domingo, julho 05, 2009

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Conosco ninguém pode


O GLOBO - 05/07/09

Acabo de fazer o primeiro reconhecimento aqui da Denodada Vila de Itaparica. Os inexperientes talvez imaginem que, havendo nascido nela e voltando todos os anos, eu não teria novidades a encontrar. Trata-se de um equívoco desculpável, mas, não obstante, merecedor de correção. Na verdade, se eu fosse contar todas as novidades, não teria espaço. Não me refiro aos finados na minha ausência, porque estes requerem conversas minuciosas sobre as qualidades de cada um, além da rememoração de seus feitos mais notáveis e da recapitulação dos últimos dias antes do fatal desenlace. Bem verdade que não temos mais narradores como os de antigamente, capazes de mesmerizar a plateia com a narrativa minuciosa de tremendos embates com a Grande Ceifadeira, ocorridos entre itaparicanos que se recusavam a morrer antes do próximo jogo do Bahia, como já aconteceu com tantos que perdi a conta. Mas as reportagens locais continuam com excelente qualidade jornalística e, devagar para não ter congestão emocional, vou me inteirar das últimas.

Não sem antes, é claro, contar a viagem, que pode não ter sido nenhuma expedição ao Ártico, mas teve grandes momentos de emoção, a começar pelo suspense do voo entre o Rio e a Bahia. A decolagem estava prevista para as nove horas da manhã. Já na sala de embarque, olhei o relógio e notei, com algum sobressalto, que já passava das nove e o voo não tinha sido chamado, certamente por causa da cerração no Galeão. Mas, por outro lado, bem que eu podia ter-me distraído e perdido a chamada, até porque o serviço de som agora se dirige ao público num dialeto da Baixa Eslobóvia, com algumas palavras em português intercaladas. Dei uma olhada no monitor de partidas. O voo, se bem me lembro, era descrito como “alterado”. Se não era isso, era parecido e, como desconhecia essa categoria, fiquei apreensivo. Voaríamos num teco-teco adaptado para grandes distâncias? O avião estaria sob o efeito de algum psicotrópico? Um pouco nervoso, procurei um balcão de informações da companhia, o que estava acontecendo? Ah, nada, aquela palavra queria dizer que o voo fora cancelado. Mas por que não avisaram?

– Ah, não sei – disse o rapaz do balcão. – Nós pedimos para avisar.

– E avisaram?

– Não tenho certeza, ninguém entende o som. Mas o senhor vai para Salvador?

– Vou, ou pelo menos ia. Como é que eu faço?

– O senhor procura aquele funcionário ali, ó. Aquele ali, no meio daquele bolo de gente. O que está sacudindo um monte de papéizinhos na mão, aquele mesmo.

Depois de vencer a concorrência resmungando cabalisticamente “eu sou idoso” e conseguir falar com o rapaz dos papéizinhos, na verdade cartões de embarque para os sortudos que adivinharam o cancelamento do voo, descobri que seria embarcado num avião procedente de Buenos Aires. Estou ferrado, pensei, agora vou cair na malha de proteção do Ministério da Saúde, tomara que não me botem em quarentena, eles vivem avisando que não estão para brincadeira. Mas esqueci de que a gente pode confiar no governo, claro que dentro das circunstâncias nacionais, ou seja confiar em que ele está sempre loroteando, não tem erro.

Não havia fiscalização nenhuma e muitíssimo menos ameaça de quarentena, embora, pelo pouco que entendo de eslobóvio, o sistema de barulho do Galeão fizesse inúmeras advertências. Achei meio esquisito sentar-me ao lado de uma moça usando máscara, como pareciam estar todos os passageiros vindos da Argentina. Pronto, o avião não passava de uma enorme incubadora de vírus, prestes a engolfar-me numa gripe que poderia me levar ao túmulo. Logo eu, que, depois dos conselhos do governador Serra, passei a evitar a companhia de porquinhos e porcões e, tanto no Rio quanto em São Paulo, atravesso a rua só para não me bater com um porco gripado. O destino é implacável. Desci em Salvador já sentindo os primeiros sintomas, embora, justiça seja feita, a mão do Ministério da Saúde se fizesse presente. Depois de selecionados os passageiros na base dos berros de “quem veio da Argentina aê!”, funcionárias também de máscara estavam na saída. Como eu viera no mesmo avião que os mascarados, mas não estivera na Argentina, ninguém me chamou para nada e me senti um pouco discriminado. O ministério não aconselhara a evitar recintos fechados, para reduzir a exposição ao contágio? Bem, tem que se prestar atenção, ele menciona recintos e avião não deve ser recinto, vai ver que é isso.

