domingo, janeiro 18, 2009

GOSTOSA


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AUGUSTO NUNES

Jornal do Brasil 18/01/09

Sete Dias

De volta ao século 19 – Comandantes dos acampamentos ameaçam recomeçar a Guerra do Paraguai

Já excitados com a chegada do MST aos 25 anos de vida, os comandantes das tropas dos sem-terra eriçaram-se de vez, na virada para 2009, com a coincidência tremenda: faz 145 anos que a Guerra do Paraguai começou. Duas efemérides tão admiráveis, somadas à recente chegada ao poder do companheiro Fernando Lugo, mereciam muito mais que festejos ortodoxos, como a depredação de fazendas produtivas ou o confisco de prédios federais. Assim nasceu a idéia de retomar o grande conflito encerrado em 1870. Só que agora com o MST a favor da potência vizinha e contra o Brasil.

Na primeira semana de janeiro, o marechal João Pedro Stédile comunicou ao presidente Lugo que os soldados entrincheirados nas barracas de lona preta estão prontos para desencadear a revanche do século com a execução de duas missões. Primeira: invadir e ocupar as instalações da hidrelétrica de Itaipu, o que obrigaria o Planalto a reformular o tratado em vigor desde 1973. Segunda: expulsar do Paraguai agricultores brasileiros ali infiltrados há décadas.

"A Eletrobrás paga uma bagatela pela energia comprada do país vizinho", descobriu Roberto Baggio, da coordenação nacional do MST. Quem sai lucrando, segundo a figura batizada em homenagem ao atacante italiano que ganhou a Copa de 1994 para o Brasil, são "grandes grupos econômicos estrangeiros". Como a Eletrobrás.

Marco Aurélio Garcia, conselheiro presidencial para complicações cucarachas, não vê nada demais na declaração de guerra. "Vivemos em um país democrático", ensina o assessor de Lula. "Qualquer partido político ou qualquer movimento social pode defender suas posições à vontade. Considero legítimas todas essas manifestações".

Embora agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) andem monitorando os encontros entre autoridades paraguaias e dirigentes do MST, Baggio usa o salvo-conduto concedido pelo companheiro Garcia para provocar o governo de que faz parte o assessor Garcia em entrevistas ou nos textos beligerantes que publica no site do MST.

"Nada é mais nacionalista do que defender a soberania de um povo sobre os seus recursos naturais", argumenta o artilheiro sem-terra. "Defendemos a soberania de todos os países. Somos contra o imperialismo dos Estados Unidos sobre o Brasil e do Brasil sobre qualquer país da América do Sul". É isso aí, avaliza o comandante Stédile, no momento ocupado com os retoques finais no plano de abrir uma segunda frente na Bolívia, e botar para fora todos os brasileiros proprietários de terras ou empresas no reino de Evo Morales.

No século 19, o Exército imperial precisou aliar-se à Argentina e ao Uruguai, e lutar durante cinco anos, para derrotar um inimigo solitário. No início do terceiro milênio, o Paraguai tem o apoio de uma quinta coluna com a qual Solano Lopes sequer sonhou. Mas hoje as coisas parecem bem menos complicadas. Sucessor do Duque de Caxias, o general Nelson Jobim só precisa convencer o governo Lula a suspender a mesada e o rancho das tropas, além de enquadrar os recalcitrantes com pedagógicas temporadas na cadeia. Também para o ridículo há um limite.

 Essa crise é coisa para gente grande

No programa radiofônico semanal, o presidente Lula resumiu a receita que preparou para resolver de vez todos os problemas do Oriente Médio. "Nós precisamos detectar quem quer os conflitos e colocar essas pessoas numa mesa de negociação, junto com as forças políticas que têm influência, tanto na Autoridade Palestina, sobretudo no Hamas, e no povo de Israel, para que a gente possa começar uma conversação e encontrar uma fórmula, para que eles possam viver em paz e cada um desenvolver o seu país". Simples assim. Lula estudou a questão porque "gostaria que árabes e judeus vivessem em paz, no Oriente Médio, assim como convivem no Brasil". Foi por isso que despachou Celso Amorim para a zona conflagrada.

