quarta-feira, julho 08, 2009

CELSO MING

Abusos de César


O Estado de S. Paulo - 08/07/2009

A César o que é de César, não há o que negar.


Mas o que ocorre quando César passa dos limites? Aqui no Brasil, a Derrama desembocou na Inconfidência Mineira e em tudo quanto se seguiu. Será que a inexistência de movimentos contra a excessiva carga tributária é a prova de que não há abusos de César?

Ontem, a Receita Federal divulgou estudo mostrando que a carga tributária no País saltou de 34,7% (em 2007) para 35,8% do PIB (em 2008). Como o PIB é a renda nacional, 35,8% da renda do brasileiro é mordida pelo Fisco. Em outras palavras, o brasileiro trabalha 4 meses e 9 dias por ano só para sustentar o governo.

Quando o Congresso se preparava para não mais prorrogar a CPMF, os ministros da área econômica e demais autoridades fiscais do País fizeram terrorismo evocando dois argumentos contra o fim da CPMF. O primeiro é o de que sem a CPMF seria aberto um rombo orçamentário devastador para as contas públicas. E o segundo, o de que a Receita Federal perderia a principal arma de controle da sonegação. Agora se vê que as duas alegações são falsas. Nem se abriu um rombo orçamentário nem se perdeu a capacidade de rastrear a sonegação, instrumento dispensado em todos os países do mundo.

O coordenador-geral de Estudos, Previsão e Análise da Receita Federal, Marcelo Lettieri, avisa que em 2009 a carga tributária deverá reverter a alta. E embasa-se no fato de que o governo federal reduziu a carga do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para vários setores da indústria, especialmente para o de veículos e o da linha branca. É provável que esta seja mais uma torcida do que uma conclusão técnica. O IPI pesa só 1,3% na arrecadação total. O ICMS pesa muito mais (7,6%). No entanto, um punhado de governadores, inclusive o de São Paulo, implantou a substituição tributária, pela qual a cobrança do ICMS foi antecipada e está provocando alta considerável da arrecadação dos Estados. São Paulo arrecadou em 12 meses mais R$ 3 bilhões, ou 4% a mais. O próprio ministro Guido Mantega se queixou de que essa manobra inutilizou parte dos benefícios da renúncia fiscal da União. Portanto, há razões para acreditar que a carga tributária esteja subindo, e não o contrário.

Mais três observações:

(1) Com quase 36% do PIB, a carga tributária do Brasil está praticamente no mesmo patamar da que incide em países da Europa, como Alemanha, Reino Unido, Espanha, Portugal e Holanda. Mas o volume e a qualidade dos serviços que o Estado entrega ao contribuinte no Brasil são bem mais baixos. Basta conferir a quantas anda a educação, a saúde, a segurança, as estradas e os portos brasileiros.

(2) O próprio governo, que alardeia sua identificação com os interesses do trabalhador, reconhece que a carga tributária sobre a folha de pagamentos atingiu 22,5% do total do País. Enquanto isso, a tributação sobre a renda ficou nos 20,5%.

(3) Está demonstrado que a excessiva carga tributária é o principal fator que prejudica a competitividade do produto brasileiro aqui e no exterior. No entanto, em vez de batalhar pela redução da mordida de César, as lideranças empresariais preferem o mais fácil: pregam a compensação mediante o controle do câmbio, isto é, pela alta artificial da cotação do dólar em reais.

Confira

Passou Lula - As últimas pesquisas de opinião mostraram elevada aprovação da gestão da presidente do Chile, Michelle Bachelet. Já no quarto ano de governo está exibindo 74% de aprovação. O máximo que o governo Lula conseguiu foi 73%.

Nada menos que 89% dos pesquisados disseram que Bachelet é "querida"; 86%, que é "respeitada"; 80%, que é "crível"; 78%, que "tem capacidade para enfrentar situações de crise"; 76%, que "tem liderança"; e 75%, que "tem autoridade".

Outra surpresa, seu ministro da Economia, Andrés Velasco, surge como campeão das preferências: 68% de aprovação.

BEM LEGAL!


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JANIO DE FREITAS

A curva do cansaço


Folha de S. Paulo - 07/07/2009

Senadores petistas devem decidir entre posição que Lula rejeita ou submissão que nega identidade a seu petismo

