quarta-feira, outubro 28, 2009

VINÍCIUS TORRES FREIRE

O PIOR DOS MUNDOS E FUNDOS

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/10/09


PROJETO DO CONGRESSO PARA O PRÉ-SAL IMPLICA O AUMENTO DE GASTOS MESMO ANTES DE SE VER A COR DO DINHEIRO PETROLÍFERO


O congresso está para terminar a redação dos projetos de lei para o pré-sal. Apesar da barafunda do início da noite de ontem e das disputas ainda abertas entre deputados e governo Lula, o projeto tem como implicação o aumento imediato dos gastos (ou melhor, implica aumento de gastos assim que eventualmente começar a entrar o dinheiro do pré-sal).
Primeiro, a proposta aumenta um imposto sobre os rendimentos do petróleo do pré-sal, taxação que no caso atende pelo nome de cobrança de royalties. Assim, reduz-se a quantidade de recursos que deve ser dirigida ao fundo que será criado a fim de poupar os recursos que a União obtiver com o petróleo.
Segundo, o projeto reduz a fatia do governo federal na distribuição desses royalties, aumentando os recursos dirigidos para governos estaduais e municipais, "produtores" ou não de petróleo. Ou seja, aumenta a distribuição de recursos para "entes federativos" que, na maioria, têm se mostrado ainda mais ineptos que a administração federal.
Terceiro, o fundo de poupança dos recursos advindos do petróleo torna-se mais e mais desfrutável podendo ser gasto em itens cada vez mais diversos. Nos primeiros cinco anos, o principal do fundo (e não apenas seus rendimentos) poderá ser gasto, "desde que não haja risco à sua sustentabilidade".
A ideia aparentemente boa de criar um fundo de poupança com os recursos do pré-sal também pode ser essencialmente ruim, a depender do contexto econômico. Pretende-se criar outro fundo de poupança em um país que, porém, não poupa, mas tem deficit e dívida caríssima para pagar. O Brasil tem o fundo de reservas internacionais, uma reserva de caixa em moeda forte, necessária para evitar variações excessivas da moeda nacional e para cobrir despesas "externas" (em dólares) em caso de crise aguda.
As reservas de US$ 232 bilhões são caras porque rendem juros de "primeiro mundo", hoje quase zero, e têm o custo de juros brasileiros. Isto é, o custo do endividamento em reais para comprar os dólares (pelo menos 8,75% ao ano, a Selic de agora, que vai subir). O Brasil tem um "fundo soberano" meio morto-vivo, que o governo pretende incrementar, aplicando seus recursos também a um custo inferior ao da dívida pública crescente.
E, agora, o Brasil terá um fundo petrolífero que, a seguir as regras tradicionais aqui e lá fora, renderá menos que o custo da dívida pública. Qual o problema? Imagine-se o cidadão que chega a todo final de mês no vermelho e que se endivida no cheque especial ou no cartão de crédito, dívida que custa 11% ao mês em juros. Esse cidadão, por acaso, um dia ganha na loteria ou recebe uma herança. Em vez de acabar com seu deficit e/ou pagar a dívida, decide aplicar o dinheiro na caderneta de poupança, ganhando 0,5% ao mês.
Faz sentido? Não. Esse é mais ou menos o caso dos fundos brasileiros. O que fazer? Torrar o dinheiro que um dia virá do pré-sal, como os deputados já propõem? Não, mas o conjunto da nossa obra é o pior dos mundos. Está se propondo o aumento do gasto do dinheiro do pré-sal antes de ver a sua cor; estamos criando fundos com rendimentos na prática negativos. Mas os governos continuam a ter deficit.

FERNANDO RODRIGUES

DEM, biruta de aeroporto

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/10/09

BRASÍLIA - O Democratas está em litígio com o seu principal aliado, o PSDB. Os tucanos relutam em lançar já um candidato a presidente, seja José Serra, seja Aécio Neves. Parte dos "demos" cobra diariamente rapidez nessa definição.
Criou-se um impasse. José Serra é o defensor principal da tese de postergar o lançamento da candidatura. Quer tratar do assunto em público só em março de 2010. Se antecipar seus planos, a leitura será simples: o tucano terá capitulado diante da exigência do presidente do Democratas, Rodrigo Maia. Logo, esse recuo serrista é improvável.
O azedume entre os dois principais partidos de oposição aumentou ontem. Como revelou a repórter Catia Seabra, a imagem de Serra foi vetada no programa de TV dos "demos" a ser exibido amanhã. A desavença talvez seja contornada antes da exibição da propaganda, mas o estrago está feito.
O cenário é desalentador no campo da oposição. As divergências públicas revelam descrença na possibilidade de vitória. Está quase vermelho o sinal amarelo aceso por causa do avanço da candidatura oficial de Dilma Rousseff.
O Democratas resmunga com alguma lógica: quanto mais passa o tempo, mais se consolidam as alianças regionais a favor da joint-venture entre PT e PMDB.
O problema é não haver grandes opções à disposição da dupla PSDB-DEM. Pelo menos de 15 a 20 dos 27 partidos políticos brasileiros só fazem alianças na base da fisiologia.
Os outros estacionam onde há mais chance de vitória. O lançamento de um candidato tucano agora ou depois teria um efeito marginal na atração de legendas sempre propensas a sucumbir ao magnetismo de Lula.
Nesse cenário, o cálculo do Democratas parece descalibrado. Até porque a pressão sobre Serra tende a ser inócua. O único a celebrar é Lula, feliz com a atitude de biruta de aeroporto dos "demos".

TEMPO ANTIGO

PRAIA DO MEIO EM NATAL-RN

RUY CASTRO

Histórias do dia a dia


Folha de S. Paulo - 28/10/2009

No fim de semana, Bruno, carioca, classe média, músico, 26 anos, sob o efeito de crack, álcool e remédios de tarja preta, estrangulou e matou sua namorada, Bárbara, 18. Em seguida, foi dormir, com ou sem consciência do que fizera. Ao acordar, constatou a tragédia e telefonou para o pai. Este chamou a polícia -preso, seu filho ficaria "internado", livre do coquetel de drogas, legais ou não, que era o seu dia a dia.
Histórias como essa são também o dia a dia do país, embora poucas cheguem aos jornais, e encerram lições. Uma delas, a de que o crack não é mais um problema exclusivo dos meninos de rua de São Paulo, onde começou -a cracolândia foi exportada, é agora nacional e não distingue classes. E, ao contrário de outras drogas, que têm um esmalte charmoso, "de salão", o crack não comporta uso recreativo -com ele, a dependência se instala à segunda ou terceira pedra.
Mas, como admitido pelo pai de Bruno, o crack não foi o único componente da adição de seu filho. Além do álcool, ele era usuário de antidepressivos, hipnóticos, benzodiazepínicos e antipsicóticos -remédios de uso "controlado", que a maioria dos médicos brasileiros de qualquer especialidade, inclusive pediatras, receita alegremente para os casos mais banais de hiperatividade, depressão, insônia ou simples tédio.
Os garotos aprendem a combiná-los para um resultado potente em si ou em combinação com outras drogas. Enquanto as quadrilhas, as milícias e a polícia trocam tiros pela supremacia nos morros, os maiores causadores de dependência química no Brasil (segundo a estatística) saem legalmente dos consultórios médicos, farmácias, supermercados, bares e biroscas.
As mortes que provocam têm sua sinistra contrapartida nos impostos que supostamente pagam.

