sexta-feira, outubro 16, 2009

LUIZ PAULO HORTA

Um retrato na parede

O Globo - 16/10/2009


A popularidade do presidente Lula chegou ao zênite - constata o "Le Monde". Os aplausos vêm de todo lado. E é mesmo uma performance extraordinária, de um animal político como não víamos desde Getúlio Vargas.

Na Roma antiga, quando um general conseguia uma vitória importante, tinha direito a um "triunfo": entrar na cidade debaixo de fanfarras, mantos vermelhos esvoaçantes, aplausos da multidão. Mas no carro triunfal, atrás do general, vinha um escravo encarregado de dizer-lhe ao ouvido: "Cuidado, você continua a ser um homem como os outros, sujeito ao declínio e à morte."

Se eu fosse o escravo grego do presidente, o que eu lhe diria ao ouvido? Alguma coisa como: "Lula, está ótimo, um sucesso, realmente. Mas não vá achar que você fez tudo sozinho. Isso não faz bem a ninguém."

Estou pensando no ex-presidente Fernando Henrique. Dizem que ele é vaidoso. Imagino o que ele estará pensando do Lula que embolsa todos os troféus, enquanto FHC passou à condição de retrato na parede.

É injusto. Porque o "Brasil maior" que Lula comanda como artista consumado é o resultado de políticas que vêm de quase 20 anos - primeiro, a abertura da economia, que começou com Collor; depois, a verdadeira revolução que foi o Plano Real. Ali, sim, passou-se a desmontar a máquina perversa que, via inflação, sugava o sangue e o dinheiro do pobre. O Nosso Guia, em 1989, não teria feito a abertura da economia; e, em 1994, foi frontalmente contrário ao Real. O que mostra que, como diria o escravo grego, ele é um homem como os outros.

Entre Fernando Henrique e Lula vigora (guardadas as diferenças de época e de circunstâncias) a relação que existiu, no começo da República, entre Campos Sales e Rodrigues Alves. Quando o paulista Campos Sales tornou-se presidente, em 1898, o Estado brasileiro estava falido. Pagava-se ainda o preço dos descalabros financeiros que vinham da gestão Ruy Barbosa no Ministério da Fazenda - uma política inflacionária que acabou numa falência geral, depois de muita especulação na Bolsa. Campos Sales embarcou para a Europa e foi discutir diretamente com os nossos credores. Voltou com um plano duríssimo, aplicado com mão de ferro por seu ministro Joaquim Murtinho. Discute-se até hoje se aquilo foi bom ou não. Mas em 1902 ele passou a Rodrigues Alves um Estado financeiramente saneado. E assim começou a fase de grandes obras públicas que tanto beneficiaram o Rio de Janeiro.

Lula teve a mesma sorte de Rodrigues Alves. Depois de oito anos de Plano Real, herdou um país que estava pronto para crescer. A inflação fora dominada; tinham sido liquidados os bancos estaduais que eram outras tantas Casas da Moeda para felizes governadores; a Lei de Responsabilidade Fiscal proibia os governantes de deixarem heranças calamitosas para seus sucessores. Mais que isso: o país gozava de absoluta normalidade institucional. O presidente não precisava governar de olho nas ruas, como acontece na Argentina. E assim Lula pôde tomar medidas aparentemente contraditórias: manteve a política econômica do Governo anterior, mas aumentou os gastos públicos, deu aumento ao funcionalismo, aos aposentados, aumentou o salário mínimo, transformou o Bolsa Escola de dona Ruth Cardoso num imponente Bolsa Família.

Algumas dessas medidas, como se observou, tiveram efeito "anticíclico" na assustadora crise de 2008/2009. O mercado interno brasileiro, aquecido pelos referidos aumentos, atravessou a tormenta sem consequências dramáticas. Resta demonstrar que essas são políticas sustentáveis, e que não vão exigir, logo adiante, novos aumentos de impostos.

Enquanto isso, pouco ou nada se fez em tudo o que significa melhoria estrutural. Não veio a reforma tributária que corrigisse um sistema de cobrança cruel e inepto. A reforma da Previdência começou e depois voltou para trás. Não se investiu em portos, em estradas. Não se mexeu na catástrofe que é o nosso sistema educacional. E, o mais grave, não se conhece uma palavra do presidente contra os desvios éticos que assombraram os últimos anos, encabeçados pelo "mensalão".

Daqui a alguns anos, falaremos numa "era Lula" assim como se fala numa era Getúlio. E o balanço deve ser favorável, porque a vasta maioria da população se sentiu compreendida e amparada. Milhões deixaram a faixa da pobreza. Mas o conjunto da obra tem o ar de uma imensa improvisação. É o Brasil.


LUIZ PAULO HORTA é jornalista.

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DIRETO DA FONTE

COPA

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/10/09


Jerome Valcke, secretário-geral da FIFA, desembarca em São Paulo dia 14, com Ricardo Teixeira, Orlando Silva e Luciano Coutinho. Juntos, têm reunião na Assembleia com Serra, Kassab e Barros Munhoz, sobre a Copa de 2014.
O assunto: definir novas "normas jurídicas" que garantam ao pessoal de fora o direito de trazer equipamentos eletrônicos e coisas do gênero para trabalhar, durante aquele mês, sem pagar tributos por isso. Coisa rotineira, negociada sempre pela Fifa com países-sedes.
Mas que foi inicialmente entendido, por muita gente, como uma inaceitável isenção de impostos.

O leão e a Copa -

Jerome Valcke, secretário-geral da FIFA, desembarca em São Paulo dia 14, com Ricardo Teixeira, Orlando Silva e Luciano Coutinho. Juntos, têm reunião na Assembleia com Serra, Kassab e Barros Munhoz, sobre a Copa de 2014.
O assunto: definir novas "normas jurídicas" que garantam ao pessoal de fora o direito de trazer equipamentos eletrônicos e coisas do gênero para trabalhar, durante aquele mês, sem pagar tributos por isso. Coisa rotineira, negociada sempre pela Fifa com países-sedes.
Mas que foi inicialmente entendido, por muita gente, como uma inaceitável isenção de impostos.

Amor à causa

Emilio Botin, o poderoso mór do Santander, está novamente em Sampa.
Desta vez, veio por causa da Fórmula-1.

Internet para todos

Foi o Santander, aliás, o responsável ontem pelo fórum Efeito Obama, no Hotel Renaissance, onde os marqueteiros de Obama estão expondo os novos mecanismos usados na vencedora campanha americana.
E foi logo na abertura que Fernando Egydio Martins, do banco, explicou aos convidados a razão pela qual estão patrocinando o evento:
"Este sistema de informações e comunicação chegou para ficar na vida de todos e não só na política".

Dura, a vida

Lula quase teve que dividir o quarto com Dilma no tour pelas obras do São Francisco. O alojamento era apertado no canteiro de obras perto de Custódio, em Pernambuco.
Lula ficou com quarto, sala e banheiro. Dilma, com outro igual. O restante do staff se virou em dois cômodos.

Queda do muro?

Setores da oposição, incluindo aí Serra e Aecio, estão se movimentando para evitar maiores interferências do governo sobre a Vale.
Com direito a reflexos no Congresso...

Irmã camarada

Era verdade mesmo. La Toya desembarca dia 12, no Via Funchal, para prestar tributo a Michael Jackson.
Luiza Possi é uma das que vão dividir o palco com ela.

Porta-retrato

A portas fechadas, Lewis Hamilton é centro de conversa de 20 minutos com proprietários de Learjet.
O encontro-relâmpago, sábado - com direito a fotos, é claro - faz parte do patrocínio da Bombardier, fabricante do avião, ao moço.

