sábado, outubro 17, 2009

CU TURA

O Rico e o Pobre


Rico correndo é atleta
Pobre correndo é ladrão
Rico com medo é nervoso
Pobre com medo é cagão
O rico mete na cama, ai...
O pobre mete no chão

O rico usa brinco é playboy
Pobre usa brinco é viado
Pobre traído é chifrudo
Rico traído é enganado
Rico metendo é amor
Pobre metendo é tarado

Casa de rico é mansão
Casa de pobre é maloca
Doce de rico é bombom
Doce de pobre é paçoca
Pinto de rico é pênis
Pinto de pobre é piroca

Banheiro de rico é toalete
Banheiro de pobre é privada
O rico vai fazer xixi
O pobre vai dar uma mijada
O rico vai fazer coco
O pobre vai dar uma cagada

Zona de pobre é puteiro
Zona de rico é boate
Barco de pobre é canoa
Barco de rico é iate
Amante de rico é dama
Amante de pobre é biscate

O rico come lagosta
O pobre come chuchu
Rico viaja para a Europa
Pobre viaja pa Itu
Bunda de rico tem ânus
Bunda de pobre tem cu

O rico toca piano
O pobre toca corneta
O rico é que se masturba
O pobre bate é punheta
Xana de rico é vagina
Xana de pobre é buceta

Música de rico é concerto
Música de pobre é macumba
Nome de rico é Estela
Nome de pobre é Raimunda
Rico só leva vantagem, ai...
Pobre só leva na bunda

MASCOTE RIO 2016


EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Presidência imperial


O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/10/09


A crescente pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a diretoria da Vale torna cada vez mais claro seu projeto de poder. Não lhe basta chefiar o Executivo da maior democracia latino-americana.

Ele quer presidir também a maior empresa privada do Brasil - e tantas quantas ele considere necessárias para a consumação de seus objetivos.

À primeira vista, seu projeto parece conduzir a uma reestatização, com apoio de pelo menos alguns partidos aliados e também de sindicatos e movimentos ditos sociais, mas não é essa, neste momento, a questão mais importante.

Muito mais do que à ampliação das funções e dos poderes do Estado, as ações do presidente Lula visam ao fortalecimento do seu governo e à centralização de um conjunto importante de decisões econômicas. Centralização, nesse caso, tem sentido literal: concentração de poder no principal gabinete do Palácio do Planalto.

A tendência não é nova, mas ficou mais evidente a partir do agravamento da crise, quando o presidente Lula tentou intervir nas demissões da Embraer e da Vale.

As pressões sobre a mineradora continuaram, depois, quando a empresa anunciou a redução temporária de seus investimentos. O presidente da República simplesmente cobrou explicações do chefe da empresa, como se estivesse tratando com um executivo sujeito a seu comando.

O passo seguinte foi tentar obter o controle da empresa para demitir o presidente Roger Agnelli e determinar a pauta de investimentos. A tentativa só não deu certo, até agora, porque o Bradesco se recusou a vender as ações necessárias à formação de um novo bloco de controle.

O jogo continua. Se der certo para o presidente, ele terá um estímulo a mais para intervir noutras empresas consideradas estratégicas.

A interferência do presidente já é explícita na administração da Petrobrás. Bem antes de se anunciar a descoberta do pré-sal, Lula tentou forçar a estatal a comprar equipamentos pesados de fornecedores nacionais.

O plano só não foi adiante, há alguns anos, porque os velhos estaleiros não tiveram condições de atender a empresa.

Mas as pressões voltaram e a legislação proposta para o pré-sal transforma a Petrobrás em instrumento de política industrial. Manobra semelhante - e mais audaciosa - ocorreu quando o presidente criticou a Vale, recentemente, por encomendar navios a um estaleiro chinês.

No caso da Petrobrás, a subordinação ao Planalto será completada com a criação de uma estatal para comandar a exploração do pré-sal.

Esses fatos dão um novo sentido às investidas do governo, desde o início do primeiro mandato, contra a autonomia das agências de regulação, para sujeitá-las de forma irrestrita aos interesses políticos do Executivo.

As agências foram concebidas para funcionar como órgãos de Estado, não de governo, mas o objetivo de Lula, obviamente, é fortalecer o governo, não o Estado.

Se derem certo as tentativas de enfraquecer o Tribunal de Contas e de afrouxar a Lei de Responsabilidade Fiscal - objetivo permanente de muitos prefeitos e governadores -, o poder de arbítrio do Executivo Federal aumentará tremendamente e os avanços institucionais iniciados nos anos 90 irão para o ralo.

Resta a pergunta: para quem o presidente Lula prepara essa configuração de poder? A resposta parece clara: para si mesmo.

Se o seu sucessor for eleito por um partido de oposição, terá muita dificuldade para retomar a pauta de reformas inaugurada nos anos 90.

Terá de enfrentar a resistência de um funcionalismo engordado e moldado segundo os interesses políticos do atual governo. Terá de enfrentar, além disso, a pressão de grupos articulados para movimentos de rua e para demonstrações de força.