SEJAM QUAIS forem as reflexões a que os senadores petistas, na previsão de Eduardo Suplicy, se entregaram no fim de semana, o PT viverá hoje um momento muito mais decisivo para o seu futuro do que para a sua prevista definição ante o senador José Sarney e a desordem no Senado.
A impressão dos senadores petistas de que as pressões de Lula lhes exigem definir-se "entre a governabilidade e a reforma do Senado, com a licença de Sarney", é o dilema enganoso. Quando, na reunião pressionante com Lula, Aloizio Mercadante advertiu que, apesar da "governabilidade", "precisamos respeitar a posição da bancada, não dá para enquadrar", aí já se insinuava a contradição verdadeira para a opção petista. O mesmo quando Paulo Paim sustentou, depois da reunião, que "não houve enquadramento, continuamos defendendo a licença temporária de Sarney e a reforma do Senado".
Já o "vamos refletir até a próxima terça-feira", de Eduardo Suplicy, incluía o dilema posto por Lula: "vamos refletir" é, sem dúvida, entre o apoio a Sarney sob o nome de "governabilidade", dado por Lula, ou o "não dá para enquadrar" assim a maioria da bancada.
A rigor, o dilema que os senadores petistas devem decidir em reunião prevista para hoje é entre a posição que tomaram, e Lula rejeita, ou a provavelmente derradeira submissão vexaminosa que nega ao seu petismo qualquer identidade partidária e pessoal.
A senadora Marina Silva tem razão na advertência de que as posições de agora, no Senado, vão influir nas eleições para renovação de mandato e para governos estaduais. Ideia adotada no noticiário como explicação para a quase unânime atitude da bancada pela licença de Sarney por 30 dias. Há, porém, outra explicação possível.
Nesse grupo estão petistas presentes entre os que mais construíram identidades pessoais no passado, em alguns casos longo e de atividade intensa. Em graus variados, depois todos fizeram concessões onerosas ao transformismo de Lula. Já, no entanto, a candidatura do petista acriano Tião Viana à Presidência do Senado, derrotado pela articulação Renan-Lula-Sarney, continha sinais de uma atitude própria de parte da bancada do PT. Como consequência dessa interferência de Lula, seguindo a criação só na Presidência da candidatura presidencial do partido, e outras muitas prepotências de Lula, parece ter evoluído um cansaço das complacências, refletindo-se como fator preponderante na resistência incipiente das últimas semanas.
A esse cansaço, aí sim, em um ou outro caso de pretendente a governo estadual junta-se a insatisfação com as insinuadas interferências de Lula, em sucessões estaduais, tal como fez com Dilma Rousseff. O fato é que nunca se viram caras e declarações como as expostas depois da reunião com Lula, também ela com inconclusão sem precedente.
Nada exclui uma solução imprevista dos petistas, mas isso exigiria algo há muito retirado do PT: a criatividade. As concessões tomaram seu lugar.

BRASÍLIA - DF

Os segredos de cada um

Correio Braziliense - 08/07/2009

Desde quando começaram os boletins com os 663 atos secretos do ex-diretor- geral Agaciel Maia, somente escapam da omissão, na Presidência do Senado, os falecidos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL) e Ramez Tebet (PMDB), assim mesmo porque morreram. Nas duas gestões de ACM (de 1998 a 2000), foram 11 boletins com atos secretos, 10 dos quais no segundo mandato; na de Ramez Tebet, sete.

Jader Barbalho, que renunciou ao mandato, editou 10 boletins. Renan, de 2005 a 2007, bateu no teto: 139. Garibaldi Alves chegou perto, com 96. José Sarney, somando os três mandatos, responde por 49 boletins com atos secretos. Tião Viana, quando foi presidente interino, poderia ter lançado luz sobre pelo menos 207 dos 312 boletins registrados de 1995 até hoje, mas não fez nada. E ainda pode ter algum boletim injustamente incluído na cota de Renan em 2007.

Mais gente


A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados acertou ontem que serão convocados 180 concursados até o fim do ano. O número será dividido em cotas de 30 futuros servidores por mês, ao longo dos próximos seis meses.

Oxente


O ex-prefeito de Recife João Paulo (foto), do PT, está quase saindo do sério, apesar do estilo zen. Foi encurralado pelo governador Eduardo Campos (PSB), que trabalha uma aliança com o deputado José Armando Monteiro (PTB) e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT) na chapa ao Senado. Pelo andar da carruagem, ou João Paulo se lança ao governo ou terá que se conformar com uma vaga de deputado federal.

Titã

Enquanto o governo aumenta seus gastos de custeio, a Petrobras carrega o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas costas. Responde por 10% dos investimentos, 7% das exportações e 12% da arrecadação do país. Este ano investirá US$ 30 bilhões

A propósito

Dorme na gaveta do primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes, o relatório da Petrobras sobre os recursos destinados às organizações não governamentais solicitado pela CPI das ONGs. Trancado a sete chaves, somente será revelado quando a comissão de inquérito voltar a funcionar.

Chique a valer


Diria Dâmaso Salcede, aquele personagem de Eça de Queiroz. A bolsa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (foto), é um objeto de desejo de nove entre 10 madames da Corte brasiliense. Trata-se de uma Birkin da Hermés, com lista de espera de três anos e custo de US$ 6 mil. Victoria Beckham, segundo uma leitora atenta, tem uma coleção de 100 peças. Similar, nem na Feira do Paraguai, aqui no Distrito Federal.

Fora

A Capital Serviços Gerais avisou ontem à Câmara dos Deputados que rescindirá, na sexta-feira, os nove contratos de serviços terceirizados em vigor com a Casa. Gestora dos acordos, a Primeira-Secretaria vai convocar, em caráter emergencial, as três empresas que venceram licitações para substituir a Capital em cinco dos contratos para a TV e a Rádio Câmara e nos serviços de transporte e de informática. A vencedora da concorrência, marcada para amanhã, também será convocada emergencialmente.

Chapa quente

Chapa do deputado federal José Genoino para infernizar a vida do governador José Serra, em São Paulo, na sucessão de 2010. Ciro Gomes (PSB), governador; Emídio de Souza (PT), vice; Aloizio Mercadante (PT) e Aldo Rebelo (PCdoB) para o Senado.