Voz própria

Pesquisa inédita da Funddação SM e OEI, com 3.512 professores revela que a maioria não diz amém ao que pensam especialistas.
Exemplo? Iniciantes da carreira rejeitam os estágios supervisionados. Ou seja, os mais jovens não querem saber de tutores. E 60% acreditam que o currículo dos cursos não acompanha as mudanças da sociedade.

SUGERIR NÃO OFENDE

Marília Pêra dá uma dica aos piratas que tentam vender o CD Elas Cantam Roberto e, maliciosamente, avisam: "Sem Marília Pêra!!"
Segundo a atriz, basta inverter o jogo e gritar: "Com Ivete Sangalo! Com Claudia Leitte! Com Hebe Camargo!" etc. "Não é necessário matar alguém que está maçante em um CD para que ele venda melhor", avisa.
"Basta pular a faixa."

Progressivo desalinhamento do câmbio

Na economia brasileira, só se pensa naquilo: o quanto o real está valorizado. O mais provável, inclusive, é que ele se valorize ainda mais e continue na sua lenta, gradual e irrestrita tendencia de alta - para desespero do governo Lula, do setor produtivo e até do mercado financeiro. Felizes mesmo, só os turistas que desejam viajar para o exterior.
O câmbio real no Brasil está muito próximo do nível mais valorizado desde o início do regime de câmbio flutuante, em 99. A constatação está em um paper reservado de Affonso Celso Pastore para clientes, esta semana. Alí, o economista diz não haver, na observação, "nenhuma recomendação quanto ao que deveria ser feito, mas apenas constatação empírica."
Reconhecendo que a situação difere da ocorrida entre 2005 e 2007, quando o câmbio também se valorizou mas era fácil argumentar que a trajetória rumava a um ponto de equilíbrio. Hoje o processo é de "progressivo desalinhamento cambial".

NA FRENTE

Duas horas. Foi o tempo que Eduardo Fischer levou para conquistar Joel Rosenman - detentor da marca e um dos organizadores de Woodstock - para trazer o festival ao Brasil. Em SP, no ano que vem.

Cerca de 50 crianças assistidas pela Casa Hope e pela Unesol vão assistir aos treinos da F1, hoje, em Interlagos. Serão levadas pela Schincariol.

A musicista Silvia Ocougne e Leopold Nosek batem papo sobre música e psicanálise. Amanhã, na Sociedade Brasileira de Psicanálise, na Vila Mariana.

Fausto Martin De Sanctis lança o livro Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro. Dia 28, na Saraiva do Higienópolis.

Nova tentativa do Outeiro das Brisas em Trancoso: relança dia 28, no Baretto, o Outeiro Golfe Clube. Desta vez, em parceria com a Sotheby"s.

Enquanto avançam, na Câmara, as novas regras para os precatórios, Marco Antonio Innocenti, da OAB paulista, faz as contas: em São Paulo, a dívida anda pelos R$ 18 bilhões.

Contas feitas, o suposto filho de Daniel Filho, que pede pensão, nasceu quando ele tinha 12

NELSON MOTTA

Bolivarianismo esportivo

O Globo - 16/10/2009


Está mais do que comprovado cientificamente que, em grandes altitudes, um atleta condicionado a jogar nessas condições leva decisiva vantagem sobre os habituados a jogar na planície. A Fifa havia proibido esse cambalacho injustificável, mas, pressionada pelos sul-americanos, voltou atrás. E a farsa populista voltou aos gramados.

Equatorianos e bolivianos dão show de bola e de preparo atlético a 3 mil metros de altitude e humilham craques argentinos, brasileiros e uruguaios, que se arrastam pelo campo, tontos e esbaforidos. As populações nativas ficam eufóricas, os governantes mais ainda, a honra e a dignidade nacional foram salvas: pátria o muerte e bola na rede. Uma vitória sobre um "império" futebolístico como Brasil ou Argentina não tem preço no mercado populista da América Latina.

Mesmo que depois, em igualdade de condições, quase sempre eles sejam goleados e colocados em seu devido lugar. Mas eles gostam de ilusões.

É a influência dos três patetas, Chávez, Morales e Correa, até no futebol.

No seu habitat natural, eles vivem a ilusão de que jogam mais e melhor do que os outros, com mais fôlego, mais talento, mais patriotismo, que afirmam a sua identidade nacional. É a versão esportiva do realismo fantástico latinoamericano. Evo Morales logo vai pedir a liberação de folhas de coca para os jogadores indígenas. Afinal, é uma questão cultural.

Maradona, gênio do futebol e perfeito idiota latinoamericano da política, bateu bola em La Paz com Evo Morales e fez gol contra: assegurou que a altitude não teria nenhum efeito fisiológico nos jogadores. E a Argentina tomou de seis da Bolívia. Imaginem se tivesse? A bravata é a principal forma de expressão do idiota latinoamericano, também no futebol. E quase custou a classificação à Argentina, que em dez jogos contra a Bolívia, ao nível do mar, ganharia nove.

Mas as evidências não bastam, é preciso que a CBF trabalhe para reverter esta demagogia populista travestida de igualitarismo, escondendo uma típica malandragem latinoamericana que só pode ser entendida como bolivarianismo esportivo, seja isto lá o que for.

NELSON MOTTA é jornalista

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EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O palanque do São Francisco

O Estado de S. Paulo - 16/10/2009
Arrimo da candidatura Dilma Rousseff, o presidente Lula retomou as excursões eleitorais com a ministra, interrompidas pelo tratamento a que ela se submetia. O objetivo imediato é reverter a sua estagnação nas recentes pesquisas de intenção de voto. A pré-candidata precisa aparecer nos telejornais não só ao lado de seu mentor, mas em situações que tenham "cheiro de povo", impregnadas do calor humano ausente dos eventos palacianos em Brasília. Isso parece explicar também as cenas de religiosidade explícita que ela vem protagonizando, em cultos evangélicos em São Paulo, na Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, ou, ainda, na festa do Círio de Nazaré, em Belém.

Para o reinício da campanha, Lula inventou um giro de três dias para "vistoriar" as obras de transposição do Rio São Francisco por sinal, o mais controvertido empreendimento do País, o que lhe permitiu percorrer o território eleitoralmente seguro dos sertões de Minas, Bahia e Pernambuco, com pernoites em acampamentos, como dizem seus assessores, à maneira de Juscelino Kubitschek ao tempo da construção de Brasília. Entre uma "inspeção" e outra, uma confraternização e outra, um discurso e outro, tudo o que se prestar à humanização da figura da ministra deve ser aproveitado. Pouco importa o caráter postiço, quando não o ridículo, da oportunidade fabricada, como a fingida pescaria da dupla às margens do São Francisco, na região de Pirapora (cidade mineira excluída do tour por ter um prefeito do DEM).

Por atos e palavras, um carnaval de embromação. Em Buritizeiro, do outro lado do rio, Lula subiu a um palanque para dizer que "no nosso projeto original de fazer essa viagem não estava previsto a gente fazer comício", mas "fazer uma sinalização para o Brasil e para o mundo" (sic). Ao seu lado, além de Dilma, três ministros e o deputado Ciro Gomes, do PSB, ex-titular da Integração Nacional e candidato presidencial declarado. Lula, que não perde ocasião de afagá-lo ? agora diz "adorar", tanto quanto adora Dilma ?, quer vê-lo disputando o governo de São Paulo, para atacar, pela retaguarda, o tucano José Serra, como, de resto, já começou a fazer com a costumeira incontinência.