Para isso deverão servir o MST, sindicalistas cevados com dinheiro do contribuinte e a mais nova categoria de pelegos - dirigentes estudantis dispostos a declarar publicamente sua condição de estudantes profissionais sustentados pelo governo.

A moldura perfeita para este quadro é o conjunto, em torno do Brasil, formado por governos com evidente vocação autoritária, todos apoiados pela atual diplomacia brasileira, francamente intervencionista. Não se trata só dos governos de Venezuela, Equador e Bolívia.

A recém-aprovada legislação argentina de controle dos meios de comunicação combina com essa tendência, até agora defendida como perfeitamente democrática pelo presidente Lula e por seus assessores. É uma afinidade cada vez mais clara e mais preocupante.

CLÓVIS ROSSI

O Brasil no vestibular para a ONU

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/10/09


A visita do presidente do Irã será teste para pretensões do país de ter vaga permanente no Conselho de Segurança

O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula da Silva receberá seu colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad [no dia 23 de novembro] como membro [eleito] do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A frase sai quase distraídamente da boca de 1 dos 2 diplomatas norte-americanos que conversaram ontem com a Folha e o portal Terra, com a condição de que os nomes não fossem citados.
O que quer dizer a frase, que de distraída não tem nada?
Quer dizer que a diplomacia americana gostaria que Lula, ao receber o presidente iraniano, transmitisse o que é virtualmente consensual no Conselho de Segurança (entre os membros permanentes, que são apenas cinco, EUA, Rússia, China, França e Reino Unido): que o programa nuclear iraniano tem que ser apenas para fins pacíficos e o Irã tem que submeter-se às inspeções internacionais, para que haja segurança de que não está preparando a bomba atômica.
Antes da frase nada distraída, o diplomata havia observado que a entrada do Brasil para um turno de dois anos no Conselho de Segurança, o coração do sistema Nações Unidas, é uma "oportunidade de ouro" para que o país prove de fato sua nova condição de ator global.
Ou, em interpretação livre, será uma espécie de vestibular para que o Brasil demonstre ser gente grande o suficiente para fazer parte, permanentemente, do CS. Detalhe relevante: o diplomata acha que agora há reais possibilidades de uma reforma das Nações Unidas de maneira a redefinir o jogo de poder na instituição, hoje demasiadamente desequilibrado em favor dos cinco grandes com poder de veto.
Se o vestibular constasse só do quesito formulado pelos EUA, o Brasil passaria com louvor, a julgar pelo que o presidente Lula tem dito e repetido.
Lula cobrou de Ahmadinejad, no encontro do mês passado, à margem da Assembleia Geral da ONU, que faça como o Brasil, cujo programa nuclear até por imposição constitucional é para fins pacíficos. Cobrou também que se submeta às inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica.
Mas há, sempre no quesito Irã, temas que parte da comunidade internacional gostaria de ver tratados de uma maneira mais incisiva no encontro Lula/Ahmadinejad. A comunidade judaica no Brasil está se mobilizando para protestar contra a visita de um homem que nega repetidas vezes o Holocausto, o que incomoda não só os judeus.
Não parece aceitável que Lula cobre privadamente de Ahmadinejad, como diz ter feito em Nova York, mas diga publicamente que a negação do Holocausto é um problema do presidente iraniano.
Para fechar esse capítulo, há ainda as denúncias de torturas praticadas em manifestantes contra o que consideram fraude na reeleição de Ahmadinejad. Ontem, o jornal espanhol "El País" publicou chocante depoimento de Ibrahim Sharifi, que diz ter sido violado após inúmeras sessões de tortura.
Violação é um crime nefando em qualquer situação mas na cultura muçulmana é particularmente humilhante.
Tudo somado, a frase do diplomata norte-americano perde qualquer hipótese de ter sido deixada cair ao acaso

GOSTOSAS


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AUGUSTO NUNES

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No primeiro dia da Grande Viagem pelo São Francisco, o país ficou sabendo que o maior dos presidentes é também muito melhor que os dois imperadores. D. Pedro I foi ultrapassado em 6 de setembro, quando Lula, de uma vez só, anunciou o Descobrimento do Pré-Sal e proclamou a Segunda Independência. D. Pedro II capitulou nesta semana, na cidade mineira de Buritizeiros, durante o improviso do chefe da nação e chefe da caravana de pais-da-pátria convocada para conferir, olho no olho, a transposição das águas do rio.

“Essa obra foi pensada em 1847, ainda no tempo em que D. Pedro era o imperador brasileiro”, informou. Como a transposição começou em 2005, e como a República nasceu em 1889, é só fazer as contas para entender que o homem no palanque fez em menos de quatro anos o que um Pedro não fez em 42 e o outro nem tentou. Lula sabe que a obra foi pensada pelo segundo, e que o segundo vem sempre depois do primeiro. Evitou colar o I ou o II no Pedro mencionado no discurso por acreditar, desde o dia em que viu os dois retratos,que um moço com cara de quem está pensando na mucama só virou pai de um filho com cara de avô porque alguém resolveu embaralhar a História do Brasil com a troca dos algarismos romanos.

