sábado, agosto 08, 2009

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

Elle, o de sempre

"Quando Collor se cansou de Simon e de Sarney, sobrou
para quem? O colunista que vos fala. O que disse é mentira.
Mais uma vez: MENTIRA. E uma terceira: MEN-TI-RA"

Pode sentir-se defendido quem tem em sua defesa a dupla formada pelos senadores Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello? Há defesas que ferem como ataque. Num primeiro momento funcionam, como funcionou a furibunda blitz desfechada pela dupla contra o senador Pedro Simon, na memorável sessão do Senado da última segunda-feira. A torrente de insultos, insinua-ções e, da parte de Collor, assustadoras caretas lançadas contra Simon intimidou o senador gaúcho a ponto de, como ele afirmaria mais tarde, ter sentido medo físico. Mas o ônus de carregar pela vida afora, e biografia adentro, o fato de ter contado com tais defensores supera o alívio momentâneo. Os senadores do PT sabem disso e conspicuamente procuram se dissociar dos referidos senhores. Já o presidente do Senado, José Sarney, não bastassem os próprios problemas, é refém de um duo cujo abraço aperta, aprisiona e sufoca como tenaz.

O senador Collor superou-se, naquele dia, na utilização dos velhos recursos em favor do novo papel de injustiçado e sofredor. Buscando inspiração no aparelho digestivo, ordenou a Simon que "engolisse" as próprias palavras e "as digerisse como julgasse conveniente". Chamou o honrado senador de "parlapatão". E enquanto isso armava seu impressionante repertório de expressões fisionômicas e exalações corporais, um conjunto que, querendo sublinhar indignação, acaba por revelar um perturbador descontrole. A respiração era pesada como a do touro ao investir contra o pano vermelho. Repetiam-se os estranhos olhos fixos de outras ocasiões. E a alturas tantas, quando se cansou de Simon e de Sarney, sobrou para quem? Quem? Quem? O colunista que vos fala. Disse ele que "o jornalista chamado Roberto Pompeu de Toledo, que costuma sujar a última página de uma revista local, se não me engano a VEJA", procurou o ministro Ilmar Galvão, encarregado, no Supremo Tribunal Federal, de relatar o processo contra ele, Collor, à época do impeachment, e lhe propôs: "Ministro, declare a culpa do Fernando Collor que nós daremos ao senhor a capa e as entrevistas de páginas amarelas da revista". O ministro, indignado, teria expulsado o interlocutor de seu gabinete.

Deus do céu, quanta pretensão, num pobre jornalista, achar que a efêmera glória do bom tratamento num órgão de imprensa pudesse influenciar o julgamento de um ministro do Supremo! Collor acrescentou que Roberto Pompeu de Toledo não poderia desmentir tal episódio. Pode sim. É mentira. Mais uma vez: MENTIRA. E uma terceira: MEN-TI-RA. A conversa que na época o colunista teve com Ilmar Galvão não teve nunca, jamais e em tempo algum o caráter de (ingênua) negociação do julgamento do ministro contra possível tratamento privilegiado em VEJA. Mesmo se, enlouquecido, o jornalista quisesse fazê-lo, não teria poderes, como não tem agora, nem nunca teve, de dispor da capa ou das páginas amarelas da revista. Seu único e singelo objetivo era informar-se. Claro está que se não houve o principal – uma tentativa de negociação – também não houve o secundário – a expulsão do gabinete. Em todo caso, registre-se que o cinematográfico desfecho pretendido pelo senador é outra mentira, MENTIRA, MEN-TI-RA. A entrevista transcorreu em clima de cordialidade.

Como encerrar este artigo? Primeira hipótese: dizer que sujar páginas por sujar páginas, perito mesmo na especialidade é o ex-presidente – no caso, sujar as páginas da história do Brasil. Sentencioso demais. Se os leitores permitem a falta de modéstia, o colunista gostaria na verdade é de congratular-se consigo mesmo. Ao contrário de Sarney, ele não tem Collor como defensor. Tem como acusador. É uma honra.

•••

Por falar em fisionomia, e para arejar o ambiente com caso oposto ao da carranca oferecida por Collor a Simon, a fisionomia do momento, no Brasil, é a do vice-presidente José Alencar. O fato de ele estar impelido a correr de internação em internação, e de operação em operação, dentro daquilo que se convencionou chamar de "luta" contra o câncer, é o de menos. Como ele próprio alega, não dispõe de alternativa. Muitos também o fariam – e fazem –, especialmente quando têm recursos para pagar o tratamento. O que impressiona é a serenidade com que enfrenta o infortúnio, manifestada no sorriso e no jeito bonachão que estampa nas entradas e saídas do hospital. Seu comportamento, na mais decisiva das horas que espera um mortal, cativou o país. A ele seria dedicada a coluna desta semana, se o homem das Alagoas não se interpusesse no caminho. Fica o registro.

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
O Senado está com aquilo roxo
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

“Não nasci com medo de assombração, não tenho medo de cara feia. Isso meu pai dizia desde quando eu era pequeno, que havia nascido com aquilo roxo.” Para quem não se lembra ou não era nascido, essa declaração é de Fernando Collor de Mello, senador do PTB por Alagoas, ex-presidente derrubado por impeachment em 1992. Esse populista de direita de triste memória foi recebido pelo presidente Lula na noite de terça- -feira. Um dia depois de esbugalhar novamente os olhos.

