quarta-feira, junho 24, 2009

AUGUSTO NUNES

SEÇÃO » Direto ao Ponto

O Show do Milhão dos políticos vai provar que ignorância virou virtude

24 de junho de 2009

Sílvio Santos convidou para o primeiro Show do Milhão dos políticos só quem tinha fama de sabido, pose de primeiro da classe ou memória de elefante africano. O piauiense Hugo Napoleão, por exemplo, sabia identificar de bate-pronto as bandeiras de todos os Estados brasileiros. O fluminense Anthony Garotinho sabia cantorias evangélicas que o rebanho inteiro ignorava. O internacional Paulo Maluf sabia chamar pelo nome completo, um a um e sem sotaque, todos os ibns e saids da família real saudita. A trinca não podia ficar fora do especial exibido na noite de 30 de dezembro de 2001.

”Espero que os telespectadores compreendam que eles são célebres, famosos, mas não são obrigados a saber tudo”, preveniu Sílvio Santos antes de apresentar as 12 sumidades em conhecimentos gerais que sorriam para o Brasil no estúdio do SBT. Mas excluiu Maluf da advertência com a ressalva superlativa: “O doutor Paulo tem uma cabeça brilhante”. Desconfiou de que errara quando o craque pulou a primeira pergunta. Teve certeza disso na questão seguinte: como é chamado quem escreve sobre a vida dos santos?

”Santório”, chutou no pau de escanteio o camisa 10. Sílvio Santos subiu o tom, ensinou que a opção correta era “hagiólogo” e repreendeu o falso brilhante: “Você acabou com o seu time, Maluf”. Além dos R$ 20 mil que tinha somado, a equipe do candidato a tudo perdeu a chance de ganhar 1 milhão de reais (em barras de ouro). Ninguém reclamou. Fora o deputado paraibano Marcondes Gadelha, que preferiu parar em R$ 500 mil, todos naufragaram. Mas Maluf só não foi o pior da classe porque Anthony Garotinho estava lá.

“Em casa ele acerta todas, a gente não perde o Show do Milhão”, balbuciou Rosinha Matheus ao ver o marido afundar, com apenas R$ 15 mil, na oitava das 16 perguntas previstas. O governador do Rio começou a tenebrosa travessia pulando as duas primeiras. Não sabia em que década surgiu a pilula anticoncepcional nem o que significava o W. de George W. Bush. Desvendou por conta própria os dois mistérios seguintes. Solicitou ajuda para responder a outros três. Qual é a fórmula da água?, indagava um deles. Garotinho pediu socorro aos três jornalistas e aprendeu que é H2O. Foi eliminado ao derrapar na oitava pergunta.

Os telespectadores ficaram espantados: se o bando de marmanjos não precisava saber tudo, também não precisava saber tão pouco. Os convidados ficaram inquietos: se a prova de conhecimentos elementares influenciasse a votação, nenhum deles arranjaria emprego nas urnas de 2002. Sílvio Santos achou melhor encerrar a experiência. Mas a versão 2009 vem aí a partir de 8 de julho, avisou na semana passada.

Que sejam ressuscitados também os especiais com políticos, recomendam as mudanças ocorridas nos últimos sete anos na cabeça do Brasil profundo. Em 2001, ainda ficava mal no retrato quem não soubesse o que sabe um aluno do jardim da infância com mais de 10 neurônios. Já faz tempo que o país redesenhado pela Era da Mediocridade decidiu que ignorância não é defeito. Tornou-se virtude neste fim de década.

Estudar e aprender agora são verbos conjugados pela elite golpista, pelos reacionários paulistas e por loiros de olhos azuis. Reprisado em 2010 no programa eleitoral gratuito, o fiasco daquela noite promoveria os canastrões imbecilizados a genuínos representantes do povo, brasileiros iguaizinhos aos brasileiros de verdade, gente boa como é boa a gente da terra do carnaval e do futebol.

Todo pai da pátria deveria disputar a socos e pontapés um convite para as próximas edições do Show do Milhão. Quanto menos respostas acertar, mais perto estará de um ministério. Se errar todas, terá fortes chances de disputar a Presidência da República.

FERNANDO CALAZANS

Copa da afirmação

O GLOBO - 24/06/09

Alguns jogadores da seleção brasileira estão se afirmando em posições que, há pouco tempo, ainda não tinham titular definido. É o caso de Maicon, Felipe Melo, Ramires e Luís Fabiano. Eles começam a se juntar a Júlio César, Lúcio, Juan, Kaká e Robinho, titulares absolutos do time de Dunga. Então ficam faltando, pelo menos na minha cabeça, lateral-esquerdo e cabeça de área. Na cabeça de Dunga, não. Nela, Gilberto
Silva também é titular. Fica faltando, então, o lateral-esquerdo.
De André Santos, o último a merecer oportunidade ali, não se pode dizer que tenha conquistado a posição. Mas é jovem, é principiante em seleção e dá sinais de que pode se firmar até a Copa do Mundo. Pode ser, não é certo. Certo para mim, por enquanto, é que André Santos tem o que progredir, enquanto Kléber, seu concorrente, não. Portanto, já o vejo na frente.
Na cabeça de área, desponta o maior problema, até pela polêmica que o preferido de Dunga desperta. Não é agradável, especificamente numa seleção brasileira, contemplar, logo no meio de campo, uma figura lenta, metódica, repetitiva, burocrática, como Gilberto Silva. Que até destoa numa equipe que está adquirindo uma forma, uma feição.
Feição conferida, sem dúvida, por Dunga. A diferença minha com o técnico, no momento, é esta: na minha cabeça, a dúvida maior está no primeiro volante; na cabeça dele, está no lateral-esquerdo. Bem, até a Copa no ano que vem há tempo para resolver uma ou mesmo as duas questões.
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Não estou querendo dizer que temos a seleção ideal. Já ouço ecos televisivos de que está tudo pronto, tudo certo, para mais uma consagração mundial. É o oba-oba da Copa que se aproxima. O exagero da mídia do espetáculo.
Na minha seleção ideal, falta o estilo improvisador, criativo, superior, diferente de tudo e de todos, de um Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Não ele, eu sei. Infelizmente, Ronaldinho parece ter dado por encerrada uma carreira que parecia longe disso. Falo do estilo inconfundível do jogador fora de série brasileiro, ao longo do tempo.
Ah, sei que o Kaká preenche esses requisitos. É que sinto falta de mais um, um segundo homem, uma alternativa, um reforço excepcional, alguém que se reveze com Kaká na criação de uma seleção autenticamente brasileira.
Falamos de coisas boas como as vitórias da seleção e do Flamengo. Das más, ficamos apenas com o Vasco das últimas rodadas, que, curiosamente, está se transformando no grande adversário de si próprio na Série B.
Faltaram o Botafogo e o Fluminense, que perderam amadoristicamente nos últimos minutos de seus jogos com Vitória e Avaí. Enquanto o Flamengo, com a direção de Cuca e os gols de Adriano, pulava para uma reanimadora sexta posição, Fluminense e Botafogo pulavam para baixo, para o décimo-primeiro e o décimo-oitavo lugares. Mais dois ou três pulos assim, podem despencar no abismo em que caiu o Vasco. Não está na hora de as diretorias pensarem nisso? Falo de diretorias, que devem comandar os clubes, não de patrocinadores, que devem comandar suas empresas.
Zico lançou na segunda-feira à noite, no Cinema Odeon, seu DVD “Zico na Rede”.
É o documentário da carreira do grande craque, contada através de seus belos gols. E, portanto, numa palavra só: imperdível.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Uma história do saque do Senado