Sertão
O comando do PSDB convidou o ex-governador do Rio Grande do Norte Geraldo Mello para ocupar a vice-presidência regional do partido no Nordeste. Curtindo férias em Miami (USA), o cacique potiguar responderá pela agenda tucana na região onde o presidente Lula nada de braçada. Melo foi dos fundadores da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

Acarajé
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), tenta convencer a cúpula do PSB a lançar a candidatura da deputada Lídice da Mata ao Senado. A ex-prefeita de Salvador reluta, pois teme entrar numa fria e ficar sem mandato.

Parado
O senador Cristovam Buarque desconfia que a sua postura a favor da saída de José Sarney (PMDB-AP) da Presidência do Senado está provocando um boicote aos seus projetos. Na Comissão de Constituição e Justiça, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)) devolveu a relatoria do projeto que obriga os filhos dos políticos a estudarem em escola pública, retornando-o à estaca zero. Na Comissão de Assuntos Sociais, o senador Inácio Arruda (PC doB-CE) fez o mesmo com o projeto que regulamenta a profissão de técnico em administração.

GOSTOSA


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ARI CUNHA

Alencar na Rússia


Correio Braziliense - 08/07/2009

Na última semana deste mês, o vice-presidente José Alencar viajará para a Rússia, como chefe da Missão Brasileira de Alto Nível. O encontro será com Vladimir Putin, o homem forte daquele país. O representante do governo brasileiro será acompanhado por equipe de empresários, que vai afinar a conversa. A Rússia é grande importadora de carne do Brasil e suspendeu as compras por causa de criadores que destruíram a mata amazônica.

Da conversa poderão sair bons entendimentos. Outros empresários vão negociar seus produtos em troca do que a Rússia poderá oferecer. Haverá encontro com o presidente Dimitri Medvedev, cujo nome se traduz como urso. Para quem visita a Rússia, contato com urso é novidade.

A frase que não foi pronunciada


“No Senado, ninguém vive sozinho.”
Palavra de experiente pioneiro da casa, indicando que seus pares devem olhar para todos os lados, inclusive para seu interior.


Amazônia
A reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e Tecnologia vai acontecer este ano em Manaus e o tema será: Amazônia, ciência e cultura. O diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Roberto Germano Costa, diz que “essa é uma grande oportunidade de degustar produtos típicos do semiárido brasileiro e adquirir artesanatos feitos à base de licuri, livros e outras atrações”.

Automóveis
Com a facilidade de se comprar automóveis novos, Brasília está no sufoco. Este ano foram vendidos 290 mil veículos. Desde que começou a promoção foram postos nas estradas mais de 300 mil carros. Faltam ruas para tanto movimento. Nos horários de pico, as avenidas do DF, até mesmo as de oito pistas em cada direção, estão lotadas. Isso porque os motoristas não fazem ziguezague, a não ser os irresponsáveis.

Fica em casa!
O Brasil está surpreso com a volatilização do presidente Lula da Silva. Desembarca de uma viagem, inicia outra. Os casos são resolvidos dia a dia, conforme o aparecimento repentino. Não há planejamento, a não ser o desejo da presença de países em desenvolvimento como membros do Conselho de Segurança da ONU. Parece anúncio da loteria: “Insista, não desista”.

Tranquilidade
“Juiz não responde a ataque”, disse em outras eras o ministro Ari Franco, à indisciplina do governador Carlos Lacerda e à fanfarronice do deputado Amaral Neto. Posição perfeita para juiz ciente de suas obrigações.

Eletrônica
Destaque para a Imprensa Oficial, com o êxito das atividades. A primeira região volta ao DIN, para que publique por meios eletrônicos os atos judiciais do Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Minas Gerais. Por seu lado, tem a sua função resgatada pelo Ministério Público, ao determinar que os atos oficiais do Senado tenham publicação no Diário Oficial da União, para que ali não haja atos secretos.

Enxugamento
Depois de promulgada, a Constituição brasileira recebeu 90 artigos, 312 parágrafos, 309 incisos e 90 alíneas. Nos dias atuais, 1.119 propostas tramitam na Câmara, sem falar em 1.344 propostas já arquivadas desde 1988.

Há tempo
Valerá até setembro a redução do IPI dos automóveis vendidos no país. O imposto voltará a subir a partir de outubro e os preços retornarão aos patamares antigos, mais altos. A volta será controlada para que compradores não sintam a diferença dos preços cobrados.

Mercosul
Senador Augusto Botelho, do PT de Roraima, é de opinião que a Venezuela entre para o Mercosul. Há impedimentos legais, porém o presidente Hugo Chávez insiste em participar do bloco, mesmo contra a vontade de alguns. Depois de entrar, vai ser difícil convencer Chávez de que seu governo não é eleito. Aí, então, ele, que é violento, fará verdadeiro banzeiro na reunião dos países.

Medicina
Médicos cubanos estão se mudando para a Venezuela. Outros países sul-americanos estão protestando, pela falta do registro profissional. Há a previsão de que a Venezuela ficará igual a Cuba, onde um médico recebe US$ 30 por mês. Poucos sabem que têm de graça residência, automóvel abastecido e abastecimento doméstico.