O senador do PMDB Pedro Simon ficou com medo de assombração. Eu também.

Por que falar de Collor, essa figura menor no cenário nacional, um político claudicante? Alguém que iludiu os brasileiros, ao se eleger como “guardião da moralidade”, “caçador de marajás”, prometendo exterminar “com um tiro só o tigre da inflação”, e acabando por confiscar a poupança da classe média? Porque, só no Brasil de Renan Calheiros e José Sarney, Collor voltaria como fiel da balança de alguma coisa. No encontro no gabinete da Presidência, Lula teria tentado convencer Collor a apoiar a entrada da Venezuela no Mercosul.

Sempre tive dificuldade de entender a definição brasileira da expressão “formação de quadrilha” – por ser usada a torto e a direito. Mas os últimos acontecimentos são esclarecedores. A Venezuela que o Palácio do Planalto defende é a de Hugo Chávez, o populista truculento de esquerda que fecha emissoras de rádio e televisão. O aprendiz de ditador que governa por decretos e não se cala nunca. Ligado a grupos terroristas como as Farc colombianas.

A coluna da jornalista Miriam Leitão no jornal O Globo de quinta-feira 6, “Hasta cuando”, é de leitura obrigatória para quem deseja entender por que a diplomacia brasileira é severa com a Colômbia de Uribe e condescendente com a Venezuela de Chávez. Na página 96 desta edição, ÉPOCA trata com profundidade o assunto: os dois pesos e duas medidas do Planalto e do Itamaraty. Parodiando o assessor especial para Assuntos Internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia, o que “não está no gibi” é a tolerância brasileira com as violações de direitos na Venezuela.

Só no Brasil de Renan e Sarney, Collor poderia voltar
como o fiel da balança de alguma coisa

Por que falar do carioca Collor? Porque sua postura de cabra-macho desequilibrado parece ter contaminado de vez as figuras da República. Não há pudor. A Casa-grande agora tem “tropa de choque”, e não é de elite. A baixaria, os insultos, os palavrões invadem os lares brasileiros. Os senadores parecem orgulhar-se de ter aquilo roxo. Quando jornalistas perguntaram a Collor o que ele achava da interpelação do gaúcho Pedro Simon, ele respondeu: “Manda ele ir...” e entrou no carro. Collor mandou Simon “engolir as palavras” e o proibiu de mencionar seu nome. Ao ser reabilitado, Collor parecia ter domado os surtos. Ilusão.

O embate entre o alagoano Renan Calheiros e o cearense Tasso Jereissati diante de um maranhense apático (Sarney) um dia será reproduzido em alguma novela das 8 – até agora nenhum roteirista teria ousado tanto com medo de ser processado. Mas o tratamento Vossa Excelência parece ter sido arquivado na vida real. Agora, eles se tratam por “coronel de m....” e “cangaceiro de terceira categoria”.

– Me respeite! Me respeite! Eles se gritam.

Nos respeitem, porque está duro defender a instituição. As instituições são compostas de homens. No caso, homens eleitos. Sua maior qualidade deveria ser a integridade, a decência, a compostura, já que representam o povo e são pagos por nós.

A melhor frase da semana foi de Paulo Duque, do PMDB do Rio de Janeiro e presidente do Conselho de Ética do Senado, sobre o discurso de Sarney – coalhado de imprecisões. “Achei o discurso muito bonito, muito adequado, muito verídico.” Não entendi o advérbio de intensidade. É estilo, ou agradecimento salivoso a quem resgatou da obscuridade o senador de 81 anos? Existe discurso “pouco verídico”?

Neste domingo, Dia dos Pais, com que cara esses senadores olharão para seus filhos? Se alguém soltar um palavrão na mesa, se o bate-boca se generalizar, não poderão fazer cara feia. Terão de engolir.

GOSTOSA


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MERVAL PEREIRA

A ética de cada um

O GLOBO - 08/08/09

Como bem disse o senador José Sarney no seu patético discurso de defesa, “ética é conduta”. E justamente na conduta de certos senadores, inclusive ele, está a explicação para o fato de que não é possível nivelar por baixo a atuação parlamentar. Não creio que o principal seja o julgamento deste ou daquele senador, mas sua postura diante do que fez, ou do que está acontecendo. A isso chama-se “ética”, conceito que varia de acordo com os tempos e os costumes. Roberto Romano, professor de filosofia da Unicamp, lembra que, se fizermos um levantamento da história do Ocidente, “encontramos pelos menos uns cinco paradigmas éticos fundamentais que foram se misturando com o tempo”

A cada vez que se tem um paradigma que permeia todas as relações sociais e políticas, a ética vai junto, comenta Romano. Mas, para falar de ética, ele ressalta que é preciso falar de uma virtude chamada prudência. “A lei geral vale para todo e qualquer indivíduo, mas, se você aplicar a lei sem nenhuma gradação, sem nenhuma consideração prudente, você faz um trabalho monstruoso”.

É nesse sentido que é preciso separar a atuação do senador Arthur Virgílio, que assumiu seus erros, dos que lutam para preservar os privilégios e manter a situação como está. Para Roberto Romano, “a doutrina das penas não pode dosar a pena igualmente, sem considerar a situação de tempo, espaço, a pessoa”.