"Esse trabalho vai ficar para a história do povo brasileiro", entoou o presidente, depois de criticar os "governantes de duas caras" e os políticos que governam "para os coronéis que há 500 anos mandam neste país". É um acinte. Lula se vangloria de ter a coragem de pôr em marcha uma ideia que remonta ao imperador Pedro II, em 1847. Mas este ano o governo desembolsou efetivamente menos de 4% do R$ 1,68 bilhão previsto. Em 2008, foram 7%. O custo total da obra é de R$ 4,5 bilhões. Nenhuma surpresa para quem conhece o estilo lulista de governar e o abismo entre o que o seu governo faz e o que ele diz que faz. Não é o caso, evidentemente, do 1,5 mil moradores de Barra, na Bahia, arregimentados para ouvi-lo e conhecer a sua candidata. Uma delas, mãe de 7 filhos e cliente do Bolsa-Família, exultava. "Posso morrer agora que vi o presidente Lula", proclamou. Ela não era a única a dizer que votará "em quem o presidente pedir".

São reações compreensíveis. O que não se entende, como apontou a colunista Dora Kramer, no artigo Uma nação de cócoras, publicado ontem, é a passividade da oposição diante do absoluto descaramento com que Lula transgride a legislação eleitoral, confeccionando, com recursos públicos, pretextos que não resistem a um sopro para fazer a campanha da ministra. O governador Aécio Neves, que disputa com Serra a indicação do PSDB, deu um exemplo dessa leniência, no primeiro dia da viagem do presidente. Antes de se encontrar com ele no aeroporto de Buritizeiro e posar para uma foto com Dilma e Ciro Gomes, considerou "natural" o comportamento de Lula para "viabilizar uma candidatura" no seu campo. "Acho que o presidente tem todo o direito de viajar pelo País", opinou, numa entrevista. "Acho que essas viagens são legítimas, da mesma forma que nós, do campo da oposição, de forma extremamente respeitosa (sic), temos que ter a nossa estratégia."

O temor aos 80% de popularidade de Lula, que é o que provavelmente explica a complacência oposicionista, acaba funcionando como um incentivo para ele intensificar as suas operações de propaganda eleitoral sob a aparência de atos administrativos que evidenciariam a suposta operosidade do seu governo.

PANORAMA POLÍTICO

DEFINIÇÃO

ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 16/10/09

A pré-campanha antecipada do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff está tirando o sono da oposição. À beira de um ataque de nervos, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), quer definições: “Não dá mais para ficar sem candidato, com a Dilma no meio da rua fazendo campanha.
Ela está avançando”. Sua avaliação é que não há tempo para prévias. Quer que os governadores José Serra e Aécio Neves se entendam já.

No DEM cresce a inquietação

A falta de um candidato definido na oposição foi o tema da reunião da Executiva do DEM ontem. O partido acha que o PSDB já deveria ter escolhido o candidato.
“O governo tem um aglutinador em campanha, o presidente Lula, e um candidato escolhido, e nós da oposição não temos um intérprete capaz de aglutinar a nossa turma”, critica o líder demista no Senado, José Agripino (RN). Ao contrário dos tucanos, que ainda apostam no PMDB, o DEM está certo que o partido vai se coligar com o PT, cedendo seu tempo de TV para Dilma Rousseff, e desvinculando a eleição presidencial das disputas pelos governos estaduais.
Eu me preocuparia é se os fiscalizados por nós estivessem achando o TCU uma mãe” — José Jorge, ministro do TCU, sobre as críticas do governo federal

PARA O MUNDO. O governador Blairo Maggi (MT), que já ganhou o troféu “Motosserra de Ouro”, propõe que a próxima reunião do Fórum dos Governadores da Amazônia Legal seja em Copenhague, em paralelo à Convenção da ONU para as Mudanças Climáticas. Eles estão reunidos hoje em Macapá para discutir a redução das emissões de CO2. Esses estados querem ser remunerados pela preservação da floresta. “A gente fala muito para dentro”, disse Maggi aos colegas

Selo verde

Uma delegação da União Europeia chega ao Pará dia 21 para avaliar como anda a preservação do meio ambiente.
Na programação, está a visita a um frigorífico. A criação de gado é um dos principais vetores de desmatamento da Amazônia.

Impopular

A base do governador Jaques Wagner (PT-BA) na Assembleia Legislativa apresentou proposta que prevê pagamento de aposentadoria a ex-governadores que exercerem o cargo por no mínimo dois anos, com salário integral da ativa.

Desmistificando a internet

Em evento sobre marketing eleitoral, ontem, em São Paulo, os estrategistas da campanha de Barack Obama desmistificaram o peso da internet na vitória do democrata. Disseram que a cada US$ 1 gasto com propaganda na rede, foram gastos US$ 3 na televisão. A internet, graças a um poderoso banco de dados com o perfil de consumo dos americanos, foi importante para a arrecadação de contribuições financeiras.

Os dois gols contra do Mantega

O ministro Guido Mantega (Fazenda) não foi ao Nordeste com o presidente Lula.
Mas muito se falou sobre ele por lá. Na comitiva reclamaram que a área econômica devia ter um mínimo de sensibilidade política antes de expor o governo a ataques da oposição e ao desgaste com a classe média. Chamaram de gols contra dois anúncios feitos pela Fazenda, dos quais ela recuou depois: a taxação das cadernetas de poupança e a retenção da restituição do Imposto de Renda.

O IBOPE ouviu 2.000 pessoas, de 7 a 11 de outubro, sobre as eleições para o governo do Rio. Deu Sérgio Cabral, com 38%; Anthony Garotinho, com 19%; Fernando Gabeira, 13%; e Lindberg Farias, 3%.

APOIO. Dando sequência à rodada de conversas com os partidos aliados, a ministra Dilma Rousseff janta com o PP no dia 27.

O LÍDER do governo, deputado Henrique Fontana (PT-RS), pediu só agora urgência para o projeto que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima. A matéria está parada há mais de um ano.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

ENGANAÇÃO

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Onde está a direita?



Folha de S. Paulo - 16/10/2009

Não faz muito, Lula festejava, como uma conquista do país, a ausência de "trogloditas de direita" entre os prováveis candidatos à sua sucessão. De fato: Dilma Rousseff, José Serra, Ciro Gomes, Marina Silva... inclua-se Aécio Neves na lista. Nenhum deles caberia no perfil do "troglodita". Quer dizer que não existe direita no Brasil? Ou, talvez, que a direita não esteja representada na política nacional?
Talvez seja útil separar "direita" de "trogloditas". Estes continuam por toda parte, fazendo valer seus interesses. A turma do velho patrimonialismo, por exemplo, encontra-se arrebanhada à sombra do lulismo, protegida e bem alimentada. Sob os tucanos também era assim, de modo menos despudorado.
O Brasil, FHC costuma dizer, é mais atrasado do que conservador. Pode-se pensar em termos de direita e esquerda, mas a política real se explica melhor pelo parasitismo do Estado do que pelo crivo ideológico.
A não ser da boca para fora, o país desconhece a figura do empresário liberal. O capitalismo aqui sempre foi anfíbio, patrocinado pelo Estado -sirva de exemplo o caso caricato das privatizações financiadas pelo BNDES. Bancos e empreiteiras nunca faturaram tanto como agora, na gestão "progressista" do PT. Com Lula, voltou ser de bom-tom mamar no Estado, basta invocar algum "interesse estratégico".
Mas e a direita, onde está? Se por isso entendermos o ideário liberal clássico, para o qual o Estado constitui um entrave à realização do indivíduo e a vida social deve ser regulada pelo mercado, então Lula tem razão: essa direita está politicamente órfã. O antigo PFL tenta ocupar o espaço, mas até mesmo a bandeira pela redução da carga tributária é uma impostura nas suas mãos.
O amálgama da direita é o antipetismo, sobretudo nas classes médias do Sul e do Sudeste. Além da aversão à figura de Lula, essa direita se imagina espremida entre a farra dos ricos e a esmola dos pobres. E culpa o lulismo pela frustração de seus sonhos de exclusividade social. Se hoje vota em Serra, é menos por gosto do que por falta de opção.