JOSÉ NÊUMANNE

Freios e contrapesos, cheques e balanços


O Estado de S. Paulo - 28/10/2009

No topo de uma preferência popular nunca antes alcançada na História deste País, já superando os 82% e se aproximando da unanimidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se acha, como dizem os jovens a respeito dos megalômanos. Pois acabou de mandar São Paulo calar a boca. O apóstolo dos gentios, que inventou o amor e a solidariedade numa Antiguidade em que predominavam a força bruta e o poder absoluto de divindades cruéis e astutas a partir da pregação singela de um profeta de província, certamente ficaria desnorteado se tivesse de debater teologia com um cristão que acredita ser possível a coligação da redenção com a delação. Lula, poderoso a ponto de comparar seus neobajuladores com o venal supremo, Judas Iscariotes, que vendeu o próprio mestre por um punhado de moedas, sem que deles se ouça um gemido sequer de reprovação, não se peja em bancar o Duda Mendonça do Jesus Cristo, troca patacoadas pela blasfêmia e nem assim se dá mal.

Os milhões de votos que Sua Insolência tem e pretende transferir para sua candidata favorita entorpecem a consciência da Nação e anulam qualquer reação. O papa, representante do Deus dos católicos na Terra, não foi sequer informado da batatada ofensiva. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu um pífio protesto teológico lembrando que Jesus não transigiu com os fariseus, citados, coitados, na parábola do traidor Judas Iscariotes como dizem que o cônsul romano Pôncio Pilatos entrou no Credo.

Das escassas convicções irremovíveis que o presidente tem, há duas inegáveis: é cristão e corintiano. O criminoso desmanche do campeão da Copa do Brasil, desfigurado no Campeonato Brasileiro, não levou Sua Insolência a apontar sua metralhadora giratória para o Parque São Jorge e ele continua adulando o ídolo de seu time, de cujo ventre volumoso já reclamou em passado recente. No entanto, sua incontinência verbal ousou desrespeitar o que de mais sagrado há para a fé da maioria dos brasileiros, ele e sua família inclusive: a saga do Salvador que sucumbiu à traição de um discípulo para lavar com o próprio sangue os pecados do mundo. Comparado com essa ofensa, o pontapé do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus na imagem de Nossa Senhora Aparecida foi um ósculo.

Dizem os morigerados que em demasia tudo faz mal. Talvez o excesso de popularidade, que, somado ao gênio político do ex-dirigente sindical, gera poder excessivo, afete uma de suas mais notórias virtudes - o bom senso. Certo é que, da mesma forma que o sagrado fígado de Jesus, lanceado pelo inimigo em consequência da traição de Judas Iscariotes, a democracia profana, mas cidadã, também tem sido golpeada pela retórica presidencial.

Autoincumbido de perdoador geral dos amigos e aliados e algoz dos adversários renitentes, Lulinha Paz e Amor o Cara da Silva tem mandado às favas, além dos escrúpulos, os pilares sobre os quais se sustenta a democracia, que, com seus defeitos, combate a barbárie política na prática secular do Parlamento britânico e na experiência transplantada para a América pelos Pais Fundadores. O ex-comandante de greves que se tornou chefe de Estado no maior país da América Latina é fruto de uma nobre e respeitável instituição desse regime político imperfeito, cujo seio nutre a civilização humana: o sufrágio universal. Não se faz, contudo, uma democracia somente com votos. A eleição é a forma consagrada pela História de consultar o povo para a escolha dos governantes. Estes, porém, não podem gerir o interesse coletivo tendo como base apenas os próprios interesses e as ambições de seus correligionários. Os eleitos submetem-se à impessoalidade das instituições - estas, sim, fundamentos das democracias avançadas - e aos checks and balances (freios e contrapesos - favor não confundir com cheques e balanços).

Na peculiar República lulista, em que se perdoa Judas pela traição a Jesus em troca de seu apoio nas votações de interesse do líder, inexiste a autonomia soberana dos três Poderes. Assuntos de economia interna do Legislativo são resolvidos pelo Executivo - caso da manutenção de José Sarney na presidência do Congresso, apesar do enorme desgaste representado pela decisão imposta por Lula aos senadores. E a oposição aceita, cabisbaixa, o poder sem limites do presidente sobre a composição da alta cúpula do Judiciário, como deixou claro o voto do líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio (AM), a favor do então advogado-geral da União, José Antônio Dias Toffoli, justificado como um pedido de um amigo comum - explicação mais apropriada para um consórcio de compadres que para uma decisão política responsável.

Faz parte desse antagonismo a freios e contrapesos a campanha que Lula tem feito nos constantes discursos em intermináveis comícios pelo País contra a mania fiscalizadora dos meios de comunicação e a desabusada marcação dos raros e nem sempre eficazes órgãos de controle ainda existentes. O presidente mira seu fuzil contra comunicadores que não aceitam a postura de apresentadores de showmícios e produtores de biografias cinematográficas laudatórias por preferirem zelar pelo interesse público, embora contrariem mandatários. E também não deixa em paz os Tribunais de Contas, que assessoram o Poder Legislativo, não fazendo parte do Judiciário, particularmente quando estes, mesmo compostos por membros da casta encastelada no topo dos Poderes, se inquietam com excessos de malversação do erário - como ocorreu há pouco com obras do Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC), promovido por Sua Insolência a cavalo de batalha da candidata oficial.

Essa débil reação às investidas de Lula contra cânones da cristandade e da democracia leva a temer que, em desuso, freios e contrapesos se tornem cheques e balanços.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O fim da Fundação Sarney

O Estado de S. Paulo - 28/10/2009


Ao anunciar a intenção de fechar, "por falta de meios", a fundação que leva o seu nome, em São Luís, o presidente do Senado, José Sarney, disse que "os doadores que a sustentam suspenderam suas contribuições, pela exposição com que a instituição passou a ser tratada por alguns órgãos de mídia". É um eufemismo e tanto. O que a imprensa expôs foi um escândalo de proporções sarneysianas. Primeiro, o desvio de pelo menos R$ 500 mil do patrocínio de R$ 1,3 milhão concedido pela Petrobrás, em 2005, nos termos da Lei Rouanet de incentivo à cultura, para a digitalização dos documentos reunidos na entidade, criada em 1990 para preservar o acervo do período em que Sarney presidiu o País, de 1985 a 1989. As irregularidades foram reveladas pelo Estado em 9 de julho. Segundo, a mentira do senador de que ele não teria "nenhuma responsabilidade administrativa" pela fundação.

