quarta-feira, dezembro 02, 2009

PAINEL DA FOLHA

Via alternativa

RENATA LO PRETE
Folha de S. Paulo - 02/12/2009

Enquanto José Roberto Arruda aposta que a encrencada Câmara Distrital jamais reunirá os dois terços de votos necessários à abertura de processo contra o governador, juristas que analisam o propinoduto no Distrito Federal acham que Arruda não deveria estar tão seguro de sua sobrevivência no cargo.
Citam decisão do STF, em 2006, sobre escândalo de corrupção em Rondônia. Naquela ocasião, com base em relatório da ministra Cármen Lúcia, a Corte reiterou decisão do STJ e entendeu que a Assembleia estava por demais envolvida para decidir sobre a prisão de deputados. A licença foi concedida sem consulta à Casa. Por essa tese, o STJ poderia dar sinal verde ao processo -e consequente afastamento- de Arruda.



Ponte aérea. A Adler, apontada como uma das empresas que abasteceram o mensalão no DF, prestou serviços à Prefeitura do Rio na gestão Cesar Maia (DEM).

QG. Indicado pelos Maias para a Secretaria de Esportes do Distrito Federal, André Felipe de Oliveira manteve base em Brasília mesmo depois de deixar o cargo, no final de 2007. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, se hospeda em sua casa no Lago Sul.

Por si só. Enquanto muitos enxergam cálculo eleitoral no silêncio do Planalto e do PT em relação à desgraça do adversário, um dirigente do DEM vê motivo mais prosaico: "E precisa falar alguma coisa?", pergunta, desolado.

Vai ou não vai? Frequentador assíduo de eventos do governo federal, Arruda consta da lista de convidados de Lula para inauguração, no dia 15, de 70 escolas técnicas.

Wally. Chapa de Arruda, com quem tem feito campanha no entorno do DF distribuindo convênios a prefeitos, Marconi Perillo (PSDB-GO) entrou por uma porta e saiu pela outra na reunião em que os tucanos decidiram entregar seus cargos no governo.

Dieta. Um deputado que almoçava no restaurante da Câmara conferiu as opções disponíveis de doce e, ao retornar à mesa, comentou: "Vocês não vão acreditar, mas tem panetone de sobremesa!". Na dúvida, ninguém pegou.

Memória 1. O empresário Alcyr Collaço, agora gravado colocando dinheiro na cueca, foi citado em 2006 no depoimento do ex-assessor da Casa Civil Marcelo Sereno à subcomissão de fundos de pensão da CPI dos Correios.

Memória 2. Sereno se referiu a Collaço como "amigo" e confirmou que ele era dono da Ipanema, investigada pela CPI no esquema do mensalão. A corretora estaria ligada a operações do fundo Portus.

E agora? Autora do pedido de impeachment de Arruda, a OAB-DF será presidida por Francisco Caputo, um dos advogados arrolados pelo governador em inquérito no STJ.

Vocabulário. Nova tradução de DEM: "Dinheiro Escondido na Meia". E de PFL: "Panetone Foi Liberado".

Termômetro 1. Colegas de José Antonio Toffoli avaliam que, quando o STF retomar amanhã o julgamento do valerioduto mineiro, o ministro, que havia pedido vista do processo, tende a considerar fraudulento o suposto recibo de caixa dois na campanha de Eduardo Azeredo em 1998.

Termômetro 2. Como tal papel, no entender de Toffoli, seria a única materialidade da participação do tucano, o voto responsabilizaria o coordenador da campanha, mas não o então governador. Assim, Toffoli abriria divergência com o relator, Joaquim Barbosa, que acolheu a denúncia.

Saia justa. Se confirmado, o voto de Toffoli deixará inconformado o PT, berço político do ministro. Dado o paralelismo com a denúncia do mensalão, o partido adoraria ver Azeredo denunciado.


com SÍLVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

Pelo jeito, o Augusto Carvalho manteve apenas uma conta fechada: a do mensalão em Brasília.


Do vereador JOÃO ANTONIO, líder do PT na Câmara paulistana, sobre a suspeita de envolvimento do secretário de Saúde do DF, também fundador da ONG Contas Abertas, no Arrudagate.

Contraponto

"The end, Suplicy!" Eduardo Suplicy (PT-SP) fazia ontem à tarde na tribuna do Senado um interminável discurso, narrando praticamente cena a cena a cinebiografia do presidente Lula. Em apartes, o colega João Pedro (PT-AM) acrescentava detalhes e comentava o desempenho dos atores.
No comando da sessão, Mão Santa (PSC-PI) tentou por duas vezes encerrar o assunto, mas Suplicy resistia:
-Gostaria apenas de concluir...- e continuava a falar.
Até que Mão Santa fez soar a campainha do plenário e cortou a onda do petista:
-"The end, Suplicy'! "The End'! Quero ajudar o Barreto, porque se você continuar ninguém mais vai ver o filme!

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