WASHINGTON NOVAES

A alma da natureza,já tão esquecida


O Estado de S. Paulo - 16/10/2009
Anuncia-se que foi concluído pelo governo federal projeto que libera, mediante licitação, projetos de mineração em áreas indígenas (que constituem quase 13% do território nacional), bem como proíbem vetos dos índios a projetos de usinas hidrelétricas em suas áreas (Valor, 6/10). É tema que exige muito cuidado - basta lembrar que grupos indígenas do Pará estão indignados por não haverem conseguido manifestar-se nas audiências públicas sobre a Hidrelétrica de Belo Monte, que também estão sendo impugnadas na Justiça pelo Ministério Público Federal -, embora o presidente do Ibama considere "maluquice" os argumentos de todos esses interlocutores e os de cientistas (como os que fizeram estudo na Unicamp) sobre a possibilidade de conservação de energia no País (Estado, 13/10).

A primeira razão para cuidado está em que todos os estudos sobre conservação da biodiversidade apontam as áreas indígenas como o melhor formato para isso. E quando se introduzem valores de outras culturas (como a permissão para receber royalties na mineração), o quadro muda e com ele todo o modo de viver, inclusive os formatos que permitem conservar a biodiversidade. Para que se tenha ideia do que pode ser a biodiversidade conservada, um relatório citado pela ONU - Sistemas Alimentares dos Povos Indígenas, Universidade McGill - lista as espécies de que se alimenta um único grupo, o Karen, na Birmânia: 317 de alimentos, 208 de hortaliças, 62 de frutas. Compare-se com um morador das cidades. Mas dos 370 milhões de índios no mundo, um décimo vive em "extrema miséria", exatamente por haver-se aculturado.

Um exemplo valioso pode ser encontrado no Parque Indígena do Xingu. Na década de 70, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo, liderados pelo professor Roberto Baruzzi, acompanharam durante anos a alimentação, os hábitos e o estado de saúde de vários grupos da reserva. E não encontraram um só caso de doença cardiovascular, pois não havia ali nenhum dos fatores genéticos nem os gerados pela alimentação (obesidade), sal, fumo, álcool, vida sedentária e outros. Passados 30 anos e intensificado o contato com as cidades, a obesidade já atinge 76,4% das índias xinguanas e 50% dos homens apresentam sintomas de hipertensão (Correio Braziliense, 10/8).

O Xingu, como já foi comentado neste espaço, é hoje uma ilha de biodiversidade entre o cerrado e a floresta amazônica, cercada por pastos e plantios de soja. E naqueles dois biomas estão dois terços, pelo menos, da rica biodiversidade brasileira, que pode chegar a uns 15% do total mundial e se vai perdendo em alta velocidade. "A riqueza que temos guardada na biodiversidade do cerrado é mil vezes superior à da agricultura", afirmou a Herton Escobar o competente agrônomo Eduardo Assad, da Embrapa (Estado, 2/10). Porque "é no DNA das plantas nativas que estão genes capazes de proteger as plantas "estrangeiras" (soja, milho, algodão, arroz) dos danos do aquecimento global". Já o Ministério do Meio Ambiente (7/10), citando estudos da Comissão Europeia e da Alemanha, estima em US$ 2 trilhões a US$ 5 trilhões o prejuízo anual com o desmatamento e a perda da biodiversidade. O cientista Thomas Lovejoy, também já citado aqui, calcula em mais de US$ 200 bilhões anuais o valor dos medicamentos derivados de plantas comercializados no mundo.

É uma questão tão aguda que a recente Conferência Mundial sobre Desertificação, realizada em Buenos Aires, decidiu criar não só indicadores para essa e outras perdas, como até um órgão semelhante ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas para cuidar desse e de outros temas relacionados com a desertificação dos solos (que avança 60 mil km2 por ano e agrava o problema do consumo de recursos naturais além da capacidade de reposição do planeta).

Tanto pessoas já convencidas da importância da conservação da biodiversidade como as que ainda encaram o tema com ceticismo deveriam ler o recém-lançado livro Yuxin - Alma, da escritora Ana Miranda (Companhia Das Letras/Sesc-SP). A partir da narrativa dos pensamentos da índia Yuxin sobre o sumiço de seu marido, Xumani, a autora faz um extraordinário arrolamento romanceado da diversidade vegetal, animal e cultural da região em que se passa o livro - principalmente dos kaxinawas, ticunas, ashaninkas e katukinas. O livro chega no momento em que ainda ressoam palavras do escritor Marcio Souza (Mad Maria, Galvez, o Imperador do Acre) num recente seminário em Manaus sobre biodiversidade: "Onde estão as culturas amazônicas que levaram a floresta a manter-se de pé durante séculos? As culturas amazônicas só costumam aparecer como folclore, depois que a polícia passa."

Pois no extraordinário livro de Ana Miranda estão lá, em sua força, os muitos formatos dessas culturas, num quase inacreditável desfilar de árvores, plantas alimentícias, frutas, espécies portadoras de óleos e outras, infindáveis animais e os costumes e modos de cada um, as complexas relações entre humanos e todos esses seres, os formatos da conservação, os modos de interpretar o tempo, os modos de apropriar-se de elementos da natureza, os sons da floresta e o silêncio e muito mais. Além da fascinante descrição dos relacionamentos com o mundo dos espíritos. Um trabalho de pesquisa que deve ter exigido anos - e outros tantos para conjugá-la com a arte narrativa.

Deveria ser leitura obrigatória em todo o País, que a cada dia vê diminuir seu acervo cultural nessas áreas. E na hora em que a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados aprova projeto de lei que permite patentear substâncias e materiais biológicos (moléculas, genes, proteínas) "obtidos, extraídos ou isolados da natureza", para deles tirar vantagens econômicas. Como se tudo já não estivesse criado, inventado, como mostra o livro de Ana Miranda. Felizmente, o projeto ainda passará por outras comissões, que poderão impedir o desatino.

O IDIOTA

CELSO MING

Agressividade no câmbio

O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/10/09

Ontem a cotação do dólar resvalou para abaixo de R$ 1,70 e agora deve escorregar em direção a R$ 1,60. Aflitos com o tombo inexorável, empresários e economistas pedem uma nova política cambial, como se fosse uma operação simples, algo como tirar o paletó e vestir uma jaqueta.

Querem, por exemplo, que o Banco Central (BC) assuma uma atitude mais agressiva na compra de moeda estrangeira para sustentar determinado piso nas cotações, digamos de R$ 2.

Há nessa pressão pelo menos uma posição correta: a de que o objetivo é conseguir uma maior demanda de moeda estrangeira. E compras agressivas do BC iriam nessa direção.

O problema começa quando se tenta definir o que seja essa atitude "mais agressiva". Até agora, toda política de intervenção foi realizada com esterilização de reais. Ou seja, cada compra de dólares no câmbio interno é casada com venda de títulos públicos com o objetivo de retirar do mercado os reais injetados nas operações de compra. Com isso, o BC evita que mais reais no mercado produzam inflação. Não é verdade que a operação aumente o endividamento porque cada R$ 1 mil em títulos públicos empurrados para o mercado correspondem a R$ 1 mil em créditos em moeda estrangeira incorporados às reservas.

O problema está em que a esterilização monetária restabelece a relação anterior de oferta e procura entre o real e o dólar, e a tendência do câmbio se perpetua. Se é mesmo para inverter a tendência, então seria preciso que a procura de dólares aumentasse bem mais. Daí porque, ao reivindicar "maior agressividade", esses analistas querem, no fundo, que não haja enxugamento de reais por meio da colocação de títulos públicos.

