sábado, maio 23, 2009

MERVAL PEREIRA

Ministérios de compromissos

O GLOBO - 23/05/09


De 1985 aos dias de hoje, desde a implantação da Nova República com a eleição de Tancredo Neves, os dois partidos que mais ocuparam cargos de ministros foram PMDB (66) e PT (52), por razões distintas. O PMDB por estar permanentemente no poder, seja qual for o governo, e o PT por ter quebrado uma regra do nosso "presidencialismo de coalizão", que pressupõe o compartilhamento do poder com os aliados, e ocupar, principalmente devido ao primeiro governo Lula, uma média de 60% das pastas ministeriais.

Outra mudança de paradigma do governo Lula deu-se no movimento sindical. Ao longo da Nova República, apenas 11,5% dos ministros tinham algum vínculo com sindicatos de trabalhadores, e apenas 5,8% participaram de centrais de trabalhadores. No governo Lula, 27% de seus ministros eram vinculados a sindicatos de trabalhadores.

Em todo o período, a participação de não brancos no Ministério passou de 4,6% para 31,6%. Com as mulheres, os números também são positivos: passamos de 1,9% no governo Sarney para 13,2% no de Lula.

Esses dados fazem parte do trabalho "Os ministros da Nova República - Notas para entender a democratização do Poder Executivo", da professora Maria Celina D"Araujo, cientista política do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDoc/FGV), que destrincha o perfil dos ministros e secretários de Estado com status de ministro desde 1985.

É uma espécie de continuação da pesquisa sobre o perfil dos ocupantes dos cargos de Direção e Assessoramento (DAS 5 e 6) e de Natureza Especial (NES), no governo federal, na administração pública direta, que já revelara a tendência petista de controlar a máquina do Estado: 20% dos cargos mais altos do governo são ocupados por petistas, e 45% dos indicados são ligados à vida sindical.

Além da forte presença de sindicalistas no Ministério, o governo Lula se diferencia dos demais da Nova República pela participação de membros de centrais sindicais: chegaram a ser 21% do ministério do primeiro governo. O estudo destaca que, antes dele, apenas Collor havia nomeado um dirigente de central para o Ministério, Rogério Magri, da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), na pasta do Trabalho.

A participação de representantes de organizações patronais no Ministério, no entanto, variou no período: os governos de Collor e de FH foram os únicos a ter mais de 20% dos ministros com essa extração associativa.

Inversamente, os governos Itamar e Lula foram os que menos representantes desse tipo tiveram. O trabalho, contudo, não assume a inferência de que esses números indicariam um caráter classista dos ministérios de cada governo, "uns mais vinculados ao patronato (Collor e FH) e o de Lula mais identificado com os trabalhadores, o que para muitos seria um indicador de conexão deste governo com políticas e ideologia de esquerda".

Maria Celina afirma apenas que "nossos dados apontam para a novidade da presença desse setor no governo, e não nos fornecem indicações para medir desempenho ou impacto ideológico".

E faz a ressalva de que, "mesmo prestigiando menos os empresários em postos de mando, os governos Lula não se colocaram em confronto com os empresários. Pelo contrário". Por exemplo, é no governo Lula que se registra uma maior presença de representantes do setor privado, no caso diretores de empresas, um total de 26%, enquanto FH ocupa o segundo lugar, com 17,8%.

Os dados da pesquisa apontam, certamente, "para um diferenciador, ou seja, um compromisso político inédito com os setores organizados dos trabalhadores" pelo governo Lula.

O estudo da FGV examinou quantos dos ministros haviam tido experiências políticas consideradas ilegais pelos governos militares, "um indicador importante para avaliar o grau de pacificação na política brasileira e sua capacidade de lidar com antigos oponentes perseguidos judicial e militarmente".

Os governos Sarney e Lula 1 foram os que mais reuniram esse tipo de militante, ao todo 10 e 18 ministros, respectivamente, e o trabalho considera perfeitamente normal que seja assim: "Com Sarney, chegava ao poder um partido, o PMDB, que sofrera perseguições graves em torno do qual se reuniu a esquerda no momento da transição. O PMDB era, nesse período, o mais expressivo canal da oposição, pois os demais partidos de esquerda, entre eles o PT, ainda eram emergentes".

Já com Lula, chega ao poder um grupo político de esquerda que, "a exemplo de toda a sociedade, beneficiou-se do regime democrático e conseguiu reunir e consolidar em torno de si pessoas mais identificadas com ideais socialistas e de outras tantas que no passado tiveram atuação expressiva em organizações clandestinas".

A pesquisa mostra ainda que a presença de antigos presos ou perseguidos políticos também é alta entre os DAS/NES, ao todo 64 de um total de 484, pouco mais de 13%. Para os ministros, esse percentual chega a 17%, sendo que a maior parte concentra-se nos governos Lula - 27 de um total de 55.

No estudo do resultado da pesquisa, a cientista política Maria Celina D"Araujo chega à conclusão de que "a esfera do Ministério, embora seja, por definição, o espaço da composição política do presidente com os partidos aliados no Congresso para dar sustentação a seu governo, não se reduz a isso".