“Quase 200 anos depois”, continuou a fala do trono, já de volta aos inimigos da República, “essa obra não conseguiu andar para a frente, porque nós tivemos muitos governantes de duas caras, que prometiam fazer a obra em um Estado e não faziam”. Se fosse só a transposição do São Francisco, Lula nem perderia tempo com a multidão de bifrontes. Mas tem todo o direito de queixar-se da trabalheira o presidente que, como os antecessores nada fizeram, também teve de acabar com a fome, erradicar o analfabetismo e fabricar em 36 meses um sistema de saúde que está perto da perfeição. Sem falar do tsunami reduzido a marolinha. Fora o resto.

“A água é criada pela natureza, o rio é federal, é o rio da integração nacional”, concluiu o rei do improviso, que apareceu na escala seguinte já encarnando o déspota não esclarecido. Ao longo de 3 dias, levou Dilma Rousseff para não pescar nenhum peixe, autorizou o povo do Nordeste a comer cobras, calangos e passarinhos, ordenou a José Serra que fique esperto e se limite a governar São Paulo, dormiu em aposentos de barão sertanejo, comparou a ONU a uma fruta caindo do galho, foi o primeiro a acordar e o último a dormir, cantou muito, conversou muito, comeu muito e bebeu socialmente. Tremenda viagem. Melhor que isso, só uma eleição presidencial com dois candidatos: “Só nós contra eles, pão, pão, queijo, queijo”, vislumbrou o olhar de comício.

Quem poderá resistir a uma candidata escolhida por quem já gastou R$61,84 milhões na transposição que vai acabar com a sede e a seca no sertão? É verdade que a quantia equivale a 3,88% do total de R$ 1,68 bilhão, que o dinheiro chega sempre com atraso, que a coisa vai demorar. Mas só os famosos 6% de descontentes conseguem lembrar-se disso na semana em que o maior dos presidentes ficou pronto para virar Pedro III.

PARA....HIHIHIHI

RATOS & RATOS

Certo dia, um homem entrou numa loja de antiguidades e se deparou com uma belíssima estátua de um rato, em tamanho natural. Bestificado com a beleza da obra de arte, ele correu ao balcão e perguntou o preço ao vendedor:
- Quanto custa?
- A peça custa R$ 50 e a história do rato custa R$ 1000.
- O quê? Você ficou maluco? Vou levar só a obra de arte.

Feliz e contente, o homem saiu da loja com sua estátua debaixo do braço. A medida que ia andando, percebeu mortificado que inúmeros ratos saiam das lixeiras e bocas de lobo na rua e começaram a segui-lo.
Correndo desesperado, o homem foi até o cais do porto e atirou a peça com toda a sua força para o meio do oceano. Incrédulo, viu toda aquela horda de ratazanas se jogarem atrás e morrerem afogadas.
Ainda sem forças, o homem voltou para o antiquário e o vendedor disse:

- Veio comprar a história, não foi?
- Não, eu quero saber se você tem uma estátua do LULA…