Do ponto de vista da ética, do decoro, para o ex-dominicano Roberto Romano, “o senador Arthur Virgílio tem pecados veniais, enquanto está sendo massacrado por um Renan Calheiros que está cheio de pecados capitais”.

O fato é que o costume que vigorava no Congresso permitia desvios como os praticados pelo senador Arthur Virgílio e pela grande maioria dos senadores, e dos deputados: uso de verba indenizatória indiscriminadamente, passagens de avião para parentes e amigos, nomeação de parentes para seu gabinete ou para gabinetes de congressistas amigos, no cruzamento de favores, e até mesmo manter um funcionário pago pelo Senado em estudo no exterior, sem que fossem obedecidos os trâmites legais para essas situações.

Toda essa prática passou a ser inaceitável pela sociedade, e o que os congressistas deveriam ter feito era um mea culpa, como fizeram o tucano e diversos outros deputados e senadores no caso da verba indenizatória e das passagens de avião, e a partir daí colocarem mãos a obra para reformar a gestão do Congresso.

Mas seria preciso primeiro que o próprio presidente Sarney admitisse que os seus hábitos políticos estavam equivocados, deslocados no tempo, e se dispusesse a reformálos, como fez o líder tucano Arthur Virgílio, ou o deputado Fernando Gabeira, do PV. E, sobretudo, investigar o fato mais grave entre todos, a responsabilidade pelos decretos secretos e pela atuação do diretorgeral do Senado nomeado por ele 15 anos atrás.

Ao contrário, Sarney tenta sustentar o insustentável e até mesmo quando fez a coisa certa — devolver o dinheiro do auxílio-moradia — tenta passar à opinião pública a ideia que o fez por vontade própria, pois tinha direito a usá-lo.

Mostra, dessa maneira, que não está em condições de comandar a reforma administrativa que o Senado precisa.

Há uma diferença grande entre as duas posturas, e já que não estamos na Inglaterra, onde os deputados que gastaram abusivamente a verba indenizatória renunciaram aos mandatos, pelo menos demos um pequeno passo à frente com a atitude desassombrada do líder tucano, contrastando com as chantagens usadas por Renan Calheiros.

Marcílio Marques Moreira, ex-ministro da Fazenda e expresidente do Conselho de Ética Pública, ressalta que “esse ‘ethos’ (ética) pode ir mudando de acordo com a sociedade, como mudou na Grécia do ethos heróico do Homero para o ethos do trabalho, um pouco espelhando também as próprias condições daquela sociedade”.

Ele acha que no mundo todo tem havido um movimento no sentido de normas mais rigorosas, citando o caso recente dos políticos ingleses, que renunciaram ao Parlamento por “coisas de certa maneira semelhantes, com algumas analogias de utilizar recursos públicos para fins privados, caracterizando o conflito de interesses, aquele aspecto de maior risco da atividade pública”.

Marcílio vê um lado positivo no que está acontecendo em Brasília, significaria que estamos em uma transição, “mas todas transições são penosas”, ressalta. Enquanto não se consolida uma nova hierarquia de valores, “fica um espaço, um vazio, que pode aumentar muito esses conflitos. Apesar de haver retrocessos, acho que estamos evoluindo”.

O que o preocupa é justamente que “algumas pessoas querem transformar o hábito de desvio de conduta na norma, e esse é o perigo, a resistência à mudança”.

Para João Ricardo Moderno, presidente da Academia Brasileira de Filosofia e professor de filosofia na Uerj, a origem da crise está na mudança da capital para Brasília, e tem base filosófica, que é a interpretação que se deu ao positivismo de Augusto Comte: o poder não pode ficar próximo da população, tem que ficar longe para pensar as melhores soluções para os problemas nacionais.

Para Moderno, “a capital federal tem que coincidir com a capital cultural, que requalifica o poder”. Para ele, o que está acontecendo é que o “neo-patrimonialismo brasileiro criou uma capital estatal, com todas as mordomias e benefícios, criou-se uma cultura local de que é um sacrifício ir para Brasília e que você tem que ter vantagens para estar lá, compensar o sacrifício”.

Essa política provocou “uma multiplicação das benesses, que criou uma cultura do benefício legal e uma paralela, do benefício ilegal, que se confundem”.

O privado invadindo o público foi incentivado por medidas como o salário dobradinha, o apartamento funcional, acabando por criar “uma categoria extremamente especial, a dos servidores públicos.

Brasília é a capital que tem o maior poder aquisitivo do país e não produz nada”, diz ele.
(Continua amanhã)

PANORAMA

REVISTA VEJA
Panorama

Holofote


Felipe Patury

O cenário paulista

Folha Imagem


Uma pesquisa confirma o favoritismo do tucano Geraldo Alckmin em uma eventual campanha para governador de São Paulo em 2010. O levantamento feito pelo instituto Opinião, ligado ao PSDB, atribui a Alckmin de 53% a 63% das intenções de voto. A variação ocorre quando se muda a lista de candidatos. Depois de Alckmin, quem aparece melhor é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com 45% em alguns dos trinta cenários analisados. O socialista Ciro Gomes só chega à liderança quando não é confrontado com Alckmin ou Kassab. As pontuações máximas dos petistas Marta Suplicy e Antonio Palocci são de 33% e 12%, respectivamente. O estudo ainda aferiu as preferências dos paulistas para presidente. O governador paulista, José Serra, tem 55% das intenções de voto, Ciro Gomes, 16% e a petista Dilma Rousseff, 12%.

