sábado, setembro 26, 2009

ROBERTO GODOY

Teerã pode produzir urânio para uso militar


O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/09/09


O Irã pode, sim, produzir o urânio enriquecido necessário para a construção de armas nucleares. A dúvida é se a comunidade científica do país teria desenvolvido a capacidade de miniaturizar os componentes de forma a produzir as ogivas dos mísseis com alcance na faixa de 2 mil quilômetros. O arsenal envolve três tipos, eventualmente novas versões do mesmo modelo, o Shahab-3, o Ghadr-1 e o Sejil-2. A carga de ataque varia entre 750 kg e 1,2 tonelada. Engenheiros paquistaneses e norte-coreanos trabalham no programa. Em abril de 2008 o chefe do projeto atômico iraniano, Ali Akbar Salehi, estimou em 8 mil unidades o número de ultracentrífugas em atividade em 4 diferentes centros - Arak, Isfahan, Bushehr e Natanz. Nada disse das avançadas instalações de Qom, enterradas sob uma montanha de pedra sólida, protegidas de bombardeios convencionais e limitadas a 3 mil máquinas - certamente as melhores do lote. A tecnologia é tosca e oferece risco. O mecanismo da maioria das peças é contido em um cilindro de alumínio e, embora tenha havido cuidado com a estabilização, a rotação se dá por meio de mancais o que resulta em atrito em alta velocidade. Ainda assim, a escala de milhares de ultracentrífugas é suficiente para elevar o índice de enriquecimento do urânio para a faixa dos 90% exigida por artefatos militares. A geração de eletricidade ou propulsão de navios implica 3,5% a 5% de enriquecimento. O processo é linear. Na forma de gás, o mineral é injetado na máquina. As moléculas mais pesadas do urânio U238 (energeticamente "pobre") movem-se próximo da parede, enquanto as do U235 (mais "rico") sobem e são transferidas para outra centrífuga, em um efeito cascata que segue até o armazenamento. O produto final é obtido na forma de varetas. O analista John Miller, do Foreign Political Center, de Washington, acredita que o poder nuclear iraniano "só será uma ameaça mundial a partir de 2013". Forças israelenses poderiam lançar agora uma ação preventiva contra as instalações do Irã usando a aviação de precisão e bombas de penetração B61-11 fornecidas pelos EUA. Cada uma pesa 900 kg, e destrói 6 metros de concreto reforçado antes de detonar 240 quilos do super explosivo tritonal.

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CLÓVIS ROSSI

Imperdoáveis incoerências

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/09/09


Se o governo Luiz Inácio Lula da Silva pretende ser realmente um ator de peso na cena global, vai ter que definir-se mais claramente em relação a determinados temas e abandonar a parte "amor" do slogan "Lulinha, paz e amor".
Paz, tudo bem. Amor, reserva-se apenas para quem o merece.
Vejamos o caso do Irã. Tudo bem que Lula tenha cobrado, em privado, a negação do Holocausto, esse crime que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, comete com inquietante frequência. Mas o que adianta se, depois, em público, diz aos jornalistas que negar o Holocausto "é problema dele"?
Passemos agora a Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático de Lula, que reclama que, na falta de uma "atitude enérgica" em relação ao golpe em Honduras, o mau exemplo vai se disseminar pela América Latina.
Bom, nesse caso todo o mundo fica autorizado a imaginar que o mau exemplo de negar o Holocausto vai se disseminar pelo mundo muçulmano. Não obstante, o governo Lula, em vez de uma "atitude enérgica", convida Ahmadinejad para visitar o Brasil e se dispõe a ir ao Irã, como a natural contrapartida.
Claro que não é o caso de romper relações com Teerã, até porque há poucos santos no mundo real para que as relações de Estado sejam apenas com eles.
Mas tampouco é o caso de lavar as mãos, o que vale também para o problema nuclear. Marco Aurélio justificou a aceitação pelo Brasil da explicação iraniana de que seu programa é exclusivamente para fins pacíficos, alegando que o Brasil não é a Agência Internacional de Energia Atômica, xerife nesse âmbito.
Não é mesmo, mas acabou passando por bobo quando se revelam instalações nucleares antes ocultas, o que levou o presidente Nicolas Sarkozy -aliado estratégico do Brasil- a dizer que "já estamos em uma séria crise de confiança".

BRASIL S/A

O império reage

CORREIO BRAZILIENSE - 26/09/09


Recado de Obama é que ou governos do G-20 alinham as economias ou EUA vão ajustar-se pelo dólar


As propostas e negociações do G-20, a cúpula das vinte maiores economias do mundo que se reuniu em Pittsburgh, EUA, são sutis. O anfitrião Barack Obama trouxe a proposta de “avaliação mútua” pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) das políticas econômicas de cada país do Grupo dos 20. Sua proposta vale pelo que esconde.

A intenção é equilibrar os desequilíbrios globais, evitando-se, por exemplo, os enormes superávits da China, construídos sobre os deficits comerciais dos EUA. A narrativa das bolhas de liquidez é essa: os EUA reduzidos a importadores de mercadorias, compensadas com a exportação de ativos financeiros. O resto foi consequência.

Com muito dólar na mão da China — mas também do Japão, Alemanha, Brasil depois de 2003, quando se avolumam as reservas de divisas do país —, o dinheiro, tal como na época dos choques do petróleo das décadas de 70 e 80, precisava ser reciclado. E a banca o fez.

Mas desta vez, ao contrário dos árabes, que se satisfaziam com os juros recebidos pela aplicação da receita do petróleo, a China fez mais: chumbou o renminbi ao dólar, ergueu uma indústria financiada pelas próprias empresas americanas atraídas pelos custos baixos da economia chinesa, convenceu-as de que seria rendoso trazer dos EUA suas linhas industriais, produzir lá e exportar de volta. E fechou o circuito aplicando as receitas cambiais diretamente nos EUA.

A estratégia foi boa para a China, que saiu de um estágio agrário para o industrial de ponta. E também para os EUA, que tiveram por conta disso mais de duas décadas de inflação controlada pelos bens chineses vendidos baratinhos. Mas à custa de fábricas fechadas e empregos cortados, que agora descobrem fazer falta e os querem de volta. O vodu durou até ruir a fantasia da “grande moderação”: a ficção de economistas segundo a qual EUA e China seriam economias complementares uma à outra, e assim seria até o fim dos tempos.