ENVIADA POR CRISTIANE

GOSTOSA


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GILLES LAPOUGE

Após Nobel da Paz, Obama tropeça em conflito afegão

O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/10/09


Barack Obama avança lentamente com seu projeto de reforma do sistema de saúde. Em compensação, no caso do Afeganistão, outro compromisso de campanha, ele patina. E não sabe o que fazer. Em oito meses, em vez de melhorar, a situação só piorou. Uma triste ironia : o Prêmio Nobel da Paz tropeça exatamente numa guerra, a afegã.
Prova do fracasso é o fato de que Obama não consegue convencer seus aliados a enviar mais tropas para o Afeganistão. A França, sempre tão pronta a ajudar os EUA na época de Bush, hoje se faz de surda. Por mais que Obama insista com seus amigos, eles estão com a cabeça em outro lugar. Somente a Grã-Bretanha, que se apega à relação "especial" com Washington, respondeu ao pedido. Gordon Brown prometeu enviar soldados britânicos para apoiar os 62 mil soldados americanos que estão na frente de combate. Quantos? Quinhentos.
É uma miséria e, mesmo assim, o premiê britânico hesitou muito. Em setembro, Brown tinha dito que iniciaria a retirada das tropas britânicas (9 mil homens). Contudo, Obama insistiu e ele aceitou enviar esses 500 soldados.
Obama vacila. Ele não pode pôr fim à guerra contra o Taleban porque fez dessa guerra peça-chave de suas promessas. Sabe que é ali - ou melhor, no conjunto perigoso formado por Paquistão e Afeganistão - que seu futuro está em jogo.
Mas o que ele pode fazer? Deve aumentar mais seu contingente? Como utilizar essas forças? Deve suspender os ataques de aviões não tripulados, que massacram às cegas civis inocentes no Afeganistão e, sobretudo, no Paquistão? Para um Premio Nobel, tudo isso é muito desagradável.
Nos escritórios da Casa Branca afluem pareceres de peritos, relatórios, conselhos quase sempre críticos. Em recente edição do semanário The Nation, William R. Polk, que integra o governo americano desde a época de Lyndon Johnson, suplicou a Obama que veja as coisas como são de fato. "Nossas chances de derrotar o Taleban são ínfimas. Os afegãos nos consideram da mesma maneira que consideravam os soviéticos, como estrangeiros, invasores e antimuçulmanos. Alguns segmentos da população têm saudade do tempo em que o Taleban assegurava a ordem no país. Quanto mais intensificarmos a luta, mais os atos de terrorismo se multiplicarão."
Polk se lembra da Guerra do Vietnã. Ele teme que o fracasso no Afeganistão provoque efeitos devastadores em toda a sociedade americana e lance por terra as esperanças que os EUA e o mundo depositaram em Obama.
"A guerra no Afeganistão terá um alto custo para a economia americana. Essa campanha militar poderá abortar os projetos de Obama no âmbito da política interna da mesma maneira que o Vietnã destruiu o plano da Grande Sociedade de Johnson."
Obama está numa encruzilhada. Põe fim à expedição afegã, cumpre sua promessa e demolindo toda a estrutura de sua diplomacia? Ou, ao contrário, amplia o número de soldados? Ambas as soluções são detestáveis. Podemos compreender que ele vacile, mas esse é sempre o papel de um "senhor da guerra". Ele quer ser um "senhor da paz". Será que, por isso, ele tem mais direito de vacilar?

*Gilles Lapouge é correspondente em Paris

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

A volúpia do fracasso

"Maradona era o deus dos estádios – mas era assaltado
por um sentimento de incompletude. Que lhe faltava?
Ora, o que lhe faltava… O sal da terra: o fracasso"

Foi uma pena a Argentina ter ganhado do Uruguai. Não pelo futebol, que o leitor não entenda mal. Pelo futebol em si, ainda bem que ela ganhou e assegurou o direito de participar da Copa do Mundo. Copas do Mundo não podem prescindir da Argentina; a ausência de um de seus maiores atores as condena a evento de segunda ordem. Foi uma pena porque dessa forma a Argentina se viu privada de uma de suas mais caras aspirações – o fracasso. Nada mais argentino do que o fracasso. O sofrimento é o alimento de que se faz a nacionalidade. "Os argentinos sofrem de modo tão insuportável que cada um mereceria uma indenização ao nascer", dizia o maior ator cômico do país, Tato Bores. O argentino genuíno, o castiço, o de mais pura cepa, é vidrado no fracasso. Impulsiona-o uma visão de mundo expressa de modo brutal no famoso primeiro verso do tango Cambalacho: "Que el mundo fué y será una porquería ya lo sé".

Está aí o caso deste assombroso Diego Armando Maradona que não nos deixa mentir. Ele era o deus dos estádios – mas era assaltado por um sentimento de incompletude. Que lhe faltava? Ora, o que lhe faltava… O sal da terra: o fracasso. Ele se entrega às drogas. O corpo se deforma num balofo de levar ao júbilo o selecionador de elenco de Federico Fellini. A vida vira uma corrida entre internações e recidivas. Na verdade ele não é apenas o deus dos estádios. É Deus mesmo, muito mais que Pelé, que é apenas rei. Na Igreja Maradoniana, uma entidade fundada em Rosário, é identificado pelo tetragrama D10s, combinando Seu número da camisa com a palavradios. No entanto, é um deus que, enfastiado com os acenos de imortalidade, flerta com a morte.

A certa altura ele se recupera. Deixa as drogas, emagrece, ressurge para a vida. E o que resolve fazer? Pasmem: ser técnico da seleção! Na Argentina como no Brasil, não há posto mais adequado a quem aspira ao flagelo. Ainda se ele fosse um técnico profissional, que precisasse do emprego, ou a quem valeria o risco para coroar a carreira… Mas não. Ele é D10s. A Pelé, que não passa de rei, jamais ocorreria tal desvario. Mas Maradona sentia de novo um vazio na alma. Faltava-lhe o conforto do fracasso. Quase conseguiu. Dois gols milagrosos, no finalzinho das duas últimas partidas, salvaram a Argentina da desclassificação.

No final da segunda delas, contra o Uruguai, na última quarta-feira, o Pibe de Oro deu-se a uma comemoração orgiástica. Era um possesso, a pular e gritar. Ora, direis, como pode flertar com o fracasso alguém que se lança desse jeito à comemoração de um sucesso? Pois no ato seguinte, ao comparecer à sala de imprensa, eis que, para vingar-se dos que puseram seu trabalho em dúvida, recepciona os jornalistas com uma torrente de palavrões. O prazer da vitória dissolvia-se na raiva. Longe dele querer apresentar-se como olimpicamente vitorioso. Xingando como nem nos lupanares do cais, ao vivo na TV, garantia que no futuro não se esquecessem de desprezá-lo. A nostalgia do fracasso já avançava sobre sua alma inquieta.