Segundo ela, nessas composições "têm que ser levadas em conta outras variáveis igualmente relacionadas com os compromissos políticos do grupo vencedor". O Ministério tem se convertido, no decorrer do tempo, "em um espaço mais complexo de representação de interesses e de expressão da diversidade social". 
(Continua amanhã)

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J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

J.R. Guzzo
Tempo de murici

"A enfermidade de Dilma Rousseff não tem 
sido um bom momento para os índices de
decência da vida política brasileira"

Está de volta ao ar a pior ideia que o mundo político brasileiro foi capaz de produzir nos últimos anos – um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o tipo de manobra que tem todos os vícios necessários para fazer grande sucesso entre os que desfrutam, de um jeito ou de outro, cotas de participação no atual governo, e, por isso mesmo, há tanta resistência em abandoná-la; parecia morta, mas acaba de ganhar uma nova encarnação. O motivo para recomeçar essa conversa, por trás do palavrório todo que circula por aí, é muito claro: o estado de saúde da ministra Dilma Rousseff, que o presidente da República vem tentando firmar como candidata à sua sucessão. Os pregadores do terceiro mandato, que pareciam conformados em ir com ela para a campanha eleitoral de 2010, não esperaram muito para voltar correndo ao seu Plano A. Viram na doença da ministra, como se diz, uma "janela de oportunidade". Se a candidatura, acham eles nos seus cálculos, deixa de ser uma certeza, vamos trocar depressa de baralho e tentar, outra vez, mudar as regras no meio do jogo para permitir que Lula seja candidato – o atalho que acreditam ser o mais recomendado para segurar-se nos seus cargos, vantagens e outras coisas boas por mais quatro anos, ou sabe-se lá quantos. Em sua primeira versão, essa história era um monumento à velhacaria. Em sua versão atual passou a ser, também, um monumento à lei do cão – os feridos que se arranjem. A figura-modelo dos que entraram nessa viagem bem poderia ser o coronel Tamarindo, no momento em que abandonou sua tropa na Guerra de Canudos, salvou a própria pele e entrou para a história com a frase que não se esquece: "É tempo de murici, cada um cuide de si".

Em relação às condições de saúde da ministra Dilma, há duas certezas. A primeira é que sua enfermidade tem as mais altas chances de cura que a medicina pode oferecer hoje – não menos que 90%. A segunda é que ela está recebendo o melhor tratamento disponível para uma paciente na sua situação. Além disso, não se pode dizer rigorosamente mais nada, pois não há mais nada que possa ser dito. É muito pouco, para os políticos do condomínio governamental. Só a ministra sabe, ou ficará sabendo, o que pode ou não pode fazer; no momento, não dispõe de fatos concretos para fornecer mais informações além das que já tem fornecido. Os seus médicos também não podem ajudar o PT e a base aliada a fazer contas eleitorais. Têm como objetivo único curar a sua cliente, e é só nisso que continuarão trabalhando; não faz parte dos seus deveres, nem das suas preocupações, "viabilizar" a candidatura de ninguém. Mas os que querem mudar a Constituição estão pensando em si, e estão com pressa. É tempo de cada um cuidar dos próprios interesses, e não de ficar aguardando definições que dependem da ministra, de sua equipe médica ou da eficácia de agentes químicos.

A enfermidade de Dilma Rousseff não tem sido um bom momento para os índices de decência da vida política brasileira. No começo, o público teve de ouvir, inclusive pela voz de altas autoridades, uma extraordinária discussão sobre as vantagens comparativas da nova situação, que poderia, entre outras atrações, tornar "mais humana" a candidatura da ministra – como se fosse possível achar alguma coisa positiva num câncer linfático. No momento, o mesmo público é apresentado a uma lista por escrito dos que resolveram apostar na desgraça; são acompanhados, na sombra, pelos que ficam em silêncio, esperando para ver de que lado será mais conveniente se colocar. É óbvio que os defensores de mais um mandato para Lula dizem que não se trata disso. É óbvio, ao mesmo tempo, que é exatamente disso que se trata.

Desde que essa confusão começou a ser armada, tornou-se evidente que a única pessoa neste país que poderia realmente acabar com ela era o próprio presidente da República. Continua sendo. Lula, ao longo desse tempo todo, já disse uma porção de vezes que não quer ficar. Falou que ninguém é indispensável, nem mesmo ele, e que a Presidência não pode ser ocupada a vida inteira pela mesma pessoa. Lançou uma candidata à sua sucessão e tem trabalhado duro por ela. Chegou, até mesmo, a informar que não vê a hora de deixar Brasília para fazer de novo um bom coelhinho assado em São Bernardo. Os aliados que querem sua candidatura em 2010 estão cansados de saber disso tudo, mas continuam insistindo. É bom prestar atenção no que fazem, pois não há novatos entre eles – e, como ensina o barão de Itararé, cachorro velho não late à toa.

RUTH AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Queria escrever sobre a luz de maio
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Como será nosso brasil em 2020? Esta edição de ÉPOCA olha para o futuro. Desafios e oportunidades. Poderíamos fazer centenas de pedidos a quem tem poder para melhorar o país nos próximos 11 anos. Adianto dois: acabem com a impunidade e a guerra civil. Há 48 mil homicídios por ano em nosso país de “índole pacífica”. São 131 mortos por dia. Um deles é Gabriela Araújo, de 8 anos, morta em casa com um tiro na cabeça, na quarta-feira, por um assaltante menor de idade, num condomínio de luxo no Estado mais próspero do Brasil, São Paulo. No ano de 2020, Gabriela faria 19 anos.

Deve ser bom ser jornalista no Brasil. Há sempre alguma denúncia, muitos escândalos e crimes. Esse foi o comentário irônico de um amigo que mora em Paris. Respondi: não, não é bom. Dá uma tremenda impotência perceber que escândalos e crimes caem no vazio e se perdem na rotina da mídia e na memória nacional. Quem sabe Nossa Antena, em 2020, possa ser uma coluna leve, que recomende livros, filmes e exposições. Se o Brasil apostar no desarmamento da sociedade, se não deixar assassinos e corruptos à solta, se a competência e a honestidade vencerem o corporativismo, se castelos virarem iglus, aí a colunista de ÉPOCA terá o prazer de elogiar nossos Três Poderes. E não se indignar com a sucessão de pequenezes impunes que envergonham os cidadãos.