O dedo do PT

Claudio Cunha

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, atribui ao petista Fernando Pimentel uma manobra que prejudica sua candidatura ao governo de Minas Gerais. A amigos, ele disse que foi Pimentel quem urdiu a candidatura do deputado estadual Adalclever Lopes à chefia do PMDB mineiro. Patrocinado pelo ex-governador Newton Cardoso, Lopes é considerado um risco para as ambições de Costa. Para anular o golpe dos adversários, Costa decidiu entrar também na disputa pela direção do PMDB de Minas Gerais.

O mentor de Carvalho

Beto Barata/AE


Habitualmente reservado, o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, passou a expor um pouco da sua intimidade. Agora, ele distribui aos amigos um DVD sobre a vida de seu guia espiritual, o padre Alfredinho. Suíço, Alfredinho levou, no Brasil, uma vida de missionário mendicante. Morou em zonas de prostituição, nas ruas e em favelas. Sua influência sobre o futuro confidente de Lula foi tal que Carvalho, então seminarista, chegou a se mudar para uma favela em Curitiba para morar com Alfredinho. Lá, participou da fundação do PT paranaense.

Rebelião no DEM

José Cruz/ABR


Nove dos catorze senadores do DEM se comprometeram, dez dias atrás, a eleger o goiano Demóstenes Torres para a liderança do partido em 2010. A decisão frustra os planos do atual líder, José Agripino Maia (RN), que está há oito anos no cargo e tinha a bênção da cúpula do partido para fazer do baiano ACM Júnior o seu sucessor.

Na cartolagem, pela lateral

Gustavo Scatena


O lateral Roberto Carlos, jogador do clube turco Fenerbahçe, se associou ao meia Juninho Paulista para comprar o Ituano, clube paulista que disputa a quarta divisão do Campeonato Brasileiro. Os neocartolas não puseram um real no negócio. Entraram apenas com a obrigação de manter as contas em dia por cinco anos. A dupla pretende contratar cinco jogadores para o próximo Campeonato Paulista da primeira divisão, construir um estádio e um centro de treinamento. O dinheiro para esses investimentos será captado junto a empresas turcas e árabes.

Mais uma coincidência aérea no Ceará

Jarbas Oliveira

Em maio, o Ceará concluiu uma licitação para alugar um helicóptero para o governador Cid Gomes, do PSB. As características do edital levaram o estado a selecionar um EC-130, um dos mais silenciosos do mercado. Coincidência: o único aparelho disponível desse tipo no Ceará pertence à Terral Taxi Aéreo, de Dilson Araújo, irmão do empresário de quem Cid alugou um jatinho para levar sua família em uma viagem ao Caribe e outra pela Europa, no ano passado. O governador poderá voar no helicóptero por 1 000 horas durante um ano inteiro. A Terral fechou esse contratão sem dar nenhum desconto: o Ceará pagará por hora do helicóptero o mesmo que quem aluga o aparelho no balcão da empresa.

BRASÍLIA - DF

VIAGEM

Luiz Carlos Azedo com Guilherme Queiroz




CORREIO BRAZILIENSE - 08/08/09

De viagem marcada para o Equador, hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva leva a notícia de que o Congresso Nacional aprovou o acordo que autoriza a venda de 24 aviões Super Tucano para o país do presidente Rafael Correa. O negócio deve movimentar US$ 240 milhões para a Embraer. As aeronaves serão destinadas a patrulhamento e treinamento de pilotos.

Aliança no Pelourinho

A aliança PT-PMDB se rompeu no quarto colégio eleitoral do país, a Bahia. Frustra-se, com isso, a possibilidade de uma união tão robusta entre os dois partidos no Nordeste que seria capaz de levar à derrocada, com apoio do Rio de Janeiro, a hegemonia tucana no Sul Maravilha. O confronto entre o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), que retirou seus aliados do governo estadual e se lançou candidato a governador, é uma derrota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que articula candidaturas únicas dos dois partidos nos estados governados por um deles.

O presidente da República bem que tentou evitar o rompimento, mas não conseguiu. Geddel continua no ministério, como um dos artífices da coalizão que incorporou o PMDB em bloco ao governo Lula, mas sempre foi visto como um potencial aliado dos tucanos. Sua candidatura pode ser um segundo palanque para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), mas o preço será alto para Lula: seu amigo Wagner deixaria de ser o candidato preferencial do governo federal.

A conta

O governador Jaques Wagner pôs a conta do rompimento na mesa de Geddel, que enviou as cartas de demissões dos secretários peemedebistas Rafael Amoedo (Indústria e Comércio), Batista Neves (Infraestrutura) e do pai, Afrísio Vieira Lima (presidente da Junta Comercial da Bahia) por um contínuo, às 23h, direto para a residência oficial do governador, em Ondina.

