também diz ter "azia" ao ler jornais e revistas, e, volta e meia, recita o bordão das "elites", fantasma visto por ele e seguidores por trás dos grupos jornalísticos independentes. Importa, porém, que a liberdade de imprensa existente no Brasil cada vez mais o diferencia - para melhor - numa região em momento delicado de sua história. Com todos os problemas, as instituições funcionam, a Constituição tem sido zelada como deve pelo Supremo Tribunal Federal, e a regra pétrea da rotatividade no poder está consolidada. O fato é sintoma de alguma maturidade institucional. E ela começa a se instalar quando a nação depende menos de pessoas e mais das leis.

TODA MÍDIA

Israel & Palestina

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/11/09


As agências vinculam a visita do presidente de Israel à do presidente do Irã.
E avaliam que "sublinha a ambição do Brasil de ter um papel mediador, parte da aspiração de um perfil internacional à altura de seu peso econômico crescente". Na cobertura israelense, o foco é outro. Na submanchete on-line do "Jerusalem Post", "Shimon Peres tenta cortejar velho amigo Mahmoud Abbas", o presidente da Autoridade Palestina que anunciou que não vai se candidatar à reeleição, reagindo à aceitação das colônias judaicas pelos EUA.
A submanchete on-line do "Haaretz" foi na mesma linha, mas ressaltando seu pedido de apoio da Síria. Abbas, destacam os sites, "visita o Brasil no fim do mês".
Ao fundo, na home do "Financial Times", a editora de Oriente Médio avisou que a recusa de Abbas é séria e "mostra como se extinguiu rápida e dramaticamente a esperança em Obama".

UM ANO DEPOIS
Na capa da revista "Valor Investe", por Raquel Balarin, "a história não contada do ataque ao Unibanco". Relata "os episódios dramáticos que aceleraram a fusão com o Itaú", dez dias depois, e a "tática de guerra no mercado para segurar os preços das ações". Destaca, a certa altura, que a "CVM investiga se a recompra de ações foi simultânea às negociações com o Itaú"

FED FRACO
Na manchete on-line do "Financial Times", com enunciado significativo, "Projeto dos bancos busca retirar poderes do Fed".
O "Wall Street Journal" foi mais simpático, dizendo que a reforma do senador democrata Chris Dodd, de Nova York, "busca mudanças ambiciosas", com a restrição da "regulação" do setor financeiro a uma só instituição.

TAIWAN & BRASIL
O "FT", que agora segue em tempo real o mercado financeiro do Brasil, postou que o dólar fraco "amplifica lucros", daí a alta na Bovespa. Avisa que pode mudar.
E o site financeiro Seeking Alpha destacou que "Taiwan dá uma de Brasil" (pulls a Brazil). A Comissão de Supervisão Financeira do país adotou restrições à movimentação de capital externo.

DE FORMA A IMPEDIR
Na manchete do "Valor" de ontem, "Bancos fecham operação de R$ 6 bilhões para Telefônica".
É para a empresa espanhola elevar sua oferta de compra da tele paranaense GVT, "segundo as instituições financeiras, de forma a impedir que a francesa Vivendi entre no Brasil". Ecoou por Bloomberg e demais. A operação tem como "bancos líderes" Bradesco, HSBC, Banco do Brasil e Votorantim.

ASPECTOS
O site Teletime deu que "o Ministério Público abriu consulta pública a todos os que tiverem considerações e informações sobre a aquisição da GVT pela Telefônica, 'aspectos concorrenciais'".

TELEPÃO
E o site Blue Bus destacou, a partir do post de um consultor, que "o Pão de Açúcar, maior rede de supermercados do país, está se preparando para se tornar uma operadora de telefonia móvel".

GUERRA MODERNA
No lançamento do game Modern Warfare 2, ontem nos EUA, o "WSJ" entrou na fila e elogiou o jogo "complexo e visualmente excitante", mas alertou que estimula a matar civis. E tem favela do Rio por cenário

PARA NEGÓCIOS
Em longa reportagem com a foto acima, o "NYT" destaca o "influxo de dinheiro de negócios no Rio", que com os Jogos se torna "cada vez mais um destino sério de empresários", concorrendo com São Paulo.

GOSTOSAS DO TEMPO ANTIGO

PEDRO DUTRA

A superagência


Valor Econômico - 11/11/2009

O governo pretende criar um órgão para supervisionar as atividades das agências reguladoras e demais órgãos reguladores como a CVM e o Ibama.

O governo pode criar um órgão para supervisionar as atividades das agências reguladoras e também dos demais órgãos do poder Executivo que exerçam função reguladora, tais como a Comissão de Valores Mobiliários e o Ibama, noticiou o Valor na semana passada. A criação do Organismo de Supervisão Regulatória (OSR), segundo fonte do governo ouvida pelo jornal, "seria um instrumento de suporte analítico (...) para avaliar os custos e benefícios das normas e seus impactos sociais, para evitar decisões exageradas", ação que não implicaria em os atuais órgãos reguladores, sobretudo a agências, "perderem poder".