Os órgãos da menina Gabriela serão doados. O crime absurdo e gratuito, diante de sua irmã gêmea e da babá, chocou Rio Claro, a 173 quilômetros da capital paulista. O rapaz que mirou na cabeça de Gabriela tem 17 anos e foi reconhecido pela babá em fotografias. Ele e seu cúmplice entraram na casa armados de pistolas, depois de pular o muro dos fundos do condomínio, com cerca elétrica. A cerca teria falhado e as câmeras não teriam funcionado – o que é suspeito. O alarme da casa disparou, os assaltantes mandaram a babá desligar. Ela disse que não sabia. O de 17 anos teria então atirado intencionalmente nas duas meninas, acertando Gabriela. Os assaltantes fugiram com joias, aparelhos e bijuterias. O assassino já tinha sido detido em janeiro, com armas e capuzes, e liberado. Vinte dias depois, voltou a ser detido por porte de entorpecentes, foi encaminhado à Vara da Infância e Juventude. E novamente liberado. Não dá mais para considerar “crianças inimputáveis” os delinquentes de 16 e 17 anos. Se podem votar, podem ser presos como adultos. Basta? Claro que não. Mas é uma distorção a corrigir.

Dois pedidos para 2020:acabem com a impunidade 
e a guerra civil. Por dia, 131 brasileiros são mortos

“A gente rezou lá para ela em volta de uma árvore, e eu peguei um tercinho”, disse uma amiga de Gabriela, Vitória Lucci, antes de divulgarem a morte cerebral da menina.

A população não pode ficar condenada a rezar. A família de Gilmar Rafael Yared, de 26 anos, morto na colisão em Curitiba com o carro do deputado Fernando Ribas Carli Filho – que dirigia embriagado, a 190 quilômetros por hora e com a carteira de habilitação suspensa –, também reza por justiça.

Oram os parentes de Marleide Gomes dos Santos. Sabem quem era Marleide? Tinha 30 anos, estava grávida de cinco meses de gêmeos e foi atropelada e morta na calçada em Osasco, Grande São Paulo, por um motorista embriagado e sem carteira de habilitação. Foi na quinta-feira. Marleide era balconista e voltava do trabalho. Tinha um casal de filhos, de 8 e 6 anos.

No ano de 2020, Gilmar teria 37 anos, e Marleide 41.

Essas tragédias são tão frequentes que podem ser tudo, menos acidentes ou fatalidades. O destino não pode ser culpado. A crueldade, a corrupção e a imprudência são alimentadas pela sensação de viver num país sem lei. Ou num país de leis esquizofrênicas. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, acaba de negar habeas corpusa uma mulher condenada a dois anos de prisão por ter furtado caixas de chiclete. Juntas, tinham o valor de R$ 98,80. O ministro ponderou que não era “furto famélico” – quando se rouba por fome – e, mesmo insignificante, não merecia perdão.

No ano de 2020, queria escrever sobre a luz de maio. E também desejo muito, até lá, ter dois netos. Meus votos de saúde, paz e justiça para todos.

INFORME JB

A Perimetral e o novo porto do Rio

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 23/05/09

A Prefeitura do Riovai aumentar o gabarito da Zona Portuária da Baía de Guanabara (foto), no Centro da cidade, a fim de atrair construtoras para revitalizar a área. É a primeira decisão do prefeito Eduardo Paes para humanizar a região: fazer não só com que empresas mudem suas sedes para lá como também que nasçam ali prédios residenciais. Mas, e o Elevado da Perimetral, que desafoga o trânsito do Centro e do Aterro do Flamengo para a Ponte Rio-Niterói? Um problema para ser resolvido daqui a 20 anos, diz Paes à coluna. Será um desafio – fazer a revitalização do porto, sem mexer na Perimetral.

Milícia de gravata PSC é tubarão

Dois deputados estaduais do Rio estão envolvidos diretamente com milícias em regiões carentes na cidade, segundo gravações autorizadas pela Justiça.

O PSC quer deixar de ser peixinho para virar tubarão. Durante a posse do deputado federal Hugo Leal no Diretório Municipal do Rio, o vice-presidente nacional, pastor Everaldo, afirmou que o partido irá dobrar o número de deputados na Câmara Federal nas eleições de 2010.

Mar para peixe

PSC também quer concorrer ao Senado em pelo menos 11 estados, entre eles o Rio.

Sem crise

Depois de subir três posições no ranking de competitividade elaborado pela escola suíça IMD, o Brasil aguarda o resultado da pesquisa do World Economic Forum, aplicado no país pelo Movimento Brasil Competitivo e pela Fundação Dom Cabral.

Sem crise 2

O presidente-executivo da instituição, Claudio Gastal, deve anunciar o resultado em setembro. Na última edição, o Brasil se encontrava na 64ª posição entre 134 países. A expectativa é que suba no ranking.

GP da Caixa

O governo do Pará desembolsou R$ 1,4 milhão para sediar em Belém, amanhã, pela sétima vez consecutiva, o GP Brasil Caixa Governo do Pará Atletismo. A saltadora Maurren Maggi está confirmada.

Cooperativas

O senador Renato Casagrande (PSB-ES) apresentou à Comissão de Assuntos Sociais parecer favorável a projeto já aprovado na Câmara regulamentando o Cooperativismo do Trabalho.

