domingo, dezembro 06, 2009

PAINEL DA FOLHA

Além do caixa dois

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/12/09


Na série de depoimentos ao Ministério Público e à PF, Durval Barbosa, secretário tranformado em algoz de José Roberto Arruda (DEM), afirma diversas vezes que, além de usar a propina paga por empresas para abastecer o mensalão, o governador se serviu do dinheiro para ‘enriquecimento pessoal’.

Barbosa acusa Arruda de ser ‘sócio oculto’ de duas empresas: a Danluz e a Nova Fase, ambas com contratos no governo do Distrito Federal. A primeira é uma construtora que toca grandes obras em Brasília e tem entre seus clientes o jornal ‘Tribuna do Brasil’, cujo proprietário, Alcyr Collaço, foi flagrado colocando dinheiro na cueca. A segunda, de consultoria, presta serviços à Codeplan, foco inicial do escândalo.

Caderneta 1 - Nos depoimentos, Durval Barbosa diz que, para entrar na sociedade da Nova Fase, Arruda teria pago R$ 5,8 milhões, obtidos por meio de superfaturamento de um contrato de R$ 27 milhões. A empresa foi multada em R$ 4 milhões pela Justiça Eleitoral por doações ilegais na campanha de 2006.

Caderneta 2 - Barbosa sugere ainda que Arruda teria comprado terrenos e um haras. Em 2006, o ‘demo’ declarou à Justiça Eleitoral R$ 598 mil em bens. Com exceção de um apartamento em Brasília, os imóveis eram em Minas.

Intra - Um conhecedor dos personagens envolvidos explica a peculiaridade do atual escândalo em Brasília: ‘Não é briga de gangues. É briga dentro da mesma gangue’.

Cifras - Paulo Octávio (DEM), o multimilionário vice de Arruda, carrega na capital o apelido de ‘Trintinha’.

Agito - Com as chances eleitorais do PT-DF crescendo na esteira do Arrudagate, aumenta também a disputa dentro do partido. Apesar da existência de pré-acordo segundo o qual Agnelo Queiroz disputaria o governo e Geraldo Magela, o Senado, há quem agora aposte em confusão.

Tudo quase... - Um especialista na combinação de fatores que definirá a chapa presidencial da oposição acha bobagem afirmar que a descoberta do mensalão do DEM aumentou as chances da dobradinha Serra-Aécio. As chances continuariam as mesmas, dependendo quase que exclusivamente do tamanho da perspectiva de vitória.

...na mesma - Quanto ao DEM, preferia e continua a preferir a ‘chapa pura’. Se ela não vingar, e o PMDB for com Dilma Rousseff (PT), o vice deve ser ‘demo’. Os descontentes na verdade protestam por saber que terão pouca influência na escolha do nome.

Fazer... - O discurso segundo o qual, passadas as eleições internas, o PT deflagraria um processo para enquadrar seções estaduais em prol da aliança nacional com o PMDB aos poucos vai sendo substituído pela aceitação dos dois palanques em quase todas as praças ‘complicadas’.

...o quê? - Petistas agora minimizam o fracasso da primeira tentativa de trégua entre Ana Júlia e Jader Barbalho no Pará. Mesmo sem acordo, dizem, o apoio do PMDB local a Dilma está garantido.

Fênix 1 - Já existem votos suficientes na Câmara para aprovar o projeto que ressuscita a obrigatoriedade do diploma de jornalista, derrubada em junho passado pelo Supremo Tribunal Federal.

Fênix 2 - No núcleo do governo, há quem enxergue a tramitação do resgate do diploma como laboratório para avaliar a viabilidade de aprovação de projeto para estabelecer o ‘controle social’ dos meios de comunicação.

Anzol - Relator do processo de expulsão de Arruda do DEM, o ex-deputado José Thomaz Nonô passeou pelo Congresso levando a tiracolo fotos de suas mais recentes expedições de pesca.

Tiroteio

O caso do panetone é grave. Mas pior é deixar a opinião pública engasgada até hoje sem saber de onde veio o dinheiro dos aloprados. Do deputado estadual SAMUEL MOREIRA , líder do PSDB na Assembleia paulista, sobre o senador petista Aloizio Mercadante, para quem ‘a oposição está engasgada com o panetone do Arruda’.

Contraponto

O céu que nos protege

Em ‘A Nuvem’, seu recém-lançado livro de memórias, Sebastião Nery narra viagem feita ao lado de Leonel Brizola pouco depois da primeira eleição do pedetista para o governo do Rio, em 1982. Mal havia decolado de São Paulo rumo a Foz do Iguaçu, o avião entrou em grande turbulência. O jornalista fechou os olhos e se pôs a rezar.

Quando tudo se acalmou, Brizola lhe disse:

- Ainda conservas a fé do seminário. Te vi rezando.

- Também vi você, de olhos fechados, falando baixinho.

- Com o velho. Em qualquer dificuldade, falo com ele.

- Com Deus?

- Não. Com o velho Getúlio. Lá de cima ele me protege.

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