Não é que os EUA se desindustrializaram por completo. Perderam a indústria mais comoditizada, como a automobilística e eletrônica, para os países de mão de obra barata e de baixa exigência ambiental.

Mas a que ficou escalou em produtividade, investindo em automação e processos, resultando menos emprego por produto/hora. A soma dos dois fenômenos levou à queda absoluta do emprego industrial, em parte compensada pelo aumento no setor de serviços, o que implicou a precarização do trabalho, pois salários e horas trabalhadas são menores nestas atividades. Tudo isso vem desde o fim dos anos 70.

Das bolhas à crise

A circularidade da crise em formação se completou com a expansão do crédito, devido aos juros baratos e à enorme liquidez, suprindo a perda de poder aquisitivo dos EUA. É quando o assalariado médio pôs o pescoço na forca, graciosamente estimulado pelos bancos e o governo Clinton, endividando-se não só no cartão de crédito, mas também hipotecando a casa própria. Veio a bolha final. E a crise.

Prática e retórica

Como os EUA saem dela? Como um país de terceiro mundo: exportando mais e importando menos, para encolher o déficit externo, e muita receita fiscal para desinflar o déficit fiscal. Alguma inflação no início é esperada, seguida de aumento de juros para esfriá-la. Foi o que se fez no Brasil dos anos 90 para frente. Deu certo. Para os EUA também dará, salvo se o mundo recusar a corrosão do dólar, que é o meio abrangente e mais rápido de ajuste. Obama deu o recado.

Aos colegas do G-20, ele foi claro: ou há alinhamento de objetivo entre os governos ou o corretivo virá no seco. É como se avisasse que só lhe resta o ajuste pelo dólar se sua tese cair no vazio. A defesa do dólar forte, porém, está mantida na retórica oficial.

Atos sem escrúpulos

É difícil supor outro caminho aos EUA. O déficit fiscal está indo de 2% do PIB para 12%. O desemprego oficial vai bater em 10,8% até o fim do ano, o maior desde a 2ª Guerra, ou 6 milhões de demissões — mais 3 milhões reempregados em meio período. A capacidade ociosa em algumas indústrias está abaixo de 60%, como a automotiva. E ano que vem há eleições parlamentares. A desvalorização cambial, neste quadro, é o meio sub-reptício e eficaz de protecionismo comercial.

Obama já mostrou que não se prende a escrúpulos do livre mercado, ao taxar importações de pneus da China. Na retórica, o comunicado final do G-20 contempla o “crescimento mais equilibrado”, conforme o apelo de Obama. Na prática, o provável é que a China, Alemanha, Japão, produtores de petróleo, todos superavitários contra os EUA, façam cara de paisagem. E Obama terá de fazer mais que discursar.

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FLÁVIO GOMES

Decisão na Brawn

BOM DIA - 26/09/09

Que tal falar um pouco de corrida, para variar? Afinal, há um campeonato em curso. E a corrida de Cingapura vai dizer se Barrichello continua na luta pelo título, ou se Button conseguirá fazer valer a vantagem que abriu nas primeiras corridas do ano. É tudo que importa nesta prova noturna, que será para sempre lembrada pelo escândalo do ano passado.

Por isso mesmo é difícil fazer qualquer prognóstico. Tudo que aconteceu em 2008 foi fruto de uma manipulação. As paradas de quase todos nos boxes durante o safety-car produzido por Nelsinho foram feitas fora da hora, embaralhando o roteiro. E pode chover, o que deixa as coisas ainda mais indefinidas — no molhado, de noite, esse GP se transforma numa loteria danada.

Em tese, a Brawn deve andar bem em Cingapura. Afinal, ganhou em Mônaco e Valência, as outras duas pistas urbanas do calendário. Olho na Williams de Rosberguinho, também, que pode se meter entre os favoritos. A Force India, atração das últimas duas provas, em Spa e Monza, tende a despencar para o bloco de trás por conta das características de seu carro. Liuzzi não conhece o traçado e certamente vai andar atrás. Sutil tem chances um pouco melhores, mas não deve fazer nada parecido com o que se viu nas pistas de alta.

A Renault, com Alonso, andou muito bem em Marina Bay no ano passado. Falcatruas à parte, é bom lembrar que o espanhol dominou os treinos livres e era favorito à pole quando a bomba de gasolina de seu carro pifou, fazendo com que largasse em 15º — detonando as ideias de jerico de Briatore & Cia. Ele não se conformou, porque sabia que se largasse lá na frente teria chances enormes de ganhar pela primeira vez na temporada.

Button corre para marcar Barrichello. Será sua sombra o fim de semana todo, já que o brasileiro está numa fase melhor e atua, nesta reta final do campeonato, como franco-atirador.

Para o inglês, o importante é não correr o risco de não pontuar. Vai precisar de alguma cautela. Chegar atrás de Rubens, uma ou duas posições, estará de bom tamanho. O companheiro não tem opção. Precisa partir para o ataque. E torcer para Jenson se atrapalhar numa corrida propícia a confusões.

Os primeiros treinos livres deram algumas pistas daquilo que pode acontecer em Marina Bay. A pista continua muito ondulada, mais do que no ano passado, e foi modificada na curva 10, que se tornou mais lenta. A Red Bull foi a surpresa do primeiro dia, porque Vettel, o mais rápido, meio que tinha desistido de andar demais nos treinos livres, por conta da escassez de motores até o fim da temporada.

A McLaren teve bom desempenho com Kovalainen, e foi discreta com Hamilton. Quem não andou nada foi a Ferrari. O chefe da equipe, Stefano Domenicali, confirmou que o time “congelou” o desenvolvimento do carro há dois meses. Assim, os vermelhos vão até o fim do campeonato sem nenhuma perspectiva de melhora. Nesse cenário, Raikkonen tem feito milagre. Em Maranello, os engenheiros só pensam no carro do ano que vem.

