sábado, junho 06, 2009

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

J.R. Guzzo
Fogo amigo

"Hoje, pouco depois de completar seu primeiro aniversário no cargo, Minc está mais do que nunca numa batalha morro acima, com pouca munição"

Foi-se o tempo no Brasil em que o cidadão que corria mais risco de perder o emprego, dentro do governo, era o ministro da Fazenda. Ainda dá para lembrar dessa época, quando os ministros da área econômica entravam e saíam do governo como hóspedes de um hotel de beira de estrada; entre o momento de entrar e o momento de sair faziam pacotes, cortavam os zeros do dinheiro vigente na hora e tentavam explicar a funcionários do FMI contas que nem mesmo eles eram capazes de entender direito. Não é mais assim. Nos últimos quinze anos, o Brasil teve apenas três ministros da Fazenda – e poderia muito bem ter tido só dois, se Antonio Palocci não tivesse se envolvido na violação da conta bancária de um caseiro de Brasília. (Essa parcimônia na quantidade de ministros da Economia é um feito notável, pelo qual o Brasil teria todo o direito de ser admirado pela comunidade internacional; infelizmente, como em geral acontece com outras coisas boas que temos por aqui, quase ninguém no resto do mundo sabe de sua existência, e, dos poucos que sabem, a maioria não acredita que sejam mesmo boas. É uma pena.) O assunto, em todo caso, não é esse, e sim a constatação de que o cargo mais perigoso em Brasília, hoje em dia, é o de ministro do Meio Ambiente.

Que o diga o atual ocupante do posto, o ministro Carlos Minc. Sua antecessora, Marina Silva, era uma ecologista puro-sangue, com todos os predicados requeridos pela ideologia verde e por um governo de esquerda para brilhar nesse tipo de função; ganhou fama de candidata a Prêmio Nobel, mas perdeu o lugar, triturada pela máquina de moer ambientalistas que funciona 24 horas por dia em Brasília. Minc foi escolhido para substituí-la por somar em seu currículo, segundo se calculava, a pureza ecológica de Marina e o realismo de um funcionário que precisa lidar com rudes questões de ordem prática, como licenças para a construção de obras, despachos com fiscais ou negociações com deputados da "base aliada". Hoje, pouco depois de completar seu primeiro aniversário no cargo, Minc está mais do que nunca numa batalha morro acima, com pouca munição e debaixo de fogo inimigo – e, sobretudo, debaixo de fogo amigo.

Em sua última aparição no noticiário, o ministro estava metido num tenebroso bate-boca com políticos da "bancada ruralista", a quem acusou de "vigaristas" e por quem foi acusado de manter ligações com traficantes de drogas – "da Rocinha e do Morro do Borel". Minc disse que o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, está com pressa de asfaltar uma rodovia no Amazonas porque pretende apresentar a obra na sua campanha eleitoral para governador do estado, em 2010. Ouviu de um assessor do ministro que "não está acostumado a olhar para o mapa". Entre uma pancada e outra, teve uma audiência com o presidente da República, na qual reclamou que não adianta nada combinar as coisas com seus ministros se eles, logo em seguida, mandam assessores ao Congresso para desfazer o que foi acertado. Informou que não pode sustentar o meio ambiente se não for sustentado pelo governo e que a sabotagem a seu trabalho cria uma "casa da mãe joana" no ministério. É mais ou menos aí que estamos, no momento.

O ministro Minc, homem tido como habilidoso, pragmático e bom de conversa, já chegou ao governo com o motor roncando. Começou tendo um entrevero com o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que em sua opinião seria capaz de "plantar soja até nos Andes". Deu voz de prisão a 3 000 bois no estado do Pará, para desestimular criadores de gado "piratas". Chamou de "Frankenstein" uma medida provisória do próprio governo que pretendia tornar mais fácil o licenciamento ambiental nas obras de recuperação de estradas. Esteve envolvido, enfim, numa sucessão de disputas com os ministérios dos Transportes, da Agricultura e de Minas e Energia – dirigidos, ao que se imagina, pelos "ministros machadinhas" dos quais ele fala. É verdade que Minc concordou em licenciar obras públicas importantes e, no geral, mostrou-se mais disposto do que sua antecessora a colaborar com os programas do governo. Mas isso parece muito pouco, num país onde se pressiona todos os dias por mais estradas, portos e ferrovias, que quer mais minas e mais energia e no qual é altamente improvável que alguém consiga convencer qualquer governo a reduzir, em vez de aumentar, as colheitas de soja, milho ou cana-de-açúcar.

Ministros do Meio Ambiente podem viver em paz na Europa, onde não há mais florestas a derrubar nem obras a fazer. Mas aqui é o Brasil.

LOST

FOLHA ON-LINE

Aeronáutica admite que desconhece localização dos destroços do Airbus

VOO AF 447


A Aeronáutica admitiu na noite desta sexta-feira que não tem mais a localização dos destroços avistados no oceano Atlântico ao longo da semana. De acordo com brigadeiro Ramon Borges Cardoso, diretor do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), as correntes marítimas fizeram o material já avistado desaparecer.

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IVAN MARTINS

REVISTA ÉPOCA
A receita da infelicidade
A cultura feminina trata com algum desprezo homens apaixonados e valoriza quem faz sofrer
IVAN MARTINS
Revista Época
IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA
Vi ontem a pré-estreia de A Mulher Invisível, o novo filme do Selton Mello e da Luana Piovani. É uma delícia de comédia romântica. Roteiro engraçado, direção criativa do Cláudio Torres, acabamento de cinema americano. As pessoas riam muito no cinema, o que sugere um sucesso de bilheteria.

