quinta-feira, julho 09, 2009

CLÓVIS ROSSI

Áquila : Por que não falas?


Folha de S. Paulo - 09/07/2009

Se o Brasil quer mesmo assumir um papel mais relevante na governança global, tem uma urgente lição de casa a fazer: reformular totalmente seu sistema de informações durante eventos internacionais de que participa, em especial quando está o presidente da República.
Explico: eu estou muitíssimo mais bem informado sobre o que fez o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no Iraque, a milhas e milhas daqui, do que sobre as atividades de Luiz Inácio Lula da Silva, embora tenhamos passado toda a tarde e uma parte da noite a poucos metros um do outro.
Por quê? Porque a Casa Branca, especialmente depois da posse de Barack Obama, me abastece com uma tonelada de informações por e-mail, que vão desde nomeações que a administração submete ao Congresso até os chamados "briefings" (jargão jornalístico para sessões informativas), nos quais um funcionário graduado dá todos os detalhes sobre, por exemplo, o que rola no G8 ou qualquer outro G.
Com a liberdade que lhe dá saber que seu nome não aparecerá. Que fique claro: não é uma invenção recente nem exclusividade norte-americana. Exemplo de ontem: os jornalistas brasileiros ficamos sabendo pela boca de Kazuo Kodama, diretor-geral de Imprensa e Relações Públicas do governo japonês, o que se discutiu no almoço de trabalho dos líderes do G8. Dos líderes do G5, de que faz parte o Brasil, só o comunicado oficial e meia dúzia de palavras de cada um dos cinco, Lula inclusive, que pouco acrescentaram ao comunicado.
Cria-se então a seguinte insólita situação: os jornalistas brasileiros sabemos o que fez e disse o governo japonês, mas não sabemos (nem os jornalistas japoneses) o que disse e fez o governo brasileiro. Com perdão pelo óbvio: informação também é poder -e quem não se comunica se trumbica, como dizia Chacrinha.

JANIO DE FREITAS

O gol de Ronaldo

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/07/09


A informação de Ronaldo traz colaboração importante, se não para inquérito, por certo para uma biografia de Lula



CONHECIDAS OUTRAS relações suspeitas ou comprometedoras entre Lula e ao menos uma empreiteira, nem a alienação dos grã-finos da oposição, nem artimanhas ou equívocos de transcrição podem obscurecer a gravidade da informação dada pelo jogador Ronaldo sobre outro comprometimento do próprio presidente da República com empreiteiras.
Em contraste com as versões publicadas no noticiário como se literais, mas todas abrandando a frase objetiva e clara de Ronaldo, Tostão, o cronista craque, fechou sua coluna de ontem com uma nota, "Absurdo", que repõe sentido e tempos verbais adequados ao original: "Ronaldo disse no programa "Bem, Amigos", do SporTV, que o presidente Lula tem ajudado bastante o Corinthians por meio de contatos com empreiteiros para a construção do centro de treinamento do clube! Absurdo um presidente fazer isso! Parei!".
Ronaldo segundo o noticiário da Folha: "Ele [Lula] é a principal pessoa que tem ajudado o Corinthians nesta nova fase. Mas não é ajuda financeira. O que ele tem feito é passar contatos de empreiteiras e indicar empresas que podem ajudar".
Ronaldo segundo "O Globo", na primeira página, lá sem aspas de palavras de transcrição: "Ronaldo surpreendeu ao afirmar, no "Bem, Amigos", do SporTV, que o presidente Lula vai indicar as empreiteiras que construirão o centro de treinos do Corinthians". Ronaldo na página principal de esportes, com sinal de transcrição literal: "O presidente Lula é quem mais está ajudando o Corinthians nessa fase. Ele está dando alguns contatos de empreiteiras que podem nos ajudar, mas não é financeiramente. Ele é fanático, um corintiano roxo. O presidente está sabendo de tudo e indica as empresas que podem ajudar".
Registro meu, no trecho que aqui interessa, quando referido o encontro do jogador com Lula: ..."é uma das pessoas que mais ajudam o Corinthians. É o que ajuda mais. Ele pede a empreiteiras para nos ajudar".
Notícia anterior ao Lula presidente deu conta de que sua filha morava em Paris custeada por uma empresa, citada mais tarde como uma empreiteira. Já em pleno mandato, a gigantesca empreiteira Andrade Gutierrez associa-se, e infla de capital, a pequena ou micro empresa de que um filho de Lula é sócio. E há meio ano está aí, consumada, uma das maiores aberrações já havidas no Brasil em negócios privados com a mão e o dinheiro providenciados pelo governo: a compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar (Grupo Andrade Gutierrez) antes mesmo que Lula alterasse a lei para torná-la possível.
Um dos três inquéritos pedidos, agora, pelo procurador federal Rodrigo de Grandis no caso Satiagraha, refere-se ao negócio BrT-Oi/Telemar, porque financiado por dois bancos estatais, o BNDES e o do Brasil, e participação de Daniel Dantas, com suspeita de crime financeiro ou lavagem de dinheiro em torno de sua parte. Esse é um inquérito que, se levado adiante pelo Judiciário, pode chegar ao que uma CPI, caso os partidos oposicionistas fizessem oposição com honestidade e civismo, já poderia ter chegado.
Tal como dada mesmo, a informação de Ronaldo traz uma colaboração importante. Se não para o inquérito, cujo pedido o Judiciário talvez prefira em um arquivo, por certo para uma biografia de Lula mais verdadeira do que a fabricada pela Unesco para um prêmio sem candidatos.