O problema é que, ao sustentar determinado piso nas cotações do dólar sem retirar os reais despejados por ocasião das compras, o BC estaria subvertendo sua política monetária (política de juros). Ela deixaria de ser usada para ancorar os preços (controlar a inflação) e passaria a ser usada para ancorar o câmbio.

Em outras palavras, além de destruir o câmbio flutuante (porque a cotação do dólar seria o piso agora perseguido pelo BC), a mudança unilateral da política cambial destruiria outro pilar da atual política econômica, que é o sistema de metas de inflação.

Em termos práticos, a tal agressividade do BC na formação de reservas deixaria a inflação ao deus-dará - que é o que hoje acontece na Argentina.

Alguns economistas ainda retrucam: essa operação teria de vir acompanhada de rigoroso controle das despesas públicas e de aumento do superávit primário (sobra de arrecadação para amortização da dívida), de maneira que o governo não precisasse emitir moeda e, portanto, não fosse criada inflação.

Mas, se é por aí, então por que não levar às últimas consequências a proposta de rigoroso controle orçamentário de forma que a carga tributária e os juros na ponta do crédito pudessem ser reduzidos e, nessas condições, permitissem a queda do custo Brasil? Se isso acontecesse, o setor produtivo teria melhores condições de garantir competitividade sem que a valorização do real fosse obstáculo insuperável para o aumento das exportações e o aumento das vendas no mercado interno.

CONFIRA

Um a um, os grandes bancos americanos estão apresentando lucros acima do esperado. E, no entanto, há apenas um ano estavam quase todos praticamente quebrados.

Qual foi o milagre? Em alguma proporção, foi o socorro oficial que impediu o afundamento. Em outra, foram os aumentos de capital que lhes deram condições de sustentar empréstimos de qualidade duvidosa.

Mas a maior parte daquilo que há meses foi chamado de ativos podres continua lá, nos balanços dos bancos, ou até mesmo fora deles, contabilizado por um valor arbitrado pelos próprios bancos.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

O BB quer segurar muito mais

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09


O BANCO do Brasil informou ontem à CVM que pretende comprar parte do IRB-Brasil Re, o antigo Instituto de Resseguros do Brasil, controlado pela União e a maior empresa de seguro de seguradoras da América Latina. A "União Federal, por intermédio do Ministério da Fazenda, aceitou iniciar tratativas", diz o eufemismo do fato relevante enviado pelo BB à CVM.
O IRB ficou "pop" durante as revelações detonadas pela descoberta do mensalão, quando foram identificadas vastas traficâncias de influência na companhia. Quando Antonio Palocci ainda era ministro da Fazenda, até 2006, pretendia-se privatizar o IRB, um "legado varguista" (foi criado em 1939 por Getúlio Vargas).
O economista Marcos Lisboa, que fora secretário de Política Econômica sob Palocci, assumiu o IRB a fim de prepará-lo, se não para a privatização, ao menos para a abertura do mercado de resseguros. A quebra do monopólio foi aprovada em 2007 e começou a valer mais ou menos em 2008 (Lisboa agora é da direção do Itaú Unibanco). Atualmente, o Bradesco tem cerca de 21% de participação na empresa, o Itaú tem 18%, e o BB, 1%. BB, Bradesco e Itaú têm disputado nacos do mercado de seguros, que vem passando por um processo de concentração braba no país. No início do mês, o BB havia anunciado parceria com a gigante de seguros espanhola Mapfre.
Se o BB engolir o IRB, será mais um passo da onda de desprivatização de Lula 2: Petrosal, "Nova Eletrobrás", SuperPetrobras, talvez nova Telebrás, as capitalizações dos bancos estatais. No governo, diz-se que o BB vai ter mesmo o controle do IRB-Brasil Re. Argumenta-se que, mesmo com a abertura do mercado, o negócio de resseguros não deslanchou. Grandes obras precisam de grandes seguros e, pois, do anteparo de grandes resseguros. O pessoal do governo diz que o Estado "precisa entrar" nesse negócio para melhorar as condições gerais de financiamento das grandes obras.

Vale tudo, vale nada
Ministros de Lula foram a campo e aos corredores para amenizar a "crise", talvez factoide, com a Vale. Eike Batista, o mago do neoempreendedorismo nacional, anunciou que estão pelo menos por ora suspensas suas tentativas de comprar o controle da Vale. Lula e a empresa vazaram por aí que estavam de bem desde agosto ou setembro, a depender da versão.
Como se observava ontem nesta coluna, alguns integrantes do primeiro escalão do governo Lula consideravam toda essa história bem esquisita (ainda é). Atribuíam a "articuladores políticos da candidatura Dilma Rousseff" a plantação de notícias a respeito da "crise" e as tentativas de aumentar o peso do governo na empresa, embora desconfiassem da viabilidade do projeto e da própria participação de Lula nisso tudo.
Para que tal plano tivesse sentido, seria preciso: 1) afrontar acionistas privados, como Bradesco e Mitsui, mesmo com chance escassa de sucesso; 2) que Batista e/ou o governo arrumasse capital suficiente para a operação, já por si só duvidosa. Hoje, esses informantes do governo diziam que Lula "considera que já deu seu recado à Vale e a Roger Agnelli".

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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A recuperação se consolida

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09


O ANO DE 2009 vai mostrar um quadro econômico bastante diverso do previsto pela maioria dos analistas no calor da crise econômica. Estados Unidos e Europa devem crescer, respectivamente, 3,5% e 2,5% ao ano no segundo semestre, deixando para trás um período de quatro trimestres de recessão. Embora essa recuperação não seja suficiente para compensar as perdas anteriores, hoje é razoável dizer que a volta sustentada do crescimento econômico é a hipótese mais provável.
No mundo emergente, a recuperação é ainda mais clara. O que tem surpreendido é a rapidez da volta dos indicadores aos níveis anteriores a setembro do ano passado. Na China, as vendas ao varejo e a produção industrial ultrapassaram com larga margem os valores anteriores à quebra do Lehman Brothers.
O mesmo comportamento ocorreu em outros países como a Coreia e a Índia. Mas o Brasil é o que mais chama a atenção. A volta do emprego aos índices pré-crise é uma jabuticaba brasileira.
Mais importante do que os números em si é o fato de que alguns fantasmas que andaram assombrando nos últimos meses estão sendo exorcizados. Os mais marcantes foram a volta da funcionalidade do mercado de crédito, a normalização dos estoques em setores importantes como o de bens de consumo e imóveis residenciais e o comportamento menos histérico do consumidor, principalmente o norte-americano, na redução de seus níveis de consumo.
A recuperação dos mercados de bônus corporativos privados compensou o corte brutal da oferta de crédito bancário, de maneira que nos primeiros nove meses deste ano a oferta total de crédito (a soma dos dois) é 4% superior à do mesmo período de 2008. Não há falta de financiamento para as empresas de maior porte, que estão com um nível de caixa em valores recordes.
São as empresas médias e pequenas que sofrem com a retração dos bancos, pois não têm acesso ao mercado de títulos de crédito. Mas essa é uma dinâmica clássica das economias de mercado que só será alterada com a estabilização do sistema bancário ao longo do próximo ano.
Já a normalização dos estoques, em um momento em que o consumo privado começa a crescer novamente, está levando as empresas a aumentar sua produção. Dentro da dinâmica normal, teremos pouco mais à frente uma normalização do mercado de trabalho, embora com índices de desemprego ainda elevados. Da mesma forma, a paralisação da atividade da construção imobiliária ao longo de 2009 criou as condições para a desova dos estoques acumulados devido ao pânico. Com isso, nota-se em alguns mercados importantes a estabilização dos preços e uma volta, ainda que tímida, da atividade da construção.
Finalmente, o consumidor está voltando às compras, movimento- -chave para a redução dos estoques acima citados e a volta da atividade econômica. No segundo trimestre deste ano, as vendas ao varejo nos Estados Unidos caíram a uma taxa anual de 4,1%, ficaram praticamente estáveis no terceiro e devem crescer neste quarto trimestre.
Talvez o maior potencial de surpresa positiva nos próximos meses -a despeito dos obstáculos estruturais ainda existentes- seja a sustentação de um ritmo acelerado de crescimento nos Estados Unidos e na Europa.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