A rainha de Sabá tem mais chances que o chanceler brasileiro de participar do grupo de negociadores da paz improvável entre israelenses e palestinos. É coisa para representantes de países neutros, e o Brasil governado por Lula é hostil ao Estado judeu. É coisa para nações com relevância geopolítica, e o Brasil só influencia os destinos do planeta na cabeça dos mitômanos do Planalto e dos napoleões de hospício do Itamaraty. E é coisa para gente grande. A crise do Oriente Médio é séria demais para ser discutida por um ministro das Relações Exteriores que, antes da decolagem do avião, troca o terno pelo pijama e pede um copo de leite à comissária de bordo que oferece taças de champanhe aos passageiros da primeira classe.

Presidente do STF pisa no acelerador


No dia 9, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, libertou três integrantes da quadrilha de extorsionários a que pertence o incansável Marcos Valério. No dia 14, soltou também o ex-tesoureiro do mensalão, que horas antes fora obrigado a continuar na cadeia por decisão do Tribunal Regional Federal de São Paulo. No dia 15, Gilmar Mendes aproveitou o embalo e autorizou a volta à Assembléia Legislativa de Alagoas de 10 parlamentares afastados dos cargos por corrupção.

Janeiro mal chegou à metade. O mais rápido sacador de habeas corpus do mundo já merece o título de "Homem sem Visão do Ano".

Soberania agora rima com cinismo

"O Brasil é um país generoso e tomou uma decisão soberana", recitou o presidente Lula para justificar a absolvição pelo ministro Tarso Genro do italiano Cesare Battisti, condenado em seu país à prisão perpétua por assassinato. Nenhuma palavra sobre os dois pugilistas cubanos capturados no Rio quando tentavam escapar para a Alemanha e devolvidos a Havana por exigência de Fidel Castro. "Eles pediram para voltar", mentiu Genro de novo. Um já conseguiu fugir da ilha. O outro continua por lá, proibido de lutar pela mais antiga ditadura do planeta. No governo Lula, soberania é apenas uma rima pobre para ideologia. E generosidade é o outro nome do cinismo.

Medalha de ouro em pilantragem

O Diário Oficial da União informou que o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro resolveram melhorar o visual dos sete cartolas escalados "para a realização de ação de relações públicas internacional por ocasião de entrega do Dossiê de candidatura em Lausanne, Suíça". Cada um recebeu US$ 2 mil só para "Aquisição de Vestuário". Como a turma continua implorando por um banho de loja, ou os cabos eleitorais do Rio pagaram demais por roupas de quinta (e, portanto, são imbecis) ou embolsaram o dinheiro (e, nesse caso, são gatunos).

Para pagar o tratamento de lesões que a afligem desde os Jogos de Pequim, a ginasta Jade Barbosa vende autógrafos.

INFORME JB


 PORRETE E GATILHO LADO A LADO  

Leandro Mazzini


De todas as formas de integração aguardadas na parceria entre governo do estado e prefeitura do Rio, desafinados nos últimos anos, a maior expectativa aparece na segurança. Quarta-feira agora, em cerimônia no Palácio da Cidade, o prefeito Eduardo Paes (foto) lança com Sérgio Cabral o Comitê Integrado de Segurança – que envolve interação entre a Guarda Municipal e a Polícia Militar. Foi promessa de campanha, e surge com duas novidades. Um serviço de rádio integrado entre as forças, para maior interlocução e contra-ataque ao crime. E a volta da famosa dupla Cosme e Damião. Com outra diferença: a ideia é colocar lado a lado um policial e um guarda municipal. Será o grande teste do entrosamento. Além disso, estado e prefeitura vão reforçar o policiamento no Centro e na Zona Sul. Outras parcerias estão previstas. 

Reforço BBB do cliente

O ministro da Justiça, Tarso Genro, e o diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, serão convidados para o evento.

Veja como a tecnologia ajuda a polícia a atuar com inteligência. O serviço de atendimento por telefone de um grande banco privado recebeu ligação de um empresário que teve os cartões roubados. Em poucas horas, o bando estava preso, e todos serão processados por quatro crimes.