GOSTOSA


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ELIANE CANTANHÊDE

O cara e a cara

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/07/09

A fraqueza de Sarney e de Renan Calheiros evidenciou a força do PMDB na sucessão presidencial. Lula pode estar engordando o monstro que vai engolir o PT. Ele subjugou a bancada petista no Senado em favor de Sarney e articula para o PMDB participar da coordenação política do governo. Aboletado no Planalto, o comando do partido ficará ainda mais à vontade para garantir a aliança com Lula na convenção nacional e o nome de Michel Temer como vice na chapa de Dilma. Para isso, porém, o PT tem de se imolar nos Estados.
Assim como interveio no Senado, Lula tende a sacrificar o PT em favor do PMDB nas eleições para os governos estaduais. Bom exemplo é Minas Gerais. O prefeito Fernando Pimentel, do PT, é legitimamente pré-candidato a governador, mas bate de frente com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, do PMDB. Nessa guerra de vida ou morte, Lula já decidiu quem deve viver. E não é Pimentel.
Outros líderes petistas no Estado, como os ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci, parecem lavar as mãos. Formalmente, em nome do projeto nacional de fazer Dilma subir a rampa em 2011. De quebra, porque têm ciúmes de Pimentel. O mesmo vale para o Pará, onde o amor da governadora Ana Júlia, do PT, com o deputado Jader Barbalho, do PMDB, só foi eterno enquanto durou. Lula tomou partido no divórcio. Contra Ana Júlia.
Em outros locais, como Bahia e Rio Grande do Sul, em que não dá para forçar a barra e tirar o PT de cena, articulam-se dois palanques para Dilma. Tudo vale (ou vale tudo?) para o PMDB não retaliar pulando no barco tucano. É por essas e outras que o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, esquece o que disse e aparece com aquela cara arrasada na tribuna e na TV, assumindo o discurso (de Lula) pró-Sarney e pró-PMDB e presumindo o efeito disso na sua base eleitoral em São Paulo.
Lula é "o cara", segundo Obama. E Mercadante é "a cara" do PT hoje.

ROLF KUNTZ

Cascatas federais


O Estado de S. Paulo - 09/07/2009

Começou mal a aventura de colunista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais uma vez ele atribuiu aos outros a responsabilidade pelas falhas de seu governo. E mais uma vez ele atribuiu as mazelas da política de saúde à extinção do imposto do cheque, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Pura cascata. A carga tributária voltou a crescer no ano passado e chegou a 35,8% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo as contas da Receita Federal. Outros emergentes cuidam muito melhor da educação e da saúde com impostos muito menores. Mas isso não é tudo. O governo e seus aliados só não aplicam mais dinheiro nos programas de saúde porque não querem. Recursos não faltam, até porque a administração federal continua incapaz de usar as verbas de investimento previstas no Orçamento-Geral da União.

Se os projetos de outros Ministérios não deslancham, por que não se transfere o dinheiro para o Ministério da Saúde? Neste ano, até 1º de julho, o Tesouro desembolsou apenas R$ 2,49 bilhões para os programas de investimento, 4,93% da verba autorizada para o ano. A maior parte desse dinheiro corresponde a restos a pagar.