Já na ilha, voltou a preocupação. Mal me acomodei, dirigi-me ao centro da cidade, mais precisamente ao bar de Espanha. Sim, eu tinha corrido o risco de ser infectado, mas o importante mesmo era a possibilidade de que, pela ação insidiosa das Parcas, eu viesse a ser o introdutor da gripe suína em minha terra. Era imperioso advertir a coletividade sobre o possível perigo que minha presença significava e fiquei aliviado quando o primeiro que encontrei foi meu grande amigo Gugu Galo Ruço.

– Não há nenhum motivo para preocupação – me disse ele, quando o pus a par de meus receios. – Não esquente, você está em Itaparica.

– Eu sei, mas nem Itaparica é imune a esse vírus.

– Aí é que você se engana. Nós não somos imunes, mas rechaçaremos o vírus. Existe terra mais patriótica do que Itaparica?

– Não, não existe.

– Pois então? – disse ele. – Nós botamos o nosso vírus para liquidar com o deles. O nosso é o vírus do Ipiranga, está no Hino, não esquente.

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MÍRIAM LEITÃO

O Império se renova

O GLOBO - 05/07/09

O presidente de Honduras é deposto e os Estados Unidos exigem a volta dele ao poder. As mudanças climáticas ameaçam o mundo, e o presidente americano consegue aprovar uma lei que imporá às empresas a redução das emissões de carbono no planeta. O mercado financeiro entra em crise e a Casa Branca propõe maior controle sobre bancos e instituições financeiras.

Barack Obama não será a renovação de tudo o que prometeu. Velhas e novas forças vão se confrontar em seu governo, mas algumas mudanças importantes já começam a acontecer. Muita gente aposta que a devastadora crise econômica, que já destruiu 6,5 milhões de empregos americanos, é o começo do fim do Império.

Ele, no entanto, desafiado, se renova. É um interessante momento em que o gigante muda em alguns pontos e permanece igual em outros. Em alguns desafios, ele não sabe ainda como se renovar, como no caso dos mísseis provocativos da Coreia do Norte.

Em outros, tem trilhado um caminho novo.

O futuro não será a repetição do passado. Mesmo que queiram, os Estados Unidos não terão mais o poder incontrastável que tiveram.

Outras peças se mexem no tabuleiro. O poder será menos concentrado; não por concessão americana, mas pela dinâmica dos processos econômicos e políticos em curso.

O embaixador Clifford Sobel não foi confirmado no cargo. Mesmo assim, segundo amigos, ele decidiu morar no Brasil. Originalmente empresário, ele acha que aqui há futuro. Pequeno detalhe que mostra as novas chances das potências médias.

O mundo do futuro será formado por várias forças gravitacionais menores e uma maior. Os Estados Unidos não poderão ser unilateralistas como foram no governo Bush. Se o país continuar no caminho da renovação diplomática, da ação internacional cooperativa, da transição para um novo modelo de uso e produção de energia, pode reverter o risco de decadência.

É inevitável que os Estados Unidos sejam, no futuro, relativamente menores no PIB mundial e no controle das organizações multilaterais. Eles lutam contra a decadência, com notável sabedoria.

O caso de Honduras é pequeno e emblemático. O cientista político Antonio Octávio Cintra me escreveu ressaltando um ponto interessante: o que Manuel Zelaya fez o torna passível de um processo de impeachment por crime de responsabilidade, ao desrespeitar a Suprema Corte de seu país. No Brasil, se um presidente fizesse isso, incorreria em crime de responsabilidade, lembra ele.

A posição de Cintra é parte de um debate que ocorreu em vários blogs — inclusive aqui — e na imprensa americana, sobre se a melhor palavra, para se referir ao que houve em Honduras, é “golpe”. Estou convencida de que sim: é golpe. O presidente Zelaya desrespeitou a Constituição, mas a reação a ele foi ainda mais abusiva dos princípios constitucionais.

Ele deveria ter sido constrangido, dentro dos parâmetros estabelecidos pela Constituição, e não preso de pijama e mandado para outro país, com os novos governantes divulgando uma suposta carta de renúncia, e, em seguida, suspendendo direitos individuais dos cidadãos.

O caso só mostra que os tempos de hoje são mais matizados do que os toscos momentos das quarteladas dos anos 60. A reação americana foi um fato novo e sinal da mudança: o Império renovou sua forma de atuar na região e, ao fazer isso, serrou as estacas do palanque do inconstitucional serial Hugo Chávez.

Há outros sinais de mudanças, na região e fora dela: o começo da retirada do Iraque; as decisões sobre Guantánamo; a atitude cooperativa no G-20. Para o futuro, o mais relevante é a posição interna e externa em relação às mudanças climáticas.

O governo Bush negava as evidências científicas do fenômeno. Com Obama, o tema deu um salto para além dessa discussão vencida e passou-se à tomada de ações concretas.

Um dos pontos mais marcantes dessa renovação americana é a Lei da Mudança Climática. Ela foi aprovada na Câmara e agora está no Senado. Em inglês, é conhecida pela sigla ACES (American Clean Energy and Security Act). Ela muda os padrões de uso de energia.