Cotação
Mesmo contando com opiniões contrárias, a popularidade do presidente Lula da Silva chega a 70% no Nordeste. Em São Paulo, sua penetração está crescendo. Nem todo brasileiro entende a popularidade do presidente. É que ele não contraria ninguém. Só fala a favor. Passa a mão na cabeça dos deputados petistas que foram punidos. Está tudo quase normal.

História de Brasília

Nós havíamos dito que o Senado não iria tomar uma atitude pouco recomendável moralmente, negando-se à aprovação da indicação do sr. Paulo de Tarso para a Prefeitura de Brasília. De fato, aconteceu isso e, graças à democracia, um único senador teve o direito de dar um voto contra 34 dos companheiros. (Publicado em 3/2/1961)

ELIO GASPARI

Lula tem razão: não confie nos doutores


Folha de S. Paulo - 08/07/2009


Dilma Rousseff teve um momento-Maradona e ajeitou o seu currículo com a "mão de Deus"

LOGO NO GOVERNO de um presidente que chegou ao Planalto sem diploma de curso secundário e gosta de ironizar canudos, descobriu-se que dois de seus ministros ostentaram títulos universitários maquiados. A repórter Malu Gaspar revelou que, ao contrário do que informava o Itamaraty, o chanceler Celso Amorim jamais teve título de doutor em ciências políticas e econômicas pela London School of Economics. Pior: a biografia oficial de Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, candidata à Presidência da República, informava que ela é "mestre em teoria econômica" e doutoranda em economia monetária e financeira pela Unicamp. A Plataforma Lattes, do CNPq, registrou que ela obteve o mestrado com uma dissertação sobre "Modelo Energético do Rio Grande do Sul". Falso. O repórter Luiz Maklouf Carvalho revelou que, segundo a Unicamp, não há registro de matrícula de Dilma Rousseff no seu curso de mestrado. Só ela tem a senha que permite mexer nos dados da página com seu currículo no Lattes.
Dilma e Amorim não preencheram o requisito essencial para obtenção do título de doutor, que é a apresentação de uma tese. Uma pessoa só é "doutorando" enquanto cursa o programa de doutorado ou enquanto cumpre o prazo de carência para a entrega da tese. Depois disso, volta a ser "uma pessoa qualquer". Há 1,1 milhão de acadêmicos cadastrados no Lattes. Se nesse universo de professores ficam impunes coisas desse tipo, será difícil um mestre condenar aluno que comprou trabalhos na internet.
A ministra Dilma tem uma relação agreste com a realidade. Em março do ano passado ela sustentou que a Casa Civil não organizara um dossiê de despesas pessoais de Fernando Henrique Cardoso na Presidência. Tudo não passava de um "banco de dados". Um mês antes, num jantar com 30 empresários, ela informara que o governo estava colecionando contas incriminatórias do tucanato.
Lidando com um período sofrido de sua juventude, ela disse que, durante a ditadura, "muitas vezes as pessoas eram perseguidas e mortas... e presas por crime de opinião e de organização, não necessariamente por ações armadas. O meu caso não é de ação armada. O meu caso foi de crime de organização e de opinião".
Presos e condenados por crime de opinião foram o historiador Caio Prado Júnior e o deputado Chico Pinto, Dilma Rousseff militou em duas organizações que, programaticamente, defendiam a luta armada para instalar um "Governo Popular Revolucionário" (Colina, abril de 1968) ou um "Governo Revolucionário dos Trabalhadores, expressão da Ditadura do Proletariado" (VAR-Palmares, setembro de 1969). Dilma nega que tenha participado de ações armadas, ou mesmo planejado assaltos. Até hoje não pareceu um mísero fato que a desminta, mas o Colina, que ela ajudou a organizar, matou um major alemão pensando que fosse um oficial boliviano e assaltou pelo menos três bancos. Seria injusto obrigar a ministra a carregar a mochila dos ideais de seus vint'anos. Até porque, no limite, merecem mais respeito os jovens que assumiram riscos e pegaram em armas do que oficiais, agentes do Estado, que torturaram e assassinaram prisioneiros. Ainda assim, é um péssimo prenúncio ver uma ministra-candidata que maquia currículo, bem como o propósito de sua militância. As pessoas preferem acreditar nas outras

GOSTOSA


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MÍRIAM LEITÃO

Ameaças e fatos

O GLOBO - 08/07/09

No fim de 2007, o presidente Lula atacou os senadores da oposição que votavam o fim da CPMF. Definiu-os como "a direita impiedosa". Afirmou que pediria aos governadores que fossem às casas dos pobres, explicando quem eram os responsáveis por eles ficarem sem o dinheiro do Bolsa Família. Os fatos: a carga tributária subiu e o governo gasta com Bolsa Família apenas 1% do dinheiro que arrecada.

Lula continuou ofendendo. Chamou de "mesquinhos" e criticou a "pequenez" dos que estavam contra o imposto. Quando a contribuição foi derrubada, ele prometeu que não aumentaria imposto algum. Quinze dias depois, o governo subiu as alíquotas do IOF para todos os contribuintes e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) para o setor financeiro.