Uma frase me chamou atenção logo nos primeiros minutos. O marido chega em casa com flores e encontra a mulher de mala pronta. “Nossa vida é boa, gostosa, tranquila, mas eu preciso de perigo”, diz ela. “Mulher, pra ser feliz, não pode estar feliz”. Essa é a frase.

Antes que alguém diga, digo eu: é só uma frase de efeito, uma tirada cômica sem conseqüências. Mesmo que o roteirista de A Mulher Invisível seja mulher – Adriana Falcão – não se deve imaginar que esse rompante de Nelson Rodrigues revele alguma coisa sobre a alma feminina.

Mesmo assim, quero falar sobre a ideia por trás da frase: a de que as mulheres não convivem direito com o amor assegurado. Ou, dito de outra forma, elas não lidam bem com homens que gostam demais delas. Pelo menos no início da relação.

Estou tentado a acreditar que às mulheres, mais que aos homens, se aplica a frase de Groucho Marx: não entro em clubes que me aceitem como sócio.

Outro dia, conversando com uma amiga no bar, sugeri que fosse assim. Ela negou. Pedi que me contasse como foi com o marido ela. Aí veio: eles saiam, mas ele não se definia. Ela não sabia se era ou não era namorada. Sofreu com a indefinição, por meses. Às vezes ele ligava, outras vezes não. Sumia e voltava. Um dia ela pôs o cara na parede: ou a gente namora, ou você vai embora. Ele ficou. Estão juntos. Felizes.

Esse enredo não é exatamente uma exceção.

Tenho um amigo – todo mundo tem um -- que costumava maltratar as mulheres, embora fosse um perfeito cavalheiro. A técnica de cativeiro era simples, e de forma alguma premeditada.

Depois de uma ou duas transas perfeitas, quando a moça estava de pernas bambas e coração mole, ele avisava: não se apaixone, eu não estou disponível. Não quero namorar, amo outra mulher, preciso do meu espaço, ele dizia. Tudo verdade, tudo sincero, tudo às claras, e o efeito era o contrário do que ele (supostamente) pretendia: as moças alucinavam.

Na impossibilidade de ter, queriam. Na impossibilidade de estar com ele, não desejavam mais ninguém. Ficavam obcecadas. Ele deixava as mulheres histéricas e, paradoxalmente, felizes.

O contrário dessa história é a do babão. Todas as mulheres falam dele. É o sujeito meloso que telefona, presenteia, cuida, se declara repetidas vezes. Isso sufoca, dizem as moças. É como se esse homem estivesse fora do seu lugar natural, digo eu. Ele não cria dificuldade. Ele não causa dor nem confusão. Ele não serve.

Uma passada de olhos na literatura vai mostrar que desde Julien Sorel, de O Vermelho e o Negro, os grandes sedutores são homens incontroláveis, quase inacessíveis, a quem as mulheres se submetem felizes. E seu oposto é o homem apaixonado que corteja inutilmente a heroína.

Esses clichês devem ter alguma correspondência na realidade. Sua existência sugere que a cultura feminina idealiza um macho arisco e conturbado. E uma fêmea expectante, insegura. Será assim? Não sei. Mas sei que as minhas amigas, sistematicamente, parecem sofrer com homens que não as desejam. E dão pouca atenção aos homens que sonham com elas. Se a minha amostragem não é muito ruim, é a receita perfeita da infelicidade.

GOSTOSA


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MST: BURLA SOBRE BURLA

EDITORIAL

O ESTADO DE S. PAULO - 06/06/09

Tanto o governo quanto a classe política em geral estão cansados de saber - e ninguém parece estranhar - que o Movimento dos Sem-Terra (MST) se utiliza de cooperativas e entidades com existência legal para receber repasses de verbas governamentais, porque nunca desejou constituir-se oficialmente, regularizar-se, pois isso implicaria ter que submeter-se a fiscalizações - da Receita Federal, dos Tribunais de Contas e de outros órgãos de controle do uso do dinheiro público. Trata-se, no fundo, de uma autêntica - e conhecida - burla. Mas o que muitos ainda não sabiam era da burla praticada por essas entidades "legalizadas" a serviço do MST, das irregularidades por elas cometidas com a indispensável conivência dos agentes do poder público. É a burla sobre burla.

Desde 2003 vieram a público denúncias de malversação de recursos públicos por parte da Cooperativa de Comercialização e Prestação de Serviços dos Assentados da Reforma Agrária do Pontal (Cocamp), que é uma dessas entidades "laranjas" do MST. Por tê-la favorecido indevidamente, repassando-lhe verbas de forma irregular - já que havia impedimento de fazê-lo, por suspeitas de desvios detectadas por autoridades -, o superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em São Paulo foi afastado por decisão da 2ª Vara da Justiça Federal, em Presidente Prudente.