Gaiatice

A proposta cria um fundo de fomento, estabelece base legal para o setor e legaliza a atividade, acabando com a chamada "cooperativa gato" que, de atuando apenas na fachada, arranca dinheiro de empresas públicas e privadas.

Corrida na USP

Marcelo Neves antecipou sua sabatina no Senado para o CNJ em uma semana. Foi deferência do órgão, pois Neves concorre semana que vem à vaga de professor titular de direito da USP.

Sean no tiroteio

Prestes a sair a decisão da Justiça, não vão nada bem as relações entre a família do garoto Sean e o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli. O pai americano pede a guarda, numa briga judicial com o padrasto, João Paulo Lins e Silva, no Rio.

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ANCELMO GÓIS

Hillary de luto

O GLOBO - 23/05/09

Hillary Clinton adiou, em cima da hora, a visita que faria a Lula, sexta próxima, dia 29.
Alegou a morte de uma grande amiga.

AS VOLTAS QUE O... 
Até a “The Economist” reparou no inusitado da coisa. A brasileira SR Rating, do economista Paulo Rabello de Castro, resolveu baixar a nota (rating) dos EUA.
Até dia desses, eram essas agências de classificação de risco, quase todas americanas, que davam nota baixa ao Brasil.
DORMINDO COM O... 
O Tribunal de Contas do Município do Rio (TCM) foi responsável, em parte, pela investigação sobre pseudoirregularidades na construção da Cidade da Música que levaram, por exemplo, o MP a acusar o ex-secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira, de improbidade administrativa.
Só que Macieira trabalhava até semana passada no... TCM.
BRASIL É O CARA
O jornal alemão de economia “Handelsblatt”, espécie de “Financial Times” da terra do chucrute, vai publicar, por 14 dias, a partir de segunda, um caderno especial sobre o Brasil.
O cartaz que anuncia a série traz o título “De eterno país em desenvolvimento a potência econômica global” e o subtítulo “Por que o Brasil tem boa chance de sair da crise fortalecido”.
‘ÚLTIMA PARADA 174’
Em junho, com a presença do diretor Bruno Barreto, será lançado em Paris o filme “Última parada 174”.
NÃO ‘FOODS’ 
Essa Brasil Foods, que frita na mesma panela a salsicha da Perdigão com a linguiça sem trema da Sadia, tem antecedentes.
A empresa brasileira que controla o Bob’s se chama Brazil Fast Food. Mas “food” é o...
HUCK E ANGÉLICA 
A série de animação “Charlie e Lola”, sucesso na inglesa BBC, ganhará versão nos palcos aqui. “Charlie e Lola, a peça” terá produção de R$ 1,5 milhão. Estreia em São Paulo, dia 4 de julho.
Seus direitos foram adquiridos pelo casal Angélica e Luciano Huck, os apresentadores sócios da produtora Aventurinha.
GIL NA ESTRADA
Veja como Gilberto Gil largou o MinC com força total na carreira: quinta, cantou em Belo Horizonte; ontem, em São José dos Campos; hoje, canta em Osasco; amanhã, em Altinópolis; depois cai na estrada no roteiro de festas de São João (Salvador, Caruaru, Aracaju, etc) e...
Ufa, segue para Europa! 
BNDES AMBIENTAL 
O BNDES está recebendo projetos para recuperar a Mata Atlântica financiados por seu Fundo Social (que não exige pagamento).
A ideia é reflorestar uns mil hectares da mata, que hoje tem só 7% do tamanho original.
CAMINHO DA ROÇA
Veja como a novela “Caminho das Índias”, de Glória Perez, influencia as brasileiras.
Na Feira dos Nordestinos, em São Cristóvão, no Rio, entre a carne-de-sol e a rapadura, tem feito sucesso uma loja de produtos... indianos, chamada Stylus. Ali, os clientes encontram batas, colares e braceletes iguais aos de Maya, personagem de Juliana Paes na trama da TV Globo. Na verdade... Índia e Sergipe têm em comum... não sei.
OLHA O BAFO 
O Ministério da Justiça vai mandar ao Rio, nos próximos dias, mais 50 bafômetros.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA

Diogo Mainardi
Quem quer demolir
barracos?

"Eu defendo a medida de demolir barracos.
Sou o Émile Zola dos tratores. Este é o meu
‘J’Accuse’ em prol da Caterpillar"

O barraco de Rubina Ali, na última semana, foi demolido por um trator. Isso aconteceu em Mumbai, Índia. Rubina Ali é uma das protagonistas de Quem Quer Ser um Milionário?. Tem 9 anos. A BBC mostrou imagens dela no meio dos escombros. Ela perguntou:

– Onde posso dormir hoje à noite?

Na semana anterior, o barraco de outro protagonista de Quem Quer Ser um Milionário?, Azharuddin Mohammed Ismail, de 10 anos, já fora demolido por um trator. A BBC mostrou imagens dele no meio dos escombros. Ele disse ter sentido medo e perguntou:

– Onde está minha galinha?

A imprensa internacional, nesses dois episódios, recriminou a prefeitura de Mumbai, os administradores da estrada de ferro, os policiais encarregados de desocupar os terrenos e os realizadores de Quem Quer Ser um Milionário?. Ninguém apoiou seus argumentos. Ninguém defendeu a medida de demolir os barracos. Se é assim, eu apoio seus argumentos. Eu defendo a medida de demolir barracos. Sou o Émile Zola dos tratores. Este é o meu "J’Accuse" em prol da Caterpillar. No embate de ideias, cada um tem o Dreyfus que merece.