Folha de S. Paulo - 24/06/2009

Oligarcas da miséria, antigos e arrivistas, chantageiam os governos federais e estão na base da crise parlamentar


É UM CLICHÊ barato dizer que a política brasileira é lambuzada de patrimonialismo (isto é, grosso modo, o costume de tornar indistintos os bens públicos e privados). O termo vinha servindo mais como metáfora do que descrição exata. Mas no Senado (aliás, no Parlamento todo) a definição serve exatamente, como um verbete de dicionário, nos seus casos mais aberrantes e caricatos, como as despesas da casa de senhores senatoriais pagas pelo público. Se fosse apenas este, o problema seria ainda limitado, porém. As "casas" de que se trata aqui são os domínios dos oligarcas dos lugares mais atrasados do país. Trata-se da "Casa de Sarney", da "Casa de Renan" etc. "Casa" no sentido de "domínio", de linhagem, sentido obviamente temperado de sarcasmo.
Por um lado, há os oligarcas mais ou menos tradicionais do Nordeste, que em geral sobraram no PFL-DEM. De outro, há a nova oligarquia que emergiu nos anos 80, com as vitórias do PMDB, as quais levaram ao poder figuras da pequena classe média (e daí para baixo), que acabaram por fazer carreira e fortuna na política: Quércias, Barbalhos, Rorizes, Rezendes, Geddeis, ao que se somaram Renans e similares, eles mesmos senadores ou "donos" de bancadas.
O poder de vários desses "quadros" dominantes foi reforçado com as doações de rádios e TVs, intensificada quando José Sarney presidia a República. Além do mais, a fragmentação partidária reforça o poder do PMDB, esse partido dito sem rosto mas que reúne a parte mais pujante do empreendedorismo político nacional, digamos. Antes do PT, o PMDB foi um grande instrumento político de ascensão social.
As "casas" da oligarquia, nova ou velha, dominam seus Estados distribuindo favores na máquina política local. Transferindo benefícios federais que recebem na troca fisiológica com o governo federal. Dominando meios de comunicação regionais e o dinheiro dos "fundos de desenvolvimento" (e outros), com os quais levantam seus negócios de fato (lembrem-se de Sudam e Sudene), quando não recebem ajudas diretas (caso de usineiros nordestinos). Tratar o Senado como parte de sua "casa" é um meio de sustentar seu poder.
Vindos na maioria dos Estados mais miseráveis (Maranhão de José Sarney, Alagoas de Renan Calheiros, entre outros) ou quase em estado de natureza (os ex-territórios, caso de Romero Jucá), tais senhores detêm alguns oligopólios políticos. Têm razoável controle sobre o eleitorado local, dependente do Estado. A rarefeita esfera pública, a baixa instrução e a escassa diferenciação social e econômica nesses rincões favorece o domínio das "casas", que só recentemente começou a ser contestado, pela ascensão do PT (Piauí, Paraíba e Bahia). As "casas" controlam ainda os votos da maioria no Congresso. Trocam favores com o presidente e com os candidatos a presidente da República do "Sul" rico. Não é por outro motivo que Lula, mas também todos os presidentes pós-ditadura, os tolera ou mesmo os defende.
É claro que a perversão política brasileira vai muito além de oligarquias e que no Sul "rico" há bandalha similar (vide a Câmara dos Deputados ou Assembleia e a Câmara de São Paulo). Mas a situação de fato do Senado é de domínio de oligarcas da miséria, muitos deles no PMDB.

GOSTOSAS DO TEMPO ANTIGO


RUY CASTRO

Em breve nas ruas


Folha de S. Paulo - 24/06/2009

RIO DE JANEIRO - A Justiça ameaça devolver às ruas o traficante Elias Maluco, condenado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo. Para quem não se lembra, em 2002, Tim estava em meio a uma reportagem sobre bailes funk no complexo do Alemão, no Rio, seguindo uma denúncia de que neles haveria tráfico de drogas e exploração sexual de menores.