O fato tragicômico do dia foi a batida de Grosjean, substituto de Nelsinho Piquet, no mesmo lugar em que o brasileiro se estatelou de propósito no ano passado. E o francês ainda repetiu o famoso “sorry, guys”, pelo rádio. Parecia mentira... A Renault, para quem não percebeu, está correndo sem as logomarcas de dois de seus maiores patrocinadores. O banco holandês ING e a seguradora Mutua Madrileña rescindiram seus contratos. Não querem mais seus nomes associados a um time que fez o que fez.

Fala, Fernandinho
Alonso ficou irritado em Cingapura e não quis emitir nenhum juízo de valor sobre o escândalo que lhe deu a vitória na corrida noturna do ano passado. Preferiu dizer que é tudo passado e que ele não teve nada a ver com aquilo. Pode até ser. Mas continuo achando que deveria entregar a taça a Rosberg. Seria um ato simbólico, sem efeito prático algum. Poderia até ser encarado como demagogo, mas seria uma forma de dizer, pelo menos, que não concorda com nada do que foi feito.

Raikkonen ameaçado
Kimi Raikkonen, apesar das últimas ótimas atuações (é o piloto que mais fez pontos nas últimas quatro corridas), continua com o emprego em risco. Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, deu indicações, pela primeira vez, de que o finlandês será descartado em favor de Alonso. A McLaren pode ser seu destino.

EDITORIAL - O GLOBO

Ações arriscadas

O GLOBO - 26/09/09

No momento em que cresce a importância do Brasil no cenário mundial, nossa diplomacia ganha visibilidade, mas se comporta de forma errática, com alguns acertos e erros preocupantes. Estes acontecem quando a política externa passa a ser conduzida mais por simpatias ideológicas do que por uma visão de Estado. Quando isso ocorre, o Itamaraty perde percepção estratégica. O equilíbrio, o profissionalismo e a sensatez, característicos da diplomacia do país desde o Barão do Rio Branco, são sobrepujados por ações arriscadas como esta, em Honduras, da qual o Brasil pode sair com a pecha de subimperialista.

No governo Lula, a ação diplomática brasileira se complica diante do forte apelo terceiro-mundista do presidente, de seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia, do chanceler Celso Amorim e do secretáriogeral Samuel Pinheiro Guimarães.

Um dos principais objetivos do país é obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, algo acertado no contexto de uma reforma da ONU. Mas nem por isso os fins justificam os meios, como tem acontecido, neste caso específico, com a política externa, que evitou, para não perder votos árabes, condenar o regime genocida do Sudão. E, pelo mesmo motivo, chegou ao ponto de preterir duas candidaturas de brasileiros ao posto mais alto da Unesco em favor de um postulante egípcio com inclinações antissemitas, afinal derrotado.

O espírito “compañero” nas relações com a área “bolivariana” da América do Sul tem frequentemente deixado o país em desvantagem, como no caso da nacionalização das instalações da Petrobras na Bolívia, pelo governo Evo Morales.

Em outra época, o profissionalismo e a visão de Estado do Itamaraty falaram mais alto, como deve ser. Um dos melhores exemplos foi o reconhecimento, em plena ditadura militar, do governo de esquerda do MPLA em Angola, apoiado pela URSS. Por ser a costa ocidental da África área de interesse prioritário brasileiro, o país foi o primeiro a reconhecer aquele governo, defendido inclusive por tropas cubanas, e hoje o Brasil tem presença econômica e política de peso no país. Graças à não interferência ideológica do então presidente Geisel (197479) e dos militares no Itamaraty. Era o tempo do “pragmatismo responsável”, conduzido pelo chanceler Azeredo da Silveira, com a ajuda, entre outros, do embaixador Italo Zappa.

Com Lula, o profissionalismo do Itamaraty foi engavetado, e o país pagará um preço por isso. Só com muita sorte o país não sairá chamuscado do episódio em Honduras, onde até é possível considerar um contragolpe a expulsão de Zelaya do poder, em junho.

"ESCOVA REGRESSIVA"

SALÃO DE BELEZA

FOTO DE 1930

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
J.R. Guzzo

Ponto de partida

"Nosso desastre educacional mostra que o Brasil
aprendeu a gastar, mas não aprendeu a ensinar;
continua confundindo o ponto de partida com
o ponto de chegada"

Não é toda hora que o Brasil aparece num bom lugar nessas listas internacionais em que se relacionam os países que estão fazendo alguma coisa melhor que os outros. O normal, na verdade, é acontecer justamente o contrário: estamos quase sempre no topo da tabela quando se medem desgraças como homicídios, falta de esgoto ou trabalho infantil e no fim da fila quando a classificação se refere a honestidade na política, qualidade dos serviços públicos ou distribuição de renda. Somos ruins, também, ou muito ruins, em prostituição de crianças, demora para o cidadão ser atendido no sistema de saúde pública, excesso de impostos, mortes no trânsito, burocracia, mandados de prisão não cumpridos, rebeliões em penitenciárias, ferrovias, rodovias, outras vias – enfim, é um desfile que vai longe e, no fundo, diz quase tudo sobre a extraordinária dificuldade que os governos brasileiros, de qualquer época, têm para cumprir a sua obrigação de resolver problemas básicos da vida real. É uma surpresa e um alívio, assim, ver uma mudança nessa escrita, e numa questão essencial: de acordo com o mais recente levantamento internacional feito na área, com dados de 2006, o Brasil é o segundo país, em todo o mundo, que mais investe dinheiro público em educação, como porcentagem sobre o total dos gastos do governo. Fica atrás apenas do México – e, entre os países que ocupam os primeiros quinze lugares da lista, foi o que mais aumentou o seu investimento no setor de 2000 a 2006.