A prefeitura de Mumbai planeja erguer um jardim público na área tomada pelo barraco de Azharuddin Mohammed Ismail, que é constantemente inundada por esgoto, em particular a partir de junho, durante a temporada de tempestades. Os administradores da estrada de ferro decidiram desobstruir o terreno adjacente aos trilhos, demolindo barracos como o de Rubina Ali, construídos perigosamente à sua margem. Os policiais encarregados de desocupar o barraco de Rubina Ali deram uma surra em seu pai, que recentemente foi acusado de tentar capitalizar o grande sucesso cinematográfico da filha vendendo-a a um estrangeiro, por 200 000 libras ester-linas. Os pais de Azharuddin Mohammed Ismail e Rubina Ali declararam que Quem Quer Ser um Milionário? rendeu-lhes, respectivamente, 1 700 e 500 libras, mas os realizadores do filme anunciaram que a cifra é bem maior, e que só poderá ser sacada quando seus intérpretes completarem 18 anos.

Sobre o jardim prometido pela prefeitura de Mumbai: creio que ele nunca sairá do papel. Sobre a estrada de ferro: ela logo será retomada pelos barracos. Sobre os policiais: eles batem também em inocentes. Sobre os realizadores de Quem Quer Ser um Milionário?: o dinheiro é deles, e eles podem gastá-lo como bem entenderem. Mesmo assim, entre uma sociedade que aceita demolir barracos, como a indiana, e uma sociedade que se recusa a demolir barracos, como a brasileira, a que aceita demolir barracos necessariamente acabará predominando. Cedo ou tarde, Rubina Ali terá onde dormir. Cedo ou tarde, Azharuddin Mohammed Ismail terá outra galinha.

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CLÓVIS ROSSI

De heróis, ideias e cansaço

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/05/09

SÃO PAULO - A morna campanha eleitoral chilena está sendo sacudida pelo surgimento de uma, digamos, terceira via entre a direita e a "Concertación" (a coligação da Democracia Cristã com os socialistas, entre outros sócios menores). O nome é novo, mas o sobrenome é histórico na esquerda chilena.
Trata-se de Marco Enríquez-Ominami, filósofo e cineasta. Seus sobrenomes correspondem ao pai, Miguel Enríquez, líder histórico do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária, um dos raros grupos cujo nome diz realmente a que veio), morto durante a ditadura Pinochet, e ao padrasto, Carlos Ominami, também MIR, mas posteriormente convertido à ortodoxia.
Se falo dessa candidatura alternativa não é apenas por antiga afeição pelo Chile mas também porque o documentário pelo qual Marco é mais conhecido chama-se "Os Heróis Estão Cansados". Nele, o cineasta-candidato analisa a fadiga tanto da "Concertación", que governa há 10 anos, como da direita, que não renovou a agenda. Acho que há algo disso no Brasil.
Não que os líderes em si pareçam cansados. Lula, por exemplo, é extremamente vital. José Serra e Aécio Neves, seus teóricos contrapontos, e mesmo Fernando Henrique Cardoso, o antecessor de Lula, não andam propriamente fazendo tricô em cadeiras de balanço.
A fadiga, na verdade, parece morar nos partidos que dominam a vida política nacional há pelo menos 15 anos. O PT parou de pensar desde que chegou ao poder. Seus intelectuais fazem mais feio: tudo o que produziram desde então é a grotesca teoria da conspiração que não houve.
O PSDB, como observou ontem Vinicius Torres Freire, vive ao sabor de "marolas midiáticas". Qual é o seu projeto de governo além de preservar o Bolsa Família?
Não creio que o país precise de heróis. Mas de ideias, lá isso precisa. Onde estão?

PANORAMA

REVISTA VEJA

Panorama
Holofote

Felipe Patury

Ridi, pagliaccio

Frederico Haikal/ Hoje em Dia


Os cantores líricos paulistas, que buscam constituir uma espécie de sindicato, a Associação dos Cantores Profissionais de Ópera do Estado de São Paulo, surpreederam-se semanas atrás ao receber um telefonema do presidente do PTB, Roberto Jefferson.Protagonista de cantorias debaixo do chuveiro, captadas por repórteres de televisão que faziam plantão à porta de seu prédio, durante o mensalão, Jefferson se prontificou a defender a associação. Em troca, insinuou que gostaria de ganhar carteirinha de sócio.

 

Tudo é possível

Luciana Prezia


No fim do ano passado, o executivo Walter Zagari, da Rede Record, deparou com uma meta que lhe parecia inexequível. A Igreja Universal, dona da emissora, exigiu um faturamento 15% maior do que o 1,8 bilhão de reais obtido em 2008. Para sua própria surpresa, a receita da Record já subiu 25% neste ano. Se continuarem nesse ritmo, fecharão o exercício em 2,25 bilhões de reais.

 

FHC fala sobre Ruth

Valéria Gonçalves/AE


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala pela primeira vez sobre a morte de sua mulher, Ruth, em uma entrevista à revista Dicta & Contradicta, que sai nesta semana. Em meio a discussões sobre filosofia, arte e literatura, o ex-presidente faz uma digressão emocionada sobre Ruth. "As pessoas que morreram e que nos foram próximas, de alguma maneira, continuam a nos influenciar. O que não há mais é o contrário: não podemos mais influenciá-las", diz Fernando Henrique.