Segundo o juiz federal Newton José Falcão, em 2003, quando a Cocamp já estava sendo investigada por meio de inquéritos policiais e deixava, comprovadamente, de cumprir suas obrigações legais com órgãos públicos, como a Receita Federal e o INSS, o superintendente regional ainda tentou favorecê-la por meio de um empréstimo feito de forma indireta. Ele aprovou, assinando um convênio, o repasse de R$ 191,1 mil para a Cooperativa Central de Reforma Agrária do Estado de São Paulo (CCA), ligada à Cocamp e ao MST - ampliando, assim, as modalidades de burlas. Na sentença o juiz afirma que o objetivo principal daquele convênio era "repassar à Cocamp o recurso que diretamente ela não poderia receber em razão de inúmeras irregularidades". Também afirma que o superintendente do Incra em São Paulo, Raimundo Pires da Silva - que afastou, com suspensão dos direitos políticos por três anos, por improbidade administrativa -, conhecia essas irregularidades, assim como estava ciente de que o dinheiro iria para a Cocamp. Além de Silva, o juiz condenou três funcionários públicos e dois integrantes do MST envolvidos na operação, determinando ainda que o Incra não faça mais qualquer repasse de verbas para a CCA (que iriam para a Cocamp e, de lá, para o MST).

A ação que resultou nessa sentença foi proposta em 2003 pelo Ministério Público Federal, que investigava a Cocamp. Na ocasião a Justiça acatou o pedido dos procuradores e suspendeu, liminarmente, a transferência de dinheiro para a cooperativa, até que o mérito da ação fosse julgado. "Nós percebemos que havia uma clara tentativa de burlar as restrições legais impostas à Cocamp e propusemos a ação", explicou o procurador federal Tito Livio Seabra, que iniciou o feito. "Além de repassar recursos que indiretamente iriam para a Cocamp, o Incra optou pela forma de convênio, quando deveria ter usado contrato de financiamento" - complementou.

Tratando-se de decisão de primeira instância, os réus ainda podem recorrer, continuando a exercer suas funções até a sentença judicial definitiva. Desde já, no entanto, as autoridades que cuidam da questão da reforma agrária e do relacionamento com os integrantes dos movimentos de sem-terra e assemelhados já ficam judicialmente advertidas de que compactuar com a burla passou a ser uma atividade de risco. O certo seria que o governo exigisse dos movimentos sociais um registro legal, antes de lhes repassar quaisquer recursos públicos. Mas, se isso por algum motivo não for possível, que pelo menos os órgãos públicos federais se recusem, terminantemente, a compactuar com simulacros de legalidade, com disfarces, com burlas à ordem legal - no que o Movimento dos Sem-Terra e os que lhes são assemelhados dispõem de inquestionável expertise.

RUTH AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Para Mônica, mulher de João, mãe de Lucas
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Carioca de 48 anos, Mônica Oliveira comemorou bodas de prata no ano passado. Vinte e cinco anos de casamento feliz com João. Os três filhos, Tiago, Lucas e Verônica, estavam na festa. Uma família unida, também na paixão pelo Botafogo. No dia 17 de maio, Mônica perdeu o marido, num infarto fulminante, aos 51 anos. No dia 1º de junho, perdeu o filho do meio, Lucas, comissário de bordo da Air France. Ele tinha vindo ao Brasil para o enterro do pai. Voltava para Paris no voo 447.

Como lidar com perda sobre perda? Quando existe um crime, a dor deságua na ação, no protesto, na indignação. Mas se o coração e um acidente levam em menos de um mês o marido e um filho, o que dizer a quem fica?

“Preciso de força em Deus para enfrentar o que estou passando”, disse Mônica pelo telefone ao repórter de ÉPOCA Matheus Leitão. Na quarta-feira, ela ainda falava em Lucas no presente. Apenas num momento usou o verbo no passado, mas engasgou a voz. “Tenho fé que ele ainda possa aparecer. Não quero acreditar que perdi um filho tão maravilhoso, brilhante, culto.” A irmã caçula, Verônica, dizia o mesmo: “Temos muita confiança na volta dele. Quero acreditar e tenho certeza que ele vai voltar”.

Lucas Gaglione Jucá Domingues de Oliveira, 23 anos, achou que seu mundo havia acabado em Paris, no mês passado, ao receber a notícia da morte precoce do pai. Era um rapaz maduro para a idade, fascinado por aviação. Falava cinco idiomas fluentemente: português, inglês, espanhol, italiano e francês. Foi aluno brilhante do tradicional colégio São Bento e também se virava em polonês, russo, romeno e eslovaco. Morava em Paris. Conversava sobre futebol com o pai por skype. Jogava vôlei de praia e dançava forró quando estava no Rio. Ao saber da morte do pai, pediu uma folga na Air France, onde trabalhava como comissário de bordo havia dois anos, e veio para ajudar mãe e irmãos. Em sua página no Orkut, escreveu: “Pai, saudade eterna... te amo”.

Ela tinha acabado de perder o marido, vítima de infarto
fulminante. Seu filho estava a bordo do avião que caiu

“Ele era superpreocupado com a família. Embarcou no voo 447 pedindo aos irmãos: tomem conta de minha mãe”, disse Mônica.

O repórter Matheus desligou o telefone abalado. Mesmo consciente de seu tato, ele sabia que tinha ouvido um choro que não lhe pertencia. Um choro que desconcerta, pontuado pela incredulidade e o apego à fé. Educada e discreta, Mônica não quis falar sobre ela própria. “Fale sobre meu filho.”

Perguntei a um amigo psicanalista, Luiz Alberto Py, cujos três filhos já foram internados no hospital por causa de um acidente de carro, o que ele diria a Mônica e aos que perderam pessoas queridas neste desastre aéreo. Ele respondeu: “O que a gente teve não perde. As lembranças estão dentro de nossa memória. Quando uma tragédia assim acontece, o que se perde é o prosseguimento, é o futuro. E o futuro é virtual, uma expectativa de algo que damos como certo, mas não é. Não se perde o passado. Isso pode parecer meramente racional – e é, porque a emoção não se traduz. Não se perde alguém que existiu. O que se perde é uma expectativa. Isso não é consolo, mas pode ajudar a retomar a vida. Pensar não no que perdi, mas no que tive o privilégio de viver. O passado precisa ser uma referência para a gente se nutrir. E não para se lamentar. Há várias formas de conviver com a saudade”.