Uma simples consulta aos seus estatutos permitiu verificar que ele não só é o presidente vitalício da entidade e do seu conselho curador, como ainda tem poder de veto sobre as suas decisões, com a prerrogativa de "assumir as responsabilidades financeiras", "orientar e superintender as atividades da fundação" e representá-la. Faz sentido. A pretexto de promover os ideais republicanos - o seu nome inicial era Fundação Memória Republicana -, a entidade é um santuário consagrado à figura do oligarca maranhense. O seu acervo inclui até mesmo desenhos feitos por seus filhos, quando crianças, e as capas dos livros de sua autoria. Trata-se de um patrimônio privado, embora, escandalosamente, bancado por recursos públicos. Conforme o seu estatuto, em caso de extinção da fundação, os seus bens voltam a pertencer ao senador, ou aos seus herdeiros.

Por motivos decerto óbvios, o clã não quis destinar uma parcela de suas alentadas finanças para manter uma entidade destinada a cultuar a trajetória do seu chefe. Um mausoléu, onde Sarney pretendia ser sepultado, chegou a ser construído no pátio de sua sede, o soberbo Convento das Mercês, de 1654, no Centro Histórico de São Luís. (A edificação, que pertencia ao Estado, foi doada à fundação por um governador ligado à família. A Justiça, acionada pelo Ministério Público, determinou meses atrás a devolução do convento ao patrimônio estadual.) Mas, tendo se empenhado em recorrer a um patrocínio, como o da Petrobrás, que se traduz em renúncia fiscal para a União, o presidente vitalício da entidade, responsável por "orientar e superintender" os seus atos, no mínimo deveria zelar pelo bom uso do dinheiro obtido. Em vez disso, ainda que por omissão, compactuou com a esbórnia hoje sob investigação na Procuradoria da República no Maranhão (o processo já tem 17 volumes), no Tribunal de Contas e na Controladoria-Geral da União.

O anunciado fechamento da fundação não deverá sustar os inquéritos. "Os procedimentos continuarão a tramitar e as responsabilidades continuarão a ser investigadas", promete a titular da Promotoria Especializada em Fundações e Entidades de Interesse Social de São Luís, Sandra Mendes Elouf. Os ilícitos são incontestáveis - e característicos de um modus operandi que viceja nos grotões brasileiros. Os R$ 500 mil desviados beneficiariam empresas do grupo de comunicação da família Sarney, a exemplo da TV e das rádios Mirante, além de firmas fantasmas, que não existem nos endereços declarados, e outras ainda abertas em nome de afilhados políticos. Uma delas, a Ação Livros e Eventos, tinha como sócia a mulher de Antonio Carlos Lima, assessor do Ministério de Minas e Energia - onde, como se sabe, o senador manda e desmanda. Sem falar na firma chamada Sousa Première, registrada na Receita como varejista de artigos de vestuário e acessórios, que recebeu R$ 12 mil por um "curso de capacitação em história da arte" a funcionários da fundação.

No Senado, a tropa de choque de Sarney, com pleno apoio do governo Lula, asfixiou as tentativas de processá-lo por quebra de decoro parlamentar, no caso da mentira sobre as suas atribuições na entidade que o glorifica, entre outros episódios não menos comprometedores. Agora, o fim da Fundação José Sarney não pode dar margem ao esquecimento das fraudes ali cometidas. Algum limite para a impunidade deve haver para os poderosos que têm por eles próprios um apreço inversamente proporcional ao seu respeito pela ética e a decência.

LÚCIO VAZ

Então, fecha, presidente!


Correio Braziliense - 28/10/2009

O debate sobre o papel do Tribunal de Contas da União foi lançado pela Associação Nacional das Empreiteiras e parece ter se tornado uma obsessão do presidente Lula. Ambos não gostam do TCU. Não aceitam a paralisação de obras apenas porque há indícios de superfaturamento, fraude, conluio em licitações, desvio de recursos públicos. Na última ofensiva, o presidente fez algumas colocações que merecem reparos. Disse que, às vezes, “uma pessoa nos confins de um estado qualquer tem mais poder que um presidente da República. Às vezes é uma pessoa de quarto escalão”, discursou. Primeiro, por que “um estado qualquer”? Há algum estado melhor do que os outros? Segundo, quem decide a paralisação de uma obra é o plenário do TCU.

Terceiro, não é demérito para um servidor ser de quarto escalão. E as decisões técnicas são tomadas com base em pareceres técnicos, elaborados por alguém que está lá, nos confins de um dos estados da nação, por mais longínquo e pobre que seja. A outra opção seria uma decisão política, tomada nos gabinetes de Brasília, muitas vezes ao sabor de interesses eleitorais, sem considerar as questões técnicas.

Outro dia, o ministro Paulo Bernard
o falou da criação de “auditorias externas, independentes”. Agora, o presidente fala na criação de uma “câmara de nível superior, inatacável, para decidir”. Não seria melhor fechar o TCU, presidente? Afinal, por que manter um órgão tão caro se ele é considerado desnecessário ou inadequado? Mas ocorre que o tribunal apenas recomenda. Quem aprova a paralisação é o Congresso. Seria, então, o caso de fechar o Congresso? O amigo Chávez poderia dar a receita de como fazer a coisa de forma que parecesse democrática, constitucional, pelo menos aos olhos da esquerda brasileira.

O presidente Lula usa como argumentos histórias que envolvem machadinhas e pererecas. Vamos aos fatos. Nos últimos cinco anos, tivemos as operações Sanguessugas, Navalha, Castelo de Areia. Quadrilhas organizadas para saquear os cofres públicos. Em 2006, a Gautama tinha nove obras paralisadas pelo TCU, por indícios de fraudes. Ainda assim, Lula incluiu numa medida provisória a liberação de R$ 70 milhões para nova obra da empresa. No ano seguinte, a Operação Navalha confirmou as fraudes. A Controladoria-Geral da República (CGU) declarou a inidoneidade da empreiteira. O TCU tem falhas, comete erros, mas muito pior seria sem ele.

GOSTOSA


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TODA MÍDIA

Esqueça a China?

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/10/09


A "Fortune" publicou a análise "Esqueça a China, o Brasil é mais barato", destacando que "a movimentada economia sobreviveu ao tombo global com estilo", citando os Jogos e "muitas razões para festejar" e, por fim, listando em quais ações investir.
Já o "Wall Street Journal", sob o título "Tudo por causa do dólar", postou que o Citigroup já alerta para "o maior risco de correção" da Bovespa: uma recuperação "significativa" do dólar, como se especula para 2010 com a elevação dos juros pelo Fed.

Fechando o dia por UOL e outros, a Bolsa terminou "em baixa de 3%", acompanhando outros emergentes com a "piora geral no humor".

QUASE US$ 5
A Bloomberg segue a "Economist" e anota que o Big Mac foi a US$ 4,62 em SP, contra US$ 3,99 em NY e US$ 3,74 em Londres.