Aposta

O diagnóstico da crise baiana é como um copo pela metade: se a situação de Dilma for boa, Geddel ficará na base: se for uma campanha difícil, o ministro da Integração Nacional migrará para o palanque do bloco PSDB-DEM-PPS. Como Lula é otimista, mantém o peemedebista baiano no governo.

Transposição

A visita de Lula à Bahia, inicialmente prevista para dia 3 de setembro, será novamente adiada, por falta do que ver nos programas do São Francisco. A execução orçamentária do Ministério da Integração é das mais baixas da Esplanada.

Amém

Cresce o contencioso entre o alto clero católico e os educadores por causa do acordo do governo brasileiro como Vaticano, que prevê o ensino religioso nas escolas públicas. O lobby de outras religiões entrou em campo contra a proposta, que restaura um privilégio da Igreja Católica incompatível com o republicanismo. O assunto ainda depende de aprovação do Congresso.
No cafezinho



Chuteiras - O ex-presidente da República Itamar Franco roubou a cena, ontem, na abertura do congresso do PPS no Rio de Janeiro. Recém-filiado ao partido, disse que está no banco de reservas, aguardando a hora de ser escalado pelo técnico, o presidente da legenda, Roberto Freire, para entrar em campo na disputa de 2010. Aliado do governador mineiro Aécio Neves, Itamar não descarta apoiar José Serra, mas diz que o governador mineiro é que se apresenta como candidato do PSDB. "Serra não assumiu a candidatura até agora", critica. Itamar faz mistério sobre o cargo ao qual pretende se candidatar. Serra e Aécio participaram da abertura do Congresso.

Arrozeiros - Agricultores desalojados da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, liderados por Paulo César Quartiero, estão de mudança para a Guiana. Se o acordo com o governo vizinho for fechado esta semana, as máquinas já devem atravessar a fronteira para a região de Pirara, a 120km da reserva, área que fazia parte do território brasileiro até 1904. Eles negociam com ogoverno do país vizinho a cessão de 50 mil hectares para o cultivo de grãos em larga escala.

Cruel - Depois de mandar arquivar todas as representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), se prepara para acolher a representação do PMDB contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio Neto (AM). A cassação do tucano virou obsessão do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL). Duque não vacila e deixa a bancada do PT na condição de pizzaiolos.

Gula - Uma ala do PMDB fluminense fez uma conta que pode comprometer a tradicional aliança com o PP no Rio de Janeiro. Um esboço traçado esta semana dos pré-candidatos à Câmara dos Deputados chegou a 18 nomes competitivos. O PMDB tem hoje 10 deputados federais e quer ampliar sua bancada para 12, em 2010. Três deputados progressistas terão que procurar outra coligação.

TREPADA


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CLÓVIS ROSSI

Drogas e irrealismo

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/08/09

SÃO PAULO - É simpática, mas irrealista, a tese do presidente Lula de que os países sul-americanos devem assumir o combate ao narcotráfico sem "ingerências externas" (leia-se Estados Unidos). Seria ótimo, de fato, desde que cumpridas pelo menos as seguintes condições:
1 - Fosse possível confiar em Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, que já disse que Caracas tem "o maior respeito" pelo projeto político das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, grupo que transitou da luta política para o narcoterrorismo sem escalas).
Essa declaração não foi inventada pela "mídia golpista", mas feita em cerimônia pública. Nunca foi nem mesmo levemente retificada.
Mais: Chávez chamou a turma das Farc de "insurgentes", em vez de bandoleiros, que é a qualificação correta. Como é que se pode confiar em quem tem essa visão torpe, ainda mais sendo vizinho da Colômbia, base das Farc e maior produtor de drogas?
2 - Seria preciso ainda que se esclarecesse como é que dinheiro das Farc foi parar na campanha eleitoral de Rafael Correa, o que fica claro em vídeo difundido pelo próprio governo Correa, no qual um dos líderes do narcoterrorismo lamenta a inutilidade do financiamento.
Um ex-chefe de polícia equatoriano já disse que Gustavo Larrea, que viria a ser ministro do Interior de Correa, reuniu-se com as Farc. Larrea foi demitido, OK, mas é ou era o único canal?
3 - Nenhum dos países sul-americanos tem uma ficha propriamente brilhante em matéria de combate ao crime organizado, para o qual as drogas são o principal negócio. A soma de fracassos individuais resultará em êxito coletivo?
Por fim, é irrealista excluir do combate o país (Estados Unidos) que é o maior consumidor de drogas. Não dá, como é óbvio, para eliminar a oferta se a demanda se mantém poderosa.

MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA
Maílson da Nóbrega

A ilusão sobre a reforma tributária

O erro foi atribuir o ICMS aos estados. Nos outros países,
o tributo cabe ao governo central, que o reparte com as outras
esferas. É que essa forma de tributar precisa ser harmônica

A carga tributária atingiu 35,8% do PIB. Chegou a hora da reforma? Difícil. Ilude-se quem espera mudança e simplificação. Pode até piorar, caso passe o projeto que está no Congresso, que muda ou cria 381 normas.

Países de renda média como o Brasil têm carga tributária em torno de 20% do PIB. Casos de Chile, México e China. A nossa é semelhante às de Inglaterra, Alemanha e Nova Zelândia. Supera as de Canadá, Japão e Suíça. É 27% maior do que a dos EUA. Parece buscar o nível dos países nórdicos (perto de 50% do PIB).