Tem efeitos na construção civil, que terá que reduzir em 30% seu consumo de energia atual, ampliando o corte para 62% até 2014. Tem efeitos na forma de geração de energia, nos transportes, na indústria automobilística. Estabelece um sistema de cota e comércio de créditos de carbono (cap and trade) que, de cara, vai encarecer em 7% a energia fóssil. Vai criar um vasto mercado de carbono, maior que o europeu. Obama trabalha intensamente com os democratas contra os inúmeros lobbies. Os Estados Unidos entraram na semana passada na Agência Internacional de Energia Renovável — que George Bush sempre sabotava — para aumentar investimento em energia solar (fotovoltaica) e eólica. Os representantes do governo Obama assinaram um documento que será analisado, na semana que vem, pelo G-8, na Itália, que estabelece o compromisso com a meta científica de dois graus centígrados de aquecimento global máximo.

No área financeira, as mudanças são incipientes. Os administradores e controladores das instituições, que assumiram riscos irresponsáveis, não foram punidos.

O caso de Madoff é de crime de fraude e quem cuidou dele foi a Justiça.

Mas já foi proposta uma nova regulação, com inovações notáveis. O mercado bancário ainda não a digeriu e lutará contra ela no Congresso.

O Império contra-ataca.

Declarado decadente e em crise terminal, ele reinventa lideranças e atitudes. Sairá menor desta crise, mas, se tiver sucesso, pode sair melhor do que entrou.

COISAS DA POLÍTICA

O encontro de Moscou

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 05/07/09

Quando duas grandes nações, sobretudo se são historicamente rivais, se entendem, alguém paga pela paz. Assim tem ocorrido sempre na História. Os pactos se fazem contra terceiros. Entre tantos exemplos, podemos ficar com um dos mais recentes, em termos históricos: o da capitulação da França de Daladier e da Inglaterra de Chamberlain, sob a iniciativa da Itália de Mussolini, ante as exigências de Hitler sobre o território dos sudetos. Quem pagou pelo Acordo de Munique, firmado na madrugada de 30 de setembro de 1938, foram os tchecos. Hitler, depois de anexar a Áustria, fez ultimato a Praga, para que lhe fosse entregue a soberania sobre o território ocidental do país. Os tchecos resistiram, confiados nos acordos de solidariedade que tinham com a Inglaterra e a França, mas franceses e ingleses os abandonaram. Hitler, autorizado por Paris e Londres, ocupou o país nas primeiras horas do dia seguinte. O escritor Karel Capek, acometido de infecção pulmonar, deixou, no mesmo dia, de medicar-se, como protesto, e morreu no Natal seguinte. Poucos meses mais tarde, a Tcheco-Eslováquia se tornava "protetorado" do Reich. Seu presidente, Hácha, sob a ameaça de que as principais cidades do país seriam arrasadas, rendeu-se à força, assinando o "pedido" ao Reich, para que "protegesse" o seu povo.

Terça-feira se reúnem, em Moscou, os presidentes Barack Obama e Medvedev. Vão iniciar novas negociações para a redução recíproca de armas nucleares (diminuir o supérfluo, e manter, nos dois lados, bombas suficientes para aniquilar a Terra e a Lua). É claro que haverá concessões de lado a lado. Os russos querem acabar com o chamado escudo protetor antibalístico, que os americanos pretendem instalar na Polônia e na Tcheco-Eslováquia. Como não são parvos, sabem que a iniciativa, de Bush, nada tem de defensiva, e constitui ameaça a queima-roupa contra seu povo. Como prova de boa vontade, conforme informava a imprensa no fim de semana, estão dispostos a abrir caminho em seu território, a fim de que os norte-americanos possam, com mais segurança, abastecer a sua frente no Afeganistão com equipamentos e homens.

Os rebeldes afegãos, que, com a ajuda americana, lutaram contra os soviéticos durante nove anos – quando Moscou apoiava o governo marxista de Cabul – descobrem, agora, que os amigos, quanto mais poderosos, menos confiáveis. Tendo enfrentado antes os russos, e combatendo hoje tropas norte-americanas e europeias, veem o que lhes parecia impensável: o governo de Moscou contribuindo para a vitória ianque em seu país.

Ao espantar do Kremlim as sombras de Lenine e de Stalin, Gorbatchev favoreceu a desagregação do antigo império e, assim, permitiu que seus sucessores fizessem, do que sobrara, uma república como as outras. Como o antigo império russo se espraiava sobre três continentes (do Alasca ao Extremo Oriente), a Federação Russa pôde conservar o domínio da maior extensão territorial do mundo, o que representa grande trunfo estratégico. Uma aliança dos Estados Unidos com a Rússia seria, assim, praticamente imbatível diante da China e da Índia – que estarão atentas às negociações de Moscou, depois de amanhã. Embora a situação internacional de hoje seja outra, temos que olhar o passado. Quando os diplomatas conversam muito, os estrategistas contam os seus soldados e calculam o poder de suas armas.