Há uma evidente contradição na fórmula enunciada, pois não há supervisão sem supervisionado, e essa função pressupõe, necessariamente, uma relação de subordinação, no caso entre a OSR e os órgãos postos sob sua jurisdição. E, se o objetivo é evitar decisões "exageradas", como atuará a OSR se ela não puder prevenir ou rever tais decisões?

O ponto a examinar não é, porém, a questão formal, mas o contexto em que a OSR atuará, se vier a ser criada. O atual governo sempre se manifestou contrário à existência de órgãos reguladores dotados de independência hierárquica e decisória em relação ao Executivo, podendo as suas "decisões e medidas" serem revistas apenas pelo Judiciário. Esse regime regulatório, criado nos Estados Unidos no século XIX, foi proposto para ser adotado no Brasil na década de 20 do século passado, o que, todavia só viria ocorrer 70 anos depois, em um quadro mundial de abertura política, com a derrocada das economias autoritárias.

A regulação técnica independente é uma forma eficiente de descentralização administrativa e, executada com estrita obediência à Lei e de forma transparente, possibilita um maior controle da atividade econômica por parte da sociedade e confere aos consumidores e investidores maior segurança jurídica. Esse regime, contudo, reduz a influência direta do Executivo na economia; sem poder ditar às agências as decisões e medidas que devam tomar, a intervenção do governo no processo regulatório só pode ocorrer legitimamente quando da indicação dos titulares desses órgãos, ou mediante alteração da lei que a eles cabe aplicar. Nenhum desses meios permite a ação imediata, que este governo supõe deva ser sua prerrogativa ordinária.

Essa posição baseia-se no entendimento de que é o Executivo o intérprete maior do interesse público, e assim superiormente habilitado, sobre o Congresso e o Judiciário, a "avaliar os custos e benefícios sociais" da ação regulatória. O atual governo vem tentando inscrever esse entendimento no regime regulatório vigente, e a discussão sobre a criação da OSR soma-se a um projeto de lei em curso no Congresso, de reforma nessa linha das agências reguladoras.

Dois fatores, ditados pela experiência histórica, contrapõem-se a esse propósito do governo: 1) a centralização administrativa a subordinar ao governo órgãos de intervenção do Estado na economia mostrou-se possível apenas em regimes fechados; e 2) a provada ineficiência desse regime buscado pelo atual governo.

Órgãos reguladores são, devem ser, eminentemente técnicos; suas decisões baseadas apenas na lei que aplicam, e essa deve traduzir, em sua forma, o interesse público a ser preservado. Por visarem esse objetivo, a atuação desses órgãos não pode ser influenciada por interesses político-partidários - que são naturais na ação governamental. Ou seja, todos os órgãos de intervenção do Estado na economia devem agir de forma transparente, abertas ao público as reuniões de seus conselhos diretores, pública a agenda de seus titulares, seus números divulgados etc. Como atrelar o exercício dessa função de Estado à supervisão de um superórgão subordinado ao governo, que deteria a chave analítica para avaliar os "benefícios sociais" dela resultante? Impraticável no regime democrático vigente.

No governo Vargas o modelo centralizado de intervenção foi implementado, mas a partir de um contexto político oposto ao atual. O mesmo ocorreu no regime militar em 1964, quando esse modelo foi extremado e associado a uma ampla estatização, à criação de reservas de mercado e de "campeões nacionais" etc. Os resultados líquidos dessa forma de intervenção do governo na economia, por meio de órgãos a eles inteiramente subordinados, são hoje registros históricos e uma importante fonte a ser consultada quando da elaboração de novas normas a disciplinar a regulação da atividade econômica.

O debate em torno da criação da OSR é, contudo, positivo. A atual crise econômica deve-se em boa medida a uma renúncia regulatória jamais vista. Ainda que desatualizados, houvessem os órgãos reguladores das maiores economias agido como devido, os efeitos da crise econômica teriam sido muito menores. Com razão, critica-se a omissão do Estado ao deixar frouxos os controles da economia, e esse fato é incontestável. Não há, portanto, melhor momento para se discutir a regulação de mercados. Mas esse debate não pode ignorar a experiência histórica, seus acertos e fracassos, nem subordinar seus aspectos técnicos a postulados ideológicos. E menos ainda, ignorar a necessidade de o Brasil atrair capitais privados, nacionais e estrangeiros, para obras de infraestrutura. Uma superagência, subordinada ao governo, que reveja as decisões técnicas de agências independentes não nos parece ser o caminho indicado a seguir.

Pedro Dutra é advogado e conselheiro do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (IBRAC).

MERVAL PEREIRA

Jogo jogado

O GLOBO - 11/11/09


É um bom sintoma do amadurecimento da nossa democracia que não tenha tido a menor repercussão o comentário do presidente Lula sobre a possibilidade de ter um terceiro mandato na Presidência. Como quem não quer nada, Lula tirou do bolso do colete o tema do continuísmo com tal naturalidade que era como se fosse um assunto sobre o qual ele e o vice José Alencar conversam com frequência. A tal ponto Lula foi indiscreto que Alencar passou as mãos pela face, sorrindo, como se estivesse constrangido com a exposição em público dos desejos mais recônditos dos dois ou, quem sabe, nervoso pela revelação que não deveria ser feita.