Foi capturado, torturado e executado a tiros na favela da Grota. Ainda vivo, foi queimado no "micro-ondas", como os bandidos chamam os pneus que incendeiam junto com a vítima, e esquartejado a golpes de espada ninja. A polícia custou para identificá-lo pelos fragmentos que encontrou. Outros oito homens, comandados por Maluco, participaram da execução.
Elias Maluco pegou 28 anos e seis meses de prisão em regime integral -ou seja, teria de cumprir a pena inteira. Mas, na semana passada, seu advogado conseguiu mudar a pena para aquela em que, depois de completado um terço, o réu pode gozar do regime semiaberto ou mesmo de liberdade condicional. Maluco já cumpriu sete anos. Donde, dentro de mais dois, poderá passar o dia flanando pela cidade, de mãos nos bolsos e chutando tampinhas, e só voltar à cadeia para dormir, ou ficar de vez na rua.
Na verdade, esse já era o regime de que ele estava gozando -o de liberdade condicional- quando matou Tim Lopes. Um de seus cúmplices, o bandido Zeu, também teve licença para dar uns bordejos, no ano passado. Pois saiu para ver a família e nunca mais voltou -suspeita-se de que tenha matado a mulher, e seus colegas de tráfico o executaram por isso. Como se vê, os traficas não confiam muito uns nos outros.
Elias Maluco à solta, de chinelo e bermuda nos fundos de uma birosca, é, de fato, uma ameaça. Mas não maior que a dos calçudos e engravatados por trás dele.

TOSTÃO

Estilos que se misturam


JORNAL DO BRASIL - 24/06/09

Adilson Batista, que nasceu no Sul, campeão da Libertadores como jogador do Grêmio, chamado de "Capitão América" pelos gremistas, dirige o Cruzeiro, um time com tradição de jogar bonito, em velocidade e com a bola no chão.

Paulo Autuori, carioca, campeão da Libertadores como técnico do Cruzeiro, que sempre gostou do futebol bonito e de troca de passes, comanda o Grêmio, uma equipe com tradição de marcar muito e utilizar bastante as jogadas aéreas.

Hoje, o Cruzeiro também marca muito e faz muitos gols de bolas paradas, e o Grêmio também troca muitos passes em direção ao gol. Os dois estilos se misturam.

Uma boa equipe precisa ser capaz de marcar e contra-atacar bem, fazer muitos gols de bola parada e também de trocar muitos passes e de saber esperar o momento certo de chegar, com velocidade, ao gol.

Paulo Autuori gosta de armar suas equipes com dois volantes e um meia de cada lado, para fazer dupla com o lateral, na marcação e no ataque. Adilson Batista costuma escalar o Cruzeiro com três armadores defensivos (volantes) e um meia. O time é ofensivo, principalmente no Mineirão, porque os laterais atacam bastante, e os três marcadores no meio-campo têm mobilidade para avançar.

O Cruzeiro melhorou neste ano com as contratações de Kléber e de um bom e grandalhão zagueiro (Leonardo Silva). Alguns jovens evoluíram, como Henrique, Jonathan e Magrão, além de Marquinhos Paraná e Fábio, que continuam muito bem. O técnico também melhorou bastante, ao deixar de fazer coisas, sem sucesso, que só ele entendia.

Marquinhos Paraná marca bem, faz pouquíssimas faltas e possui um bom, rápido e lúcido passe. Merecia ser mais valorizado. Ele é melhor que parece.

Em duas partidas, não há favorito. No Mineirão, se o Cruzeiro fizer um gol primeiro, deveria seguir o exemplo do Corinthians contra o Inter e procurar o segundo, sem afobação, mesmo correndo risco de sofrer um gol.

Dizer que 0 a 0 em casa é melhor que ganhar por 2 a 1 me lembra tempos atrás, quando falavam que o placar de 2 a 0 era muito perigoso, mais ainda que ganhar de 1 a 0, pois a equipe poderia relaxar durante a partida.

Mudanças para melhor

Contra a Itália, o Brasil jogou bem e bonito. Além dos belíssimos contra-ataques, o time trocou mais passes. Gilberto Silva, que jogava quase como um zagueiro, passou a atuar, a partir do jogo contra o Paraguai, no meio-campo.

Dunga, que dizia ser Ramires um meia, reserva de Kaká, mudou seu conceito ao escalar o jogador para atuar do jeito que sabe, marcando mais atrás para depois chegar ao ataque. A única diferença é que, no Cruzeiro, ele corre por todos os lados. Na Seleção, ele tem uma posição de referência, pela direita, como Elano.

Ainda há mais coisas para melhorar.

Cansaço mental

O sucesso prolongado e a pressão para mantê-lo leva a uma fadiga mental, a uma acomodação inconsciente e a uma auto-suficiência, quase uma soberba, de imprevisível duração. Acho que isso, mais que outros problemas, é o principal motivo da queda do São Paulo.

GOSTOSA


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ARI CUNHA

Salvemos a instituição


Correio Braziliense - 24/06/2009

Senador Arthur Virgílio defende Sarney de todos os males. Dá grito de guerra. Extinguir oposição. Excede na amizade. Poderá ser amigo fiel. Do contrário, inimigo duro. Não criou meio termo. Afirmou que não se elegeu para virar bedel de ato da Mesa e lamentou ter que reduzir o mandato a isso também.

Cristovam Buarque declara que o povo condena o Senado. Com a internet, a velocidade é medida por segundos. Sarney leva tempo para pensar. Sugere licença de dois meses para presidente do Senado. Ouvir o que pensa a população. Senadores devem saber a razão de o povo estar contra o Legislativo. População deve dizer a causa de não crer no Legislativo.

Na situação atual, o parlamento obedece. O Executivo dá ordens dentro da Casa. O Judiciário toma o lugar do Poder Executivo. A dependência entre poderes é clara. Não há interligação entre os três.

A frase que foi pronunciada


“A crise não é do Senado. É da política predatória que se faz lá.”

  • Senadores José Sarney e Arthur Virgílio condenam sem dizer a quem.

  • Açudes
    Construídos sem seguir as regras da contenção de águas, 600 açudes no Ceará viram romper as barragens. Pequenas cidades inundadas. Perda na lavoura e desabrigo de gente pobre. Responsáveis não aparecerão. Açudes foram construídos por gente sem saber o que estava fazendo.

    Algemas
    Magistrados estão de cabeça baixa. Proibiram o uso de algemas nos julgamentos. Acusado deve ter liberdade. Aumentou o trabalho. Seguranças às vezes separam réus que tentam agredir juízes. Rever o caso torna-se impossível. O caminho é esquecer a determinação.
    A lei não pegou.