HILLARY CLINTON

A segurança alimentar e a fome

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09


PARA 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo, o esforço diário de plantar, comprar ou vender alimentos é a luta decisiva de suas vidas. Isso interessa a elas e a todos nós.
Pensem na rotina diária da típica pequena agricultora. Ela vive em um povoado rural na África subsaariana, Ásia ou América Latina e cultiva um pedaço de terra que não lhe pertence.
Levanta antes do amanhecer, anda vários quilômetros para pegar água e trabalha o dia todo no campo. Se tiver sorte, sua lavoura não será destruída por secas, geadas e pestes e conseguirá cultivar o suficiente para sustentar a família. Ainda que sobre algo para vender, não haverá estradas para o mercado mais próximo e ninguém com dinheiro para comprar.
Agora, imaginem a vida de um jovem em uma cidade a 160 km daquela lavradora. Ele não tem trabalho -ou tem um um trabalho que paga uma miséria. Vai ao mercado -mas a comida está estragada ou muito cara. Sente fome e, muitas vezes, raiva.
A lavradora tem alimento para vender e ele quer comprar. Mas essa transação não ocorre devido a forças complexas além do controle deles.
Enfrentar o desafio da fome está no cerne do que chamamos de "segurança alimentar": dar possibilidade aos agricultores do mundo para semear e colher safras abundantes, cuidar bem de suas criações ou pescar -e garantir que o alimento produzido por eles chegue aos mais necessitados.
A segurança alimentar não diz respeito só à comida. Representa a convergência de questões complexas: secas e enchentes causadas por mudanças climáticas, mudanças na economia que afetam os preços dos alimentos e ameaçam projetos de infraestrutura e picos no preço do petróleo.
Segurança alimentar diz respeito à segurança. A fome crônica representa uma ameaça à estabilidade de governos, sociedades e fronteiras. Pessoas famintas e subnutridas são tomadas por sentimentos de desesperança e desespero. Isso pode levar a tensões, conflitos e até violência. Desde 2007, rebeliões por comida aconteceram em mais de 60 países.
As falhas na agricultura em muitas partes do mundo têm impacto violento na economia global. A agricultura é a única ou a principal fonte de renda de mais de três quartos dos pobres do mundo. Quando uma parcela tão grande da humanidade trabalha arduamente todos os dias, mas, ainda assim, não consegue sustentar a família, o mundo inteiro é prejudicado.
O governo Obama vê a fome crônica como uma das principais prioridades da nossa política externa. Outros países estão se unindo a nós nesse esforço. Importantes países industrializados prometeram mais de US$ 22 bilhões durante três anos para estimular o crescimento econômico puxado pela agricultura. E, em 26/9, o secretário-geral das Nações Unidas e eu patrocinamos uma reunião de líderes de mais de 130 países para formar uma base de apoio internacional.
Dada nossa experiência em desenvolvimento, sabemos que as estratégias mais eficientes emanam dos que estão mais perto dos problemas, não de instituições ou governos estrangeiros a milhares de quilômetros dali.
E sabemos que o desenvolvimento funciona melhor quando é visto não como ajuda, mas como investimento.
Com essas lições em mente, nossa iniciativa de segurança alimentar será guiada por cinco princípios. Primeiro, sabemos que não existe um modelo único para a agricultura que seja adequado para todos. Portanto, continuaremos a trabalhar com países parceiros para criar e implementar seus planos.
Em segundo lugar, abordaremos as causas subjacentes da fome mediante investimento em tudo, desde sementes melhores até programas de compartilhamento de riscos para proteger pequenos agricultores.
Em terceiro lugar, nenhuma entidade pode erradicar a fome sozinha. Se as partes interessadas trabalharem em conjunto de forma coordenada, nosso impacto pode se multiplicar.
Quarto, instituições multilaterais têm alcance e recursos que se estendem além de qualquer país. Ao dar apoio a suas iniciativas, aproveitamos sua experiência.
Por fim, prometemos compromisso e responsabilidade de longo prazo. Como prova disso, investiremos em instrumentos de monitoramento e avaliação que darão ao público a oportunidade de ver as realizações.
Essa tarefa pode levar anos, talvez décadas, antes de atingirmos a linha de chegada. Mas empenharemos todos os nossos recursos e energias.
Enquanto perseguimos esse objetivo, manteremos o compromisso mais profundo com assistência alimentar emergencial para responder ao clamor por ajuda quando tragédias e desastres naturais fizerem suas vítimas.
Revitalizar a agricultura global não será fácil. Na verdade, é um dos esforços diplomáticos e de desenvolvimento mais ambiciosos e abrangentes já empreendidos por nosso país.
Mas pode ser feito. Vale a pena. Se tivermos sucesso, o futuro será mais próspero e pacífico que o o passado.
HILLARY RODHAM CLINTON é secretária de Estado dos Estados Unidos.

SOGRA


TODA MÍDIA

Quem vai pagar?

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09


Para o "New York Times", "a maior barreira ao acordo global sobre clima é como pagar por ele". Fala em US$ 100 bilhões para "ajudar países em rápido desenvolvimento, como Índia e Brasil, a se converterem a tecnologias mais limpas conforme se industrializam". Destaca o "principal negociador do Brasil", Luiz Alberto Figueiredo, que adverte, diplomaticamente: "O nível de ambição no financiamento não está à altura da urgência que todos agora têm".
"A recessão afetou as carteiras", diz o "NYT", sobre "EUA e outros industrializados que certamente terão de contribuir". A China avisa que não vai.

NO CONSELHO
Na manchete do G1, "Para Lula, Conselho de Segurança é fruta madura", sobre a reforma do órgão.
E a eleição de ontem ecoou. A estatal Xinhua noticiou as "prioridades do Brasil", Haiti, Guiné Bissau, Oriente Médio. A estatal Voice of America destacou a opinião do embaixador britânico, de que Brasil e Nigéria, outro eleito ontem na ONU, "carregam o peso de potência regional" e tornam o órgão "ainda mais forte".
O Council on Foreign Relations postou análise prevendo "problemas para os interesses dos EUA", com menos parceiros. E "a presença de três aspirantes a permanentes", Brasil, Nigéria e Japão, "renova pressões por reforma que reflita o alinhamento de poder no século 21".

"BRAZIL-ENVY"
Com a ilustração "Um lamento pelo México" (acima), a "Economist" diz que a "Inveja do Brasil predomina na outra grande economia da América Latina"

JUROS OU PALANQUE
De um lado, a "Economist" compara México e Brasil, ponto por ponto, e observa que a inveja que nasceu com a exclusão dos Brics "nunca foi tão intensa".
De outro, avisa que a retomada econômica traz dilemas ao governo brasileiro -e questiona as ambições eleitorais do presidente do Banco Central, dizendo que conflitam com uma eventual necessidade de elevar juros. Quanto ao sucessor, cita Luciano Coutinho.

