domingo, novembro 09, 2008

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Itaparica se moderniza

O GLOBO

Sei que, depois de todo o rebuliço em torno das eleições americanas, agora vocês mal podem esperar as novidades lá da ilha. Por favor não briguem para ver quem lê primeiro. Reconheço que trago notícias extraordinárias, mas não vamos brigar no domingo, já basta o resto da semana. E já basta o que tem rolado ultimamente lá em Itaparica. No cemitério onde jaz o coronel Ubaldo, meu avô, ele já deve ter ganho o apelido de Carrapeta, de tanto que há de estar rolando na tumba.
Os mais velhos se benzem e se preparam para o fim do mundo, enquanto outros opinam que ele já chegou.
Meu avô costumava ficar indignado com quem não acreditava que em Itaparica não se fechava porta ou janela e nem se trancava porta ou janela, fosse noite, fosse dia, porque não tinha ladrão, a não ser os de galinha, mas, como todo mundo sabe, ladrão de galinha não vale. (Reconheço nesta ressalva interesse próprio, pois, caso roubar galinha valesse, eu seria forçado a confessar não ser de todo inocente em vários casos rumorosos nessa área — maus passos da juventude, sei que vocês entendem.) Um ou outro podia usar tranca ou chave, mas por motivos diferentes, tais como na natural reserva da conjunção carnal ou no exercício do anticorneamento preventivo, com um dinheirinho malocado no colchão ou com vergonha de desmazelo doméstico, razões, entre muitas outras, encontradiças em qualquer lugar e naturais à humana condição.
Ser destacado para servir na polícia de Itaparica era visto como adiantamento de aposentadoria, ou prêmio por longa conduta incriticável, na carreira. Justiça seja feita, conheci vários delegados que faziam muita força para trabalhar, até inventando proibições tiradas das cabeças deles, mas acho que logo a famosa radioatividade da ilha os pegava de jeito, conduzindo a nova vítima ao destino de todos os que contamina, ou seja, uma moleza que impede cruelmente qualquer tipo de trabalho. Todo itaparicano que trabalha, inclusive eu, é um herói, porque vence a tremenda pressão da radioatividade. É por isso que o visitante desinformado não entende por que vê tantas mulheres trabalhando, enquanto os homens jogam dominó ou trocam idéias em desapressadas conversações. É que até nisso as mulheres levam vantagem sobre os homens, nelas a radioatividade raramente pega. E aí, felizardas, podem trabalhar à vontade, enquanto os homens, pobres doentes, sofrem o vexame de serem injustamente chamados de preguiçosos.
Pois hoje tudo mudou, estamos em perfeita sintonia com o resto do país.
Deveremos em breve ocupar um lugar de destaque no ranking de assaltos, furtos e arrombamentos, talvez à frente de algumas grandes capitais.
Assim que cheguei, fui informado de que minha casa tinha sido incluída na longa lista das arrombadas por semana, que não andasse sozinho em algumas áreas, especialmente à noite, procurasse não desfilar bestamente com meu notebook a tiracolo e escondesse dinheiro e cartões em locais secretos.
E não era só isso. Não é necessário que o morador esteja ausente, para que a casa seja invadida. Sublinhando o que já disse sobre como nada ficamos a dever aos grandes centros, os ladrões usam armas de calibre grosso, não é brincadeirinha de amador, não. Como acontece, por exemplo, no Rio, acho que não conversei com ninguém na ilha que não tivesse pelo menos um assalto, próprio, com parente ou com amigo, para relatar.
Se tem polícia para cuidar da segurança? Tem, tem. Tem uma polícia com dois carros para uma ilha de 290km2, o que certamente obedece a normas internacionais. Os carros é que estão com um problema. Como seus similares em toda parte, se recusam a funcionar sem gasolina. Foi essa a razão para o que sucedeu a uma recente assaltada que, enquanto o ladrão ainda lhe saqueava a casa, conseguiu falar com a polícia. Sim, era a polícia, sim, em que podia servirlhe? Ah, um ladrão. "Isso é um absurdo, minha senhora, a senhora pode contar com toda a solidariedade", esclareceu o bem-educado policial."
Lamentavelmente, não temos gasolina nos carros e receio que só podemos desejar à senhora que tenha um bom assalto. E, de manhã, estando viva, compareça à delegacia para dar queixa, passar bem." Não creio que tenham sido essas as palavras que o policial usou, mas foi o que ele disse: a mulher roubada que se virasse, porque não tinha gasolina no carro. Ou seja, não tem polícia nenhuma na cidade e já surgem várias hipóteses sobre o que está ocorrendo, inclusive uma que considero paranóica, mas interessante. Itaparica faria parte de um novo plano de segurança do governo, para criar Centros de Concentração de Criminosos (os famosos Cecezões, com sede em Brasília) e Itaparica teria sido contemplada com essa condição. O plano é fazer com que todos os não-criminosos deixem a ilha, que assim será povoada exclusivamente por bandidos e depois severamente isolada pelo governo, que, num experimento sem precedentes, botaria lá os assaltantes assaltando uns aos outros e deixando o resto da sociedade em paz.
Bem, não sei, acho isso um delírio.Sou um homem realista e fui lá para mandar botar grades de ferro em minha casa. Sina é sina: nasci no paraíso, morrerei atrás das grades. Não há o que discutir, até porque pode não ser nada disso, pode ser apenas um projeto do governo estadual, que é do PT e está lá para desenvolver, para estimular a pequena indústria metalúrgica, com a feliz coincidência de que é a metalurgia onde tudo indica que o presidente da República efetivamente trabalhou, enquanto não pôde evitar essa vicissitude. Bem, não sei o que é, a mim só cabe mandar botar as grades. E, por enquanto, aconselhar aos que queiram visitar a ilha com a qual estão agora acabando, que façam um treinamentozinho preliminar no Morro do Alemão.