Se um psicanalista, por profissão, precisa racionalizar a dor alheia para confortar, um jornalista precisa agir como, para contar a dor de seus entrevistados? Abstrair-se completamente? Ficar frio? A repórter Martha Mendonça, que ajudou a resgatar histórias das vítimas, escreveu no blog Mulher 7x7, de ÉPOCA: “A pior parte de ser jornalista é falar com familiares de alguém que acaba de morrer em situação trágica. Já entrevistei mães faveladas com filhos embaixo dos escombros depois da chuva. Os pais de uma menina que morreu de bala perdida. Mães de crianças desaparecidas e pais de meninos assassinados. Não foram poucas as vezes em que chorei. Sem perder o controle. Não é ético o jornalista que mostra que se importa?”.

PAINEL DA FOLHA

Muita calma nessa hora

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/06/09

Além de aceitar placidamente a sucessão de manobras governistas para adiar a instalação da CPI da Petrobras, o PSDB reuniu um grupo de notáveis nesta semana no Rio de Janeiro para, sob o comando do presidente do partido, Sérgio Guerra, traçar uma barreira de contenção dos trabalhos da comissão.
O grupo -formado por funcionários de carreira da estatal e coordenado por David Zylbersztajn, presidente da ANP no governo Fernando Henrique, de quem foi genro- terá a missão de filtrar denúncias e requerimentos de tucanos na CPI. A ordem é não questionar contratos nem investimentos da Petrobras em obras, concentrando a artilharia no PT, nas ONGs ligadas ao partido e no "aparelhamento".



Ouvir a base. O recuo foi decidido quando os tucanos começaram a receber telefonemas exasperados de empresários doadores de campanha e fornecedores da estatal.

Malanismo, 15. No esforço de voltar ao debate político-econômico, DEM e PSDB realizam na segunda em São Paulo debate sobre a crise para líderes da oposição, com as presenças de FHC, José Serra e Gilberto Kassab. Os expositores serão o ex-ministro Pedro Malan e o economista Kenneth Rogoff, de Harvard.

Saia justa. Palestrante de encontro sobre o agronegócio em Foz do Iguaçu, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), também presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), desceu a lenha na gestão Lula. A seu lado, todo sem jeito, estava Ricardo Barros (PP-PR), vice-líder do governo na Câmara.

Tour. Ao saber que José Serra e Aécio Neves não chegariam a Foz antes do final da tarde, Sérgio Guerra aproveitou para fazer turismo. Procurado pelo presidente do DEM, Rodrigo Maia, o senador pernambucano estava sobrevoando as cataratas.

Última que morre. Uma das missões conduzidas por José Dirceu em prol da candidatura nacional de Dilma Rousseff é tentar reaproximar PT e PMDB no Pará. Para o ex-ministro, o divórcio entre a governadora Ana Júlia Carepa e o deputado Jader Barbalho ainda não foi selado.

Onde pega. Petistas presentes à reunião do antigo Campo Majoritário, ontem em São Paulo, apontam o Rio Grande do Sul como o Estado em que será mais difícil haver composição entre PT e PMDB. Não por acaso, lá o candidato a governador é o ministro Tarso Genro (Justiça), expoente do grupo Mensagem ao Partido e adversário maior da turma do ex-Campo.

Forasteiro. Integrante de outra corrente do PT, a Novo Rumo, o deputado Cândido Vaccarezza chegou à reunião e foi logo se explicando: "Sou o líder da bancada na Câmara. Fui convidado a participar".

Muy amigo. Adversário de Zeca do PT no partido, o senador Delcídio Amaral fez pose para lançá-lo "candidato de consenso" ao governo de Mato Grosso do Sul. Trata-se de medida preventiva contra os ensaios do ex-governador para disputar uma vaga no Senado -para o qual Delcídio pretende se reeleger.

Brinde 1. Com Roseana já fora da UTI do hospital Albert Einstein, seu pai, José Sarney, o marido, Jorge Murad, o médico Raul Cutait, o ex-senador Gilberto Miranda e o empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, dividiam mesa ontem no Gero, no bairro paulistano dos Jardins.

Brinde 2. Pela mesa passaram uma garrafa de Château Latife, uma de Château Latour (preços entre R$ 1,9 mil e R$ 2,8 mil) e uma de Château Pétrus (um dos vinhos mais caros do mundo, cotado entre R$ 5 mil e R$ 40 mil, a depender da safra). Franceses da região de Bordeaux, foram todos levados pelos comensais. Não figuram na carta do restaurante da família Fasano.

Tiroteio

"O PT foi tão competente que até hoje o Greenhalgh não percebeu, mas o mensalão foi usado para derrotá-lo."

Do presidente do DEM, RODRIGO MAIA, sobre o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh, segundo quem sua derrota na disputa pela presidência da Câmara, em 2005, seria a prova de que o mensalão não existiu.