Registre-se, também, que Medvedev, discretamente, vai assumindo liderança própria, saindo da sombra de Putin. Não se sabe se será capaz de crescer mais do que o seu padrinho e criador. De qualquer forma, Obama, não obstante a sua postura mais aberta diante do mundo, deve, no íntimo, contar com o provável dissídio entre os dois estadistas russos. Outros preocupados com o encontro de Moscou são os países da União Europeia, temerosos de perder sua importância no mundo.

É compreensível que Obama atue com astúcia em favor de seu país, da mesma forma que o faça Medvedev. São administradores da memória de dois grandes impérios, preocupados com o declínio de suas nações, e empenhados em restaurar a pujança antiga. Os nossos países, sem embargo, herdeiros de outra memória – a da submissão colonial – da qual estamos nos livrando com dificuldades, devem acautelar-se diante do entendimento dos fortes. É bom que haja paz entre eles, mas não em nosso prejuízo.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


CARLOS HEITOR CONY

A cassação de JK

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/07/09

Com algum atraso, vou lembrar o 45º aniversário da cassação de Juscelino Kubitschek, em junho de 1964. Logo após o golpe daquele ano, os militares cassaram o presidente em exercício, João Goulart, e um ex-presidente, Jânio Quadros. Inicialmente, JK foi poupado.

Desde fevereiro do mesmo ano ele fora lançado e homologado pelo PSD como candidato na próxima sucessão presidencial, marcada para o ano seguinte. Seria o “JK-65”, tido como uma barbada eleitoral.

As forças no poder, tanto no setor militar como no empresarial, queriam fazer de Carlos Lacerda, o mais ostensivo propagador do golpe, não apenas um candidato, mas o presidente da República. Era necessário limpar o terreno para isso, tirando JK da jogada.

Em São Paulo, que na época gozava a fama (merecida) de ser a locomotiva do Brasil, teve início um movimento para cobrar a cassação do candidato pessedista. Castelo Branco, que havia prometido manter o calendário eleitoral e o jogo democrático, foi pressionado pelo então ministro da Guerra Costa e Silva para ir conversar com a cúpula da conspiração. Castelo reclamou que os empresários paulistas ameaçavam boicotar o plano econômico elaborado por Octavio Gouveia Bulhões e Roberto Campos, que daria régua e compasso para a economia nacional. Foi feita a exigência: que Castelo cassasse JK. Todos os ministros assinariam o ato, menos Roberto Campos.

No avião de volta para Brasília, Costa e Silva convenceu Castelo que era necessária a cassação, caso contrário, a chamada revolução não se consolidaria. Em carta a JK, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Carlos Carmelo Vasconcelos Mota, seu amigo desde os tempos de Diamantina, entregou o que sabia: “Presidente, aqui está a cabeça da hidra”.

CARLOS EDUARDO NOVAES

Pedalando para o sonho

JORNAL DO BRASIL - 05/07/09

De repente você abre ao acaso um site de notícias e dá de cara com uma informação que precisa ler duas vezes para acreditar: a carioca Daniela Giovanesi venceu a Race Across America, prova de ciclismo através de 4.800 quilômetros, de uma costa a outra dos Estados Unidos. Se você ficou surpreso espera só para saber que Daniela tem 41 anos, três filhos e foi a primeira mulher – em dois anos de competição – a concluir o percurso dentro do tempo exigido na prova feminina. Vamos ficar de pé para aplaudir Daniela!

Uma conquista dessas deixa qualquer brasileiro orgulhoso, muito mais do que com o título da Copa das Confederações. Ela derrotou as americanas no mesmo dia em que vencemos os americanos na África do Sul. Vitórias no futebol já não nos surpreendem (surpreendem as derrotas!), mas no ciclismo e na terra de Lance Armstrong, sete vezes seguidas campeão do Tour de France, é um feito que merecia quase tanto espaço na mídia quanto recebe o Sarney que nunca subiu numa bicicleta.

Sempre me impressionou a vocação do brasileiro para os esportes (o mesmo não posso dizer quanto à política). Tivéssemos uma estrutura semelhante à de Cuba – nos bons tempos – e estaríamos no topo do mundo olímpico junto com a China e os Estados Unidos. Você já se deu conta dos títulos mundiais que vamos recolhendo nos mais diferentes esportes? Do futebol ao skate (street ou vertical); do vôlei ao surfe; do futsal à natação; da ginástica olímpica a Maurren Maggi? Sem falar do judô, vela, taekwondo, futebol de areia, vôlei de praia e de glórias recentes no tênis, boxe, hipismo, automobilismo. Somos uma potência esportiva deitada em berço esplêndido. Com mais dois dedinhos de seriedade e planejamento chegaremos a campeões de beisebol com nossos "japoneses".