Essa incapacidade de investir explica a diferença de ritmo entre os pagamentos efetuados pelos diversos órgãos do governo. O Ministério da Saúde gastou, até 1º de julho, 44,03% da verba prevista para 2009, segundo o site Contas Abertas. O dos Transportes, apenas 14,04%. O de Minas e Energia, 5,87%. O das Cidades, 7%. Trocando em miúdos: gastou menos quem tinha a agenda mais carregada de projetos de investimento. O problema é de incompetência geral do governo, não de falta de dinheiro. A incompetência, nesse caso, é demonstrada também na má distribuição de recursos entre os Ministérios e na fixação inepta de prioridades.

Quando se vai ao detalhe da execução, o resultado é assustador. No programa Luz para Todos, tema de uma campanha oficial de propaganda no rádio e na TV, o governo só gastou neste ano, até o começo de julho, 0,42% da verba prevista. À Segurança da Sanidade na Agropecuária, essencial tanto para o bem-estar da população quanto para as exportações, o Orçamento destina R$ 180 milhões - uma miséria -, mas o dispêndio efetivo só chegou a R$ 14,6 milhões, 8,11% do valor autorizado. Estão previstos R$ 923,4 milhões para Segurança de Voo e Controle do Espaço Aéreo. A despesa ficou, até 1º de julho, em R$ 89,36 milhões, 9,68% do montante programado. E quantos brasileiros sabiam de um programa intitulado Gestão da Transversalidade de Gênero nas Políticas Públicas? Pois existe e já consumiu 8,05% dos R$ 5,96 milhões previstos.

A péssima distribuição de recursos é visível também na dotação dos chamados Poderes da República. Nunca é demais lembrar: embora só haja 81 senadores, o Senado tem um orçamento de R$ 2,7 bilhões, maior que o do município de Campinas (R$ 2,5 bilhões), com mais de 1 milhão de habitantes, um dos maiores e mais desenvolvidos do Brasil. Se o presidente Lula se permite dar conselhos ao presidente do Senado e meter o nariz numa crise do Legislativo, por que não usa essa mesma disposição, mais produtivamente, para discutir o custo absurdo e escandaloso da chamada Câmara Alta?

Se o presidente da República estivesse realmente preocupado com a qualidade do gasto público, não teria comprometido as conta federais com seguidos aumentos de salários para o funcionalismo nem permitiria mais contratações. As despesas com a folha de salários estão entre aquelas com maior crescimento neste ano, enquanto a receita é comprometida pela crise econômica. Apesar disso, o presidente manteve os aumentos programados para entrar em vigor em 1º de julho. Poderia legalmente atrasar a vigência dos novos salários, mas preferiu outro caminho, levando os ministros da Fazenda e do Planejamento a pedir ao Congresso o afrouxamento das normas orçamentárias. Para quê? Para continuar aumentando os gastos de custeio neste ano e no próximo - tempo de eleição. Para investir mais, não precisaria mexer em regras fiscais. Bastaria cobrar mais competência de seus auxiliares.

Se o governo investe pouco, não é por falta de dinheiro, ao contrário da tese sustentada pelo Ipea em sua nova tentativa de justificar o injustificável, a enorme tributação brasileira. Segundo o mesmo instituto, não há excesso de funcionários públicos e sobra espaço para a contratação de mais gente. O governo usará teses desse tipo para justificar a gastança eleitoral. Mais um desperdício: não é preciso tanto esforço para convencer quem acredita em cascata.

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LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Realpolitiques