OBAMA, O CASAMENTO
O site do "New York Times" ainda não postou, mas a próxima revista de domingo do jornal já ecoa on-line, com a entrevista em que Michelle e Barack Obama comentam como a presidência afetou o casal.
"Os pontos fortes e os desafios do nosso casamento não mudaram", declara ela, "enquanto o presidente estudava o carpete conforme ela respondia", em um dos trechos da reportagem que vazaram, no site Politico. "Os solavancos acontecem com todo mundo."

NOS EUA
Em nota no "NYT" e no alto home do Huffington Post, com foto, o Departamento de Justiça dos EUA negou asilo a "gay brasileiro" casado com americano e deportado em 2007.
Ele argumentava, para a volta, com estupro sofrido no Brasil. Sites gays americanos já questionam as promessas de Obama. "Vai proteger como? Deportando?"

NA ITÁLIA
Nas manchetes on-line dos italianos "La Reppublica" e "Corriere Della Sera", ontem, com fotos, o "sofrimento extremo" do governador da região de Lazio, ao se demitir após a divulgação na semana passada de vídeo em que acaricia um transexual brasileiro, China. Quatro policiais, que estavam com o vídeo, chantageavam o político.

POLÍCIA CRIMINOSA
A BBC Brasil relatou e foi até manchete por sites e portais brasileiros, ontem pela manhã, "Caso AfroReggae expõe gangrena em polícia do Rio, diz 'Le Monde'".
No título original do jornal francês, "No Rio de Janeiro, uma polícia com comportamento criminoso". Ecoou também por sites e portais o artigo postado pelo "Guardian", assinado por Conor Foley, intitulado "Brasil precisa acabar com a matança" no Rio.

TRANSBORDAMENTO
Abrindo a escalada de manchetes, o "Jornal Nacional" destacou ontem o transbordamento de uma barragem e até os "buracos" de rua em São Paulo. A cobertura começou no meio do dia, quando o apresentador Chico Pinheiro, do "SPTV", destacou as "imagens impressionantes de uma barragem da Sabesp".
Foi depois manchete do G1, da Globo, "Represa transborda e inunda 50 casas", e seguiu o dia todo nos destaques da rede, inclusive os esforços da estatal paulista para dizer que o fato "não teve nada a ver com a barragem", responsabilizando moradias ilegais e a chuva.

ANTIGA FEBEM
Também em destaque na Globo, na web e na TV, "rebelião com reféns na Fundação Casa", "fogo em colchões, móveis e cobertores", "prédio da antiga Febem está cercado pela tropa de choque" e por aí vai

PT-PSDB? NÃO
Na nova "Interesse Nacional", editada por Rubens Barbosa, destaque para ensaio de Renato Janine Ribeiro intitulado "PT-PSDB: É possível uma coalizão?". Pós-Lula e FHC, "Terminar o que começamos ou saltar para o futuro?". Por ele, "para o futuro"

BRASÍLIA - DF

Temer cisca pra dentro


Correio Braziliense - 28/10/2009



O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), decidido a se tornar o grande artífice do apoio formal do PMDB à candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), resolveu ciscar pra dentro. Quer intermediar as negociações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os caciques da legenda que ameaçam pular fora da raia governista caso seus interesses eleitorais não sejam atendidos. Temer está como aquele comandante de coluna que precisa levar a marcha no ritmo do soldado mais lento, para não deixar metade da tropa pelo caminho.

Os problemas de Temer na cúpula do PMDB têm nome e sobrenome: Hélio Costa (ministro das Comunicações), em Minas; Geddel Vieira de Lima (ministro da Integração Nacional), na Bahia; Iris Resende (prefeito de Goiânia), em Goiás. Somam-se a eles os deputados Eunício de Oliveira, no Ceará, e Jader Barbalho, no Pará. Esses caciques peemedebistas estão às turras com o PT e não vão endossar a coligação formal com Dilma se os petistas não os apoiarem nos seus respectivos estados.

Torpedo

O projeto de construção do submarino nuclear da Marinha está ameaçado de naufragar na beira da praia, por causa da Comissão Mista de Orçamento do Congresso. Contrariados com o corte nas emendas parlamentares, deputados da base ameaçam torpedear o programa de construção de submarinos da Marinha em parceria com a França, orçado em R$ 19 bilhões

Rainha




O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (foto), do PT gaúcho, virou uma rainha da Inglaterra nas negociações do pré-sal. Preocupado com a reeleição no Rio Grande do Sul, limitou-se a marcar o encontro dos relatores e presidentes das comissões do pré-sal com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e com a sub-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, que fala por Dilma. Resultado: o governo foi surpreendido pelos relatores e o presidente Lula teve que entrar de sola nas negociações.

Candidatos




O senador Hélio Costa (foto) é candidato a governador de Minas. Lula quer vê-lo candidato ao Senado. Geddel e Iris, de olho nos governos da Bahia e de Goiás, respectivamente, estão na mesma situação. Eunício e Jader querem o apoio do PT para concorrer ao Senado. Se não chegarem a um acordo eleitoral vantajoso, podem inviabilizar a coligação só fazendo corpo mole. Por essa razão, as negociações com o presidente Lula, daqui pra frente, passarão também por eles.

Arapongas
A Comissão do Congresso Nacional de Acompanhamento das Atividades de Inteligência teve o número de integrantes ampliado de seis para 12. O colegiado era composto apenas pelos presidentes das comissões de Relações Exteriores do Senado e da Câmara e pelos líderes da Minoria e da Maioria no Congresso e nas duas Casas. Os novos membros serão eleitos amanhã, na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

Sobreviventes
O ex-senador Luiz Estevão não poupou elogios ao colega Gim Argello, senador pelo PTB e candidato ao GDF, num almoço no último domingo, na residência da empresária Suely Nakao: “Gim, você sobreviveu a tudo e a todos. Você vai longe”, disse Estevão, que teve o mandato cassado e busca alianças para voltar ao mundo político como candidato a deputado federal pelo PMDB.

Ex-mulher
Candidato à presidência da OAB de Rondonópolis (MT), Joabe Oliveira foi autuado por posse ilegal de armas. Procurador do município, foi denunciado pela ex-mulher Dulce Soares, da qual está separado há três meses. Joabe tinha armas e munições em casa, mas não possuía porte dos armamentos. Dulce declarou aos policiais que ela e os filhos eram ameaçados pelo marido.

Goteira
Uma infiltração de tamanho considerável apareceu no cafezinho da Câmara, um dos espaços cativos dos parlamentares. Os mais prejudicados foram os deputados interessados em assistir à partida entre Brasil e México, pelo Mundial Sub-17.

Online

Febre entre políticos, o Twitter tem sido usado até para cobrança de alianças prometidas para 2010. Pré-candidata ao Senado, a petista Gleisi Hoffmann (PR) deixou seu recado para o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que no fim de semana criticou o pré-compromisso de seu partido com a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. “Requião é um homem de palavra. Ele disse a Dilma, na minha frente, que a apoiaria”, postou.