Daniela não é uma recém-chegada aos esportes. Praticou corrida de rua, bodyboarding, foi campeã mundial no jiu-jítsu e só em 1999 sentou-se profissionalmente no selim de uma bike (reparou que ninguém mais fala "bicicleta"?). Para vencer a Race pedalou um pouco mais do que o Robinho: foram nove dias, 11 horas e 50 minutos. Sabe quem foi seu companheiro de "viagem"? O riso! Mais do que o canto foi o riso que espantou seus males e seu cansaço. Ela declarou, depois de cruzar a chegada, que "encarei a prova sempre me divertindo, dando gargalhadas com o grupo". Nunca suspeitei dos benefícios do riso à saúde, mas confesso que ignorava que rir também fosse o melhor remédio para as competições esportivas. Um humorista americano disse que "uma boa gargalhada é o segundo maior prazer do homem". Não podendo usufruir do primeiro – fica difícil pedalando o tempo todo – Daniela entregou-se ao segundo e com ele chegou em primeiro.

A carioca pedalou 20 horas por dia (cerca de 400 kms), dormindo quatro, um esforço brutal para ganhar um prêmio – pasme – de US$ 2 mil. Mas o dinheiro não estava na conta da sua felicidade. Como diria a propaganda do cartão de crédito, um sonho não tem preço.

O IDIOTA: ONTEM E HOJE


BRASÍLIA - DF

Notícias do Senado

LUIZ CARLOS AZEDO

Correio Braziliense - 05/07/09

Se engana quem pensa que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o primeiro-secretário da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI), estão em rota de colisão. Trocam figurinhas todos os dias. Dos cardeais do DEM, Heráclito é o mais firme com Sarney. Até mesmo Kátia Abreu (TO) e Raimundo Colombo (SC), ligadíssimos a Jorge Bornhausen, foram a favor do afastamento do presidente do Senado. O "Alemão", eminência da legenda, apoia Sarney.

A tensão na bancada petista no Senado não para de aumentar. Paulo Paim (RS), Flávio Arns (PR), Eduardo Suplicy (SP) e Marina Silva (AC) estão inconformados com o apoio de Lula a Sarney. O desconforto atinge também os que foram enquadrados por Lula, como o líder da bancada, Aloizio Mercadante (SP), que sangra eleitoralmente. A ponto de a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) sonhar com uma vaga no Senado. A exceção é Delcídio Amaral (MS), firme e forte com Sarney.

Camicase

Na oposição, o líder do PSDB, Arthur Virgílio Neto, do Amazonas, que gosta de viver perigosamente, foi para um tudo ou nada que preocupa a cúpula da legenda. Desgastado por denúncias contra ele, o tucano está em sérias dificuldades eleitorais no Amazonas e sua longeva liderança na bancada começa a dar sinais de esgotamento.

Bye, bye, Brasil

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, começou o desembarque da instituição. Desde ontem, realiza uma maratona de visitas a empresários e políticos de Goiânia e Anápolis. Hoje, participa da Missa de Trindade, tradicional palanque político goiano. O périplo termina amanhã, com um almoço na Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). A agenda inclui um ciclo de palestras para agosto, em Jataí, Rio Verde, Anápolis, Catalão e Itumbiara.

Freio de mão

Irritado com a antecipação da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), mandou recado a seu chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, para que não façamarola contra o secretário de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alckmin. Nada de campanha por enquanto.

Velho Chico

O jeito é reclamar com o bispo de Barra (BA), Luiz Cappio, aquele da greve de fome. O governo não liberou a grana dos projetos de recuperação ambiental do Rio São Francisco, enquanto toca as obras da transposição. Dos R$442,7 milhões previstos, foram empenhados apenas R$ 71 milhões este ano, dos quais somente R$ 1milhão foram efetivamente gastos.

NO CAFEZINHO

Bucaneiro - Na Operação Luxo, deflagrada na última terça-feira, 30, quatro empresários cearenses e um carioca foram presos por fraudes em licitações e outros crimes. Um dos detidos temporariamente era o comodoro do Iate Clube do Rio de Janeiro, Euclides Duncan Janot, almirante-de-esquadra reformado da Marinha, que disputou e perdeu o cargo de comandante da Força. A operação deixou em pânico muita gente no setor naval, porque pode ter desdobramentos na cúpula da marinha mercante.

Muita gente - Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) o número excessivo de senadores incentiva o descontrole na gestão do Senado. Segundo o senador, é preciso cortar na própria carne para dar um bom exemplo aos marajás da burocracia da Casa.

Apelo - Uma delegação de deputados petistas atravessou o Salão Verde para hipotecar solidariedade ao presidente do Senado, José Sarney: o líder do PT, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e os deputados Marco Maia (RS), João Paulo Cunha (SP), José Mentor (SP), José Genoíno (SP), Luiz Sérgio (RJ) e André Vargas (PR).