* * *

Nobreza, clero e terceiro estado eram as três classes sociais no Antigo Regime francês. Em três classes também se divide a população da embaixada brasileira em Honduras, segundo a descrição do repórter Lourival Sant’Anna, do jornal O Estado de S. Paulo. Integram o time da nobreza o presidente deposto Manuel Zelaya, sua mulher e os assessores. Clero não há lá dentro, mas digamos que podem preencher essa lacuna aqueles que, numa versão benigna, são sacerdotes da notícia – os jornalistas. O terceiro estado é representado por um povo de seguidores de Zelaya, entre os quais operários, agricultores, professores e pequenos empresários.

O casal Zelaya e os assessores, segundo constatou o repórter, ocupam quatro salas, servem-se de dois banheiros com chuveiro – mais espaço que o que sobra para todos os outros – e dormem em colchões de ar e sacos de dormir. Os demais se viram com três banheiros, só um deles com chuveiro, e dormem em sofás ou no chão. A nobreza come a comida que a empregada dos Zelaya lhe manda de fora. O clero, a comida de restaurante que colegas lhe compram. O terceiro estado fica com sua versão do sopão dos pobres – marmitas que lhe são enviadas por um Comitê de Direitos Humanos. O discurso de Zelaya é em favor da igualdade, mas ele não nega a raça. Latino-americanos são vidrados numa desigualdade.

CANGACEIROS

ARTHUR VIRGÍLIO

Para a classe média, a conta


A classe média continua na mira do governo, que até já cogitou taxar as cadernetas de poupança. Neste mesmo espaço, condenei a malfadada idéia, que lembrava os tempos de 1990, quando a então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, na gestão Collor, bloqueou as poupanças e os depósitos bancários dos brasileiros. Os números coincidem: lá atrás, bloqueio de tudo que passasse de Cr$ 50 mil; agora, taxação sobre o excedente a R$ 50 mil. Os governantes atuais, porém, parecem ter caído em si, talvez se advertindo da inconveniência de aplicar medida tão impopular justamente em ano pré-eleitoral. Ao menos por ora, a ameaça está engavetada.

Não dá para taxar a poupança? Então, retenham-se as restituições do Imposto de Renda da Pessoa Física, o que significa mais uma investida sobre as classes médias, onde está o maior grupo de pessoas com direito a restituição, porque pagaram de imposto mais do que era devido. Involuntariamente, diga-se, porque na maior parte dos casos – o dos trabalhadores e servidores públicos – o recolhimento é compulsório, efetuado na folha de pagamento. Quando fazem a declaração anual, em que se permite descontar as despesas com educação e saúde, muitos contribuintes verificam então que pagaram a mais e têm direito a que o excedente lhes seja devolvido. Este ano, segundo informações da imprensa, cresceu o número de declarações retidas pela chamada “malha fina” da Receita, fato que por si implica demora na restituição. Depois se revelou haver atraso deliberado. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, o admitiu, afirmando que o ritmo das devoluções “é moldado pela disponibilidade da receita”. E esta sofreu redução. Ou seja, o governo resolveu lançar mão do dinheiro de contribuintes para fazer caixa, o que foi classificado pelo jornal O Estado de S.Paulo de “estelionato fiscal”.

A Comissão de Assuntos Econômicos aprovou proposta minha para que o ministro da Fazenda seja convidado a prestar esclarecimentos ao Senado. Diante da reação da imprensa, do Congresso e da sociedade, o governo voltou atrás. O ministro declarou ter determinado que as restituições sejam feitas até dezembro. Mas isso não invalida o convite. Ele precisa explicar, no Senado, por que o governo, em vez de tentar sacrificar ainda mais a já penalizada classe média, não corta gastos de custeio como o bom senso aconselha. Qual a primeira providência que uma família organizada toma quando, por algum motivo, sofre redução de rendimentos? Corta as despesas consideradas supérfluas. Ajusta os gastos ao orçamento. É o que o governo deveria fazer. Ele tem muita “despesa supérflua” a cortar. Bastaria reduzir o escandaloso número de Ministérios (37); cortar pela metade o número de funcionários comissionados – em grande parte nomeados por motivos políticos e para aparelhar a máquina do Estado; parar de inflar a máquina pública e reduzir ao máximo as despesas com viagens e diárias.