    Gripe suína
    Evitar aglomeração é motivo para se evitar a gripe suína. Buenos Aires recebe turistas de todos os lugares. Não é possível acompanhar todos. Em recintos fechados, o mal se propaga. A Argentina está sendo prejudicada pelos turistas. O frio é inimigo. O país começa a ficar de sobreaviso.

    Real
    Faz tempo que a moeda brasileira está com valor superior ao dólar. As importações ficam mais baratas. As viagens também. O Brasil cria condições para que possamos exportar.

    Desmentido
    Pedro Simon afirma que não faz parte dos senadores que põem a culpa em Agaciel Maia assinando atos secretos. Senador Arthur Virgílio fala em aprofundar corrupção citando ex-diretor. Precisamos, disse Simon, fazer algo radical na transparência e punição dos culpados e responsáveis.

    Sem punição
    Arquivado o caso em que o deputado Fábio Faria usou a cota de passagens da Câmara para levar amigos ao camarote de sua propriedade. Adriane Galisteu foi pivô do assunto. Deputado devolveu quase R$ 25 mil para evitar polêmica.
    Michel Temer, presidente da Câmara, arquivou o processo.

    Resposta
    Quando houve interesse em ouvir o outro lado, a senadora Roseana Sarney esclareceu. Amauri de Jesus Machado não é seu mordomo. Frequenta a casa e sempre irá frequentar. Ninguém quis saber da resposta.

    Curiosidade
    Se a CPMF não resolveu, só a competência de gestão será capaz de eliminar o problema.
    Nos hospitais públicos, a média de espera para atendimento é de 12 horas. Nos hospitais particulares, de seis a oito.

    História de Brasília


    Expectativa geral em todos os ministérios. Funcionários que nunca foram vistos apareceram, ontem, meio desarvorados e sem saber que mesa deveriam ocupar. No Planalto, a movimentação foi intensa. (Publicado em 2/2/1961)

    ELIO GASPARI

    O major Curió não é "uma pessoa comum"


    Folha de S. Paulo - 24/06/2009

    O ex-agente do SNI é um retrato do Brasil do final do século 20, feio, brutal e dissimulado

    O REPÓRTER Leonencio Nossa trouxe o major Curió de volta ao palco. Aos 74 anos, com os cabelos pintados de vermelho, ele vive seu último ato no interior da Amazônia. Agarrado a uma velha mala, conta mais uma vez sua história da Guerrilha do Araguaia. Nesse conflito se chocaram comandantes militares ineptos, seduzidos pelo banditismo, e uma liderança do Partido Comunista do Brasil que jogou cerca de 70 jovens numa "guerra popular" iniciada em 1972 com a fuga do chefe político (João Amazonas) e terminada dois anos depois, com a fuga do chefe militar (Angelo Arroyo).
    Numa região de lendas superlativas, Curió se tornou um dos brasileiros que marcam a história da segunda metade do século 20. Numa desgraça dessas que descem do além, o tempo que viu JK viu Curió também. Sem se conhecer o Brasil das luzes de Juscelino não se entende o que veio a ser o país. Conhecendo-se o país das sombras de Curió, aprende-se porque muitas coisas ainda são como são.
    Seu nome é Sebastião Rodrigues de Moura, cadete da Academia Militar das Agulhas Negras, oficial do Centro de Informações do Exército, agente do SNI, senhor de baraço e cutelo do maior garimpo a céu aberto do mundo, em Serra Pelada; deputado federal e prefeito (pelo PMDB), da cidade brotada de um casario de bordéis, hoje denominada Curionópolis. Em suma, um daqueles sujeitos que, não sendo "uma pessoa comum", patrocinam desditas com a bolsa e o aparato da Viúva.
    Curió participou do massacre dos militantes do PC do B que se renderam ou foram capturados pelas tropas do Exército a partir de outubro de 1973. Felizmente apresentou informações e documentos que ajudam a comprovar uma política de extermínio que só teve paralelo em Canudos ou na Guerra do Contestado. Ele poderá ajudar a reconstituir o cenário de delinquência no qual oficiais do Exército matavam pessoas que se haviam rendido, com quem haviam se familiarizado e, possivelmente, de quem recebiam até mesmo serviços domésticos. Ao contrário dos demais oficiais que participaram da matança, Curió foi muito mais que isso, sempre movendo-se nas beiradas da fronteira da expansão social e geográfica do Brasil. Aí está o aspecto instrutivo de sua figura.
    A serviço da ditadura, comandou ações repressivas e negociadoras em regiões de conflitos fundiários. Esteve no Rio Grande do Sul quando amanhecia o MST, mas foi na região do Bico do Papagaio que se tornou uma espécie de vice-rei. Até aí, teria sido mais um coronelzinho de castanhais. Em 1977, quando caçava guerrilhas inexistentes em busca das diárias do CIE, acharam ouro por perto, em Serra Pelada.
    Curió coroou-se imperador das crateras e, em nome do governo federal, organizou o trabalho de 30 mil garimpeiros. (É possível que de Serra Pelada tenham saído cerca de 30 toneladas de ouro e uma parte foi mandada por via expressa para o Banco Morgan, na tentativa de segurar um governo quebrado.) Quando Brasília tentou impedir o garimpo manual, o major que perseguira guerrilheiros instrumentalizou a maior revolta popular ocorrida na Amazônia. Prevaleceu e elegeu-se deputado federal.
    O Curió das degolas de prisioneiros é o mesmo líder de garimpeiros miseráveis que se elegeu deputado federal e prefeito. Não é "uma pessoa comum", parece pertencer ao passado, mas nunca abandona por completo o presente.

    VAMOS COMPRAR UMA PERSIANA?

    BRASÍLIA - DF

    Todo poder às agências


    Correio Braziliense - 24/06/2009


    O Palácio do Planalto está cada vez mais convencido de que precisa rever o status operacional das empresas privatizadas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, principalmente nas áreas de infraestrutura e telecomunicações. A ideia é fortalecer as agências reguladoras, jogando mais pesado com as empresas quanto à execução dos contratos. O recado foi dado ontem pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que suspendeu temporariamente a comercialização dos serviços de banda larga (Speedy) da Telefônica.