O GLOBO - 09/07/09

Consolemos-nos. O parlamento inglês – que, afinal, é o pai de todos os parlamentos – também anda às voltas com escândalos. E escândalos parecidos com os do nosso Congresso: despesas escondidas, favorecimentos descabidos e outras lambuzeiras com o dinheiro público. Levando-se em conta a tradição de austeridade da política inglesa, com a exceção de um ou outro deslize sexual, pode-se até dizer que os escândalos do parlamento inglês são piores do que os nossos. Pelo menos temos a desculpa de não sermos ingleses.
Lula não usa a palavra mas invoca a “realpolitik” para constranger o PT a apoiar o Sarney, que se tornou, com um certo exagero, símbolo de todos os maus hábitos do nosso Congresso. “Realpolitik” é uma expressão alemã do século dezenove com vários significados, de realismo político e pragmatismo até maquiavelismo do mais cínico. No caso do Lula, que só se preocupa em manter alianças que garantam o funcionamento deste governo e a eleição do próximo, ela significa uma espécie de maquiavelismo de arrabalde. Nada muito grave, se bem que nada muito inspirador também. De qualquer jeito, foi doloroso ver o Mercadante anunciando a concordância do PT com as ordens do chefe sem acreditar numa palavra do que estava dizendo.
Estou escrevendo isto no começo da semana, é possível que o próprio Sarney já tenha se constrangido o suficiente para renunciar ao cargo. Se está sendo injustiçado ou vítima de um golpe “in câmera” fica para se ver depois. O que ele deve fazer agora é poupar o que resta da sua biografia.
PRIMITIVOS
Em Honduras houve um golpe militar à antiga, que deve ter feito bater mais forte o coração de alguns nostálgicos. Lá também se invoca uma forma de “realpolitik” como justificativa, no caso a necessidade de prevenir um novo Hugo Chávez em formação. “Honduras” quer dizer “funduras”. Foram buscar lá no fundo da história latino-americana o modelo mais primitivo para troca de governos. O golpe hondurenho é uma versão grosseira de uma história conhecida, a da reação do conservadorismo a qualquer ameaça ao seu poder, e cujo protótipo é a reação da oligarquia mexicana à eleição do índio zapoteca Benito Juárez à presidência em 1858. A elite mexicana exagerou: para substituir o índio foi buscar um príncipe, o arquiduque Maximiliano, da Áustria, financiado por Napoleão III. Desde então nunca se chegou mais a tanto, mas a reação se repete através dos anos onde quer que um “índio” chegue ao poder. Sem imperadores importados, ultimamente sem militares golpistas, ainda é a mesma velha história.

PAINEL DA FOLHA

Emenda Kassab

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/07/09

Articulação do DEM, partido de Gilberto Kassab, conseguiu derrubar do projeto de reforma eleitoral sobre o qual a Câmara se debruçava ontem a permissão de propaganda em muros. Da forma como estava, o texto de Flávio Dino (PC do B-MA) revogava, na prática, a Lei Cidade Limpa, marca distintiva da atual gestão paulistana. Segundo o o artigo 41, a permissão não poderia ‘ser cerceada’ e nem ‘ser objeto de multa sob a alegação de violação de posturas municipais’.
A despeito do pesado lobby dos ‘demos’, deputados ainda tentavam, na noite de ontem, emplacar destaques liberando a colocação de outdoors de candidatos- também proibidos na capital paulista.

Adeus, janela - Alguns deputados ‘sem ambiente’ em seus atuais partidos ainda tentaram articular a apresentação de emenda abrindo brecha para a troca até seis meses antes da eleição. Nada feito. Ninguém mais acredita que haverá outra oportunidade de aprovar qualquer tipo de janela de infidelidade.

Upgrade - Pela proposta original do deputado Flávio Dino (PC do B-MA), haveria restrições ao uso de redes sociais na campanha. Também não estava liberada a transmissão de entrevistas e debates nos sites dos candidatos. Coube à dupla Paulo Teixeira (PT-SP) e Manuela D’Ávila (PC do B-RS) ajudar a refazer as definições nos artigos referentes à internet para ampliar seu uso.

Saco de dormir - O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), fez questão de advertir os deputados desde cedo de que a sessão para tratar das novas regras eleitorais seria longa: ‘É bom os senhores se prepararem para passar a noite aqui’.

Disponível - Os defensores do retorno de Aldo Rebelo (PC do B-SP) ao comando da articulação política do governo, que deverá ficar vago com a ida de José Múcio para o Tribunal de Contas da União, argumentam que o substituto do ministro tem de desistir de disputar as eleições no ano que vem. E Aldo já deixou claro, em conversas com aliados, que não gostaria de buscar novo mandato de deputado.

Clonagem 1 - O ato secreto do Senado que concedeu aumento salarial para 40 chefes de gabinetes de secretarias, anulado anteontem, foi duplicado nove dias depois de sua edição, em dezembro de 2006. O então diretor de Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi, despachou boletim com o mesmo ato número 30.