O ministro Guido Mantega disse que se a CPMF acabasse o Brasil seria rebaixado pelas agências de risco. O país foi promovido e chegou ao grau de investimento. Quando subiu o IOF e a CSLL, Mantega garantiu que a carga não subiria, pelo contrário, já que as novas alíquotas não compensariam a perda da contribuição. Durante todo o ano passado, o governo insistiu que estava eliminando impostos e que, por isso, a carga não aumentaria. Como se viu ontem, ela subiu um ponto percentual do PIB. Como o PIB subiu 5%, significa que os impostos pagos pelos brasileiros subiram ainda mais. Na conta da Fazenda, 8%.

O fato é: os brasileiros pagam impostos demais, seu peso é mal distribuído, o fruto da arrecadação é também desigualmente distribuído em benefícios. Como agora. A Fazenda conta que as desonerações para estimular a economia já provocaram a perda de R$11 bilhões. A maior parte foi para quem produz carro e para quem compra carro.

- Para ser justo, o governo deveria, quando há um aumento de carga tributária, devolver isso ao contribuinte, mas os planos de desoneração tem sido injustos. Da forma que tem feito, o governo tem beneficiado alguns setores em detrimento do resto da sociedade - diz Gilberto Amaral, do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.

Tudo é desigual. Até a fúria da Receita. Ela se abate implacável sobre o contribuinte pessoa física que, às vezes, apenas se enganou, não entendeu o que tinha que recolher. Mas a Petrobras, que deixou de pagar R$4 bilhões, não foi chamada para se explicar. Pelo menos foi isso que o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, disse em entrevista ao jornal "Estado de S. Paulo". Gabrielli defendia a tese de que esse assunto não deveria ser tratado pela CPI. "No máximo deveria ser uma discussão entre a Petrobras e a Receita Federal. E nem isso existe porque não fomos intimados". Como a entrevista saiu no dia 28 de junho, quem sabe a Receita já tomou alguma providência?

A carga tributária era 30% em 2000. Ontem, a Receita divulgou que ela fechou 2008 em 35,8%: quase seis pontos percentuais do PIB em oito anos. O ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel explica que existe aumento de carga sem pressão fiscal e com pressão fiscal. Um pouco o que o governo está dizendo:

- Parte do aumento se deve ao fato de que as empresas tiveram mais lucratividade no começo do ano e mesmo que tenha havido crise no final do ano não foi suficiente para derrubar a arrecadação. Houve um aumento muito forte de consumo.

O problema, segundo Maciel, é que o governo está fazendo "um caminho suicida":

- Está aumentando o gasto corrente de maneira irreversível. Ao mesmo tempo, está, por causa da crise, tendo uma queda de arrecadação de 6%, maior do que a queda do PIB. Está compensando os aumentos dos gastos e a queda da arrecadação, com a redução progressiva do superávit primário, o que elevará a dívida/PIB. Isso é um caminho suicida.

Com essa queda de arrecadação maior do que a queda do PIB, a carga tributária cairá no ano que vem. Mas por maus motivos. O que o governo deveria fazer é o que o ministro Guido Mantega disse esta semana ao "Financial Times" que fará, mas que dificilmente fará: a redução dos impostos que pesam sobre a folha de pagamentos das empresas. Ou seja, o custo enorme, de quase 25%, que as empresas têm que recolher pelo fato de estarem concedendo emprego e pagando salário.

- Desejável, a redução do custo da folha é. Factível, não acho que seja - afirmou Everardo.

Provavelmente essa promessa vai engrossar outras tantas feitas pelo governo que não foram cumpridas, como a da reforma tributária ou do mecanismo que o governo disse que iria criar para inibir o aumento da carga tributária.

No dia 26 de fevereiro do ano passado, uma terça-feira, o ministro Guido Mantega se reuniu com líderes da oposição e fez várias promessas. Disse que enviaria na quinta-feira, dois dias depois, a proposta de reforma tributária. Ela teria um mecanismo que inibiria o aumento da carga tributária daí para diante. Prometeu que a carga não aumentaria e disse que, três meses depois de aprovada a reforma, o governo iria propor a desoneração da folha. Nada disso aconteceu.

INFORME JB

Real pacifica inimigos de 1994

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL - 08/07/09

Se algum estrangeiro assistiu, ontem, no Senado, à sessão comemorativa dos 15 anos do real, deve ter ido embora pensando que tucanos e petistas formam um só partido e que o Brasil é uma das democracias mais evoluídas do mundo. Crítico feroz do plano, em 1993, o senador Aloizio Mercadante (foto), líder do governo, fez o mea-culpa. Disse que é inegável o avanço do país e que Fernando Henrique Cardoso e Lula fizeram um Brasil melhor. Prendeu a atenção do homenageado ao pregar que é hora de o governo e a oposição evoluírem, reconhecendo o que cada um fez de bom para o país. Para quem não lembra, o PT bombardeou o real na campanha de 1994, classificando o plano de eleitoreiro.

Troco Real 2

Ovacionado por todos os partidos, Fernando Henrique aproveitou a deixa para recomendar que as palavras sobre evolução política sejam levadas ao atual inquilino do Palácio do Planalto. "Devem ser ditas a quem pode. Sempre que estive lá, tentei".

FHC pregou uma nova agenda para discutir o futuro do país, com decência na política, preservação do meio ambiente, revolução educacional e um pacto em que o frugal substitua as miudezas políticas. Obras que ele e Lula não conseguiram tocar.