    Sob o comando de Ronaldo Sardenberg, a direção da Anatel foi completamente renovada durante o governo Lula, com a posse de seu mais novo diretor, João Batista de Rezende. As demais agências, como a do Petróleo (ANP) e da Aviação Civil (ANAC), praticamente passaram pelo mesmo processo.

    O fortalecimento do papel das agências frente às empresas, agora, depende da votação do projeto de reestruturação que tramita no Congresso. A questão mais polêmica é a autonomia dos órgãos reguladores em relação ao governo Lula. Isso, para os petistas, era um problema; no fim do segundo mandato, virou solução.

    Apagão

    PT, PSDB, DEM e PPS comunicaram ao presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), que vão se retirar da CPI das Contas de Luz, em protesto pela indicação de seu relator, Alexandre Santos (PMDB-RJ).


    Pelo telefone

    A telefonia móvel no Brasil atingiu números astronômicos:
    157 milhões de usuários. A turma do pré-pago, de baixa renda, representa 81,75% dos “com-celulares”. Ou seja, 128 milhões de brasileiros


    Regra três


    O ex-deputado federal Milton Temer (PSol) será o candidato da esquerda radical na sucessão do presidente Luiz Inácio lula da Silva. Apesar de bem posicionada nas pesquisas, Heloísa Helena (PSol), hoje vereadora em Maceió, deve se lançar candidata ao Senado por Alagoas.



    Reintegração
    O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, assina contrato de prestação de serviços com a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do Distrito Federal (Funap). Cerca de 100 presos do DF serão aproveitados como mão de obra no Conselho Nacional de Justiça.

    Baldeação
    Governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), preocupado com a possível candidatura do senador Delcídio Amaral (PT) ao governo do estado, acena com a possibilidade de fechar uma aliança com o PSDB, o DEM e o PPS. Puccinelli é da base do governo Lula.

    Rua
    O ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), demitiu 40 gráficos do Ministério do Trabalho. Sem impressores, a confecção de carteiras de trabalho está parada.


    Achaques

    Caminhoneiros brasileiros entregaram ao ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), ontem, uma carta denunciando a Gendarmeria Nacional Argentina por cobranças irregulares de multas, maus-tratos, detenções abusivas, apreensões ilegais de documentos, exigências irregulares de equipamentos veiculares, furtos de bens particulares e descumprimento de acordos de transporte do Mercosul. Atravessar a fronteira em Uruguaiana (RS) virou uma aventura.


    O vice da Dilma


    Com números nas mãos, o Palácio do Planalto está convencido de que a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil (PT), Dilma Rousseff, só tem a ganhar com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) fora da corrida presidencial. Por isso, volta a discussão sobre a possibilidade de entregar a vice ao político cearense, contemplando o PMDB com o apoio do PT aos candidatos aos governos estaduais. A aliança fecharia os votos do Nordeste.


    Moratória

    A promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Guarujá (SP), Juliana de Souza Andrade, com o apoio da prefeita Maria Antonieta (PMDB), conseguiu impedir a emissão de alvarás para construção civil no famoso balneário paulista. Desde o início do ano, não são construídos novos edifícios na orla da cidade, para desespero do setor imobiliário. Se a moda pega, será uma revolução urbana.


    Garçons

    O deputado Gilmar Machado (PT-MG) avisa que conseguiu aprovar projeto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara garantindo 10% de cobrança adicional sobre as despesas de bares e restaurantes a título de complemento salarial dos garçons. Com isso, a gorjeta poderá fazer parte do cálculo de 13º salário, férias e outros benefícios trabalhistas.


    Cadastro

    O presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, José Maurício Nolasco, em audiência na Câmara, defendeu a criação de um cadastro nacional único padronizado de todos os processos de contratos públicos do país. Segundo Nolasco, essa uniformização evitará as atuais distorções de análises dos técnicos e eventuais interferências políticas nos órgãos auditores.

    JOSÉ NÊUMANNE PINTO

    A diferença entre servir à Pátria e servir-se dela


    O Estado de S. Paulo - 24/06/2009
    Esses escândalos no Senado propiciam uma ótima oportunidade para "passar o País a limpo" e "mudar tudo o que está aí", como pregava o PT de Lula quando se fingia de PV (um partido de vestais). A existência de decisões secretas que produzem gastos públicos para pagar privilégios privados caracteriza a traição do princípio elementar da transparência, sem o qual é impossível o cidadão saber como o Estado usa o dinheiro que lhe toma na forma de impostos. A clandestinidade é uma maneira aceitável de desafiar a lei se acoberta grupos políticos que combatem alguma tirania, mas inaceitável se ocorre numa instituição republicana, que exerce um poder de representação da cidadania. No caso, o benefício da clandestinidade aprofunda a crise da representatividade, passando o Congresso de clube privado a bando mafioso.

    Dois episódios recentes ilustram a malsã confusão vigente - na Monarquia e nas Nova e Velha Repúblicas, no Estado Novo e na democracia liberal de 1946, na ditadura militar e na atual gestão petista - entre a coisa pública e a vida privada. Ao se defender, da tribuna do Senado, com voz tatibitate e trêmula (favor não confundir com embargada), o presidente da Casa (e ex da República) disse que a crise não era dele mesmo, mas da instituição. E cobrou mais respeito por tudo quanto teria feito pela Pátria.

    Suas frases gaguejadas encontraram eco na voz rouca e solícita do "absolvedor-geral da República", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se arvorou a subverter o conceito basilar sobre o qual está erigida a nossa e qualquer outra ordem institucional democrática que se preze - o de que "todos são iguais perante a lei". Como o Senado não é uma vaga entidade, mas uma instituição representativa da sociedade, composta por membros eleitos pela cidadania, a crise que o atinge é de todos os brasileiros, em particular dos senadores e, mais em particular ainda, de quem o preside. Se nem isso Sarney conseguiu aprender em tantos anos de "serviço" público, a coisa pode ser mais grave do que parece.