União

Candidato ao Senado por Pernambuco, o deputado Armando Monteiro Neto (PTB), presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi condecorado, ontem, com a Medalha do Mérito Industrial. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, neófito na política e candidato ao governo de São Paulo pelo PSB, fez a entrega. É a primeira vez que a Fiesp concede a honraria a um presidente da CNI, sepultando especulações de que as entidades estão em rota de colisão.

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ALEXANDRE SCHWARTSMAN

E só Carolina não viu


Folha de S. Paulo - 28/10/2009


Hoje, para acompanhar economistas presos no túnel do tempo, não preciso sequer ligar a TV


SEMPRE GOSTEI de filmes que envolvam viagem no tempo, quase tanto quanto de qualquer um que mostre uma nave espacial. Resquício do "Túnel do Tempo", série que acompanhava dois cientistas perdidos no tempo. Hoje, porém, para acompanhar economistas presos nesse labirinto, não preciso sequer ligar a TV.
A começar pela abordagem à economia. Ao contrário dos economistas mais caretas, muito presos a convenções como lógica, modelagem de suas teses e teste delas contra a evidência empírica, os aventureiros do tempo preferem um abordagem mais aberta, mais solta, assim, um lance de pele... Afinal, o domínio econômico é, tipo, um ente orgânico, vivo, em constante evolução, porque as pessoas são, assim, complexas e multifacetadas, que às vezes fazem coisas de um jeito, às vezes de outro, às vezes não fazem e chegam mesmo a fazer demais. E aí, cara, pode acontecer de tudo... Ou não.
Para usar um exemplo à mão, qual seria o efeito de um aperto (verdadeiro) da política fiscal sobre a taxa de câmbio? Segundo os perdidos no tempo, qualquer coisa. Afinal de contas, argumentam, uma política fiscal mais apertada poderia reduzir a percepção de risco do país, elevando o influxo de capitais, o que faria a taxa de câmbio se desviar ainda mais de seu valor de equilíbrio.
Como esse pessoal acredita na doença holandesa, não é possível descartar, a priori, o uso de substâncias liberadas naquele país para chegar a uma conclusão tão orgânica, viva e em constante evolução. Em primeiro lugar, pela insistência na suposição de que a taxa de equilíbrio seja uma grandeza fixa (cujo valor exato, não duvidem, os aventureiros conhecem até a quinta casa). Não me escapa a ironia de os perdidos no tempo, tão ciosos dos seus lances de pele, não considerarem a possibilidade de a taxa de câmbio de equilíbrio se alterar em resposta a variáveis como termos de troca ou a própria avaliação de risco de solvência.
Vale dizer, caso a melhora de política fiscal reduza a percepção de risco e, por meio desta, leve à apreciação de câmbio, não se trata mais de desvio com relação ao câmbio de equilíbrio, mas alteração deste último como resposta à melhora dos fundamentos da economia. Aliás, é bom que assim o seja. De outra forma, o corolário do "argumento" acima é que -para desvalorizar o câmbio- o país deveria promover uma deterioração significativa de sua política econômica (que tal uma guerra civil? Com certeza implicaria câmbio mais depreciado).
Falhas lógicas à parte (que lance mais careta), resta a questão empírica. Parece razoável imaginar que uma política fiscal mais apertada diminua a percepção de risco, mas, sem que se meça (mais careta ainda) esse impacto, a afirmação não tem grande conteúdo para fins de análise econômica.
Considere, contudo, o seguinte. Hoje, o risco Brasil para um período de 12 meses equivale a uma acréscimo de cerca de 0,65% ao ano sobre a taxa de juros americana para o mesmo horizonte. O Chile, paradigma de caretice econômica no continente, apresenta risco-país da ordem de 0,17% ao ano. Se, num laivo de imaginação, a política fiscal brasileira se igualasse à chilena, poderíamos reduzir nosso risco em... 0,48% ao ano! Mesmo no caso mais otimista, o efeito seria, grosso modo, equivalente a uma queda de 0,5 ponto percentual da taxa de juros. Enorme, não?
Curiosamente, tal efeito seria relevante quando o risco de insolvência era alto, mas, caso alguns não tenham percebido, já superamos essa fase. O tempo passou na janela, e só Carolina (que se considera tão atenta à história) não viu.

CELSO MING

O salto no crédito


O Estado de S. Paulo - 28/10/2009

Ontem o Banco Central revelou que, mesmo num período de forte crise e de redução do crescimento econômico, o crédito está avançando no Brasil. Em 12 meses, cresceu 16,9%. De 2005 para cá foram outros 122,0%.

E este é um segmento que tem tudo para apresentar uma substancial virada no País. Há dois dias o presidente Lula alertava que, a partir do momento em que o crédito disparar e o imposto baixar, novas condições estarão postas para o crescimento sustentado.

O primeiro passo para isso foi dado em 1994, ano do Plano Real, quando a inflação foi contida. Nos anos seguintes, ainda no período Fernando Henrique, o governo passou a levar a sério a administração das contas públicas. Foi o momento a partir do qual o Tesouro já não precisou tomar toda a poupança disponível da economia para financiar a despesa do governo. Assim, abriu-se um espaço para o avanço do crédito. Os bancos, que aplicavam a maior parte dos seus recursos em títulos do Tesouro e haviam desaprendido seu ofício, tiveram de voltar a administrar uma alentada carteira de financiamentos.

Os juros na ponta do crédito ainda estão uma enormidade. Os levantamentos do Banco Central mostram que, no desconto de duplicatas, os juros cobrados pelos bancos estão em 40,4% ao ano e, no crédito pessoal, nos 44,7%. O tamanho do spread (diferença entre o que o banco paga pelos recursos e o que cobra por eles) continua extorsivo, de nada menos que 26,0% ao ano. Mas novidades sugerem que alguma coisa começa a mudar nessa área.

O levantamento de recursos por meio da colocação de ações pelo Banco Santander atingiu US$ 8,1 bilhões, o dobro do que havia pago pelo Banespa em 2000. Isso mostra que há mais apetite de um grande banco para disputar o filão do crédito. A concorrência terá agora de se mexer para não perder fatias de mercado e isso sugere que novos passos estejam para ser dados nesse segmento.

Também há novidades nos bancos estatais. O Banco do Brasil, por exemplo, acaba de tomar US$ 1,5 bilhão por meio do lançamento de bônus perpétuos (em geral de 10 anos) e deve alimentar as empresas brasileiras com vitamina nova.

Também se verifica uma forte disposição das empresas brasileiras de tomar recursos externos, onde os juros estão bem mais baixos. É um movimento que deverá reduzir a pressão das empresas pela oferta de crédito no mercado interno.

Tanto o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, como o vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro, entendem que esses são movimentos muito importantes em direção ao aumento da concorrência pelo mercado de crédito no Brasil.

Se isso se confirmar, será inevitável a melhora das condições do financiamento, no alargamento dos prazos e na redução dos juros.