BBB do cliente 2

A telefonista não só cancelou os cartões imediatamente como chamou a empresa contratada pela instituição para rastrear os pagamentos dos cartões. A polícia foi acionada e flagrou a quadrilha.

Compras & Cela

Com o bando havia armas, mais cartões e motos usadas para outros crimes do tipo.

Boi hermano

O Brasil é que nem mãe para Evo Morales. O Ministério da Agricultura comprou 2 milhões de doses de vacina contra a febre aftosa para doação à Bolívia. Pagou R$ 1,86 milhão à Merial Saúde Animal.

Maluquinho, não

Mestre Ziraldo sabe colher os frutos do sucesso. A Empresa Brasil de Comunicação, que controla a TV Brasil, pagou R$ 150 mil de direitos autorais para exibir a segunda temporada da série Um menino muito maluquinho.

Todo mundo on-line

A EBC quer todo mundo antenado. Comprou 80 notebooks para seus funcionários.

Bombeiro civil

O D.O. da União anuncia: criada a profissão de "bombeiro civil", em substituição aos velhos brigadistas de incêndio. Com categorias como a de bombeiro mestre, a lei dá aos brigadistas o privilégio de trabalhar 12 horas e descansar outras 36.

Muito fogo

Com os bombeiros civis, espera-se um novo filão no mercado para empresas terceirizadas.

Hostess

Rogério Fasano decidiu. Será inaugurado ano que vem em Nova York hotel da rede. Um prédio de seis andares passa por reformas e terá 70 suítes. Fica na esquina da Perry St. com Washington St.

Sem 'botton'

Segue o corte de prioridades da AGU. Depois de abandonar a ideia de instalar máquina automática de café expresso na unidade de São Paulo, o órgão revogou licitação para confecção de bottons para todas as unidades.

Batuque

Um grupo de 15 brasileiros do grupo de percussão Batalá, de Brasília, vai tocar na cerimônia de posse do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Participará nas ruas do circuito alternativo para animar os ianques com o som afro-brasileiro.

Batuque 2

O Batalá está presente em vários países. A diretora em Washington, que fundou o grupo lá, é a brasiliense Mariana Studart. Os brasileiros vão apresentar-se também no Harman Center for the Arts.

Contagem

Faltam dois dias para George Bush sair da Casa Branca.

PARA....HIHIHIHI

JOãOZINHO E SUA AVÓ!!!


Um dia na sala de aula a professora pede para que seus alunos levem no outro dia, equipamentos de primeiros socorros.
No outro dia...
- Marininha, o que você trouxe?
- Eu trouxe um esparadrapo, professora.
- E quem te deu?
- Foi minha tia.
- E o que ela disse?
- Disse que é muito bom pra fechar um curativo.
- Muito bem Mariinha.
E assim foi com todos os alunos até chegar na vez do JOÃOZINHO...
- Joãozinho, o que você trouxe?
- Eu trouxe um Balão de oxigênio, professora.
- E quem te deu?
- Foi minha avó.
- E o que ela disse?
- Devolve... Devolve...

EDITORIAL:O ESTADO DE SÃO PAULO

A verdadeira herança maldita


Seria bom se fosse verdade a notícia de que entre as medidas em estudo pelo governo Lula para ajudar o País a enfrentar a crise e reduzir seu impacto sobre a produção e o emprego está a imposição de um limite formal, estabelecido em lei, para o aumento das despesas da União com a folha de pessoal. Se houvesse esse limite, o governo contribuiria de maneira direta para estimular a produção, pois cada centavo a menos no custo do funcionalismo pode resultar em um centavo a menos de impostos que o lado real da economia precisa recolher aos cofres públicos, o que aumenta sua margem para investir já ou poupar para investir no futuro.

A limitação do aumento das despesas com o funcionalismo é tão importante que, para conquistar mais apoio ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado há dois anos, o governo a incluiu entre as medidas de estímulo à economia e enviou ao Congresso um projeto de lei a respeito. E lá ele continua, parado na Câmara. É muito difícil, portanto, acreditar que o governo do PT fará algum esforço real para colocar essa medida em prática a tempo de mitigar os efeitos da crise mundial sobre a economia brasileira.