A carga tributária dos países ricos reflete sua renda e riqueza. Nos acima mencionados, a renda per capita média, pela paridade do poder de compra, é quatro vezes a brasileira. Por isso, pelo menos a metade de sua arrecadação vem da tributação da renda e da propriedade (23% no Brasil).

Em 1988, nossa carga era de 22,4% do PIB. Sua impressionante elevação derivou da farra fiscal da Constituição de 1988 e, a partir do Plano Real (1994), de aumentos reais de 120% do salário mínimo, que reajusta dois de cada três benefícios do INSS.

A Constituição foi um desastre fiscal em quatro atos: (1) aumentos insustentáveis de aposentadorias; (2) vantagens obscenas para servidores públicos; (3) maiores vinculações de receitas a despesas e transferências da União para estados e municípios; e (4) atribuição de poderes aos estados para legislar sobre o ICMS.

Antes, em 1965, havíamos herdado um razoável sistema tributário. Introduziu-se a tributação do consumo pelo valor agregado, mais racional e hoje praticada em mais de 100 países. O Brasil, pioneiro na América Latina com o IPI e o ICM (depois ICMS), o adotou antes de países europeus.

O erro foi atribuir o ICMS aos estados. Nos outros países, o tributo cabe ao governo central, que o reparte com as outras esferas. É que essa forma de tributar precisa ser harmônica no mesmo espaço econômico. Daí a prioridade que os países integrantes da União Europeia atribuem à harmonização.

No início, uma lei complementar e o Senado fixavam as normas e alíquotas do ICM, respectivamente. Brechas legais provocaram guerra fiscal, exigindo a criação de um conselho com representantes da União e dos estados (o Confaz) para harmonizar as regras. Se envolvessem incentivos fiscais, precisavam de aprovação unânime.

A Constituição confundiu harmonia com autoritarismo e liberou geral. Os estados ganharam o poder de legislar sobre o ICMS. Surgiram 27 legislações e incontáveis normas e alíquotas. Uma bagunça. Ultimamente, no combate cego à sonegação, os estados ampliaram o uso da substituição tributária, pela qual o ICMS é cobrado na fonte de produção. Mais bagunça, distorções e perda de eficiência econômica.

De 1988 até agora, os gastos com pessoal, previdência, vinculações, juros e outros igualmente obrigatórios formaram uma despesa pública rígida de 35% do PIB. Foi preciso aumentar tributos para financiar a festa. Três quartos da elevação se explicam pelos gastos previdenciários, que passaram de 4% para 13% do PIB de 1988 para cá.

Dado o nosso nível de renda, recorreu-se crescentemente a impostos sobre o consumo e cada vez mais sobre setores que não sonegam: automóveis, combustíveis, energia elétrica e telecomunicações, dos quais vem mais da metade da arrecadação do ICMS. O Brasil se tornou campeão de tributação nesses setores. Novas distorções.

Os tributos sobre o consumo penalizam mais as classes de menor renda. Entre 1996 e 2008, passaram a representar 54% da renda das famílias que ganham até dois salários mínimos, contra 29% das que percebem mais de trinta salários. Nesse período, o aumento da carga foi pior para as famílias pobres: tomou mais 26% de sua renda (11% nas maiores rendas). O sistema tributário ficou socialmente perverso.

A rigidez da despesa inibe a redução da carga tributária. A substituição tributária agrava os efeitos distorcivos do ICMS. O aumento dos gastos correntes, que piorou no governo Lula, escanteia os investimentos. Mudar tudo isso implica contrariar poderosos interesses e enfrentar complexas negociações. Não há liderança política disponível para o desafio. Ainda bem que o Brasil tem dado certo em outras áreas.

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VOANDO NO LOMBO DO POVO

Senadora usou cota aérea para turismo

LEONARDO SOUZA
Folha de S. Paulo - 07/08/2009

Rosalba Ciarlini (DEM-RN) custeou passagens e hospedagem em viagens nacionais e ao exterior para ela, parentes e amigos

Suplente do Conselho de Ética, senadora diz que cota podia ser utilizada "para o deslocamento" de pessoas que se julgasse "conveniente"



DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Suplente do Conselho de Ética do Senado, Rosalba Ciarlini (DEM-RN) usou verba pública para pagar viagens de turismo para ela, marido, filhos, além de outros parentes, amigos, o advogado e a mulher do advogado, no país e no exterior. Custeou passagens e, em alguns casos, até estada em hotéis.
Em seu primeiro mandato, ela bancou essas despesas com recursos de sua cota aérea, criada para permitir o deslocamento de congressistas no exercício da atividade parlamentar. O ato do Senado que regulamenta a concessão das passagens não prevê o uso da cota para pagamento de hotel.
A Folha obteve mais de 320 páginas de cartões de embarque e comprovantes de passagens e hospedagem descontadas da cota da senadora de maio de 2007 a fevereiro de 2008, somando cerca de R$ 160 mil. Foram mais de 240 viagens em menos de 300 dias -quase uma passagem por dia. Mais da metade dos bilhetes (124) foi emitida em nome de membros das famílias Ciarlini e Rosado (sobrenome de seu marido, Carlos Augusto).
Rosalba é o primeiro caso detalhado no Senado de descontrole no uso da cota aérea a vir a público. Em abril, foram dezenas de exemplos na Câmara, no escândalo conhecido como a "farra das passagens".
A senadora financiou, por exemplo, a vinda de sua filha Karla e do genro alemão Jan Nabendahl de Frankfurt para Natal, em novembro de 2007, ao custo de R$ 5.813. Presenteou outro membro da família, Luana Rosado, e uma pessoa chamada Tricia Maia com uma viagem para Lisboa, Barcelona e Paris, no valor de R$ 7.457.
Em 29 de fevereiro de 2008, Rosalba viajou para Estrasburgo, cidade turística francesa, onde passou duas semanas. Os bilhetes custaram R$ 3.376. No requerimento para se ausentar do país, ela só informou atividades de interesse parlamentar entre 4 e 8 de março.
Ela custeou também a hospedagem de seu filho Carlos Eduardo no Marina Park Fortaleza em junho de 2007. Nos dias 19 e 20 de julho, em pleno recesso, pagou a estada dela, do marido, do filho, do advogado Paulo Fernandes e da mulher dele, Olindia Fernandes, no Gran Meliá Mofarrej. A conta somou R$ 2.212,70.
Rosalba é cria política do líder do DEM no Senado, o também potiguar José Agripino Maia, e está em primeiro lugar na corrida para o governo do Rio Grande do Norte, em 2010, de acordo com pesquisas encomendadas por seu partido.
Apesar de dizer que não se recorda de todos os voos e gastos citados pela Folha, ela confirmou que usou sua cota para pagar passagens e estada para parentes, amigos e o advogado.
"Antes, [a cota] era vista mais como uma complementação que era de uso do parlamentar, que ele podia usar para o deslocamento seu, do cônjuge, de dependentes ou de pessoas que achasse que era conveniente."
Questionada se não sabia que é irregular o pagamento de hospedagem e passagens para parentes e amigos em situações sem relação com a atividade parlamentar, respondeu: "Eu cheguei aqui, senadora nova, a orientação era essa".
Até maio, o ato que regulamentava o uso da cota previa cinco bilhetes de ida e volta por mês para cada congressista, tendo como referência trechos (com tarifa cheia) que passam por Brasília, Rio e a capital do Estado do congressista. Por essa regra, a verba mensal de Rosalba era de cerca de R$ 22.400. O ato permitia acúmulo de recursos não usados, mas não abria a possibilidade para gastos com hospedagem nem custeio de viagens de turismo.
Em abril, após a revelação de gastos considerados abusivos no Congresso, a Mesa editou novo ato regulamentando o uso da cota. Foram criadas restrições, mas não foi aberta a hipótese de usar com estada.
A Diretoria Geral informou que o contrato com a empresa encarregada de gerir as despesas aéreas dos senadores, a Sphaera Turismo, prevê a prestação de outros serviços afins. Contudo, a própria Diretoria Geral confirmou que o novo ato não prevê o uso da cota para pagamento de hospedagem.

PAINEL DA FOLHA

Para PT, Marina já foi

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/08/09

Os apelos públicos, assim como os "gestos de carinho", continuarão nos próximos dias, mas, em privado, a maioria dos caciques petistas avalia que Marina Silva está de cabeça feita e irá mesmo deixar o partido para disputar a Presidência pelo PV.
Não que isso tenha deixado de assustar o PT, interessado em garantir a Dilma Rousseff o conforto de enfrentar exclusivamente o candidato tucano. Apenas ninguém acredita que pregações dos irmãos Viana (Tião, senador, e Jorge, ex-governador do Acre) resolvam a parada. Nem mesmo do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Quanto ao presidente, quem o conhece bem acha que ele só chamaria Marina (se é que chamaria) caso tivesse certeza prévia de um resultado positivo. E o prognóstico não é esse.




Concílio 1. Marina mandou buscar as irmãs, que moram em colônias agrícolas no interior do Acre, para uma reunião de família sobre o convite feito pelo PV.

Concílio 2. Outros dois conselheiros privilegiados da senadora são o governador Binho Marques (PT), amigo desde os tempos da faculdade, e o arcebispo de Porto Velho, d. Moacyr Grechi, a quem Marina considera um segundo pai. Ele foi o primeiro a lançá-la candidata a presidente.

Exércitos. "Agora será a tropa de choque contra a tropa do cheque", proclamou um ainda exaltado Renan Calheiros (PMDB-AL) a aliados em jantar na quinta-feira pós-tiroteio no Senado. Foi no restaurante Bottarga, que fica numa loja de artigos de luxo no Lago Sul, em Brasília, e é o novo QG dos sarneysistas.

Fila. A agressividade de Renan na tribuna tem um componente bem racional: o líder do PMDB sabe que, se José Sarney for removido, ele será o próximo na linha de tiro.

O infiltrado. Chama-se Hezir Espíndola Gomes Moreira o responsável por acender o pavio de Tasso Jereissati (PSDB-CE) na sessão de quinta. Enquanto Renan lia a representação contra Arthur Virgílio (PSDB-AM), ele ficou chamando o líder tucano de "vestal", até Tasso pedir que fosse tirado de plenário. Criador do blog "Fica Sarney", Moreira é ligado à família.