Poeira - Candidata certa ao Senado pelo Rio Grande do Norte, a governadora Wilma de Faria (PSB) patina em terceiro na disputa pelas duas cadeiras abertas em 2010. Pesquisa encomendada pelo DEM nacional mostra a socialista como primeira opção de 22% do eleitorado potiguar. O senador Garibaldi Alves Filho (foto), do PMDB, está na frente, com 35%, seguido de perto do senador José Agripino Maia (DEM), com 34%.

Ovada - Vaiado nas comemorações da Independência da Bahia, na quinta-feira, o prefeito João Henrique (PMDB) põe a culpa no ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que insistiu que fosse às celebrações, apesar das ameaças de servidores grevistas. Um agitador chegou a acertar um ovo na cabeça do prefeito. Foi em cana na hora.

TOSTÃO

Palavras óbvias e ridículas


JORNAL DO BRASIL - 05/07/09

Uma das coisas que gosto no futebol é ver um time organizado, como os do Cruzeiro e do Corinthians.

As duas equipes possuem laterais que apoiam bastante e nem por isso atuam com três zagueiros ou com um volante excessivamente recuado, quase como um zagueiro. Existe um sincronismo no apoio entre os laterais, entre os volantes e entre os laterais e os volantes.

São dois times que sabem o momento de trocar passes e o de acelerar em direção ao gol. Ninguém joga a bola na área para ficar livre dela ou para fazer um gol em uma bola espirrada, como é comum em outras equipes, como o Grêmio no jogo de quinta-feira.

Bom esquema tático é o que tem jogadores com características ideais para executá-lo. Essa é uma função importante do técnico. Como se vê, dou importância aos treinadores. Só discordo quando dão excessiva importância a algumas condutas que não têm nenhuma ou pouca importância.

Por atuarem no Corinthians e no Cruzeiro, duas equipes organizadas, vários jogadores evoluíram bastante, como André Santos e Leonardo Silva. Essa é uma das razões de um atleta jogar muito bem em um time e muito mal em outro.

O Cruzeiro atua com três volantes, mas os três têm mobilidade. Não se limitam a proteger os zagueiros. Ramires, com frequência, se transforma em atacante. Não gosto de equipes, como a do Inter, que possui três volantes, que quase só marcam, e três na frente, que quase só atacam. Fica muito previsível.

Nunca entendi o fascínio que existe por Guiñazu. É chamado de monstro. Ele é um bom jogador, raçudo, que desarma bem e que toca a bola para o companheiro mais próximo. Nada mais que isso. Ótimo jogador de meio-campo é Elias, que está presente em todo o campo, com habilidade e eficiência, ou Marquinhos Paraná, que joga um futebol tão simples e conciso, que muitas vezes fica despercebido.

O Corinthians joga o melhor futebol coletivo do país. Disse isso mais de uma vez, semanas atrás. Já era assim desde a segunda divisão. Ficou ainda melhor depois que Mano Menezes colocou Jorge Henrique de um lado, e Dentinho de outro. Os dois marcam atrás e, rapidamente, se tornam atacantes. Isso não é novidade. Muitos times europeus jogam dessa forma. No Brasil, o Corinthians é o único que faz isso bem.

Quarta-feira, na chegada do Inter ao estádio, estava entre os jogadores o engenheiro motivador Evandro Mota, contratado pelo time gaúcho e por vários clubes brasileiros. Contam que ele deu a mesma palestra, no mesmo dia, para os jogadores do Fluminense e do Paulista, de Jundiaí, em um jogo final da Copa do Brasil. Por indicação de Parreira, o Fluminense dispensou o trabalho de psicólogos para contratá-lo.

Não quero dizer que o trabalho emocional com os jogadores deve ser feito apenas por psicólogos. Vários técnicos e outras pessoas do clube têm condições de fazer isso bem. Às vezes, traz benefícios. Sou contra o exagerado prestígio que muitos treinadores, dirigentes e parte da imprensa dão a essas palestras óbvias, algumas vezes ridículas, de motivação. Parece um show.

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INFORME JB

Na Antaq, a grande família

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 05/07/09

Alvo de cobiçados contratos milionários e setor em ascensão, os portos do país estão nas mãos da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), e a Antaq está nas mãos de... José Sarney. O diretor-geral é o maranhense Fernando Brito Fialho, conterrâneo do cacique. Foi secretário no Maranhão durante o governo de Roseana Sarney e presidente da Administração do Porto de Itaqui (MA) no governo de José Reinaldo. Quando Fialho assumiu, começou a circular pela Antaq o lobista Clésio Martins, despachando direto do gabinete do procurador-geral – ele é muito ligado à empresa Rodrimar, de Celso Greco, que tem contratos no setor no Porto de Santos e denuncia concorrentes nas licitações. Clésio é o vendedor de facilidades da agência, casado com Vandira Peixoto – assessora de Sarney – e padrasto de Manoela Peixoto, assessora parlamentar da Antaq e ex-assessora de Roseana. Greco e Sarney foram padrinhos de casamento de Clésio e Vandira.