 

O Duque do dique

Leo Pinheiro/Valor/ Folha Imagem


O governo fluminense empenha-se em arranjar um locatário para o estaleiro Ishibrás, que a Companhia Brasileira de Diques (CBD) comprou do empresárioNelson Tanure. Faz isso porque, reativado, o estaleiro abriria 5 000 postos de trabalho no estado. Há um ano, a CBD quase fez negócio com a Odebrecht, que se dispôs a pagar um aluguel de 9 reais por metro quadrado do espaço. Quando o negócio encrencou, Tanure apareceu para tentar desencravá-lo. Ninguém entendeu por quê. Agora, o Ishibrás está sendo oferecido à Petrobras a 15 reais por metro quadrado. E Tanure parece mais feliz. A explicação para o ressurgimento do antigo dono do estaleiro é que ele fará jus a um prêmio se o Ishibrás for alugado ou revendido por um bom preço. O negócio depende do aval do diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque, indicado pelo ex-ministro José Dirceu – que já trabalhou para Tanure.

 

Foi para o brejo

Mônica Zaratinni/AE


O touro Basco da SM era uma das grandes promessas da pecuária nacional. Pensava-se que ele substituiria o lendário Fajardo, que teve 275 000 filhos e morreu há dois meses. Foi com essa expectativa que o empresárioPedro Grendene investiu 1,6 milhão de reais na compra de metade do lucro futuro obtido pelo criador do animal, Cláudio Carvalho. Se tudo desse certo, Pedro Grendene apuraria 30 milhões de reais no negócio. No início do mês, Basco da SM morreu repentinamente. Teve um ataque cardíaco enquanto comia. Tinha apenas seis anos.

 

Raul Junior


American Airlines e Iberia no Smiles

Desde o ano passado, a Gol elabora um amplo plano de reestruturação. A próxima fase será ampliar em duas frentes seu programa de milhagens, o Smiles. Em primeiro lugar, ele abarcará novas companhias. A American Airlines e a Iberia devem estar entre elas. Depois, o Smiles e seu cadastro terão seus direitos vendidos a cartões de crédito administrados por dois bancos. Só com essa venda, a Gol pretende obter mais do que os 320 milhões de dólares pagos pela Varig. A operação está sendo negociada pelo dono da empresa, Constantino Júnior, mas pode ser anunciada pelo novo presidente do conselho de administração, Álvaro de Souza.

COISAS DA POLÍTICA

A carta do presidente

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 23/05/09

Uma aragem que parece feitiçaria no tempo em que milagres por atacado são exibidos em vários canais de televisão passou por esta coluna nas últimas semanas. Para ficar nos dois exemplos mais próximos: o texto impecável de Mauro Santayana brindou os leitores na antológica rememoração da sua infância em Belo Horizonte, com a experiência indelével dos anos como interno em um pensionato para menores.

Pois, agora um novo espanto, no ineditismo da primeira e provavelmente única vez em que recebo por e-mail não um artigo, sem título, mas uma carta da autoria do ex-presidente da República, ex-governador do Maranhão e atual presidente do Senado, que preside as sessões do Congresso, senador José Sarney. E que chegou criando perplexidades. No JB, de que é colaborador semanal na página de Opinião, não se encontrou moldura adequada para acolher o texto do acadêmico. A Redação lavou as mãos enviando-me o texto. E que abaixo transcrevo:

"Constato com alegria que, cada vez mais, você continua inigualável na arte de escrever artigos. Sua atenção aos fatos e a profundidade e elegância de seu espírito crítico brindam-nos com essa mistura ao mesmo tempo saborosa e picante, que traz luz e perspectiva aos temas de interesse público de que trata, como o fez no seu texto de sábado, sobre a reforma política urgente e inviável.

Enquanto muitos reagiram com fúria descontrolada, você reexaminou com isenção o projeto de reestruturação do Senado, encomendado à Fundação Getúlio Vargas. Até sua ironia foi construtiva, na medida em que conseguiu perceber no projeto ‘um resultado acima das mais pessimistas expectativas’. Estou plenamente de acordo. Trata-se de um começo de conversa, ‘do reconhecimento da necessidade de tentar colocar um mínimo de ordem e funcionalidade na mixórdia do desperdício do dinheiro público’.

O empreguismo, no setor público, é vício que nos aflige desde a República Velha. E dele, infelizmente, ainda não conseguimos nos livrar. Estamos mal na fotografia, mas não estamos sós. Está aí, como exemplo, o número de funcionários do governo federal. Só os da administração direta passaram de 200 mil para 220 mil, entre 2003 e 2008, sem contar com os das autarquias, das fundações e das empresas públicas. É razoável que a sociedade que se sacrifica para pagar seus impostos não queira continuar a bancar essa festa empregatícia do setor público.

Muita coisa se pode fazer para reduzir despesas. Veja que ao assumir a presidência do Senado, em fevereiro último, determinei um corte de 10% de todos os gastos na Casa e, posso assegurar, ela não funcionou pior por conta disso. É sinal de que devemos fazer ainda mais. E vamos fazer.

Concordo com você quando diz que é preciso estabelecer controles em toda parte, pois sem a existência deles torna-se natural ao longo do tempo, como você observou, que a burocracia imponha os seus cacoetes da multiplicação do pessoal e dos generosos reajustes de vencimentos. Não sei se o número qual será o número adequado de funcionários – entre servidores de carreira e terceirizados – que deve ter o Senado, nem como deverão estar distribuídos, e é exatamente isso o que esperamos da equipe do doutor Bianor Cavalcanti.

Artigos como o seu ajudam a levar o debate a bom termo. Usar a pena para a ofensa e extravasar a fúria e eventuais frustrações é fácil. Difícil é fazer como você, meu caro Villas-Bôas, que sempre soube trazer racionalidade e o bom-senso ao debate sobre a coisa pública".