Armistício

Um importante dirigente do PT sugeriu que Fernando Henrique e Lula conversem mais sobre o futuro do país porque, afinal, nenhum dos dois é candidato em 2010. O ex-presidente quer primeiro que Lula admita que o real é o alicerce da estabilidade. "Ele usou o real e ainda não reconheceu. Não disse uma palavra até agora", provocou FHC.

Eram homônimos

Depois de 40 dias da tragédia, a Polícia Federal e a Abin confirmam: havia, sim, suspeitas de que entre os passageiros do voo AF-447 pudessem encontrar-se alguns terroristas. Os dois órgãos fizeram um verdadeiro pente-fino para confirmar que três ou quatro nomes eram, na verdade, homônimos de terroristas árabes procurados.

Cara pálida

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado vai pegar fogo hoje. O senador Walter Pereira (PMDB-MS) apresentará um polêmico relatório propondo que a demarcação de terra indígena seja aprovada na Casa. E quer que o governo indenize quem ocupa áreas indígenas.

Al Qaeda

O delegado federal Daniel Lorenz deixou ontem na Comissão de Segurança da Câmara uma revelação bombástica. O libanês Khaled Hussein Ali, preso em São Paulo no dia 26 de abril, que até ontem era conhecido por Senhor K, é mesmo ligado à Al Qaeda, a organização de Bin Laden responsável pelo 11 de setembro de 2001.

É guerrilheiro

O ministro Paulo Vannuchi confirmou ontem que uma das ossadas guardadas num armário da Secretaria Especial de Direitos Humanos é mesmo do guerrilheiro do PCdoB morto no Araguaia, Bergson Gurjão Farias. A hipótese foi levantada pelo JB em reportagem publicada em 5 de abril deste ano. A investigação era reivindicada há anos pela jornalista Myrian Alves. Há suspeitas de que os armários do governo ainda guardem outros ativistas.

Sabatina

É hoje no Senado a sabatina do procurador Roberto Gurgel, indicado pelo presidente Lula para suceder Antonio Fernando de Souza na chefia do Ministério Público Federal. Para ser nomeado procurador-geral, Gurgel precisa obter a maioria absoluta dos votos dos membros da CCJ e, depois, do plenário da Casa.

FERNANDO CALAZANS

Vivendo de costas

O GLOBO - 08/07/09

Deu no Globo o que foi mostrado pelo “Esporte Espetacular”: em entrevista a Galvão Bueno, nosso Joel Santana, técnico da África do Sul, se queixou educadamente que, ao fim do jogo com o Brasil na Copa das Confederações, seu colega Dunga não o cumprimentou.
Joel relatou assim: fui falar com Dunga, mas Dunga não veio falar comigo. Quem se apressou a fazê-lo foi o auxiliar Jorginho.
Joel Santana disse que faltou cavalheirismo a Dunga, até porque Dunga tinha sido seu jogador no Vasco. Jogadores da seleção brasileira, em sua maioria, cumprimentaram o treinador brasileiro da África do Sul.
Mas cabe uma pergunta a Joel: será que, nos tempos em que os dois trabalharam juntos no Vasco, Joel não havia reparado que cavalheirismo não é o forte do Dunga? Conhecendo Dunga, como deve conhecer, não deveria ter lhe causado espanto ou estranheza o fato de Dunga não caminhar para cumprimentá-lo depois do jogo entre Brasil e África do Sul. Ao contrário, deu-lhe as costas.
Sejamos francos, Joel: não há nenhuma novidade nisso. Os tempos de Dunga na seleção brasileira são outros, mas o Dunga é o mesmo. No início de seu trabalho, diante de tantas hesitações, críticas de todos os lados caíram sobre Dunga — inclusive minhas.

Com o tempo, as vitórias, a evolução do trabalho e até os títulos da seleção, essas críticas viraram elogios — inclusive meus. O tom mudou, sim. Mas o Dunga, não. Dunga é o mesmo.
No meu caso específico, de todo modo, os elogios são mais comedidos, eles se relacionam apenas ao trabalho profissional do Dunga que, não resta dúvida, tem apresentado resultados importantes e eloquentes.
Quanto à figura humana, a que transparece no episódio com Joel Santana, não tenho por que elogiá-la. Dunga não tem cavalheirismo nem elegância. São termos estranhos ao seu parco vocabulário.
E não será agora, como já não tem sido desde que assumiu o cargo — considerado no Brasil tão relevante quanto o de presidente da República — que ele vai melhorar, quer dizer, que ele vai mudar. Se eu fosse o Joel, que já o conhece há mais tempo, nem iria cumprimentá-lo.

Pois é: mas repórteres esportivos — meus colegas e (alguns deles) meus amigos — têm que cumprimentar Dunga, têm que falar com ele, têm que entrevistá-lo, têm que se relacionar com ele. Aí é que está o problema.
E pior: não só com ele, Dunga, mas com inúmeros, incontáveis treinadores por aí, vários deles — eis o problema de novo — sem educação como o técnico da seleção brasileira.
Os envolvidos no assunto que me desculpem, mas há algo hoje na nossa imprensa esportiva que me incomoda profundamente.
É ver colegas repórteres de rádio, tevê e jornal, serem destratados e espezinhados nas famigeradas entrevistas coletivas dos professores doutores de falta de educação e, ao mesmo tempo, ver comentaristas em cabines herméticas, em estúdios de televisão, nas redações dos jornais ou mesmo em suas residências, jogando flores nos mesmíssimos treinadores, dedicando-lhes palavras de admiração e deslumbramento, embasbacados com as geniais elucubrações táticas desses seres superiores, essas divindades que conduzem os destinos do futebol brasileiro e, quiçá, do país.
Sim, meus caros, não temos que ir ao encontro desses senhores supremos, nem suportar-lhes os egos deformados. Se o fazemos, é ao menos à distância.
Mas alguém tem que fazer isso de perto. A esses bravos colegas repórteres, minha solidariedade. Podem contar comigo. Vocês sabem, não sabem?