    Mas absurdo maior que tentar fugir da responsabilidade de enfrentar a crise é se pretender acima da lei, como Sarney disse ser, da tribuna. E Lula avalizou, direto do Casaquistão, onde foi fotografado envergando um bizarro traje que trouxe à lembrança fantasias carnavalescas do Baile do Municipal, quando havia. Não há ninguém acima da lei: não estava, por exemplo, o heroico garoto que impediu a inundação dos Países Baixos pondo o dedo no buraco do dique. Isso não evita que este redator banque o advogado do diabo e pergunte ao presidente do Senado a que serviços ele se referiu quando avocou a inimputabilidade: os que prestou à ditadura militar, presidindo o partido por meio do qual ela pretendeu se legitimar, ou ao doce constrangimento com que assumiu o cargo máximo no lugar do presidente morto da dita Nova República?

    Lula, sim, pode-se gabar de ter sido herói da Pátria quando ajudou a derrubar a longa noite dos porões, comandando operários em greve que desmancharam a frágil ordem legal vigente do regime dos quartéis. Nem isso lhe dá, contudo, o direito de se conceder ou transferir a outrem a condição de inimputável, que no império da lei simplesmente inexiste.

    Na condição de conciliador das elites dos bacharéis e patriarcas de antanho com as elites de ex-guerrilheiros e sindicalistas de hoje, e principal beneficiário de seu pacto solidário - como demonstrou, com invulgar brilho, o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, neste jornal, anteontem (pág. D2) -, o presidente nada de braçadas nesse incidente. Pois tira proveito da desmoralização do Legislativo, da qual se beneficia legislando em seu lugar, ao mesmo tempo que socorre seus maiorais para continuar tendo-os a seu serviço e sob seu cutelo magnânimo.

    Mais que as palavras do pecador irredutível e de seu caprichoso absolvedor, trouxe notícia recente a evidência que não faltava da mistureba de público e privado que a aliança da porteira do curral de votos com a porta de fábrica fortalece neste nosso Brasil varonil. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, herdeira do patriarca, dar ao contribuinte a subida honra de pagar o salário de seu mordomo é a prova mais deslavada de que, para seu clã, prestar serviços à Pátria é permitir que os patriotas lhe paguem os serviçais.

    Nesta rede de termos que se cruzam e se explicam entre si, é significativo que o cargo exercido pelo servidor na casa da governadora maranhense em Brasília seja o de mordomo - raiz etimológica do neologismo mordomia, usado para designar os privilégios das castas política e burocrática em série de reportagens de Ricardo Kotscho publicada neste jornal em plena ditadura. Como nas comédias de erros (de Shakespeare aos humorísticos populares de televisão) - e que não se perca a piada pela própria designação do gênero teatral -, o mordomo Amaury de Jesus Machado atende pela alcunha de Secreta, de "secretário", mas também denominação aplicada aos atos clandestinos que permitem esse e outros tipos de abusos.

    Secreta recebe, na condição de motorista "noturno" do Senado (que nem sequer funciona tanto assim à luz do dia), R$ 12 mil por mês. Lembro-me de que, quando constituinte, Lula me confidenciou, em tom de espanto, que a "companheira" que servia café em seu gabinete ganhava mais que os mais qualificados metalúrgicos do ABC, seus liderados. Hoje, porém, estando em sua mão o timão do pacto dos patriarcas dos grotões com os hierarcas dos sindicatos, que governa o País, já não se espanta com o fato de o povo pobre pagar ao motorista e mordomo salários com os quais sonham em vão médicos, professores e outros servidores públicos menos votados.

    Por que político nenhum, dentro ou fora do Congresso, fica indignado com isso?

    O IDIOTA


    MÍRIAM LEITÃO

    Clima frio

    O GLOBO - 24/06/09

    As oscilações de humor são da natureza das crises. Na segunda-feira, o relatório do Banco Mundial revendo para baixo o crescimento do Brasil derrubou a bolsa. O Banco não tem uma equipe de sábios; trabalha com dados enviados pelos países, portanto o motivo da queda não é a nova previsão. O que há é desconfiança de que os investidores podem ter sido otimistas demais nos últimos tempos.

    Essa é a visão do economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos. Ele acha que o mercado ficou otimista nos últimos tempos sem base em dados concretos da economia mundial.

    - O que houve foi uma certa recuperação das expectativas em relação às economias americana e europeia, mas os dados dessas mesmas economias continuam ruins. Agora, o mercado está se dando conta de que os números da realidade não corroboram as expectativas e começa a mudar de humor - disse.

    Um fato qualquer pode mudar a direção do vento e do humor, como acontece em momentos de alta volatilidade. Não há substância nem nos movimentos de recuperação, nem nos de queda. A economia mundial está encolhendo e a brasileira também, a despeito de pequenos sinais positivos que surgem nos indicadores.

    No caso da economia internacional, há incertezas presentes e futuras.

    - Há uma grande desconfiança sobre se o Fed (banco central americano) vai conseguir enxugar a liquidez excessiva da economia. Ele, ao fazer isso, pode assumir perdas para o Tesouro - disse José Márcio.

    O economista registra também que houve uma recuperação rápida do preço das commodities que não tem muita base nos dados.

    - Os preços voltaram a 2006, quando a economia crescia a uma taxa de 4% ao ano, e agora o mundo está encolhendo cerca de 2%, mas os preços estão nos mesmos níveis, o que é uma contradição. Como as taxas de juros estão muito baixas, as commodities acabaram virando ativos financeiros - afirmou.

    A alta das commodities, entendida, inicialmente, como sinal de retomada do crescimento no mundo, pode ser mais reflexo de especulação e fuga para algum ativo que tenha rendimento. Isso significa que essa alta pode não ser sustentável.

    Os dados do consumo de energia no Brasil divulgados ontem mostram uma queda forte, principalmente da indústria. O consumo está 14% mais baixo do que há um ano. Em relação ao mercado de trabalho no país, que teve em maio seu melhor mês pelos dados do Caged - estatística dos empregos formais controlada pelo Ministério do Trabalho - o economista acha que os números ainda dão sinais de fraqueza:

    - A indústria está destruindo emprego, o setor agropecuário cria emprego, mas temporário. Maio foi bem melhor que abril, mas quando comparado com a média dos empregos criados nos últimos 10 anos, fica bem abaixo. Se for dessazonalizado, o resultado é negativo.