PARA...HIHIHIHI

PUTEIRO

De algum jeito, Luiz Favre e Geraldo Alkmin foram parar na mesma barbearia, em São Paulo.
Lá sentados, com um barbeiro atendendo a cada um deles, não se falou palavra alguma.
Os barbeiros temiam iniciar qualquer conversa pois poderia descambar para discussão política.
Terminaram a barba de seus clientes mais ou mesmo ao mesmo tempo.
O barbeiro que tinha o argentino em sua cadeira estendeu o braço para pegar a loção pós-barba, no que foi interrompido rapidamente por seu cliente.
- Não obrigado, a Marta vai sentir o cheiro e pensar que eu estava num puteiro - disse o argentino.
O segundo barbeiro virou-se para Alkmin.
- E o senhor, vai querer loção pós-barba? - indagou.
E o Geraldo respondeu:
- Vá em frente, amigo! A Lu não sabe como é o cheiro de um puteiro.

LUZ

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SAÚDE

Transplante de útero está em estudo avançado

Mulheres que perderam o útero devido a tratamentos radicais de endometriose, câncer e mioma podem retomar o sonho de ter um filho biológico. Uma equipe americana testa a eficácia do transplante uterino em animais e espera que em até dois anos o procedimento cirúrgico esteja disponível para as mulheres.
O estudo que está na fase 3 usou ovelhas como cobaias devido às características anatômicas e vasculares do animal serem similares às do homem. E, dentre as 10 ovelhas – com histórico de gestações – que receberam o transplante de útero, seis se adaptaram ao novo órgão.
– Os resultados são promissores. O próximo passo será conseguir engravidar as ovelhas por meio da transferência de embriões para o útero transplantado – afirma o líder do estudo Edwin Ramirez, do Antelope Valley Hospital, na Califórnia, Estados Unidos. – Após este passo, uma série de transplantes serão feitos em macacos, como os babuínos. Se tivermos sucesso com macacos, vamos testar em seres humanos – adianta Ramirez que discursará sobre o tema no congresso Endometriose in Rio, no Rio de Janeiro, dia 15 de novembro.
O estudo de transplante de útero foi publicado no Journal of Minimally Invasive Gynecology. A técnica seria uma solução para aquelas mulheres que tiraram o útero devido a uma complicação. Os casos de endometriose são os mais comuns. O mal que atinge 15% das mulheres em idade fértil se dá pela infiltração do endométrio – camada que envolve o útero – em outros órgãos com o refluxo do sangue pelas trompas.
– Desde a primeira menstruação, as mulheres estão sujeitas a contrair a doença. Estima-se que até 60% das adolescentes que têm cólicas intensas possam ser portadoras de endometriose, porém, o diagnóstico costuma ser feito tardiamente – avalia o ginecologista Marco Aurélio Pinho de Oliveira.
Além das cólicas, os sintomas da endometriose são sangramento excessivo, dor nas costas, gases no período menstrual e dificuldade de engravidar.
O mioma uterino também é uma causa comum que acarreta na retirada do útero. Além de câncer de colo e de endométrio. Complicações no parto podem implicar uma histerectomia.
Pinho de Oliveira faz um alerta para as mulheres estarem sempre atentas a quantidade de sangue e dor excessiva durante a menstruação, e crescimento da barriga, que pode ser mioma.
O transplante de útero também seria uma alternativa para a barriga de aluguel.
– Muitas culturas e credos religiosos não permitem a barriga de aluguel como alternativa para a infertilização – levanta Ramirez.
No entanto, caso a cirurgia seja aprovada para ser feita em humanos, não excluirá o método de reprodução assistida.
– A fertilização in vitro seria necessária em conjunto com o transplante para que a gravidez seja conseguida – pontua Ramirez.
Ainda sim, seria um grande avanço da medicina pois realizaria o sonho de ser mãe de milhares de mulheres.