Clonagem 2 - No segundo ato de número 30, a Casa criou uma superestrutura para a Secretaria de Estágios, algo comparável à gigantesca massa da Gráfica do Senado. O setor de Estágios foi chefiado por Sânzia Maia, mulher do então diretor-geral Agaciel Maia. Ali ele passou a despachar depois de perder o cargo.

Padrinhos mágicos - A operação para inflar a Secretaria de Estágios teve a chancela de senadores à época instalados na Mesa Diretora: Renan Calheiros (PMDB-AL), Efraim Morais (DEM-PB), João Alberto (PMDB-MA), Serys Slhessarenko (PT-MT), Papaléo Paes (PSDB-AP) e Aelton Freitas (PR-MG).

Efeito dominó - Ontem, a direção do Senado determinou a exoneração do ‘agaciboy’ Luiz Augusto da Paz Júnior, que pilotava uma das diretorias da Gráfica. A família Paz era exemplo de nepotismo no Senado até a edição, no ano passado, da súmula do Supremo Tribunal Federal.

Tiroteio

Não vão instalar a CPI no grito. Na base ninguém treme com grito.

Do líder do governo no Senado, ROMERO JUCÁ (PMDB-RR), sobre os protestos da oposição contra as manobras para adiar indefinidamente a investigação da Petrobras.

Unanimidade - De um senador do PT, sobre a nota em que o partido faz contorcionismo verbal para tentar explicar, pela enésima vez, sua posição a respeito da permanência ou não do presidente da Casa: ‘De uma só tacada, conseguimos desagradar os eleitores, o Lula, o Sarney e o PMDB. É um desastre’.

Contraponto

Competência reconhecida

Um dos pontos mais acalorados do debate sobre a reforma eleitoral foi liberar ou não a propaganda em muros e a instalação de outdoors durante a campanha.
Contrário à atual regra, que permite (não em São Paulo) pintar muros, desde que o candidato pague ao proprietário, Silvio Costa (PMN-PE) foi à tribuna:
-Nos últimos anos se desenvolveu uma verdadeira indústria do muro neste país!
Um deputado que acompanhava a discussão no fundo do plenário não deixou barato:
-Isso não é verdade! Se houvesse mesmo uma indústria do muro no Brasil, o PSDB não perderia uma eleição!

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CARLOS HEITOR CONY

Eu, pecador, me confesso

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/07/09

Antes, no melhor das festas, se alguém duvidasse, a imprensa já era tida como quarto poder, uma instituição que exercia um poder paralelo. Na verdade, não é um poder, mas uma força. Com as novas técnicas de comunicação e com a sacralidade das fontes, ela se transformou no escoadouro dos descontentamentos (lícitos ou não), dos ressentimentos (pessoais ou grupais), das pressões e compressões de uma sociedade heterogênea que inclui desde índios e menores inimputáveis até políticos e empresários que podem roubar.

Esse caldo em ebulição seria a matéria que justificaria a existência e a expressão do Estado que, no caso brasileiro, antecedeu a Nação.

Abriu-se um vácuo e, nele, a força da comunicação encontrou o seu espaço. E o fez com exuberante boa vontade. Não é a vida nacional que pauta a imprensa. É a imprensa que pauta a vida nacional, através de seus órgãos mais excitáveis.

Dá a régua e o compasso. A classe política empacou, ataca e se defende a esmo, desarticuladamente, de acordo com a direção e a intensidade dos petardos que recebe.

Mas quem acusa a imprensa? Quem se atreve a mostrar e demonstrar que o gigante também tem, como todos os gigantes, os seus pés de barro? Há desconforto em todas as classes, juízes, militares, empresários e policiais em relação aos jornalistas. Eles se transformaram em detetives, em esmiuçadores de contas de luz e telefone, de depósitos bancários, declarações de Imposto de Renda, despesas nos postos de gasolina e nas agências dos Correios.

Estenderam sobre a sociedade uma teia assombrosa que absorve denúncias vindas de fontes anônimas, lembrando os comitês de salvação pública da Revolução Francesa que alimentaram de sangue a guilhotina nos anos do terror.