    A grande dúvida, segundo José Márcio Camargo, é se a queda do emprego vai abater o consumo e enfraquecer mais a economia brasileira, ou se o consumo, que veio ligeiramente positivo no último dado do PIB, do primeiro trimestre, será forte o suficiente para manter a economia aquecida e incentivar a criação de vagas.

    - Pode ser que o quadro fraco do emprego afete em algum momento o consumo. Se a trajetória continuar como está, a PME do IBGE pode indicar alta do desemprego - alertou.

    Os dados do acumulado em 12 meses mostram a crise no mercado de trabalho. Em setembro passado, nessa mesma base de comparação, o país tinha criado dois milhões de empregos, agora, a conta nesse mesmo período murchou para 680 mil vagas.

    A queda do emprego se dá principalmente na indústria e é fruto da redução forte dos investimentos, como os dados do PIB mostraram. A queda foi de 14%. A diminuição das importações é até maior do que a das exportações, mostrando que o mercado interno está fraco e refletindo a interrupção de compra de máquinas e equipamentos, ou seja, dos investimentos.

    No próprio governo, a indecisão nos últimos meses sobre dar ou não um incentivo fiscal ao setor de máquinas e equipamentos estava baseada no fato de que, como ninguém estava investindo mesmo, o incentivo seria praticamente inútil. Pode ser que agora, os técnicos do governo estejam vendo alguma possibilidade de recuperação no setor.

    O quadro é de uma economia fria, em recessão, e com uma ligeira recuperação neste segundo trimestre em relação ao primeiro. A alta será pequena e não recupera o terreno perdido. O segundo semestre deve ser melhor, mas não a ponto de fazer com que o ano termine com a conta do PIB no positivo. José Márcio diz que continua com a previsão entre meio e um ponto percentual de retração do PIB de 2009:

    - Mas mais para -1% do que para -0,5%.

    Foi nessa direção que o Banco Mundial foi com suas previsões, revendo a queda de 0,5% para queda de 1,1%. Nada que o Brasil não soubesse. O mercado continua no reino da volatilidade e como subiu muito - apesar de a economia estar em recessão - pode ter novos períodos de queda pela frente.

    - O que tem ajudado o consumo são as transferências de renda, as aposentadorias e o aumento do salário mínimo. Basta ver os dados regionais - explicou José Márcio Camargo.

    Para um crescimento sustentado é preciso que, além disso, as empresas invistam, empreguem, e o consumo cresça em todas as faixas de renda.

    PAINEL DA FOLHA

    Recessão lidera ranking de risco às empresas

    RENATA LO PRETE
    Folha de S. Paulo - 24/06/2009

    A recessão global é o principal risco para as empresas na visão dos executivos. Essa é a conclusão do Estudo Global de Gerenciamento de Riscos 2009 da seguradora Aon, que será divulgado hoje. Na última edição da pesquisa, de 2007, a recessão ficou em oitavo lugar no ranking de riscos.

    O resultado representa a opinião de 551 executivos de empresas de 40 países, incluindo o Brasil, com faturamento acima de US$ 1 bilhão. Entre outubro e novembro do ano passado, os entrevistados escolheram entre aproximadamente 40 itens os que representavam maiores riscos para suas empresas.
    Para Fernando Pereira, vice-presidente-executivo da Aon Brasil, a crise alterou a concepção de risco dos executivos.
    O dano à reputação da empresa, que liderou o ranking de riscos em 2007, ficou apenas na sexta colocação neste ano. O aumento da competição, a escassez de liquidez e o risco nos preços das commodities não estavam entre as dez maiores preocupações das empresas há dois anos, mas constam no ranking de 2009.
    Alguns riscos recebem importância diferenciada em cada região. Na América Latina, a insegurança jurídica é a segunda maior preocupação das empresas. "A lei brasileira passou a oferecer cada vez mais ferramentas para a população reclamar seus direitos. As empresas passaram a ver a responsabilidade civil como um risco, passível de cobertura por seguro", diz Pereira.
    No ranking geral e no da América do Norte, a segunda maior preocupação é sobre possíveis mudanças regulatórias nos mercados. "Com a crise, os executivos já sabiam que a regulamentação do mercado americano mudaria e isso virou uma preocupação no final do ano passado", afirma.

    DE MUDANÇA
    O evento de hipismo Athina Onassis International Horse Show, que ocorria em São Paulo, vai se mudar para o Rio de Janeiro. O circuito -que acontecerá de 31 de julho a 2 de agosto, na Sociedade Hípica Brasileira- está investindo R$ 2 milhões na reforma da hípica carioca, segundo Rodrigo Rivelino, dono da Aktuell, agência que organiza o evento. Além da reforma do piso, serão construídos quase 12 mil m2 de estrutura nos 40 dias de montagem, que envolverão cerca de 700 profissionais. Para o evento, a hípica ganha arquibancadas, áreas para as mesas VIP e camarotes, bulevar com áreas de convivência e outros.

    ENCONTROS
    O ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) deu entrevista ontem na porta do Ministério de Minas e Energia, após participar de reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). Questionado sobre as definições do governo sobre a nova regulamentação para exploração de petróleo na camada pré-sal, Jorge afirmou que há muito tempo a comissão não se reúne e que não há data marcada para novo encontro dos ministros encarregados de redigir um relatório para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    E DESENCONTROS
    Logo que Miguel Jorge deu a entrevista e foi embora, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) apareceu e deu entrevista no mesmo local e, ao final, informou que estava indo para uma reunião do grupo interministerial que estuda o pré-sal, o mesmo do qual Miguel Jorge faz parte.

    REFORÇO
    Paulo Godoy, reeleito para mais três anos à frente da Abdib (bens de capital), promoveu ampla reformulação. Chamou para o conselho da Abdib um time de pesos pesados para enfrentar os tempos de pré-sal e de investimentos em infraestrutura.