O BAR OBA


AUGUSTO NUNES - Sete Dias

O STF e a OAB em campanha: impunidade para todos

Daniel Dantas sabe das coisas, confirmou na quinta-feira a sessão do STF que acabou transformada, simultaneamente, em manifestação de solidariedade ao presidente Gilmar Mendes, manifestação de protesto contra os mocinhos e manifestação de desagravo aos bandidos. Poucas semanas depois de desencadeada a Operação Satiagraha, o STF presenteou Daniel Dantas com a ratificação do direito de delinqüir em liberdade, louvou o sacador de habeas corpus mais ligeiro do Brasil central (em dois dias, atirou duas vezes na primeira instância) e, em clima de comício, mirou na testa do juiz Fausto de Sanctis e no coração do delegado Protógenes Queiroz, cuja casa foi vasculhada na quarta-feira pela Polícia Federal. Nenhuma dúvida: Daniel Dantas sabe das coisas.
Tanto sabe que, na conversa em que ofereceu suborno a um delegado engajado na operação, o emissário do chefe da quadrilha informou que só os juízes da primeira instância preocupavam o comandante. Com o STF, por exemplo, o primeiro escroque internacional fabricado no Brasil saberia entender-se. É isso aí, mostrou a mais recente vitória da gatunagem chique.
O Supremo, contudo, já não pode ser acusado de esquecer a bandidagem que não sabe usar os talheres certos. No dia 30 de outubro, por 9 votos a 1, o time da toga declarou inconstitucional a realização de interrogatórios por videoconferência. Em vigor nos países menos primitivos, a lei que autoriza esse método, recomendável sobretudo a bandidaços, vigorava em São Paulo. Foi abolida.
Em juridiquês castiço, os doutores ensinaram que o método, aplicado nas paragens civilizadas para tornar a Justiça menos lenta e mais eficaz, "fere o direito de ampla defesa". Até assassinos psicopatas precisam olhar nos olhos o juiz, o promotor ou a testemunha. "O preso não pode ser sujeito a tratamento desumano", concordou a cúpula da OAB. Preocupado com a vida sofrida dos prisioneiros, o clube dos bacharéis usou a mesma frase para justificar a maluquice de outubro: acabar com o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), aplicado a criminosos de altíssima voltagem. É uma antiga reivindicação do PCC.
Ser bandido no Brasil está cada vez melhor. O que vai ficando perigoso é agir honestamente. Pode até dar cadeia.

OBAMA


DOMINGO NOS JORNAIS

- Globo: União estourou em R$ 8,3 bi gasto com pessoal este ano

- Folha: Funcionalismo custa mais que dívida

- Estado: Lula acusa países ricos e pede emergentes na solução da crise

- JB: As barreiras de Obama ao Brasil

- Correio: Lula quer pacto em defesa do emprego

- Valor: Balanços mostram lucros históricos e futuro incerto

- Gazeta Mercantil: FMI e governo cortam projeções para o PIB