Contraponto

Te manjo Tempos atrás, Mário Couto (PSDB-PA) iniciou campanha para instalar no Senado uma CPI do Dnit, órgão do Ministério dos Transportes encarregado das obras em rodovias. Além de fazer discursos diários sobre o tema, o tucano se pôs a coletar assinaturas para o requerimento.
Um belo dia foi procurado pelo governista Gim Argello (PTB-DF), que se dizia disposto a aderir à CPI. Couto chegou a se animar, mas logo mudou de ideia:
-Olha, Gim, eu não quero mais que você assine.
Diante do espanto do colega, Couto explicou:
-Depois você vai retirar seu nome, e eu não quero ajudar você a conseguir nada neste governo.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA

Diogo Mainardi
Platitudes e asnices

"Barack Obama apela a um passado remoto do islamismo, um passado mítico, que só se encontra
nas salas de aula da Universidade Colúmbia"

Giotto era do Hamas?

Barack Obama, em sua viagem ao Egito, tentou reconciliar o mundo maometano com os Estados Unidos. Em vez de bombardear os terroristas com um Predator, ele os bombardeou com platitudes: "O ciclo de suspeita e desentendimento tem de acabar... Estou aqui em busca de um recomeço... Baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo... Em princípios comuns – princípios de justiça e de progresso, de tolerância e de dignidade para todos os seres humanos". Dá até para imaginar um carrasco pashtun, subitamente iluminado pelo discurso de Barack Obama, largando suas pedras, um instante antes de apedrejar uma adúltera.

E onde entra Giotto nisso tudo?

Barack Obama, a certa altura de seu pronunciamento, disse: "Como estudante de história, eu aprendi que foi o islamismo – em lugares como a Universidade Al-Azhar – que conduziu o lume da sabedoria por séculos e séculos, pavimentando o caminho na Europa para o Renascimento e o Iluminismo". Ele só pode ter aprendido isso com Edward Said, em seus tempos de estudante na Universidade Colúmbia. Os árabes, na Idade Média, tinham grandes conhecimentos de álgebra e de caligrafia, como citou o próprio Barack Obama, num trechinho tirado diretamente da Wikipédia. Mas o principal papel do islamismo para o estabelecimento do Renascimento e do Iluminismo – está igualmente na Wikipédia – foi o massacre de milhares de cristãos em Constantinopla, que obrigou os helenistas bizantinos a se refugiarem na Europa, com seus clássicos gregos e latinos. O Oriente revitalizou o Ocidente perseguindo-o, aterrorizando-o, assassinando-o.

Barack Obama realmente acredita em sua capacidade de seduzir e desarmar os fanáticos religiosos e os tiranos genocidas que prometem destruir Estados Unidos e Israel. Apesar dos aplausos entusiasmados de editorialistas do mundo inteiro, seu discurso é de uma asnice assustadora: ele apela retoricamente para um passado remoto do islamismo, um passado mítico, que só se encontra nas salas de aula da Universidade Colúmbia. Foi o que ele fez quando se referiu à Universidade Al-Azhar, aquela que teria conduzido "o lume da sabedoria por séculos e séculos". A Universidade Al-Azhar tem uma história antiga e gloriosa. Mas a realidade é que, nos últimos 100 anos, ali se formaram o fundador do grupo terrorista Mão Negra, o fundador do grupo terrorista Irmandade Muçulmana e o fundador do grupo terrorista Hamas. Barack Obama procurou instaurar um diálogo com o islamismo que produziu o Renascimento – que produziu Giotto. Como se Giotto, depois de pintar afrescos numa capela, fosse fabricar um foguete Qassam. É melhor Barack Obama clicar o nome de Giotto na Wikipédia.

O IDIOTA


COISAS DA POLÍTICA

Lula e o PT em caminhos cruzados

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 06/06/09

Em política, a desculpa da coincidência geralmente esconde o arrependimento da atitude estabanada ou a tentativa de dissimular a crise miúda dos interesses. Agora, por exemplo, é curiosa a birra do PT com o presidente Lula, o notório dono da legenda que sem ele não existiria e talvez nem sobreviva. Mas não é por simples acaso que o PT entrou com 32 assinaturas de deputados na jogada patrocinada pelos insaciáveis aliados do PMDB para ressuscitar a proposta de emenda constitucional que escancara a porteira do terceiro mandato consecutivo para o presidente da República, governadores e prefeitos. O seu autor é o mesmo deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) que insiste em reabrir a brecha para escapar do esconderijo do anonimato.

E deve estar mergulhado numa banheira morna e com água cheirosa. Merece: a primeira emenda morreu na praia com a retirada de assinaturas de arrependidos e cautos. O autor voltou à colheita dos jamegões de deputados e chegou a 182, 11 a mais das 171 necessárias.

O repeteco não parece ter fôlego para ir longe. É mais uma cutucada no presidente para adverti-lo da necessidade de atender aos pedidos dos aliados, que só pensam na reeleição para garantir mais quatro anos de um dos melhores empregos do mundo.

Certamente o presidente não recuará, sob pena de liquidar com a sua credibilidade. No seu penúltimo giro pelo mundo e na última excursão pela América Latina, aproveitou uma entrevista a um grupo de repórteres para reiterar, em termos que não admitem recuo, que "não é, nem será candidato a um terceiro mandato". E lembrou a sua enfática declaração que correu o país que "não se brinca com a democracia". Na gangorra da calamidade que assola o Norte, Nordeste e o Sul das enchentes que inundam municípios, com milhares de desabrigados que só saltaram a vida e perderam tudo mais, inclusive parentes e a sua consolidada popularidade internacional, a insolência de petistas já recebeu a resposta indireta.