Não se trata, no caso, de conversa do PAC, ou de cifras fabricadas nos serviços de modelagem estatística do governo. Os dados são da OCDE, ou Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, órgão internacional com reputação de competência técnica, precisão e neutralidade nas pesquisas que realiza. Ou seja: é isso mesmo. O Brasil, que descobriu tarde a necessidade de investir em educação, e depois de ter descoberto passou décadas sem fazer grande coisa a respeito, é hoje um país que está pondo mais recursos do que nunca em seu sistema de ensino público; mais, proporcionalmente, do que campeões mundiais da educação como Coreia do Sul ou Estados Unidos, e mais do que a média atual dos trinta países-membros da OCDE. O problema, como de costume, está em quando se passa dos números para os resultados práticos. Se o Brasil, em termos de esforço financeiro para educar a sua população, é o segundo melhor país do mundo, por que a educação brasileira é tão ruim? É óbvio que houve ganhos. Nos últimos quarenta anos, a população brasileira aumentou em 100 milhões de habitantes, experiência desconhecida por qualquer país desenvolvido do planeta; foi preciso, de um jeito ou de outro, criar lugares na escola para essa gente toda, e o fato é que os lugares foram criados, tanto assim que cerca de 95% das crianças e jovens em idade escolar frequentam hoje as salas de aula. Criou-se, a partir das prefeituras, um vasto sistema de transporte para os alunos da escola pública – algo fundamental e que simplesmente não existia. Da mesma forma, passou a haver distribuição em massa de material didático. A merenda escolar foi universalizada. A maioria dos pais, entre os brasileiros pobres, acha que a educação recebida hoje por seus filhos é melhor do que a educação que eles receberam.

Tão real quanto isso tudo é a espetacular ruindade do sistema em seu conjunto, do primário à universidade, no ensino público e em boa parte do particular. Com todo o dinheiro que gasta, o Brasil continua tendo mais de 14 milhões de analfabetos. Nenhuma universidade brasileira está entre as 100 melhores do mundo. Os níveis de aproveitamento em matemática, física e outras disciplinas-chave para a capacitação tecnológica estão entre os piores. Não temos conhecimento de métodos didáticos eficazes. Não sabemos como ensinar, nem o que ensinar. O sistema todo, na educação pública, está armado de forma a atender aos interesses, às ideias e às pressões de professores e funcionários, principalmente na universidade. Não é nenhuma surpresa que as universidades americanas, na sua maioria entidades privadas, prestem muito mais conta de suas atividades do que as universidades públicas do Brasil.

Nada disso, como provam os números, acontece por falta de verba. É resultado, ao contrário, da ilusão de que se pode resolver problemas só com dinheiro – mas sem trabalho, talento e coragem. Nosso desastre educacional mostra que o Brasil aprendeu a gastar, mas não aprendeu a ensinar; continua confundindo o ponto de partida com o ponto de chegada.

BRASÍLIA - DF

Caixa dois, o regresso

Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 26/09/09


Projeto que pretende legalizar e recambiar recursos enviados ilegalmente ao exterior acaba de chegar à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. A proposta extingue os crimes graves cometidos contra a economia nacional, como remessa ilegal de recursos, evasão de divisas e sonegação fiscal. Na última quarta-feira, saltou o primeiro obstáculo: foi aprovada pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT). De autoria do deputado José Mentor (PT-SP), a matéria levantou suspeitas da oposição, que desconfia que o dinheiro repatriado poderá ser usado na campanha eleitoral.

O líder do PPS, Fernando Coruja (SC), denuncia a manobra e diz que a origem desses valores é “obscura”. Avisa que a oposição não assinará pedido de urgência para a matéria ir a plenário. “Vamos trabalhar para derrubar esse texto, que privilegia um capital que não foi tributado e que pode ter ligação com o crime organizado”, reforça. Segundo ele, em 2002, o PT teria pago R$ 10 milhões a Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, que revelou à CPI dos Correios que recebeu o dinheiro de uma conta em paraíso fiscal.


Honduras// A comitiva de Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados aguarda autorização especial do legislativo de Honduras para entrar no país. Como o Brasil não mantém relações diplomáticas com o governo de fato do país, os parlamentares tiveram de pedir vistos de cortesia para acompanhar a mediação entre o presidente Roberto Micheletti e o deposto, Manuel Zelaya, e inspecionar a situação da embaixada brasileira.


Esqueletos

Há muita controvérsia em relação ao repatriamento de recursos aplicados ilegalmente no exterior. Nos governos Sarney, por causa da rápida desvalorização da moeda, e Collor, devido ao confisco das cadernetas de poupança, muita gente utilizou serviços de doleiros para fazer caixa dois e aplicar recursos no exterior, inclusive grandes empresas. Após o lançamento do Plano Real, o governo de Fernando Henrique Cardoso facilitou o reingresso de grande parte desse dinheiro, através dos bancos de investimento, principalmente durante o programa de privatizações. Mas ainda restam muitos esqueletos nos armários, pois os bancos de investimento brasileiros também operam em paraísos fiscais.


Na mídia

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (foto), caiu nas graças da imprensa internacional. Ontem, para desobstruir a agenda congestionada por pedidos de entrevistas de jornais do exterior, concedeu longa coletiva aos correspondentes estrangeiros, em São Paulo. Os assuntos mais abordados foram o novo marco regulatório do petróleo e a candidatura à Presidência da República, que a ministra admite apenas como uma possibilidade, embora fale com postura de candidata oficial do PT.


Retirada

Governador cassado da Paraíba, Cássio Cunha Lima deixou o PSDB e assinou a ficha de filiação ao PSB. O ex-tucano entrou em choque com o partido por apoiar a candidatura do prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), ao governo paraibano. O candidato do PSDB ao governo será o senador Cícero Lucena.


Lixo

A Receita Federal enviará ao Congresso Nacional um projeto de lei prevendo a tributação de lixo doméstico e hospitalar importado por empresas no Brasil para tornar proibitiva essa prática comercial. O órgão tentou passar a proposta na MP 462, mas a emenda foi retirada a pedido do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc (foto), porque o texto abria brechas para que os resíduos permanecessem em solo brasileiro para serem destruídos.


Água

Empenhada em engordar sua fatia no Orçamento de 2010 para o desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro, a Marinha fez uma apresentação do projeto à Comissão Mista do Orçamento (CMO). Estão previstos, para o ano que vem, investimentos na construção da embarcação da ordem de R$ 293 milhões


Perdido/ Recém-filiado ao PSC, o senador Mão Santa (PI) chegou a ensaiar um namoro com o PSDB piauiense. Abortou a ideia de tucanar quando as portas do partido se fecharam. A vaga na aliança com DEM-PSDB será do senador Heráclito Fortes (DEM). Mão Santa também bateu com a cara na porta do PPS.

Juntos/ Os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, participam do seminário Educação e Inclusão Social que o PSDB nacional promove hoje em Natal. Será transmitido ao vivo no site da legenda. O evento será aberto pelos deputados Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), presidente do Instituto Teotônio Vilela, e Rogério Marinho (RN).