ANCELMO GÓIS

TAVA DEMORANDO

O GLOBO - 09/07/09

Nasceu ontem na Maternidade de Acari, no Rio, um bebê batizado de... Maiquel Jackson.
DOM BENJAMIN SUJOU
A Secretaria do Ambiente de Sérgio Cabral multou a CSN em R$ 450 mil por poluição do ar.
Dia 30 de junho, a pressão interna do Alto Forno 3 aumentou e acionou um dispositivo de segurança que abriu uma das válvulas da siderúrgica. Por ali, foi lançado, durante uns três minutos, um pó preto que atingiu o Centro de Volta Redonda.
TRANSPARÊNCIA TOTAL
O Hospital Souza Aguiar será o primeiro da rede municipal do Rio a exibir ao público a lista dos médicos escalados para trabalhar naquele dia.
A medida será estendida a todas as unidades.
BUROCRACIA INFIEL
Veja como até nos casamentos os concursos públicos podem fazer diferença em Brasília.
Outro dia, uma servidora concursada soube que o marido (também concursado) a traía com uma moça contratada por prestadora de serviços do Senado. Na separação, na frente do juiz, a traída desabafou: “Pior é que foi com uma... terceirizada!”.
DESTRAVA
Carlos Minc lança dia 20 o Destrava 2, plano para reduzir em até 50% o tempo de emissão de licenças no Ibama.
PLANO DE SAÚDE
O que se diz na Rádio Corredor é que o Unibanco Saúde deve ser transferido para o grupo Tempo Participações.
MANÍACOS POR MARTA
O jornal “USA Today” publicou ontem reportagem enorme sobre a nossa Marta, craque da seleção feminina de futebol.
O texto diz que na Califórnia, onde ela joga no Los Angeles Sol, surgiu o movimento “Marta Maniacs” (Maníacos por Marta).
DENGUE EM QUEDA
Uma boa notícia: o ministro Temporão anuncia hoje uma queda de 50% nos casos de dengue no primeiro semestre, em relação a igual período de 2008. O Rio foi o Estado com maior redução (95,8%).
Até agora, diga-se, a gripe suína matou uma pessoa. A dengue tirou a vida de uns 500 brasileiros nos últimos anos.
GRIPE NO AEROPORTO
A Anvisa confirmou ontem os primeiros casos de gripe suína entre trabalhadores da aviação no País, em Porto Alegre. São dois funcionários de terra, um da Gol e outro da TAM.
GAROTO DOS PAMPAS
Do gaúcho Pedro Simon, 80 anos, ao voltar ao Senado depois de uma cirurgia de apendicite:
– Podem marcar a consulta com o dentista. Se agora fiz uma operação de adolescente, o próximo passo é tirar o siso.
‘MAGICIAN’
Sai em outubro nos EUA a edição em inglês do livro “O mago”, de Fernando Morais, sobre Paulo Coelho.
SABE COM QUEM...
A Associação dos Magistrados Federais pediu à Secretaria de Segurança do Rio punição para o delegado Vinícius Jorge, assessor do deputado Marcelo Freixo. Numa discussão de trânsito, na Barra, o delegado teria ameaçado um juiz federal e a mulher dele com um fuzil. Já o delegado diz que agiu com urbanidade.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