Para que a previsão do presidente Lula se complete, falta o governo fazer a sua parte: reduzir substancialmente as despesas públicas, gastar melhor, especialmente em infraestrutura (e não em despesas correntes), e avançar decisivamente em direção à redução da carga tributária brasileira.

Confira

Não convenceu - Depois de assegurar que só em três meses teria condições de determinar o motivo dos problemas no motor 1.0 do Gol, a Volkswagen avisou que "identificou como causa a deficiência na lubrificação".

A culpa ficou com o lubrificante "em função da ação do álcool combustível". É estranho que o mesmo produto cause problemas só em alguns motores. A Volkswagen diz, ainda, que "voltará a utilizar a especificação anterior do óleo lubrificante".

Se "voltará a utilizar" é porque o lubrificante colocado nos 300 motores trocados antes da identificação do problema continua inadequado.

O PECADO DA GULA


ROBERTO DaMATTA

Entre Judas & Jesus: como ser isso ou aquilo


O Globo - 28/10/2009

Ao ler a aula de Lula sobre como ser amigo de Jesus, sem esquecer as lições de Judas, algo básico para governar o país, fui tomado pela lembrança de um antigo seminário que discutia “identidades”.

O curso, ministrado em Harvard pelo professor-visitante Richard Moneygrand, atraiu muitos alunos, explodindo de inveja os mestres da casa pelo sucesso do peregrino que, marginal ao pomposo estilo harvardiano, tocava numa série de problemas então tabus para a sociologia comparativa dos anos 60.

Por exemplo, começar falando das identidades locais (como ser inglês, escocês, galês e irlandês) em vez de produzir a lista batida de atributos dos outros povos, sem indicar que todos eram lidos a partir da perspectiva americana. Assim, em vez dos velhos estereótipos que consagravam os latinos como povos sem ética, como gente que vivia bebendo tequila e só pensava naquilo, Moneygrand abriu seu seminário com uma pergunta paradoxal: “Por que — perguntou — Deus inventou o uísque?” E diante de uma turma aturdida pela ausência das citações de Platão, Mauss ou Franz Boas, ele respondia com uma gargalhada antiacadêmica: “Ora! Porque, se não fosse o uísque, os irlandeses seriam os donos do mundo!”

Não há povo que não se veja pelo direito e pelo avesso

FERNANDO DE BARROS E SILVA

190 milhões

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/10/09

SÃO PAULO - "Tem pessoas que governam o Brasil para o imaginário de uma pequena casta. E tem pessoas que governam pensando em envolver 190 milhões de brasileiros." O trecho foi dito por Lula na sua entrevista à Folha. Embora fale muito à imaginação, acabou sendo ofuscado pela repercussão da metáfora cristã que o presidente usou para ilustrar seu pragmatismo ilimitado. Voltemos a ele. O diabo, como se diz, mora nos detalhes.
Lula pretende "envolver" 190 milhões. O termo que usa é melhor do que parece. O petista quis lhe dar o sentido de "incluir" ou "abranger". O dicionário "Houaiss", no entanto, atribui mais de uma dúzia de significados à palavra -entre os quais "embrulhar", "enrolar", "tapar", "atrair", "cativar", "conquistar a atenção, a admiração ou o afeto de", "tomar conta de", "dominar".
O verbo comporta sentidos mais favoráveis e menos favoráveis a Lula. E todos eles concorrem para compor uma explicação que não seja banal ou simplória de seu governo. Ou seria essa uma maneira "tucana" demais de ver as coisas?
A oposição, de qualquer modo, deveria recortar a frase e distribuí-la aos membros de sua seleta casta com a seguinte instrução: leia e reflita pelo menos duas vezes ao dia -ao acordar e antes de dormir.
De nada adianta dizer que as complexidades do país real não cabem na clivagem sugerida por Lula. A retórica dicotômica com a qual o petista é capaz de inflamar grandes audiências não está solta no ar, mas ancorada na realidade palpável de que a classe C cresceu 31,3% neste governo e se tornou a mais numerosa do país. No ano passado, segundo dados recentes da FGV, ela respondia por 49,2% da população.
A desconexão entre a aprovação popular do governo e o que Lula chama de "imaginário de uma pequena casta" é um dado intrigante da realidade. Tanto mais curioso porque, no país dos emergentes e das desigualdades, quem mais cresceu, em termos proporcionais, foi a chamada classe AB -37,1%.

PETISTA VENDO O MUNDO

ELIO GASPARI

De Frances.Perkins@org para D.Rousseff@gov

O GLOBO - 28/10/09

PREZADA MINISTRA Dilma Rousseff,
Quase certamente a senhora nunca ouviu falar de mim. Chamei-me Frances Perkins e fui a primeira mulher a ocupar um ministério no governo americano. Fui secretária do Trabalho de 1933 a 1945, entrei com Franklin Roosevelt e saí quando ele morreu.
Escrevo-lhe porque meu chefe pediu. Ele tem muito interesse pelo trabalho do seu presidente e soube que vocês trabalham numa Consolidação das Leis Sociais. Também acredito que posso lhe dar algumas sugestões.
Vá fundo ministra. Faça logo tudo o que se quer fazer. Quando eu cheguei à Casa Branca, as vendedoras do Bloomingdale's cumpriam jornadas de 14 a 16 horas. Os Estados Unidos não tinham salário mínimo, Previdência pública, seguro-desemprego nem plano de saúde universal. Quando saí, a jornada era de oito horas, os trabalhadores tinham aposentadoria e proteção no desemprego. Deixamos o plano de saúde para depois e deu no que deu.
Essas coisas não saíram a preço de custo. A Corte Suprema se tornara um estábulo do patronato. A Previdência era coisa de socialista e o vice-presidente quis mandar o Exército acabar com uma greve a bala. Diziam que não era Frances Perkins, mas Mathilda Watsky, nem seria americana e protestante, mas judia e russa.
Dona Dilma, minha militância social começou na tarde de 25 de março de 1911. Eu estava tomando chá no palacete de uma amiga e ouvimos a sirene dos bombeiros. Fomos ver incêndio e presenciamos a tragédia da Fábrica Triângulo. Morreram 146 operárias, quase todas italianas ou judias. As moças se atiravam do nono andar. Eu vi.
Passei a vida negociando com empresários e líderes sindicais. Sempre tive um fraco por gente rica. Minhas amigas progressistas eram chamadas de "Brigada do Vison". Nesse sentido, acho que a senhora circula pouco na área atapetada. Erro. Eu consegui que o empresariado aceitasse a sindicalização dos trabalhadores e quem me ajudou foi o presidente da US Steel. Depois ele foi nomeado embaixador no Vaticano. Quero lhe confessar que nunca gostei de sindicalistas, mas negociei umas 200 greves, algumas das quais com mortos, e uma delas com dinamite.
Sei que acusam a senhora de mal-humorada. É coisa de homem. Pegue mais pesado. Quando fui assumir a secretaria, o meu antecessor disse que eu deveria esperar, pois ele tinha um compromisso para o almoço. Respondi que estava muito bem, pois assim teríamos tempo para tirar as coisas dele da sala. Tenho horror a jornalistas e acho que vivi melhor assim. Eu adorava mentir para eles. (Aliás, meu nome não era Frances, mas Fannie.)
Faça a Consolidação das Leis Sociais ampliando os programas que já existem e crie outros. O Getúlio Vargas, que é amigo do meu chefe e detesta o seu, diz que o Bolsa Família é demagogia, mas gosta do ProUni. Eu gosto de todos.
Sei que a senhora é candidata a presidente da República e que está sendo acusada de buscar alianças com larápios. Faz muito bem. Quando o corrupto vem para o nosso lado, podemos confiar na sua lealdade. Eles nunca me decepcionaram.
Finalmente, um conselho: procure economizar. Eu conheço o seu patrimônio. É menor que o meu quando fui para o governo. Pois até vir para cá, em 1965, aos 85 anos, eu morava de favor na Universidade de Cornell.
Muito cordialmente,
Frances Perkins