Banco/ Preterido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que se filiará ao PMDB, o PP goiano alçará o secretário estadual de Fazenda, Jocelino Braga, como principal nome progressista para concorrer ao governo do estado. De perfil técnico, como Meirelles, Braga assinará a ficha de filiação na segunda-feira.

Pequim/ O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, está na China, em visita oficial. O que mais desperta interesse da alta magistratura chinesa é a transmissão ao vivo das sessões plenárias do STF. A China tem 4 mil tribunais, 46 mil juízes, 55 mil jurados e 10 milhões de processos em tramitação.

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AUGUSTO NUNES

REVISTA VEJA
Augusto Nunes

O país condenado a morrer de solidão

"O clube frequentado por assassinos, farsantes,
liberticidas, mitômanos, fanáticos e outros espantos
só proíbe a entrada de governantes hondurenhos"

Um assassino patológico, um mitômano de alta periculosidade, um terrorista em recesso e um apóstolo da violência só podem ser vistos juntos em dois lugares: o refeitório de um presídio de segurança máxima e o plenário da ONU. Na cadeia, estariam chefiando celas, alas ou pavilhões. Em liberdade, chefiam países.

O prontuário do sudanês Omar al-Bashir inclui o medonho genocídio na região de Darfur. O coreano atômico Kim Jong-Il aprende a usar armamentos modernos disparando mísseis de verdade na direção do Japão. O líbio Muamar Kadafi tenta livrar-se da mania de derrubar governos vizinhos e aviões de passageiros. O iraniano Mahmoud Ahmadinejad sonha produzir com bombas nucleares o Holocausto que jura ter existido apenas na imaginação de ianques e judeus.

Todos controlam países com representação na ONU, e o clube dispensa à turma das cavernas o mesmo tratamento que contempla o maior dos estadistas. Todos são sócios da "comunidade internacional", codinome que o mundo inscreve no crachá quando aparece por lá. O mosaico é de tal forma assimétrico que, até segunda-feira, ninguém falara em nome da comunidade internacional. Primeiro porta-voz do mundo, o presidente Lula estreou com o aviso de que um país foi condenado à morte por solidão.

Até que Manuel Zelaya reassuma a Presidência, informou, o clube que aceita qualquer um não admitirá a entrada de representantes de Honduras. Chega de golpes de estado, comunicou ao plenário atulhado de liberticidas que não distinguem uma urna de um armário, só concedem aos governados o direito de concordar e acham que a liberdade é o nome de uma estátua em Nova York. Surpreendida pela dureza da sentença, a plateia planetária ficou perplexa com os aplausos que a endossaram. Como o embaixador nomeado pelo governo provisório foi expulso há dez dias, nenhum dos presentes discordou da condenação emitida sem que o acusado pudesse defender-se. Depois de ouvir Zelaya, o tribunal considerou dispensável o depoimento do presidente interino Roberto Micheletti e encerrou o caso.

Antes de propor que a agressão sofrida pela democracia em Honduras fosse revidada com sanções econômicas ainda mais duras, Lula pediu aos Estados Unidos que suspendessem as sanções impostas a Cuba, gerenciada pela mais antiga ditadura do mundo. Depois de reiterar que a crise hondurenha pode transformar a América Latina em zona conflagrada, Lula festejou a confirmação da visita ao Brasil do iraniano Ahmadinejad, que a cada meia hora acaricia a ideia de começar a III Guerra Mundial amputando do mapa o território de Israel.

Admita-se que a deposição de Zelaya tenha configurado um golpe de estado. Ainda assim, quem enxerga as coisas como as coisas são não consegue enxergar em Honduras uma ditadura, nem mesmo um governo autoritário. Nenhum ministro, parente, amigo, vizinho ou simpatizante de Zelaya dormiu na cadeia. Não houve restrições às liberdades democráticas, os partidos agem sem mordaças. Mais importante que tudo, permaneceu intocado o calendário eleitoral.

Urnas sempre foram encaradas pela ONU como o escape perfeito para becos aparentemente sem saída. No Afeganistão atormentado pela guerra, por exemplo, os observadores internacionais enxergaram nas filas a caminho das urnas o triunfo do voto sobre o medo instilado por ameaças de atentados terroristas. Pois a ONU decidiu que Honduras oferece mais perigos que o Afeganistão. E resolveu chamar de volta os fiscais encarregados de acompanhar as eleições de novembro.

Ao impedir que a nação proscrita chegue sem maiores sobressaltos à paz pelo caminho que percorreu sob tiros, a ONU optou pelo conflito. Era o que faltava para que os homens sensatos fossem assaltados por dúvidas semelhantes às que perturbaram os argentinos que viram com nitidez quem era Juan Perón, ou os alemães que contemplaram de olhos abertos a ascensão do nazismo. Epidemias de insensatez são antigas como a humanidade. Mas nenhuma pareceu capaz de contagiar a ONU inteira.

ARI CUNHA

O homem nu

CORREIO BRAZILIENSE - 26/09/09


Não começou em poucos dias a crise do Legislativo. O Senado se debate com assuntos que lhe impõem a nudez. É instituição de valor desde o tempo do Império. Enfrentou revezes, vencendo os tempos. Na política moderna, os interesses pessoais assumem força difícil de controlar. Tudo deve ter comando. Dessa forma, cabe ao eleitor a crença de que as coisas se encaminhem. Na política moderna, em todos os instantes se usa o termo democracia como varinha de condão. Democracia é a esperança. O povo sabe disso. O Congresso é desunido. A força do mensalão tolhe a liberdade de muitos parlamentares. O panorama fica difícil. Em outros tempos, o Império agia diferente. Os parlamentares não faziam segredo do que recebiam.


A frase que não foi pronunciada

“Esse negócio de dizer que a gente cresce com a crise está me deixando alto demais.”
Joelisson Fernandes da Silva, 21 anos, pensando enquanto se diverte com a fama de ser o homem mais alto do Brasil



Brado
Tão largado está o Hino Nacional! Na prática, são poucos os que veem algum valor em dedicar um dia da semana nos colégios para cantá-lo. A lei diz que, “nos estabelecimentos públicos e privados de ensino fundamental, é obrigatória a execução do Hino Nacional uma vez por semana” vigora desde 1971. Agora outra lei é sancionada prevendo exatamente a mesma coisa. E o hino que é bom, poucos cantam. Já a bandeira só aparece, com orgulho, no esporte.