Mas é sabido que Lula é um hábil manipulador da política, que não faz nada sem um objetivo, não prega prego sem estopa. Ele não faria um comentário daqueles simplesmente por ser um boquirroto.

"Poderia ser mais se o pessoal quisesse, não é, Zé, mas o pessoal não quer", lamentou-se um bem-humorado Lula, para depois adicionar mais tempero à sua fala: "Ficam discutindo o negócio aí de encurtar os mandatos, nós dois até que aguentaríamos mais uns cinco anos de batente, de batalha. Mas, como democratas, nós estamos quietinhos, vamos esperar o jogo ser jogado".

Foi a primeira vez que Lula admitiu que gostaria de permanecer no governo por mais um período. E, mais grave ainda, deixou no ar a possibilidade de que as regras do jogo ainda possam ser mudadas. Se não, qual seria o sentido de dizer que está "quietinho" esperando "que o jogo seja jogado"?

A que jogo ele se refere, às negociações sobre a redução do mandato presidencial para cinco anos? Esse é um assunto sempre levantado pelos tucanos, numa tentativa de compor melhor a base de sustentação da candidatura à Presidência da República.

Por essa tese, o governador de São Paulo se comprometeria a apoiar a mudança da regra eleitoral que permite a reeleição, com objetivo de garantir o apoio do governador de Minas, Aécio Neves. Com um mandato de cinco anos, sem direito à reeleição, o governador mineiro aceitaria, quem sabe, até ser o vice de Serra na eleição de 2010.

Houve um início informal de negociação, lá pela altura de 2007, entre PT e PSDB, onde esse tema foi colocado com todas as letras. Havia até mesmo a hipótese de prorrogação por um ano do mandato do presidente Lula, para que cumprisse os cinco anos de mandato, que valeriam para o seu sucessor.

Nesse caso, a prorrogação atingiria também os governadores e prefeitos em todo o país, mas a rejeição da opinião pública seria grande.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi quem abortou, dentro do PSDB, essa ideia, não apenas porque considera que o sistema de reeleição ainda precisa ser mais testado, mas porque temia que a mudança da regra eleitoral poderia dar a Lula um pretexto para tentar concorrer a um terceiro mandato consecutivo.

Com o fim da reeleição, e com um mandato de cinco anos, haverá sempre uma interpretação legal, advertia o ex-presidente, de que as mudanças eleitorais zeravam o jogo, que poderia ser jogado a partir daí até mesmo por Lula novamente.

Não ficou claro se Lula se referia a essa possibilidade quando disse que iria esperar que o jogo fosse jogado, e sempre será possível ao presidente refrasear seus pensamentos, tirando-lhes a carga de imprevisibilidade que, propositalmente ou não, deixou no ar.

Mas qualquer cidadão comprometido com as normas democráticas sabe que não há nada o que esperar, o jogo já está jogado e as regras já estão estabelecidas.

Se anteriormente, quando o prazo legal permitia que fossem feitas modificações na legislação eleitoral, não houve clima na opinião pública para que o debate sobre o terceiro mandato consecutivo prosperasse, agora a violência seria muito maior.

Estamos a menos de um ano da realização das eleições gerais de 2010 para presidente, governadores, deputados federais e estaduais e dois terços do Senado. Já não há o prazo legal para alterações, e tentar reduzir esse prazo com ele já vencido seria muito acintoso.

Já houve mesmo, na eleição de 2006, a tentativa de reduzir esse prazo para seis meses antes da eleição, e a iniciativa não prosperou porque não encontrou respaldo popular.

O presidente Lula passou o tempo inteiro negando que tivesse interesse em disputar um terceiro mandato consecutivo, embora se soubesse que, nos bastidores, não vetava iniciativas de deputados petistas muito ligados a ele, como foi o caso de Devanir Ribeiro, o mais notório dos defensores de um terceiro mandato.

Ao contrário do que recomenda a prudência política, Lula ainda nem terminara o primeiro ano deste seu segundo mandato e já estimulava o debate sucessório, mantendo a expectativa de poder em torno de si com mensagens contraditórias quanto a um eventual terceiro mandato seguido, ora negando essa possibilidade enfaticamente, ora deixando no ar frases indicando exatamente o contrário.

Como no dia em que, ao ouvir do ministro Franklin Martins que ele não estaria mais no Planalto quando determinado fato aconteceria, Lula deixou no ar o comentário, em meio à reunião do Conselho Político do governo: "Quem sabe?".

Ou permitindo que seu amigo, o deputado Devanir Ribeiro, insistisse na apresentação da emenda que autorizava o presidente a convocar plebiscitos sem autorização do Congresso.

O fato de o presidente voltar a esse tema inopinadamente, mesmo sem obter repercussão política, pode significar que já tema pela consistência da candidatura da ministra Dilma Roussef. Ou que queira reforçar a ideia de que, não sendo possível sua candidatura, o jeito é votar na sua representante.

Porque o jogo já está jogado.

APAGÃO