Mostrando que manda quem pode, Lula comunicou ao presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) que não vai liberar o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, para presidir o partido a partir de novembro. E, na mesma toada, indicou o ex-senador sergipano José Eduardo Dutra para substituir o atual presidente, que não pode mais ser reeleito. A decisão deve ser referendada neste fim de semana, em São Paulo, no seminário da corrente com o tonitruante nome de Construindo um Novo Brasil.

Com o PT não há mais nada a fazer: ordens dadas e obedecidas.

Não se deve esperar maiores danos, além de alguns arranhões, com a crise que o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vinha cultivando com a bancada ruralista e demais interessados no desmatamento para a formação de pastos para a criação de gado. Lula teve uma conversa dura com o ministro Carlos Minc, mas decidiu mantê-lo no cargo, devidamente enquadrado, sem recuar das suas posições. É briga que rola há dezenas de anos e que continuará enquanto tiver uma moita de capim na região amazônica. Lula assinou o manifesto do movimento Amazônia para Sempre, encabeçado pelos atores Vitor Fasano e Christinane Torloni, que defende o fim do desmatamento na imensa região. E ficou bem com os dois lados.

A ministra Dilma Rousseff, candidata escolhida e lançada por Lula para substituí-lo nas eleições de 5 de outubro de 2010, embora em posição consolidada, foi mais a ser beneficiada pelo enquadramento do PT. A candidata está na metade das sessões de quimioterapia para a cura do câncer linfático, detectado a tempo. Esta semana submeteu-se à terceira sessão de fisioterapia. E em meio ao tratamento com 90% de probabilidade de cura, os novos rebeldes mansos do PT cometeram a indelicadeza de ressuscitar a especulação sobre o terceiro mandato de Lula.

A desenganada reforma política é que parece não ter salvação. O que é a melhor das saídas no momento, pois é evidente que o pior Congresso de todos os tempos não tem autoridade para uma reforma para valer, que começasse por acabar com as mordomias escandalosas, com as vantagens, muambas e mutretas que a cada reforma encontram saídas para driblar os cortes e a mágica para transformá-los em novas regalias. Transferida para este mês, a esquálida reforma deve ficar reduzida a miudezas, ficando o financiamento público das campanhas e a extravagante votação em lista para outra oportunidade. No dia de são nunca.

PANORAMA

REVISTA VEJA

Panorama
Holofote

Felipe Patury

É doce, mas não é mole

Ricardo Lêdo/A Gazeta


Oito grandes bancos informaram ao BNDES que seus empréstimos ao setor sucroalcooleiro somam 30 bilhões de reais. Essa exposição a um único ramo da economia começou com a escalada do preço do petróleo em 2007, que levou os bancos a facilitar créditos para projetos envolvendo o álcool. No fim de 2008, o preço do petróleo caiu e as usinas balançaram. Em maio passado, os bancos pediram ajuda oficial. O BNDES diz que não concederá novos financiamentos, mas pode se associar a alguns usineiros. O banco governamental apresentou um rol dos que pretende ajudar. Encabeça a lista o grupo Caeté, do alagoano Carlos Lyra, que perdeu 350 milhões de reais em derivativos em 2008. O BNDES pode liberar 100 milhões de reais para o Caeté, mas condiciona esses recursos ao fim das disputas entre os filhos de Lyra, Robert e Elizabeth. Os herdeiros cogitam cindir o grupo. O BNDES prefere a profissionalização da gestão.

A ameaça de Roriz

Sergio Lima/
Folha Imagem


Joaquim Roriz
ameaça deixar o PMDB se o diretório do partido no Distrito Federal lhe negar a vaga de candidato a governador no próximo ano. E isso está muito perto de acontecer. Separado de uma parente de Roriz, seu padrinho político, o presidente do PMDB local, Tadeu Filipelli, pretende apoiar a reeleição do governador José Roberto Arruda, do DEM. Roriz quer que a direção nacional do PMDB intervenha no diretório de Brasília para garantir sua vaga. Caso contrário, avisou, trocará de legenda.

Lagostas e Bob Esponja

Joedson Alves/
Folha Imagem


Depois das algazarras com ruralistas e colegas de Esplanada, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc,tem mais uma encrenca pela frente. O ministro da Pesca, Altemir Gregolin, tenta aumentar o número de gaiolas de pesca de lagosta das atuais 40 000 para 50 000. Minc é contra. Motivo: os estudos técnicos do Ibama indicam que a pesca da lagosta já chegou ao limite do sustentável. Se for expandida, poderá erradicar o crustáceo do litoral brasileiro, o que já começa a acontecer com as sardinhas no Sul do país. Será que Minc conseguirá bancar o Bob Esponja e absorver mais esse golpe?

Preferiu ficar em casa

Carol do Valle


Depois de ser muito cortejado por outras editoras, o premiado escritor Cristovão Tezza, autor de O Filho Eterno, fechou contrato com a Record, que o lançou ao estrelato. A editora comprou os direitos do próximo romance de Tezza, Um Erro Emocional, e de um livro de contos. Em ambos, o escritor vai explorar um personagem feminino de nome Beatriz.

Pensão de 100 000 reais

Evelson de Freitas/AE


A ex-mulher do empresário Flávio Maluf, filho do deputado Paulo Maluf, não tem mais a maior pensão judicial do Brasil. Há dez dias, Jacqueline Torresaceitou reduzir a cerca de metade os 217 000 reais mensais cobrados de seu ex-marido – e que ele relutava em pagar. O novo acordo celebrado na 2ª Vara da Família de São Paulo reduziu o valor da pensão para cerca de 100 000 reais. Ah, sim: Jacqueline poderá chamar de seu o palacete no qual o casal morava, no bairro paulistano do Morumbi. O imóvel está avaliado em mais de 20 milhões de reais.

