domingo, novembro 29, 2009

FERNANDO CALAZANS

Lâmpada traiçoeira

O GLOBO - 29/11/09


Pois não é que uma insuspeita lampadazinha de jardim vai tirar o Adriano desta decisão — mais uma — de fim de campeonato? Logo contra o Corinthians, que não tem muito a fazer no mesmo campeonato, mas que, de qualquer jeito, é o Corinthians. E Adriano é um dos quatro jogadores decisivos do time. Os outros são Petkovic, Maldonado (que já não está jogando mesmo) e Bruno. A presença ou a ausência de qualquer um deles pode representar o êxito ou o fracasso. Até porque as “peças de reposição” (como diriam os professores doutores) não são lá essas coisas. Teoricamente, a sorte não tem ajudado o Flamengo nos metros finais da grande competição. Vamos ver hoje na prática.
Sempre que algo acontece com Adriano — e como acontece algo com Adriano! —, ele reclama da imprensa, por começar a levantar versões variadas. Adriano tem certa razão. Mas, se a imprensa conjectura uma outra versão que não seja a da lampadazinha de jardim, é porque, durante toda a carreira, Adriano foi, ele mesmo, uma fonte inesgotável de versões, as mais variadas possíveis. Ele há de reconhecer que seu repertório é volumoso.
Agora, a torcida quer saber como o time se sairá sem o Maldonado — e sem o Adriano. Com este último, e sem o outro, já não se saiu nada bem contra o Goiás, no Maracanã, pela rodada anterior. A rigor, saiu-se pior do que descrevi aqui. Torcedores rubro-negros mais conscientes e realistas foram os primeiros a proclamar, alguns até um tanto irados, que o Flamengo acabara de jogar fora o título de campeão brasileiro. Será?
O que eu posso lembrar aqui, a fim de botar o moral da torcida um pouco mais para o alto, é que o Flamengo, salvo alguns períodos de exceção, é um time de imprevistos. Alguns ruins, mas outros muito bons.
Um deles aconteceu exatamente no último domingo. Quando se esperava tudo, veio um 0 a 0, quer dizer, nada. Foi o ruim.
Agora, quem sabe, o time se supera num instante de dificuldade — o que não seria a primeira nem a última vez. Seria o bom.
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O desfalque do Botafogo é (ou era) muito mais previsível. Porque é uma constante nessa passagem apagada do atacante Reinaldo pelo clube. Reinaldo ficou muito mais tempo fora de campo do que dentro, vitimado por uma série de contusões, e, mesmo quando esteve dentro de campo, parecia que estava fora, porque não jogou nada.
Seu último parceiro de ataque, Jóbson, tão mais jovem e inexperiente, este sim fará falta, porque é ele que dá um raio de luz ao ataque do Botafogo. O único raio de luz.
E fará mais falta ainda porque a vitória do Botafogo — como a do Flamengo — é imperiosa. O jogo é exatamente contra um dos adversários com que disputa a fuga (ou não) da zona de rebaixamento — o Atlético Paranaense.
Depois da inóspita altitude de Quito, o Fluminense pelo menos é o que vai jogar na paz e no aconchego de sua torcida — embora num jogo tão dramático ou mais até. Espera o Vitória no Maracanã. E, mais do que tudo, espera que os 5 a 1 de Quito se apaguem de sua lembrança, pelo menos durante 90 minutos.
Resumindo a impiedosa rodada: os três clubes do Rio não podem sequer empatar. Excluindo os torcedores do Vasco (que não são poucos), o Rio de Janeiro hoje é um sofrimento só.
A torcida do Flamengo também espera muito. Espera que o Goiás enfrente o São Paulo com aquela vontade, aquele sacrifício, aquela obstinação que apresentou no Maracanã. Aquilo é que é estoicismo, o resto é conversa fiada.

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