ANTONIO CORRÊA DE LACERDA

Desvantagens do câmbio valorizado

O ESTADO DE SÃO PAULO - 28/10/09


Um dos grandes mitos a respeito da questão cambial no Brasil é que um câmbio valorizado incentiva os investimentos privados, por baratear a importação de máquinas e equipamentos para a modernização das empresas e novos projetos. Essa assertiva tem pelo menos dois equívocos que não resistem a uma análise mais abrangente, levando em conta a dinâmica das decisões de novos empreendimentos.

Primeiro porque o que motivaria investimentos produtivos - não apenas os destinados à produção voltada para a exportação, mas também à direcionada ao mercado doméstico - seria justamente uma taxa de câmbio mais desvalorizada. O câmbio valorizado diminui a competitividade dos produtos fabricados localmente relativamente aos concorrentes internacionais, seja no mercado internacional ou no doméstico. Portanto, o câmbio baixo inviabiliza a agregação local de valor e é um incentivo às importações de produtos prontos.

Mais grave ainda é que esse verdadeiro "subsídio" às importações não se restringe aos bens de capital e matérias-primas, mas é estendido a toda a gama de produtos, inclusive de bens intermediários e de consumo, desincentivando a produção no Brasil e, consequentemente, prejudicando a geração de empregos e salários, a cadeia local de fornecedores e prestadores de serviços, além da receita tributária.

O segundo equívoco é que, mesmo que a intenção alegada fosse verdadeira, ou seja, que seria um desejo incentivar a modernização das indústrias via importação de máquinas e equipamentos, o câmbio não é o instrumento adequado para isso. Isto é, seria eventualmente uma boa intenção, mas com o instrumento errado. Para evitar o subsídio generalizado a todas as importações e restringi-los às máquinas e equipamentos não produzidos no País, os instrumentos mais adequados para fomentar a modernização seriam a utilização da política comercial, basicamente a redução de alíquotas de importação ou mesmo sua isenção; em segundo, a política tributária, mediante a redução e/ou isenção de impostos (IPI, ICMS, PIS/Cofins, etc.); e ainda políticas de financiamento públicas, com taxas de juros vantajosas e prazos estendidos.

O mais interessante, ou melhor dizendo, contraditório, é que o Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento que podem contar com a questão do financiamento, por exemplo, de um banco público do porte e know how do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o que é certamente um privilégio. Ou ainda, que logramos no século passado viabilizar, em apenas cerca de 50 anos, sair de uma economia de monocultura de exportação para uma das dez maiores nações industrializadas do planeta, justamente mediante a utilização da política de substituição de importação e o modelo de empresa estatal, de empresa privada nacional e alianças com as empresas transnacionais.

É interessante notar que as opiniões e argumentos reiteradamente repetidos desprezam, por desconhecimento, ou interesses outros, a teoria econômica e ainda a vasta literatura disponível sobre a história econômica e a estratégia de desenvolvimento dos países, e até mesmo da nossa própria experiência pretérita.

O passado não pode ser repetido, até mesmo porque as condições da competitividade internacional são hoje muito diferentes do período pré-globalização a que acabo de me referir. Mas se a realidade é outra, ela também traz elementos novos, como a concorrência com a China e outros países asiáticos, que justamente utilizam os instrumentos aqui sugeridos com grande habilidade. Especialmente na questão cambial.

Portanto, se quisermos - e deveríamos querer - dar um novo salto para o desenvolvimento que contemple as novas indústrias e serviços e ainda aumentarmos o valor agregado local, vamos ter que enfrentar a questão cambial. Seria até mesmo ingênuo pretender enfrentar a cada vez mais acirrada competitividade internacional com uma condição básica de saída, a taxa de câmbio, fora do lugar.

A recente decisão do governo em taxar em 2% o IOF sobre movimentos de capitais externos pode ser um bom começo para uma mudança de atitude e uma discussão mais qualificada a respeito das alternativas para sair dessa verdadeira armadilha do câmbio valorizado.

*Antonio Corrêa de Lacerda, professor-doutor da PUC-SP, doutor em economia pela Unicamp, é economista-chefe da Siemens e co-autor, entre outros livros, de Economia Brasileira (Saraiva).

GOSTOSA


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MÍRIAM LEITÃO

Maquiagem verde

O GLOBO - 28/10/09


Hoje, quando faltam 39 dias para a reunião de Copenhague, o presidente Lula vai se reunir com os ministros para discutir que meta o Brasil adotará para conter os gases de efeito estufa.

Ontem, o Ministério do Meio Ambiente divulgou a estimativa de que as emissões cresceram 31% desde 1994. Não é oficial. O Ministério da Ciência e Tecnologia não divulga os dados certos.

Esconder informação. Que triste papel para um ministério que se chama da Ciência e Tecnologia! Mas é o que o MCT tem feito. O MMA (Ministério do Meio Ambiente) pediu ajuda a vários órgãos para chegar a números sobre os quais calcular uma meta de redução das emissões, ou melhor, redução do ritmo de crescimento das emissões.

Sem saber quanto emite hoje, como calcular as metas que serão mostradas em Copenhague? Por isso, o MMA divulgou as estimativas de quanto estaria hoje, para ter ao menos um ponto de partida para projetar os cortes.

O Brasil emitia 1,5 bilhão de tonelada de carbono/ano na última medição, entre 1990 e 1994. Na verdade, a medida é “carbono equivalente”, porque transforma os outros gases no equivalente em CO2.

Em 2007 (ano da estimativa do ministro Carlos Minc), estaria em 2,1 bilhões de toneladas.

Um crescimento de 4% ao ano. Neste ritmo, se chegará a 2,8 bilhões de toneladas em 2020.

Na última reunião do presidente com ministros sobre o tema, Minc sugeriu cortar 40% do nível a que se chegará se tudo for mantido constante. Ou seja, o corte não é calculado sobre o nível atual, mas sobre o nível que estaremos em 2020 (confira no gráfico abaixo o cenário se nada for feito). E mesmo assim, algumas premissas são consideradas muito otimistas, como a do crescimento pequeno das emissões da agropecuária.