Há, pois, muita gordura na máquina administrativa. É preciso poupar no custeio para aumentar a taxa de investimento público. Lamento que o governo prefira continuar com a gastança “supérflua”, sempre mandando a conta para as classes médias.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

O planeta que se dane

"O aquecimento global nem existe. O pico do calor foi em 1998.
De lá para cá, a Terra está esfriando. O que importa, para quem
pedala socraticamente, é o tempo que está fazendo agora"

O ciclismo tem algo em comum com o stalinismo. Quem melhor demonstrou isso foi o poeta chileno Pablo Neruda. Ele fez uma "Ode às bicicletas". Além de fazer uma "Ode às bicicletas", ele fez também uma "Ode a Stalin". Na primeira poesia, Pablo Neruda comparou as bicicletas a um "esqueleto frio". Na segunda poesia, ele comparou Stalin a "um gigante". Cada pedalada poética de Pablo Neruda corresponde a um esqueleto frio no Gulag do gigante.

Eu só ando de bicicleta. Se o ciclismo tem algo em comum com o stalinismo, eu devo ser considerado um Alexander Soljenitsin das duas rodas - um reacionário do pedal. O músico David Byrne, dos Talking Heads, também só anda de bicicleta. Mas, ao contrário de mim, ele é um militante do ciclismo - um doutrinador do ciclismo. Ele recomenda que as ruas sejam ocupadas unicamente por bicicletas e que os carros só possam trafegar em túneis. Ele desenhou bicicletários - em forma de guitarra elétrica e de cachorro - e projetou ciclovias para a prefeitura de Nova York.

David Byrne acabou de publicar nos Estados Unidos Diários da Bicicleta, nos quais relata suas pedaladas em cidades como Londres, Buenos Aires, Detroit, Berlim, Manila e Istambul. Do selim de sua bicicleta, ele pontifica: "Eu sinto que o mundo pode ser mais onírico, metafórico e poético do que atualmente acreditamos". Quem acredita que o mundo pode ser mais onírico, metafórico e poético costuma acreditar igualmente que o melhor lugar para enfiar os inimigos é um Gulag - como Pablo Neruda. Ou um túnel - como David Byrne.

Na China, todos possuíam uma bicicleta rigorosamente preta da marca "Pombo Voador". Elas se transformaram num símbolo do totalitarismo igualitário maoista. Agora as bicicletas mudaram. Elas passaram a simbolizar o ideal salvacionista do ambientalismo. Dito de outra maneira: a promessa de um mundo mais onírico, metafórico e poético. Como um reacionário do pedal, minha bicicleta representa apenas isso - uma bicicleta. Ela é um meio de transporte utilitário. Tem uma cadeirinha na frente e uma atrás. Na frente eu conduzo um filho, atrás eu conduzo o outro filho. Se Karl Popper classificasse bicicletas como classifica a filosofia política, minha bicicleta representaria a sociedade aberta, individualista, indo do ponto A ao ponto B. Eu pedalo socraticamente. David Byrne pedala platonicamente.

Nos últimos tempos, o aquecimento global foi o Gulag que aterrorizou os inimigos do ambientalismo. Ou andávamos de bicicleta, ou o planeta acabaria. O planeta que se dane, foi o que eu sempre pensei. Eu estava certo. O aquecimento global nem existe. O pico do calor foi em 1998. De lá para cá, a Terra está esfriando. E deve permanecer assim por mais duas décadas. O que importa, para quem pedala socraticamente, é o tempo que está fazendo agora. Sol? Dá para pegar os meninos na escola de bicicleta. Chuva? Eles que se danem.

COMENDO NA RUA

BRASÍLIA - DF

Polêmica entre surdos

CORREIO BRAZILIENSE - 17/10/09



Qual é a diferença programática entre os governistas Dilma Rousseff (PT) e Ciro Gomes (PSB) e os governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves(MG)? Para o establishment nacional, por enquanto, é mais ou menos como trocar o assim pelo assado, pois o governo Lula realizou as tarefas que havia herdado do governo anterior. Deu uma guinada neokeynesiana depois da crise econômica, como os demais governos do mundo. A atual retórica nacional-desenvolvimentista do PT é semelhante àquela da reeleição de Lula, em 2006, quando carimbou na oposição a pecha de “privatizadora e entreguista”.


A oposição apoiou a política econômica “social-liberal” do governo Lula durante todo o primeiro mandato. Constrangida, colaborou com a atual política anticíclica para evitar “o quanto pior, melhor”. Mas deixou a sensação de que o governo lhe tomou as bandeiras e não foi capaz de erguer novos estandartes, muito menos resgatar os antigos. Do ponto de vista do eleitor, qual será a diferença? O presidente Lula desafia os adversários a comparar o seu governo com o anterior, mas os tucanos fogem desse confronto. Serra afirma que não é hora de fazer campanha eleitoral e que nem sequer decidiu ser candidato. Aécio tira por menos e só que saber de discutir o “pós-Lula”.



No papo// Será uma formalidade a reunião da ministra Dilma Rousseff com a bancada do PP na Câmara, liderada pelo deputado Mário Negromonte, da Bahia. O apoio da legenda à ministra já tem o aval do ex-prefeito paulista Paulo Maluf, com quem o PT tem uma aliança informal contra os tucanos de São Paulo.