Largada. O primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), assinou a abertura de processo contra o ex-diretor de RH João Carlos Zoghbi, por ter instalado o filho num imóvel funcional.

Revoada 1. Às voltas com a denúncia do Ministério Público Federal e com a abertura de nova CPI, a governadora gaúcha Yeda Crusius (PSDB) deverá sofrer em breve uma debandada de secretários.

Revoada 2. O primeiro a desembarcar deverá ser o PMDB, a pedido do senador Pedro Simon, padrinho de indicações no Banrisul. Quem ainda resiste no partido é o deputado Eliseu Padilha, que indicou o secretário de Habitação, Marco Alba.

Presentinho. Os deputados estaduais do Paraná começaram a receber oito diárias mensais de R$ 650, pagas independentemente de viagens ou comprovação de gastos. A Assembleia não publicou ato criando o benefício.

Então tá. Para emendar o "feriado" de terça-feira, Dia do Advogado, o TRF da 3ª Região apelou para a gripe suína: expediente suspenso por "recomendações médicas".

Visita à Folha. Kátia Abreu (DEM-TO), senadora e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), visitou ontem aFolha, onde foi recebida em almoço. Estava acompanhada de Marcelo Garcia, secretário executivo da CNA, Moisés Gomes, superintendente técnico, Marcelo Cordeiro, assessor jurídico, Vanda Célia Oliveira, assessora de imprensa, e Ana Cláudia Rodrigues, secretária pessoal.

com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

Tiroteio

Foi a sessão mais deplorável a que já assisti no Senado. Não queria ver minha foto naquela moldura.


Do líder do PT, ALOIZIO MERCADANTE, explicando por que preferiu permanecer em seu gabinete durante a conflagrada sessão de anteontem; Tião Viana era o único petista no plenário.

Contraponto

Sem escalas Ao lado de representantes da cúpula do Judiciário, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) participou na terça-feira de solenidade na qual o presidente Lula sancionou a lei que cria 230 novas varas federais no interior do país.
Numa alusão à crise que assola a Casa comandada por José Sarney, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, brincou com Torres:
-Mas não se costumava dizer que o Senado era o céu?
O "demo" aproveitou a deixa:
-Pois é, mas não podemos esquecer que o Diabo nada mais é do que um anjo caído...

GOSTOSA


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BETTY MILAN

REVISTA VEJA
Betty Milan

Os machistas sobrevivem

"Apesar de a revolução sexual datar de meio século atrás,
o machismo ainda determina o cotidiano de muitas pessoas,
em especial por causa da identificação delas com os seus
familiares mais próximos"

Machismo rima com arcaísmo, palavra que se refere a algo que está fora de uso. No entanto, o machismo continua a vigorar, como mostra a mensagem que uma leitora enviou para a minha coluna em VEJA.com. Ela escreveu que, para falar de sexo, o pai usava expressões que eram de dar nojo, e, quando brigava com a mãe, chamava-a de "geladeira". Contou ainda que tem 31 anos e é casada com um "homem maravilhoso", apesar de o sexo ser péssimo porque ela não tem vontade de transar.

Pudera! Ela é filha de pais cuja ética é a do machismo, que desautoriza o desejo feminino – condenando, por exemplo, a mulher a ser uma "geladeira". Essa ética se manifesta na letra de várias canções da música popular brasileira. Quem não ouviu "Ele é quem quer / ele é um homem / eu sou apenas uma mulher", na voz de Caetano Veloso? Ou "Na presença dele me calo / eu de dia sou sua flor / eu de noite sou seu cavalo / a cerveja dele é sagrada / a vontade dele é a mais justa", de Chico Buarque? Nesse contexto, há um só desejo legítimo, o do homem – e a mulher deve se retrair.

John Rush/Getty Images


A história da leitora mostra a assimetria entre o mundo das ideias e a realidade. Apesar de a revolução sexual datar de meio século atrás, o machismo ainda determina o cotidiano de muitas pessoas, em especial por causa da identificação delas com os seus familiares mais próximos. A filha de um homem cujo discurso provocava nojo de sexo e de uma mãe frígida não tem como ser sexualmente feliz, a não ser que faça a crítica do discurso dos pais. Ser crítico, no caso, significa sustentar o "não" que nos libera. Ao contrário do que comumente se supõe, tal negativa nada tem a ver com um ato de desamor. A desobediência deve ser praticada sempre que ela se impõe, e isso pode ser feito com delicadeza. Não implica necessariamente ruptura.

A fantasia de que o "não" é sinônimo de rejeição nos paralisa. Mas não é possível viver sem dizer "não", porque nós nascemos de um pai e de uma mãe que, além de desejar a nossa vida, consciente ou inconscientemente, planejaram o nosso futuro sem nos consultar. O escritor Deonísio da Silva fez uma menção bem-humorada a esse fato, por meio da seguinte frase: "Minha mãe teve vocação para eu ser padre". Quem não se reconhece nela? Ousaria dizer que todos nos reconhecemos. As mães – e os pais – podem ter sonhos para os filhos. É inescapável também que procurem infundir-lhes suas visões e preconceitos. É humano. Mas é igualmente humano dizer "não", quando este aponta o caminho para uma existência mais livre e digna.