GOOGLE MUNDO AFORA
Destaque on-line de "Wall Street Journal" e "Financial Times", o Google avalia que passou o pior da crise. O "WSJ", em "live-blogging", destacou que o presidente de Operações Globais, Nikesh Arora, "pela primeira vez" ao lado do presidente Eric Schmidt na entrevista, declarou: "O Brasil foi excelente na América Latina. Começamos a ver sinais de reação na Europa, sobretudo Espanha. Na Ásia, a China teve forte desempenho".

POR UM PEDAÇO
A "Economist" deu reportagem exclusiva sobre a "luta pela GVT", tele paranaense que demonstra como os "estrangeiros disputam um pedaço maior do mercado de telecoms do Brasil".

GVT, O LEILÃO
E a Bloomberg noticiou ontem a "especulação" de que a francesa Vivendi teria feito uma oferta maior do que a espanhola Telefônica pela GVT -e a mexicana Telmex "poderia entrar no leilão".

SÃO PAULO & TELEFÔNICA
Dois dias depois da manchete do "Valor" sobre o Plano Nacional de Banda Larga do governo Lula, o portal Terra, da Telefônica, destacou que "São Paulo lança programa de banda larga por até R$ 29".
Na Folha Online, "Com Telefônica, governo de São Paulo lança banda larga popular" (leia à pág. B5).

BRASIL INTERNACIONAL
Na home da Agência Brasil, "TV Brasil terá canal internacional". Em anúncio no Itamaraty, a presidente da Empresa Brasileira de Comunicação, Tereza Cruvinel, informou que a África será o primeiro continente a receber transmissões, no ano que vem, por "questão logística". O chanceler Celso Amorim também falou.
O agência estatal ouve um brasileiro morador de Orlando, nos EUA, para quem "não dá para ficar refém das televisões comerciais brasileiras aqui".

DICAS AO RIO
O londrino "Guardian" postou texto irônico sobre o eventual filme de Woody Allen no Rio -que ofereceu US$ 2 milhões para a produção. Deu "dicas para que a cidade assegure um "Vicky Cristina Barcelona" e não "Scoop'". Por exemplo, proibir que ele produza dois filmes, como em Londres

PAULO SOTERO

Brasil e EUA impotentes em Honduras

O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/10/09


A impotência do Brasil e dos Estados Unidos na busca de uma solução para o imbróglio constitucional armado em Honduras é o fato político mais saliente produzido pelo desentendimento entre as elites da República centro-americana - a de direita e a que se diz de esquerda. As duas maiores nações do continente, que se juntaram às demais para condenar o golpe de 28 de junho passado como uma violação da Carta Democrática das Organização dos Estados Americanos (OEA), estão diplomaticamente paralisadas diante de uma crise de opereta num dos menores países da região. Não apenas se mostram incapazes de viabilizar uma solução para a crise, como começam a ver sua relação bilateral prejudicada pela perpetuação do impasse em Tegucigalpa.

Por razões que permanecem mal explicadas, o Brasil associou-se operacionalmente a uma das partes do conflito a partir do momento em que aceitou abrigar o presidente deposto, Manuel Zelaya, em sua embaixada no país. Tenha ou não sido surpreendido, como alega que foi, pela chegada de Zelaya, sua família e um séquito de 60 acompanhantes à chancelaria da embaixada no último dia 21 de setembro, o governo brasileiro está hoje impossibilitado de cumprir o papel tradicional de mediador que desempenhou com sucesso em outros conflitos regionais. Na ausência de uma solução à vista, o impasse entre Zelaya e o governo de facto de Roberto Micheletti vai negando a cada dia que passa o argumento que o chanceler Celso Amorim apresentou ao Senado no final do mês passado, quando afirmou que a decisão de dar guarida a Zelaya era "um convite ao diálogo" e acabaria favorecendo uma solução negociada.

As negociações entre os dois campos, retomadas esta semana após a visita a Tegucigalpa de uma missão da OEA, poderá levar a um entendimento que resolva a constrangedora situação criada pela presença de Zelaya na chancelaria da embaixada brasileira na capital hondurenha. Mas não está claro se a solução permitirá transformar as eleições presidenciais marcadas para o mês que vem em veículo para restabelecer a ordem constitucional e uma dose de normalidade no país. Enquanto a crise não se resolve, o Brasil está reduzido a mero espectador: será criticado se o impasse perdurar e não levará o crédito se ele terminar.

Nos Estados Unidos, a crise hondurenha virou motivo de briga ideológica e de uma lucrativa disputa interna financiada com dinheiro de Tegucigalpa. É pretexto para os republicanos minarem a incipiente política da administração Barack Obama de maior engajamento com a América Latina e levarem adiante sua estratégia de fazer oposição sistemática ao presidente americano. Militantes nostálgicos de batalhas perdidas da guerra fria, nos anos 1980, quando Honduras foi usada como base do exército dos contras, pago e treinado por Washington para a custosa e vã tentativa de desalojar o governo sandinista da Nicarágua pela força, encontraram na crise hondurenha uma oportunidade para afirmar sua declinante relevância, acertar contas com adversários e ganhar dinheiro fazendo lobby para o governo de facto de Micheletti e os empresários hondurenhos que apoiaram o golpe. Até a semana passada, lobistas associados a militantes anticastristas haviam embolsado US$ 292 mil em serviços prestados ao governo de facto de Tegucigalpa em Washington. A firma de relações públicas de Lanny Davis, que foi advogado de Bill Clinton num dos escândalos que marcaram sua presidência, recebeu outros US$ 350 mil para levar os argumentos dos golpistas a congressistas republicanos e democratas.

Apanhadas no fogo cruzado, que se intensificou após a volta de Zelaya a Honduras, no mês passado, a nomeação do diplomata Thomas Shannon para a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília e a do professor Arturo Valenzuela para substituir Shannon no posto de secretário de Estado adjunto para o Hemisfério Ocidental foram bloqueadas pelo senador Jim DeMint. Republicano da Carolina do Sul, que em julho passado conclamou os conservadores a fazerem da proposta de reforma do sistema de saúde americano, em debate no Congresso, o "Waterloo" de Obama, DeMint exige que o presidente reveja sua política em relação a Honduras.

Enquanto isso não acontecer, os Estados Unidos continuarão sem embaixador no Brasil e a relação entre os dois países, que é superficial e vem perdendo importância no comércio e em outras áreas, tenderá a continuar em refluxo. Uma eventual mudança na postura de Washington que atenda a Micheletti deixará o Brasil exposto em Honduras e será com toda a probabilidade rechaçada por Brasília, intensificando o clima de má vontade mútua que ressurgiu nos últimos meses entre altos funcionários dos dois governos. Nesse ambiente, segue sem data a viagem que Obama faria ao Brasil este ano, em retribuição à visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe fez em março passado. Em meio ao vácuo que se forma na relação bilateral, aproxima-se a visita que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fará a Brasília no final do mês que vem. Com os Estados Unidos e outras potências, europeias e asiáticas, engajados num esforço de diálogo com Teerã sobre o programa nuclear iraniano, a visita de Ahmadinejad dá ao presidente Lula uma oportunidade única para exercer um papel positivo de liderança e jogar no time principal na questão da não-proliferação, que está hoje no topo da agenda de segurança internacional. Ela oferece, ao mesmo tempo, amplo espaço para o País repetir em escala global o passo em falso que deu em Honduras e fazer o jogo de Hugo Chávez numa questão central para a segurança internacional.

Paulo Sotero, jornalista, é diretor do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington

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BARBARA GANCIA

Monty Python 4 Ever!