Crítica

Quem faz a crítica ao projeto nacional-desenvolvimentista do governo Lula é a senadora Marina Silva (foto), do Acre, candidata do PV, que defende uma alternativa de desenvolvimento socioambiental. É a antítese do modelo de desenvolvimento proposto pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que resgata o antigo Plano Nacional de Desenvolvimento do governo Geisel. Além da simpatia do meio empresarial comprometido com a questão ambiental, no Brasil e no Exterior, Marina seduz os setores do movimento social organizado ligados aos ambientalistas e às comunidades eclesiais de base.


Sangue frio

Conversa de pé de lareira na casa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, quinta-feira à noite. Participaram os caciques aliados Jorge Bornhausen (DEM), Orestes Quércia (PMDB) e Roberto Freire (PPS), além dos tucanos Sérgio Guerra, presidente do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, fiel escudeiro do governador José Serra, e o vice-governador Alberto Goldman. Todos se convenceram de que Serra deve ficar na moita e não aceitar o confronto com Lula. Seria um desastre anunciado.


Estrutura

Eventuais concorrentes do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PMDB), por uma cadeira no Senado por Goiás anteveem uma disputa milionária. Eleito deputado federal pelo PSDB, em 2002, o neopeemedebista tirou do próprio bolso em sua campanha R$ 787 mil


Comitiva

O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (foto), apesar de velho amigo de Dilma Rousseff, não pretende arrefecer a marcação sobre seus passos como candidata governista. Cobra da Casa Civil informações sobre os gastos com a caravana de Lula no São Francisco: “Ao todo, nove cozinheiros e 20 garçons obsequiaram uma farta mesa aos convidados, em três restaurantes distintos — um com capacidade para atender a 72 pessoas e outros dois capazes de abrigar 64 pessoas cada um”, destaca o novo requerimento do deputado. Aníbal questiona ainda como ocorreu a construção de um heliponto e uma sala de imprensa com 14 laptops no acampamento que ofereceu 50 vagas para pernoites dos profissionais de imprensa que cobriam a visita.

Segurança/ O governo brasileiro ampliou a cooperação com Israel na área de segurança, treinando agentes da Polícia Federal, promotores, psicólogos e assistentes sociais naquele país nas áreas de segurança urbana, integração social de jovens marginais e combate às drogas. Tem sentido, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia têm seus dias de territórios ocupados da Faixa de Gaza.

Força/ Além de coordenar as forças militares de paz da ONU no Haiti, o Brasil assumirá o treinamento da Polícia Nacional do país caribenho. A Polícia Federal enviará uma comitiva a Port-au-Prince para dar aulas de técnicas de abordagem de cidadãos. Segundo o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, será o primeiro curso internacional desse porte a reunir policiais de todas as carreiras, de delegados a papiloscopistas.

Boletos/ Com os governistas PDT e PSB à frente, deputados da Comissão de Trabalho aprovaram proposta que cria o Regime Especial de Monitoramento Financeiro de Brasileiros no Exterior. O sistema obriga autoridades do governo federal — de ministros a servidores — a prestarem contas de despesas em viagens internacionais. Os paulistas Márcio França (PSB) e Paulo Pereira da Silva (PDT) capitanearam a operação que derrotou parecer do petista Eudes Xavier (CE).

Rancho/ Por estranho que pareça, as Forças Armadas não devem apoiar a aprovação da PEC que proíbe o corte de investimentos em reaparelhamento pelos próximos 10 anos. Os comandos desconfiam que, uma vez tendo o orçamento amarrado nessa seara, o governo aplicará a tesourada em gastos de custeio, como alimentação, uniformes e gasolina.

MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA
Maílson da Nóbrega

Mitos e verdades sobre o FMI

"O G-20 não substituiu o FMI nem diminuiu
sua importância. O Fundo foi a organização
mais citada no comunicado: 31 vezes"

As cenas se repetiram em mais uma reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada em Istambul, na Turquia. Durante o evento, encerrado no último dia 7, hordas de jovens bem vestidos e dizendo-se antiglobalização bloquearam ruas, promoveram arruaças e depredaram caixas automáticos e lojas que nada tinham a ver. Estudantes empunharam cartazes com os dizeres "FMI, fora de nossa cidade".

A dificuldade de entender para que serve o FMI não é privilégio dessas turbas, que costumam se guiar por uma mistura de ignorância, preconceitos anticapitalistas e vetustos ideais marxistas. Nos seus tempos de oposição, o presidente Lula também entoava o "Fora FMI" para desancar os acordos que o Brasil celebrava para enfrentar as crises vindas do exterior ou produzidas por nossos próprios desequilíbrios.

Talvez movido pelas reminiscências daqueles tempos, Lula comemorou de forma canhestra o resultado da reunião do G-20 em 25 de setembro de 2009. Em vez de celebrar duas decisões históricas – a transformação do G-20 em principal fórum de cooperação econômica mundial e a transferência de 5% de cotas do FMI dos países ricos para os emergentes –, o presidente preferiu dissertar sobre o vazio.