O IDIOTA

PAINEL DA FOLHA

Bandeira branca

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/07/09

A reação enfurecida dos tucanos ontem, diante da resistência do PMDB em instalar a CPI da Petrobras, tem como pano de fundo o descumprimento de um acordo selado pela manhã entre o comando do partido e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O pacto previa que o PSDB daria uma trégua na ofensiva contra Sarney -que, por seu turno, garantiria o funcionamento da CPI.
Sarney foi poupado nos discursos da sessão dos 15 anos do Real, na qual ficou ao lado de FHC. Quando Renan Calheiros (PMDB-AL) e Aloizio Mercadante (PT-SP) não toparam levar a CPI adiante, os tucanos ameaçaram subir o tom. A permanência de Sarney à frente da Casa, entretanto, não foi mais questionada.

Calendário - Renan disse em plenário que o início da CPI da Petrobras dependerá da ‘oportunidade da construção política da instalação’. Quem ouviu entendeu que, a depender do peemedebista, será no ‘Dia de São Nunca’.

Adeus, divã - Diante da mudança do vento, o PT já pensa em cancelar a reunião para rediscutir, pela quarta vez, a posição sobre Sarney. Acha que não cabe ao partido ficar em ‘terapia de grupo’.

Nova direção... - O novo diretor-geral do Senado, Haroldo Tajra, assina o ato de nomeação de Sylvana Cunha Roriz para assessora técnica no gabinete da primeira vice-presidência, ocupada por Marconi Perillo (PSDB-GO). O salário é de R$ 9.900.

... velhas práticas - Sylvana é mulher de Paulo Roriz, secretário de Habitação do governo José Roberto Arruda (DEM-DF). Já trabalhou no gabinete de Demóstenes Torres (DEM-GO) e na primeira-secretaria, também do DEM.

Faxina - O Senado abriu concorrências para contratar fornecedores de material de limpeza pesada e de flores para decorar cerimônias.

Que crise? - Enquanto outros senadores usam o Twitter para falar sobre as mazelas internas, os posts do petista Paulo Paim (RS) versam sobre gripe suína, fator previdenciário e, mais recentemente, golpe em Honduras.

Geek - Um dos mais ativos no Twitter, o líder do DEM, José Agripino (RN), despachou assessores para um curso sobre a melhor forma de usar a ferramenta. Além disso, destacou um especialista em internet apenas para abastecer seu site e pesquisar tudo o que sai sobre ele na blogosfera.

Surpresa! - Convidado a participar da sessão pelos 15 anos do Real, Itamar Franco (PPS-MG) disse que iria somente se fosse para dizer ‘umas verdades’ aos tucanos, que teriam lhe tomado o crédito pelo plano. A turma do deixa-disso achou melhor não insistir, e o ex-presidente ficou em casa.

Photoshop - Já a governadora Yeda Crusius (PSDB-RS), em crise no Estado, esquivou-se de entrevistas no Senado e levou um fotógrafo para registrar os abraços.

Treino - Aécio Neves aproveitou a passagem por Brasília para convidar políticos para a final da Libertadores, na quarta, em BH. A ideia é tentar impressionar CBF e Fifa na campanha pela capital mineira na Copa de 2014.

Direto da fonte - A biografia de Fernando Haddad no site da Educação encaminha o internauta para o currículo do ministro no sistema Lattes. Dilma Rousseff (Casa Civil) e Celso Amorim (Relações Exteriores) tiveram de explicar recentemente o descompasso entre informações divulgadas pelo governo e sua real formação acadêmica.

Tiroteio

Na verdade, o Ciro não pensa em ser governador de São Paulo. Ele quer mesmo é implodir a aliança PT-PMDB para ser o vice da Dilma.
Do deputado peemedebista EDUARDO CUNHA em resposta ao colega Ciro Gomes (PSB-CE), que descreveu a relação entre PMDB e PT como um ‘ajuntamento fisiológico’.

Contraponto

Causa própria

Ao receber a visita de Lula para tratar de acordos na área da indústria de defesa, Nicolas Sarkozy aproveitou e pediu uma mãozinha ao colega num assunto interno: queria apoio ao projeto que prevê a abertura do comércio aos domingos na França. Lula aceitou de pronto:
-Se o comércio não abrir, o brasileiro que viajar na sexta-feira para passar o fim de semana em Paris não poderá comprar quase nada- brincou o presidente.
O próprio Lula embarcou para a capital francesa na sexta-feira passada, embora tivesse agenda de trabalho apenas a partir de segunda. Não se sabe se o presidente conseguiu comprar alguma coisa no sábado.