DORA KRAMER

Uma leve maquiagem

O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/07/09

A rigor, não seria preciso investigação alguma sobre a edição dos atos secretos do Senado. O correto seria anular todos eles por descumprimento ao princípio da publicidade, constitucionalmente obrigatório para qualquer ação de natureza pública.
A punição dar-se-ia mediante os efeitos dessa nulidade. No caso de nomeações, por exemplo, demissão dos ocupantes dos cargos e devolução dos salários pagos durante a vigência do ato ilegal. O mesmo critério valeria para todos os outros atos.
Ficariam sem efeito as exonerações secretas de parentes feitas para atender à exigência do Supremo e esconder o nepotismo, bem como estariam invalidadas as horas extras pagas durante o período de recesso. O “cumpra-se” imediato caberia à Mesa Diretora do Senado, caso estivesse mesmo, como alega, imbuída do espírito da reformulação dos procedimentos. Como tal disposição só se manifesta ao ritmo de conta-gotas e sob pressão externa, o parâmetro transgressor continua presente nas ações da atual Mesa
Quando o Senado opta por regularizar aqueles atos por meio da publicação com data retroativa, convalida a infração original. Confere artificialmente uma legalidade inexistente, no lugar de extinguir a ilegalidade. Radical, complicado, agressivo aos supostos direitos adquiridos? Muito mais drástico, complexo e destrutivo ao Estado de Direito é o Senado conviver com um território paralelo de poder consentido e exercido à margem da lei.
A instituição - toda ela, pois o colegiado aceitou essa regra meia-sola - optou por contemporizar. Apostou na saída sem dor, acreditou mais uma vez na existência de almoço grátis, a despeito de todas as provas em contrário.
Resultado: vai pagar dobrado. Muito mais desastroso para o Legislativo é a determinação do Ministério Público para que a Polícia Federal investigue o caso dos atos secretos. Os procuradores não tinham escolha. Ou cumpriam seu papel de defensores da sociedade e tomavam uma providência ou se associavam aos senadores na condescendência para com a ilegalidade.
Transigência esta que tem sido uma constante. Antes, na produção dos fatos que resultaram no escândalo em curso e também depois, na administração dos efeitos da crise. Tudo é feito no sentido de contornar as situações. O que se pode adiar-se adia, onde há espaço para amenizar se ameniza e naquilo que é possível acomodar interesses, acomoda-se. A consequência é a perda de credibilidade na disposição do Senado de realmente mudar suas práticas.
Da crise que completa seu quinto mês, de concreto resultam até agora o anúncio de abertura de processo contra dois ex-diretores, nenhum senador responsabilizado, muitas promessas a serem conferidas, uma tendência explícita à acomodação geral e vastos sinais de que a lição não foi aprendida.
Se nem o desativado Conselho de Ética a Casa deu-se o trabalho de remontar, como acreditar nas promessas de cortar gastos, reduzir pessoal, desmontar núcleos de poder paralelo, moralizar e modernizar uma estrutura viciada e obsoleta?
Todas as tentativas de fazer a Mesa aceitar ajuda externa foram repudiadas em nome da soberania interna. Tentou-se transformar um escândalo de transgressões legais numa crise de natureza político-eleitoral.
Pois bem, só que agora a coisa muda de figura com a política na iminência de virar oficialmente um caso de polícia. O encaminhamento poderia ter sido menos vergonhoso e mais eficaz. Mas, como ainda não se deu conta de que essa história só acabará quando efetivamente terminar a era do compadrio, o grupo controlador do Senado preferiu tomar o atalho da escora na figura do presidente da República combinada a um cardápio de soluções mornas que não resolvem, não convencem e não tiram o Senado da berlinda.

SAGRADA CONFRARIA
Autoridades que usam a administração pública para assegurar fonte de renda a familiares, amigos e correligionários dizem que nada fazem de errado, pois os beneficiados não se enquadram no grau de parentesco que caracteriza o nepotismo.
Posam de ingênuos, enquanto dão asas ao mais desvairado, atrasado e cada vez mais bem aceito empreguismo. Hoje o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, emprega a mulher para expediente de um dia na semana em gabinete na Câmara e não vê nada demais.
Em outubro de 2003, o então secretário Nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, pediu demissão do Ministério da Justiça porque se sentiu desconfortável com as críticas à contratação da ex-mulher - profissional na área - como consultora num convênio entre a ONU e a secretaria que dirigia.

NEM TANTO
Sendo tão exigente e vigilante conforme alega, é incompreensível como a ministra Dilma Rousseff deixou que seu currículo circulasse por anos a fio com informações maquiadas.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Tem vocação arqueológica e não política”
PRESIDENTE DO PT, RICARDO BERZOINI, CRITICANDO A POSIÇÃO DA BANCADA DE SEU PARTIDO NO SENADO