Disse que o G-20 não terá ingerência nos países: "A política de constrangimento era antes, quando o FMI ficava mandando os países fazer ajuste fiscal e acabava atrofiando a economia". Para o ministro da Fazenda, o FMI ficou subordinado ao G-20. Quanta confusão!

O G-20 existe para discutir a cooperação e a coordenação de políticas, em especial no campo financeiro. Seus comunicados orientam decisões de instituições multilaterais. Representam apoio político para mudanças institucionais nos respectivos países. É um colegiado que não tem como se ingerir em assuntos internos de seus membros.

O FMI, criado em 1944, tem por objetivo "fomentar a cooperação global, assegurar a estabilidade financeira, facilitar o comércio internacional, promover o emprego e o crescimento sustentáveis e reduzir a pobreza". É um mandato para nenhum "desenvolvimentista" botar defeito.

O FMI exerce suas funções de três formas: (1) monitoramento da situação econômica e financeira, visando a prevenir crises; (2) auxílio a países em crise, mediante o fornecimento temporário de recursos e o apoio a medidas para corrigir seus desequilíbrios; (3) assistência técnica e treinamento em áreas de sua especialidade.

Regra geral, o FMI ajuda países a enfrentar dificuldades de acesso a financiamento externo. Por isso, a entrega dos recursos depende de medidas (as chamadas condicionalidades) para atacar as fontes dessas dificuldades, o que reduz por um tempo a atividade econômica e o emprego. Daí a ideia de que o Fundo prejudica o país.

Ocorre que não estabelecer tais condições seria contrário aos interesses de longo prazo do próprio país. Equivaleria a tratar uma doença grave sem prescrever remédios às vezes amargos e não mudar condutas nocivas à saúde do paciente. Feito de seres humanos, o FMI erra, mas é no mínimo exagero rotular os seus acordos como interferência em um país, mesmo porque se pode recusá-los. Foi o que fez Juscelino Kubitschek, que preferiu evitar medidas impopulares contra a inflação ascendente.

As condicionalidades se aplicam a quaisquer países em dificuldades que precisem do apoio financeiro do FMI para superá-las. Ricos, emergentes ou pobres. Os primeiros, ainda nos anos 40, foram a França, a Holanda e o Reino Unido. Esse último, resgatado de uma crise cambial na segunda investidura de Harold Wilson como primeiro-ministro (1974-1976), teve de ajustar-se.

Na atual crise financeira mundial, o FMI criou uma linha flexível para países de comprovada gestão macroeconômica responsável. México e Colômbia a utilizaram. Se quisesse, o Brasil poderia ter feito o mesmo. Os três conduzem políticas semelhantes às prescritas pelo FMI em crises passadas.

Ao contrário do que se disse por aqui, o G-20 não substituiu o FMI nem diminuiu sua importância. O Fundo foi a organização mais citada no comunicado: 31 vezes. Acontece que muitos preferem os mitos. Dá para entender. Fica bem falar mal do FMI ou tripudiar sobre seus supostos infortúnios.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


FERNANDO RODRIGUES

Hipocrisia contra hipocrisia

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/10/09

BRASÍLIA - Lula e Dilma estão em campanha eleitoral aberta. Numa caravana de três dias pelo interior do país, esbaldaram-se em comícios e posando para fotos. Um avião foi colocado à disposição de jornalistas. É escrachado o caráter eleitoreiro da "vistoria" da transposição do rio São Francisco.
Em Brasília, a oposição anunciou a intenção de entrar na Justiça. Demandará uma punição contra a "campanha eleitoral antecipada". Faz parte do jogo. Está na lei.
Essa devoção postiça à ética e aos bons costumes da oposição já foi um dia do PT. O jogo se inverte conforme há alternância no poder.
Quando FHC fez a campanha em comemoração aos oito anos do Plano Real, em 2002, o PT usou o mesmo argumento hoje apropriado pelo PSDB e pelo DEM. Esse intercâmbio de posições não é apenas um campeonato mundial de hipocrisia. Trata-se de um sintoma explícito da obsolescência do modelo político adotado no Brasil.
Para resumir, a lei obriga os políticos a mentirem nos três anos e meio antes da eleição. Precisam negar interesse em disputar cargos públicos. Quando faltam seis meses para o pleito, à meia-noite, opera-se um milagre patético. Milhares de políticos passam a assumir publicamente suas candidaturas.
Essa regra só serve para favorecer os espetáculos eleitorais disfarçados, como os protagonizados por Lula e Dilma pescando no barranco do rio São Francisco. É legítimo um presidente, governador ou prefeito desejar se reeleger ou influir na eleição de seu sucessor. Nada deveria impedir o interessado de fazer campanha fora do expediente de trabalho. Ao se assumir candidato à noite, haveria algum constrangimento extra para certos fingimentos adotados durante o dia.
Mas essa norma transparente não interessa a quase ninguém. É mais conveniente na política o jogo da hipocrisia. Quem sofre críticas hoje poderá atacar amanhã.