Retomo a palavra. É pura e descarada hipocrisia a teórica ética de que as relações entre os jornalistas e as fontes não devem passar do formalismo de autômatos. Um dos mais prezados tesouros do repórter é a sua carteira de fontes, não apenas confiáveis mas de fácil acesso nas emergências. Nunca aceitei favores, de emprego às cobiçadas viagens internacionais antes da moda dos saques do dinheiro público pelos parlamentares. Mas cultivei as fontes que garantiam a exclusividade dos furos.

Para a moralização do Congresso basta a simples e inviável providência de convencer os parlamentares de que o Poder Legislativo foi transferido para Brasília, desde 21 de abril de 1960. E que as mordomias e vantagens são generosas, mas corretas: apartamento mobiliado, gabinete privativo com a penca de assessores e os 15 subsídios anuais para as férias, pagando as passagens. Quem quiser mais deve cavar um cargo no governo.

DA PUTADA


CLÁUDIO HUMBERTO

“Eu não sei o que vai acontecer em 2010, como pensarei em 2014?”
PRESIDENTE LULA, AO SER PERGUNTADO SE BUSCARÁ A ELEIÇÃO APÓS DEIXAR O MANDATO EM 2010

MINISTROS CANDIDATOS PODEM SAIR EM OUTUBRO 
O presidente Lula segredou a um ministro, na viagem ao exterior, que pensa em antecipar para outubro a data de saída dos ocupantes de cargos de primeiro e segundo escalões que serão candidatos em 2010. A ideia é recompor o ministério, no último ano, em comum acordo com a ministra-candidata Dilma Rousseff, a fim de que ela assuma ainda mais atribuições na gestão, engajando toda equipe na campanha presidencial.
SERRA NO MURO
Intriga o silêncio do governador paulista José Serra sobre a CPI da Petrobras. Não é a favor, nem contra, muito antes pelo contrário.
DE VÉSPERA, FEITO PERU
O governo celebra o êxito da “operação” de constranger o PSDB por criar a CPI da Petrobras, com a lorota da intenção de “vender” a estatal.
REAÇÃO NERVOSA 
Por trás da reação à CPI da Petrobras está o medo de escarafunchar as suspeitas de superfaturamento e o financiamento de projetos eleitorais.
FAVORITISMO
Até os governistas já dão como certa a indicação do senador ACM Jr. (DEM-BA) para a presidência da CPI da Petrobras.
VALE NO TOPO DOS INVESTIMENTOS PRIVADOS
A Vale reajustou seu plano de investimentos de US$ 14,2 bi para US$ 9 bilhões. Mesmo em meio à crise econômica mundial, é o maior investimento privado do Brasil. Todo esse caminhão de dinheiro, de quase R$ 20 bilhões, garante cerca de 45 mil empregos no País. Será investimento maior, por exemplo, que o total prometido pelo governo federal para 2010 no programa de construção de 1 milhão de casas.
PRESO EM CASA
Como o ex-juiz Lalau, a defesa do empresário Nenê Constantino deve alegar a idade avançada, 78 anos, para requerer prisão domiciliar.
TUDO COMO ANTES 
Ao trocar a verba indenizatória pelo cotão de R$ 34 mil, o mensalão de nova geração, a Câmara trocou seis por meia dúzia.
DOSSIÊ PO
Em Brasília, a oposição documenta, para denunciá-las, obras públicas que beneficiam empreendimentos do vice-governador Paulo Octavio.
GAZETA 
ACM Neto (DEM-BA), que não deu as caras no Conselho de Ética para ouvir o deputado do castelo, mal apareceu na Câmara, esta semana. Na quinta, cedo, pegou um avião para o fim de semana em Buenos Aires.
JOGO BRUTO NO CEARÁ
Das oito tevês cearenses, só a do coronel e senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) foi avisada do mandado de busca e apreensão, no PMDB, de suposto material de propaganda do deputado Eunicio Oliveira. Para o PMDB, foi uma jogada para desgastar o adversário de Tasso ao Senado.
DISTÂNCIA DO BRASIL
Refugiados palestinos se manifestaram ontem, em Brasília, confirmando o que esta coluna já havia antecipado: eles não querem ficar no Brasil. Querem dinheiro e passagens para a Europa. Por nossa conta, é claro.
HÉLIO NA FRENTE 
O ministro Hélio Costa (Comunicações) tem 40% das intenções de voto para governador de Minas, segundo pesquisa Vox Populi. Em segundo, longe, vem o ex-prefeito de BH Fernando Pimentel, e na rabeira, com 4%, Antônio Anastasia, candidato do governador Aécio Neves.
SEM CONSENSO
A base governista se reúne terça-feira para afinar o discurso na reforma política. PT, PMDB e PCdoB são a favor do financiamento público de campanha e da lista fechada. PP, PR, PTB, PDT e PSB são contra.
MARCADO PARA PERDER
O PT-DF escolhe no dia 4 seu candidato ao governo do DF. O ex-ministro Agnelo Queiroz é o favorito entre petistas para enfrentar o atual governador José Roberto Arruda (DEM) e o ex Joaquim Roriz (PMDB).
PÉ NA ESTRADA
Para protestar contra um projeto do governador José Serra (PSDB), de construir um presídio na cidade, o prefeito de Porto Feliz (SP), Claudio Maffei (PT), inicia amanhã viagem a pé até o Palácio dos Bandeirantes, levando um abaixo-assinado com 15 mil nomes, contra o presídio. 
ZONA DE PERIGO
O dólar abaixo dos R$ 2 é o pavor dos exportadores e do agronegócio: quando os preços começam a melhorar lá fora, a desvalorização cambial ameaça os ganhos. Mas insumos como fertilizantes ficam mais caros.
AMBIÇÕES
O presidente da Petrobras ainda pode ser candidato ao governo da Bahia. Plataforma é o que não lhe falta. Nem grana distribuída na Bahia. 