Alan Marques/Folha Imagem


Tristes trópicos

Sabe o que tanto discutem o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador Fernando Collor (PTB-AL) em almoços reservados em Brasília? A candidatura de Collor ao governo de Alagoas. Renan já prometeu apoio ao seu mais novo melhor amigo. Em troca, requereu a vaga de senador na chapa de Collor. E o que se fará com o governador tucano Teotonio Vilela, que foi eleito em 2006 com o empenho de Renan? Bom, Collor e Renan discutem se cederão a segunda vaga de candidato ao senado ao atual governador.

CLÓVIS ROSSI

O Brasil e sua eterna fuga

FOLHA DE SÃO PAULO 06/06/09

SÃO PAULO - A ideia de "torcida única" nos estádios, para evitar selvagerias como a de quarta-feira, é a típica fuga para lugar nenhum, um clássico brasileiro.
Alguns exemplos desta mecânica:
1 - Você não consegue evitar a violência de baderneiros antes, durante ou depois das partidas? Fácil. Foge para a frente e proíbe uma das torcidas de ter o prazer de ver seu time jogar (e nem estou discutindo a viabilidade de reconhecer palmeirenses ou são-paulinos, por exemplo, para liberar uns e segurar outros).
2 - Você não consegue criar uma economia que dê emprego e renda decentes para a maioria? (Para todos, já seria pedir demais). Fácil.
Foge para a frente a cria a Bolsa Família ou outros mecanismos similares de compensação.
3 - Você não consegue ter um sistema de educação pública que abra à maioria oportunidades de acesso à universidade? Fácil. Cria as cotas.
O sistema de ensino continua uma droga, mas alguns escapam da condenação implícita que significa cair nas suas engrenagens.
4 - Você não consegue prover segurança à população? Fácil. Recomenda a ela que renuncie a seus bens (carro, carteira, relógio, celular, o diabo). 5 - Você não consegue dar fluidez ao tráfico de veículos? (O de drogas, este sim, é bem fluido). Fácil. Cria o rodízio.
O aspecto político relevante em tudo isso é que todas as fugas são bem intencionadas. É melhor o Bolsa Família do que matar de fome os muito pobres, por mais que eles continuem, com a bolsa, a ser obscenamente pobres. É melhor perder o jogo do seu time, a carteira, o carro, do que a vida, claro.
Mas melhor mesmo, a sério, seria resolver os problemas em vez de contorná-los eternamente.
O problema é que, se fossem resolvidos, já não estaríamos no Brasil e seu eterno conformismo com a privação de direitos e prazeres.

CLAUDIO DE MOURA CASTRO

REVISTA VEJA

Claudio de Moura Castro
Educar é contar histórias

"Bons professores eletrizam seus alunos com
narrativas interessantes ou curiosas, carregando
nas costas as lições que querem ensinar"

De que servem todos os conhecimentos do mundo, se não somos capazes de transmiti-los aos nossos alunos? A ciência e a arte de ensinar são ingredientes críticos no ensino, constituindo-se em processos chamados de pedagogia ou didática. Mas esses nomes ficaram poluídos por ideologias e ruídos semânticos. Perguntemos quem foram os grandes educadores da história. A maioria dos nomes decantados pelos nossos gurus faz apenas "pedagogia de astronauta". Do espaço sideral, apontam seus telescópios para a sala de aula. Pouco enxergam, pouco ensinam que sirva aqui na terra.

Tenho meus candidatos. Chamam-se Jesus Cristo e Walt Disney. Eles pareciam saber que educar é contar histórias. Esse é o verdadeiro ensino contextualizado, que galvaniza o imaginário dos discípulos fazendo-os viver o enredo e prestar atenção às palavras da narrativa. Dentro da história, suavemente, enleiam-se as mensagens. Jesus e seus discípulos mudaram as crenças de meio mundo. Narraram parábolas que culminavam com uma mensagem moral ou de fé. Walt Disney foi o maior contador de histórias do século XX. Inovou em todos os azimutes. Inventou o desenho animado, deu vida às histórias em quadrinhos, fez filmes de aventura e criou os parques temáticos, com seus autômatos e simulações digitais. Em tudo enfiava uma mensagem. Não precisamos concordar com elas (e, aliás, tendemos a não concordar). Mas precisamos aprender as suas técnicas de narrativa.

Há alguns anos, professores americanos de inglês se reuniram para carpir as suas mágoas: apesar dos esplêndidos livros disponíveis, os alunos se recusavam a ler. Poucas semanas depois, foi lançado um dos volumes de Harry Potter, vendendo 9 milhões de exemplares, 24 horas após o lançamento! Se os alunos leem J.K. Rowling e não gostam de outros, é porque estes são chatos. Em um gesto de realismo, muitos professores passaram a usar Harry Potter para ensinar até física. De fato, educar é contar histórias. Bons professores estão sempre eletrizando seus alunos com narrativas interessantes ou curiosas, carregando nas costas as lições que querem ensinar. É preciso ignorar as teorias intergalácticas dos "pedagogos astronautas" e aprender com Jesus, Esopo, Disney, Monteiro Lobato e J.K. Row-ling. Eles é que sabem.