Limpa Tô vivo

A Antaq sedia reuniões para reorganização do órgão. Comanda o encontro a assessora do diretor, Carmem Margarida, indicada de Waldemar da Costa Neto (PR-SP) para a Procuradoria da agência.

Jader Barbalho, que mal aparece na Câmara, prepara seu retorno ao Senado.

Salto

O ministro do Esporte, Orlando Silva, será candidato a deputado federal pelo PCdoB-SP. Fica em seu lugar o secretário executivo Wadson Ribeiro.

Apagada

A CPI da Conta de Luz está sem energia. O lobby do empresariado é tão forte que, apesar de instalada a CPI, os partidos não completaram as indicações. E os que indicaram nomes não prosperaram.

Dudu da Luz

O autor, deputado Dudu da Fonte, ameaça ir ao STF para "ligar" a CPI. Nesse caso, se assim decidir o tribunal, Michel Temer deverá indicar os representantes.

Curto-circuito

Filadelfo dos Reis, ligado à Curuá Energia e Brasil Central Energia, é um dos que mais trabalham contra a CPI na Casa.

No chão

Filadelfo gosta de aviões. Chegou a encomendar um bimotor à Líder Táxi, mas teve problemas.

Negócio...

O Rio virou a porta de entrada para investimentos da China. O China Development Bank (CDB), com US$ 400 bilhões para investir, confirmou a abertura de um escritório na cidade.

...da China

O país asiático tem US$ 2 trilhões de reservas. Só para se ter uma ideia do tamanho disso, o Brasil, que vai bem em meio à crise, tem US$ 200 bilhões em caixa.

À mineira

É grande o esforço no PT de Minas para fazer Patrus Ananias e Fernando Pimentel dividirem o pão de queijo à mesa. Agendam até seminários em que os dois são palestrantes. Aguardemos.

Efeito Copa

São Paulo vai sediar, em 2015, a Convenção Mundial do Rotary Club International. A cidade concorreu na etapa final com outros destinos de peso, como Houston e Phoenix (EUA), e ganhou por unanimidade, com 13 votos.

É a crise

A crise no Senado respinga até em deputado. Chico Alencar (PSOL-RJ) foi a um mercado e pagou com cartão de... débito. "Eh, sei que não é o caso do senhor, mas crédito os políticos têm pouco mesmo", mandou a caixa.

Povo fala

Na farmácia, Chico ouviu: "Não quer levar um Demerol (analgésico) para seus colegas?".

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Onde parar


O GLOBO - 05/07/09

Ainda sobre a cara do Michael Jackson: fiquei pensando em como um dos grandes problemas da humanidade é não saber onde parar. É um defeito que nos aflige de várias maneiras, desde de não saber parar antes que um hábito se torne um vício até não saber parar de especular sobre a natureza do Universo antes de sucumbir à loucura. O Michael Jackson não soube onde parar de refazer a própria cara. Você e eu conhecemos muita gente que não soube parar de retocar a sua e também já ultrapassou a fronteira do grotesco irreversível. Faltou alguém para lhes dizer “Pare! Assim está bom. Nem um puxado a mais.”
A atual crise financeira mundial se deveu à incapacidade dos grandes financistas de Wall Street em reconhecer quando o lucro excessivo se tornava lucro obsceno. Ou seja, em saber onde parar. A questão da corrupção e da desigualdade extrema se resolveria se houvesse um dispositivo interior que alertasse quando o dinheiro roubado ou acumulado se tornasse demais, algo que avisasse “agora chega, nem um centavo a mais”. Porque, como se sabe, não são os milhões que corrompem e arruínam – é o centavo a mais. Aquele um centavo além do razoável, a perdição dos que não sabem onde parar.

Grandes artistas são os que sabem instintivamente onde parar. Pode-se imaginar um Velasques decidindo que uma das suas pinturas estava pronta. Que uma pincelada a mais – como o centavo a mais do corrupto e do rico gananciosos – faria tudo desandar. Ou um poeta depois do último retoque, da última micro-cirurgia estética no seu poema, lançando-o, certo de que não falta ou sobra uma palavra. É verdade que o instinto nem sempre ajuda. O Jorge Luis Borges dizia que o escritor publica seus livros para livrar-se deles, para não ficar reescrevendo-os ao infinito. Mas Borges, que nunca fez um texto muito longo, foi um grande exemplo de quem sempre soube onde parar.

Nas especulações sobre as primeiras coisas do Universo saber parar também pareceria importante. Parar em Deus, criador do céu e da terra, e ficar por aí para prevenir maiores angústias, seria uma forma de sabedoria. Mas outros não se contentam com uma explicação teológica que relega o resto a um mistério que não nos diz respeito, e dizem que isto seria como decidir parar de pensar. Já outros...