Na questão do funcionalismo, a história dos seis anos de governo Lula é marcada não por cortes, mas por grandes aumentos de gastos e por uma gestão que, como observou o economista Roberto Macedo em seu artigo de quinta-feira no Estado, "já se marca como uma herança maldita para os governos que virão".

Por causa do crescimento constante e rápido da arrecadação, o governo não apenas abandonou o projeto encaminhado ao Congresso, que limitava o aumento da folha de pessoal à inflação do ano anterior mais 1,5%, mas baixou duas medidas provisórias que reajustam os vencimentos de 500 mil servidores e imporão gastos adicionais ao Tesouro de R$ 10 bilhões já em 2009. Os sindicalistas da área pública nunca estiveram tão satisfeitos. "Antes fazíamos greves para tentar iniciar um processo de negociação", recordou o diretor da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva, em declaração ao jornal Correio Braziliense. "Hoje, eles estão instalados. Do ano passado até 2011, há R$ 48 bilhões negociados."

É isso mesmo. O governo do PT já comprometeu, em pagamentos adicionais ao funcionalismo, nada menos do que R$ 48 bilhões, que onerarão o Orçamento da União pelo menos até o primeiro ano do mandato do sucessor de Lula. Mas os dirigentes sindicais não estão inteiramente satisfeitos - "não é o ideal, mas é um bom começo", segundo o diretor do Condsef. Eles têm esperanças de que as coisas melhorem - para eles e para o funcionalismo em geral, não para o contribuinte.

Motivos, de fato, eles têm de sobra para estarem animados. Até setembro de 2008 - ou seja, em menos de seis anos -, o número de contratações do governo Lula já era 62% maior do que nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Há uma tendência de crescimento do número de contratações. Entre 2003 e 2007, segundo o Ministério do Planejamento, foi autorizada a abertura de 19 mil vagas por ano para serem preenchidas por concurso público. No ano passado, foram autorizadas 43.044 vagas.

Milhares dessas vagas foram abertas para, conforme justificativa do governo, reduzir o número de trabalhadores terceirizados - pagos pelo governo, mas funcionalmente ligados a empresas prestadoras de serviços - no setor público, prática sempre combatida pelo PT. Há alguma hipocrisia nessa justificativa. De um lado, o governo contrata servidores para reduzir a terceirização; de outro, contrata cada vez mais, e a custos crescentes, empresas fornecedoras de mão-de-obra terceirizada. De R$ 900 milhões em 2004, os gastos com essas empresas subiram para R$ 1,8 bilhão no ano passado. Além disso, o governo Lula aumentou, de R$ 74 milhões em 2004 para R$ 362 milhões em 2008, os pagamentos para pessoas jurídicas, o que também é uma forma de terceirização.

Diante de números como esses, dificilmente o contribuinte poderá levar a sério a notícia de que o governo quer conter ou limitar gastos com pessoal.

DISSERAM QUE ERA ARTE...


                                            ROMÃ COM CENOURA
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JOÃO UBALDO RIBEIRO

Sedição na ilha (2)

O GLOBO

Não sei por onde começar.

As notícias da ilha chegam de roldão, os acontecimentos se atropelam, alianças e cisões pululam em todos os cantos e não há como negar que o clima é francamente revolucionário. Amanhã, se tudo correr bem, deverei chegar por lá no fim da tarde, para juntar-me aos conspiradores liderados por Zecamunista, que passou uns dias em Itabuna se capitalizando, com a sorte habitual, numa sucessão de rodadas de pôquer milionárias e agora está ainda melhor do que no tempo do ouro de Moscou.