Poucos estudantes absorvem as abstrações, quando apresentadas a sangue-frio: "Seja X a largura de um retângulo...". De fato, não se aprende matemática sem contextualização em exemplos concretos. Mas o professor pode entrar na sala de aula e propor a seus alunos: "Vamos construir um novo quadro-negro. De quantos metros quadrados de compensado precisaremos? E de quantos metros lineares de moldura?". Aí está a narrativa para ensinar áreas e perímetros. Abundante pesquisa mostra que a maioria dos alunos só aprende quando o assunto é contextualizado. Quando falamos em analogias e metáforas, estamos explorando o mesmo filão. Histórias e casos reais ou imaginários podem ser usados na aula. Para quem vê uma equação pela primeira vez, compará-la a uma gangorra pode ser a melhor porta de entrada. Encontrando pela primeira vez a eletricidade, podemos falar de um cano com água. A pressão da coluna de água é a voltagem. O diâmetro do cano ilustra a amperagem, pois em um cano "grosso" flui mais água. Aprendidos esses conceitos básicos, tais analogias podem ser abandonadas.

É preciso garimpar as boas narrativas que permitam empacotar habilmente a mensagem. Um dos maiores absurdos da doutrina pedagógica vigente é mandar o professor "construir sua própria aula", em vez de selecionar as ideias que deram certo alhures. É irrealista e injusto querer que o professor seja um autor como Monteiro Lobato ou J.K. Rowling. É preciso oferecer a ele as melhores ferramentas – até que apareçam outras mais eficazes. Melhor ainda é fornecer isso tudo já articulado e sequenciado. Plágio? Lembremo-nos do que disse Picasso: "O bom artista copia, o grande artista rouba ideias". Se um dos maiores pintores do século XX achava isso, por que os professores não podem copiar? Preparar aulas é buscar as boas narrativas, exemplos e exercícios interessantes, reinterpretando e ajustando (é aí que entra a criatividade). Se "colando" dos melhores materiais disponíveis ele conseguir fazer brilhar os olhinhos de seus alunos, já merecerá todos os aplausos.

GOSTOSA


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INFORME JB

Como batem asas esses tucanos

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 06/06/09

A cúpula do PSDB tem uma certeza para o futuro do partido, no que concerne à candidatura presidencial: sem Minas ou São Paulo, dois dos maiores colégios eleitorais do país, não há como tocar uma campanha. Daí o esforço de unir cada vez mais os governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). E quem tem feito isso é o presidente da legenda, Sérgio Guerra (PE), por meio de interlocutores. Mas o PSDB também convive com uma verdade incômoda em suas hostes, o trunfo de cada pré-candidato. Serra bate pé pelo consenso em torno das pesquisas. É de fato o nome mais forte hoje. Aécio, além de rodar o país, vai mostrar uma fatura lá na frente: tem PDT, PSB, PTB, PP e boa parte do PMDB com ele. O PSDB terá muito mais que prévias pelo caminho da conciliação.

Itamar, a volta Pajelança

O ex-presidente da República e ex-governador mineiro Itamar Franco acertou sua filiação ao PPS. Assinará a ficha até dia 6 de julho, com festa em Belo Horizonte. Será candidato ao Senado, com apoio de Aécio Neves.

O acordo foi em almoço com a cúpula do PPS mineiro, na quinta, no BDMG, presidido por Itamar. Roberto Freire, maior entusiasta, não foi. Mas parabenizou. Itamar também vai levar para o PPS Henrique Hargreaves, seu ex-ministro, e o presidente da Cemig, Djalma Bastos de Morais.

Ban(ca)da larga

Uma pesquisa de uma agência de comunicação com 235 parlamentares em Brasília mostrou que caiu 5% o índice dos que leem jornais, e aumentou 4% o índice dos que acessam internet. Mas os jornais (91%) ainda são mais usados para informação.

A outra

O STJ determinou que a Justiça potiguar julgue novamente uma ação em que uma mulher requer partilha de bens com o ex-amante – que era casado.

A esposa

A Justiça estadual "deve considerar também como ré na ação a esposa do homem, pois o casamento, além de ser anterior à sociedade constituída, foi celebrado em comunhão universal de bens". Em questão, um apartamento comprado em 1999.

Krajcberg do povo

As obras e o sítio do artista plástico Frans Krajcberg foram doados ao governo da Bahia. O acervo é composto por mais de mil esculturas, entre outros objetos.

Epa, epa, epa

Foi rejeitado na CCJ do Senado projeto do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) que determinava que as declarações de imposto de renda dos membros dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário fossem enviadas para a malha fina.

Então tá

Segundo Cristovam, seria uma forma de "evitar que muitas irregularidades praticadas só viessem a ser descobertas anos após os atos de improbidade terem sido praticados". Voto vencido, o senador decidiu incluir sua declaração na malha fina.

Pelo verde

O presidente da Câmara, Michel Temer, prometeu ao ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) colocar em pauta a PEC que transforma a Caatinga e o Cerrado em patrimônios nacionais.

Pelo verde 2

A PEC modifica o parágrafo 4º do artigo 125 da Constituição, que já consagra a Amazônia, a Mata Atlântica e o Pantanal como Patrimônios Nacionais.

É guerra

Em palestra em BH, o secretário de produção energética do Ministério da Agricultura, Manoel Vicente Bertone, disse que na sua pasta existem mais ambientalistas do que na de Minc.

Maioridade penal

Uma enquete no site do Senado pergunta: "Qual sua opinião sobre a PEC 26/2002, que reduz a maioridade penal?". Até às 20h de ontem, com 3574 votos, o resultado estava em: 33,18% concordavam com redução para 16 anos; 48,82% defendiam a maioridade para menos de 16 anos; e 17,99% diziam não concordar com redução.