Mas acho melhor parar por aqui.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


DORA KRAMER

Na rota da trilha torta

O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/07/09

A pose de quem tudo pode, a todos enfrenta e qualquer dificuldade supera do alto dos seus 80% de popularidade, tem sido uma boa companheira do presidente Luiz Inácio da Silva nesses seis anos de governo em que ultrapassou obstáculos aparentemente intransponíveis e, pelos padrões vigentes, de forma até incompreensível.

Por essa capacidade de passar incólume pelas piores turbulências, Lula ganhou assento no panteão dos fenômenos. Só que não recebeu nada de graça. Trabalhou duro, se valeu do celebrado instinto acurado e, uma vez desvendado o mistério da conquista e da sustentação no poder, buscou sempre o lado da melhor aparência.

Ninguém como ele sabe se safar de situações adversas, mesmo que seja preciso criar um cenário virtual muito pouco coerente com a realidade, mas verossímil o bastante para deixar os adversários com as barbas de molho e fazer os aliados se sentirem protegidos debaixo de suas asas.

Daí a oposição limitar sua combatividade a terrenos de baixo risco e se encolher diante de situações que possam representar um confronto real com Lula. Daí também decorre a submissão do PT, mesmo ao custo calculado da perda de discurso, imagem e reputação, bem como se deve a essa supremacia o conforto dos envolvidos em escândalos quando são socorridos pelo presidente.

Lula tem a faca e tem o queijo, para ele as coisas sempre dão certo. Mas, é como deixou subentendido a senadora Marina Silva na sexta-feira, a propósito da insistência do presidente em obrigar o PT a se aliar a ele na sustentação do presidente do Senado, José Sarney: para tudo tem um limite.

Segundo a senadora, o partido leva em conta as conveniências do presidente da República, mas não pode deixar de considerar “o custo político para a sociedade” de determinadas atitudes. Marina Silva propõe algo simples. O exame frio das perdas e ganhos decorrentes da decisão a ser tomada. No caso do PT, a escolha entre aderir ao eticamente certo ou ficar com o moralmente duvidoso.

Não seria a primeira vez nesses seis anos de governo que o partido optaria pela segunda hipótese. Mas só o fato de ter deixado a questão em aberto mesmo depois da ofensiva (talvez um tanto simulada) de Lula em prol de um Sarney eivado de suspeições pessoais, não mais divisíveis com o colégio de senadores, indica mudanças no horizonte.

Evidentemente, a maioria da bancada petista no Senado, cujos mandatos estarão em jogo no ano que vem, percebe que essa encrenca é muito diferente. Não se trata de autodefesa, como no caso do mensalão. Trata-se de incorporar como suas as mazelas do PMDB, adversário do PT em vários Estados na eleição de 2010, e um aliado em hipótese alguma confiável no que tange à promessa de apoio no plano nacional.

Ademais, que poder sobre a decisão do PMDB pode ter um Sarney enfraquecido, sustentado por uma tropa de choque moralmente combalida? Destemido, confiante na própria natureza, o presidente Lula não parece fazer essa conta. Ainda que esteja apenas dançando conforme a música das aparências para demonstrar ao PMDB que fez até o fim a sua parte, Lula exagera. Queima gordura em praça pública.

Por exemplo: poderia ter firmado fileira ao lado de Sarney sem ressalvar que ele não pode ser tratado como “pessoa comum”. Tão convicto está da inviolabilidade de sua augusta figura, que o presidente não se dá à prudência de pisar com mais cuidado em campos há muito tempo minados.

A sorte pode até continuar a lhe servir como ótima companheira, mas conviria não ceder a certas ilusões e considerar que a vaidade extremada mais dia menos dia se revela traiçoeira. Basta que sinta o clima favorável. Algo assim como um presidente forjado na identificação popular passar boa parte do tempo fora do país, bater o pique 48 horas por aqui e embarcar para um fim de semana em Paris. Ou o presidente torcedor no país do futebol arriscar sua lenda de unanimidade ao levantar a taça de seu time, sem se importar com o ressentimento das torcidas dos perdedores.

Diversidade

A julgar pela justificativa da assessoria de Dilma Rousseff para a explosão de temperamento que levou o secretário executivo do ministério da Integração Nacional a se demitir sob alegação de maus tratos em público, a ministra tem dupla face.

Tanto incorpora dona intolerância quanto dá vazão a sua porção santa paciência. A primeira seria a descrita pelos assessores como aquela “intolerante com o despreparo, a corrupção e o desperdício de dinheiro público, que chega a ser mal-educada ao cobrar o cumprimento de tarefas”.

A outra seria a do bom convívio com o aumento das despesas do governo com custeio, o ínfimo índice de investimentos e que não reclama quando o suplente de senador Gim Argello, dono de um fornido plantel de processos na Justiça, inclusive por corrupção, é apontado como seu mais novo, ativo e fiel conselheiro.