As reuniões, como não podia deixar de ser, são clandestinas, mas todo mundo sabe que se passam no restaurante Pandélis, do camarada Magno, que, depois do Dia da Dedada, levou uns tempos um pouco afetado da ideia e terminou por ingressar nas hostes bolcheviques. Com base no slogan "se eu tomo, todos tomam", ele vai exigir reciprocidade, quando chegar o próximo o Dia da Dedada. Os itaparicanos aceitam tomar a dedada, mas depois têm o direito de dedar os dedadores, dos quais o mais visado, que, se tivesse juízo, não pisava mais na ilha, é um grandalhão que ganhou a alcunha de Salame Atômico — não, infelizmente, em alusão a alguma iguaria, mas em brutal referência às dimensões de seu dedo funcional e a seu estilo de aplicação. "Quem tomou não esquece", me garantiu Magno. "Até hoje eu tenho cada pesadelo medonho e não suporto mais ver nem salsicha, quanto mais salame." Mas, embora conste dos pontos programáticos em debate, o Dia da Dedada Democrática não está entre os assuntos principais dos trabalhos, em que pese a discutidíssima e apoiadíssima emenda apresentada por Jacob Branco, de incluir entre os dedados um número mínimo, a ser fixado, de ocupantes de cargos eletivos.
Dizem que foi lindo, quando Jacob, declamando versos de sua própria autoria, descreveu, apesar de não abrir mão do paletó e gravata (a dedada tem que ter dignidade) o que ele, como sempre criativo, batizou de "democracia tóbica", que, como o nome indica, tem como pilar o princípio de que todos os tobas brasileiros são iguais perante a lei, em direitos e deveres, sem distinção de cor, sexo, religião e semelhantes. Se isso prevalecesse, com certeza a situação de todos iria melhorar, mas, a persistir essa de eles só no toba da gente e no deles nada da gente, um dia a casa cai.  Chegaram a criar slogans e palavras de ordem, como "e no seu não vai nada, companheiro?" e o coro ritmado de "rede-rede-rede/saia dessa rede!/nossa posição/é de costas pra parede!", mas o entusiasmo arrefeceu diante das novidades trombeteadas pelo experiente Zecamunista e do realismo do filósofo pragmático Toinho Sabacu.

Como se sabe, o que primeiro ocorreu a ele foi a criação do Bolsa Viagra, mais tarde expandido para Bolsa Créu e respectiva Cesta Créu.

Mas isso não o deixou satisfeito. Pelo contrário, só fez abrir-lhe os olhos para lacunas, que, se ignoradas pelo zelo reformador do revolucionário, podem levar ao malogro as melhores iniciativas, ou, pior ainda, distorcêlas irreparavelmente. No início, pareceu uma grande ideia, mas a interferência sábia, equilibrada e sensata de Toinho Sabacu, cidadão de juízo e conduta exemplares, por todos respeitado, inclusive por Zecamunista, pôs um cobro aos desvarios dos mais radicais. Estes, sob a liderança esbugalhada de Elk Munheca, chegaram a obter, por aclamação, a criação dos Voluntários da Pátria Amante, compostos de pessoas de boa vontade de todos os sexos, dispostas a oferecer seus corpos em sacrifício pela harmonia e justiça social. Mas a voz sensata de Sabacu serenou os ânimos exacerbados. Fez a todos ver que aquilo não era mais revolução, mas descaração mesmo. E que Elk Munheca, dessa maneira alcunhado não à toa, fosse fundar uma ONG para ele e seus muitos correligionários e fosse ongar na casa da Mãe Joana, mas não desvirtuasse um movimento que tantos benefícios trazia para a esquecida população dos despencados, objetivo, aliás, que, se ele bem lembrava, era o que vinham buscando, antes de os oportunistas e desviacionistas tentarem suas manobras.

Nesse momento Zecamunista, que quase vira sua liderança abalada por esses equívocos ideológicos, apanhou novamente o bastão de comando e secundou, com elogios polissilábicos, a posição de Sabacu. Era isso mesmo, havia que levar-se em consideração o resgate, feito pela Dra.
Margarida Angélica, desses brasileiros e brasileiras esquecidos, os despencados.
Cabia, pois, em primeiro lugar, propor nova legislação, o Estatuto do Despencado. Como definir quem está despencado, haverá somente um grau de despencamento? Não é, nem de longe, tão simples quanto o Estatuto do Idoso. Como fazer a epistemologia do Despencamento? Declarou-se uma desorientação momentânea no plenário, mas Zecamunista, como sempre, sacou um trunfo da manga: Ary de Maninha! Mas é claro, Ary de Maninha, tribuno festejado na ilha e em toda a Bahia, exemplo de amor à causa pública, um talento a serviço da vanguarda.