Monitorado
Viajar por países que compõem o Mercosul muda pouco. Apesar da novidade na autorização de permanência para os turistas por 90 dias, os países podem ou não admitir o ingresso de pessoas em seus territórios.

Consome dor
Hoje, quando o cliente acaba de pagar as parcelas de um carro, o banco e o Detran fazem a comunicação e acordam sobre o novo dono. A aparente desburocratização nada mais é do que a financeira ter pressa em finalizar o compromisso com o proprietário, que inicia a via-crúcis com vistorias, filas e pagamentos de taxas.

Sustentabilidade
Notícias chegam da Universidade Federal da Amazônia. O pesquisador José Alberto Machado mostra que o Polo Industrial de Manaus é fundamental para manter o nível baixo de desmatamento na floresta. São incentivos para o desenvolvimento econômico sustentável que, com parcerias, contribuem para um crescimento local sem que seja necessário afetar o meio ambiente.

Consciência e lucro
Reciclar baterias e celulares em desuso deveria ser regra para receber o alvará de funcionamento de lojas para operadoras de telefonia. A Claro merece destaque. Passa a recolher em todas as unidades o material para reaproveitamento.

Processo
Primeiro a princesa Diana, agora Gisele Bündchen e Tom Brady sofrem com o assédio de paparazzi. Os fotógrafos não se conformam com o ataque dos seguranças durante o casamento da modelo. A Corte Federal de Nova York está com o caso nas mãos. Se der ganho de causa ao casal, que teve a casa invadida, pode ser que as celebridades tenham um pouco de paz.

Poupança
Enfrentar o sistema bancário nem pensar. É o que tem demonstrado o governo. Há outros meios de conseguir aumento na arrecadação. Taxa alta de juros, Imposto de Renda, impostos embutidos no preço dos produtos. E, agora, taxar as economias da classe média foi a última solução encontrada. O senador Raimundo Colombo lembrou o assunto em plenário.

Nós
Brasil e Índia mais próximos. A parceria entre os dois países foi aprovada pela Comissão de Relações Exteriores. Cultura revigorada. Boas perspectivas para novos filmes. Afinal o indiano Quem quer ser um milionário? venceu oito categorias.


História de Brasília

Purista da língua portuguesa, o presidente Jânio Quadros teria, ao se confirmar a cópia distribuída pelo seu gabinete, cometido um deslize linguístico em seu discurso, por ocasião da transmissão do cargo, na Praça dos Três Poderes. Assim, logo após iniciar a fala, o sr. Jânio Quadros disse: “Recebo, sr. Presidente, de vossas mãos...” E, no 7º parágrafo, S. Excia se refere ao presidente Juscelino na 3ª pessoa do singular, ou seja, V. Excia. (Publicado em 10/2/1961)

FUDEU

REGINALDO LEME

Mais uma vítima da soberba

Flavio Briatore se diz decepcionado com Bernie Ecclestone, o ex-amigo de quem esperava uma defesa incondicional, qualquer que fosse a situação. Isso mostra que ainda não caiu a ficha. Briatore ainda não entendeu que ninguém o derrubou. O que o fez cair de maduro foi a soberba. Aquele velho escorregão do ser humano que se sente poderoso demais a ponto de imaginar que nada ou ninguém possa abalar o seu poder. Um erro capaz de derrubar governos não deixaria impune um simples empresário de sucesso na Fórmula-1.

Ecclestone não vai sentir falta desta amizade agora desfeita com Briatore, mas, como grande negociador de crises que sempre foi, ele até gostaria de ter resolvido também esta antes do duelo final em que uma das partes acabaria mortalmente ferida. Mas Briatore não ouviu os seus conselhos. Algo para fazer o italiano refletir, agora que terá muito tempo sentado numa das mesas do seu clube Billionaire, casa noturna na costa da Sardenha. Até porque este é um reduto de gente famosa e endinheirada, apenas dois meses por ano. No resto, uma casa vazia à espera de novo verão europeu. Ele não apenas deixou de ouvir conselhos do ex-amigo Ecclestone como se mostrou pouco inteligente ao dizer para o tricampeão mundial Nelson Piquet, uma pessoa ainda muito bem relacionada e querida no ambiente, que não fazia questão de enxergar seus pilotos como seres humanos, e que a F1 para ele era apenas um negócio comercial.

No alto do pedestal em que se considerava inatingível, ele jamais poderia ver que ali, ele, naquele momento, estava decretando seu fim. Não demorou mais do que duas semanas para já sentir que precisaria muito da benção de Bernie Ecclestone, depois de ter os computadores da equipe Renault confiscados por investigadores a serviço da FIA para juntar às gravações das conversas de rádio e dados da telemetria daquela corrida de Cingapura, além de depoimentos de todos os mecânicos e engenheiros colhidos durante o fim de semana do GP da Bélgica.

Já era tarde. Naquele fim de semana, de posse de todas as informações do processo que havia sido detonado ali mesmo em Spa-Francorchamps, eu contei o que sabia durante a transmissão da corrida. Uma emissora como a TV Globo jogando no ar a notícia da apuração do escândalo. Portanto, não tinha mais volta. Só restou à FIA confirmar a existência do processo e até acelerar a sua conclusão. Hoje já posso dizer que eu recebi a informação do próprio Piquet, assim como as outras que alimentaram o noticiário nas semanas seguintes. Tudo feito na maior correção. Eu preservei a fonte. Ele fez com que eu fosse o primeiro a saber de cada novo acontecimento. Quando a FIA decidiu banir Briatore, eu fui acordado por um telefonema do Nelson às 7 da manhã. O cara sempre acorda cedo e ainda contava com um fuso-horário de 5 horas para a Europa.