RUY CASTRO

Calvário nas manchetes


FOLHA DE SÃO PAULO - 08/07/09

Há poucas semanas, fomos esmagados pela história da menina Sophie, de 4 anos, torturada e agredida durante um ano por sua tia até morrer, desnutrida e cheia de hematomas, ossos quebrados e lesões internas, num hospital em Caxias (RJ). É de se perguntar se e quando terminará o calvário das crianças no Brasil. Porque, pelo noticiário, não há motivo para otimismo. Veja algumas manchetes, todas dos últimos dias.

“Polícia prende padre suspeito de violentar criança de quatro anos em escola de São Paulo.” ; “Mãe tenta matar filha por suspeitar de gravidez em Belo Horizonte (MG).”; “STJ nega liberdade a padre acusado de violentar três meninas em Rio Grande (RS).”; “Polícia prende suspeito, mas não identifica jovem morta (em São Paulo).”;' “Descaso de médico no Miguel Couto causa morte de bebê (no Rio).”; “Promotora denuncia oito por violência sexual contra dois adolescentes em Paulo de Faria (SP).”; “Crianças de até quatro anos são exploradas na Lapa – menores vendem balas de madrugada enquanto mulheres as supervisionam (no Rio).”; “Ladrão mata executiva na frente do neto no Butantã – vítima ia estacionar e tirar o neto de quatro anos de dentro do carro; ela levou um tiro na testa (em São Paulo).”

“Juiz do Trabalho é acusado de exploração sexual infantil ao promover orgias com crianças no município de Tefé (AM).”; “Mulher é suspeita de ter enterrado criança viva – bebê foi achado em saco plástico, em quintal de casa em Angra dos Reis (RJ).'”; “ONU critica STJ por não punir sexo pago com menor – entidade repudia endosso a decisão da Justiça (de Mato Grosso do Sul) e alerta para o perigoso precedente aberto.”

Não importa o que digam os números, nenhuma criança está a salvo no Brasil. Tudo conspira contra ela: a pobreza, o crime, os pais e, às vezes, a lei.

GOSTOSA


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TOSTÃO

Quem manda é o mercado

JORNAL DO BRASIL - 08/07/09

Cruzeiro e Estudiantes fazem hoje o primeiro jogo decisivo. A Libertadores é o título mais importante e mais desejado pelos clubes brasileiros e argentinos.

Mesmo assim, a CBF, para atender aos interesses da Globo, adiou o jogo entre Corinthians e Fluminense para o mesmo dia e horário da partida da Libertadores. Para a Globo, o jogo pelo Brasileiro dá mais audiência no Rio e em São Paulo.

Estou curioso para saber qual das duas partidas será transmitida para outros estados, fora de Minas, Rio e São Paulo. Com certeza, será a que a Globo acha que vai dar mais audiência. Quem manda é o mercado.

Será que o torcedor paulista e carioca, que não torce para Corinthians e Fluminense, prefere ver o jogo do rival a Cruzeiro e Estudiantes?

Se outras TVs abertas tivessem o mesmo poder da Globo, fariam o mesmo. São empresas particulares que visam primeiro o lucro. O esporte é, cada dia mais, um espetáculo comercial. Infelizmente, é a realidade, em todo o mundo.

A disputa pela audiência é tão intensa que a Globo nem cita a realização de um importante jogo, se ela não for transmiti-lo. Outras emissoras seguem o mesmo caminho.

Como a partida entre Cruzeiro e Estudiantes será transmitida para Minas, a maioria dos mineiros não está nem aí para saber qual jogo vai passar no Rio e em São Paulo. Outros estão indignados, não só por isso. A indignação é também com os programas esportivos nacionais, de todas as emissoras, que falam pouco do jogo do Cruzeiro contra o Estudiantes, mesmo sendo uma decisão de Libertadores.

O bairrismo está presente em todos os estados. Desde que não existam exageros, o bairrismo é compreensível e uma maneira de estimular e preservar a vida e a cultura local. No interior da França, é difícil encontrar um bom e médio restaurante que tenha vinhos e queijos de outras regiões do país.

Quanto mais cresce a globalização, a comunicação e o desejo de romper as fronteiras físicas e afetivas e de ser um cidadão do mundo, paradoxalmente, aumenta o sentimento de pertencer a uma nação, a um estado, a uma cidade, a um bairro e a uma família. O encontro é sempre um reencontro com algo que vivemos e/ou imaginamos.

Muitas vezes, o bairrismo é tão estimulado pela imprensa local, que se transforma em uma paranóia coletiva. As pessoas passam a achar que existem planos diabólicos para prejudicar seu time e seu estado.

Como escrevo a mesma coluna para vários estados, recebo críticas, de uma minoria, que querem que eu seja um cronista bairrista, um cronista do Cruzeiro e/ou de Minas Gerais. Quando falo bem de jogadores e de times mineiros, certamente alguém vai dizer que protejo meu estado.

Vivemos a época do espetáculo e da audiência. Poucos querem saber de análises e de reflexões. Existe uma epidemia de idiotice. Os fatos se tornam importantes de acordo com a audiência. As pessoas passam a ser analisadas por seu comportamento pessoal, e não pelo que fazem. Alguns jornalistas não querem apenas dar e analisar a notícia. Querem ser a notícia. É o show da audiência.