Ele seria autor dos estudos preliminares e, possivelmente, do anteprojeto do Estatuto do Despencado. Contactado rapidamente, aceitou a proposta e já chegou à ilha para começar a trabalhar, exigindo como paga somente sua classificação como Despencado nível DCB, ou seja, De Cima a Baixo, com direito à plenitude vitalícia de seus direitos físicos e morais.

Assim de pronto, já planeja considerar crime inafiançável e, se possível, hediondo, negar de maneira grosseira ou insensível algo pedido pelo despencado ou despencada. Por exemplo, a uma resposta tipo "se enxergue, vê lá se eu vou ficar com um gordote careca e barrigudo como você", o despencado poderá brandir o Código e revelar à ofensora a gravidade do corrido: "Viu aqui? Crime hediondo e inafiançável. Motel ou delegacia? A escolha é sua." Felizmente chego amanhã, não estarei ausente no momento em que minha terra, mais uma vez, faz História.

ELIANE CANTANHÊDE

      Lula lá, Lula cá

FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - No Brasil, Lula anuncia que retirou o aval à emenda que acaba com a reeleição, deixando a impressão de que desistiu definitivamente do terceiro mandato e a avaliação óbvia de que o alvo é o PSDB, onde a emenda acomoda os interesses de Serra e de Aécio.Lá na Venezuela, o papo é outro.
Ao fazer campanha aberta a favor dos mandatos múltiplos para Chávez, a um mês do plebiscito sobre a questão, Lula defendeu a tese de "três, quatro reeleições", como nos parlamentaristas Espanha, Alemanha e Reino Unido.
Apesar de insistir que não vai cair na tentação, Lula usou uma argumentação enviesada.
Vejamos.
Alegou que é a favor da reeleição infinita de Chávez e não da própria, pela idade: "O Chávez é novo ainda, aguenta um novo mandato. Agora eu já tô velho, vou me retirar". Como comparação: Lula tem 62 anos, Dilma, 61, e Serra, 66. Quem é "velho" para mais um mandato?
Outra argumentação: "Na hora que você tiver instituições consolidadas e tiver a liberdade política que o povo quiser, isso [reeleições sucessivas] vai acontecer". Como comparação: será que as instituições brasileiras estão menos consolidadas do que as da Venezuela? E o povo brasileiro tem menos liberdade política para decidir?
Lula, pois, continua brincando de gato e rato com a re-reeleição. Diz que não quer, mas deixa o PT tocar adiante no Congresso. Tira a emenda que possibilitaria a mudança, mas faz uma defesa pública em solo estrangeiro. Argumenta contra, recorrendo a argumentos a favor.
É assim que ele vai brincando, brincando... e sentindo a reação. Se realmente cumprir a palavra, vai de Dilma e esfrega na cara de adversários e de colunistas: "Viu, não disse?". Se colar, ele saca suas declarações pró-Chávez para alegar "coerência". E lembra: ele tem idade, as instituições estão consolidadas, e o povo tem liberdade.
É brincadeira com coisa séria.

DORA KRAMER

Positivo e operante

O ESTADO DE S PAULO

Na próxima quinta-feira na sede do PDT em Brasília o partido se despede oficialmente no chamado "bloquinho de esquerda" que desde 2007 une PDT, PSB e PCdoB. Lá, a despeito dos avisos de pedetistas tradicionais de que o partido perderia autonomia e identidade, fez-se um grupo que outra função não teve senão a de formar um "unidos avançaremos" sobre os espaços de poder na aliança com Lula e ajudar no que podia o governo no Congresso. Juntos, são mais de 80 deputados; separado, o PDT soma 24.

Foi bom enquanto interessou ao presidente. Deixou de ser tão bom assim no momento em que o bloco reivindica independência e sustenta, por exemplo, a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PSB) e a postulação de Aldo Rebelo (PCdoB) à presidência da Câmara.

Nenhum dos dois, e por razões diversas, dá sinais de alinhamento automático à vontade do presidente Lula no processo da sucessão de 2010.