DILMA TERÁ MÊS DE AGOSTO DIFÍCIL, NO HOSPITAL
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) enfrentará em São Paulo, no mês de agosto, os trinta dias mais difíceis de sua vida: permanecerá a maior parte do tempo no Hospital Sírio-Libanês, submetendo-se à radioterapia. A aplicação deverá ser feita durante períodos de cinco dias seguidos e pode causar efeitos colaterais diversos. Um escritório será instalado no quarto ao lado, no hospital, onde Dilma poderá despachar com auxiliares.
VAI ENCARAR?
A assessoria de Dilma precisa saber: a radioterapia pode deixá-la insone, irritadiça, agitada. Quem conhece a fera sabe o que isso representa.
MONITORAMENTO
Na Europa, Lula recebeu informes diários sobre o tratamento de Dilma, mas o deixaram mais preocupado as notícias sobre o vice José Alencar.
ENXUGAR É PRECISO
Dos dez mil funcionários do Senado, seis mil estão lá sem concurso. Contaram apenas com a força dos padrinhos.
GRANA NA VEIA
O governo usa argumento infalível para o Congresso aprovar projetos do seu interesse: liberou R$ 1 bilhão em emendas parlamentares.
LULA DIZ A SARKOZY QUE COMPRARÁ CAÇAS RAFALE
O presidente Lula deu ao colega francês Nicolas Sarkozy a informação privilegiada, pela qual muitos lobistas se matariam: anunciará em setembro a decisão de fazer o Brasil adquirir os caças Rafale para reequipar a Força Aérea Brasileira. Lula observou que o Rafale “transfere tecnologia”. É um negócio de cerca de R$ 12 bilhões. A confidência do presidente brasileiro foi vazada pelo governo francês ao jornal La Tribune.
DINHEIRO NA LAVOURA
Será de R$ 39,5 bilhões o orçamento do Banco do Brasil para financiar a safra agrícola 2009/2010. É 30% superior ao montante da safra passada.
SHOW DA MORTE
Para complementar o “espetáculo” da morte, só falta agora Michael Jackson ressuscitar no terceiro dia.
MONTANHA DE REAIS
O patrimônio global do Sistema de Poupança e Empréstimos da Caixa somou R$ 282,19 bilhões em junho. É dinheiro saindo pelo ladrão.
NEVERLAND
Com obras estimadas em R$ 1,3 bilhões, mais R$ 100 milhões em mobiliário, o Centro Administrativo de Minas Gerais já ganhou um apelido: “Neverland do Aécio Neves”.
CPI NO SUPREMO
A CPI da Conta de Luz, na Câmara, uniu contra ela DEM, PT e PSDB, que não indicaram representantes. As tarifas subiram 400% desde o início da privataria tucana. O presidente da CPI, Eduardo da Fonte (PP-PE), pediu ontem ao STF que os obrigue a indicar representantes.
MÁ COMPANHIA
Com a chegada do embaixador Arnaldo Carrilho a Pyongyang, o Brasil é o segundo nas Américas, depois de Cuba, a reconhecer o lamentável governo do lixo atômico Kim Jong-il, ditador da Coréia do Norte.
RECADO AO CELULAR
O senador-celular Tião Viana (AC) não contou à revista Veja seus esforços, como líder do PT, para tentar blindar ACM, no caso do grampo na Bahia. Por causa da entrevista, Tião já foi avisado que não poderá contar com o presidente Lula em seu palanque no Acre, em 2010.
BLAIRO EM CAMPO
O governador Blairo Maggi (MT) aproxima Dilma Rousseff do agronegócio, do qual é expoente. Rivaliza com a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA e crítica do governo e da candidata.
MÃO DE GATO
Estudo do IPEA, órgão do governo, indica que apenas 1 de cada 3 reais arrecadados é investido em educação, saúde, segurança etc. Os demais R$ 2 pagam juros da dívida (bancos) ou programas como Bolsa Família.
PRÓ-EMPREGO
O governo federal tem pronto um projeto, a ser enviado ao Congresso Nacional, reduzindo a contribuição patronal para a Previdência. Destina-se a incentivar empreendimentos com uso intensivo de mão de obra.
QUEM SE HABILITA?
Um parque britânico oferece vaga de bruxa por cerca de R$14,5 mil mensais, diz a BBC Brasil. Precisa “agir como bruxa e fazer o que as bruxas fazem”. Aos leitores fica a sugestão de candidatas brasileiras.
ELE VOA, EU DANÇO
O presidente Lula também tem sua Neverland, a Terra do Nunca. É o Brasil, onde ele nunca está.

PODER SEM PUDOR
MISTÉRIOS DE QUADRÚPEDE
O ex-presidente Fernando Henrique sempre conta, com graça, o momento em que o então ex-senador José Serra (PSDB) foi apresentado a um animal no pasto, durante a visita que os dois fizeram à fazenda de um amigo, no exílio do Chile. Na ocasião, Serra confessou, encantado:
– Fernando, sabe que é a primeira vez que vejo uma vaca de perto?
Quando todo mundo ri do relato, Fernando Henrique complementa:
– Era um touro...

O MURO