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09


O primeiro esquete do Monty Python que consegui entender foi o do casal que vai comprar um colchão



LEIO QUE O MONTY PYTHON voltou a se reunir em Nova York para celebrar os 40 anos de sua criação. E que ontem o grupo recebeu um prêmio por sua contribuição ao cinema e à televisão.
Posso estar enganada, mas acho que logo na minha segunda semana de Folha de S. Paulo, nos idos de 1984, eu já estava citando o Monty Python nos meus textos. Sabe como é, nos primeiros dias de um novo emprego a gente fica meio acanhada. E eu achei melhor esperar ao menos um cinco ou seis dias antes de falar desses malucos dos quais ninguém sabia nada.
Lembro que comecei a usar o termo "hilário" quando falava deles. "Hilário" isso, "hilário" aquilo... O correto seria usar "hilariante", mas não achei que soava bem. Pegou, e o povo fala errado até hoje.
Meu caso de amor eterno com os Monty Ps começou com uma fita cassete enviada pelo correio da Inglaterra por meu irmão, em 1972. Ouvi aquilo e não entendi patavina. Eram os esquetes feitos para o programa de TV "Monty Python's Flying Circus".
Mas daí meu irmão voltou da Inglaterra e eu, típica caçula enxerida, percebia que ele se reunia com os amigos no quarto e ficava horas ali ouvindo aquilo. E rolando de rir.
E como capotar de rir é meu segundo programa predileto (fica naquela posição intermediária, entre comer e sexo), resolvi ouvir a fita tantas vezes quantas fossem necessárias até entender do que se tratava.
O primeiro esquete que consegui captar foi o do casal que vai comprar um colchão. Depois, saquei o do sujeito que quer pagar para ter uma discussão, o da loja de queijos, o do papagaio Polly... Viva! Tinha deixado de ser débil mental!
Minha adolescência foi pautada por piadas do Monty Python. Todo o humor que faço até hoje tem raiz no Monty Python. Diria mais: fui influenciada por muita coisa da cultura pop. Pra citar alguns: os Beatles, Walt Disney, Tintim, Asterix, as fotos da revista "Life", o "Muppet Show", os filmes de arte de Ingmar Bergman, os italianos "Morte em Veneza", "1900" e "Passageiro - Profissão Repórter", com aquela longa tomada em que a câmera sai do quarto pela janela; "Butch Cassidy" ou qualquer um dos Stanley Kubricks, o musical "My Fair Lady", que eu sei cantar de trás pra frente até hoje, todos os livros sobre animais de Gerald Durrell ou o "Quarteto de Alexandria", escrito por seu irmão Lawrence, os livros de Graham Greene, Joseph Campbell e sua influência sobre George Lucas em "Star Wars" e até, chame-me de bocó, "João Capelo Gaivota".
Mas nada, nada na cultura pop me influenciou mais do que o humor do Monty Python. Fui olhar no arquivo da Folha na internet e há zilhões de citações ao grupo em textos meus. Só que nunca falei explicitamente sobre essa influência. Bem, então já que eles estão completando 40 anos, melhor dizer agora, antes que um de nós acabe como Polly Parrot.
O que seria de mim se não fossem Eric Idle, Michael Palin, John Cleese, Terry Jones, Terry Gilliam e o finado Graham Chapman?

PAINEL DA FOLHA

Alta ansiedade

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09

A reação da campanha de Dilma Rousseff (PT), que desde a semana passada acumula promessas de apoio e visibilidade redobrada na mídia, detonou nova e aguda crise de ansiedade no DEM, explicitada ontem em reunião da Executiva Nacional do partido.

Os ‘demos’, Rodrigo Maia à frente, reclamaram da indefinição do PSDB, ao qual atrelaram seu destino em 2010. Reclamaram em especial de José Serra, cujo interesse é empurrar essa conversa para o ano que vem. Alegaram que, sem candidato a presidente, fica mais difícil fechar acordos nos Estados, enquanto Dilma ganha terreno. Tais queixas têm sido repetidas ao tucano Aécio Neves, que por sua vez cobra do comando partidário uma definição antes do final do ano.

Reação - O PSDB vai entrar com ação na Justiça Federal acusando o governo de desvio de finalidade de recursos públicos na viagem de Lula e ministros para vistoriar a transposição do São Francisco.

Pisante - O Ministério da Integração Nacional cuidou dos mínimos detalhes na preparação da visita. No alojamento de Dilma Rousseff, por exemplo, havia botas para a ministra percorrer os canteiros.

Grão em grão - Meio milhão de famílias serão incluídas no Bolsa Família na próxima segunda-feira, levando o total a 12,4 milhões. É o resultado da ampliação dos critérios de atendimento pelo Ministério do Desenvolvimento Social. O governo estuda um novo aumento para 2010.

Tiro no pé - O presidente da Previ, Sérgio Rosa, não gostou de ter sido ‘lançado’ por Eike Batista para comandar a Vale. Acha que o gesto do empresário só serviu para atrair inimigos e desconfiança.

Transição - Rosa deixa a presidência da Previ em 2010, depois de um segundo mandato de quatro anos. Pelas regras atuais, não poderá ser reconduzido a um terceiro.

Não à toa - A próxima reunião do Fórum Agrário, que reúne membros do Judiciário e do Ministério Público, será no início de novembro em Marabá, sul do Pará. O Estado é campeão no descumprimento de ações judiciais relativas a grilagem de terras.

Bateu, levou - A inclusão dos aposentados no Vale-Cultura, em votação anteontem na Câmara, foi troco dado no governo pelo lobby do pagamento do crédito-prêmio do IPI, vetado por Lula. À frente da articulação, PMDB e PR.

Trator - Com a saída de Marcos Lima da subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, cargo que monitora a liberação de emendas, deve assumir o número dois, Neuri Mantovani. Ligado a movimentos sociais, passou pela primeira direção nacional do MST, na década de 80.

Genérico - Mantovani é próximo de Gilberto Carvalho. Como o chefe de gabinete de Lula, foi seminarista e iniciou a militância no PT do Paraná.

Terreno na lua - O governo avalia que o demissionário Marcos Lima fez promessas demais aos deputados sobre liberação de emendas. Uma parte da base defendia seu nome para substituir José Múcio como ministro das Relações Institucionais, mas o escolhido foi Alexandre Padilha.

Fila - No jantar com Dilma, deputados do PR defenderam a promoção de Paulo Sérgio Passos, secretário-executivo do Ministério dos Transportes, quando Alfredo Nascimento deixar o cargo para concorrer ao governo do Amazonas pelo partido. Eles preferem Passos a Luiz Antônio Pagot, chefe do Dnit.

Vide bula - Único partido que se mexe para tomar o mandato de quem optou por outra sigla, o PDT divulgou manual aos dirigentes estaduais sobre como recorrer. Na Câmara, foram três baixas: Davi Alves (MA), Sérgio Brito (BA) e Severiano Alves (BA).

Tiroteio

Se trocar a placa na porta da comissão do novo Código Florestal por “reunião da bancada ruralista’, ninguém vai notar diferença.

Do deputado EDSON DUARTE (PV-BA), sobre o domínio de deputados ligados ao agronegócio na comissão que debate mudanças na legislação ambiental.

Contraponto

Entre amigas

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado votava ontem uma emenda, de autoria de Ideli Salvatti (PT-SC) e com parecer favorável de Lúcia Vânia (PSDB-GO), que retira progressivamente, até 2011, os recursos para a educação da DRU (Desvinculação de Receitas da União).

Aprovado o texto, Ideli festejou:

- É uma vitória da educação, são R$ 10 bilhões!

Enquanto os demais integrantes da comissão elogiavam o resultado da inusitada parceria tucano-petista, Ideli sorriu para a colega e explicou:

- Olha, não aconteceu nas Lojas Marisa, mas foi uma articulação de mulher pra mulher...