Hora, portanto, de acabar com a brincadeira e começar a organizar o reforço aos planos de Lula que serão também os do PT. O primeiro movimento foi solicitar a Carlos Lupi, ministro do Trabalho e presidente licenciado "ma non troppo" do PDT, a execução de uma nova empreitada: retirar seu partido do bloquinho e colocá-lo à disposição do projeto Dilma Rousseff ou quaisquer que sejam os projetos eleitorais do Palácio do Planalto.

Daí o entusiasmo crescente do ministro pela candidata Dilma, daí o afã de mostrar-se mais realista que o rei no combate às demissões na indústria, vendendo mercadoria que não pode entregar, como a punição de empresários e empresas que cortarem gastos com pessoal na crise.

Daí também a aguerrida e até surpreendente defesa da candidatura de Michel Temer para a presidência da Câmara em detrimento do parceiro de bloco, PCdoB, que disputa com Rebelo.

Quando souberam da movimentação, o PSB e o PCdoB começaram a articular também uma retirada, deixando a ópera assim resumida: o grupo autodenominado de esquerda entra em regime de autodissolução, passa a agir na base do cada um por si com Lula trabalhando para que todos atuem em prol de uma candidatura petista.

E assim o bloquinho que não influiu nem contribuiu enquanto viveu para a melhora ou piora dos destinos da nação dá adeus, vai-se embora e deixa uma lacuna que, da mesma forma, em nada altera a ordem das coisas.

A não ser o relevante fato de que a cerimônia de encerramento pode ser vista como o ato inaugural da operação S.O.S. PT seja feito como seu mestre mandar daqui até 2010.

Vontade do eleitor

Uma consulta entregue no final do ano por Miro Teixeira ao Tribunal Superior Eleitoral pode, dependendo da resposta, alterar o quadro de absoluta supremacia das cúpulas partidárias posto desde que o TSE e depois o Supremo Tribunal Federal decidiram que os mandatos pertencem aos partidos e não aos candidatos nem aos eleitos.

Miro pergunta, por exemplo, sobre a legitimidade da formação de blocos parlamentares no Congresso, juntando partidos que foram adversários da eleição. Ele quer saber se esse tipo de atitude se enquadra ou não naquelas hipóteses em que a mudança de partido é permitida por alteração do programa partidário.

Indaga também se é correto um partido ocupar cargos no governo daquele que foi seu oponente na eleição. Isso não trairia a vontade do eleitor e, portanto, não iria de encontro à limitação do troca-troca? É a dúvida subjacente.

Em seguida, o deputado pede ao tribunal que diga se, em caso de se configurar traição, o TSE não poderia editar uma nova resolução para assegurar que o partido – assim como o deputado ou senador – se visse impedido de mudar de posição.

A intenção do deputado é provocar a Justiça Eleitoral a delimitar a área de poder das direções dos partidos, que, no entender de Miro Teixeira, ficou irrestrito depois da decisão que deu ganho de causa às cúpulas.

Podem fazer e desfazer. Enquanto o parlamentar, ou mesmo o governador ou o prefeito, ficam obrigados a se manter filiados às legendas pelas quais foram eleitos sob pena de perda de mandatos, as direções – nem sempre eleitas, habitualmente produtos da burocracia partidária – ficam à vontade para fazer qualquer coisa, integrar quaisquer alianças, aderir a qualquer governo.

E, como demonstra o processo dos 40 acusados de participar do esquema do mensalão, cúpulas partidárias não são entidades acima de qualquer suspeita.

Armação ilimitada

Noves fora razões diplomáticas inexistentes, é de se perguntar qual a necessidade de o presidente Lula manifestar apoio às reeleições sem limites do venezuelano Hugo Chávez. Enseja suspeitas completamente dispensáveis para quem, como Lula, abomina a hipótese de continuidade.

FLEX


DOMINGO NOS JORNAIS


Globo: Crise reduz em R$ 65 bi investimentos no Brasil

Folha: Indústria paulista fecha mais de 100 mil vagas

Estadão: Empresas e sindicatos fazem acordo à margem das centrais

JB: Obama faz do Brasil parceiro estratégico

Correio: Boa sorte, Obama

Valor: Citi é pressionado a vender ativos e encolhe no Brasil

Gazeta Mercantil: Crise força empresas a reinventar função do RI