Na hora de detalhar a proposta, Minc mostrou o quanto cada setor teria que reduzir do ritmo atual: agricultura; desmatamento; energia. Quando falou que era necessário reduzir o desmatamento no Cerrado, a ministra Dilma Rousseff discordou.

— Vamos com cuidado. O cerrado é a área natural de crescimento da agropecuária — disse a ministra.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, discordou de tudo.

— Para que oferecer um corte de 40%, se um corte de 20% já nos coloca no topo? — disse.

Oferecer um corte de 20% significa limitar o nosso esforço de reduzir o desmatamento da Amazônia, e não adotar qualquer medida nas áreas de energia; agropecuária; transporte.

Mesmo assim, o número do governo parece mais bonito do que é. Um corte de 80% no desmatamento parece lindo. Mas é em relação ao nível de 1996 a 2005, que é 19.500 km2 de floresta destruída por ano. Hoje, já estamos em 12 mil. Ou seja, já houve 40% de queda. A proposta é que em 2020 o Brasil desmate “só” 3.900 Km2 por ano. Isso significa desmatar anualmente “apenas” 3,2 vezes um território do tamanho da cidade do Rio de Janeiro.

Hoje haverá nova reunião sobre o assunto, mas o presidente só baterá o martelo na próxima terça-feira.

A posição brasileira feita assim, com números imprecisos e uma visão míope, será defendida pela chefe da delegação em Copenhague, a ministra Dilma, até a chegada de Lula.

A ideia do governo de nomeá-la chefe da delegação, apesar de sua notória falta de apreço pela questão ambiental e climática, tem também um cálculo eleitoral.

Pelo “efeito Marina”, a candidata do governo está correndo atrás de uma maquiagem verde.

Na apresentação que fez ontem, o ministro Minc contou aos repórteres que só a lei climática de São Paulo significará 3,5 pontos percentuais no total dos cortes de emissão dentro da proposta de 40% de redução.

O Brasil pode oferecer mais do que vai acabar apresentando. E isso faria bem ao país porque significaria integrar a pecuária e a lavoura de forma mais eficiente; diminuir o desmatamento do cerrado; reflorestar 500 mil hectares por ano; aumentar a eficiência energética; não implantar as absurdas térmicas a carvão e óleo combustível. E se tudo isso não for benefício suficiente, passar ao mundo a mensagem de que o país quer e vai lutar por um mundo mais sustentável.

É uma pena que o Brasil só vai a Copenhague unido e com bons propósitos quando é para defender a Olimpíada

PAINEL DA FOLHA

Me dê motivo

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/10/09


No substitutivo que deve ser votado amanhã na Comissão de Relações Exteriores do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) classifica a perspectiva de um veto à entrada da Venezuela no Mercosul como algo ‘preocupante’, que ‘representaria um ato de hostilidade do Estado brasileiro contra um país amigo’.

Para rebater o parecer contrário ao ingresso, de Tasso Jereissati (PSDB-CE), Jucá argumenta que a ‘relação com a Venezuela foi consideravelmente ampliada no governo FHC’. Cita discurso do então presidente em visita ao Parlamento da Venezuela, em 1995, no qual classifica a aproximação com o país de Hugo Chávez como ‘natural’. O esboço do parecer de 31 páginas foi distribuído aos senadores da comissão.

Emergência - O Planalto acionou seus operadores tão logo soube que requerimento apresentado por Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) poderia atrasar a votação, prevista para amanhã. É que Lula estará com Chávez na Venezuela.

O democrata 1 - José Sarney (PMDB-AP) assinou ato, publicado na sexta-feira passada, no qual proíbe que secretarias, diretores e conselhos do Senado prestem ‘informações administrativas a veículos de comunicação’.

O democrata 2 - O presidente do Senado determinou que, para ‘uniformizar o conteúdo das informações’ solicitadas por jornalistas, elas deverão necessariamente ser fornecidas pela Secretaria de Comunicação Social. Ali ele instalou, no auge da crise, seu auxiliar de todas as horas Fernando César Mesquita.

Overdose - Sem prejuízo da ansiedade de deputados do DEM com a ausência de definição do candidato presidencial do PSDB, já existe muita gente na bancada insatisfeita com a cruzada de Rodrigo Maia contra José Serra.

Boletim - Serra telefonou ontem para Itamar Franco (PPS-MG), que se recupera de uma cirurgia de próstata. O ex-presidente afirmou que se sente muito bem.

Fogosa - Operários que trabalham na construção do Arco Metropolitano do Rio apelidaram de ‘Norminha’, em homenagem à fogosa personagem de ‘Caminho das Índias’, a perereca que quase fez parar a obra, uma das mais vistosas do PAC. Órgãos ambientais colocavam restrições porque a região, o brejo da reserva da Floresta Nacional Mário Xavier, é habitat de uma espécie rara de perereca, em época de acasalamento.

Eu não - Recém-filiado ao PMDB, o presidente do BC, Henrique Meirelles, levou cinco assessores e o diretor de administração do banco, Anthero de Moraes, para conversa com a bancada do partido. Os acompanhantes fizeram o maior esforço para se desviar das bandeiras peemedebistas que enfeitavam a mesa.

Chumbo - Tão logo foram divulgados os nomes dos ‘demos’ da CPI do MST, petistas colocaram em circulação uma lista de financiadores das campanhas desses deputados. O principal alvo é Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que recebeu R$ 190 mil de fabricantes de armas e cartuchos.

Capilaridade - Incluído o ‘desenvolvimento regional’ (leia-se IDH) como critério para a partilha dos recursos do fundo do pré-sal, conforme o relatório de Antonio Palocci (PT-SP), a bancada do Nordeste passou a avisar que o governo terá o apoio em bloco dos governadores da região para aprovar o projeto.

Sem jetom - No relatório, Palocci também determina que o comitê financeiro que decidirá o destino do fundo do pré-sal não terá remuneração.

Tiroteio

O novo advogado-geral da União já atua como defensor da candidata Dilma. Se ele leu a cartilha de seu antecessor, em breve será ministro do Supremo.

Do senador ÁLVARO DIAS (PSDB-PR), sobre o fato de Luís Inácio Adams ter decretado, tão logo assumiu o cargo, que ‘não há conteúdo eleitoral’ nas viagens de Lula e Dilma Rousseff para visitar obras do PAC.

Contraponto

Trilha sonora

Ontem, quando Lula completou 64 anos, os ministros e técnicos que tinham reunião marcada com o presidente às 9h30 para tratar de projetos relativos à Copa de 2014 acharam por bem recepcioná-lo de maneira especial.

Tão logo ele entrou na sala de reuniões do Centro Cultural Banco do Brasil, sede do governo enquanto o Palácio do Planalto passa por reforma, o grupo se pôs a cantar:

- Parabéns a você...

Chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho esperou que o ‘Parabéns’ acabasse e então, numa bem-humorada performance solo, iniciou outra canção:

- E o cordão dos puxa-sacos, cada vez aumenta mais...