Hoje, revendo tudo, considero extremamente importante o fato de ele nunca ter isentado Nelsinho de culpa. Mas, passada a perplexidade de quando ficou sabendo do caso, ele passou a agir como pai, tentando entender a reação do filho de 24 anos à época do incidente, acuado pelo chefe de equipe com o poder de demiti-lo ou renovar o contrato para 2009. A minha primeira reação quando ouvi a história contada pelo pai foi perguntar se ele sabia que a revelação deixaria em risco a carreira de Nelsinho. Ele tinha plena consciência disso. Mas não hesitou em exigir do filho que procurasse a FIA para contar a verdade. E foi assim que tudo começou.

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Sobre moral, ética e maus costumes
Juízes e senadores aumentam o próprio salário como se quem paga – você e eu – não existisse
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

É comovente ver como as bancadas do governo e da oposição no Congresso se unem quando o assunto é salário. Deles, bem entendido. Não há ofensas nem palavrões. Os Poderes tornam-se um só quando a pauta é legislar sobre seus próprios vencimentos. O Congresso acaba de aprovar por unanimidade 9% de aumento para o Judiciário – o que eleva a R$ 26.700 o salário dos ministros do Supremo. Imediatamente, senadores exigiram equiparação.

“Eu só queria um salário digno, que é o salário que ganha o Ministério Público e o Supremo”, disse o senador Wellington Salgado (PMDB-MG). “Aqui (em Brasília)representamos os Estados, temos de ter uma posição de se apresentar bem arrumado, temos de receber prefeitos e levá-los para almoçar. Os Três Poderes têm de ter o mesmo teto. Não é justo simplesmente aumentar um Poder e deixar os outros Poderes desequilibrados.”

Essa declaração não passa de um cascatol.

Então, os senadores precisam de 9% de aumento para se vestir direitinho. Eles não contam a verba indenizatória extra, usada para encher o tanque do carro, morar de graça, alugar escritório e se alimentar com ou sem convidados. Eles querem aumento. E, para os senadores, deputados e desembargadores, querer é poder. Porque quem decide quanto vão ganhar são eles próprios ou seus pares, numa combinação que nada tem a ver com as bases. Não importa que o aumento deles seja muito maior que os aumentos salariais do “homem comum”.

O reajuste aprovado na quarta-feira vale para o Ministério Público e para os servidores do Judiciário. Sairão dos cofres públicos mais R$ 283 milhões por ano. A parte mais gorda do aumento será retroativa a 1o de setembro. A segunda será paga em fevereiro. É inevitável o efeito cascata no Judiciário. O presidente do Supremo, Gilmar Mendes, não gostou muito. Queria 14%, e não 9%.

Votar em benefício próprio é uma atitude imoral ou antiética? Fiz a pergunta a uma professora de filosofia em São Paulo, Terezinha Azerêdo Rios. “Um processo de representação significa que o outro está em meu lugar. Quando políticos ignoram o ponto de vista dos que os elegeram, transgridem moral e ética ao mesmo tempo. Mesmo que a lei os ampare, eles deveriam alterar a lei para não agir sem levar em conta o que é moralmente aceitável pela população, favorecendo a si mesmos. A moral só tem consistência quando é iluminada por princípios éticos de respeito, justiça e solidariedade.”

Juízes e senadores aumentam o próprio salário como
se quem paga – você e eu – não existisse

Simplificando: é como se nós, você e eu, não existíssemos. Numa democracia, políticos não existem sem o eleitor. A ética da política pressupõe o respeito ao bem comum. Mas isso soa terrivelmente teórico e abstrato para o Congresso brasileiro.

Alguns congressistas reconhecem o peso da opinião pública. “Na atual circunstância do prestígio do Congresso Nacional junto à sociedade brasileira, não vejo nenhuma condição de discutir um tema desse tipo (aumento de salários) ”, afirmou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP).

O aumento dos salários do Judiciário ocorreu um dia depois de serem criadas mais 7.709 vagas de vereadores no Brasil, em votação na Câmara. Teremos quase 60 mil vereadores. Para quê? Alguém consultou a sociedade? O que fará esse novo exército de vereadores? O resultado foi aplaudido com muita emoção. Todos no plenário cantaram o Hino Nacional. Coitado do hino.

O Congresso continua a driblar a moralização do processo eleitoral. O projeto de exigir ficha limpa dos candidatos foi revogado e engavetado. E se acentua o troca-troca de legendas, às vezes envolvendo dinheiro, prestígio e compra de votos. Como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Pelo menos, agora todos sabem que “a mídia passou a ser uma inimiga das instituições representativas”. Sarney disse isso no dia 16 de setembro. Na semana passada, foi divulgada uma conversa de seu filho, o empresário Fernando Sarney, dizendo ao telefone: “Boto quem eu quiser” no Senado. E bota mesmo.

Quem serão os verdadeiros inimigos das instituições representativas? Não deveria ser quem contraria a moral, a ética e os bons costumes?

GOSTOSA


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DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

O presidente-muamba

"Ao receptar o presidente-muamba, Lula conseguiu melar
a disputa eleitoral, impedindo qualquer possibilidade de
saída democrática para a bananada hondurenha"

Celso Amorim é nosso homem em Tegucigalpa. Como o protagonista do romance de espionagem de Graham Greene (na tela, Alec Guinness), ele copiou o desenho de um aspirador de pó e passou a negociá-lo como se se tratasse de algo maior: um plano militar secreto.

O aspirador de pó hondurenho é Manuel Zelaya. Ele representa o eletrodoméstico mais antigo, mais prosaico e mais rumoroso da América Latina: o caudilho bananeiro que dá um golpe para se perpetuar no poder. Mas Celso Amorim, contando com a cumplicidade e a obtusidade de seus chefes, montou uma farsa internacional e contrabandeou o aspirador de pó hondurenho como se ele fosse um defensor da democracia, derrubado ilegitimamente por uma ditadura militar.

Hugo Chávez comandou o retorno de Manuel Zelaya a Honduras. Um jatinho conduziu-o clandestinamente a El Salvador. Ele cruzou a fronteira hondurenha sem ser identificado e, até chegar a Tegucigalpa, percorreu o país escondido no porta-malas de um carro e a bordo de um trator. Os meios utilizados no transporte de Manuel Zelaya denotam claramente sua natureza fraudulenta: ele é o presidente-muamba. Hugo Chávez sempre apoiou os traficantes de drogas das Farc. Agora ele apoia os traficantes de golpistas da Unasul. Só resta descobrir o papel desempenhado por Celso Amorim e Lula nesse comércio ilícito.