    PESOS PESADOS
    Entre os novos conselheiros da Abdib, estão Roger Agnelli (Vale), Marcelo Odebrecht (Odebrecht), Vitor Hallack (Camargo Corrêa), José Luiz Alquéres (Light), José Sergio Gabrielli (Petrobras), José Antônio Lopes (Eletrobrás) e Rogério Sá (Andrade Gutierrez).

    PÉ DIREITO
    Demian Fiocca, o novo presidente da Nossa Caixa, anuncia na sexta, em SP, um amplo pacote de redução de juros para pessoas jurídicas. As primeiras medidas de Demian à frente da Nossa Caixa serão anunciadas em grande estilo. Diversas autoridades devem comparecer.

    EMBRIÃO
    Um fórum permanente de negócios foi criado nesta semana entre Brasil e Itália para incentivar o comércio entre empresas de pequeno porte dos dois países. O fórum reúne entidades brasileiras e italianas e está sob a coordenação da Fiesp.

    GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


    CLÓVIS ROSSI

    No andar de baixo


    Folha de S. Paulo - 24/06/2009

    FRANKFURT - Esqueça um pouquinho todo o alarido em torno de Brasil emergente, de Brics e futuras potências. Não que o Brasil não possa ser potência em algum ponto do futuro, próximo ou remoto.

    O alarido só ajuda a esconder o presente: o país é ainda do andar de baixo, diria Elio Gaspari.
    Fato: a renda per capita média do planeta é de US$ 9.316 (pouco mais de R$ 18 mil). A do Brasil é de US$ 8.949, conforme os dados do mais recente Índice de Desenvolvimento Humano. O andar de baixo (da média mundial) tem uma vastíssima população, aliás: 74,7% dos terráqueos vivem nesses países (ou 5 bilhões de 6,71 bilhões).
    Não adianta muito, portanto, gabar-se de que o Brasil é a décima economia do mundo se a renda de cada um de seus cidadãos está na parte inferior da tabela. Assim mesmo porque se trata de média. Se se tomassem apenas os 20% mais pobres, o padrão seria mais africano que brasileiro.
    Ah, já que o presidente Lula acha que a mídia deveria divulgar apenas notícias boas, como o aumento do emprego, em vez de se preocupar com "desgraças", vamos falar um pouco de emprego. E fazer de conta que a aula de jornalismo não é apenas mais uma bobagem da já longa lista recente que sai da boca do presidente.
    Entre janeiro e setembro de 2008, a geração líquida de empregos formais alcançava, em média, 180 mil por mês, o ritmo mais forte já observado, escreveu Fernando Sampaio, um dos ótimos colunistas desta
    Folha.
    Muito bem: um certo Luiz Inácio Lula da Silva dizia, quando candidato em 2002, que seria preciso criar 10 milhões de empregos nos quatro anos seguintes, o que dá 2,5 milhões por ano e, arredondando para baixo, 200 mil por mês. Se o melhor resultado (180 mil/mês) não chegou lá, também em matéria de criação de empregos estamos no andar de baixo.

    CELSO MING

    Para os pobres

    O ESTADO DE S. PAULO - 24/06/09

    Ontem, o presidente Lula fez uma dessas declarações que deixam as pessoas sem saber se é ou não para levá-las a sério.

    Disse que, em vez de baixar impostos para incentivar as vendas, é melhor distribuir de uma vez o dinheiro entre os pobres. Eles decidirão em que gastar - e não será com automóveis e provavelmente também não com geladeira nova.

    A declaração lembra a de economistas ortodoxos, avessos a tudo quanto lembre política industrial, que é eleger os setores que devem receber prioritariamente recursos públicos.

    Diante de qualquer dificuldade, empresários, sindicalistas e políticos estão acostumados a recorrer ao governo. Entendem sempre que um superpai deve socorrê-los, em nome do interesse nacional ou da preservação de empregos. Eles sempre arranjam um enfeite argumentativo destinado a encobrir incompetências administrativas.

    O setor de brinquedos, por exemplo, como não pode sustentar tratar-se de um setor estratégico, defende que precisa de benefícios públicos. Não protegê-lo, segundo seus cartolas, é distribuir dinheiro fácil para os produtores da Barbie (Mattel) ou para os irritantes chineses, que jogam sujo no mercado e tal.

    Nesta crise, os Estados Unidos e os países ricos da Europa fizeram bem mais do que simplesmente cortar impostos. A decisão foi salvar bancos, seguradoras, sociedades de crédito imobiliário e até mesmo fundos de investimento - desta vez atendendo ao princípio de que não se deve brincar com instituições cuja quebra possa colocar em risco todo o sistema financeiro.

    Mas essa decisão de salvar grandes interesses não se limitou às instituições financeiras. O resgate dos detroitossauros (para ficar com a expressão da revista Economist) não teve nada a ver com o sistema financeiro. A crise das grandes montadoras americanas não aconteceu porque estourou a bolha imobiliária. Foi o resultado de uma longa história de erros, omissões e decadência administrativa... que agora ganha um prêmio.

    Aqui no Brasil, a decisão do governo - que o presidente Lula agora parece lamentar - também foi estimular as vendas das montadoras e das empresas de aparelhos domésticos, em nome da preservação de empregos. Os demais setores da economia foram ignorados. Tudo se passou como se o emprego proporcionado por uma montadora ou uma indústria de autopeças valesse socialmente mais do que um emprego no setor de serviços ou nos 2,2 milhões de pequenas e médias empresas, o segmento que garante hoje cerca de 17 milhões de postos de trabalho no Brasil.

    Enfim, a decisão de preservar o que existe, com os problemas que carrega, é conservadora e dificilmente é a melhor. A redução do IPI para as montadoras guarda um viés sindicalista que tem a ver com a própria história do PT.

    Além disso, intervenções desse tipo, especialmente as decididas pelos países ricos, impedem o funcionamento do princípio da destruição criativa, evocado pelo economista Joseph Schumpeter, que é a lei de que os incapazes devem dar lugar aos mais criativos e mais eficientes.

    Em todo o caso, o presidente Lula não deve ter pensado em nada disso quando disse que é melhor repassar para os pobres a dinheirama da renúncia fiscal, que ele próprio decidiu.