PODER SEM PUDOR
FALATÓRIO NÃO É DINHEIRO
Secretário de Planejamento de Pernambuco nos anos 70, Everardo Maciel promoveu um seminário sobre projetos para a região metropolitana do Recife, na prefeitura da capital. Os temas eram excessivamente técnicos, enfadonhos. O então prefeito, Augusto Lucena, interrompeu Maciel:
– Secretário, vou sair e dar uns telefonemas...
Ante a expressão de espanto de Maciel, ele completou:
– ...quando chegar na parte “dinheiro para a cidade”, propriamente dita, pode mandar me chamar.
E foi embora.

DORA KRAMER

Pensando alto

O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/05/09

O senador Marco Maciel, sabe-se, não é homem dado a contundências. Trabalha na maciota, escolhendo sempre o gesto mais brando, o termo mais ameno. Por isso começa a articular o fim das medidas provisórias sem pronunciar a palavra “revogação” nem partir para uma ação categórica.

Prefere dizer que está “pensando alto” sobre a necessidade de se “repensar” o instituto da medida provisória, um instrumento típico de regimes parlamentaristas que no presidencialismo já deu o que tinha de dar (não fala desse modo assertivo, mas o recurso da tradução facilita a compreensão do argumento).

E deu em quê? Na opinião de Marco Maciel, basicamente na captura dos poderes do Parlamento. De legislar e, em consequência, também de fiscalizar e debater. Ao funcionar referido no Executivo, o Legislativo, no raciocínio do senador, acaba se distanciando da agenda da sociedade, incorpora o desestímulo, tende à passividade e faz do Palácio do Planalto o protagonista quase absoluto da República.

A situação piorou bem, na opinião do senador Marco Maciel, a partir de 2001, quando da aprovação da Emenda 32, que alterou a sistemática das MPs. Desde então, passaram a trancar a pauta do Legislativo quando não votadas em determinado prazo.

Maciel acompanhou de perto aquela modificação. Era vice-presidente da República. Contrário à ideia, patrocinada pela base governista de Fernando Henrique Cardoso, que tinha, assim, a expectativa de que o Congresso, sob a ameaça da obstrução das votações, seria forçado a examinar as medidas.

Até então, eram editadas e reeditadas indefinidamente, vigorando pela força da inércia, sem que o Congresso deliberasse a respeito. Na prática, onde se pretendeu celeridade obteve-se paralisia e mais submissão.

De um lado o Executivo exacerbou no poder de editar MPs e, de outro, o Legislativo simplesmente abriu mão de vez da prerrogativa de examinar a constitucionalidade das medidas e devolver aquelas sem urgência ou relevância.

“Faltou a percepção correta da realidade.”

Um retrato desta, Marco Maciel foi buscar antes de iniciar sua jornada. Pediu à Mesa do Senado um levantamento sobre a relação entre a quantidade de sessões deliberativas realizadas sob o império da pauta trancada e as ocorridas com a agenda livre.

Constatou o seguinte: o trancamento não apenas tem prevalecido, como tende a aumentar. Nos últimos três anos e meio, o porcentual de sessões deliberativas (sem contar as extraordinárias) com a pauta trancada nunca foi inferior a 65%.

Em 2005 o Senado teve 113 sessões, sendo que em 75 nada pôde votar; em 2006, do total de 83 sessões, em 58 a pauta esteve trancada; em 2007, a relação foi de 127 para 83; em 2008, das 115 sessões, 82 foram realizadas sob a preferência de MPs; em 2009, de fevereiro a maio houve 34 sessões deliberativas, 29 com a pauta trancada, o equivalente a 85%.

“A tendência de crescimento do trancamento da pauta é evidente, contribuindo fortemente para a percepção de que o Congresso não decide. Logo, também se fortalece o entendimento de que o Executivo precisa mesmo se valer do uso abusivo de medidas provisórias.”

Fica, assim, estabelecida a confusão: o Congresso não decide por causa do abuso nas MPs e a ausência de decisão serve de pretexto para o excesso. E, qualquer modo, o Parlamento é quem paga o pato do desgaste.

Medidas como a adotada pelo presidente da Câmara, Michel Temer, de considerar o trancamento válido apenas para o exame de projetos de leis ordinárias, “amenizam, mas não resolvem”.

A solução seria revogar?

“Bem, sim, mas talvez isso não tenha bom acolhimento no Executivo. Quem sabe não podemos pensar no uso da urgência constitucional acrescido de algum outro mecanismo?”, pondera naquele jeito totalmente Marco Maciel de ser.

Contracorrente

O requerimento aprovado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, pedindo ao chanceler Celso Amorim que o Brasil retire seu apoio à candidatura do ministro da Cultura do Egito, Farouk Hosni, para a diretoria-geral da Unesco é a face pública de uma movimentação de bastidor envolvendo gente de alta patente.

Há, no governo e na oposição, inconformismo crescente com a decisão de apoiar Hosni – alvo de repúdio internacional por suas posições antissemitas – em detrimento do cientista brasileiro Márcio Barbosa, atual diretor adjunto da Unesco.

O vice-presidente José Alencar, cujo cargo o impede de manifestar-se oficialmente, dias atrás emprestou solidariedade a Márcio Barbosa em caráter pessoal, mas de maneira enfática.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi além: ofereceu-se para conversar a respeito com Bill e Hillary Clinton, ele ex-presidente, ela atual secretária de Estado dos EUA.

Não por coincidência, a Comissão de Relações Exteriores do Senado é presidida por Eduardo Azeredo, do PSDB.