Na última semana, Hugo Chávez comparou Manuel Zelaya a Pancho Villa. Pancho Villa tinha um bigode. Pancho Villa tinha um chapéu. Pancho Villa era um bandido. Se Manuel Zelaya de fato é Pancho Villa, onde está Woodrow Wilson, o presidente americano que o combateu? Barack Obama? Nada disso. Segundo Hugo Chávez, "falta firmeza" a Barack Obama.

A "falta de firmeza" de Barack Obama garantiu o sucesso do primeiro putsch lulista. Daqui a dois meses, em 29 de novembro, Honduras elegeria um novo presidente da República. Seis candidatos concorreriam ao cargo, dois deles ligados ao próprio Manuel Zelaya. Ao receptar o presidente-muamba na embaixada brasileira, Lula conseguiu melar a disputa eleitoral, impedindo qualquer possibilidade de saída democrática para a bananada hondurenha. Além disso, seu ato estimulou uma brutal onda de saques a supermercados e a bancos do país. O imperialismo lulista é assim mesmo: Tegucigalpa é nosso quintal, e em nosso quintal quem escolhe o presidente é o nosso presidente. E ele já escolheu: é o aspirador de pó.

DIRETO DA FONTE

Fala que eu te escuto...


O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/09/09

Nunca antes, neste País, governo e oposição conversaram tanto. Depois de José Serra reunir-se com Cândido Vaccarezza no final de semana e com Dilma anteontem, José Aníbal teve longo jantar com Franklin Martins em Brasília, no qual falaram de tudo. E Aécio tem encontro marcado com Ciro para o começo da semana.

Na conversa de Aníbal com o ministro, segundo se apurou, houve algumas divergências. Por exemplo, quando Martins comentou que, no Planalto, há quem ache que Aécio pode ser o adversário mais difícil, pois seu potencial de crescimento é desconhecido.

Corações partidos

Aviso aos amigos dos dois: não convidem Geraldo Alckmin e Gabriel Chalita para viver no mesmo planeta.

Direto ao ponto

Pensando no fim de semana de André Puccinelli, governador do Mato Grosso do Sul, Cláudio Nascimento, do grupo carioca Arco-Íris, mandou-lhe de presente o livro Tornar-se Gay, o Caminho da Autoaceitação, de Richard Isay.

Acompanhado de um bilhete carinhoso: "Caro governador, para sua reflexão..."

Home, sweet home

Eduardo Paes tem motivo dobrado para não querer uma ponte aérea SP-Rio operando entre Jacarepaguá e Campo de Marte.

O prefeito mora na Barra, pertinho do aeroporto.

Em pingo d"água


Orestes Quércia decidiu vestir de vez a camisa.

Semana que vem desembarca no Rio para tentar tirar o PMDB de perto de Dilma.

Outros 500

Com Edu Lobo e Zizi Possi no palco, a Fiat faz grande festa na quarta-feira, no Copacabana Palace, para lançar o Cinquecento.

Que chega em outubro, por algo como R$ 60.000.

Carro de apoio

José Carlos Pinheiro Neto, da GM, falou ontem com Yeda Crusius.

Cumprimentou-a pela promulgação da lei que conferiu benefícios fiscais à expansão da fábrica da GM em Gravataí, de R$ 1,4 bilhão.

Acelerando

Bruno Senna e a irmã Bianca comandaram a festa dos 15 anos do Instituto Ayrton Senna na Embaixada de Roma, no fim de semana.

Em torno de três carros usados pelo piloto: na F-1, na F-3 e na Fórmula Ford.

Hora e vez de Josué

Descoberto por Walter Salles, Vinícius de Oliveira, o Josué de Central do Brasil, alçou voo solo mesmo.

Está no elenco de A Hora e a Vez de Augusto Matraga: o Filme, baseado no conto de Guimarães Rosa.

X da questão

Descoberto: a oferta que Eike Batista fez ao Bradesco, buscando comprar a parte do banco na Vale, incluía "um algo a mais".

Queria que a Vale ficasse com algumas de suas empresas que têm nome que acaba com X.

Finalmentes

Saída para o caso do Banco BMD (que sofreu intervenção há nove anos) à vista.

O Fundo Garantidor de Créditos firmou compromisso para propor solução para o caso.

Mais novidades na semana que vem.

Dama do Rio

Jeanne Moreau escolheu "manteau" desenhado pelo amigo Pierre Cardin para a abertura, anteontem, do Festival do Rio.

Depois foi jantar com Cacá Diegues. E avisou: vai assistir, segunda, ao filme do diretor, Joana Francesa, do qual foi protagonista há 36 anos.

Tipo exportação

A TV Brasil está estruturando canal internacional de notícias em português.

O primeiro foco? África.

Na frente

Jovelino Mineiro abre as porteiras de sua fazenda em Rancharia, SP, para tradicional leilão de gado, dia 4. Os preços serão altos. Afinal, trata-se da única propriedade brasileira habilitada a exportar embriões bovinos para os EUA e Canadá.

É com show de voz e violão de Gilberto Gil que será encerrada a temporada de pré-inauguração do Teatro Bradesco. No Shopping Bourbon, na terça.

Regina Silveira volta-se para o universo infantil e lança O Olho e o Lugar. Hoje, na Livraria da Vila da Lorena.

Em clima intimista, Paulo José vai convidar amigos e colegas de métier para participarem do documentário sobre sua vida. Pedro Freire dirige.

Ed Motta reúne suas grandes paixões, vinho e vinil, no show do dia 2, no Iguatemi.

Acontece amanhã, no Cidade Jardim, a final brasileira do Arno Elite Model.

Rubens Ricupero, José Goldenberg e Cândido Mendes participam, segunda, de homenagens a Franco Montoro e dom Candido Padim, pelos 18 anos do Instituto Jacques Maritain. No Mosteiro de São Bento.

Bastaram 20 minutos para que esgotassem os ingressos de Bastardos Inglórios, dia 7, no Rio. É que Quentin Tarantino, diretor, estará na sessão.

O Parque do Ibirapuera mudando de nome? Foi o que Agnaldo Timóteo pediu na Câmara. Quer que se chame... Parque Michael Jackson.